RÁPIDA INTRODUÇÃO À FÍSICA DAS RADIAÇÕES Simone Coutinho Cardoso & Marta Feijó Barroso UNIDADE 3 Decaimento Radioativo Objetivos: discutir o que é decaimento radioativo e escrever uma equação que a descreva Sumário O átomo Nuclídeos e tabela de nuclídeos A força nuclear Lei do decaimento radioativo Meia vida Vida média Equilíbrio radioativo O átomo O átomo é composto de elétrons, prótons e nêutrons. Os elétrons são encontrados na eletrosfera e os prótons e nêutrons – denominados nucleons – são partículas que localizadas no núcleo atômico. No início do século XX, havia um grande conjunto de evidências experimentais indicando que o átomo continha elétrons, e que o número de elétrons em um átomo era cerca de metade do número atômico deste. átomo. A descoberta de que o núcleo atômico era um “caroço” muito pequeno de cargas positivas e neutras é devida a Ernest Rutherford, que realizou em 1911 uma experiência na qual ficou estabelecido que as cargas positivas do átomo estavam concentradas numa região muito pequena do átomo – o núcleo atômico. Um sistema de nucleons com existência suficientemente longa para que sua identificação seja possível é denominado de nuclídeo. Cada nuclídeo é representado por uma notação formada por um símbolo do elemento químico correspondente, seu número atômico Z e sua massa atômica A. Símbolo ⋅ químico ZA Todos os nuclídeos podem ser representados em uma tabela, chamada de tabela de nuclídeos, que relaciona seus respectivos números atômicos e número de nêutrons. A figura 1 mostra parte da carta de nuclídeos. UNIDADE 3 CEDERJ / EXTENSÃO – FÍSICA – Rápida introdução à Física das Radiações Linha de estabilidade Tabela de Nuclídeos p=n p (prótons) 12 11 10 9 nº p = 8 O16 7 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 nº n = 8 n (nêutrons) Fonte:http://www.fismed.ufrgs.br/farmacia/2 Se os prótons são cargas positivas e estão espremidos no núcleo –concentrados numa região muito pequena do átomo, como é que as forças de repulsão eletrostática entre eles não arrebentam o núcleo? Ou seja, como se explica a estabilidade do átomo? A força de atração gravitacional é ridiculamente pequena para contrabalançar a repulsão elétrica. Existe outra força, a "força nuclear", também chamada de "força forte", que atua tanto nos prótons quanto nos neutrons dentro do núcleo, e que é fortemente atrativa, mas que só atua em distâncias muito pequenas – ou seja, só atua quando as partículas estão bem próximas umas das outras. Normalmente, em um núcleo, essas forças contrabalançam as forças elétricas de repulsão e o núcleo fica estável. Na Tabela de Nuclídeos estão representados os nuclídeos estáveis e os instáveis, que são radioativos, denominados de radioisótopos ou radionuclídeos. Quase todo elemento tem isótopos que são naturalmente radioativos. Por que alguns isótopos são radioativos e outros não? Ou, em outras palavras, por que alguns núcleos são estáveis e não emitem nada espontaneamente, enquanto outros são instáveis e emitem vários tipos de raios? No núcleo atômico atuam as forças elétrica (repulsão) e a nuclear (atração). Embora ambas diminuam de intensidade quando a distância entre as partículas em interação aumenta, a força nuclear se enfraquece muito mais com a distância que a força elétrica. Quando o núcleo Simone C. Coutinho e Marta F. Barroso – pág. 2 CEDERJ / EXTENSÃO – FÍSICA – Rápida introdução à Física das Radiações UNIDADE 3 contém muitos prótons e nêutrons, a distância entre as partículas naturalmente vai aumentando. Com isso, a repulsão elétrica começa a vencer a atração da força forte. As forças no núcleo começam a ficar desbalanceadas. Esse desbalanceamento faz com que os elementos pesados, com muitos prótons e neutrons, tendam a ser radioativos. Todos os isótopos dos elementos transurânicos, isto é, com número de prótons maior que 92, são radioativos. Na tentativa de alcançar a estabilidade, equilibrando as forças dentro do núcleo, esses elementos "transmutam", transformam-se em outro elemento. Nesse processo, o núcleo emite partículas (que faziam parte dele). Lei do Decaimento Radioativo A desintegração ocasiona emissão de partículas do núcleo do átomo que se desintegra. Nesta emissão há modificação do núcleo original, e então o número total de átomos do elemento pai (o elemento inicial no processo, antes da desintegração) é reduzido e, consequentemente, aumenta o número de átomos do elemento produto da desintegração (filhos). Toda a desintegração radioativa envolve a emissão de uma partícula α ou β do núcleo do átomo que se desintegra. Abaixo seguem exemplos de desintegrações que emitem partículas α e outras duas que emitem partículas β. partículas α: núcleos do átomo de Hélio partículas β: elétrons Partículas alfa 238 Pu 94 → 235 U92 + 4 He 2 + 5,2 MeV plutônio se desintegra, transformando-se em um átomo de urânio, emitindo uma partícula alfa e liberando 5,2 MeV de energia 238 U92 → 234 Th 90 + 4 He 2 urânio 238 se desintegra, transformando-se num átomo de tório e uma partícula alfa Partículas beta 60 Co 27 → 60 Ni 28 + e −1 + γ 12 N7 →12 C 6 + 0 e1 + ν A figura abaixo mostra a família radioativa do Urânio gerada por suas subseqüentes desintegrações radioativas. Cada linha horizontal representa emissão de partícula α e as verticais são decorrentes de emissões β. Simone C. Coutinho e Marta F. Barroso – pág. 3 CEDERJ / EXTENSÃO – FÍSICA – Rápida introdução à Física das Radiações UNIDADE 3 Como escrever uma lei matemática para o decaimento radioativo? O processo de desintegração é probabilístico. Vamos supor que no instante inicial t0 = 0 tenhamos uma amostra com N0 átomos radioativos. Chamaremos de λ (constante de decaimento radioativo) a probabilidade de que um destes átomos de desintegre na unidade de tempo característica de cada elemento. Em t > t0 teremos N átomos radioativos. O número provável de átomos que se desintegrará será λN. Então podemos escrever para a taxa de decaimento (a variação no número de átomos no tempo) − dN = λN dt . − dN , chamada de atividade, representa que o número de átomos dt radioativos N está diminuindo com o tempo. O sinal negativo em Reescrevendo esta equação dN = −λdt . N Simone C. Coutinho e Marta F. Barroso – pág. 4 UNIDADE 3 CEDERJ / EXTENSÃO – FÍSICA – Rápida introdução à Física das Radiações Integrando do número inicial de átomos ao número final, e do tempo inicial a um instante t, N t dN ∫N N = −λt∫ dt 0 0 ⇒ ln N − ln N0 = −λ (t − t 0 ) ln N N t = −λ t N0 t0 N ln N0 ⇒ = −λ (t − t 0 ) ou seja, N = exp[− λ(t − t 0 )] N0 Fazendo o instante inicial nulo, t 0 = 0 , escrevemos N(t ) = N0 e − λt = N0 exp(− λt ) Esta equação expressa o número de átomos N radioativos na amostra num instante de tempo t, se a amostra continha N0 átomos em t=0 – é a chamada lei do decaimento radioativo. Meia vida (T1/2) Por definição, é o tempo necessário para que um certo nuclídeo tenha o seu número de desintegrações, por unidade de tempo, reduzido à metade. A lei de decaimento é N = N 0 e − λt Quando fazemos N = N0 2 , t = T1 / 2 a equação acima fica N0 = N0 e − λT1 / 2 , 2 ou seja, 1 1 = e − λT1 / 2 , ou ln = − ln 2 = ln(e −λT 2 2 1/ 2 ) = −λT 1/ 2 . Finalmente, escrevemos T1 / 2 = ln 2 0,693 = λ λ Simone C. Coutinho e Marta F. Barroso – pág. 5 CEDERJ / EXTENSÃO – FÍSICA – Rápida introdução à Física das Radiações UNIDADE 3 Desta expressão para a meia vida observamos que esta só depende da constante de decaimento radioativo do elemento. Na figura abaixo é mostrada a variação do número de átomos radioativos N em função do tempo em um decaimento radioativo. Applet: Meia vida de isótopos http://lectureonline.cl.msu.edu/%7Emmp/kap30/Nuclear/nuc.htm Suponhamos que em t = 0 temos um elemento radioativo com uma Atividade inicial igual a A0. Decorrida: 1 meia-vida teremos A0/2 = A0/21 2 meias-vidas teremos (A0/2)(1/2) = A0/4 = A0/22 3 meias-vidas teremos (A0/2)(1/2)(1/2) = A0/8 = A0/23 … Assim, decorridas n meias-vidas n meias vidas teremos A0/2n Vida média Vida média é definida como a soma das idades de todos os átomos, dividida pelo número total de átomos. Vamos calculá-la. 0 0 A soma da idade de todos os átomos é dada por tdN e o número total de átomos é ∫ N0 ∫ dN . N0 Observe que o número final de átomos, para incluir todos, precisa ser 0. A vida média é Simone C. Coutinho e Marta F. Barroso – pág. 6 UNIDADE 3 CEDERJ / EXTENSÃO – FÍSICA – Rápida introdução à Física das Radiações 0 t= ∫ tdN N0 0 ∫ dN N0 1 Lembrando que N = N 0 e − λt obtemos − λt = ln N N ou t = − ln N N : 0 t= ∫ tdN N0 0 ∫ dN 0 = 1 λ N dN 1 0 = 0 − N0 λN 0 ∫ − ln N N0 0 λ 0 0 ∫ [ln NdN − ln N dn] 0 N0 N0 ( 0 0 ln Ndn − ln N dN = 1 [N ln N − N] 0 − ln N N 0 ∫ 0 N0 λN 0 N∫ N0 0 1 (`−N0 ln N0 + N0 + N0 ln N0 ) = N0 t= λN 0 λN 0 1 t= λN 0 0 N0 ) Ou seja, a vida média é t= 1 λ Então, o tempo característico da amostra é o inverso da vida média. Equilíbrio Radioativo Quando um nuclídeo radioativo decai, seu produto ou filho também pode ser radioativo. O equilíbrio radioativo é muito bem representado no applet sugerido abaixo. (Entre no sítio da internet citado a seguir). Applet: Evolução temporal de amostras radioativas http://www.nhn.ou.edu/%7Ewalkup/demonstrations/WebAssignments/Radioactivity001.htm Chegamos ao final da terceira unidade. Você deve agora refazer as idéias discutidas aqui, após ter passado pelas contas indicadas. Simone C. Coutinho e Marta F. Barroso – pág. 7