UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO LIBERTAS CLINICA-ESCOLA AUTORA: PSICÓLOGA MARIA HELENA PEREIRA DOS SANTOS OLIVEIRA A INFLUÊNCIA DA RESISTÊNCIA NO TRATAMENTO DA NEUROSE RECIFE 2004 O48i Oliveira, Maria Helena Pereira dos Santos A influência da resistência no tratamento da neurose/ Maria Helena Pereira dos Santos Oliveira – Recife, 2004. 37.p. Orientador: Grace Wanderley de Barros Correia Monografia (especialização) – Universidade Católica de Pernambuco/ Departamento de Psicologia 1. Psicologia 2. Resistência 3. Neurose 4. Bioenergética 5. Psicanálise UFPB/BC CDU.159.9 (043.2) UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO LIBERTAS CLINICA-ESCOLA AUTORA: PSICÓLOGA MARIA HELENA PEREIRA DOS SANTOS OLIVEIRA A INFLUÊNCIA DA RESISTÊNCIA NO TRATAMENTO DA NEUROSE Monografia apresentada a Universidade Católica de Pernambuco como requisito para a conclusão do Curso de Especialização em Análise Bioenergética, orientada pela Professora Grace Wanderley Barros Correia. RECIFE 2004 AGRADECIMENTOS A Deus, pela saúde psicológica, a motivação e a disposição para a realizar este trabalho. A minha mãe (in memoriam), pelos ensinamentos de fé, espiritualidade e de luta pelas coisas que desejo, especialmente pela vida. Ao meu marido Edgar, pelos incentivos, paciência e afetividade nas horas difíceis. Aos meus filhos, Helane, Edgar Neto e Fabiana, pela paciência compreensão e incentivos nos momentos mais difíceis. Ainda a Helane, pela participação na digitação e formatação deste trabalho. A Professora Nadja Lacerda Cunha Lima, pelas orientações dadas nesse trabalho, pelos conhecimentos transmitidos no Curso de Formação em Análise Bioenergética e por despertar, no processo terapêutico, o senso de identidade. iii “A natureza primeira de um ser humano é ser aberto à vida e ao amor. Está resguardado encouraçado, descrente e fechado vem a ser a segunda natureza da nossa cultura”. Alexander Lowen (1982) iv SUMÁRIO RESUMO vi ABSTRACT vii CAPÍTULO 1 08 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO 2 11 A RESISTÊNCIA NA VISÃO PSICANALÍTICA 11 2.1. Origem da Resistência 12 2.2. Manejo da Resistência pelo Analista 15 CAPÍTULO 3 17 A ORIGEM DA RESISTÊNCIA SEGUNDO REICH 17 3.1. A Formação do Caráter 19 3.2. A Função do Terapeuta 22 CAPÍTULO 4 24 A RESISTÊNCIA SEGUNDO ALEXANDER LOWEN 24 4.1. Técnicas de Tratamento da Resistência 26 4.2. O Desmascaramento do Papel 27 4.3. O Papel do Terapeuta 28 CAPÍTULO 5 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS 30 REFERÊNCIAS 33 v RESUMO Esse estudo trata da resistência no processo analítico e da sua influência no tratamento da neurose, na visão de Freud, Reich e Lowen. A resistência é um conceito psicanalítico fundamentado nas necessidades do ego se defender de fatores como idéias, afetos e impulsos sexuais reprimidos na primeira infância. A ameaça desses sentimentos surgirem na consciência, leva o ego a utilizar mecanismos de defesa (projeções, anulações, intelectualização, racionalização, etc.) para se proteger dos sofrimentos recalcados do passado. Reich e Lowen fundamentaram seus conceitos de resistência nesse princípio psicanalítico, e a entenderam como uma manifestação emocional causada por desgastes emocionais, na procura do estabelecimento egóico. A resistência aparece na análise sob forma de couraças musculares e na representação de papéis que estão a serviço da defesa narcísica. O tratamento da neurose está vinculado a uma série de fatores, dentre esses, o mais evidenciado foi à competência do analista no que diz respeito à compreensão, a interpretação e o manejo adequado dos vários tipos e formas de resistências que aparecem no processo analítico, principalmente aquelas que surgem disfarçadas em atitudes de cooperação, teimosias, modo de olhar, de falar, tom de voz, polidez, etc. O sucesso do tratamento depende da dissolução das resistências e das couraças musculares que corrompem os sentimentos naturais e bloqueiam os sexuais. Na terapia, o paciente deve adquirir o fortalecimento do ego, o senso de identidade e entender que as suas angustias são frutos dos sentimentos recalcados do passado. Palavras-chave: resistência, bioenergética, análise vi ABSTRACT This study is about the resistance of the analytic process and its influence in the cure of neurosis, according to Freud, Reich and Lowen’s point of view. Resistance is a psychoanalytical concept based on the necessities of the ego of defending itself from factors as ideas, affection and sexual impulses repressed in the first childhood. The threat of this feelings spring to the consciousness, forces the ego to use mechanisms of defense (projections, annulations, intellectualization, rationalization, etc.) to protect itself from the feelings repressed in the past. Reich and Lowen base their concepts of resistance on this psychoanalytical principle, and they understood the resistance as an emotional manifestation caused by emotional stress, in the search of the ego’s establishment. Resistance appears in the analysis in the shape of muscle breastplate and in the performance of roles that are working for the narcissistic defense. The cure of neurosis is connected to a series of factors, in which, the most obvious was related to the competence of the analyst concerning comprehension, interpretation and the right way of the several types and forms of resistances that appears in the analytic process mainly those that appears disguised in attitudes of cooperation, stubbornness, way of looking and speaking, voice tone, politeness, etc. The success of the treatment depends on the break resistances or the dissolution of the muscle breastplates that corrupts the natural feelings and blocks the sexual ones. In the therapy, the patient must acquire the strengthening of the ego, the sense of identity and understand that our anxiety is product of our feelings repressed in the past. Key words: resistance, bioenergetics, analysis vii CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO O interesse por estudar a influência da resistência no tratamento da neurose, surgiu com o início da atuação clínica em Análise Bioenergética. Os primeiros casos atendidos trouxeram inquietações, provenientes da vontade de ajudar o paciente a compreender, de imediato, o porquê das suas angústias. Fato esse que dificultou em alguns casos, a compreensão e a interpretação adequada das transferências e das resistências trazidas por ele. Um outro fator que impulsionou esta pesquisa foi à ciência de que a evolução do tratamento está atrelada, além de outros fatores, como por exemplo: levar o paciente a compreender as suas reencenações e relembrar as suas experiências anteriores, às habilidades do analista em analisar e interpretar adequadamente as transferências e resistências, trazidas por ele logo no início do tratamento. Estudiosos, como Freud (1976a) Reich (1998) Lowen (1977) Sandler, Dare e Holder (1976), entendem que as resistências aparecem de várias maneiras e em muitos casos disfarçadas, confundindo o analista, principalmente aqueles menos experientes. Mediante a complexidade do assunto e a pouca experiência na prática clínica, compreendeu-se a necessidade de investir nessa pesquisa. 9 A resistência representa uma atitude de oposição do paciente às descobertas do analista aos seus desejos inconscientes. Representa tudo aquilo que atrapalha o trabalho terapêutico e funciona como obstáculo à elucidação dos sintomas e a evolução do tratamento. A Psicanálise apresenta cinco formas de resistências, sendo três destas ligadas ao ego: o recalque, a resistência de transferência e o benefício secundário da doença. Existe também, a resistência do inconsciente ou do id e a do superego. A resistência do id está ligada à compulsão e a repetição. A do superego é derivada da culpa inconsciente da necessidade de punição (FREUD, 1976a). Para Reich (1998), não se deve interpretar o material apresentado pelo paciente de maneira indiscriminada, mas após o surgimento e a eliminação clara das resistências. Os erros que acontecem na técnica de interpretação das resistências são decorrentes de análises prematuras do significado dos sintomas e da interpretação do material na seqüência em que ele aparece, sem interpretar a resistência principal. Para falar sobre o processo de formação da resistência, Lowen (1979), procurou explicar primeiramente a formação da identidade. O senso de identidade ocorre quando a criança tem consciência de seus sentimentos e sensações corporais. Ainda segundo este autor, o ego se desenvolve por intermédio da percepção, integração da sensação corporal e da expressão dos sentimentos. Se a criança é ensinada a agir e se comportar conforme o desejo dos pais, o seu ego se tornará frágil e a sua identidade confusa. Ela não perceberá o seu corpo e manipulará o meio ambiente para manter a imagem que tem de si mesma, passando a agir de forma representativa, e igualando a sua identidade a um papel. 10 Lowen afirma ainda que, uma identidade baseada num papel, num momento que este deixar de existir, a personalidade também se desintegrará. Assinala ainda que, a pessoa que interpreta estará sempre representando e requisitando audiências receptivas para poder manter-se satisfeito. A audiência primeira foi constituída pelos pais,a medida que a incentivava e a estimulava. Essa representação se constitui o maior obstáculo para a recuperação da identidade, uma vez que a sua interpretação é inconsciente e faz parte da estrutura de caráter. O papel é considerado a base no relacionamento com o terapeuta no que diz respeito, ao processo de transferência de sentimentos e atitudes vivenciadas na primeira infância com os pais, e transferido para a pessoa do terapeuta. A sua interpretação, é a principal resistência psicológica contra o envolvimento do paciente no processo terapêutico (LOWEN, 1979). A proposta desse trabalho foi estudar a resistência, segundo as concepções apresentadas por Freud, por Reich, e por fim na visão da Análise Bioenergética de Alexander Lowen, para oferecer um atendimento condizente com a realidade dos casos de resistências que prolongam o tratamento da neurose. CAPÍTULO 2 A RESISTÊNCIA NA VISÃO PSICANALÍTICA A resistência é um conceito de origem psicanalítico relativo aos elementos e as forças que, no paciente, atrapalham o processo terapêutico. Ela surgiu por volta de 1895, quando Freud se preparava para abandonar o método da hipnose e investir na técnica da associação livre, ou método da conversa como era conhecido na época. Nesse método o paciente permanecia acordado sendo influenciado pelo analista, a falar de si mesmo, livremente como quisesse. Nessas conversas ele, às vezes, lembrava de fatos do passado (infância) considerados de grande valia para a descoberta dos seus conflitos (SANDLER, DARE HOLDER, 1976). Naquela época, a psicanálise passou por muitas dificuldades (úteis). O surgimento da transferência, traço característico da teoria psicanalítica, foi uma delas. Esse termo diz respeito à ligação afetiva que o paciente desenvolve com a pessoa do analista, ou com a própria situação analítica, no decorrer do processo de associação livre. Em alguns casos, ele se apaixona pelo terapeuta, em outros, surgem atitudes hostis, que Freud considera apenas como atitudes contrárias ao se apaixonar, pois, a essência da reação é a mesma (HEIDBREDER, 1981). 12 A descoberta da transferência trouxe a Freud a certeza de que os conflitos emocionais de suas pacientes histéricas eram de origem sexual. Essa convicção já era defendida por ele, quando ainda era aluno de Charcot em 1885, e estava desenvolvendo a sua teoria da origem sexual das neuroses. Com o surgimento da transferência, Freud percebeu que as ligações afetivas que o paciente desenvolvia com a pessoa do analista eram de origem sexual. A emoção que era removida, ou mexida mediante o processo de associação livre, voltava-se para a pessoa do analista. A outra dificuldade enfrentada nesta mesma época pela psicanálise, foi o surgimento das resistências (objeto de estudo deste trabalho) em decorrência das associações livres. Como essa técnica representava a passagem de uma lembrança a outra, até chegar a verdadeira causa do distúrbio, o paciente, nessas tentativas, desenvolvia formas de resistências que o impossibilitava evoluir no tratamento. Casos existem, em que ele pára no processo, não deseja, ou não se sente capaz de prosseguir, e /ou de evoluir nas associações. Ele se deparou com algo muito doloroso, ou odioso e chocante. A falta de desejo e a incapacidade de prosseguir, na opinião de Freud, representam dois aspectos da resistência, onde a incapacidade de prosseguir no processo terapêutico é o mais grave (HEIDBREDER, 1981). 2.1. Origem da Resistência Freud (1926 apud SANDLER, DORE,HOLDER, 1976) pensava que a causa da resistência era à ameaça do aparecimento de idéias e afetos desagradáveis. Essas idéias tinham sido reprimidas e resistiam a rememoração, por serem de natureza dolorosa e capazes de despertarem afetos de vergonha, 13 autocensura, dor física e sentimentos de ser prejudicado Na segunda fase da psicanálise (1959), o Rapaport e a importância dos impulsos e desejos internos na formação dos conflitos, foram reconhecidos. A resistência passou a ser percebida como dirigida, não somente contra recordações e lembranças dolorosas, mas contra a apercepção de impulsos inaceitáveis. Nesse contexto, ela era entendida como sendo responsável pela distorção das lembranças inconscientes, disfarçadas nas associações livres. Freud (1976a) fez distinção entre cinco tipos de resistência, provenientes do ego, do id e do superego. O ego é a fonte de três delas, sendo a primeira, a da repressão, entendida como sendo a necessidade do paciente de defender-se contra impulsos, recordações e sentimentos que, ao tornar-se conscientes trariam-lhe sofrimentos. Essa resistência representa um reflexo do chamado ganho primário da doença neurótica, tendo em vista, que os sintomas neuróticos podem ser considerados como recursos de autoproteção. Em segundo vem a resistência da transferência, considerada a resistência que traz os maiores obstáculos ao tratamento psicanalítico. Aqui, o paciente não faz a rememoração dos sentimentos e pensamentos reprimidos do passado como deveria. A tendência deles é aparecerem na situação analítica causando intensas resistências às associações livres. Essas resistências são idênticas a da repressão porém, apresentam efeitos evidentes na análise, por estabelecerem uma relação com a situação analítica ou com o próprio analista. A terceira resistência, mesmo sendo uma resistência do ego, é muito diferente das demais citadas anteriormente. Ela é proveniente do ganho secundário da doença. Embora o sintoma seja percebido como algo estranho e desagradável, o 14 ego não reage, e o toma como se tivesse vindo para ficar. Diante disso, o que deve ser feito é aceitar a situação e tirar proveito dela. Freud (1976a) entende que esses ganhos secundários representam vantagens e gratificações por estar doente e poder ser cuidado, ou mesmo ser objeto de compaixão das pessoas. A gratificação pode surgir também, em forma de impulsos agressivos, vingativos para com a pessoa que cuida do paciente. Uma outra forma de ganho secundário, pode ser de tendências masoquistas ocultas (reação terapêutica negativa). A quarta resistência é proveniente do id, e para ser eliminada necessita de elaborações por parte do paciente. Provém da compulsão a repetição e possui uma tendência a manipular os impulsos instintuais contra o desligamento dos seus objetos anteriores e suas formas de descarga. A quinta resistência advém do superego. Para Freud (1976a), essa resistência parece ter origem nos sentimentos de culpa, ou na necessidade de punição contra qualquer sentimento de êxito ao tratamento. Os fenômenos da resistência são considerados mecanismos de defesa do paciente e não apenas mecanismos da repressão. Esses mecanismos são postos em ação nas situações de perigo, principalmente aquelas que aparecem quando os desejos sexuais ou agressivos tentam expressar-se livremente na consciência ou no comportamento. Nesses mecanismos estão incluídos: as projeções, anulação, intelectualização, racionalização, identificação com o agressor, formação reativa, etc. Os mecanismos de defesa são dirigidos contra o perigo do passado, surgem na análise na forma de resistência ao tratamento. Sandler, Dare, Holder (1976) citaram opiniões de autores como: Glover, Reich, Ana Freud, etc, a respeito das formas de resistência. Glover fala de 15 resistências “obvias” ou “crassas” e “resistências discretas” como sendo relativas aos atrasos do paciente as sessões, as faltas, aos silêncios, aos rodeios, em fim, as rejeições à análise e ao analista. As resistências discretas têm como características básicas, o está de acordo com a situação analítica. Essas resistências não trazem nenhum incômodo à situação analítica, porém atrapalham a evolução do tratamento da neurose. Reich fala das resistências como sendo um processo defensivo do passado que surge na personalidade e no processo terapêutico em forma de atitudes fixas (blindagem do caráter). Anna Freud afirma que são as resistências que dão as informações sobre o funcionamento mental do paciente. Na sua opinião, elas devem ser entendidas na análise, como defesa do paciente que se juntam aos seus conflitos e os reforçam. 2.2. Manejo da Resistência pelo Analista Freud (1976a) nas suas revisões teóricas, afirma que no combate as resistências, o analista precisa debelar no mínimo cinco tipos de resistências proveniente do ego, do id e do superego. Como foi citado anteriormente, três dessas resistências são de origem egóica: a da repressão, a da transferência, e a resistência do ganho secundário da doença. No combate a resistência da repressão, o analista deve levar ao entendimento do paciente, que as suas defesas são contra impulsos, recordações e sentimentos dolorosos do passado. 16 No que diz respeito à resistência da transferência, ele deve não só interpretar os acontecimentos trazidos pelo paciente, mas como na repressão, leválo a conscientizar-se de que, esses conteúdos transferenciais, relativos a pessoa do analista ou a situação terapêutica, funcionam como obstáculo ao tratamento. O terapeuta deve ter cuidado em averiguar se o paciente tem condições psicológicas para suportar suas intervenções. Para trabalhar a resistência do id, o analista deve levar o paciente a realizar elaborações. Essa tarefa não é simples para ele, que precisa de tempo para elaborar as intervenções terapêuticas e, da paciência do analista mediante esse processo. O paciente deve entender que os fatos do presente são repetições do passado. A luta do analista contra as resistências na análise, deve ser no sentido de compreender que, a resistência que deve ser trabalhada é a do ego. Para isso, ele precisa entender que é difícil para o paciente dirigir a sua atenção a idéias e impulsos que são contrários às suas normas. A tendência do ego é evitar qualquer investimento que esteja fora de suas convicções. O analista deve entender também, que mesmo o ego abandonando às suas resistências, ele precisa debelar as resistências do inconsciente, evidenciadas na compulsão a repetição (FREUD, 1976a). CAPÍTULO 3 A ORIGEM DA RESISTÊNCIA SEGUNDO REICH Para falar sobre a origem da resistência, Reich (1998) faz uso da literatura psicanalítica para explicar primeiramente a origem da neurose. A neurose é o resultado do embate entre a exigências pulsionais recalcadas em especial, as da primeira infância, e as forças do ego que as impede de eclodirem na consciência. O fracasso dessa luta resulta os sintomas neuróticos ou traços de caráter neurótico. Essas forças são conhecidas no tratamento analítico como resistências à quebra do recalque e conseqüentemente, ao tratamento da neurose. A regra básica (associação livre), que antes era tornar consciente o inconsciente pela dissolução do recalque, passa a ser: tornar consciente o inconsciente através da eliminação da resistência. O paciente precisa compreender que está resistindo, em seguida entender como isso é feito, e por último que ele resiste. Na concepção reichiana a resistência é uma manifestação emocional que surge por um desgaste energético na busca de uma fixação numa relação real e estável. Para quebrar este processo e tratar a neurose, o analista deve procurar primeiramente a origem da energia dos sintomas neuróticos e do caráter neurótico. 18 Nessa busca, ele se depara com as resistências do paciente, especialmente, as de ordem transferenciais. Essas resistências devem ser interpretadas, conscientizadas e abandonadas pelo paciente. Assim, ele terá condições de relembrar as experiências do passado com mais clareza. Outros fatores interferem na dissolução da resistência, como por exemplo, as transferências “heterogêneas”. Essas provocam sérias confusões mentais, pela infinidade de material advindo de todas as camadas do inconsciente e da vida do paciente. Esse material serve a uma resistência secreta, disfarçada, favorecendo uma situação caótica, provocada, em muitos casos, por erros na técnica de interpretação analítica, os quais fortalecem e atrapalham o manejo adequado da resistência e o tratamento da neurose. As primeiras semanas de análise são decisivas para o engajamento do paciente no processo terapêutico. Ele está construindo a sua personalidade analítica por isso, a resistência só deve ser interpretada quando ele estiver totalmente envolvido no processo, e o analista entendido completamente as resistências evidenciadas por ele. O terapeuta deve ser capaz de compreender os vários tipos de resistências existentes no processo e a forma como elas se apresentam na análise: disfarçadas em atitudes de cooperação, teimosias, dúvidas, desconfiança, etc, ou excessos de delicadeza e docilidades exageradas, etc. Essas resistências aparecem na transferência negativa latente, considerada a mais perigosa forma de transferência do processo analítico. A transferência latente, às vezes, passa desapercebida por muitos terapeutas experientes. Esse fato, na opinião dele, pode está associado ao seu 19 narcisismo, o qual deixa-o mais receptivo a elogios e desatendo às atitudes negativas. Existem outros fatores também determinantes para o insucesso do tratamento, entre eles, está o fato do analista interpretar o material 1 mais profundo trazido pelo paciente, antes de combater a resistência principal. Tentar analisar indiscriminadamente os inúmeros materiais apresentados por ele, sem que seja evidenciada a resistência pertinente a eles. As resistências inconscientes e as apresentadas claramente, devem ser interpretadas no início do tratamento, dessa forma, o analista terá condições de chegar ao inconsciente mais profundo (REICH, 1998). 3.1. A Formação do Caráter Reich (1998) foi o primeiro terapeuta a tratar seus pacientes baseandose na natureza e função de seu caráter, muito embora, tenha sido Freud (1976b) quem primeiro fez a distinção entre as funções de caráter, em seu artigo: “CARÁTER E EROTISMO ANAL”. Ele considerou o caráter erótico, como sendo dominado pelas demandas instintuais do id. O caráter narcisista centrado no ego e o compulsivo no superego. Mesmo assim, ele não tratou seus pacientes considerando essas estruturas de caráter. O seu foco eram os sintomas neuróticos. O conceito de caráter e couraça caracterológica de Reich foi fundamentado no conceito psicanalítico de necessidades do ego de defender-se contra forças instintuais recalcadas da primeira infância. 1 Material: Comunicações, sonhos, associações, lapsos, jeito de falar, linguagem, vestuário, expressão facial, manipulação das mãos etc. 20 O caráter é constituído pelo modo como o individuo se porta na vida, incluindo os valores, formas de comportamento, mobilidade física, etc. Esse padrão foi apreciado por Reich, primeiramente ao nível psicológico, depois ele o associou as resistências caracterológicas a couraças musculares, que precisavam ser dissolvidas pela análise, juntamente com todo material psicológico apresentado pelo paciente. Na opinião de Reich, a forma de comunicação e o comportamento do paciente, são mais importantes do que o material que ele trás, principalmente nas primeiras sessões. A maneira como ele fala, olha, o tom de voz, o grau de polidez, a agressividade, etc., são pontos chaves para a avaliação da resistência secreta latente, que atrapalham a regra básica e conseqüentemente a tratamento da neurose. A resistência oculta caracteriza aqueles pacientes polidos, corretos, aqueles que apresentam uma transferência positiva falsa e tratam a análise como um jogo. Esses pacientes, na opinião de Reich, são eternamente encouraçados, sendo a couraça, o representante da defesa narcísica fixada na psique. Além das resistências que se movem contra o material trazido pelo paciente, existem aquelas que estão enraizadas no inconsciente e não se ligam ao conteúdo, mas a forma. Essa é a chamada resistência do caráter, pois se origina no próprio caráter. Os aspectos mais importantes a saber sobre a resistência do caráter são: essa resistência não se expressa em termos de conteúdo, mas de forma. A resistência do caráter não está naquilo que o paciente diz e faz, mas no modo como 21 ele fala e age. Não está também no material dos sonhos mas, no modo como eles são contados, encarado, censurado, etc. O caráter na vida cotidiana e a resistência do caráter na terapia, estão a serviço da defesa: evitar o desconforto e conseqüentemente, manter o equilíbrio psíquico, mesmo sendo esse neurótico. Serve também como um regulador de energia pulsional e das que escapam a repressão. Na opinião de Reich a analise do caráter se aplica a todos os casos porém, existem alguns em que ela é mais indicada, como por exemplo, nas neuroses compulsivas, nos casos em que os traços de caráter são objetos e obstáculos ao tratamento. É indicada também em pacientes fálico-narcisista, nas insanidades morais, nas esquizoidias e esquizofrenias precoces, etc. O caráter se forma como uma defesa contra a ansiedade, criada pelo intenso sentimento sexual da criança e o conseqüente medo da punição. A primeira defesa contra esse medo é a repressão, cujo papel é bloquear os impulsos sexuais por algum tempo. Se esse fato se repete com freqüência (defesa egóica) e de maneira automática, essas defesas formam couraças musculares, provenientes de forças defensivas repressoras estruturadas dentro do ego. Quando o traço de caráter se forma, a repressão desaparece ou se transforma numa formação reativa rígida. A couraça do caráter ocorreu na primeira infância com a função definida de proteger o ego contra os estímulos externos, e controlar a libido que provem do id. Na opinião de Reich a angustia se instala nos processos que estão na base da prevenção e formação das couraças. Esse investimento tem como objetivo básico manter o equilíbrio do traço de caráter estabelecido, mesmo que este 22 seja neurótico. Aqui se forma a resistência do caráter, a qual é comandada pelos mecanismos de defesa narcísicos do ego. O caráter do indivíduo está expresso no corpo em forma de couraças musculares. A energia libidinal é liberada pela quebra da couraça muscular deixando-a fluir livremente, beneficiando a análise e facilitando o tratamento da neurose. O traço de caráter é diferente de sintoma neurótico. Os sintomas neuróticos (medo, fobias inespecíficas...) são considerados pelo indivíduo estranho ao organismo ou a psique. Já os traços de caráter neuróticos (timidez, agressividade,...) são experienciados como algo natural, que faz parte da própria personalidade. O sucesso da terapia está na quebra dos blocos de couraças musculares que corrompem os sentimentos naturais e bloqueiam os sexuais. O objetivo da terapia Reichiana é liberar emoções (raiva, prazer, ansiedade,...), através da expressão corporal. Dessa forma, o indivíduo terá condições de relembrar as experiências do passado com mais facilidade. (REICH1998) 3.2. A Função do Terapeuta O tratamento analítico reichiano parte da estrutura corporal e passa pelos hábitos físicos do paciente.O objetivo é conscientizá-lo do funcionamento do próprio corpo: a respiração, os sentimentos e as tensões emocionais. 23 Na opinião de Reich, para remover a resistência e conseqüentemente tratar a neurose, o analista deve trabalhar o ódio recalcado, considerando para isso a cena primária e os afetos a ela correspondentes (FADIMAN e FRAGER, 1986). Reich (1998) fala de vários casos, onde ele diz que errou na técnica de interpretação das resistências e, por isso, a análise não teve um bom resultado. Como erro de interpretação ele destacou: a interpretação prematura dos sintomas, a interpretação do material na ordem que ele aparecia, deixar de tratar a resistência principal em primeiro lugar (antes das interpretações), fazer interpretações assistemáticas inconsistentes, sem saber se o paciente tem condições de suportar as intervenções e desconhecer a capacidade que ele tem de mascarar as resistências, pelas formações reativas, etc. Existem outros fatores que influenciam negativamente no processo terapêutico como por exemplo, o caso do terapeuta passivo, aquele que espera muito. Na opinião de Reich, Freud se preocupava muito com esse fato, porque o “deixar correr” no processo terapêutico, pode ser tão catastrófico, quanto o bombardeamento de interpretações fundamentadas em princípios teóricos. Não esquecer também, que essa passividade analítica promove o desenvolvimento de resistências. Reich (1998) acredita que por traz desses erros técnicos pode estar a regra freudiana cuja ação, é deixar o paciente comandar a análise. Na opinião desse autor, o analista não deve intervir na análise, quando perceber que o paciente já compreendeu o processo, faz associações e evolui no tratamento. Porém, as intervenções devem acontecer, se o analista perceber que o paciente tem medo de lutar contra os seus conflitos e desejos de ficar doente. CAPÍTULO 4 A RESISTÊNCIA SEGUNDO ALEXANDER LOWEN Para falar sobre o processo de formação da resistência, Lowen (1979), procurou explicar primeiramente a formação da identidade. O senso de identidade é o resultado da percepção do desejo, do reconhecimento da necessidade e da consciência da sensação corporal. Para ele, isso ocorre no momento do nascimento, quando a criança dá o primeiro choro. Nesse momento, o bebê mostra sentimentos, desejos e necessidades – permanecer junto ao corpo da mãe, mesmo não tendo consciência disso. Só mais tarde, com o crescimento e desenvolvimento da maturidade é que essas funções vão se desenvolvendo, tornando os desejos, a consciência e as sensações corporais mais refinados. Na opinião desse autor, é a partir daí que começa o senso de identidade. O ego se desenvolve por intermédio da percepção, integração da sensação corporal e da expressão dos sentimentos. Se nessa fase a criança for obrigada a inibir seus sentimentos, ou envergonhasse por suas sensações corporais, o seu ego não amadurecerá. Se ela não tiver oportunidade de descobrir por si só as próprias dimensões, explorar as forças ou fraquezas, o seu ego não terá um apoio seguro na realidade, 25 conseqüentemente, a sua identidade será confusa. Uma criança assim manipulará o meio ambiente para conservar a sua imagem e a sua identidade será igualada a este papel. O indivíduo que possui um senso de identidade, conhece os seus desejos, necessidades e as sensações corporais. Essa experiência é adquirida logo após o nascimento, quando o bebe é satisfeito nas suas necessidades, mesmo sem ter ainda consciência delas. A mobilização dele, cada vez que sofre uma dor, ou sente algo desagradável é chamada por Lowen, senso de identificação. Lowen afirma que, uma identidade baseada num papel, num momento que este deixar de existir a personalidade também se desintegrará. Assinala ainda, que a pessoa que interpreta, estará sempre representando e requisitando audiências receptivas para poder manter-se satisfeito. A audiência primeira foi constituída pelos pais, ao incentivar e estimular tanto o papel, como a sua atuação. O papel representa o maior obstáculo para a recuperação da identidade, uma vez que a sua interpretação é inconsciente e faz parte da estrutura de caráter. Ele é considerado a base no relacionamento com o terapeuta, no que diz respeito ao processo de transferência, de sentimentos e atitudes vivenciadas na primeira infância com os pais e transferido para a pessoa do terapeuta. A interpretação de papéis é a principal resistência psicológica contra o envolvimento do paciente no processo terapêutico (LOWEN, 1979). 26 4.1. Técnicas de Tratamento da Resistência Desde Freud até hoje, muitas técnicas e conceitos analíticos sofreram modificações. O próprio Freud mudou por diversas vezes a sua maneira de atuar. A princípio, ele trabalhava com a terapia física, Passou a interessar-se pela neurologia e doenças nervosas. No momento mais crítico de sua vida, voltou-se para a histeria, passando desta para a hipnose. Mais tarde, deixou-a pela associação livre, a qual foi complementada pela interpretação dos sonhos. Foi a partir do uso da técnica da associação livre e da interpretação dos sonhos que Freud tomou conhecimento de dois fenômenos, considerados por ele, impossíveis de serem detectados sem que o paciente estivesse consciente. Trata-se da transferência e da resistência. Esses fenômenos foram tão importantes para a Psicanálise que Freud (1914) disse que qualquer abordagem que considerasse a transferência e a resistência no processo terapêutico poderia considerada psicanálise. A transferência é constituída pelo papel que o paciente interpreta no relacionamento com o analista. Ele transfere para o analista os sentimentos e atitudes de suas relações com os pais. Inconscientemente, busca amor e proteção, a fim de eliminar os seus medos e ansiedades. Se o papel interpretado for o de um filho amável, na terapia ele fará o máximo para agradar o terapeuta. Se ele estiver representando alguém, cujo poder aquisitivo é alto, ele tentará comandar todo o processo analítico etc. No geral o papel que o indivíduo desempenha não encontra a receptividade esperada por ele. Esse fato o perturba e o mobiliza a procura de outras audiências. Se frustrado busca a terapia, a fim de descobrir porque a sua forma de atuação não vai bem (LOWEN, 1977). 27 4.2. O Desmascaramento do Papel Na opinião de Lowen (1977), para desmascarar o papel, o analista deve compreender a estrutura física do paciente como “uma faceta de sua personalidade”. Geralmente por trás de atitudes e aparências físicas desproporcionadas, existem atitudes contrárias, como por exemplo, tristeza por trás de uma cara alegre, medo escondido numa figura auto-suficiente e raiva por baixo de uma aparência polida, etc. No desmascaramento de um papel, o paciente deve descobrir que a percepção que ele tem das outras pessoas representa a imagem que ele tem de seus pais. Deve tomar conhecimento dos seus sentimentos negativos que são projetados, não só na pessoa do analista, mas fora da análise; no marido, nos filhos, na esposa, etc. Deve perceber também, que as atitudes de desafio, o coloca a parte, forçando-o a se isolar. É chegado o momento que ele percebe que pode viver por si mesmo, conhecendo e exprimindo os próprios sentimentos. Se os pais determinam como os filhos devem agir quando criança, eles determinam com isso também, a sua forma de vida futura, ou seja, o papel que eles irão desempenhar quando se tornarem adultos. Isso acontece porque, o predominante na ação dos pais, perante as crianças, são as suas atitudes e ações inconscientes, comunicadas através do olhar, do toque, dos gestos e estados de espírito. No geral esse papel se estabelece por volta dos sete anos de idade. A criança que convive num lar saudável, onde as suas necessidade e desejos são satisfeitos, certamente ela não precisará se utilsar de representações para agir na vida. A existência dessas, denota um lar hostil, que obriga a criança a desenvolver um processo de adaptação a ele. Nessa adaptação, ela se identifica com os pais e desenvolve inconscientemente uma personalidade que não é a sua. 28 A adaptação é diferente da imitação. Na opinião de Lowen, a imitação é um processo natural. Quando a criança imita estende a sua personalidade, porém, quando ela se identifica, a sua personalidade se torna limitada. A identificação não se dar de maneira consciente. Reich (apud LOWEN, 1977), diz que a criança tem uma tendência a identificar-se com o genitor mais intimidador. Quando isso acontece, ela incorpora aos seus sentimentos e pensamentos, ou o dos seus familiares, em especial os dos pais, de forma que consiga conviver com a hostilidade existente nas atitudes deles. A forma de agir dos pais, passa a fazer parte da personalidade da criança. E quando o grau de identificação é muito grande, a criança se sente como sendo o próprio pai ou a mãe, ou os dois ao mesmo tempo e se porta na vida como eles. Quando o paciente procura a terapia esse material o acompanha e serve a uma transferência e a uma resistência ao processo analítico (LOWEN, 1977). 4.3. O Papel do Terapeuta Lowen fundamentou o seu trabalho com a bioenergética na literatura reichiana e como Reich, enfatizou a função corporal tanto na análise como na terapia. Ele utilizou as técnicas da respiração, de chorar, gritar, bater,..., para liberar a tensão emocional. Usou também, a técnica de postura de tensão para energizar partes do corpo que foram bloqueadas por couraças musculares. Essa técnica provoca o aumento da tensão no local onde a couraça se cronificou. A sobrecarga (na parte tensa) obriga a couraça a se dissolver. O trabalho da bioenergética incide principalmente sobre as pernas e a 29 pélvis. É a partir do movimento com esses seguimentos que o paciente vai fazer conexões com o próprio corpo e a terra (FADIMAN; FRAGER, 1986). Na opinião de Lowen (1979), para tratar a neurose, o analista deve conhecer bem os sentimentos do paciente, sentir as suas necessidades, perceber a consciência que ele tem do próprio corpo, se ele sente quando está triste ou com raiva, se conhecem as tensões musculares do corpo e entende de amor e prazer. A terapia não é para recuperar uma identidade perdida, mas para propiciar uma noção de identidade por meio do fortalecimento do ego. Isso se dá pela sensação corporal e a expressão de sentimentos. A estrutura de caráter do paciente, esta ligado ao papel que ele adotou quando criança, e é evidenciada no mundo, através do falar, da postura corporal, dos gestos, expressões, movimentos e também da atitude corporal. Para evidenciar o papel é preciso analisar a estrutura de caráter como um todo, saber que na análise, o paciente desenvolve uma transferência baseada nas representações que desempenha na vida. Entender que as outras pessoas são vistas por ele como os pais. Essa transferência tem origem na sua necessidade de aprovação, na culpa relacionada aos seus sentimentos sexuais e na inibição dos sentimentos negativos. O tratamento da neurose vai depender da recuperação do seu corpo, da sua identidade e da aceitação dos sentimentos recalcados. Em muitos casos, o analista é o principal personagem no processo terapêutico. É através da transferência que o paciente desenvolve com ele, que se pode conhecer todo o material que paira na superfície da sua mente, com esse entendimento ele terá condições de compreender o porquê das resistências desenvolvidas pelo paciente, e o quanto elas atrapalham o tratamento da neurose (LOWEN, 1979). CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O conceito de resistência surgiu quando Freud (apud HEIDBREDER, 1981) desenvolveu a técnica de associação livre e da interpretação dos sonhos. Freud (1976a) fez distinção entre cinco tipos de resistência, proveniente do id, do ego e do superego. O ego é a fonte de três delas: a da repressão, a da transferência, a do ganho secundário da doença, A resistência do id, provém da compulsão a repetição, e a do superego, têm origem nos sentimentos de culpa, ou da necessidade de punição A resistência na visão de Reich (1998) é o resultado do desgaste energético sofrido pelo paciente, na busca de uma fixação real, firme e estável. Esse conceito provém da concepção freudiana, das necessidades do ego de se defender contra forças instituais recalcadas da primeira infância. A resistência de caráter na opinião de Reich, não está naquilo que o paciente diz ou faz, mas no modo como ele fala e age. Não está no material dos sonhos, mas na forma como eles são contados censurados, encarados etc. Ainda segundo esse autor, a neurose é o resultado do embate entre as exigências pulsionais recalcadas da primeira infância e as forças do ego que as impede de eclodirem na consciência. 31 Reich acredita que o insucesso do tratamento da neurose, em muitos casos, pode está na interpretação inadequada, ou prematura do material trazido pelo paciente, como por exemplo, o terapeuta tentar interpretar o material mais profundo antes de combater a resistência principal. Tentar analisar indiscriminadamente os inúmeros materiais trazidos pelo paciente, sem que sejam evidenciados os sentimentos pertinentes.a eles. Lowen (1979) entende como resistência ao processo terapêutico, o papel que o indivíduo desempenha na vida para se proteger contra estímulos desagradáveis e ameaçadores ao seu equilíbrio psíquico. Na sua opinião, o caráter que o individuo desenvolveu na vida está ligado às representações que ele adotou, quando criança, como forma de defesa. Para Lowen (1979), o tratamento da neurose vai depender da recuperação do corpo,do senso de identidade e da aceitação dos sentimentos recalcados do passado. A terapia, na opinião de Lowen (1977), não é para recuperar uma identidade perdida, mas para propiciar uma noção de identidade, por meio do fortalecimento do ego, da identidade e da expressão dos sentimentos. Lowen e Reich estão de acordo com a visão freudiana, de que a resistência é uma luta contra estímulos para tornar conscientes, lembranças recalcadas do passado que na análise, tentam surgir na consciência. Pelas evidências, o tratamento da neurose está associado à dissolução das resistências, ou das couraças musculares, mediante o processo analítico. O sucesso do tratamento está atrelado, dentre outros fatores, a competência do terapeuta em interpretar e intervir adequadamente sobre os vários tipos e formas de resistência que aparecem disfarçadas ou não, no processo 32 analítico. Ficou evidenciado também, que o conceito de resistência permanece inalterado desde Freud, muito embora Reich e Lowen façam distinções entre as formas como elas se apresentam no processo analítico. Freud acredita que as resistências aparecem na terapia por meio das projeções, atos falhos, intelectualizações, etc. Para Reich, elas são evidenciadas sob forma de couraças musculares, e Lowen as apresenta na forma de representações de papéis. Esse estudo teve o propósito de averiguar a resistência no processo analítico e a sua influência no tratamento da neurose no pensamento dos teóricos Freud, Reich e Alexander Lowen. Com ele, foi possível compreender melhor às resistências do paciente, no processo analítico e as dificuldades e responsabilidades do analista no tratamento da neurose. Possibilitou também a compreensão de que,uma ação terapêutica adequada,deve promover o fortalecimento egoico, senso de identidade e leva o paciente ao entendimento de que as suas angústias são provenientes de sentimentos recalcados do passado. REFERÊNCIAS FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: HARBRA, 1986. FERREIRA, A. B. H. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Rio de janeiro: RRP Editorial Ltda, 1978. p.353. FREUD. S. Inibições sintomas e ansiedade. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1976a. v.XX. FREUD, S. Caráter e erotismo anal. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro, Imago, 1976b. v.IX HEIDBREDER, E. Psicologias do século XX. 5a ed. São Paulo: Mestre Jou, 1981. LOWEN, A. O corpo traído. 6ª ed. São Paulo: Summus, 1979. LOWEN, A. O corpo em terapia: a abordagem bioenergética. 8ª ed. São Paulo: Summus, 1977. LOWEN, A. Bioenergética. 7ª ed. São Paulo: Summus, 1982 REICH, W. Análise do caráter. Tradução de Ricardo Amaral do Rego. 3a ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. SANDLER, J.; DARE, C.; HOLDER, A. O paciente e o analista: fundamentos do processo psicanalítico. Tradução de José Luís Meurer, Rio de Janeiro: Imago, 1976.