12º Imagem da Semana: Ressonância Magnética de Coluna Enunciado Paciente do sexo feminino, 34 anos, G1P1A0, hígida, está no terceiro mês pós-parto vaginal sob analgesia peridural, que transcorreu sem intercorrências. Refere dor na parte posterior da coxa e perna esquerda iniciada no primeiro mês pós parto, evoluindo com parestesia, paresia e irradiação para região lateral e planta de pé ipsilateral. O reflexo calcâneo está reduzido. Foi solicitada uma ressonância nuclear magnética. Baseado na história clínica e no exame de imagem, pode-se afirmar que a paciente apresenta: a) Lesão iatrogênica pós analgesia peridural b) Hérnia discal a nível de L3/L4 c) Hérnia discal a nível de L5/S1 d) Hérnia discal a nível de S2/S3 Análise da imagem Imagem 3: Imagens de Ressonância Magnética da coluna lombo-sacra ponderadas em T2 no plano sagital. As imagens são de boa qualidade e mostram redução da intensidade de sinal dos discos intervertebrais de L4-L5 (verde) e L5-S1 (roxo), secundária à desidratação degenerativa, além de volumosa hérnia discal extrusa em L5-S1 (roxo). Imagem 4: Imagem de Ressonância Magnética da coluna lombo-sacra em sequência axial ponderada em T2, que mostra que a hérnia está em posição paracentral esquerda (amarelo), compatível com os sintomas do paciente, que são à esquerda, e determina compressão do saco dural (azul) e das raízes nervosas intradurais (vermelho). Diagnóstico As alterações clínicas e de imagem permitem o diagnóstico de hérnia discal a nível de L5/S1, com radiculopatia de S1. A radiculopatia de S1 cursa com dor e alterações sensoriais na parte posterior da coxa e perna e irradia posteriormente para a planta do pé. Ao exame, a redução na flexão plantar (gastrocnêmio) e perda do reflexo calcâneo são características. Também pode haver redução na extensão da perna (glúteo máximo) e flexão do hálux. Na hérnia discal de L3/L4 há radiculopatia de L4. Pela dificuldade em diferenciar o acometimento dos segmentos medulares L2, L3 e L4, eles foram agrupados em um grupo sindrômico que cursa com lombalgia e alterações sensoriais que irradiam para a porção anterior da coxa e perna e, ocasionalmente, para a porção medial da perna. Pode cursar com fraqueza nos músculos flexores e adutores do quadril e extensores do joelho. O reflexo patelar pode estar reduzido. Na hérnia discal de S2/S3 há radiculopatia de S3, que cursa com dor na região sacral e glútea que irradia para a região posterior da coxa e/ ou períneo. A fraqueza muscular pode ser mínima e associada às incontinências fecal e urinária ou ainda disfunção sexual. As radiculopatias de S3 geralmente são bilaterais porque fibras sacrais se situam mais medialmente na cauda eqüina sendo, portanto, mais propensas à compressão na linha média. A incidência das lesões neurológicas pós analgesia peridural varia de 0,003 a 0,1%. Incluem déficits permanentes ou transitórios e ocorrem por toxicidade dos agentes anestésicos e adjuvantes, trauma direto às raízes nervosas e contaminação por agentes biológicos e químicos. Distúrbios de coagulação primários ou secundários aumentam a possibilidade de hematoma subdural e são contraindicação absoluta a esse bloqueio. A hérnia discal não se encontra entre as possíveis complicações da analgesia peridural. Discussão do caso A hérnia de disco lombar é a mais comum entre as alterações degenerativas da coluna lombar e acomete de 2 a 3% da população. A degeneração e deslocamento do conteúdo do disco intervertebral, o núcleo pulposo, através de sua membrana externa, o ânulo fibroso, causa a hérnia discal lombar, que pode comprimir e irritar as raízes lombares e o saco dural. Ocorre principalmente entre a quarta e quinta décadas de vida. São apontados alguns fatores de risco, como tabagismo e carregar objetos pesados, mas estudos revelam que a proporção de acometidos não expostos a esses fatores é a mesma em relação aos expostos O quadro clínico apresenta resolução, pós tratamento conservador, em cerca de 4 a 6 semanas e inclui lombalgia inicial, seguida de lombociatalgia que piora ao sentar ou após tosse e, por fim, dor ciática pura. Ao exame, nota-se comprometimento de dermátomos (Imagem 5) e miótomos correspondentes à raiz nervosa acometida e sinal de Lasègue positivo. Entre os possíveis diagnósticos diferenciais estão os tumores e infecção. Dada a alta prevalência de achados anormais em indivíduos assintomáticos, os exames de imagem devem ser feitos somente em situações selecionadas, como no quadro clínico que não é clássico de radiculopatia por compressão, nos casos de déficit neurológico progressivo ou na síndrome da cauda equina em que o tratamento cirúrgico é iminente. O exame de escolha para avaliar hérnia discal e compressão radicular é a ressonância magnética. Com menor sensibilidade, a tomografia computadorizada e a radiografia simples também podem ser usados, principalmente em situações que necessitam melhor análise dos ossos e identificar se há desgaste, presente em casos crônicos e desencadeados por problemas ósseos degenerativos. A eletroneuromiografia tem grande especificidade, avalia a integridade fisiológica das raízes nervosas e é útil para identificar a raiz envolvida quando há lesão em múltiplos níveis vertebrais, além de verificar se as anormalidades encontradas são funcionalmente relevantes. Além dessas situações, o exame auxilia no diagnóstico diferencial com lesões de plexo ou nervo periférico. O tratamento pode ser conservador, com fisioterapia e uso de medicamentos como opióides, relaxantes musculares e anti inflamatórios não esteroidais, ou cirúrgico (discectomia lombar). A única indicação absoluta para o tratamento cirúrgico é a síndrome da cauda equina e as indicações relativas são dor ciática intratável por medidas conservadoras por um período de 6 a 12 semanas, parestesia no dermátomo correspondente ao nível da hérnia de disco lombar, alterações motoras relacionadas à raiz nervosa afetada e lombociatalgia resistente ao tratamento conservador por um período superior a 12 semanas. Imagem 5: Representação esquemática dos dermátomos lombossacrais (Fonte: UPTODATE - The detailed neurologic examination in adults). Aspectos relevantes - A hérnia de disco lombar é a mais comum entre as alterações degenerativas da coluna lombar e acomete de 2 a 3% da população. - Prevalência aumenta entre a quarta e quinta décadas de vida, com idade média de 35 anos. - Apresenta evolução progressiva em lombalgia, lombociatalgia e dor ciática pura. - O diagnóstico diferencial deve ser feito com tumores e infecção. - Dada a alta prevalência de achados anormais em indivíduos assintomáticos, os exames de imagem devem ser feitos somente em situações selecionadas. - O exame diagnóstico padrão ouro é a Ressonância Magnética. - O tratamento inicial é conservador, com fisioterapia e medicamentos sintomáticos. - O tratamento cirúrgico está reservado para casos específicos. Referências UPTODATE: Lumbosacral radiculopathy: Pathophysiology, clinical features, and diagnosis Lumbosacral radiculopathy: Prognosis and treatment The detailed neurologic examination in adults CECIL, Russell L; GOLDMAN, Lee.; AUSIELLO, Dennis. Cecil medicina. 23.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009 Responsável Aline Vieira - Acadêmica 9º período da Faculdade de Medicina Email: alinecvieira[arroba]gmail.com Fabiana Resende – Acadêmica 9º período da Faculdade de Medicina fabianaresende1[arroba]gmail.com Orientador Dr. Francisco Cardoso – Neurologista e Professor do Departamento de Clínica Médica da FM cardosofe[arroba]terra.com.br Agradecimentos Dra Eliane Soares – Anestesista nos Hospitais Municipal Odilon Behrens, Vera Cruz e Hospital das Clínicas.