A biodiversidade que habita o corpo humano

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A biodiversidade que habita o corpo humano
Bactérias não estão na lista dos seres vivos preferidos pela humanidade. Estas minúsculas criaturas contaminam
nossos alimentos, provocam intoxicações e mortes. Muitas doenças são causadas por bactérias, da sífilis à
tuberculose, passando por parte das pneumonias, das infecções urinárias, da garganta e de pequenos ferimentos.
Não é sem motivo que a descoberta dos antibióticos é considerada uma das descobertas mais importantes da
medicina.
O que a maioria das pessoas desconhece é que mesmo quanto estamos perfeitamente saudáveis centenas de
espécies de bactérias chamam nosso corpo de “lar doce lar”. Intestinos, boca, ouvido e pele são alguns dos lugares
habitados por bactérias. Esta bactérias são importante para nossa saúde, nos ajudam a absorver nutrientes e
treinam nosso sistema imune a identificar bactérias causadoras de doenças. Ao ocupar muitos destes locais as
bactérias “do bem” impedem que as bactérias “do mal” (patogênicas) ocupem estes habitats. Os cientistas
estimam que em nosso corpo existem 10 vezes mais bactérias que células. Nosso corpo é constituído por
aproximadamente 10 trilhões de células e abriga 100 trilhões de bactérias.
Agora, pela primeira vez, um grupo de cientistas realizou um censo demográfico das populações de bactérias que
habitam o corpo humano. O objetivo é conhecer quem mora onde e desta maneira tentar estabelecer qual a
população e a distribuição das bactérias em pessoas normais.
Nove adultos saudáveis foram analisados. Cada pessoa foi examinada em quatro datas distintas ao longo de três
meses. Em cada data foram coletadas amostras em 27 locais do corpo de cada pessoa. Dezoito locais recobertos
por pele, como testa, axilas, braços, pernas e pé foram raspados para coletar amostras de bactérias. Cabelo,
intestino, boca, cera do ouvido e secreção nasal também foram amostrados. Foram obtidas amostras de 27 habitats
de cada uma das 9 pessoas em 4 datas distintas, um total de 972 amostras. De cada amostra foi isolado o DNA das
bactérias. Como os genes de cada espécie de bactéria é diferente e grande parte deles já é conhecido, bastou
seqüenciar todas as copias de um único gene em cada amostra para identificar que espécies de bactérias estavam
presente e com que freqüência. Foram identificados centenas de espécies de bactérias, distribuídas em 22 filos
(grandes famílias), mas a grande maioria delas (92%) pertencia a somente 4 filos (actinobacterias, firmicutas,
proteobactérias e bacteriodetas).
Comparando as populações presentes em cada uma destas 972 amostras foi possível descobrir algumas
correlações importantes. Primeiro, as variações ao longo do ano não são muito grandes, os habitantes do seu nariz
não mudam muito ao longo dos meses. Segundo, as variações entre os habitats em uma mesma pessoa são
grandes: as bactérias que habitam locais muitos diferentes como sua testa e suas fezes são diferentes, o que era de
se esperar. A surpresa foi que habitats semelhantes, como a testa e as costas da mão, também são habitados por
populações diferentes de bactérias. Alem disso, foi descoberto que o mesmo habitat em diferentes pessoas (por
exemplo as testas de diferentes pessoas) é mais parecida entre si que habitats semelhantes em uma mesma pessoa
(a testa e a mão de uma única pessoa). A partir de dados como estes os cientistas concluíram que diferentes
pessoas são habitadas pelas mesmas bactérias, mas que cada região de nosso corpo possui uma população
característica de bactérias. As bactérias parecem ocupar os diferentes habitats presentes no corpo humano do
mesmo modo que os vertebrados ocupam os habitats em uma floresta: aves na copa das árvores, peixes nos rios e
mamíferos em terra firme. Os 100 trilhões de bactérias que ocupam os habitats do nosso corpo parecem estar
razoavelmente bem organizadas, cada uma em seu devido lugar.
O fato de nosso corpo abrigar uma enorme biodiversidade de bactérias, organizadas em dezenas de habitats
distintos, cumprindo funções específicas, nos torna um verdadeiro ecossistema, algo semelhante a uma enorme
floresta tropical.
Mais informações: Bacterial community variation in human body habitats across space and time. Science vol.
326 pag. 1694 2009
Fernando Reinach ([email protected])
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