ESTUDO DA QUANTIDADE DE ALIMENTOS E BEBIDAS COM A DATA DE VALIDADE EXPIRADA PRESENTE EM ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS Fabricio Pagani Possamai MSc.* – Fiscal Sanitarista1 e Professor2 1Prefeitura Municipal de Içara – Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social – Departamento de Vigilância Sanitária, Içara, SC. 2UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, SC. Clair da Silva – Fiscal Sanitarista Auxiliar Gilmar Ghislandi – Fiscal Sanitarista Auxiliar Rodrigo Etzberger – Fiscal Sanitarista Prefeitura Municipal de Içara – Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social – Departamento de Vigilância Sanitária, Içara, SC. Francieli Maragno - Estagiária CEDUP – Centro Educacional Profissionalizante Abílio Paulo – Curso Técnico de Patologia Clínica, Criciúma, SC. Mari Helen Pagani Possamai - Estagiária UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina – Curso de Medicina Veterinária, Lages, SC. *Correspondência: Fabricio Pagani Possamai MSc. – Prefeitura Municipal de Içara – Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social – Departamento de Vigilância Sanitária, CEP 88820-000, Içara, SC, Brasil. Telefone: 55-4834613701 - Fax: 55-48-34613700. E-mail: [email protected] Introdução Atualmente, no mercado consumidor, a preocupação com os produtos oferecidos nos diferentes estabelecimentos reflete, a exigência, de alguma forma, por parte da população e dos órgãos governamentais. Dentre esses órgãos, coube ao departamento de Vigilância Sanitária (VISA), o poder de interferir em toda reprodução das condições econômico-sociais e de vida, isto é, em todos os fatores determinantes do processo saúde-doença (EDUARDO, 1998). A VISA tem, como definição, ser um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e da circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde através de estratégias e ações de educação e fiscalização (BRASIL, 1990). Entre essas ações, a fiscalização tem, por objetivo, garantir que o consumidor adquira produtos de qualidade e com as informações completas, referentes à rotulagem, que implicam; nome e marca do produto, nome do fabricante e/ou produtor, local de produção, número de registro no órgão competente, tabela nutricional, ingredientes, modo de conservação, peso e/ou volume, data de fabricação, lote e, principalmente, a data de validade. Dessa maneira, as indústrias têm procurado adaptar-se as exigências da legislação vigente, quanto às informações dos rótulos dos alimentos. Segundo o Decreto Estadual n° 31.455, de 20 de fevereiro de 1987, no seu artigo 5°, entende-se (SANTA CATARINA, 1987): (...) “A pessoa, somente, pode expor à venda ou ao consumo alimentos e bebidas próprios para tal finalidade, sendo, assim, considerados que: I - estejam em perfeito estado de conservação; II - por sua natureza, composição e circunstância de produção, fabricação, manipulação, beneficiamento, fracionamento, depósito, distribuição, venda e quaisquer atividades relacionadas com os mesmos, não sejam nocivos à saúde, não tenham seu valor nutritivo prejudicado e não apresentem aspecto repugnante; III - sejam provenientes, ou se encontrem em estabelecimentos licenciados pelo órgão competente; IV - obedeçam às disposições da legislação federal e estadual vigentes relativas ao registro, rotulagem e padrões de identidade e qualidade”.(...) Observa-se, que os produtos comercializados, de forma imprópria, podem gerar penalidades aos proprietários de estabelecimentos, ocasionando, apreensões, multas e interdições. Dentre as principais irregularidades, pode-se citar, a falta de higiene e a sanitização, as más instalações, o comércio de produtos com a validade expirada e os produtos sem registros nos órgãos competentes. De acordo com o Código de Proteção e Defesa do Consumidor são os direitos básicos a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por prática de fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos à saúde humana (HILUY et al., 1996). O fornecimento da alimentação sadia, atendendo a critérios de natureza nutricionais, organolépticas e higiênico-sanitárias, promovem a manutenção e recuperação da saúde dos comensais, contemplando as diretrizes de Boas Práticas de Fabricação (AMARAL e LABOISSIERE, 2000). Tratando-se de alimentos perecíveis, a conservação é uma exigência que requer tratamentos e cuidados específicos para a preservação das características originais do produto, oferecida até a data especificada e ideal para o consumo. Em seu trabalho, Façanha et al., (2003) afirma que as enfermidades transmitidas pelos alimentos constituem em um problema que merece consideração pública, sendo que, esses podem apresentar o crescimento de diferentes microorganismos em suas mais variadas formas. A proliferação, o crescimento e o desenvolvimento dos microorganismos podem ser favorecidos em razão da deficiência de qualquer processo de produção inadequado, falta de higiene dos manipuladores, utensílios e equipamentos, falha no armazenamento e, distribuição, bem como, após o prazo de validade estabelecido pela indústria fornecedora. As conseqüências originadas após a ingestão de produtos, com o prazo de validade esgotado, variam de acordo com o patógeno incriminado, a quantidade de células viáveis ingeridas, a idade e os fatores de resistência e a susceptibilidade do comensal. Entre os principais sintomas, pode-se destacar diarréia, náusea, vômito, dores abdominais, febre e cólica (OMS, 2000). No momento, os consumidores parecem estar mais atentos, informados e preocupados quanto às questões que envolvem atributos de qualidade em alimentos e esse comportamento deve se intensificar à medida que o mercado alimentício se expanda requerendo um rigoroso monitoramento e um maior aperfeiçoamento profissional na área, da indústria, dos governos e do próprio consumidor. Esse estudo tem como objetivo, realizar um levantamento das condições dos estabelecimentos, através de inspeções sanitárias, do Departamento de Vigilância Sanitária, no Distrito do Balneário Rincão, pertencente ao município de Içara - SC, durante os meses de dezembro de 2004 e janeiro de 2005, verificando o total de 211 estabelecimentos cadastrados. Tendo em vista a constante variedade de produtos apreendidos, com o prazo de validade expirado, sentiu-se a necessidade de expor, aos consumidores e aos proprietários de estabelecimentos, os resultados obtidos. Também serve de alerta aos consumidores para estarem atentos às informações descritas nas rotulagens dos produtos, e aos proprietários maior atenção nas suas mercadorias oferecidas à população. Materiais e Métodos Foram realizadas inspeções sanitárias na localidade do Balneário Rincão, pertencente ao município de Içara - SC, pelo Departamento de Vigilância Sanitária. Essas fiscalizações tiveram, como objetivo, inspecionar os estabelecimentos nos seguintes quesitos: higiene, limpeza, organização, estrutura física, sanitização, manipulação de alimentos, procedência dos produtos e rotulagem completa, como a data de validade expirada, assunto do presente estudo. Portanto, foram verificados variados pontos que podem oferecer riscos à saúde de terceiros dentro de um estabelecimento comercial. As inspeções foram realizadas nos meses de dezembro de 2004 a janeiro de 2005, ou seja, dois meses, cuja ação foi denominado de Operação Verão. Esta contou com a formação de duas equipes de trabalho, com um atendimento total à comunidade de 12 horas ao dia. Em cada período, tanto no matutino, como no vespertino, haviam dois fiscais habilitados, observando os itens supra citados, além de um auxiliar administrativo. A escolha dos estabelecimentos para as vistorias foi realizada de acordo com um roteiro préestabelecido pelos fiscais sanitaristas, de acordo com as características geográficas da região. Ao total, foram vistoriados 211 estabelecimentos cadastrados na Prefeitura, da localidade do Distrito do Balneário Rincão, sendo que 153 destes comercializam alimentos (bares, mercados, mercearias, sorveterias, lanchonetes, fruteiras), representando 73%. Os produtos apreendidos, com o prazo de validade expirado, foram recolhidos do local de venda pelos fiscais e levados a seu destino final adequado, o aterro sanitário municipal. Através dos Autos de Intimação lavrados, pelos fiscais da Vigilância Sanitária, realizou-se o levantamento dos estabelecimentos vistoriados e dos produtos apreendidos, com o prazo de validade expirado, nos estabelecimentos. Resultados e Discussão O Gráfico 01 demonstra a relação dos estabelecimentos do Balneário Rincão que estão cadastrados no Departamento da Vigilância Sanitária, totalizando 211 estabelecimentos. Destes, 153 (73%) apresentam o comércio de alimentos e bebidas, e 58 (27%) apresentam o comércio de outros produtos de interesse da saúde (medicamentos, agrotóxicos, produtos odontológicos, etc). Relação dos estabelecimentos do Balneário Rincão cadastrados na Vigilância Sanitária Estabelecimentos que comercializam alimentos e bebidas 27% 73% Estabelecimentos que comercializam outros produtos de interesse da saúde Gráfico 01 O Gráfico 02 demonstra a relação dos estabelecimentos que comercializam alimentos e bebidas no Balneário Rincão, sendo que 90 (59%) comercializam produtos dentro do prazo de validade, e 63 (41%) comercializam produtos com o prazo de validade expirado, os quais foram apreendidos pela fiscalização. Relação dos estabelecimentos que comercializam alimentos e bebidas no Balneário Rincão Estabelecimentos que comercializam dentro do prazo de validade 41% 59% Estabelecimentos que comercializam fora do prazo de validade Gráfico 02 O Gráfico 03 expõe a relação dos alimentos e bebidas apreendidos, com o prazo de validade expirado, nos estabelecimentos vistoriados. Pode-se observar que, os produtos de origem animal tiveram um índice maior de apreensão, apresentando a quantidade de 81,4 quilos (39%), seguidos de outros alimentos, tais como arroz, farinha, massa, e café com 54,5 quilos (26%), seguidos por bebidas com 27,7 litros (13%), doces em geral com 25,1 quilos (12%) e temperos/condimentos com 21,7 quilos (10%). O total da quantidade de produtos apreendidos representou 182,7 quilos e 27,7 litros no período de dois meses de fiscalização. Relação dos alimentos e bebidas apreendidos Alimentos de origem animal 10% 12% 39% Arroz, farinha, massa e café Bebidas 13% Doces em geral Temperos e condimentos 26% Gráfico 03 Conclusão A atuação da Vigilância Sanitária concretizou-se em 100% dos estabelecimentos cadastrados pertencentes ao Distrito do Balneário Rincão. De acordo com os dados, mesmo com a inspeção realizada anualmente, e a orientação transmitida pelos fiscais da Vigilância, o número e a quantidade de produtos apreendidos foi significativo. Os resultados demonstram, a falta de consciência por parte dos comerciantes que sofreram penalidades por praticar o comércio de produtos impróprios ao consumo humano, acarretando em negligência e um completo descaso com a saúde pública. Os fiscais sanitaristas avaliaram os estabelecimentos valendo-se de um roteiro de inspeção, dando ênfase no presente estudo para o prazo de validade dos produtos. Os resultados obtidos através da apreensão de produtos expirados, sinalizam para o risco potencial quanto à ocorrência de doenças veiculadas por alimentos que tenham suas características alteradas por estarem além do prazo previsto para consumo. O comerciante responsável deve estar preparado e organizado para que o seu local de trabalho não seja punido e que garanta a qualidade de seus produtos. Referências Bibliográficas AMARAL, C. A.; LABOISSIERE, L. H. Boas práticas de fabricação de alimentos e pontos críticos de controle em unidade de alimentação e nutrição: um estudo de caso. Anais...XVI Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Fortaleza – Ceará. 2000. BRASIL, Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, e dá outras providências. EDUARDO, M.B.P. Vigilância Sanitária, São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, v.8, 1998. FAÇANHA, S.H.F.; MONTE, A. L. S.; FERREIRA, N.D.L.; ALVES, T.M.; DIAS, G.M.; RIDRIGUÊS, J.M.P.; PAULO, A. P.F..Treinamento para manipuladores de alimentos, em escolas da rede municipal de ensino, da sede e distritos do município Meruoca, Ceará: relato de experiência. Higiene Alimentar, v.17, n.106, p.30 – 34, 2003. HILUY, D. J.; PINHEIRO, H. C.G.; NORÕES, G. M.R. A Vigilância Sanitária e o Código de Defesa do consumidor. Higiene Alimentar, v.10, n. 44, p.88-89, 1996. OMS – Organização Mundial da Saúde. Foodborne disease: a focus for health education. Geneve, 2000. SANTA CATARINA. Decreto Estadual nº 31.455, de 20 de fevereiro de 1987. Regulamenta os artigos 30 e 31 da Lei nº 6.320, de 20 de dezembro de 1983, que dispõem de alimentos e bebidas.