BACTÉRIAS DO SOLO E ASSOCIADAS A PLANTAS DE COUVE – FLOR: FIXAÇÃO DE NITROGÊNIO E SOLUBILIZAÇÃO DE FOSFATO Andreza Raquel Barbosa de Farias1, Júlia Kuklinsky-Sobral2, César Auguste Badji2, Fernando José Freire3, Michelangelo de Oliveira Silva4, Pedro Avelino Maia de Andrade5, Luana Lira Cadete5, Luiz Aníbal da Silva Filho5 & Maria das Dores da Silva6 Introdução Com o avanço da tecnologia e o crescimento da demanda populacional tem-se cada vez mais observado o potencial de bactérias associadas às plantas para controle de pragas e doenças, promovendo também o crescimento vegetal, o que torna indispensável à procura por conhecimento nesta área bem como as possíveis interações que ocorrem entre estes microrganismos e o vegetal, para que se possam utilizar todos os benefícios destes microrganismos na agricultura, na indústria e em processos que promovam o avanço biotecnológico [1]. Uma destas propriedades é a fixação biológica de nitrogênio, sendo este quantitativamente o elemento mais importante para a agricultura, pelo fato de ser limitante de crescimento vegetal. O nitrogênio atmosférico (N2) está presente na atmosfera, compondo cerca de 80%, entretanto sua absorção para os vegetais só pode ser feita na forma de Amônia (NH3) e Nitrato (NO3) sendo estes compostos solúveis [2]. Outra propriedade não menos importante é a solubilização de fosfato inorgânico pelas bactérias associadas às plantas, isto porque apesar de diversas bactérias com esta característica estarem presentes no solo, seu número não é suficiente para competir com outras bactérias de diferentes funções estabelecidas, o que limita o aumento substancial do crescimento vegetal. O uso de bactérias solubilizadoras de fosfato como inoculantes é, portanto, uma alternativa possível para o aumento do desenvolvimento resultando uma melhor produção vegetal [3, 4]. A couve-flor (Brassica oleracea) é uma planta de cultivo bienal, mas que, entretanto, é cultivada como anual [5]. Esta é uma espécie que apresenta um bom desenvolvimento vegetativo quando cultivada em temperaturas entre 150C e 180C, embora seus cultivares de Inverno sejam resistentes ao frio [6]. Apresenta fácil adaptação em solos com boa capacidade de retenção de água, além de tratar-se de uma espécie razoavelmente resistente à salinidade do solo. É muito exigente em matéria orgânica e o pH do solo deve estar entre 6,5 e 7,5 [7]. Esta cultura, como tantas outras, precisa de condições apropriadas de solo para se desenvolver. Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivos: isolar e selecionar bactérias associadas ao solo e a rizosfera de área cultivado com plantas de couve–flor com capacidade de fixar nitrogênio e solubilizar fosfato inorgânico. Material e métodos A. Amostras de solo e rizosfera Bactérias do solo e da rizosfera foram isoladas de amostras de área cultivada com plantas de couve-flor, na Propriedade Rural Açude Novo, localizada no município de Garanhuns, PE. As amostras de solo, coletadas na profundidade de 0-20cm, e de rizosfera, coletadas próximas às raízes das plantas, foram levadas ao Laboratório de Genética e Biotecnologia Microbiana (LGBM) da Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG/UFRPE) para processamento das análises. B. Isolamento das bactérias Para o isolamento bacteriano, cerca de 5g de cada amostra de solo e de rizosfera foram transferidos para frascos Erlenmeyer (250ml) contendo 25g de pérolas de vidro (0,1cm de diâmetro) e 50ml de tampão fosfato salino (Phosphate Buffered Saline – PBS: 1,44g/l de Na2HPO4; 0,24g/l de KH2PO4; 0,20g/l de KCl; 8,00g/l de NaCl; pH 7,4). Estes frascos foram mantidos sob agitação (90rpm) a 280C por 1h. Em seguida, foram ________________ 1. Aluna de Graduação em Agronomia da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, s/n, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. E-mail: [email protected] 2. Professores Adjuntos da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, s/n, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. 3. Professor Adjunto do Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 4. Doutorando do PPG em Ciência do Solo, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 5. Alunos de Graduação em Agronomia da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, s/n, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. 6. Aluna de Graduação em Zootecnia da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, s/n, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. Apoio financeiro: CNPq e FACEPE. realizadas diluições seriadas em tampão PBS e 100µl foram inoculados em meio de cultura King B [8], incubados a 280C e avaliadas após 3, 8 e 14 dias. A população bacteriana por grama de solo fresco (UFC/g SF) foi estimada pela contagem de colônias cultivadas em meio King B. Colônias características de cada tipo morfológico foram repicadas das placas de isolamento, purificadas pela técnica de esgotamento e mantidas a -20oC, em meio TSA 10% (Tripcase Soy Agar) líquido suplementado com 20% de glicerol. C. Teste de fixação biológica de nitrogênio Para identificação das bactérias fixadoras de nitrogênio foi realizado um experimento segundo Dobereiner et al. [9], no qual as bactérias foram inoculadas em meio NFb semi-sólido [5g/l da ácido málico; 0,5g/l de K2HPO4; 0,2g/l de MgSO4.7H2O; 0,1g/l de NaCl; 0,01g/l de CaCl2.2H2O; 4ml/l de Fe.EDTA (solução 1,64%); 2ml/l de azul de bromotimol (0,5 %); 2ml/l de solução de micronutrientes (0,2g/l de Na2MoO4.2H2O; 0,235g/l de MnSO4.H2O; 0,28g/l de H3BO3; 0,008g/l de CuSO4.5H2O); 1,75g/l da agar; pH 6,8], e incubadas a 280C por 8 dias. Os experimentos foram realizados em triplicatas e a identificação de bactérias fixadoras de nitrogênio in vitro foi observada pela formação de um halo horizontal de crescimento no interior do meio de cultura, além da alteração da cor do. D. Teste de solubilização de fosfato inorgânico Para a seleção de bactérias solubilizadoras de fosfato foi realizada segundo Verma et al. [10], com algumas modificações. As bactérias foram inoculadas em placas de Petri contendo meio sólido com fosfato insolúvel (composição: 10g/l de glicose; 5g/l de NH4Cl; 1g/l de NaCl; 1g/l de MgSO4.7H2O; 4g/l de CaHPO4; 15g/l de agar; pH 7,2). As placas foram incubadas a 28°C por 72h e, em seguida, foram realizadas as leituras. Os experimentos foram realizados em triplicatas e a presença de um halo claro em torno da colônia indicou a solubilização do fosfato. Resultados e discussão A densidade total da comunidade bacteriana do solo e da rizosfera não apresentaram diferenças significativas, variando em torno de 109 a 1011 UFC/g SF (Fig.1A). Este resultado não apresenta o efeito risoférico, ou seja, maior densidade populacional bacteriana na região da rizosfera devido à exsudação radicular de compostos orgânicos [11]. Durante o experimento de isolamento, 37 bactérias, 12 da rizosfera e 24 do solo, foram selecionadas para avaliação quanto à capacidade de fixar nitrogênio e solubilizar fosfato. Foram observados resultados satisfatórios para o teste de fixação de nitrogênio, pois aquelas avaliadas como positiva formaram um halo horizontal de crescimento no interior da cultura, além de apresentar alteração na cor do meio de cultura que era inicialmente verde, mas que no decorrer do experimento foi apresentando uma coloração azulada (Fig.1B). Das bactérias da rizosfera, 50% foram capazes de fixar nitrogênio, enquanto que apenas 24% das linhagens isoladas do solo foram positivas (Fig. 1C). Para o teste de solubilização de fosfato, foi possível observar halos de solubilização bem claros e definidos (Fig. 1D) e, mais uma vez, as bactérias oriundas da rizosfera apresentaram maior freqüência de linhagens solubilizadoras, 33% em comparação com apenas 12% de bactérias positivas oriundas do solo. Logo, os resultados obtidos revelam que pode haver maior ocorrência de bactérias fixadoras de nitrogênio e solubilizadoras de fosfato inorgânico em solo mais próximo das plantas, como a rizosfera, ou que há uma migração destas bactérias para a região mais próxima da planta. Portanto, conclui-se que as bactérias analisadas apresentam potencial aplicação para promoção de crescimento vegetal. Contudo, é importante ressaltar a importância e necessidade de maior exploração destas linhagens. Referências [1] ROSENBLUETH, M.; MARTINEZ-ROMERO, E. 2006. Bacterial endophytes and their interactions with hosts. Molecular Plant and Microorganisms Interactions, 8: 827-837. [2] BODDEY, R.M.; URQUIAGA, S.; ASSIS, R.L.; DOBEREINER, J. 1992. Fixação biológica de nitrogênio por bactérias associadas à cana-de-açúcar. Comunicado Técnico, no. 6. EMBRAPA – CNPBS. 1-5p. [3] RODRIGUEZ, H.; FRAGA, R. 1999. Phosphate solubilizing bacteria and their role in plant growth promotion. Biotechnology Advances, v.17, p. 319-339. [4] GYANESWAR, P.; KUMAR, G.N.; PAREKH, L.J.; POOPLE, P.S. 2002. Role of soil microorganisms in improving P nutrition of plants. Plant and Soil, v245, p.83-93. [5] CERMEÑO, Z. S. 1988. Prontuário do Horticultor.Litexa Editora. Lisboa. [6] MAROTO, J. V. 1986. Horticultura Herbacea Especial. 2ª Edição. Ediciones Mundi-Prensa, Madrid. [7] BIGGS, T. 1980. Culturas Hortícolas. 2ª edição. Colecção EUROAGRO. Publicações Europa América, Lisboa. [8] ARAÚJO, W.L.; LIMA, A.O.S.; AZEVEDO, J.L.; MARCON, J.; KUKLINSKY-SOBRAL, J.; LACAVA, P.T. 2002. Manual: Isolamento de microrganismos endofíticos. Piracicaba, SP: CALQ, 86p. [9] DOBEREINER, J.; BALDANI, V.L.D.; BALDANI, J.I. 1995. Como isolar e identificar bactérias diazotróficas de plantas não-leguminosas. – Brasília: EMBRAPA – SPI: Itaguaí, RJ: EMBRAPA-CNPAB, 60p. [10]VERMA, S.C.; LADHA, J.K.; TRIPATHI, A.K. 2001. Evaluation of plant growth promoting and colonization ability of endophytic diazotrophs from deep water rice. Journal of Biotechnology, v.91, p.127-141. [11]REIS, M.R.; SILVA, A.A.; GUIMARÃES, A.A.; COSTA, M.D.; MASSENSSINI, A.M.; FERREIRA, E.A. 2008. Ação de herbicidas sobre microrganismos solubilizadores de fosfato inorgânico em solo rizosférico de cana-de-açúcar. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 26, n. 2, p. 333-341. Figura 1. A) Densidade populacional total da comunidade bacteriana da rizosfera e de solo cultivado com plantas de couve-flor. As barras indicam o desvio padrão das médias resultantes da avaliação de 4 repetições; B) Reação positiva para o teste de fixação biológica de nitrogênio; C) Freqüência relativa (%) de bactérias fixadoras de nitrogênio e solubilizadoras de fosfato inorgânico isoladas da rizosfera e do solo cultivado com plantas de couve-flor; D) Avaliação do teste de solubilização de fosfato inorgânico, as setas indicam os halos de solubilização.