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Propaganda
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• Fidel Castro se torna presidente
de Cuba
• O Havaí passa a ser o 50o estado
dos Estados Unidos
• Hitler é oficialmente declarado
morto
• O primeiro satélite é lançado
• O bambolê é inventado
Anos 1950
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Frank Sinatra | In The Wee Small Hours (1955)
Selo | Capitol
Produção | Voyle Gilmore
Projeto gráfico| Tommy Steele
Nacionalidade | EUA
Duração | 50:25
No início dos anos 50, Frank Sinatra estava acabado – incapaz de
conseguir um contrato regular com uma casa noturna, quanto
mais com uma gravadora. Seu salvador chegou bem a tempo.
Alan Livingston, vice-presidente de A&R (artist and repertoir) da
Capitol Records e fã de Sinatra, o contratou por sete anos em 14
de março de 1953, contrariando o conselho de seus colegas.
O Oscar que Sinatra recebeu, no mesmo ano, por A Um Passo
da Eternidade comprovou a clarividência de Livingston. O prêmio também deu ao cantor uma segunda chance, que ele agarrou com unhas e dentes em Songs For Young Lovers e Swing Easy.
Ambos são grandes discos, mas viraram um marco por terem
Lista de músicas
apresentado Sinatra – inicialmente, contra sua vontade – a um
jovem arranjador chamado Nelson Riddle.
In The Wee Small Hours foi lançado pouco depois de o romance
entre Sinatra e Ava Gardner ter terminado, e esse rompimento
talvez tenha tornado este o melhor álbum de todos os tempos
01 In The Wee Small Hours Of The Morning
(Hilliard•Mann)
02
3:00
Mood Indigo (Bigard•Ellington•Mills)
3:30
03 Glad To Be Unhappy (Hart•Rodgers)
2:35
sobre o tema da separação.O Sinatra do imaginário popular,aquele
04 I Get Along Without You Very Well
(Carmichael)
3:42
sujeito meio malandro,sempre com uma piada na ponta da língua,
05 Deep In A Dream (De Lange•Van Heusen)
2:49
não aparece aqui – ele é um homem, apenas. Os vendedores de
06 I See Your Face Before Me (Dietz•Schwartz)
3:24
discos que costumavam colocar Sinatra na prateleira de easy
07 Can’t We Be Friends? (James•Swift)
2:48
08 When Your Lover Has Gone (Swan)
3:10
listening certamente nunca o tinham ouvido cantar as confissões
de bêbado de “Can’t We Be Friends?”, e muito menos suplicar como
em “What Is This Thing Called Love”, de Cole Porter. E “Mood
Indigo”, de Duke Ellington,nunca havia soado tão melancólica.
Riddle enquadra essa amargura toda em arranjos delicados
naquele que hoje é considerado o primeiro disco em que a
parceria realmente funcionou. Outros se seguiriam, embora num
novo formato, exótico para a época. Inicialmente lançado em
dois discos de 10 polegadas, In The Wee Small Hours foi logo
depois reeditado em 12 polegadas, antecipando, sem querer, a
era do LP. WF-J
22 | 23 Anos 1950
09
What Is This Thing Called Love (Porter)
10 Last Night When We Were Young
(Arlen•Harburg)
11
I’ll Be Around (Wilder)
12 Ill Wind (Arlen•Koehler)
2:35
3:17
2:59
3:46
13 It Never Entered My Mind (Hart•Rodgers)
2:42
14 Dancing On The Ceiling (Hart•Rodgers)
2:57
15 I’ll Never Be The Same (Kahn•Malneck)
3:05
16 This Love Of Mine (Parker•Sanicola•Sinatra)
3:33
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Elvis Presley | Elvis Presley (1956)
Selo | RCA
Produção | Não consta
Projeto gráfico| William V. Robertson
Nacionalidade | EUA
Duração | 28:42
Não é nenhuma jóia rara. De fato, quando tocado para os ouvidos do século 21, habituados à arte e à técnica da produção de
um bom álbum, o primeiro LP de Elvis Presley mostra-se frustrante e inconsistente.
O repertório, montado a partir de várias sessões, é composto
por sete faixas registradas no início de 1956 – às vésperas do
lançamento do álbum, em 13 de março – e cinco que eram,
virtualmente, sobras da Sun Records, de 1954 e 1955, gravadas
antes do contrato de Elvis com a RCA. O vocal bem trabalhado de
“I’ll Never Let You Go (Little Girl)”, uma das heranças da Sun, chega
tinha uma imagem pública que pudesse ser imitada. Uma curio-
“Cara, eu era um bobo comparado
com as coisas que fazem agora.”
sidade é que,embora todo relançamento em CD inclua “Heartbreak
Elvis Presley, 1972
ao limite da autoparódia: naquela época, por ironia, Elvis não
Hotel” – a música que catapultou o garoto de 21 anos da
celebridade local em Memphis à fama mundial em algumas
semanas –, essa faixa não consta do disco original.
Lista de músicas
No entanto, o álbum tem magia, e muita; revoluções já
aconteceram por menos do que isso. O gospel branco de “I’m
Counting On You” e o ressoar nervoso de “I Got A Woman”, de Ray
Charles, formam uma seqüência forte logo no início; perto do
01 Blue Suede Shoes (Perkins)
02
03
2:00
I’m Counting On You (Robertson)
2:25
I Got A Woman (Charles)
2:25
fim, encontra-se a versão definitivamente solitária de “Blue
04 One-Sided Love Affair (Campbell)
2:11
Moon”. Mas a faixa que se destaca é a impressionante “Trying To
05 I Love You Because (Payne)
2:43
Get To You”, que coloca Presley um patamar acima de um menino
06 Just Because (Robin•B. Shelton•J. Shelton)
2:34
da roça, a caminho de virar uma estrela. É uma gravação
07 Tutti Frutti (LaBostrie•Penniman)
inesquecível.
A capa é também inesquecível. A foto, creditada a William V.
“Red” Robertson e tirada em 31 de julho de 1955, num show em
Tampa, na Flórida, é uma das mais simbólicas do cantor. O The
Clash concordou, subvertendo a imagem para a capa de London’s
Calling,de 1979. WF-J
24 | 25 Anos 1950
08
Trying To Get To You (McCoy•Singleton)
1:59
2:31
09 I’m Gonna Sit Right Down
(And Cry Over You) (Biggs•Thomas)
2:01
10 I’ll Never Let You Go (Little Darlin’) (Wakely)
2:24
11
Blue Moon (Hart•Rodgers)
12 Money Honey (Stone)
2:40
2:36
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The Louvin Brothers | Tragic Songs Of Life (1956)
Selo | Capitol
Produção | Ken Nelson
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 35:58
Não é preciso ser maluco, assassino, bêbado, compulsivo, solitário, intratável ou melancólico para cantar música country... mas
ajuda. Ira Louvin não era tudo isso, mas possuía algumas dessas
características. Surgidos na década de 40, Charlie e Ira Louvin se
encaixaram perfeitamente na tradição country da dupla de
irmãos harmoniosos – seguindo os passos dos The Delmore
Brothers e servindo de modelo aos The Everly Brothers. Este
primeiro álbum dos Louvins é uma das pedras fundamentais do
country. A voz de barítono de Charlie e o tenor alto de Ira
dialogam e se fundem num estilo alegre e gracioso. É o melhor
do bluegrass tirado do fundo do coração.
A capa mais conhecida do disco mostra Charlie e Ira superpostos à imagem de uma loura triste, segurando uma carta
“A palavra ‘tolerante’se soletra:
p-e-c-a-d-o.”
The Louvin Brothers, 1952
amassada, como numa fotonovela barata. Essa ilustração foi feita
para lançamentos posteriores e romantiza a verdade.De fato,para
Ira e Charlie, essas músicas sobre pecado e fraqueza, tragédia e
tentação eram muito reais.Nada neles era intencional ou kitsch.
Porém, foi a tendência autodestrutiva de Ira que emprestou à
dupla o viés cortante. Charlie era uma pessoa estável, mas o
Lista de músicas
01
Kentucky (Davis)
2:39
irmão bebia muito, era mulherengo e propenso a explosões
02 I’ll Be All Smiles Tonight (Carter)
3:14
violentas. Em 1963, Charlie se cansou disso e decidiu seguir
03 Let Her Go God Bless Her (Trad. )
2:55
carreira solo. Ira sobreviveu mais do que se supunha – mesmo
04 What Is Home Without Love (Trad. )
3:00
tendo levado um tiro de sua terceira mulher, Faye –, mas, em
05 A Tiny Broken Heart (Hill•C. Louvin•I. Louvin)
2:34
1965, acabou morrendo (ao lado da noiva) num acidente de
carro no Missouri.
Alguns anos mais tarde, Gram Parsons fez renascer o interesse na música dos irmãos e, desde então, o mito dos Louvins
continua a crescer. RF
06 In The Pines (Riggs)
07
08
Alabama (Hill•C. Louvin•I. Louvin)
Katie Dear (Bolick)
09 My Brother’s Will (Nelson)
10
11
Knoxville Girl (Trad. )
2:34
3:16
3:49
Take The News To Mother (Callahan•Caloway) 2:48
12 Mary Of The Wild Moor (Turner)
26 | 27 Anos 1950
3:15
2:43
3:11
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Louis Prima | The Wildest! (1956)
Selo | Capitol
Produção | Voyle Gilmore
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 32:00
Cantor e trompetista popular nos clubes nas décadas de 30 e 40,
inicialmente em sua terra natal, Nova Orleans, depois em Nova
York, Prima se viu sem trabalho em 1954. Acompanhado de sua
nova mulher e companheira de palco, Keely Smith – ele, um
desgastado homem de 43 anos; ela, em seus inocentes 22 –, ele
conseguiu de favor umas apresentações no lounge do Sahara,
em Las Vegas, e contratou o jovem saxofonista de Nova Orleans,
Sam Butter, para liderar a banda. O sucesso foi imediato; essa
brilhante meia hora, gravada ao vivo no estúdio em abril de
1956, foi a cereja no bolo.
apenas uma imitação italianizada de Louis Armstrong, talvez
“Já fiz discos de sucesso,mas não gostei
de nenhum (...). Mas este é diferente.”
pelos três sucessos de Satchmo aqui incluídos:“You Rascal You” e
Louis Prima, 2002
Os apaixonados pelo jazz muitas vezes consideram Prima
um medley unindo a contida “Basin Street Blues” e a anti-soporífera “When It’s Sleepy Time Down South”. Mas esta não é a questão: a música de Prima é simplesmente irreprimível e combina
totalmente com sua alegria gloriosa na foto de capa. Ele está
radiante, cheio de gás e irresistível, sacudindo a banda em “Oh
Marie”, com Smith num delicioso e bem amarrado contraponto.
Lista de músicas
01
Medley: Just A Gigolo—I Ain’t Got Nobody
(Brammier•Caesar•Casucci•Graham•Williams) 4:42
Butera e seus colegas, enquanto isso, envolvem os dois em um
02 (Nothing’s Too Good) For My Baby
(Budston•Falcon)
2:36
dos mais fervilhantes jump-jives já gravados. Esse som é
03 The Lip (Klages•Knight)
2:15
constantemente imitado, como na versão de Brian Setzer de
04 Body And Soul (Eyton•Green•Heyman•Sour)
“Jump, Jive, An’ Wail” para um comercial da GAP. Butera, que teve
seus arranjos originais apropriados pelo anúncio, se queixou de
ter ganho três pares de calças em troca do privilégio.
Prima morreu em 1978, mas o seu legado continua vivo
através de sua filha Lena – que se apresentou recentemente no
Sahara – e da dublagem “jive” do orangotango Rei Louie, do
desenho Mogli, O Menino Lobo, seu último trabalho. Na verdade,
Prima era o rei dos swingers. WF-J
05
Oh Marie (Dicapua, arr. Prima)
06 Medley: Basin Street Blues —
When It’s Sleepy Time Down South
(L. Rene•O. Rene•Williams)
07
08
Jump, Jive, An’ Wail (Prima)
Buona Sera (De Rose•Sigman)
3:22
2:25
4:12
3:28
2:58
09 Night Train (Forrest)
2:46
10 (I’ll Be Glad When You’re Dead)
You Rascal You (Theard)
3:13
Anos 1950 26 | 27
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Fats Domino | This Is Fats (1956)
Selo | Imperial
Produção | Dave Bartholomew
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 27:11
Seis anos antes de Bill Haley gravar “Rock Around The Clock”, o
jovem Antoine “Fats” Domino, aos 21 anos, escreveu a cançãobase do rock ’n’ roll,“The Fat Man”, em 1949. A partir do sucesso
desse single de estréia, que vendeu um milhão de cópias, o
vocalista e pianista nascido em Nova Orleans compôs mais hits
do que qualquer outro da era do rock dos anos 50, à exceção
de Elvis Presley, incluindo uma impressionante série de 39
singles que ocuparam os primeiros lugares das paradas, entre
1954 e 1962.
Ao vender algo em torno de 65 milhões de discos naquela
ponte entre o R&B e o rock – embora Little Richard possa dispu-
“Minha maior ambição é obedecer
aos Dez Mandamentos.”
tar o título. O que está fora de discussão é a influência exercida
Fats Domino, 2002
década, Domino foi, sem dúvida, o responsável por fazer uma
por seu trabalho nos anos 50, que se espalhou por toda a música
pop, atingindo de Pat Boone aos Beatles.
This Is Fats, o terceiro álbum do cantor pela Imperial, foi lançado no auge da carreira de Domino e tornou-se o mais poderoso
retrato de sua genialidade, graças a maravilhas do boogiewoogie como “Blue Monday” e “Honey Chile” e a obras-primas da
tristeza como “So Long”e “Poor, Poor Me”.
A triunfante “Blueberry Hill”, que abre o álbum, foi um sucesso
de Glenn Miller em 1940, mas, apesar de seu charme e calor, a
música acabou sendo surpreendentemente difícil de gravar.
Lista de músicas
01
02
Blueberry Hill (Lewis•Rose•Stock)
2:21
Honey Chile (Bartholomew•Domino)
1:48
03 What’s The Reason (I’m Not Pleasing You?)
04
05
(Grier•Hatch•Poe•Tomlin)
2:03
Blue Monday (Bartholomew•Domino)
2:18
So Long (Bartholomew•Domino)
2:13
Ninguém conseguia achar a partitura e Domino esquecia o tem-
06 La-La (Bartholomew•Domino)
2:15
po inteiro a sua parte. Não foi possível completar sequer um take
07 Troubles Of My Own (Bartholomew•Domino)
2:15
e o estúdio teve de emendar o material gravado. O resultado do
08 You Done Me Wrong (Domino)
2:05
esforço foi um single que chegou ao primeiro lugar das paradas
09 Reelin’ And Rockin’ (Domino•Young)
2:20
de R&B nos Estados Unidos e ao segundo lugar nas de pop – a
10 The Fat Man’s Hop (Domino•Young)
2:26
melhor colocação de Domino nessa categoria. JiH
11
2:11
Poor, Poor Me (Domino)
12 Trust In Me (Domino•Jarrett)
28 | 29 Anos 1950
2:50
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Duke Ellington
Ellington At Newport
1956 (1956)
Selo | Columbia
Produção | George Avakian
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 44:00
Frank Sinatra
Songs For Swingin’
Lovers! (1956)
Selo | Capitol
Produção | Voyle Gilmore
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 45:00
Depois de um período de estagnação,quando as bandas de swing
Em meados dos anos 50, Frank Sinatra estava de volta ao auge
saíram de moda, a popularidade de Duke Ellington recrudesceu
não apenas de seu talento, mas das paradas, desmentindo a
com sua apresentação no Festival de Jazz de Newport, em julho
máxima de F. Scott Fitzgerald: “Não existe uma segunda chance
de 1956. É irônico que o disco lançado apressadamente pela
para os americanos.” No final de 1955, novamente com Nelson
Columbia para capitalizar o sucesso do show não tenha sido
Riddle, Sinatra planejou um disco com um sabor diferente.
gravado realmente em Newport.
O que surgiu dessas sessões, realizadas um mês depois de o
Quando souberam que a gravação no festival não havia
cantor completar 40 anos, foi o oposto do trabalho anterior.
ficado boa, os executivos da Columbia enviaram Ellington a um
Comparado com The Wee Small Hours e seu clima de bêbado-
estúdio em Nova York para refazer a apresentação, na segunda-
num-bar-às-duas-da-manhã, o eufórico Songs For Swingin’ Lo-
feira após o show. O álbum é, portanto, uma colcha de retalhos
vers! parece um passeio numa tarde ensolarada de domingo,
dos registros ao vivo e em estúdio, e de aplausos gravados. E se
literalmente transbordando de joie de vivre. Sinatra está à vonta-
tornou o maior sucesso de vendas da carreira de Duke.
de como nunca, ágil em “You Make Me Feel So Young”, cantando
Um relançamento brilhante, em 1999, finalmente consertou
“How About You?” como se estivesse pedindo alguém em
as coisas. O disco original foi mantido, mas, graças a um
casamento ou piscando o olho, daquele seu jeito, em “Makin’
complicado trabalho de pós-produção, utilizando os masters do
Whoopee”. Mas nada disso teria valor sem a gloriosa orquestra-
álbum de 1956 e uma gravação de rádio há anos considerada
ção de Riddle. Reza a lenda que seu insuperável arranjo para “I’ve
perdida, o show completo foi recuperado e, por fim, é possível
Got You Under My Skin”, terminado às pressas na noite anterior à
entender por que causou tanto impacto. As três partes da suíte
gravação, foi espontaneamente aplaudido pelos músicos duran-
do Festival de Jazz de Newport – algo tão novo que, segundo
te a sessão, em 12 de janeiro de 1956.
Ellington, “nem tivemos tempo de dar um nome à música” –
Este álbum talvez chegue perto de ser o grande songbook
apresentam os sons agudos típicos do trompete de Cat Ander-
americano. No entanto, os estudiosos mais atentos da música
son. Mas a fama do show e do álbum se deve ao blues eferves-
pop podem reparar que há uma simetria nas 15 faixas que
cente de “Diminuendo And Crescendo In Blues” e, mais
cravam os 45 minutos do disco. A arte de fazer canções de três
especificamente, aos inacreditáveis 27 refrões que o saxofonista
minutos começa e termina ali. WF-J
Paul Gonsalves transformou em um dos solos mais celebrados
da história do jazz. WF-J
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The Crickets
The “Chirping”
Crickets (1957)
Selo | Brunswick
Produção | Norman Petty
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 25:59
Count Basie
The Atomic
Mr. Basie (1957)
Selo | Roulette
Produção | Teddy Reig
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 39:30
É surpreendente que este marco da história do rock dure menos
Em 1957, os melhores dias do grupo de Bill Basie, formado em
de meia hora. Isso prova as virtudes da concisão – 12 grandes
1930, haviam ficado duas décadas para atrás; as mudanças nos
músicas, muitas familiares a qualquer museólogo do pop, e
gostos musicais o haviam forçado a desistir de sua big band por
nenhuma que chegue perto dos mágicos três minutos de
uns tempos, no início dos anos 50. Felizmente, foi a última vez que
duração.
ficou sem uma banda. Tudo o que Basie precisava, ele descobriu,
Buddy Holly formou a banda com um colega de escola, o
era de um pouco de sangue novo, que encontrou nas veias do
baterista Jerry Allison. O misto de rockabilly, blues, R&B e uma
jovem arranjador Neal Hefti. Apenas cinco anos depois de seu
profunda sensibilidade pop firmou os The Crickets na vanguarda
primeiro trabalho para o grupo,Hefti foi chamado para orquestrar
do primeiro fluxo do rock ’n’ roll. Este álbum de estréia (o único
todo o disco que Basie lançaria por seu novo selo,Roulette.
LP de Holly lançado em vida) inclui seus três primeiros clássicos,
“Nunca me gabei de nada”, escreveu Basie, sempre modesto,
assim como duas músicas escritas em parceria com Roy Orbison.
em sua autobiografia,“mas poderia ter me gabado dessa banda”.
Muitos aspirantes a guitarrista se esforçaram para imitar a
Estava certo. lmpulsionados pelo saxofonista Eddie “Lockjaw”
introdução de “That’ll Be The Day” – o título, dado por Holly, é
Davis e um naipe estelar de trompetes liderados por Thad Jones,
uma expressão usada por John Wayne no filme Rastros de Ódio,
os 12 instrumentos de metal alternam fogo (“Whirly-Bird”) e gelo
de 1956.
(“After Supper”) e dão um efeito efervescente às 11 músicas
O talento pioneiro de Holly para cantar e compor in-
compostas por Hefti. Mas, como sempre acontece com Basie, o
fluenciaria tremendamente outros artistas posteriores, como os
melhor do disco está na seção rítmica: o baixista Eddie Jones, o
Beatles e os Rolling Stones. Não há muitas músicas creditadas a
baterista Sonny Payne, o guitarrista Freddie Green e o próprio
Buddy Holly neste disco, porque, na realidade, ele assinava como
Basie no piano, com seu típico estilo econômico, levam o swing
Charles Hardin – seu nome verdadeiro era Charles Hardin
até músicas suaves como “Li’l Darlin’”.
Holley.
Foi o último disco genial de Basie. Em meados da década de
Há que se destacar também as versões de músicas de Chuck
60, ele já havia se acomodado à confortável posição de um dos
Willis e Lloyd Price. Acusações póstumas de que Holly seria
mais queridos da velha-guarda do jazz, papel que desem-
racista são discutíveis. JT
penharia até sua morte, em 1984. Hefti, enquanto isso, se livrou
do jazz em prol de Hollywood, ficando famoso por suas trilhas
sonoras para Batman e Um Estranho Casal. WF-J
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Thelonious Monk | Brilliant Corners (1957)
Selo | Riverside
Produção | Orrin Keepnews
Projeto gráfico| Paul Bacon
Nacionalidade | EUA
Duração | 43:08
Um dos mais reverenciados compositores do século 20, sem
falar em sua influência universal como pianista, Thelonious
Sphere Monk ocupava, porém, uma inexplicável posição marginal em 1957.
Depois de ter exercido um papel fundamental na criação do
bebop no clube Minton, no Harlem, em meados da década de 40,
e de ter contribuído com vários clássicos para o cânone do jazz,
ele acabou afastado dos jazz clubs de Manhattan por conta de
uma falsa condenação por porte de drogas, e sua gravadora
perdeu o interesse em seu trabalho. Monk ficou, então, fora de
cena durante os anos 50. Foi só quando Orrin Keepnews – a alma
por trás do selo de indie jazz Riverside – o contratou que ele
começou a ter o devido reconhecimento.
Keepnews reapresentou Monk ao público do jazz com duas
sessões de trio, a primeira em cima da obra de Ellington e a
segunda, de standards do pop. Brilliant Corners marcou seu
retorno como um compositor de primeira ordem, acompanhado
“Não estava tentando fazer algo difícil
de tocar. Apenas compus uma música que
se encaixava no que eu estava pensando.
Eu sabia que os músicos iam se esforçar,
porque era realmente boa.”
Thelonious Monk, 1965
do quinteto formado pelo sax tenor de Sonny Rollins, o sax alto
de Ernie Henry (que morreu cedo e tragicamente), o baixo de
Oscar Pettiford e a bateria de Max Roach (o trompetista Clark
Terry e o baixista Paul Chambres substituem Henry e Pettiford
em “Bemsha”). A faixa-título, de cair o queixo, foi a responsável
pela necessidade de troca de músicos – era tão difícil que, depois
de 25 tentativas, não havia um único take completo.
A tensão é palpável na gravação, mesmo depois da edição
feita por Keepnews, mas o resultado foi a primeira obra-prima
dessa fase da carreira de Monk. Outros destaques são a suave
melodia de “Pannonica”, escrita para a amiga e patronesse de
Lista de músicas
01
Brilliant Corners (Monk)
02 Ba-Lue Bolivar Ba-Lues-Are (Monk)
03
Pannonica (Monk)
7:47
13:21
8:52
Monk, a baronesa “Nica” Koenigswarter, e sua versão solo de
04 I Surrender Dear (Barris•Clifford)
5:27
“I Surrender Dear”. AG
05 Bemsha Swing (Best•Monk)
7:41
32 | 33 Anos 1950
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Sabu | Palo Congo (1957)
Selo | Blue Note
Produção | Alfred Lion
Projeto gráfico| Reid Miles
Nacionalidade | EUA
Duração | 40:52
Chano Pozo revelou a batida da conga afro-cubana ao jazz
quando tocava na orquestra de Dizzy Gillespie, no final dos anos
40. Dessa forma, ele abriu a porta para talentosos percussionistas
como Louis “Sabu” Martinez, que o substituiu na banda de
Gillespie depois da morte de Pozo, em 1948.
Equipado com mãos e espírito poderosos, Sabu triunfou
como músico de estúdio da Blue Note Records, trabalhando nos
discos Orgy In Rhythm e Holiday For Skins, de Art Blakey, entre
outros. Como músico principal em Palo Congo, ele deliciou o
público com uma variedade de batidas, se valendo de sua
herança espanhola, africana e indígena.
A gravação, coordenada pelo engenheiro de som Rudy Van
Gelder, capta a fúria da rumba cubana e estilos afins. Martinez
convidou uma banda que incluía a tres (uma guitarra cubana
“Comecei tocando latas nos quintais.
Então, quando eu tinha 11 anos,
entrei para um trio e tocava na Rua 125
por 25 cents, a cada três noites.”
com três cordas duplas) do produtivo Arsenio Rodriguez, um
pilar da salsa moderna, e Ray Romero, que havia tocado com
Sabu Martinez, 1968
Miguelito Valdes. Os músicos, na maioria oriundos da banda de
Rodriguez, interagem com Sabu numa calorosa gravação analógica, sem distorções. Apesar de ser mono, é tão bem equilibrada
que permite se ouvir individualmente a percussão, as vozes e o
baixo acústico.
Sabu abre cantando “El Cumbanchero”, de Rafael Fernandez,
uma melodia contagiante. A genialidade de Arsenio permeia
“Rhapsodia Del Maravilloso”, na qual introduz variações de “El
Manisero”. Sua tres tem um quê de soul e funk.
O próprio Sabu faz solos potentes de percussão em Palo
Congo, em meio a orações de santeria, num álbum que ilumina
suas raízes como nova-iorquino residente no El Barrio, no Harlem
espanhol. JCV
Lista de músicas
01
02
El Cumbanchero (Hernandez)
5:38
Billumba-Palo Congo (Martinez)
03 Choferito-Plena (Rios)
6:06
4:02
04 Asabache (Martinez)
4:22
05 Simba (Martinez)
5:55
06
Rhapsodia Del Maravilloso (Martinez)
07 Aggo Elegua (Martinez)
08
Tribilin Cantore (Martinez)
4:39
4:28
5:19
Anos 1950 32 | 33
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Miles Davis | Birth Of The Cool (1957)
Selo | Capitol
Produção | Pete Rugolo
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 37:56
Ano de 1949: saído de baixo das asas de Charlie “Bird” Parker e
Dizzy Gillespie, Miles Davies, aos 24 anos, percebe que está
perdendo tempo ao tentar replicar os vôos harmônicos vertiginosos de seus mentores de bebop. A solução: juntar um bom
time de músicos de estúdio de Nova York e tentar reconstruir e
desconstruir o vocabulário bebop num espaço novo de improvisação. E espaço, para Miles, é o lugar fundamental de criação
nesta sua primeira sessão de jazz como líder de banda.
Entrelaçando os tons surdos de seu trompete com os arranjos orquestrais urbanos ao gosto de Gil Evans, Gerry Mulligan e
John Lewis, Miles dá forma a um harmônico cool jazz, que bebe
tanto da música clássica européia como do hot jazz do bebop ou
do ragtime. Seu solo de trompa, sem vibrato, na música de
abertura,“Move”, abre o caminho para uma série de poemas em
tom impressionista, uma resposta velada ao excesso de acordes
“Sempre tive curiosidade
de tentar coisas novas
na música.”
Miles Davis, 1962
do bebop. Mas é uma música cool com balanço: é só ouvir Miles
interagindo com o leve sax alto de Lee Konitz em “Jeru”.
O fotógrafo Aram Avakian capta com precisão o jogo entre a
frieza controlada e o poder emocional concentrado na música de
Miles na simbólica foto da capa do disco. Os críticos também
identificaram a “quietude audaciosa” do álbum – o público, no
entanto, não gostou. O estilo cool foi deixado de lado até sua
ressurreição no revisionismo feito na Costa Oeste dos grupos de
Lista de músicas
01
02
Move (Best)
Jeru (Mulligan)
03 Moon Dreams (MacGregor•Mercer)
04
05
2:33
3:13
3:19
Venus De Milo (Mulligan)
3:13
Budo (Davis•Powell)
2:34
meados dos anos 50. E Miles? Ele levou sua música cool para o
06 Deception (Davis)
2:49
cinema, no filme Ascensor Para O Cadafalso (1957),de Louis Malle,
07 God Child (Wallington)
3:11
apurando esse estilo até chegar à sua obra-prima Kind Of Blue
08
Boplicity (Henry)
3:00
(1959), numa carreira voltada para a colaboração musical e a
09 Rocker (Mulligan)
3:06
renovação da linguagem. MK
10 Israel (Carisi)
2:18
11
3:15
Rouge (Lewis)
12 Darn That Dream (DeLange•Van Heusen)
34 | 35 Anos 1950
3:25
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Machito | Kenya (1957)
Selo | Roulette Jazz
Produção | Ralph Seijo
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 35:46
Nos anos 40, Machito e a sua orquestra criaram uma onda de
mambomania, misturando os ritmos afro-cubanos com o jazz
americano. Frank Grillo, conhecido como Machito, cantava e tocava maracas, enquanto o diretor musical Mario Bauza coordenava o cruzamento entre o som das primeiras big bands e a
estrutura musical cubana.
Bauza sonhava há muito tempo em fazer uma big band
latina, que fundisse o fogo das tradicionais orquestras cubanas
que ele ouvia em Havana, quando criança, com o balanço de
Duke Ellington, que conheceu no Harlem (aos 19 anos, Bauza
chegou ao Harlem e começou a tocar sax e trompete nas bandas
de Chick Webb, Don Redman e Cab Calloway).
Este álbum, uma jóia pouco valorizada, traz audaciosas
“Quem tem ritmo tem tudo.
Sem ritmo, não se tem nada.”
Mario Bauza, 1992
composições originais e arranjos de Bauza, René Hernandez,
que toca piano no disco, Chano Pozo e AK Salim (um destacado
compositor de jazz e arranjador). Os convidados especiais
Cannonball Adderley, Doc Cheatham e Joe Newman acrescentam o seu talento como improvisadores em riffs elegantes ao
longo de refrões curtos mas belos.
Na faixa de abertura, “Wild Jungle”, fica claro por que os
percussionistas eram tão excepcionais. José Mangual (bongô),
Uba Nieto (címbalos), Candido Camero (conga) e Carlos “Patato”
Valdes (conga) impulsionam as músicas. “Holiday” e “Blues À La
Machito” fundem o blues e o swing, mostrando uma excepcional
coesão e interação da orquestra. “Tin Tin Deo” é uma vibrante
versão do clássico do jazz latino composto por Pozo.
A Machito Orchestra estabeleceu os marcos do que o jazz
latino poderia ser. Seu disco mais fortemente inspirado nos
ritmos africanos, Kenya, que é todo instrumental, atingiu o auge
da musicalidade do grupo. JCV
Lista de músicas
01
Wild Jungle (Bauza•Hernandez)
02 Congo Mulence (Salim)
03
2:55
Kenya (Bauza•Hernandez)
3:26
04 Oyeme (Salim)
05
06
3:11
Holiday (Bauza•Hernandez)
2:46
Cannonology (Salim)
2:29
07 Frenzy (Bauza•Hernandez)
08
2:40
Blues À La Machito (Salim)
3:01
09 Conversation (Bauza•Hernandez)
10
11
2:46
2:55
Tin Tin Deo (Pozo)
2:55
Minor Rama (Salim)
3:01
12 Tururato (Salim)
3:10
Anos 1950 34 | 35
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Little Richard
Here’s Little Richard (1957)
Selo | Specialty
Produção | Bumps Blackwell
Projeto gráfico| Thadd Roark
Nacionalidade | EUA
Duração | 27:31
“A-wop-bop-a-Ioo-bop-a-Iop-bam-boom... tutti frutti, oh rootie!!”
No verão de 1955, o rock ’n’ roll explodiu em toda parte, e Fats
Domino, Ray Charles, Chuck Berry e Bo Diddly emplacavam um
sucesso atrás do outro nas paradas. Ansioso para surfar nessa
onda, Art Rupe, da Specialty Records, pediu a seu caçador de
talentos, Bumps Blackwell, que encontrasse um novo Ray Charles.
Sabendo onde procurar, Bumps rumou para o Sul e, no lendário
Dew Drop Inn, em Nova Orleans, achou um cantor e pianista de
jump blues extravagante (e assumidamente gay) chamado Little
Richard Penniman. Pouco tempo depois, já tinha convencido
Richard a gravar no pequeno estúdio de Cosimo Matassa, o J&M
Studio, onde fizeram história.
“Eu faria de tudo no palco.”
Little Richard, década de 80
A palavra “transbordante” nem chega perto de descrever
a energia irreverente, quase insana, gravada por Richard, Bumps,
Cosimo e pelos músicos mais originais de Nova Orleans.
“Tutti Frutti” começou a subir nas paradas no mês seguinte e
foi seguida, em 1956, por “Long Tall Sally”, “Slippin’ And Slidin’”,
“Ready Teddy” e “Jenny Jenny”. Essa série de músicas enlouquecedoras foi reunida em Here’s Little Richard, que ainda
apresenta uma foto inesquecível de Richard na capa, em ação.
Totalmente clássico, Here’s Little Richard é seu LP mais
vendido. Pode ser difícil achá-lo em vinil, mas as músicas aparecem em vários CDs – o nome Specialty é a garantia de que se
trata das gravações originais e não de versões inferiores feitas
por Richard para muitos outros selos. Here’s Little Richard é a
célula-tronco do rock ’n’ roll – a partir deste álbum (e de meia
dúzia de outros incluídos neste livro) foi que o gênero
floresceu. ML
36 | 37 Anos 1950
Lista de músicas
01
Tutti Frutti (LaBostrie•Lubin•Penniman)
2:24
02 True Fine Mama (Penniman)
2:41
03 Can’t Believe You Wanna Leave (Price)
2:23
04
Ready Teddy (Blackwell•Marascalco)
05 Baby (Penniman)
06
07
Slippin’ And Slidin’ (Bocage•Collins)
Long Tall Sally
(Blackwell•Marascalco•Penniman)
08 Miss Ann (Johnson•Penniman)
09 Oh Why? (Scott)
10
11
2:07
2:03
2:38
2:07
2:15
2:06
Rip It Up (Blackwell•Marascalco)
2:22
Jenny Jenny (Johnson•Penniman)
2:00
12 She’s Got It (Marascalco•Penniman)
2:25
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Tito Puente And His Orchestra
Dance Mania,vol.1 (1958)
Selo | BMG
Produção | Não consta
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 38:41
Quando Tito Puente morreu, em 2000, aos 77 anos, era conhecido pelas gerações mais novas como o autor de “Oye Como
Va”, um clássico do rock/R&B regravado por Santana, e também
por ter aparecido no episódio do final de temporada do desenho
Os Simpsons. Mas, antes disso, o compositor, líder de banda e
mestre dos címbalos, era o Rei do Mambo. E Dance Mania, seu
disco mais vendido – e o primeiro que dedicou inteiramente à
música para dançar –, mostra o porquê.
Puente já tinha estado à frente de uma big band por mais de
uma década quando foi a Nova York para gravar Dance Mania. Os
amantes do jazz conheciam há tempos a síntese dançante que
esse porto-riquenho-americano fazia dos ritmos afro-cubanos,
dos princípios do jazz e das tradições musicais de seus ancestrais. Agora, o resto do mundo estava começando a entender sua
música.
Dance Mania também marcou a estréia do vocalista da
banda de Puente, Santitod Colón, que, com sua voz sedutora,
podia incendiar ou seduzir o público. “EI Cayuco”, a faixa de
abertura, desliza pelas ruas dos subúrbios com um sincopado
bem orquestrado, instigado pelo hipnótico trabalho de Puente
nos címbalos e pelo toque destacado da trompa. Puente mostra
seu talento de percussionista em várias outras faixas extraordinárias de estilos diversos: na instrumental “Hong Kong Mambo”,
ele toca marimba como gosta, enquanto na majestosa “Estoy
Lista de músicas
01
03
2:33
3:18
3-D Mambo (Mambo Jazz Instrumental)
(Santos)
2:23
04 Llegó Miján (Son Montuno) (Puente)
3:10
05 Cuando Te Vea (Guaguanco) (Puente)
4:10
06
Hong Kong Mambo (Puente)
3:42
07 Mambo Gozón (Puente)
2:44
08 Mi Chiquita Quierre Bembé
(Cha Cha Cha Bembé) (Puente)
3:55
09
Siempre Junto A Ti” enquadra toda a música em seu vibrafone
fluido e, muitas vezes, contido. YK
El Cayuco (Son Montuno) (Puente)
02 Complicación (Aguabella)
10
11
Varsity Drag (Mambo Jazz International)
(Brown•DeSylva•Henderson)
2:48
Estoy Siempre Junto A Tí (Bolero) (Delgado)
3:10
Agua Limpia Todo (Guaguancó) (Aguabella)
12 Sacu Tu Mujer (Guaracha) (Puente)
2:55
3:02
Anos 1950 36 | 37
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Billie Holiday | Lady In Satin (1958)
Selo | Columbia
Produção | Irving Townsend
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 39:10
Será que Lady In Satin é apenas um retrato voyeurista de uma
artista em declínio ou um pedaço visceral da alma exposta de
uma das mais talentosas cantoras de jazz? Admitindo qualquer
uma dessas hipóteses, o fato é que o vigor das gravações da
“Lady Day” para a Verve, em 1930, já ia de longe sendo substituído pela amargura de uma cantora lutando contra o sério
vício em heroína. Holiday estava agora mais para uma senhora
de 70 anos do que para uma estrela de 40 tentando aos poucos
retomar a carreira, e o arranjador Ray Ellis não estava, a princípio,
nada satisfeito com sua voz cheia de falhas.
What Love Is” e “Glad To Be Unhappy” até sobrar apenas a emo-
“Tenho que adaptar a melodia
ao meu jeito de cantar.”
ção, Holiday canaliza seu orgulho junkie para os blues mais
Billie Holiday, 1939
No entanto, ao desnudar standards como “You Don’t Know
sinceros já gravados. São canções-guia, diferentes de tudo que o
jazz já havia cantado antes: o amor é pintado como loucura,
desespero, resignação, com uma brutal honestidade. Não é
surpresa que este seja o disco favorito de Holiday e tenha se
tornado o testamento e o desejo final de um mito.
Os arranjos de cordas “acetinados” de Ellis parecem querer
expor as cicatrizes da voz de Holiday, mas, na verdade, acentuam
sua habilidade singular para colocar swing em qualquer
acompanhamento, mesmo os mais cafonas. Quando ela estica as
Lista de músicas
01
02 For Heaven’s Sake
(Bretton•Edwards•Meyer)
03
04
sílabas até um suspiro de reprovação em “I’m A Fool To Want You”,
é como se estivesse perdida nas suas próprias freqüências do
blues. Há algo de fascinantemente terrível neste álbum, tão
hipnótico e angustiante como assistir a um viciado se drogando.
Mas sem Lady In Satin não existiriam, nas décadas seguintes,
divas como Nina Simone ou Janis Joplin, dispostas a abrir seu
coração sem concessões. MK
38 | 39 Anos 1950
I’m A Fool To Want You
(Herron•Sinatra•Wolf)
3:23
3:26
You Don’t Know What Love Is (Depaul•Raye)
3:48
I Get Along Without You Very Well
(Carmichael)
2:59
05 For All We Know (Coots•Lewis)
2:53
06 Violets For Your Furs (Adair•Dennis)
3:24
07
08
You’ve Changed (Carey•Fisher)
3:17
It’s Easy To Remember (Hart•Rodgers)
4:01
09 But Beautiful (Burke•Van Heusen)
10
11
4:29
Glad To Be Unhappy (Hart•Rodgers)
4:07
I’ll Be Around (Wilder)
3:23
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Jack Elliott
Jack Takes
The Floor (1958)
Sarah Vaughan
Sarah Vaughan
At Mister Kelly’s (1958)
Selo | Topic
Produção | Bill Leader • Dick Swettenham
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 31:45
Selo | EmArcy
Produção | Bob Shad
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 37:00
Este disco é uma faísca no motor da música moderna. Jack Takes
Sarah Vaughan já era uma das mais adoradas divas do jazz
The Floor (mais tarde relançado com o nome de Muleskinner) foi
quando fez uma temporada de uma semana no Mister Kelly’s,
gravado sem formalidades na Topic Records, em Londres. Jack
uma badalada casa noturna de Chicago, no verão de 1957. Ella
inicia cada música com introduções lentas e oblíquas, e só isso já
Fitzgerald se embrenhava cada vez mais no swing e Billie Holiday
vale o preço do disco. Sua técnica na guitarra era uma aula para
mergulhava no lirismo, e nenhuma cantora de jazz se comparava
os “cantores de folk” que arranhavam as cordas na época, mas
a Vaughan em sua voz impecável e suntuosa sonoridade. Uma
também deixou marcas, mais adiante, na música popular em si.
virtuose com total controle de diapasão, timbre e dinâmica, ela
O álbum junta um panteão de fontes então pouco conhe-
usava sua rica voz de contralto como uma trompa, embelezando
cidas – como Jesse Fuller, Reverend Gary Davis, canções dos
as melodias com uma imaginativa estrutura de composição,
trabalhadores negros das fazendas e blues de penitenciária – e é
típica dos melhores improvisadores instrumentais do jazz.
incrivelmente afiado. A beleza crua e sem enfeites de “Dink’s
Conhecida como “Sassy” por sua irreverência, Vaughan foi
Song” e “Black Baby” continua arrepiante. “Mule Skinner’s Blues”
uma peça-chave na criação do bebop, embora nem sempre
e “San Francisco Bay Blues” se tornaram a marca registrada do
receba esse crédito. Ela funcionava melhor quando acompa-
trabalho de Elliott.
nhada por poucos músicos e nunca cantou com um trio tão bom
Jack tocava com freqüência com Woodie Guthrie nos anos
quanto o que levou para o Mister Kelly’s, composto pelo subesti-
50. Depois de se instalar em Nova York, em 1951, ele conheceu
mado pianista Jimmy Jones, o monstro do baixo Richard Davis e
um rapaz no quarto de hospital de Guthrie que, mais tarde,
o moderno baterista de jazz Roy Haynes, que fazia um contra-
anunciaria seu primeiro show na cidade em cartazes dizendo:
ponto perfeito para Vaughan com suas entradas peculiares e
“Filho de Jack Elliott – Bob Dylan.” Em Chronicles, Dylan descreve
luminosas.
a primeira vez que ouviu este disco: “Parecia que eu tinha sido
O CD Sarah Vaughan At Mister Kelly’s, lançado em 1991 pela
jogado de repente no inferno... sua voz salta de todos os lados... e
EmArcy, justifica plenamente as reedições. Contém o dobro de
ele toca a guitarra sem esforço, num estilo limpo e perfeito...”
músicas do original. Vaughan está inefável em “September In
Paul McCartney, Mick Jagger e Keith Richards também
The Rain” e sensual em “Honeysuckle Rose”. Quando esquece a
reconheceram a influência de Jack. Uma pequena maravilha: este
letra em “How High The Moon”, tem presença de espírito e ofe-
álbum continua tão atraente como em 1958. SJar
rece alguns improvisos em homenagem a Ella Fitzgerald. AG
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Ella Fitzgerald
Sings The Gershwin
Song Book (1959)
Ray Charles
The Genius
Of Ray Charles (1959)
Selo | Verve
Produção | Norman Granz
Projeto gráfico| Bernard Buffet
Nacionalidade | EUA
Duração | 194:10
Selo | Atlantic
Produção | Nesuhi Ertegun
Projeto gráfico | Marvin Israel
Nacionalidade | EUA
Duração | 37:58
Em 1946, Norman Granz colocou Ella Fitzgerald, então com 28
Durante os anos 50, Ray Charles não conseguia sentar ao piano
anos, sob sua proteção, escalando a cantora para participar de
sem inventar um novo estilo de música. Embora tenha se
uma série de shows organizada por ele só com estrelas do jazz,
tornado conhecido do mainstream (ou melhor, dos brancos) com
conhecida como Jazz At The Philharmonic. No entanto, a fama de
o sucesso comercial de “What’d I Say”, Charles era um veterano do
Ella só se tornou incontestável quando Granz a contratou, pelo
circuito de música negra dos EUA e havia desenvolvido ao longo
seu selo Verve, para fazer uma coleção de álbuns com a obra dos
do caminho uma fusão revolucionária de blues, jazz, R&B e
melhores compositores americanos – entre eles Richard Rodgers
gospel. Quando ele lançou o seu terceiro LP, a soul music já tinha
e Duke Ellington.
as digitais desse monstro sagrado.
Se um pouco da malícia de Cole Porter se perdeu na
A classificação dos gêneros musicais parecia fútil, portanto,
interpretação de Ella Fitzgerald, e nem todas as músicas de
quando Charles entrou no estúdio, no final de 1959. Na essência,
Rodgers e Hart mereceram sua atenção, as melodias incompará-
ele era um inventor dos sentidos. The Genius... começa com força,
veis de Gershwin e o jeito à vontade de cantar da diva foram
com uma apimentada série de seis músicas ao melhor estilo das
feitos um para o outro. A terna “Oh, Lady, Be Good!” é uma
big bands, da qual se destacam os metais elegantes e as linhas de
revelação, uma interpretação próxima às aulas de scat que Ella
baixo de “Let The Good Times Roll”e “Alexander’s Rag Time Band”.
daria em seus shows durante anos; a lenta “Embraceable You” é,
Com arranjos de Quincy Jones e acompanhamento de alguns
da mesma forma, envolvente. Mas é nas músicas rápidas que ela
dos integrantes das bandas de Count Basie e Duke Ellington, este
brilha. O swing que Ella emprestava, sem esforço, a tudo o que
disco tornou Charles responsável pela música mais bem elabo-
cantava encontra o seu melhor em “Clap Yo’ Hands”, “Bidin’ My
rada da época.
Time” e na deliciosa “‘S Wonderful”; vale ouro o tempero que ela
No lado B, Charles pegou um rumo mais sedutor, com uma
acrescenta à contraposição boba de salsaparilla/sasparella dos
série de baladas ancoradas por um naipe de cordas deslum-
versos de Ira Gershwin em “Let’s Call The Whole Thing Off”. Riddle,
brante e um coro de vozes de sereias. Seu domínio musical em
no auge de sua criatividade depois de vários discos com Frank
clássicos como “Just For A Thrill”e “Come Rain Or Come Shine”era
Sinatra, mostra-se inspirado. Este álbum é o melhor da coleção
admirável para alguém ainda na casa dos 20 anos, e marcou
Song Book e apresenta a seleção definitiva da obra daquele que
tanto sua vontade como sua capacidade de transcender os
é, talvez, o compositor americano definitivo. WF-J
gêneros sem esforço. MO
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Miles Davis | Kind Of Blue (1959)
Selo | Columbia
Produção | Irving Townsend
Projeto gráfico| Jay Maisel
Nacionalidade | EUA
Duração | 45:52
Às vezes, a badalação exagerada em cima de um álbum o
sufoca. Adjetivos fáceis como “clássico”, “inovador” ou “marcante” são atribuídos por aí com muita facilidade e, em meio a isso,
pode-se perder o verdadeiro valor do material original. Ainda
bem que Kind Of Blue não precisa dessa advertência – trata-se
de um momento que definiu um gênero musical do século 20 e
ponto final.
Davis tocava com o saxofonista John Coltrane desde 1955
e, nos anos seguintes, eles afiaram sua música até chegar a Kind
Of Blue.
Gravadas no estúdio da Columbia, na 30th Street, em Nova
York, as cinco faixas ocuparam duas sessões de nove horas, um
tempo notável para uma banda que nunca tinha visto as partituras antes – um truque usado com freqüência por Davis para
fazer os músicos se concentrarem mais em suas performances. Ele
também acreditava em poucos ensaios e,assim,conseguia levar os
instrumentistas a uma brilhante espontaneidade.
“Não ligo para o que os críticos
falam de mim, seja bem ou mal.
Eu sou o meu crítico mais exigente...
sou vaidoso demais para tocar qualquer
coisa que não considere boa.”
Miles Davis, 1962
Desde a abertura em meio-tempo de “So What”, o álbum
apresenta um leque variado de estilos, como a espantosa “Blue In
Green”, com Wynton Kelly tocando piano suavemente para acompanhar os lamentos do trompete de Davis, e a languidez da espanholada “Flamenco Sketches”. A banda estava tão afinada que
foram necessários apenas seis takes para gravar as cinco faixas –
apenas “Flamenco Sketches”precisou de uma nova rodada.
O álbum foi celebrado desde o lançamento. Mas nem Miles é
infalível. Três faixas foram gravadas no tom errado (o que seria
Lista de músicas
01
So What (Davis)
consertado mais tarde, nos relançamentos). Como se alguém
02 Freddie Freeloader (Davis)
tivesse notado. SJac
03 Blue In Green (Davis)
04 All Blues (Davis)
05
42 | 43 Anos 1950
Flamenco Sketches (Davis)
9:25
9:49
5:37
11:35
9:26
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Marty Robbins
Gunfighter Ballads And Trail Songs (1959)
Selo | CBS
Produção | Don Law
Projeto gráfico| Howard Fritzson
Nacionalidade | EUA
Duração | 35:53
Martin Robinson reclamou muitas vezes de sua infância infeliz.
Uma coisa boa que ela lhe ensinou, porém, foi amar o Oeste
americano. Robinson foi criado na empoeirada Glendale, no
Arizona, e saía escondido do irmão, com quem trabalhava como
tratador de cavalos, para ver os filmes de Gene Autry. Depois de
vários sucessos comerciais durante os anos 50 (incluindo “Singing
The Blues”, que chegou ao primeiro lugar nas paradas ao mesmo
tempo na voz de Robinson e na versão de Guy Mitchell), e
rebatizado como Robbins, ele resgatou a influência do western
para lançar este disco, que quebrou padrões e estabeleceu novas
referências.
Gravado num único dia com uma banda pouco conhecida
“Eu desprezo o trabalho honesto.”
Marty Robbins, 1982
mas bem azeitada, Gunfighter Ballads And Trail Songs é uma
homenagem ao Velho Oeste. Algumas faixas cantam histórias
tradicionais, em particular “Billy The Kid” e “The Strawberry Roan”.
O que destaca este disco são as quatro músicas escritas por
Robbins, cantadas daquele seu jeito suave e inconfundível. “Big
Lista de músicas
01
Big Iron (Robbins)
4:03
02 Cool Water (Nolan)
3:16
mitológico das telas de cinema, que foi apresentado a Robbins
03 Billy The Kid (Trad., arr. Robbins)
2:25
por seu avô, um patrulheiro do Texas, quando ainda era criança.
04 A Hundred And Sixty Acres (Kapp)
1:47
“El Paso” é a história, contada na primeira pessoa, de como
05 They’re Hanging Me Tonight (Lowe•Wolpert)
3:11
lron” é uma canção que evoca de forma maravilhosa o Oeste
Robbins atirou num forasteiro numa disputa pelo amor de uma
mexicana. Essa música ganhou o primeiro Grammy concedido a
06
07
The Strawberry Roan (Trad.)
3:30
El Paso (Robbins)
4:26
uma canção country; o LP serviu de modelo para um sem-
08 In The Valley (Robbins)
1:53
número de álbuns country lançados depois.
09 The Master’s Call (Robbins)
3:13
10 Running Gun (J. Glaser•T. Glaser)
2:17
também como ator, apresentador de TV, escritor (lançou o livro
11
2:32
The Small Man) e piloto de stock-car. WF-J
12 Utah Carol (Trad.)
Robbins continuou a fazer sucesso: nas paradas, claro, mas
44 | 45 Anos 1950
The Little Green Valley (Robinson)
3:18
006 1001 Discos BR 50s
5/29/07
2:57 PM
Page 45
.
The Dave Brubeck Quartet
Time Out (1959)
Selo | Columbia
Produção | Teo Macero
Projeto gráfico| Não consta
Nacionalidade | EUA
Duração | 38:21
A última coisa que Dave Brubeck esperava quando entrou no
estúdio, em 1959, com uma pilha de músicas mal-ajambradas
era fazer sucesso. O pianista de óculos já tinha construído um
invejável império de fãs com seus concertos pioneiros em
universidades. Um experimentador cheio de vida, que nunca
deixou a popularidade interferir em sua inspiração, Brubeck
gravou um dos mais populares discos de jazz de todos os
tempos com um material que não valia muito, para dizer o
mínimo.
Na faixa “Take Five”, concebida previamente no compasso
5/4, pouco apropriado ao swing, o pianista se mantém num
improviso percussivo permanente, enquanto o sax alto de Paul
Desmond navega em uma linha sinuosa. Muitas vezes, Brubeck
não é a estrela do trabalho. Poucos se lembram que Desmond –
que, com seu estilo seco, teve um papel importante no sucesso
“Espero pelo dia em que tiver
gravado tudo o que compus,
mas acho que esse dia não vai chegar.”
Dave Brubeck, 2002
do quarteto – é o autor desse inesquecível hit. Da mesma forma,
é fundamental a bateria segura de Joe Morello e a solidez do
baixo de Eugene Wright, que transformaram um material difícil
como “Blue Rondo À La Turk”, no compasso 9/8, e “Three To Get
Ready”, que oscila entre 3/4 e 4/4, em uma matéria-prima fundamental do jazz. É bom lembrar que, nessa época, John Coltrane,
Cecil Taylor e Ornette Coleman estavam abrindo os caminhos do
free jazz.
Na lógica defensiva dos críticos de jazz, Brubeck muitas vezes
Lista de músicas
01
Blue Rondo À La Turk (Brubeck)
02 Strange Meadow Lark (Brubeck)
03
Take Five (Desmond)
6:44
7:22
5:24
foi considerado maldito, e perdeu ainda mais valor com o
04 Three To Get Ready (Brubeck)
sucesso que Time Out fez entre o público em geral. Mas o álbum
05 Kathy’s Waltz (Brubeck)
5:24
4:48
continua vendendo bem até hoje e, apesar de seu uso excessivo
06 Everybody’s Jumpin’ (Brubeck)
4:23
em anúncios, representa um feito fascinante. AG
07 Pick Up Sticks (Brubeck)
4:16
Anos 1950 44 | 45
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