I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES SOCIOECONÔMICAS DA ZONA DA MATA DE 1 MINAS GERAIS (1991 - 2000): UMA PROPOSTA METODOLÓGICA José Flávio Morais Castro 2 Thiago Leonardo Soares3 1. INTRODUÇÃO A Zona da Mata de Minas Gerais é uma região que exerceu função de destaque nos cenários histórico e socioeconômico do Estado. Região que foi berço da extração do ouro no século XVIII e que, com o declínio do ciclo do ouro, especializou-se ao longo do século XIX na agricultura e na pecuária. No século XX, a atividade agropecuária declinou, produzindo estagnação socioeconômica em diversas atividades. A Zona da Mata, polarizada pelo município de Juiz de Fora, tem localização privilegiada no Estado de Minas Gerais e no Brasil, apresenta infra-estrutura relativamente em boas condições, que favorece acesso a mercados. A região, cortada por importantes rodovias federais e estaduais, se encontra próxima a importantes metrópoles como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, localização esta que a torna sensível às mudanças no processo socioeconômico. Devido a essa dinâmica apresentada pela região ao longo dos anos, torna-se oportuno avaliar as condições socioeconômicas e delimitar as áreas de influências dos pólos regionais nos anos de 1991 e 2000. A análise das potencialidades socioeconômicas da Zona da Mata de Minas Gerais (1991 – 2000) será elaborada com base em modelos de interação espacial, em particular, a Análise de Componentes Principais (ACP) e o Modelo Potencial, com vistas à identificação de relações estruturais complexas e de padrões espaciais, tais como: polarizações, potencialidades, áreas de influência, hierarquias, etc., oferecendo subsídios metodológicos e técnicos para o planejamento e o gerenciamento do espaço e para as tomadas de decisões políticas. 1 Projeto de pesquisa financiado pela FAPEMIG (Processo APQ-00847-08) e pelo CNPq (No. 400109/2008-5) 2 Coordenador da Pesquisa e Professor Adjunto III do Programa de Pós-Graduação em Geografia-Tratamento da Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) - [email protected] 1 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA Utilizando-se variáveis socioeconômicas ligadas à demografia, à economia, à saúde, à habitação, entre outras atividades, para os anos de 1991 e 2000, será possível analisar a evolução temporal e espacial das informações e avaliar a dinâmica socioeconômica da região. Do ponto de vista técnico-operacional, será criado um banco de dados socioeconômicos por município em Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s), que permitirá a realização da análise espacial e do tratamento da informação espacial. 1.1. Objetivos São objetivos da pesquisa: - analisar a dinâmica e a infra-estrutura socioeconômica a partir de indicadores socioeconômicos da Zona da Mata, nos anos de 1991 e de 2000; - identificar as polarizações e as potencialidades da região; - delimitar áreas de influência dos pólos regionais; 1.2. Aspectos Históricos, Socioeconômicos e Ambientais da Região A mesorregião Zona da Mata abrange uma área de 35.726 km², cerca de 6% do Estado de Minas Gerais. Localiza-se a sudeste do Estado e é dividida em 7 microrregiões: Ponte Nova e Manhuaçú em sua porção setentrional; Viçosa, Ubá e Muriaé na região central; e Juiz de Fora e Cataguases ao sul, constituída por 142 municípios (Fig. 1). Os aspectos históricos da Zona da Mata estão associados ao período da colonização do Brasil. Por volta de 1572, Sebastião Fernandes Tourinho reuniu cerca de 400 homens para subir o Rio Doce em busca de pedras preciosas. Essa primeira expedição registrada com entrada pelo Rio Doce foi descrita em detalhes por Gabriel Soares de Souza em Notícias do Brasil de 1587 (TEIXEIRA, 2002). 3 Aluno de Graduação do Curso de Geografia com Ênfase em Geoprocessamento – PUC Minas Contagem e bolsista de Iniciação Científica pela FAPEMIG (PIBIC) - [email protected] 2 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA Figura 1 – Mapa de localização da Zona da Mata em relação às mesorregiões e às microrregiões do Estado de Minas Gerais. Por volta de 1680, os primitivos habitantes de arraiais fundados por Fernão Dias Pais e pelos expedicionários vindos de São Paulo começaram a explorar áreas de fácil acesso, a procura do ouro, percorrendo os vales dos rios Pará, Paraopeba e das Velhas, bem como tributários da alta bacia do rio Doce, em especial, o alto rio Piranga (SOUZA, 2000). 3 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA Segundo Carrara (1999), “ao longo do século XVIII, dois modos de produção fixaram-se no território da Capitania de Minas Gerais: o escravista e o camponês” O processo de colonização e ocupação da Zona da Mata pode ser dividido em dois momentos: o primeiro, com a abertura do Caminho Novo por Garcia Rodriguez Paes Lemos, no início do século XVIII e, o segundo, no vale do rio Pomba em meados do mesmo século, em uma expedição liderada pelo sertanista Inácio de Andrade Ribeiro (LAMAS, 2006). Com o declínio da mineração aurífera no final do século XVIII, os investimentos migraram para a agricultura e pecuária, até mesmo como forma de abastecimento nas regiões das minas (BLASENHEIN, 1982). No início do século XX a economia na Zona da Mata já sentia as mudanças negativas na produção cafeeira, que atingia pouco mais de 40%, praticamente metade da produção na década anterior. Nas décadas de 1930 e 1940 o Estado de Minas Gerais passou por um processo de concentração de investimentos nas regiões de extração mineral e produção siderúrgica. Segundo o estudo do BDMG (2001), a década de 1970 foi marcada por uma arrancada industrial em Minas Gerais e implantações de vários projetos de largo alcance socioeconômico, entretanto, estas mudanças não acontecem na região da Zona da Mata. Ainda, segundo o referido estudo, o Programa de Desenvolvimento Rural Integrado da Zona da Mata - PRODEMATA – financiado pelo Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), foi criado para combater a pobreza absoluta e recuperar a produção agropecuária em áreas de concentração de pequenos produtores, no entanto, este programa teve pouca eficiência na conclusão de seus objetivos. Em 2002, a Zona da Mata se encontrava em 4° lugar no PIB Estadual, com um total de R$ 9.873.212, tendo a posição ameaçada pela Região de Planejamento Rio Doce, que já alcançava um valor de R$ 8.766.084 (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2002). Liderado pelo município de Juiz de Fora a região Centro-Sul da Zona da Mata detém os melhores indicadores socioeconômicos, com uma infra-estrutura e padrão de dinamismo diversificados das demais regiões. Suas indústrias de maior destaque atuam na metalurgia do zinco com a empresa Companhia Paraibuna de Metais; na siderurgia com a empresa Belgo-Mineira e no setor automobilístico com a Mercedes 4 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA Benz. O município de Ubá fica com o destaque para a indústria moveleira, ocupando o quarto lugar como pólo moveleiro do Brasil e Cataguases com a indústria têxtil e a produção de energia elétrica. Os indicadores socioeconômicos também são maiores nessa região. Juiz de Fora e Viçosa ocupam índices acima de 0.80 em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal em 2000 (IDH-M), considerados como alto desenvolvimento segundo a classificação internacional. Dos 140 municípios restantes, 51 tiveram índices entre 0.64 e 0.70; 65 com índices entre 0.70 e 0.75 e 26 entre 0.75 e 0.80, todos classificados como médio desenvolvimento (CARNEIRO; FONTES, 2005). A Zona da Mata contou com uma população aproximada de 2,033 milhões de habitantes em 2000, cerca de 11,5 % da população mineira, ocupando a terceira posição de região mais populosa do Estado, onde apresentava uma densidade populacional de 57hab/km². Somente a microrregião de Juiz de Fora abarcava 1/3 dessa população, a região mais povoada, chegando a uma densidade demográfica de 74,44 hab/km². Há uma predominância de municípios de pequeno porte, cerca de 70% dos 142 municípios possuem uma população inferior a 10 mil habitantes e apenas 7 municípios possuíam uma população superior a 50 mil (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2002). Os aspectos ambientais da Zona da Mata revelam dinâmicas peculiares. No que diz respeito a hidrografia, a região se encontra inserida em duas importantes bacias hidrográficas: Rio Doce e Rio Paraíba do Sul. A primeira compreende uma maior área, ao norte da região, formada pelos rios Gualaxo do Sul e do Norte, Carmo, Casca, Manhuaçu, Matipó e Piranga. A segunda localiza-se à leste e ao sul, formada pelos rios Murié, Paraíba do Sul, Paraibuna, Pomba e Rio Preto (Fig. 2). As altitudes da região variam de 2.889 metros no Pico da Bandeira em Alto Caparaó, na região nordeste na divisa de MG-ES, até altitudes que giram em torno de 100 metros nos vales do rio Pomba. O relevo se encontra de ondulado à forte ondulado nas partes mais baixas, em altitudes que variam entre 300 e 500 metros. Próximo a região de Ervália, as altitudes que variam de 800 a 900 metros apresentam um relevo fortemente ondulado e montanhoso. Altitudes superiores a 1.500 metros são encontradas ao norte com o destaque para o Maciço do Caparaó (CARNEIRO; FONTES, 2005). 5 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA Figura 2 – Mapa de localização da Zona da Mata em relação às bacias hidrográficas do Estado de Minas Gerais Segundo o IBGE (2002), o clima da região é bastante variado, recebendo forte influência da variação altimétrica. O clima pode ser Quente (Semi-úmido com 4 a 5 meses secos, com média acima de 18°C durante todo ano), Subquente (Semi-úmido com 4 a 5 meses secos e Úmidos com 1 a 3 meses secos e pelo menos 1 mês com temperatura média entre 15 e 18°C) e Mesotérmico brando (clima Úmido de 1 a 3 meses secos e Semi-úmido de 4 a 5 meses secos, com temperaturas médias entre 10 a 15°C). A vegetação caracteriza-se por Floresta Estacional Semidecidual, que ocorre sob um clima tropical estacional (RADAMBRASIL, 1983). Segundo Veloso e Góes (1982) esse conceito ecológico da Região de Floresta Estacional remete ao clima de duas estações, uma chuvosa e outra seca. O conjunto arbóreo dominante possui uma adaptação fisiológica à deficiência hídrica ou à temperaturas baixas durante longo período. A ação antrópica substituiu quase toda vegetação original da região por Vegetação Secundária, pastagens e agricultura. Em algumas poucas áreas, ainda são encontrados remanescentes, protegidos por lei, da vegetação original, como é o caso da Serra do Caparaó. Trata-se do Refúgio Ecológico, que apresenta um grande número de agrupamento remanescente da Floresta Montana. 6 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA 2. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA 2.1. Análise de Componentes Principais (ACP) A Análise de Componentes Principais (ACP)4 pode ser empregada para se conhecer a estrutura espacial de uma região (Fig. 3), por meio da transformação das variáveis espaciais em um espaço euclidiano. A ACP, um dos procedimentos da Análise Fatorial, consiste em um método de redução de um conjunto de dados multivariados em componentes, denominados principais, que minimizam a redundância existente entre variáveis, por meio de transformações lineares da matriz, de tal modo que as novas variáveis geradas sejam não correlacionadas entre si, mas expressam sua variabilidade. Para Abreu e Barroso (1980, p. 20), “a ACP procura fazer p combinações lineares das p variáveis X1, X2, ..., Xp, tais que cada uma delas capte o máximo possível da variação da matriz de dados X e, simultâneamente, cada componente permaneça linearmente independente dos demais”. Figura 3 – Mapa da Infra-Estrutura Sócio-Econômica do Sul de Minas no ano de 1991, obtido a partir da Análise de Componentes Principais (ACP); segundo Castro (2000) 4 Veja mais detalhes em: Berry e Marble (1968); Abler et al. (1971); Ceron (1977); Abreu e Barroso (1980); Gerardi e Silva (1981); Diniz (1984); Abreu e Alvim (1986-987); Landim (1997); Simão (1999); Castro (2000); entre outros. 7 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA A ACP corresponde ao “cálculo dos autovalores e correspondentes autovetores de uma matriz de variâncias-covariâncias. Nessa matriz simétrica, os elementos da diagonal principal são as variâncias das variáveis e os demais elementos, valores de covariâncias entre pares de variáveis. (...). Se cada variável medida pode ser considerada como um eixo de variabilidade, estando usualmente correlacionada com outras variáveis, esta análise transforma os dados de tal modo a descrever a mesma variabilidade total existentes, com o mesmo número de eixos ortogonais, porém não mais correlacionados entre si” (Landim, 1997). 2.2. Modelo Potencial Um dos elementos que definem o crescimento urbano e regional é a interdependência entre os centros urbanos. Esta interdependência gera interação espacial entre as diversas atividades econômicas dos centros urbanos. Para ocorrer interação entre duas áreas, é necessária a existência de oferta em uma e procura na outra. Assim, um sistema que explique a interação pode ser baseado em três fatores: complementaridade - uma função ou diferenciação de área promovendo interação espacial; complementaridade interveniente (ou oportunidades) entre duas regiões ou lugares; e, distância, medida em termos reais incluindo custo e tempo de transporte (ULLMAN, 1974). Os modelos de interação espacial visam basicamente avaliar e analisar a interação entre pontos e regiões distribuídas em um espaço geográfico. Entre os modelos de interação espacial, dois merecem destaque: os modelos gravitacionais e os potenciais5. Segundo Isard (1973), nestes modelos a região é considerada como um todo e as relações interregionais são concebidas como interações entre massas. Segundo Ferreira (1989), as hipóteses do modelo são as de que as interações entre os indivíduos em suas atividades são proporcionais às massas ou populações entre as cidades, porque quanto maior os aglomerados humanos, provavelmente maior deve ser a comutação, sob diversos aspectos, entre esses aglomerados. 8 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA Por outro lado, a fricção da distância, ou seja, o custo e o sacrifício em deslocar-se no espaço, reduz, paulatinamente, aquela comutação, à medida que a distância entre dois pontos for maior. Assim, admite-se que a interação seja inversamente proporcional à distância. A utilização da variável massa pelo modelo e da variável distância tornam-se grandes indicadores de polarizações regionais, sub-regionais, etc. A identificação de pólos de desenvolvimento requer uma pesquisa da estrutura atual do espaço econômico, mostrando as interdependências diretas e indiretas entre as cidades de um subespaço. É obviamente indispensável explicar o desenvolvimento dos centros dominantes e suas periferias. A importância de um centro depende da magnitude e do tipo dos fluxos econômicos, políticos e sociais que ele atrai; por isso, são chamados de pólos de atração (Ferreira, 1989). Segundo Abreu (1991), os modelos de interação espacial são caracterizados pelos seguintes princípios gerais: a) o volume dos fluxos depende do tamanho das “massas” envolvidas; b) os diferenciais de atração e repulsão das origens e destinos determinam o volume dos fluxos; e, c) o volume dos fluxos depende da distância entre origens e destinos. Dentre os modelos de interação espacial, o Modelo Potencial, amplamente utilizado na análise espacial, consiste em um dos métodos utilizados para medir áreas de influência de um pólo, através da força de atração que este exerce sobre os centros urbanos que compõem uma região. O modelo surgiu, nas Ciências Sociais, a partir de uma analogia com a lei gravitacional de Newton (Isard, 1973) e corresponde ao cálculo dos índices de interações entre duas regiões ou pontos geográficos. Assim, o potencial final de cada município é resultado da interação de cada município i com os demais n municípios que compõem a região, somado ao potencial próprio da cada município i. Estes potenciais apresentam uma hierarquia de centros urbanos, destacando os pólos regionais e suas respectivas áreas de influência. O primeiro critério para se estabelecer uma hierarquia ou um escalonamento entre os pólos se baseia nas suas áreas de influência: quanto maior sua área de influência, mais elevada será a posição hierárquica ou o escalão do centro. Os limites das áreas de influência podem ser traçados por meio de isolinhas (isócronas) de 5 Mais detalhes a respeito destes modelos podem ser encontrados em: Isard (1973); Richardson (1973); Ribeiro e Barreto Neto (1976); Hilhorst (1981); Mello e Silva (1982); Abreu (1982, 1991); Machado (1984); Abreu e Lima (1988); Ferreira (1989); Castro (1986,1987 e 2000); Abreu e Alvim (1986-1987); entre outros. 9 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA distâncias medidas em unidades de tempo, ligando-se os pontos onde cada fluxo apresente a mesma intensidade. A partir do cálculo dos potenciais iV da sub-área i e as demais sub-áreas da região, são traçadas as curvas de isopotenciais que determinam os campos de força de cada centro em diversos níveis. Segundo Ferreira (1989), partindo-se das isopotenciais, podem-se finalmente estabelecer os delineamentos das áreas de influência dos centros e, portanto, o sistema de interdependência. As isopotenciais são traçadas em torno de um dado centro. A partir do valor do potencial do próprio centro, seus valores decrescem à medida que se afastam do mesmo. Uma isopotencial corresponde ao lugar geométrico dos pontos com o mesmo valor numérico para o potencial (Fig. 4). Figura 4 – Mapa do Potencial Sócio-Econômico e as áreas de Influências do Sul de Minas no ano de 1991, obtido a partir do Modelo Potencial; segundo Castro (2000). 10 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA 3. METODOLOGIA 3.1. Dados e Técnicas Para a análise da Infra-Estrutua Socioeconômica e das Áreas de Influências da Zona da Mata de Minas Gerais serão utilizados os seguintes bancos de dados e documentos: - Fundação João Pinheiro (FJP) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA): Condições de Vida nos Municípios de Minas Gerais (1991). - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fundação João Pinheiro (FJP): Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (1991 e 2000) - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Malha Municipal Digital do Brasil de 1999. - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censos de 1991 e 2000. - Instituto de Geociências Aplicadas (IGA) / Centro Tecnológico do Estado de Minas Gerais (CETEC), Mapa Geopolítico do Estado de Minas Gerais, 1994. - Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG), Mapa Rodoviário do Estado de Minas Gerais, 1997. O ambiente computacional a ser utilizado, corresponde aos seguintes softwares: para a Análise Espacial os SIG’s ARC GIS e IDRISI, para modelagem dos dados, os softwares STATISTICA, POTEN e SURFER; para a Cartografia Digital, representação cartográfica e desenho digital o AUTOCAD, o MAPINFO, o CORELDRAW e o ADOBE PHOTOSHOP; para estruturação do banco de dados, o EXCEL; e, os hardwares do Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento da Informação Espacial da PUC/MINAS. 3.2. Método A pesquisa envolve a aplicação de métodos da estatística multivariada (CASTRO, 2000) para varáveis socioeconômicas da Zona da Mata em dois anos, 1991 e 2000. O roteiro metodológico proposto (Fig. 5) apresenta, como primeira etapa, a criação do banco de dados socioeconômicos e layers temáticos. 11 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA A Análise Espacial da Zona da Mata de Minas Gerais será estruturada na forma de banco de dados das variáveis socioeconômicas, nos anos de 1991 e 2000. Serão processados dados alfanuméricos (banco de dados socioeconômicos), dados cartográficos (layers temáticos: cartogramas coropléticos - distribuição discreta da informação, cartogramas isopléticos - distribuição contínua) e georreferenciados (projeção/coordenadas), com características de ponto (sede de município) e área (município) para os 142 municípios que integram a região (Fig. 6). Figura 5 - Roteiro metodológico para análise de dados socioeconômicos em sistemas digitais A segunda etapa consiste na análise do comportamento espacial e temporal das variáveis socioeconômicas, por meio da elaboração de cartogramas coropléticos, visando um nível de regionalização e uma análise de conjunto das variáveis. Em seguida, as variáveis são submetidas à Análise de Componentes Principais (ACP), no programa STATISTICA, visando reduzi-las a componentes ou factor scores. Os componentes obtidos na ACP podem sintetizar, a partir da correlação entre as variáveis, a Infra-Estrutura Socioeconômica da Região estudada. 12 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA O passo seguinte caracteriza-se pela aplicação do Modelo Potencial com vistas à identificação de polarizações e das respectivas áreas de influências da Zona da Mata. Adotando-se como variável “massa” socioeconômica os componentes dos municípios, a área de cada município e as distâncias entre as sedes dos municípios, é possível identificar os principais pólos regionais, estabelecer a hierarquia dos municípios e delimitar as áreas de influência. Os potenciais são calculados no programa POTEN e interpolados no programa SURFER, gerando assim cartogramas isopléticos. Figura 6 - Mapa de localização dos municípios que integram a Zona da Mata de Minas Gerais; Fonte: Geominas (2007). 13 I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA CONSIDERAÇÕES FINAIS Este projeto de pesquisa está em andamento e encontra-se na fase de definição das variáveis e de processamento do banco de dados. Trata-se de uma proposta metodológica cujo passo seguinte consistirá na geração da Análise de Componentes Principais e do Modelo de Potencial, com vistas à obtenção e análise dos pólos regionais e das áreas de influências associadas aos pólos. As perspectivas futuras residem na atualização da pesquisa com base nos resultados do Censo de 2010, com vistas a uma análise estratégica da região, na qual se estabelecerá recomendações para planejadores e tomadores de decisão na Zona da Mata Mineira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABLER, R.; ADAMS, J. S. e GOULD, P. Spatial Organization: The Geographer’s View of the World. New Jersey: Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1971, 587 p. ABREU, J. F. e BARROSO, L. C. Projeto Software Básico para Análise Espacial em Geo-ciências. Projeto de Pesquisa, CNPq - IGC/UFMG, Relatório nº 1, Belo Horizonte, 1980. ABREU, J. F. Migration and Money Flows in Brazil - A Spatial Analysis. Tese de Doutorado. University of Michigan, Ann Arbor, 1982. ABREU, J. F. e ALVIM, P. R. J. Determinação de Potencialidades a Nível Espacial para o Estado de Minas Gerais: Resultados Preliminares. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, AGETEO, v. 16-17, n. 31-34, p. 294-301, 1986/987. ABREU, J. F. e LIMA, M. E. 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