A influência da resistência no tratamento da neurose

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
LIBERTAS CLINICA-ESCOLA
AUTORA: PSICÓLOGA
MARIA HELENA PEREIRA DOS SANTOS OLIVEIRA
A INFLUÊNCIA DA RESISTÊNCIA
NO TRATAMENTO DA NEUROSE
RECIFE
2004
O48i
Oliveira, Maria Helena Pereira dos Santos
A influência da resistência no tratamento da neurose/ Maria
Helena Pereira dos Santos Oliveira – Recife, 2004.
37.p.
Orientador: Grace Wanderley de Barros Correia
Monografia (especialização) – Universidade Católica de
Pernambuco/ Departamento de Psicologia
1. Psicologia 2. Resistência 3. Neurose 4. Bioenergética
5. Psicanálise
UFPB/BC
CDU.159.9 (043.2)
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
LIBERTAS CLINICA-ESCOLA
AUTORA: PSICÓLOGA
MARIA HELENA PEREIRA DOS SANTOS OLIVEIRA
A INFLUÊNCIA DA RESISTÊNCIA
NO TRATAMENTO DA NEUROSE
Monografia
apresentada
a
Universidade
Católica
de
Pernambuco como requisito para
a conclusão do Curso de
Especialização
em
Análise
Bioenergética, orientada pela
Professora Grace Wanderley
Barros Correia.
RECIFE
2004
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela saúde psicológica, a motivação e a disposição para a realizar
este trabalho.
A minha mãe (in memoriam), pelos ensinamentos de fé, espiritualidade e
de luta pelas coisas que desejo, especialmente pela vida.
Ao meu marido Edgar, pelos incentivos, paciência e afetividade nas horas
difíceis.
Aos meus filhos, Helane, Edgar Neto e Fabiana, pela paciência
compreensão e incentivos nos momentos mais difíceis.
Ainda a Helane, pela participação na digitação e formatação deste
trabalho.
A Professora Nadja Lacerda Cunha Lima, pelas orientações dadas nesse
trabalho, pelos conhecimentos transmitidos no Curso de Formação em Análise
Bioenergética e por despertar, no processo terapêutico, o senso de identidade.
iii
“A natureza primeira de um ser humano
é ser aberto à vida e ao amor.
Está resguardado encouraçado, descrente
e fechado vem a ser a segunda
natureza da nossa cultura”.
Alexander Lowen (1982)
iv
SUMÁRIO
RESUMO
vi
ABSTRACT
vii
CAPÍTULO 1
08
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO 2
11
A RESISTÊNCIA NA VISÃO PSICANALÍTICA
11
2.1. Origem da Resistência
12
2.2. Manejo da Resistência pelo Analista
15
CAPÍTULO 3
17
A ORIGEM DA RESISTÊNCIA SEGUNDO REICH
17
3.1. A Formação do Caráter
19
3.2. A Função do Terapeuta
22
CAPÍTULO 4
24
A RESISTÊNCIA SEGUNDO ALEXANDER LOWEN
24
4.1. Técnicas de Tratamento da Resistência
26
4.2. O Desmascaramento do Papel
27
4.3. O Papel do Terapeuta
28
CAPÍTULO 5
30
CONSIDERAÇÕES FINAIS
30
REFERÊNCIAS
33
v
RESUMO
Esse estudo trata da resistência no processo analítico e da sua influência no
tratamento da neurose, na visão de Freud, Reich e Lowen. A resistência é um
conceito psicanalítico fundamentado nas necessidades do ego se defender de
fatores como idéias, afetos e impulsos sexuais reprimidos na primeira infância. A
ameaça desses sentimentos surgirem na consciência, leva o ego a utilizar
mecanismos de defesa (projeções, anulações, intelectualização, racionalização, etc.)
para se proteger dos sofrimentos recalcados do passado. Reich e Lowen
fundamentaram seus conceitos de resistência nesse princípio psicanalítico, e a
entenderam como uma manifestação emocional causada por desgastes emocionais,
na procura do estabelecimento egóico. A resistência aparece na análise sob forma
de couraças musculares e na representação de papéis que estão a serviço da
defesa narcísica. O tratamento da neurose está vinculado a uma série de fatores,
dentre esses, o mais evidenciado foi à competência do analista no que diz respeito à
compreensão, a interpretação e o manejo adequado dos vários tipos e formas de
resistências que aparecem no processo analítico, principalmente aquelas que
surgem disfarçadas em atitudes de cooperação, teimosias, modo de olhar, de falar,
tom de voz, polidez, etc. O sucesso do tratamento depende da dissolução das
resistências e das couraças musculares que corrompem os sentimentos naturais e
bloqueiam os sexuais. Na terapia, o paciente deve adquirir o fortalecimento do ego,
o senso de identidade e entender que as suas angustias são frutos dos sentimentos
recalcados do passado.
Palavras-chave: resistência, bioenergética, análise
vi
ABSTRACT
This study is about the resistance of the analytic process and its influence in the cure
of neurosis, according to Freud, Reich and Lowen’s point of view. Resistance is a
psychoanalytical concept based on the necessities of the ego of defending itself from
factors as ideas, affection and sexual impulses repressed in the first childhood. The
threat of this feelings spring to the consciousness, forces the ego to use mechanisms
of defense (projections, annulations, intellectualization, rationalization, etc.) to protect
itself from the feelings repressed in the past. Reich and Lowen base their concepts of
resistance on this psychoanalytical principle, and they understood the resistance as
an emotional manifestation caused by emotional stress, in the search of the ego’s
establishment. Resistance appears in the analysis in the shape of muscle breastplate
and in the performance of roles that are working for the narcissistic defense. The
cure of neurosis is connected to a series of factors, in which, the most obvious was
related to the competence of the analyst concerning comprehension, interpretation
and the right way of the several types and forms of resistances that appears in the
analytic process mainly those that appears disguised in attitudes of cooperation,
stubbornness, way of looking and speaking, voice tone, politeness, etc. The success
of the treatment depends on the break resistances or the dissolution of the muscle
breastplates that corrupts the natural feelings and blocks the sexual ones. In the
therapy, the patient must acquire the strengthening of the ego, the sense of identity
and understand that our anxiety is product of our feelings repressed in the past.
Key words: resistance, bioenergetics, analysis
vii
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
O interesse por estudar a influência da resistência no tratamento da
neurose, surgiu com o início da atuação clínica em Análise Bioenergética. Os
primeiros casos atendidos trouxeram inquietações, provenientes da vontade de
ajudar o paciente a compreender, de imediato, o porquê das suas angústias. Fato
esse que dificultou em alguns casos, a compreensão e a interpretação adequada
das transferências e das resistências trazidas por ele.
Um outro fator que impulsionou esta pesquisa foi à ciência de que a
evolução do tratamento está atrelada, além de outros fatores, como por exemplo:
levar o paciente a compreender as suas reencenações e relembrar as suas
experiências anteriores, às habilidades do analista em analisar e interpretar
adequadamente as transferências e resistências, trazidas por ele logo no início do
tratamento. Estudiosos, como Freud (1976a) Reich (1998) Lowen (1977) Sandler,
Dare e Holder (1976), entendem que as resistências aparecem de várias maneiras e
em muitos casos disfarçadas, confundindo o analista, principalmente aqueles menos
experientes.
Mediante a complexidade do assunto e a pouca experiência na prática
clínica, compreendeu-se a necessidade de investir nessa pesquisa.
9
A resistência representa uma atitude de oposição do paciente às
descobertas do analista aos seus desejos inconscientes. Representa tudo aquilo que
atrapalha o trabalho terapêutico e funciona como obstáculo à elucidação dos
sintomas e a evolução do tratamento.
A Psicanálise apresenta cinco formas de resistências, sendo três
destas ligadas ao ego: o recalque, a resistência de transferência e o benefício
secundário da doença. Existe também, a resistência do inconsciente ou do id e a do
superego. A resistência do id está ligada à compulsão e a repetição. A do superego
é derivada da culpa inconsciente da necessidade de punição (FREUD, 1976a).
Para Reich (1998), não se deve interpretar o material apresentado pelo
paciente de maneira indiscriminada, mas após o surgimento e a eliminação clara das
resistências. Os erros que acontecem na técnica de interpretação das resistências
são decorrentes de análises prematuras do significado dos sintomas e da
interpretação do material na seqüência em que ele aparece, sem interpretar a
resistência principal.
Para falar sobre o processo de formação da resistência, Lowen (1979),
procurou explicar primeiramente a formação da identidade. O senso de identidade
ocorre quando a criança tem consciência de seus sentimentos e sensações
corporais. Ainda segundo este autor, o ego se desenvolve por intermédio da
percepção, integração da sensação corporal e da expressão dos sentimentos.
Se a criança é ensinada a agir e se comportar conforme o desejo dos
pais, o seu ego se tornará frágil e a sua identidade confusa. Ela não perceberá o seu
corpo e manipulará o meio ambiente para manter a imagem que tem de si mesma,
passando a agir de forma representativa, e igualando a sua identidade a um papel.
10
Lowen afirma ainda que, uma identidade baseada num papel, num
momento que este deixar de existir, a personalidade também se desintegrará.
Assinala ainda que, a pessoa que interpreta estará sempre representando e
requisitando audiências receptivas para poder manter-se satisfeito. A audiência
primeira foi constituída pelos pais,a medida que a incentivava e a estimulava. Essa
representação se constitui o maior obstáculo para a recuperação da identidade, uma
vez que a sua interpretação é inconsciente e faz parte da estrutura de caráter.
O papel é considerado a base no relacionamento com o terapeuta no
que diz respeito, ao processo de transferência de sentimentos e atitudes vivenciadas
na primeira infância com os pais, e transferido para a pessoa do terapeuta. A sua
interpretação, é a principal resistência psicológica contra o envolvimento do paciente
no processo terapêutico (LOWEN, 1979).
A proposta desse trabalho foi estudar a resistência, segundo as
concepções apresentadas por Freud, por Reich, e por fim na visão da Análise
Bioenergética de Alexander Lowen, para oferecer um atendimento condizente com a
realidade dos casos de resistências que prolongam o tratamento da neurose.
CAPÍTULO 2
A RESISTÊNCIA NA VISÃO PSICANALÍTICA
A resistência é um conceito de origem psicanalítico relativo aos
elementos e as forças que, no paciente, atrapalham o processo terapêutico. Ela
surgiu por volta de 1895, quando Freud se preparava para abandonar o método da
hipnose e investir na técnica da associação livre, ou método da conversa como era
conhecido na época. Nesse método o paciente permanecia acordado sendo
influenciado pelo analista, a falar de si mesmo, livremente como quisesse. Nessas
conversas ele, às vezes, lembrava de fatos do passado (infância) considerados de
grande valia para a descoberta dos seus conflitos (SANDLER, DARE HOLDER,
1976).
Naquela época, a psicanálise passou por muitas dificuldades (úteis). O
surgimento da transferência, traço característico da teoria psicanalítica, foi uma
delas. Esse termo diz respeito à ligação afetiva que o paciente desenvolve com a
pessoa do analista, ou com a própria situação analítica, no decorrer do processo de
associação livre. Em alguns casos, ele se apaixona pelo terapeuta, em outros,
surgem atitudes hostis, que Freud considera apenas como atitudes contrárias ao se
apaixonar, pois, a essência da reação é a mesma (HEIDBREDER, 1981).
12
A descoberta da transferência trouxe a Freud a certeza de que os
conflitos emocionais de suas pacientes histéricas eram de origem sexual. Essa
convicção já era defendida por ele, quando ainda era aluno de Charcot em 1885, e
estava desenvolvendo a sua teoria da origem sexual das neuroses.
Com o surgimento da transferência, Freud percebeu que as ligações
afetivas que o paciente desenvolvia com a pessoa do analista eram de origem
sexual. A emoção que era removida, ou mexida mediante o processo de associação
livre, voltava-se para a pessoa do analista.
A outra dificuldade enfrentada nesta mesma época pela psicanálise, foi
o surgimento das resistências (objeto de estudo deste trabalho) em decorrência das
associações livres. Como essa técnica representava a passagem de uma lembrança
a outra, até chegar a verdadeira causa do distúrbio, o paciente, nessas tentativas,
desenvolvia formas de resistências que o impossibilitava evoluir no tratamento.
Casos existem, em que ele pára no processo, não deseja, ou não se sente capaz de
prosseguir, e /ou de evoluir nas associações. Ele se deparou com algo muito
doloroso, ou odioso e chocante. A falta de desejo e a incapacidade de prosseguir, na
opinião de Freud, representam dois aspectos da resistência, onde a incapacidade de
prosseguir no processo terapêutico é o mais grave (HEIDBREDER, 1981).
2.1. Origem da Resistência
Freud (1926 apud SANDLER, DORE,HOLDER, 1976) pensava que a
causa da resistência era à ameaça do aparecimento de idéias e afetos
desagradáveis. Essas idéias tinham sido reprimidas e resistiam a rememoração, por
serem de natureza dolorosa e capazes de despertarem afetos de vergonha,
13
autocensura, dor física e sentimentos de ser prejudicado Na segunda fase da
psicanálise (1959), o Rapaport e a importância dos impulsos e desejos internos na
formação dos conflitos, foram reconhecidos. A resistência passou a ser percebida
como dirigida, não somente contra recordações e lembranças dolorosas, mas contra
a apercepção de impulsos inaceitáveis. Nesse contexto, ela era entendida como
sendo responsável pela distorção das lembranças inconscientes, disfarçadas nas
associações livres.
Freud (1976a) fez distinção entre cinco tipos de resistência,
provenientes do ego, do id e do superego. O ego é a fonte de três delas, sendo a
primeira, a da repressão, entendida como sendo a necessidade do paciente de
defender-se contra impulsos, recordações e sentimentos que, ao tornar-se
conscientes trariam-lhe sofrimentos. Essa resistência representa um reflexo do
chamado ganho primário da doença neurótica, tendo em vista, que os sintomas
neuróticos podem ser considerados como recursos de autoproteção.
Em segundo vem a resistência da transferência, considerada a
resistência que traz os maiores obstáculos ao tratamento psicanalítico. Aqui, o
paciente não faz a rememoração dos sentimentos e pensamentos reprimidos do
passado como deveria. A tendência deles é aparecerem na situação analítica
causando intensas resistências às associações livres. Essas resistências são
idênticas a da repressão porém, apresentam efeitos evidentes na análise, por
estabelecerem uma relação com a situação analítica ou com o próprio analista.
A terceira resistência, mesmo sendo uma resistência do ego, é muito
diferente das demais citadas anteriormente. Ela é proveniente do ganho secundário
da doença. Embora o sintoma seja percebido como algo estranho e desagradável, o
14
ego não reage, e o toma como se tivesse vindo para ficar. Diante disso, o que deve
ser feito é aceitar a situação e tirar proveito dela.
Freud (1976a) entende que esses ganhos secundários representam
vantagens e gratificações por estar doente e poder ser cuidado, ou mesmo ser
objeto de compaixão das pessoas. A gratificação pode surgir também, em forma de
impulsos agressivos, vingativos para com a pessoa que cuida do paciente. Uma
outra forma de ganho secundário, pode ser de tendências masoquistas ocultas
(reação terapêutica negativa).
A quarta resistência é proveniente do id, e para ser eliminada necessita
de elaborações por parte do paciente. Provém da compulsão a repetição e possui
uma tendência a manipular os impulsos instintuais contra o desligamento dos seus
objetos anteriores e suas formas de descarga.
A quinta resistência advém do superego. Para Freud (1976a), essa
resistência parece ter origem nos sentimentos de culpa, ou na necessidade de
punição contra qualquer sentimento de êxito ao tratamento.
Os fenômenos da resistência são considerados mecanismos de defesa
do paciente e não apenas mecanismos da repressão. Esses mecanismos são postos
em ação nas situações de perigo, principalmente aquelas que aparecem quando os
desejos sexuais ou agressivos tentam expressar-se livremente na consciência ou no
comportamento. Nesses mecanismos estão incluídos: as projeções, anulação,
intelectualização, racionalização, identificação com o agressor, formação reativa, etc.
Os mecanismos de defesa são dirigidos contra o perigo do passado, surgem na
análise na forma de resistência ao tratamento.
Sandler, Dare, Holder (1976) citaram opiniões de autores como:
Glover, Reich, Ana Freud, etc, a respeito das formas de resistência. Glover fala de
15
resistências “obvias” ou “crassas” e “resistências discretas” como sendo relativas
aos atrasos do paciente as sessões, as faltas, aos silêncios, aos rodeios, em fim, as
rejeições à análise e ao analista.
As resistências discretas têm como características básicas, o está de
acordo com a situação analítica. Essas resistências não trazem nenhum incômodo à
situação analítica, porém atrapalham a evolução do tratamento da neurose.
Reich fala das resistências como sendo um processo defensivo do
passado que surge na personalidade e no processo terapêutico em forma de
atitudes fixas (blindagem do caráter).
Anna Freud afirma que são as resistências que dão as informações
sobre o funcionamento mental do paciente. Na sua opinião, elas devem ser
entendidas na análise, como defesa do paciente que se juntam aos seus conflitos e
os reforçam.
2.2. Manejo da Resistência pelo Analista
Freud (1976a) nas suas revisões teóricas, afirma que no combate as
resistências, o analista precisa debelar no mínimo cinco tipos de resistências
proveniente do ego, do id e do superego. Como foi citado anteriormente, três dessas
resistências são de origem egóica: a da repressão, a da transferência, e a
resistência do ganho secundário da doença.
No combate a resistência da repressão, o analista deve levar ao
entendimento do paciente, que as suas defesas são contra impulsos, recordações e
sentimentos dolorosos do passado.
16
No que diz respeito à resistência da transferência, ele deve não só
interpretar os acontecimentos trazidos pelo paciente, mas como na repressão, leválo a conscientizar-se de que, esses conteúdos transferenciais, relativos a pessoa do
analista ou a situação terapêutica, funcionam como obstáculo ao tratamento. O
terapeuta deve ter cuidado em averiguar se o paciente tem condições psicológicas
para suportar suas intervenções.
Para trabalhar a resistência do id, o analista deve levar o paciente a
realizar elaborações. Essa tarefa não é simples para ele, que precisa de tempo para
elaborar as intervenções terapêuticas e, da paciência do analista mediante esse
processo. O paciente deve entender que os fatos do presente são repetições do
passado.
A luta do analista contra as resistências na análise, deve ser no sentido
de compreender que, a resistência que deve ser trabalhada é a do ego. Para isso,
ele precisa entender que é difícil para o paciente dirigir a sua atenção a idéias e
impulsos que são contrários às suas normas. A tendência do ego é evitar qualquer
investimento que esteja fora de suas convicções.
O analista deve entender também, que mesmo o ego abandonando às
suas resistências, ele precisa debelar as resistências do inconsciente, evidenciadas
na compulsão a repetição (FREUD, 1976a).
CAPÍTULO 3
A ORIGEM DA RESISTÊNCIA SEGUNDO REICH
Para falar sobre a origem da resistência, Reich (1998) faz uso da
literatura psicanalítica para explicar primeiramente a origem da neurose.
A neurose é o resultado do embate entre a exigências pulsionais
recalcadas em especial, as da primeira infância, e as forças do ego que as impede
de eclodirem na consciência. O fracasso dessa luta resulta os sintomas neuróticos
ou traços de caráter neurótico. Essas forças são conhecidas no tratamento analítico
como resistências à quebra do recalque e conseqüentemente, ao tratamento da
neurose.
A regra básica (associação livre), que antes era tornar consciente o
inconsciente pela dissolução do recalque, passa a ser: tornar consciente o
inconsciente através da eliminação da resistência. O paciente precisa compreender
que está resistindo, em seguida entender como isso é feito, e por último que ele
resiste.
Na concepção reichiana a resistência é uma manifestação emocional
que surge por um desgaste energético na busca de uma fixação numa relação real e
estável.
Para quebrar este processo e tratar a neurose, o analista deve procurar
primeiramente a origem da energia dos sintomas neuróticos e do caráter neurótico.
18
Nessa busca, ele se depara com as resistências do paciente, especialmente, as de
ordem transferenciais. Essas resistências devem ser interpretadas, conscientizadas
e abandonadas pelo paciente. Assim, ele terá condições de relembrar
as
experiências do passado com mais clareza.
Outros fatores interferem na dissolução da resistência, como por
exemplo, as transferências “heterogêneas”. Essas provocam sérias confusões
mentais, pela infinidade de material advindo de todas as camadas do inconsciente e
da vida do paciente. Esse material serve a uma resistência secreta, disfarçada,
favorecendo uma situação caótica, provocada, em muitos casos, por erros na
técnica de interpretação analítica, os quais fortalecem e atrapalham o manejo
adequado da resistência e o tratamento da neurose.
As primeiras semanas de análise são decisivas para o engajamento do
paciente no processo terapêutico. Ele está construindo a sua personalidade analítica
por isso, a resistência só deve ser interpretada quando ele estiver totalmente
envolvido no processo, e o analista entendido completamente as resistências
evidenciadas por ele.
O terapeuta deve ser capaz de compreender os vários tipos de
resistências existentes no processo e a forma como elas se apresentam na análise:
disfarçadas em atitudes de cooperação, teimosias, dúvidas, desconfiança, etc, ou
excessos de delicadeza e docilidades exageradas, etc. Essas resistências aparecem
na transferência negativa latente, considerada a mais perigosa forma de
transferência do processo analítico.
A transferência latente, às vezes, passa desapercebida por muitos
terapeutas experientes. Esse fato, na opinião dele, pode está associado ao seu
19
narcisismo, o qual deixa-o mais receptivo a elogios e desatendo às atitudes
negativas.
Existem outros fatores também determinantes para o insucesso do
tratamento, entre eles, está o fato do analista interpretar o material 1 mais profundo
trazido pelo paciente, antes de combater a resistência principal. Tentar analisar
indiscriminadamente os inúmeros materiais apresentados por ele, sem que seja
evidenciada a resistência pertinente a eles.
As resistências inconscientes e as apresentadas claramente, devem
ser interpretadas no início do tratamento, dessa forma, o analista terá condições de
chegar ao inconsciente mais profundo (REICH, 1998).
3.1. A Formação do Caráter
Reich (1998) foi o primeiro terapeuta a tratar seus pacientes baseandose na natureza e função de seu caráter, muito embora, tenha sido Freud (1976b)
quem primeiro fez a distinção entre as funções de caráter, em seu artigo: “CARÁTER
E EROTISMO ANAL”. Ele considerou o caráter erótico, como sendo dominado pelas
demandas instintuais do id. O caráter narcisista centrado no ego e o compulsivo no
superego. Mesmo assim, ele não tratou seus pacientes considerando essas
estruturas de caráter. O seu foco eram os sintomas neuróticos.
O conceito de caráter e couraça caracterológica de Reich foi
fundamentado no conceito psicanalítico de necessidades do ego de defender-se
contra forças instintuais recalcadas da primeira infância.
1
Material: Comunicações, sonhos, associações, lapsos, jeito de falar, linguagem, vestuário, expressão facial,
manipulação das mãos etc.
20
O caráter é constituído pelo modo como o individuo se porta na vida,
incluindo os valores, formas de comportamento, mobilidade física, etc. Esse padrão
foi apreciado por Reich, primeiramente ao nível psicológico, depois ele o associou as
resistências
caracterológicas
a
couraças
musculares,
que
precisavam
ser
dissolvidas pela análise, juntamente com todo material psicológico apresentado pelo
paciente.
Na opinião de Reich, a forma de comunicação e o comportamento do
paciente, são mais importantes do que o material que ele trás, principalmente nas
primeiras sessões.
A maneira como ele fala, olha, o tom de voz, o grau de polidez, a
agressividade, etc., são pontos chaves para a avaliação da resistência secreta
latente, que atrapalham a regra básica e conseqüentemente a tratamento da
neurose.
A resistência oculta caracteriza aqueles pacientes polidos, corretos,
aqueles que apresentam uma transferência positiva falsa e tratam a análise como
um jogo. Esses pacientes, na opinião de Reich, são eternamente encouraçados,
sendo a couraça, o representante da defesa narcísica fixada na psique.
Além das resistências que se movem contra o material trazido pelo
paciente, existem aquelas que estão enraizadas no inconsciente e não se ligam ao
conteúdo, mas a forma. Essa é a chamada resistência do caráter, pois se origina no
próprio caráter.
Os aspectos mais importantes a saber sobre a resistência do caráter
são: essa resistência não se expressa em termos de conteúdo, mas de forma. A
resistência do caráter não está naquilo que o paciente diz e faz, mas no modo como
21
ele fala e age. Não está também no material dos sonhos mas, no modo como eles
são contados, encarado, censurado, etc.
O caráter na vida cotidiana e a resistência do caráter na terapia, estão
a serviço da defesa: evitar o desconforto e conseqüentemente, manter o equilíbrio
psíquico, mesmo sendo esse neurótico. Serve também como um regulador de
energia pulsional e das que escapam a repressão.
Na opinião de Reich a analise do caráter se aplica a todos os casos
porém, existem alguns em que ela é mais indicada, como por exemplo, nas
neuroses compulsivas, nos casos em que os traços de caráter são objetos e
obstáculos ao tratamento. É indicada também em pacientes fálico-narcisista, nas
insanidades morais, nas esquizoidias e esquizofrenias precoces, etc.
O caráter se forma como uma defesa contra a ansiedade, criada pelo
intenso sentimento sexual da criança e o conseqüente medo da punição. A primeira
defesa contra esse medo é a repressão, cujo papel é bloquear os impulsos sexuais
por algum tempo. Se esse fato se repete com freqüência (defesa egóica) e de
maneira automática, essas defesas formam couraças musculares, provenientes de
forças defensivas repressoras estruturadas dentro do ego. Quando o traço de
caráter se forma, a repressão desaparece ou se transforma numa formação reativa
rígida.
A couraça do caráter ocorreu na primeira infância com a função
definida de proteger o ego contra os estímulos externos, e controlar a libido que
provem do id. Na opinião de Reich a angustia se instala nos processos que estão
na base da prevenção e formação das couraças. Esse investimento tem como
objetivo básico manter o equilíbrio do traço de caráter estabelecido, mesmo que este
22
seja neurótico. Aqui se forma a resistência do caráter, a qual é comandada pelos
mecanismos de defesa narcísicos do ego.
O caráter do indivíduo está expresso no corpo em forma de couraças
musculares. A energia libidinal é liberada pela quebra da couraça muscular
deixando-a fluir livremente, beneficiando a análise e facilitando o tratamento da
neurose.
O traço de caráter é diferente de sintoma neurótico. Os sintomas
neuróticos (medo, fobias inespecíficas...) são considerados pelo indivíduo estranho
ao organismo ou a psique. Já os traços de caráter neuróticos (timidez,
agressividade,...) são experienciados como algo natural, que faz parte da própria
personalidade.
O sucesso da terapia está na quebra dos blocos de couraças
musculares que corrompem os sentimentos naturais e bloqueiam os sexuais.
O objetivo da terapia Reichiana é liberar emoções (raiva, prazer,
ansiedade,...), através da expressão corporal. Dessa forma, o indivíduo terá
condições de relembrar as experiências do passado com mais facilidade. (REICH1998)
3.2. A Função do Terapeuta
O tratamento analítico reichiano parte da estrutura corporal e passa
pelos hábitos físicos do paciente.O objetivo é conscientizá-lo do funcionamento do
próprio corpo: a respiração, os sentimentos e as tensões emocionais.
23
Na opinião de Reich, para remover a resistência e conseqüentemente
tratar a neurose, o analista deve trabalhar o ódio recalcado, considerando para isso
a cena primária e os afetos a ela correspondentes (FADIMAN e FRAGER, 1986).
Reich (1998) fala de vários casos, onde ele diz que errou na técnica de
interpretação das resistências e, por isso, a análise não teve um bom resultado.
Como erro de interpretação ele destacou: a interpretação prematura
dos sintomas, a interpretação do material na ordem que ele aparecia, deixar de tratar
a resistência principal em primeiro lugar (antes das interpretações), fazer
interpretações assistemáticas inconsistentes, sem saber se o paciente tem
condições de suportar as intervenções e desconhecer a capacidade que ele tem de
mascarar as resistências, pelas formações reativas, etc.
Existem outros fatores que influenciam negativamente no processo
terapêutico como por exemplo, o caso do terapeuta passivo, aquele que espera
muito. Na opinião de Reich, Freud se preocupava muito com esse fato, porque o
“deixar correr” no processo terapêutico, pode ser tão catastrófico, quanto o
bombardeamento de interpretações fundamentadas em princípios teóricos. Não
esquecer também, que essa passividade analítica promove o desenvolvimento de
resistências.
Reich (1998) acredita que por traz desses erros técnicos pode estar a
regra freudiana cuja ação, é deixar o paciente comandar a análise. Na opinião desse
autor, o analista não deve intervir na análise, quando perceber que o paciente já
compreendeu o processo, faz associações e evolui no tratamento. Porém, as
intervenções devem acontecer, se o analista perceber que o paciente tem medo de
lutar contra os seus conflitos e desejos de ficar doente.
CAPÍTULO 4
A RESISTÊNCIA SEGUNDO ALEXANDER LOWEN
Para falar sobre o processo de formação da resistência, Lowen (1979),
procurou explicar primeiramente a formação da identidade.
O senso de identidade é o resultado da percepção do desejo, do
reconhecimento da necessidade e da consciência da sensação corporal. Para ele,
isso ocorre no momento do nascimento, quando a criança dá o primeiro choro.
Nesse momento, o bebê mostra sentimentos, desejos e necessidades – permanecer
junto ao corpo da mãe, mesmo não tendo consciência disso. Só mais tarde, com o
crescimento e desenvolvimento da maturidade é que essas funções vão se
desenvolvendo, tornando os desejos, a consciência e as sensações corporais mais
refinados.
Na opinião desse autor, é a partir daí que começa o senso de
identidade. O ego se desenvolve por intermédio da percepção, integração da
sensação corporal e da expressão dos sentimentos.
Se nessa fase a criança for obrigada a inibir seus sentimentos, ou
envergonhasse por suas sensações corporais, o seu ego não amadurecerá. Se ela
não tiver oportunidade de descobrir por si só as próprias dimensões, explorar as
forças ou fraquezas, o seu ego não terá um apoio seguro na realidade,
25
conseqüentemente, a sua identidade será confusa. Uma criança assim manipulará o
meio ambiente para conservar a sua imagem e a sua identidade será igualada a
este papel.
O indivíduo que possui um senso de identidade, conhece os seus
desejos, necessidades e as sensações corporais. Essa experiência é adquirida logo
após o nascimento, quando o bebe é satisfeito nas suas necessidades, mesmo sem
ter ainda consciência delas. A mobilização dele, cada vez que sofre uma dor, ou
sente algo desagradável é chamada por Lowen, senso de identificação.
Lowen afirma que, uma identidade baseada num papel, num momento
que este deixar de existir a personalidade também se desintegrará. Assinala ainda,
que a pessoa que interpreta, estará sempre representando e requisitando audiências
receptivas para poder manter-se satisfeito. A audiência primeira foi constituída pelos
pais, ao incentivar e estimular tanto o papel, como a sua atuação.
O papel representa o maior obstáculo para a recuperação da
identidade, uma vez que a sua interpretação é inconsciente e faz parte da estrutura
de caráter. Ele é considerado a base no relacionamento com o terapeuta, no que diz
respeito ao processo de transferência, de sentimentos e atitudes vivenciadas na
primeira infância com os pais e transferido para a pessoa do terapeuta. A
interpretação de papéis é a principal resistência psicológica contra o envolvimento
do paciente no processo terapêutico (LOWEN, 1979).
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4.1. Técnicas de Tratamento da Resistência
Desde Freud até hoje, muitas técnicas e conceitos analíticos sofreram
modificações. O próprio Freud mudou por diversas vezes a sua maneira de atuar. A
princípio, ele trabalhava com a terapia física, Passou a interessar-se pela neurologia
e doenças nervosas. No momento mais crítico de sua vida, voltou-se para a histeria,
passando desta para a hipnose. Mais tarde, deixou-a pela associação livre, a qual foi
complementada pela interpretação dos sonhos.
Foi a partir do uso da técnica da associação livre e da interpretação
dos sonhos que Freud tomou conhecimento de dois fenômenos, considerados por
ele, impossíveis de serem detectados sem que o paciente estivesse consciente.
Trata-se da transferência e da resistência. Esses fenômenos foram tão importantes
para a Psicanálise que Freud (1914) disse que qualquer abordagem que
considerasse a transferência e a resistência no processo terapêutico poderia
considerada psicanálise.
A transferência é constituída pelo papel que o paciente interpreta no
relacionamento com o analista. Ele transfere para o analista os sentimentos e
atitudes de suas relações com os pais. Inconscientemente, busca amor e proteção, a
fim de eliminar os seus medos e ansiedades. Se o papel interpretado for o de um
filho amável, na terapia ele fará o máximo para agradar o terapeuta. Se ele estiver
representando alguém, cujo poder aquisitivo é alto, ele tentará comandar todo o
processo analítico etc.
No geral o papel que o indivíduo desempenha não encontra a
receptividade esperada por ele. Esse fato o perturba e o mobiliza a procura de
outras audiências. Se frustrado busca a terapia, a fim de descobrir porque a sua
forma de atuação não vai bem (LOWEN, 1977).
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4.2. O Desmascaramento do Papel
Na opinião de Lowen (1977), para desmascarar o papel, o analista
deve compreender a estrutura física do paciente como “uma faceta de sua
personalidade”.
Geralmente
por
trás
de
atitudes
e
aparências
físicas
desproporcionadas, existem atitudes contrárias, como por exemplo, tristeza por trás
de uma cara alegre, medo escondido numa figura auto-suficiente e raiva por baixo
de uma aparência polida, etc.
No desmascaramento de um papel, o paciente deve descobrir que a
percepção que ele tem das outras pessoas representa a imagem que ele tem de
seus pais. Deve tomar conhecimento dos seus sentimentos negativos que são
projetados, não só na pessoa do analista, mas fora da análise; no marido, nos filhos,
na esposa, etc. Deve perceber também, que as atitudes de desafio, o coloca a parte,
forçando-o a se isolar. É chegado o momento que ele percebe que pode viver por si
mesmo, conhecendo e exprimindo os próprios sentimentos.
Se os pais determinam como os filhos devem agir quando criança, eles
determinam com isso também, a sua forma de vida futura, ou seja, o papel que eles
irão desempenhar quando se tornarem adultos. Isso acontece porque, o
predominante na ação dos pais, perante as crianças, são as suas atitudes e ações
inconscientes, comunicadas através do olhar, do toque, dos gestos e estados de
espírito. No geral esse papel se estabelece por volta dos sete anos de idade.
A criança que convive num lar saudável, onde as suas necessidade e
desejos são satisfeitos, certamente ela não precisará se utilsar de representações
para agir na vida. A existência dessas, denota um lar hostil, que obriga a criança a
desenvolver um processo de adaptação a ele. Nessa adaptação, ela se identifica
com os pais e desenvolve inconscientemente uma personalidade que não é a sua.
28
A adaptação é diferente da imitação. Na opinião de Lowen, a imitação
é um processo natural. Quando a criança imita estende a sua personalidade, porém,
quando ela se identifica, a sua personalidade se torna limitada.
A identificação não se dar de maneira consciente. Reich (apud
LOWEN, 1977), diz que a criança tem uma tendência a identificar-se com o genitor
mais intimidador. Quando isso acontece, ela incorpora aos seus sentimentos e
pensamentos, ou o dos seus familiares, em especial os dos pais, de forma que
consiga conviver com a hostilidade existente nas atitudes deles. A forma de agir dos
pais, passa a fazer parte da personalidade da criança. E quando o grau de
identificação é muito grande, a criança se sente como sendo o próprio pai ou a mãe,
ou os dois ao mesmo tempo e se porta na vida como eles. Quando o paciente
procura a terapia esse material o acompanha e serve a uma transferência e a uma
resistência ao processo analítico (LOWEN, 1977).
4.3. O Papel do Terapeuta
Lowen fundamentou o seu trabalho com a bioenergética na literatura
reichiana e como Reich, enfatizou a função corporal tanto na análise como na
terapia. Ele utilizou as técnicas da respiração, de chorar, gritar, bater,..., para liberar
a tensão emocional. Usou também, a técnica de postura de tensão para energizar
partes do corpo que foram bloqueadas por couraças musculares. Essa técnica
provoca o aumento da tensão no local onde a couraça se cronificou. A sobrecarga
(na parte tensa) obriga a couraça a se dissolver.
O trabalho da bioenergética incide principalmente sobre as pernas e a
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pélvis. É a partir do movimento com esses seguimentos que o paciente vai fazer
conexões com o próprio corpo e a terra (FADIMAN; FRAGER, 1986).
Na opinião de Lowen (1979), para tratar a neurose, o analista deve
conhecer bem os sentimentos do paciente, sentir as suas necessidades, perceber a
consciência que ele tem do próprio corpo, se ele sente quando está triste ou com
raiva, se conhecem as tensões musculares do corpo e entende de amor e prazer.
A terapia não é para recuperar uma identidade perdida, mas para
propiciar uma noção de identidade por meio do fortalecimento do ego. Isso se dá
pela sensação corporal e a expressão de sentimentos.
A estrutura de caráter do paciente, esta ligado ao papel que ele adotou
quando criança, e é evidenciada no mundo, através do falar, da postura corporal,
dos gestos, expressões, movimentos e também da atitude corporal.
Para evidenciar o papel é preciso analisar a estrutura de caráter como
um todo, saber que na análise, o paciente desenvolve uma transferência baseada
nas representações que desempenha na vida. Entender que as outras pessoas são
vistas por ele como os pais. Essa transferência tem origem na sua necessidade de
aprovação, na culpa relacionada aos seus sentimentos sexuais e na inibição dos
sentimentos negativos. O tratamento da neurose vai depender da recuperação do
seu corpo, da sua identidade e da aceitação dos sentimentos recalcados.
Em muitos casos, o analista é o principal personagem no processo
terapêutico. É através da transferência que o paciente desenvolve com ele, que se
pode conhecer todo o material que paira na superfície da sua mente, com esse
entendimento ele terá condições de compreender o porquê das resistências
desenvolvidas pelo paciente, e o quanto elas atrapalham o tratamento da neurose
(LOWEN, 1979).
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conceito de resistência surgiu quando Freud (apud HEIDBREDER,
1981) desenvolveu a técnica de associação livre e da interpretação dos sonhos.
Freud (1976a) fez distinção entre cinco tipos de resistência,
proveniente do id, do ego e do superego. O ego é a fonte de três delas: a da
repressão, a da transferência, a do ganho secundário da doença,
A resistência do id, provém da compulsão a repetição, e a do superego,
têm origem nos sentimentos de culpa, ou da necessidade de punição
A resistência na visão de Reich (1998) é o resultado do desgaste
energético sofrido pelo paciente, na busca de uma fixação real, firme e estável. Esse
conceito provém da concepção freudiana, das necessidades do ego de se defender
contra forças instituais recalcadas da primeira infância.
A resistência de caráter na opinião de Reich, não está naquilo que o
paciente diz ou faz, mas no modo como ele fala e age. Não está no material dos
sonhos, mas na forma como eles são contados censurados, encarados etc.
Ainda segundo esse autor, a neurose é o resultado do embate entre as
exigências pulsionais recalcadas da primeira infância e as forças do ego que as
impede de eclodirem na consciência.
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Reich acredita que o insucesso do tratamento da neurose, em muitos
casos, pode está na interpretação inadequada, ou prematura do material trazido pelo
paciente, como por exemplo, o terapeuta tentar interpretar o material mais profundo
antes de combater a resistência principal. Tentar analisar indiscriminadamente os
inúmeros materiais trazidos pelo paciente, sem que sejam evidenciados os
sentimentos pertinentes.a eles.
Lowen (1979) entende como resistência ao processo terapêutico, o
papel que o indivíduo desempenha na vida para se proteger contra estímulos
desagradáveis e ameaçadores ao seu equilíbrio psíquico. Na sua opinião, o caráter
que o individuo desenvolveu na vida está ligado às representações que ele adotou,
quando criança, como forma de defesa.
Para Lowen (1979), o tratamento da neurose vai depender da
recuperação do corpo,do senso de identidade e da aceitação dos sentimentos
recalcados do passado.
A terapia, na opinião de Lowen (1977), não é para recuperar uma
identidade perdida, mas para propiciar uma noção de identidade, por meio do
fortalecimento do ego, da identidade e da expressão dos sentimentos.
Lowen e Reich estão de acordo com a visão freudiana, de que a
resistência é uma luta contra estímulos para tornar conscientes, lembranças
recalcadas do passado que na análise, tentam surgir na consciência.
Pelas evidências, o tratamento da neurose está associado à dissolução
das resistências, ou das couraças musculares, mediante o processo analítico.
O sucesso do tratamento está atrelado, dentre outros fatores, a
competência do terapeuta em interpretar e intervir adequadamente sobre os vários
tipos e formas de resistência que aparecem disfarçadas ou não, no processo
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analítico. Ficou evidenciado também, que o conceito de resistência permanece
inalterado desde Freud, muito embora Reich e Lowen façam distinções entre as
formas como elas se apresentam no processo analítico.
Freud acredita que as resistências aparecem na terapia por meio das
projeções, atos falhos, intelectualizações, etc. Para Reich, elas são evidenciadas
sob forma de couraças musculares, e Lowen as apresenta na forma de
representações de papéis.
Esse estudo teve o propósito de averiguar a resistência no processo
analítico e a sua influência no tratamento da neurose no pensamento dos teóricos
Freud, Reich e Alexander Lowen. Com ele, foi possível compreender melhor às
resistências do paciente, no processo analítico e as dificuldades e responsabilidades
do analista no tratamento da neurose. Possibilitou também a compreensão de
que,uma ação terapêutica adequada,deve promover o fortalecimento egoico, senso
de identidade e leva o paciente ao entendimento de que as suas angústias são
provenientes de sentimentos recalcados do passado.
REFERÊNCIAS
FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: HARBRA, 1986.
FERREIRA, A. B. H. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Rio
de janeiro: RRP Editorial Ltda, 1978. p.353.
FREUD. S. Inibições sintomas e ansiedade. Edição Standard Brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. Tradução de Jayme Salomão. Rio de
Janeiro: Imago, 1976a. v.XX.
FREUD, S. Caráter e erotismo anal. Edição Standard Brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro, Imago, 1976b. v.IX
HEIDBREDER, E. Psicologias do século XX. 5a ed. São Paulo: Mestre Jou, 1981.
LOWEN, A. O corpo traído. 6ª ed. São Paulo: Summus, 1979.
LOWEN, A. O corpo em terapia: a abordagem bioenergética. 8ª ed. São Paulo:
Summus, 1977.
LOWEN, A. Bioenergética. 7ª ed. São Paulo: Summus, 1982
REICH, W. Análise do caráter. Tradução de Ricardo Amaral do Rego. 3a ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
SANDLER, J.; DARE, C.; HOLDER, A. O paciente e o analista: fundamentos do
processo psicanalítico. Tradução de José Luís Meurer, Rio de Janeiro: Imago, 1976.
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