Análise das potencialidades socioeconômicas da Zona de Mata de

Propaganda
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES SOCIOECONÔMICAS DA ZONA DA MATA DE
1
MINAS GERAIS (1991 - 2000): UMA PROPOSTA METODOLÓGICA
José Flávio Morais Castro
2
Thiago Leonardo Soares3
1. INTRODUÇÃO
A Zona da Mata de Minas Gerais é uma região que exerceu função de
destaque nos cenários histórico e socioeconômico do Estado. Região que foi berço
da extração do ouro no século XVIII e que, com o declínio do ciclo do ouro,
especializou-se ao longo do século XIX na agricultura e na pecuária. No século XX, a
atividade agropecuária declinou, produzindo estagnação socioeconômica em
diversas atividades.
A Zona da Mata, polarizada pelo município de Juiz de Fora, tem localização
privilegiada no Estado de Minas Gerais e no Brasil, apresenta infra-estrutura
relativamente em boas condições, que favorece acesso a mercados. A região,
cortada por importantes rodovias federais e estaduais, se encontra próxima a
importantes metrópoles como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo,
localização esta que a torna sensível às mudanças no processo socioeconômico.
Devido a essa dinâmica apresentada pela região ao longo dos anos, torna-se
oportuno avaliar as condições socioeconômicas e delimitar as áreas de influências
dos pólos regionais nos anos de 1991 e 2000.
A análise das potencialidades socioeconômicas da Zona da Mata de Minas
Gerais (1991 – 2000) será elaborada com base em modelos de interação espacial,
em particular, a Análise de Componentes Principais (ACP) e o Modelo Potencial, com
vistas à identificação de relações estruturais complexas e de padrões espaciais, tais
como:
polarizações,
potencialidades,
áreas
de
influência,
hierarquias,
etc.,
oferecendo subsídios metodológicos e técnicos para o planejamento e o
gerenciamento do espaço e para as tomadas de decisões políticas.
1
Projeto de pesquisa financiado pela FAPEMIG (Processo APQ-00847-08) e pelo CNPq (No. 400109/2008-5)
2
Coordenador da Pesquisa e Professor Adjunto III do Programa de Pós-Graduação em Geografia-Tratamento da Informação Espacial
da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) - [email protected]
1
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
Utilizando-se variáveis socioeconômicas ligadas à demografia, à economia, à
saúde, à habitação, entre outras atividades, para os anos de 1991 e 2000, será
possível analisar a evolução temporal e espacial das informações e avaliar a
dinâmica socioeconômica da região.
Do ponto de vista técnico-operacional, será criado um banco de dados
socioeconômicos por município em Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s),
que permitirá a realização da análise espacial e do tratamento da informação
espacial.
1.1. Objetivos
São objetivos da pesquisa:
-
analisar a dinâmica e a infra-estrutura socioeconômica a partir de indicadores
socioeconômicos da Zona da Mata, nos anos de 1991 e de 2000;
-
identificar as polarizações e as potencialidades da região;
-
delimitar áreas de influência dos pólos regionais;
1.2. Aspectos Históricos, Socioeconômicos e Ambientais da Região
A mesorregião Zona da Mata abrange uma área de 35.726 km², cerca de 6%
do Estado de Minas Gerais. Localiza-se a sudeste do Estado e é dividida em 7
microrregiões: Ponte Nova e Manhuaçú em sua porção setentrional; Viçosa, Ubá e
Muriaé na região central; e Juiz de Fora e Cataguases ao sul, constituída por 142
municípios (Fig. 1).
Os aspectos históricos da Zona da Mata estão associados ao período da
colonização do Brasil. Por volta de 1572, Sebastião Fernandes Tourinho reuniu cerca
de 400 homens para subir o Rio Doce em busca de pedras preciosas. Essa primeira
expedição registrada com entrada pelo Rio Doce foi descrita em detalhes por Gabriel
Soares de Souza em Notícias do Brasil de 1587 (TEIXEIRA, 2002).
3
Aluno de Graduação do Curso de Geografia com Ênfase em Geoprocessamento – PUC Minas Contagem e bolsista de Iniciação
Científica pela FAPEMIG (PIBIC) - [email protected]
2
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
Figura 1 – Mapa de localização da Zona da Mata em relação às mesorregiões e
às microrregiões do Estado de Minas Gerais.
Por volta de 1680, os primitivos habitantes de arraiais fundados por Fernão
Dias Pais e pelos expedicionários vindos de São Paulo começaram a explorar áreas
de fácil acesso, a procura do ouro, percorrendo os vales dos rios Pará, Paraopeba e
das Velhas, bem como tributários da alta bacia do rio Doce, em especial, o alto rio
Piranga (SOUZA, 2000).
3
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
Segundo Carrara (1999), “ao longo do século XVIII, dois modos de produção
fixaram-se no território da Capitania de Minas Gerais: o escravista e o camponês”
O processo de colonização e ocupação da Zona da Mata pode ser dividido em
dois momentos: o primeiro, com a abertura do Caminho Novo por Garcia Rodriguez
Paes Lemos, no início do século XVIII e, o segundo, no vale do rio Pomba em
meados do mesmo século, em uma expedição liderada pelo sertanista Inácio de
Andrade Ribeiro (LAMAS, 2006).
Com o declínio da mineração aurífera no final do século XVIII, os
investimentos migraram para a agricultura e pecuária, até mesmo como forma de
abastecimento nas regiões das minas (BLASENHEIN, 1982).
No início do século XX a economia na Zona da Mata já sentia as mudanças
negativas na produção cafeeira, que atingia pouco mais de 40%, praticamente
metade da produção na década anterior.
Nas décadas de 1930 e 1940 o Estado de Minas Gerais passou por um
processo de concentração de investimentos nas regiões de extração mineral e
produção siderúrgica.
Segundo o estudo do BDMG (2001), a década de 1970 foi marcada por uma
arrancada industrial em Minas Gerais e implantações de vários projetos de largo
alcance socioeconômico, entretanto, estas mudanças não acontecem na região da
Zona da Mata. Ainda, segundo o referido estudo, o Programa de Desenvolvimento
Rural Integrado da Zona da Mata - PRODEMATA – financiado pelo Banco
Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), foi criado para
combater a pobreza absoluta e recuperar a produção agropecuária em áreas de
concentração de pequenos produtores, no entanto, este programa teve pouca
eficiência na conclusão de seus objetivos.
Em 2002, a Zona da Mata se encontrava em 4° lugar no PIB Estadual, com
um total de R$ 9.873.212, tendo a posição ameaçada pela Região de Planejamento
Rio Doce, que já alcançava um valor de R$ 8.766.084 (FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO, 2002).
Liderado pelo município de Juiz de Fora a região Centro-Sul da Zona da Mata
detém os melhores indicadores socioeconômicos, com uma infra-estrutura e padrão
de dinamismo diversificados das demais regiões. Suas indústrias de maior destaque
atuam na metalurgia do zinco com a empresa Companhia Paraibuna de Metais; na
siderurgia com a empresa Belgo-Mineira e no setor automobilístico com a Mercedes
4
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
Benz. O município de Ubá fica com o destaque para a indústria moveleira, ocupando
o quarto lugar como pólo moveleiro do Brasil e Cataguases com a indústria têxtil e a
produção de energia elétrica.
Os indicadores socioeconômicos também são maiores nessa região. Juiz de
Fora e Viçosa ocupam índices acima de 0.80 em relação ao Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal em 2000 (IDH-M), considerados como alto
desenvolvimento segundo a classificação internacional. Dos 140 municípios
restantes, 51 tiveram índices entre 0.64 e 0.70; 65 com índices entre 0.70 e 0.75 e 26
entre 0.75 e 0.80, todos classificados como médio desenvolvimento (CARNEIRO;
FONTES, 2005).
A Zona da Mata contou com uma população aproximada de 2,033 milhões de
habitantes em 2000, cerca de 11,5 % da população mineira, ocupando a terceira
posição de região mais populosa do Estado, onde apresentava uma densidade
populacional de 57hab/km². Somente a microrregião de Juiz de Fora abarcava 1/3
dessa população, a região mais povoada, chegando a uma densidade demográfica
de 74,44 hab/km². Há uma predominância de municípios de pequeno porte, cerca de
70% dos 142 municípios possuem uma população inferior a 10 mil habitantes e
apenas 7 municípios possuíam uma população superior a 50 mil (FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO, 2002).
Os aspectos ambientais da Zona da Mata revelam dinâmicas peculiares. No
que diz respeito a hidrografia, a região se encontra inserida em duas importantes
bacias hidrográficas: Rio Doce e Rio Paraíba do Sul. A primeira compreende uma
maior área, ao norte da região, formada pelos rios Gualaxo do Sul e do Norte, Carmo,
Casca, Manhuaçu, Matipó e Piranga. A segunda localiza-se à leste e ao sul, formada
pelos rios Murié, Paraíba do Sul, Paraibuna, Pomba e Rio Preto (Fig. 2).
As altitudes da região variam de 2.889 metros no Pico da Bandeira em Alto
Caparaó, na região nordeste na divisa de MG-ES, até altitudes que giram em torno
de 100 metros nos vales do rio Pomba. O relevo se encontra de ondulado à forte
ondulado nas partes mais baixas, em altitudes que variam entre 300 e 500 metros.
Próximo a região de Ervália, as altitudes que variam de 800 a 900 metros apresentam
um relevo fortemente ondulado e montanhoso. Altitudes superiores a 1.500 metros
são encontradas ao norte com o destaque para o Maciço do Caparaó (CARNEIRO;
FONTES, 2005).
5
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
Figura 2 – Mapa de localização da Zona da Mata em relação às bacias
hidrográficas do Estado de Minas Gerais
Segundo o IBGE (2002), o clima da região é bastante variado, recebendo forte
influência da variação altimétrica. O clima pode ser Quente (Semi-úmido com 4 a 5
meses secos, com média acima de 18°C durante todo ano), Subquente (Semi-úmido
com 4 a 5 meses secos e Úmidos com 1 a 3 meses secos e pelo menos 1 mês com
temperatura média entre 15 e 18°C) e Mesotérmico brando (clima Úmido de 1 a 3
meses secos e Semi-úmido de 4 a 5 meses secos, com temperaturas médias entre
10 a 15°C).
A vegetação caracteriza-se por Floresta Estacional Semidecidual, que ocorre
sob um clima tropical estacional (RADAMBRASIL, 1983). Segundo Veloso e Góes
(1982) esse conceito ecológico da Região de Floresta Estacional remete ao clima de
duas estações, uma chuvosa e outra seca. O conjunto arbóreo dominante possui
uma adaptação fisiológica à deficiência hídrica ou à temperaturas baixas durante
longo período. A ação antrópica substituiu quase toda vegetação original da região
por Vegetação Secundária, pastagens e agricultura. Em algumas poucas áreas,
ainda são encontrados remanescentes, protegidos por lei, da vegetação original,
como é o caso da Serra do Caparaó. Trata-se do Refúgio Ecológico, que apresenta
um grande número de agrupamento remanescente da Floresta Montana.
6
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
2. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA
2.1. Análise de Componentes Principais (ACP)
A Análise de Componentes Principais (ACP)4 pode ser empregada para se
conhecer a estrutura espacial de uma região (Fig. 3), por meio da transformação das
variáveis espaciais em um espaço euclidiano.
A ACP, um dos procedimentos da Análise Fatorial, consiste em um método de
redução de um conjunto de dados multivariados em componentes, denominados
principais, que minimizam a redundância existente entre variáveis, por meio de
transformações lineares da matriz, de tal modo que as novas variáveis geradas sejam
não correlacionadas entre si, mas expressam sua variabilidade.
Para Abreu e Barroso (1980, p. 20), “a ACP procura fazer p combinações
lineares das p variáveis X1, X2, ..., Xp, tais que cada uma delas capte o máximo
possível da variação da matriz de dados X e, simultâneamente, cada componente
permaneça linearmente independente dos demais”.
Figura 3 – Mapa da Infra-Estrutura Sócio-Econômica do Sul de Minas no
ano de 1991, obtido a partir da Análise de Componentes Principais (ACP);
segundo Castro (2000)
4
Veja mais detalhes em: Berry e Marble (1968); Abler et al. (1971); Ceron (1977); Abreu e Barroso (1980); Gerardi e Silva
(1981); Diniz (1984); Abreu e Alvim (1986-987); Landim (1997); Simão (1999); Castro (2000); entre outros.
7
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
A ACP corresponde ao “cálculo dos autovalores e correspondentes
autovetores de uma matriz de variâncias-covariâncias. Nessa matriz simétrica, os
elementos da diagonal principal são as variâncias das variáveis e os demais
elementos, valores de covariâncias entre pares de variáveis. (...). Se cada variável
medida pode ser considerada como um eixo de variabilidade, estando usualmente
correlacionada com outras variáveis, esta análise transforma os dados de tal modo a
descrever a mesma variabilidade total existentes, com o mesmo número de eixos
ortogonais, porém não mais correlacionados entre si” (Landim, 1997).
2.2. Modelo Potencial
Um dos elementos que definem o crescimento urbano e regional é a
interdependência entre os centros urbanos. Esta interdependência gera interação
espacial entre as diversas atividades econômicas dos centros urbanos.
Para ocorrer interação entre duas áreas, é necessária a existência de oferta
em uma e procura na outra. Assim, um sistema que explique a interação pode ser
baseado em três fatores: complementaridade - uma função ou diferenciação de área
promovendo interação espacial; complementaridade interveniente (ou oportunidades)
entre duas regiões ou lugares; e, distância, medida em termos reais incluindo custo e
tempo de transporte (ULLMAN, 1974).
Os modelos de interação espacial visam basicamente avaliar e analisar a
interação entre pontos e regiões distribuídas em um espaço geográfico. Entre os
modelos de interação espacial, dois merecem destaque: os modelos gravitacionais e
os potenciais5. Segundo Isard (1973), nestes modelos a região é considerada como
um todo e as relações interregionais são concebidas como interações entre massas.
Segundo Ferreira (1989), as hipóteses do modelo são as de que as interações
entre os indivíduos em suas atividades são proporcionais às massas ou populações
entre as cidades, porque quanto maior os aglomerados humanos, provavelmente
maior deve ser a comutação, sob diversos aspectos, entre esses aglomerados.
8
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
Por outro lado, a fricção da distância, ou seja, o custo e o sacrifício em
deslocar-se no espaço, reduz, paulatinamente, aquela comutação, à medida que a
distância entre dois pontos for maior. Assim, admite-se que a interação seja
inversamente proporcional à distância.
A utilização da variável massa pelo modelo e da variável distância tornam-se
grandes indicadores de polarizações regionais, sub-regionais, etc.
A identificação de pólos de desenvolvimento requer uma pesquisa da
estrutura atual do espaço econômico, mostrando as interdependências diretas e
indiretas entre as cidades de um subespaço. É obviamente indispensável explicar o
desenvolvimento dos centros dominantes e suas periferias. A importância de um
centro depende da magnitude e do tipo dos fluxos econômicos, políticos e sociais
que ele atrai; por isso, são chamados de pólos de atração (Ferreira, 1989).
Segundo Abreu (1991), os modelos de interação espacial são caracterizados
pelos seguintes princípios gerais: a) o volume dos fluxos depende do tamanho das
“massas” envolvidas; b) os diferenciais de atração e repulsão das origens e destinos
determinam o volume dos fluxos; e, c) o volume dos fluxos depende da distância
entre origens e destinos.
Dentre os modelos de interação espacial, o Modelo Potencial, amplamente
utilizado na análise espacial, consiste em um dos métodos utilizados para medir
áreas de influência de um pólo, através da força de atração que este exerce sobre os
centros urbanos que compõem uma região.
O modelo surgiu, nas Ciências Sociais, a partir de uma analogia com a lei
gravitacional de Newton (Isard, 1973) e corresponde ao cálculo dos índices de
interações entre duas regiões ou pontos geográficos.
Assim, o potencial final de cada município é resultado da interação de cada
município i com os demais n municípios que compõem a região, somado ao potencial
próprio da cada município i. Estes potenciais apresentam uma hierarquia de centros
urbanos, destacando os pólos regionais e suas respectivas áreas de influência.
O primeiro critério para se estabelecer uma hierarquia ou um escalonamento
entre os pólos se baseia nas suas áreas de influência: quanto maior sua área de
influência, mais elevada será a posição hierárquica ou o escalão do centro. Os limites
das áreas de influência podem ser traçados por meio de isolinhas (isócronas) de
5
Mais detalhes a respeito destes modelos podem ser encontrados em: Isard (1973); Richardson (1973); Ribeiro e Barreto Neto (1976);
Hilhorst (1981); Mello e Silva (1982); Abreu (1982, 1991); Machado (1984); Abreu e Lima (1988); Ferreira (1989); Castro (1986,1987 e
2000); Abreu e Alvim (1986-1987); entre outros.
9
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
distâncias medidas em unidades de tempo, ligando-se os pontos onde cada fluxo
apresente a mesma intensidade.
A partir do cálculo dos potenciais iV da sub-área i e as demais sub-áreas da
região, são traçadas as curvas de isopotenciais que determinam os campos de força
de cada centro em diversos níveis. Segundo Ferreira (1989), partindo-se das
isopotenciais, podem-se finalmente estabelecer os delineamentos das áreas de
influência dos centros e, portanto, o sistema de interdependência.
As isopotenciais são traçadas em torno de um dado centro. A partir do valor do
potencial do próprio centro, seus valores decrescem à medida que se afastam do
mesmo. Uma isopotencial corresponde ao lugar geométrico dos pontos com o mesmo
valor numérico para o potencial (Fig. 4).
Figura 4 – Mapa do Potencial Sócio-Econômico e as áreas de
Influências do Sul de Minas no ano de 1991, obtido a partir do Modelo
Potencial; segundo Castro (2000).
10
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
3. METODOLOGIA
3.1. Dados e Técnicas
Para a análise da Infra-Estrutua Socioeconômica e das Áreas de Influências
da Zona da Mata de Minas Gerais serão utilizados os seguintes bancos de dados e
documentos:
- Fundação João Pinheiro (FJP) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA):
Condições de Vida nos Municípios de Minas Gerais (1991).
- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fundação João Pinheiro (FJP):
Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (1991 e 2000)
- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Malha Municipal Digital do
Brasil de 1999.
- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censos de 1991 e 2000.
- Instituto de Geociências Aplicadas (IGA) / Centro Tecnológico do Estado de Minas
Gerais (CETEC), Mapa Geopolítico do Estado de Minas Gerais, 1994.
- Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG), Mapa Rodoviário do Estado de
Minas Gerais, 1997.
O ambiente computacional a ser utilizado, corresponde aos seguintes
softwares: para a Análise Espacial os SIG’s ARC GIS e IDRISI, para modelagem dos
dados, os softwares STATISTICA, POTEN e SURFER; para a Cartografia Digital,
representação cartográfica e desenho digital o AUTOCAD, o MAPINFO, o
CORELDRAW e o ADOBE PHOTOSHOP; para estruturação do banco de dados, o
EXCEL; e, os hardwares do Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento
da Informação Espacial da PUC/MINAS.
3.2. Método
A pesquisa envolve a aplicação de métodos da estatística multivariada
(CASTRO, 2000) para varáveis socioeconômicas da Zona da Mata em dois anos,
1991 e 2000. O roteiro metodológico proposto (Fig. 5) apresenta, como primeira
etapa, a criação do banco de dados socioeconômicos e layers temáticos.
11
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
A Análise Espacial da Zona da Mata de Minas Gerais será estruturada na
forma de banco de dados das variáveis socioeconômicas, nos anos de 1991 e 2000.
Serão processados dados alfanuméricos (banco de dados socioeconômicos), dados
cartográficos (layers temáticos: cartogramas coropléticos - distribuição discreta da
informação, cartogramas isopléticos - distribuição contínua) e georreferenciados
(projeção/coordenadas), com características de ponto (sede de município) e área
(município) para os 142 municípios que integram a região (Fig. 6).
Figura 5 - Roteiro metodológico para análise de dados socioeconômicos em sistemas digitais
A segunda etapa consiste na análise do comportamento espacial e temporal
das variáveis socioeconômicas, por meio da elaboração de cartogramas coropléticos,
visando um nível de regionalização e uma análise de conjunto das variáveis.
Em seguida, as variáveis são submetidas à Análise de Componentes
Principais (ACP), no programa STATISTICA, visando reduzi-las a componentes ou
factor scores. Os componentes obtidos na ACP podem sintetizar, a partir da
correlação entre as variáveis, a Infra-Estrutura Socioeconômica da Região estudada.
12
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
O passo seguinte caracteriza-se pela aplicação do Modelo Potencial com
vistas à identificação de polarizações e das respectivas áreas de influências da Zona
da Mata.
Adotando-se como variável “massa” socioeconômica os componentes dos
municípios, a área de cada município e as distâncias entre as sedes dos municípios,
é possível identificar os principais pólos regionais, estabelecer a hierarquia dos
municípios e delimitar as áreas de influência.
Os potenciais são calculados no programa POTEN e interpolados no
programa SURFER, gerando assim cartogramas isopléticos.
Figura 6 - Mapa de localização dos municípios que integram a Zona da Mata de
Minas Gerais; Fonte: Geominas (2007).
13
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto de pesquisa está em andamento e encontra-se na fase de
definição das variáveis e de processamento do banco de dados. Trata-se de uma
proposta metodológica cujo passo seguinte consistirá na geração da Análise de
Componentes Principais e do Modelo de Potencial, com vistas à obtenção e análise
dos pólos regionais e das áreas de influências associadas aos pólos.
As perspectivas futuras residem na atualização da pesquisa com base nos
resultados do Censo de 2010, com vistas a uma análise estratégica da região, na
qual se estabelecerá recomendações para planejadores e tomadores de decisão na
Zona da Mata Mineira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABLER, R.; ADAMS, J. S. e GOULD, P. Spatial Organization: The Geographer’s
View of the World. New Jersey: Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1971, 587 p.
ABREU, J. F. e BARROSO, L. C. Projeto Software Básico para Análise Espacial em
Geo-ciências. Projeto de Pesquisa, CNPq - IGC/UFMG, Relatório nº 1, Belo
Horizonte, 1980.
ABREU, J. F. Migration and Money Flows in Brazil - A Spatial Analysis. Tese de
Doutorado. University of Michigan, Ann Arbor, 1982.
ABREU, J. F. e ALVIM, P. R. J. Determinação de Potencialidades a Nível
Espacial para o Estado de Minas Gerais: Resultados Preliminares. Boletim de
Geografia Teorética, Rio Claro, AGETEO, v. 16-17, n. 31-34, p. 294-301, 1986/987.
ABREU, J. F. e LIMA, M. E. Estimativa de Distâncias Rodoviárias para Análise de
Potencialidades - O Caso de Minas Gerais. Geografia, Rio Claro, AGETEO, v. 13, n.
26, p. 23-33, 1988.
ABREU, J. F. Interação Espacial, Potencial e Potencialidades: Um Estudo de Caso O Estado de Minas Gerais 1970/80. Tese de Professor Titular, IGC/UFMG, Belo
Horizonte, 1991.
BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS (BDMG). Zona da Mata –
Diagnóstico e Indicações de Ações Prioritárias para seu Desenvolvimento. Belo
Horizonte: BDMG, 2001.
BERRY, B. J. L. e MARBLE, D. F. (eds.). Spatial Analysis: A Reader in Statistical
Geography. New Jersey: Prentice-Hall Inc., Englewood Cliffs, 1968, 512 p.
14
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
BLASENHEIN, Peter Louis. A regional history of the Zona da Mata in Minas
Gerais, Brazil: 1870-1906. Tese (PhD em História) – Departamento de História,
Stanford University, Stanford. 1982. 372 p.
CARNEIRO, Patrício A. S. e FONTES, Rosa. Desigualdades na Região da Zona da
Mata Mineira. In: FONTES, Rosa e FONTES, Mauricio (editores). Crescimento e
Desigualdade Regional em Minas Gerais. Viçosa: Editora Folha de Viçosa, 2005.
465 p.
CARRARA, A. A. Estruturas agrárias e capitalismo; contribuição para o estudo da
ocupação do solo e da transformação do trabalho na zona da Mata mineira (séculos
XVIII e XIX). Série Estudos, n. 2, UFOP, Mariana, 1999.
CASTRO, J. F. M. Classificação dos Municípios que Compõem a Região Rio Doce do
Estado de Minas Gerais, através de um Modelo de Potencial. Monografia de
Graduação “B”. IGC/UFMG, Belo Horizonte, 1986.
CASTRO, J. F. M. Estudo de Interação Espacial das Áreas de Influência dos
Municípios que compõem a Região Noroeste do Estado de Minas Gerais, através da
Utilização de Técnicas de Estatística Multivariada, nos períodos de 1970 e 1980.
Monografia de Graduação “A”. IGC/UFMG, Belo Horizonte, 1987.
CASTRO, J. F. M. Caracterização Espacial do Sul de Minas e “Entorno” Utilizando-se
o Modelo Potencial e a Análise de Fluxos em Sistemas Digitais: Uma Proposta
Metodológica. Tese de Doutamento, IGCE/UNESP, 2000.
CERON, A. O. Classificações Espaciais e Regionalização. Boletim de Geografia
Teorética, Rio Claro, AGETEO, v. 7, n. 14, p. 9-45, 1997.
CHORLEY, R. J.; HAGGETT, P. (edits.). Models in Geography. London: Methuen &
Co, Ltd., 1967, 816 p.
COSTA, Antônio Gilberto; RENGER, Friedrich Ewald; FURTADO, Júnia Ferreira;
SANTOS, Márcia Maria Duarte dos. Cartografia das Minas Gerais: da capitania à
província. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, 84 p.
DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM (DER). Mapa Rodoviário do
Estado de Minas Gerais, 1997.
DINIZ, Alexandre M. A.; MERGAREJO NETTO, Marcos. A Formação Geohistórica
da Zona da Mata. RA’EGA, Curitiba, UFPR, v. 12, 2006.
DINIZ, J. A. F. Geografia da Agricultura. São Paulo: DIFEL, 1984, 278 p.
FERREIRA, C. M. C. Métodos de Regionalização. In: HADDAD, P. R.; FERREIRA, C.
M. C.; BOISIER, S. e ANDRADE, T. A. Economia Regional: Teorias e Métodos de
Análise. Fortaleza, BNB/ETENE, p 509-588, 1989.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP). As regiões de Minas Gerais e sua Inserção
no Planejamento Nacional. Belo Horizonte: Centro de Estudos Econômicos, 1995,
152 p.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP). Produto Interno Bruto de Minas Gerais Municípios e Regiões 1985-1995. Belo Horizonte: Centro de Estatística e
Informações, 1996, 135 p.
15
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP) e INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA
APLICADA (IPEA). Condições de Vida nos Municípios de Minas Gerais (19701980-1991). Belo Horizonte: 1996, 243 p.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP). Anuário Estatístico de Minas Gerais 20002001. Belo Horizonte: FJP, 2002.
GERARDI, L. H. O. e SILVA, B. C. N. Quantificação em Geografia. São Paulo: Difel,
1981, 161 p.
GIOVANINI, Rafael Rangel; MATOS, Ralfo Edmundo da Silva. Geohistória
Econômica da Zona da Mata Mineira. Anais do XI Seminário sobre a Economia
Mineira. Diamantina , 2004.
HILHORST, J. G. M. Planejamento Regional: Enfoque sobre Sistemas. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1981, 189 p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Divisão
Regional do Brasil em Mesorregiões e Microrregiões Geográficas. Vol. 1, Rio de
Janeiro, 1990.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Malha
Municipal Digital do Brasil de 1994, Rio de Janeiro, 1999.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
Geográfico Escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.
ESTATÍSTICA
(IBGE).
Atlas
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS APLICADAS (IGA). Mapa Geopolítico do Estado de
Minas Gerais, 1994.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA) e FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO (FJP). Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (1970, 1980, 1991),
1998.
ISARD, W. Métodos de Análisis Regional: Una Introdución a la Ciencia Regional.
Barcelona: Editorial Ariel, 1973. 815 p.
LAMAS, Fernando Gaudereto. Povoamento e Colonização da Zona da Mata Mineira
no século XVIII. Histórica – Revista Eletrônica do Arquivo do Estado, n. 8, março
de 2006. Disponível em http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br. Acesso em
julho, 2007.
LANDIM, P. M. B. Análise Estatística de Dados Geológicos Multivariados. Publicação
Didática, nº 5, Laboratório de Geomatemática/IGCE/UNESP, Rio Claro, 1997. 65 p.
LANDIM, P. M. B. Análise Estatística de Dados Geológicos. São Paulo: Editora da
UNESP, 1998. 226 p.
MACHADO, C. C. Análise da Evolução Espacial da População do Estado de Minas
Gerais Via Técnicas Centrográficas e Modelo de Potencial. Dissertação de
Mestrado, ICEX/UFMG, Belo Horizonte, 1984.
MELLO E SILVA, S. C. B. Cartografia da Acessibilidade e da Interação no Estado da
Bahia. Geografia, Rio Claro, AGETEO, v. 7, n. 13-14, p. 51-75, 1982.
RADAMBRASIL, Projeto. Levantamento de Recursos Naturais: Folha SF.23/24
Rio/Vitória. Rio de Janeiro: Projeto RADAMBRASIL, 1983. 780p.
16
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA
RIBEIRO, N. M. G. e BARRETO NETO, F. Uma Análise Teórica da Interação
Espacial: Os Modelos Gravitacionais. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro,
AGETEO, v. 6, n. 11-12, p. 29-40, 1976.
RICHARDSON, H. W. Elementos de Economia Regional. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1973, 150 p.
SILVA, Danuzio Gil Bernardino da (organizador). Os Diários de Langsdorff.
Tradução Márcia Lyra Nascimento Egg e outros. Campinas: Associação Internacional
de Estudos Langsdorff; Rio de Janeiro: Fiocruz, v. I, 1997. 400 p.
SIMÃO, M. L. R. Caracterização Espacial da Produção Cafeeira de Minas Gerais –
um estudo exploratório utilizando técnicas de análise espacial e de estatística
multivariada. Dissertação de Mestrado, PUC/Minas, Belo Horizonte, 1999.
SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de. O Descobrimento e a Colonização
Portuguesa no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000. 944 p.
TEIXEIRA, Romeu do Nascimento. O Vale do Rio Doce. Companhia Vale do Rio
Doce, 2002. 157 p.
ULLMAN, E. L. Geography as Spatial Interaction. In: HURST, M. E. E. (edited).
Transportation Geography: Comments and Readings. McGraw-Hill Book
Company, British Columbia, 1974, pp. 29-40.
UNWIN, D. Introductory Spatial Analysis. London: Methuen & Co. Ltd., 1981, 212 p.
17
Download