TRATAMENTO SUPERVISIONADO NO CONTROLE DA TUBERCULOSE: PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE Baby Caltenequel Pereira1 Jorge Luiz Lima da Silva2 Marilda Andrade3 O Brasil ocupa o 15º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo. Esta doença poderia estar sobre controle, considerando que os recursos diagnósticos são relativamente simples e os esquemas terapêuticos disponíveis são altamente eficazes. A tuberculose tem sido ao logo da história da saúde mundial, uma das doenças infecto-contagiosas que prevalece entre tantas outras, por tanto necessita de ações urgentes, visto que, o número de casos novos mantém-se elevado em todo mundo, contudo o objeto desta pesquisa é ação do enfermeiro na estratégia do tratamento supervisionado nas UBS. Esta doença poderia estar sobre controle, considerando que os recursos diagnósticos são relativamente simples e os esquemas terapêuticos disponíveis são altamente eficazes. No entanto, o número de casos novos mantém-se elevado em todo mundo, particularmente nas regiões pobres. A tuberculose, tal como a hanseníase, malária, dengue, cólera, febre amarela, síndrome da imunodefiência adquirida AIDS e algumas outras endemias e epidemias, é uma enfermidade de condicionamentos sociais (VENDRAMINI, 2001). Dentre as razões para o elevado número de casos da tuberculose, devemos considerar: a desigualdade social e seus determinantes, o envelhecimento da população e os movimentos imigratórios (SILVA, et al, 2007). No Brasil, a estimativa é de que surjam 129.000 casos/ano, dos quais se notificam somente cerca de 90.000. O Brasil e outros 21 países em desenvolvimento albergam 80% dos casos mundiais da doença. As estatísticas indicam que, aproximadamente, 50 milhões de brasileiros estão infectados pelo bacilo, susceptíveis ao desenvolvimento da doença (BERTAZONE; GIR; HAYASHIDA, 2005). Este bacilo denomina-se por Mycobacterium Tuberculosis. É transmitido de pessoa a pessoa, principalmente pela via respiratória através da inalação de gotículas infecciosas que são lançadas no ar por meio da tosse, ou outro movimento expiratório forçado de pessoas eliminadoras de bacilos. A infecção de um hospedeiro susceptível ocorre quando esses bacilos são inaladas (CAMPOS, et al, 2000). Entretanto, a Tuberculose tem sido ao logo da história da saúde mundial, uma das doenças infecto-contagiosas que prevalece entre tantas outras, por tanto necessita de ações urgentes (SILVA, et al 2007). Devido a sua presença, concomitante à interação com outras doenças, como a AIDS, e a tuberculose multiresistente o aparecimento de cepas multiresistentes, vem suscitando impactos diversos na sociedade. Para tanto, sendo a enfermagem a profissão que possui significativo contingente de profissionais atuando em diversos lugares e desenvolvendo as mais variadas funções dentro da área da saúde. A atuação do enfermeiro neste contexto é realizada através para a implantação, manutenção e desenvolvimento de políticas de saúde tanto em nível curativo quanto preventivo da tuberculose. Não se pode negar que a Enfermagem é o eixo principal para suportar qualquer política de saúde que tenha como objetivo uma assistência de qualidade (BARBOSA, et al, 2004). A função principal do enfermeiro na Estratégia do Tratamento Supervisionado (DOTS/TDS) é garantir a adesão do paciente, baseado em princípios que atendam o paciente da melhor forma possível. O tratamento supervisionado é feito pela administração direta do medicamento por uma segunda pessoa, que entrega, observa e registra e ingestão de cada dose de medicação. Neste contexto o enfermeiro tem a responsabilidade de contactar e convencer o paciente a realizar o acompanhamento medico e medicamentoso. Além de orientar que o local de supervisão da tomada dos medicamentos deve ser estabelecido atendendo às necessidades ou conveniências do paciente, podendo ser na unidade de saúde, no domicilio do paciente, no hospital dentre outros (MUNIZ, 1999). Vale ressaltar que, cabe ao enfermeiro identificar as barreiras para aplicação da estratégia DOTS no controle da tuberculose, para que então esta estratégia de tratamento possua eficácia. A implantação do tratamento supervisionado exige mudanças nas atividades de rotina das UBS, para tanto o Informe-se em promoção da saúde, v6, n.1.p.10-13, 2010. 10 enfermeiro inicialmente precisa conhecer a estratégia, entender sua dinâmica operacional e adequá-la à realidade local. Se possível promover reuniões com as equipes, incluindo profissionais de diferentes categorias e gerentes da Unidade. A proposta de execução do tratamento supervisionado se caracteriza por ser bastante flexível, ampliando as perspectivas dos aspectos normativos, pois deve ser adequado á realidade dos serviços de saúde, do paciente, da situação, abrindo espaços para intervenções de promoção a saúde, não só a do paciente, mas também, no âmbito familiar. Segundo Silva (et al, p. 404, 2007) o DOTS compreende cinco medidas estratégicas: 1Compromisso governamental com as atividades básicas de controle da tuberculose; 2Detecção de casos por baciloscopia, em todo paciente sintomático respiratório, que, espontaneamente, procure o serviço de saúde; 3Esquemas de tratamento padronizados de seis a oito meses para, pelo menos, todo caso bacífero, com tratamento diretamente supervionado durante, no mínimo, de dois meses iniciais; 4Suprimento regular e ininterrupto dos medicamentos padronizados; 5Um sistema de registro e notificação de casos que permitam o acompanhamento dinâmico dos resultados de tratamento de cada paciente e do Programa de Controle da Tuberculose como um todo. O processo decisório de inclusão ao tratamento supervisionando, exige do enfermeiro uma avaliação individual e domiciliária de cada caso segundo seus fatores de risco. Os critérios utilizados para inclusão do tratamento supervisionado são: adultos com diagnóstico de tuberculose pulmonar positiva; pacientes com tuberculose pertencentes aos grupos de risco de abandono de tratamento, como alcoolistas, usuários de drogas, mendigos ou sem residência fixa, os que vivem em comunidade, fechadas como asilos, casas de repousos e em uso de esquemas terapêuticos IR (retratamento) ou III (falência) e os portadores de formas multiresistentes (VENDRAMINE, 2001). É fundamental que estes aspectos sejam valorizados durante avaliação do paciente, que ocorre muitas vezes durante a visita domiciliária ao caso novo, pois neste momento o enfermeiro poderá tomar conhecimento sobre as reais condições de vida destes pacientes e familiares (BERGEL; GOUVEIA, 2005). Pablos-Méndez (et al, 1997) destacam que, por meio de uma entrevista inicial realizada pela enfermeira do programa de tuberculose e suas respectivas anotações, é possível identificar pacientes com maior e menor risco de abandono, assim inseri-los no tratamento supervisionado. Entretanto, observa-se que os profissionais da UBS juntamente com a enfermagem optam por priorizar componentes de risco dentro do processo de inclusão, por não conseguirem oferecer tal procedimento a toda clientela. Porém, não significa que sejam regra para todos os casos. A inclusão exige uma avaliação individual e particularizada de cada caso, e em alguns momentos requer outras análises e bom senso do grupo. A afirmação acima reforça novamente a importância da visita domiciliária, caracterizando-se como momento de investigação das condições sociais do paciente e família, apresentandose também como uma oportunidade estabelecer vínculo, orientar e convencer o paciente a realizar o tratamento. Posteriormente a inclusão do tratamento, realiza o levantamento e mapeamento dos casos dentro da cidade, visto que o mapeamento tem por finalidade observar condições de vida, sanitárias, localização da residência e acesso aos serviços. Procura dividir os pacientes que necessitavam de uma supervisão diária ou semanal (MUNIZ, 2005). Após inclusão e organização dos grupos que fazem parte realmente desta estratégia de tratamento, faz-se necessário que o enfermeiro oriente ao paciente quanto ao tratamento. De acordo com Brasil (p.20, 2002): Deve se explicar em uma entrevista inicial e em linguagem acessível, as características da doença e o esquema de tratamento que será seguido: drogas, duração, benefícios de uso regular da medicação, conseqüências advindas do abandono do tratamento e possíveis efeitos colaterais. Silva e cols. (2007) acrescenta que, como a tuberculose é cheia de preconceito, o enfermeiro deve desmistificar o contágio da doença. Porém, não só atentar para estas orientações, mas também, para a organização das consultas regulares previamente agendadas, o controle de Informe-se em promoção da saúde, v6, n.1.p.10-13, 2010. 11 ____________________ Tratamento supervisionado no controle da tuberculose: percepção do enfermeiro nas unidades básicas de saúde pacientes faltosos e a possibilidade de realização das visitas domiciliárias. Percebe-se que em alguns casos, através da abordagem e orientação é possível conscientizar e recuperar pacientes não aderentes ao tratamento. Porém em casos, onde esta compreensão não é estabelecida, este é um critério para inclusão ao tratamento supervisionado. Uma vez estabelecido os critérios de inclusão no tratamento supervisionado, o enfermeiro juntamente a equipe de controle da tuberculose, discuti-se qual será o método mais eficaz para realização da supervisão direta do medicamento. Uma das formas adotada é através da visitação domiciliária diária (VENDRAMINI, et al, 2002). No entanto, estes modos descritos acima, não precisam necessariamente ser uma regra. O principal objetivo é concluir o tratamento do paciente. Assim diversos tipos de abordagem podem ser utilizadas pelo Programa de Controle da Tuberculose para realização do tratamento supervisionado, ou seja, não existe regra fixa, deve-se estudar cada caso e encontrar uma solução. Sobre a administração dos medicamentos, Brasil (2002) afirma que, este tratamento requer uma supervisão da ingestão dos medicamentos, assegurando-se que o doente os tome em uma única dose diária. A ingestão dos medicamentos deve ser assistida no local de escolha do paciente; E a supervisão da tomada da medicação poderá ser feita pelo menos três observações semanais, nos primeiros dois meses, e uma observação por semana, até o final. Para garantir sucesso nesta estratégia, ao administrar diretamente o medicamento ao paciente, observa e registra a ingestão de cada dose da medicação. O enfermeiro precisa ter em mente que ao administrar a medicação tuberculostástica através da estratégia DOTS, há uma redução na prevalência da tuberculose resistente a múltiplas drogas, diminuição dos custos por caso tratado e aumento das taxas de tratamento completadas, esta estratégia é uma das maneiras mais importantes de controlar e prevenir novos casos de tuberculose (RIBEIRO, 2000). Acredita-se que para o controle da tuberculose são necessárias ações que ultrapassam os componentes diretamente voltados à administração da quimioterapia, sendo necessárias transformações na qualidade política, administrativa e organizacional, que envolve os serviços de saúde. Ao refletir sobre a prática da enfermagem e a interdependência das ações programáticas, fazem-se necessárias mudanças constantes para que, o profissional esteja alinhado às necessidades da população. Constatou que a percepção do usuário sobre a doença vem carregada de estigmas partindo do senso comum da maioria das pessoas. Há deficiência também quanto às informações recebidas e uma visão errônea do processo de cura e uso correto dos medicamentos. Com relação à satisfação com o atendimento oferecido aos pacientes, verificou-se que um sentimento de aprovação na escrita dos autores com a dinâmica do atendimento oferecido pelo serviço (vínculo profissional-usuário, facilidade no agendamento das consultas, realização de exames, medicação gratuita e apoio do serviço social). Mas também, salientam aspectos considerados negativos como estrutura física inadequada, longa espera no corredor pela consulta médica e necessidade de mais profissionais para o atendimento. Percebeu-se nesse estudo, que a satisfação do usuário do Programa de Controle da tuberculose com o atendimento, envolve diversos fatores como acolhimento, estrutura física do serviço adequada, disponibilidade e número suficiente de profissionais para o atendimento. Tais considerações contribuem para o oferecimento de uma assistência integral e de qualidade. A dose diária como esquema terapêutico tem papel primordial no tratamento, porém não devemos esquecer, que o impacto sobre a epidemiologia da doença somente será obtido implementando a demanda, atendimento, meios diagnósticos ágeis, fáceis e de baixo custo, agilizando serviços e aumentando a adesão. Portanto, o DOTS aplicado em sua amplitude, ou seja, não compreendendo apenas o fornecimento de medicação ao paciente, mas, inclusive, seu acolhimento, tem se mostrado uma prática efetiva na aderência ao tratamento da tuberculose. REFERÊNCIAS BARBOSA, M. A. et al. Reflexões sobre o trabalho do enfermeiro em saúde coletiva. Revista Eletrônica de Enfermagem. v. 6, n. 1, 2004. Disponível em http://www.fen.ufg.br/. Acesso: 15/10/2007. Informe-se em promoção da saúde, v6, n.1.p.10-13, 2010. 12 ____________________ Tratamento supervisionado no controle da tuberculose: percepção do enfermeiro nas unidades básicas de saúde BERTAZONE, E do C.; GIR, E.; HAYASHIDA, M. Situações vivenciadas pelos trabalhadores de enfermagem na assistência ao portador de tuberculose pulmonar. Rev. Latino-Am. Enfermagem. Ribeirão Preto. v.13, n. 3. mai/jun,. 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual técnico para controle de tuberculose: cadernos de atenção básica. 6 ed. Brasília, 2002. BERGEL, F. S.: GOUVEIA, N. Retornos freqüentes como nova estratégia para adesão ao tratamento de tuberculose. Rev. Saúde Pública, v. 39, n. 6. dez, 2005. CAMPOS, M. L. C. et al. Tuberculose. Revista Brasileira de Medicina. v. 70, n. 5. jul. 2000. MUNIZ, J. N. O tratamento supervisionado no controle da tuberculose em Ribeirão Preto: uma intervenção de que tipo? Dissertação (Mestrado em enfermagem) Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 1999. MUNIZ, J. N., et al. A incorporação da busca ativa de sintomáticos respiratórios para o controle da tuberculose na prática do agente comunitário de saúde. Ciênc. saúde coletiva, v.10, n. 2., abr, 2005. PABLOS-MÉNDEZ, A, et al. Nonadherence in tuberculosis treatment: predictors and consequences in New York city. Am J Méd. v.102, n. 2.1997. RIBEIRO, S A., et al. Estudo caso-controle de indicadores de abandono em doentes com tuberculose. J. Pneumologia, São Paulo. v. 26 n. 6, nov./dez. 2000. SILVA, A. C. O. et al. Tratamento supervisionado no controle da tuberculose: pontecialidades e fragilidades na percepção do enfermeiro. Revista eletrônica de enfermagem. v. 9, n. 2., 2007. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n2/v9n2a09.html. Acesso em: 20/10/2007. VENDRAMINI, S.H.F. O Tratamento supervisionado no controle da tuberculose em Ribeirão Preto sob a percepção do doente. Dissertação (Mestrado em enfermagem). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2001. REFERÊNCIA DESTE TEXTO PEREIRA, B. C.; SILVA, J. L. L.; ANDRADE, M.. Tratamento supervisionado no controle da tuberculose: percepção do enfermeiro nas unidades básicas de saúde. Informe-se em promoção da saúde. v.6, n.1.p.10-13, 2010. 1 Enfermeira Pós - Graduanda da Universidade Federal Fluminense (UFF). Enfermeiro. Mestre em enfermagem (Unirio). Professor assistente da disciplina saúde coletiva 1. Escola de enfermagem Aurora de Afonso Costa/ UFF. 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico-cirúrgica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa UFF. Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem e Promoção da Saúde/ UFF. 2 Informe-se em promoção da saúde, v6, n.1.p.10-13, 2010. 13 ____________________ Tratamento supervisionado no controle da tuberculose: percepção do enfermeiro nas unidades básicas de saúde