MOBILIZAÇÃO NEURAL COMO TRATAMENTO DA DOR EM PACIENTES COM LOMBALGIA E LOMBOCIATALGIA DOUGLAS S. PINTO, SAMIR ZEINEDIN, VIVIANE VIEIRA www.terapiamanual.com.br RESUMO Introdução: Cerca de 80% da população mundial adulta irá sentir algum tipo de dor lombar, e em grande parte dessas pessoas a dor estará relacionada à compressão do nervo isquiático. Diversas técnicas de tratamento são propostas pela literatura com intuito de abolir ou controlar os sintomas álgicos do paciente, estando entre estas a Mobilização Neural. Objetivos: Verificar o efeito da Mobilização Neural como tratamento da dor em pacientes com lombalgia e lombociatalgia, avaliar o comportamento desta ao término do tratamento e verificar alterações da capacidade funcional e na mobilidade da coluna lombar. Metodologia: Foram realizados 15 atendimentos com técnicas de Mobilização Neural em pacientes que apresentavam lombalgia e lombociatalgia. Como instrumentos de avaliação foram utilizados a Escala Analógica Visual da Dor, Questionário Modificado da Dor McGill, Questionário da Incapacidade de Roland-Morris e o Teste de Schober. Resultados: Foram avaliados e tratados seis pacientes com lombalgia e lombociatalgia, sendo constatada significância estatística na redução da dor, melhora da capacidade funcional e aumento na mobilidade lombar, além de ganho na amplitude no movimento de flexão do quadril. Considerações finais: A aplicação conjunta de técnicas deslizantes e tensionantes de Mobilização Neural mostrou-se eficaz no tratamento de pacientes com lombalgia e lombociatalgia. Sugere-se a realização de novos estudos, para o acompanhamento da dor após término do tratamento com Mobilização Neural. Palavra-chave: Isquiático. Mobilização Neural. Lombalgia. Lombociatalgia. ABSTRACT Introduction: About 80% of the adult population will feel some kind of back pain, and most of these people the pain is related to compression of the sciatic nerve. Several treatment techniques are proposed in the literature with intent to abolish or control the symptom of pain of the patient, being among these the Mobilization Neural. Objectives: Verify the effect of Neural Mobilization as treatment of pain in patients with low back pain and sciatic pain, to evaluate the behavior of this to the end of treatment and verify changes in functional capacity and mobility of the lumbar spine. Methodology: There were realized 15 treatment with Neural Mobilization techniques in patients with low back pain and sciatic pain. How evaluation tools were used to Visual Analogue Scale for pain, the McGill Pain Questionnaire Modified, Questionnaire of Incapacity of Roland-Morris and Schober Test. Results: There were evaluated and treated six patients with low back pain and sciatic pain, and revealed a statistically significant reduction in pain, improved functional capacity and increase in lumbar mobility, and gain in the amplitude of motion in hip flexion. Conclusion: The combined application of techniques sliding and tensioning of Neural Mobilization was effective in treating of patients with low back pain and sciatic pain. Suggest achievement the new studies, to the accompaniment of pain after completion of treatment with Neural Mobilization. Keywords: Sciatic. Neural Mobilization. Low back pain. Sciatic pain. 0 INTRODUÇÃO A dor lombar (DL) constitui uma causa freqüente de morbidade e incapacidade, tornando-se a fonte mais dispendiosa de lesão relacionada ao trabalho em países industrializados (1), sendo o sintoma mais comum encontrado na prática ortopédica (2). No Brasil existem estimativas de que mais de 10 milhões de pessoas sofram com a incapacidade relacionada à dor lombar (3). Entre as causas das dores lombares estão as atividades em trabalho pesado, postura sentada por tempo prolongado, levantar grandes quantidades de peso, sedentarismo, acidentes de trabalho, dirigir veículos, horas excessivas de trabalho, gravidez, ferimentos, tabagismo, entre outros (4). Na maioria dos casos a dor nas costas é inespecífica e o diagnóstico impreciso, visto que diversos tecidos como discos, ligamentos, estruturas articulares, músculos e estruturas nervosas podem ser responsáveis pela dor (5). A lombociatalgia surge quando a dor, de origem na região lombar, se irradia para as nádegas e porção posterior da perna até abaixo do joelho, ao longo da raiz nervosa lesionada, podendo afetar um ou ambos os membros inferiores (6, 7). A dor é dita como uma sensação de queimação, pontada, lacinante, ocasionalmente formigamento e parestesia em dermátomo do membro inferior (7). Esta condição ocorre devido à compressão das raizes do nervo isquiático e a causa mais comum é a hérnia de disco. Outras causas como doenças degenerativas da coluna, infecções, luxação traumática do quadril posterior, anomalias congênitas (8), síndrome do piriforme e estenose do canal vertebral lombar são citadas na literatura (9). Autores como Douglas (10) e Dutton (1) descrevem que cerca de 80% da população mundial adulta irá sentir algum tipo de dor lombar, e em grande parte dessas pessoas a dor estará relacionada à compressão do nervo isquiático. Para North et al (11) a ciatalgia é comum em pacientes com idade superior a trinta anos, com incidência de cerca de 40% da população geral. Diversas técnicas de tratamento são propostas pela literatura com intuito de abolir ou controlar os sintomas álgicos do paciente, estando entre estas a Mobilização Neural (MN), técnica que teve um grande desenvolvimento, principalmente nos últimos 35 anos, desde que autores como Grieve, Maitland, Elvey e Butler publicaram seus estudos relativos ao conhecimento da função mecânica do sistema nervoso (12). Posteriormente Shacklock criou o termo neurodinâmica, revelando a importância em integrar a mecânica do Sistema 1 Nervoso (SN) com a fisiologia, explicando como elas se relacionam entre si e são integradas à função músculo-esquelética (12). Este recurso da terapia manual é utilizado tanto para diagnóstico como para tratamento de patologias que diminuam a mobilidade dos nervos (13). O diagnóstico é feito através de testes neurodinâmicos, os quais avaliam o envolvimento das raízes nervosas espinhais e nervos periféricos nas dores extremas, através do tensionamento das mesmas por meio de movimentos seqüenciais e progressivos, desafiando a capacidade física do sistema nervoso, usando várias articulações dos membros e ou tronco para alterar o comprimento e dimensões do trajeto neural, provocando irritação do tecido, reproduzindo os sintomas no paciente (1, 14). Já, o tratamento se faz pela aplicação de movimentos oscilatórios lentos e contínuos ou brevemente mantidos ao tecido neural, melhorando a troca de fluidos, a circulação sanguínea, restabelecendo o fluxo axoplasmático normal, liberando adesões, diminuindo a inflamação e a dor (15). Junior e Teixeira (16) encontraram resultados significativos em estudos com a utilização da mobilização neural como diagnóstico da lombalgia e tratamento de diversas patologias do sistema nervoso. Em estudo realizado por George (17) de seis pacientes com dor lombar baixa, avaliados pela escala analógica da dor, cinco obtiveram redução da intensidade da dor. Machado e Bigolin (5) em um estudo comparativo entre mobilização neural e alongamento muscular em pacientes com lombalgia crônica, revelaram melhoras na execução das atividades funcionais, na flexibilidade da cadeia muscular posterior e na redução do quadro álgico, porém, somente o programa de mobilização neural obteve melhora estatisticamente significativa. Este estudo teve como objetivo verificar o efeito da Mobilização Neural como tratamento da dor em pacientes com lombalgia e lombociatalgia, avaliar o comportamento desta ao término do tratamento e verificar alterações da capacidade funcional e na mobilidade da coluna lombar. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo prospectivo, composto por 11 pacientes, 2 do sexo masculino e 9 do sexo feminino, com idade entre 30 e 55 anos, que aguardavam tratamento na Clínica Escola de Fisioterapia da Faculdade Anglo-Americano e/ou encaminhados pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Três pesquisadores, com formação no curso de 2 Mobilização Neural, eram responsáveis pela avaliação, tratamento e reavaliação dos pacientes, os quais foram divididos entre os pesquisadores, conforme se apresentaram para a avaliação inicial. Foram definidos como critérios de inclusão: diagnóstico clínico de lombalgia e lombociatalgia, resultado positivo para alterações neurodinâmicas, através da aplicação do Slump Test e/ou Teste de Elevação da perna Estendida (TEPE) e não estar recebendo outros tipos de tratamento. Os critérios de exclusão foram: doenças reumatológicas, fratura não consolidada em membro inferior, pós-cirúrgico da coluna vertebral, pós-cirúrgico recente de membros inferiores, artroplastia de quadril, presença de espondilolistese e espondilólise, gestantes, labirintite e contra-indicações para aplicação da técnica. Todos os voluntários receberam informações para a participação no estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Assis Gurgacz da cidade de Cascavel-PR, protocolado pelo número 065/2010. Na avaliação todos os pacientes apresentaram pelo menos um exame imaginológico, a fim de verificar possíveis alterações osteomioarticulares, como exames de Raios-X, em incidências pósterior-anterior e perfil, Ressonância Nuclear Magnética ou Tomografia Computadorizada da coluna vertebral, com laudo. Em seguida foram submetidos a um exame físico composto pela verificação da sensibilidade superficial através do uso de monofilamentos Semmes-Weinstein nos dermátomos correspondentes as raízes do nervo isquiático (18), e sensibilidade proprioceptiva, com uso de diapasão de 256Hz sobre as proeminências ósseas dos membros inferiores (19), palpação, reflexos patelar, aquileu e isquiotibiais, força muscular dos membros inferiores e teste do neurônio motor superior: Babinsk, Oppenheim e Clônus (20). Para quantificar o índice de dor, a Escala Analógica Visual (EAV) foi empregada (21), sendo esta aplicada pré e pós cada atendimento, além de instrumentos utilizados para avaliação e reavaliação, pré e pós tratamento, como o Questionário Modificado da Dor McGill (1) para obter uma descrição exata da qualidade da dor, Questionário da Incapacidade de Roland-Morris, para avaliar a incapacidade física decorrente da dor lombar (1). A dinâmica das estruturas neurais do Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP) foram avaliados através do Slump Test. O TEPE foi utilizado para testar o movimento e a sensibilidade mecânica das estruturas neurais lombossacrais e 3 suas extensões distais (tronco e plexo lombo-sacral na pelve, ciática e nervos tibiais e suas extensões distais na perna e pé). Manobras de dorsiflexão do tornozelo, inversão, rotação interna do membro inferior sintomático e flexão cervical passiva foram utilizadas para diferenciação estrutural a fim de sensibilizar o TEPE (12). Para mensurar a mobilidade da região lombar foi realizado o Teste de Schober (22) pré e pós tratamento. Antes de iniciar a avaliação e os atendimentos os pesquisadores aplicaram os testes em si mesmos durante cinco dias, a fim de aumentar a familiaridade com as técnicas, padronizando sua aplicação. Para tratamento, os pacientes foram submetidos a 15 atendimentos de 30 minutos, realizados duas vezes por semana. Foram aplicadas técnicas de mobilização deslizante de raiz lombossacral em supino, deslizamento Slump e mobilização tensionante distal do isquiático (Figura 1). - Mobilização deslizante de raiz lombo-sacral em supino: Paciente em decúbito dorsal sobre a maca, membros inferiores (MMII) cruzados, flexão de quadril e joelho a 90º, membros superiores ao longo do corpo. Terapeuta posicionado contralateral ao membro a ser tratado, segura ambas as pernas do paciente e realiza passivamente oscilações em inclinação lateral da lombar usando os membros inferiores como alavanca (20). - Deslizamento Slump: Paciente sentado com os membros superiores cruzados atrás das costas, leve flexão lombar e torácica, joelho do membro afetado em leve extensão. O paciente realiza ativamente e de forma simultânea uma flexão cervical e plantiflexão do tornozelo, alterando o movimento para uma extensão cervical acompanhada de dorsiflexão do tornozelo. Repete os movimentos sem interrupção por tempo determinado (20). - Mobilização tensionante distal do isquiático: Paciente em decúbito dorsal, com o corpo alinhado. Terapeuta realiza uma elevação do membro em extensão até sentir a reação de proteção muscular ou o paciente referir início de dor. Em seguida, posiciona-se lateralmente ao membro afetado, estabiliza o joelho em extensão com os antebraços e traciona o membro elevando-o até próximo a amplitude em que o sintoma se manifesta. Ao retornar à posição inicial a tração é liberada (20). 4 Deslizante de raíz lombo-sacral. Deslizamento Slump Tensionante distal do isquiático FIGURA 1 Fonte: Os autores. Foi realizada análise estatística descritiva para calcular a média e o desvio padrão dos resultados, teste de “Wilcoxon” pareado não paramétrico para análise dos questionários e Escala Analógica Visual da dor pré e pós tratamento, e o teste “T Student” para análise do Teste de Schober e alteração na amplitude de movimento durante a realização do TEPE. O nível de significância foi estabelecido em 5%, fazendo uso do software SPSS 19.0. RESULTADOS Dos 11 pacientes selecionados, apenas 6 concluíram os 15 atendimentos, sendo que os demais interromperam o tratamento antes do término, não sendo possível realizar a reavaliação, ficando a amostra composta apenas por pacientes do sexo feminino, com a idade média de 42,67 ± 7,74 anos. O índice de dor, analisado pela Escala Analógica Visual, apresentou média pré 4,60 ± 1,94 e pós de 0,07 ± 0,16, constatando redução estatisticamente significativa da dor em todos os pacientes (p ≤ 0,0277). Esta redução é representada no gráfico 1. 5 GRÁFICO 1 – Escala Analógica Visual. Ainda analisando a dor, pelo Questionário Modificado da Dor McGill foram encontrados redução nos valores dos índices de dor pré e pós tratamento com médias variando de 26,00 ± 10,18 para 3,67 ± 7,61, significância estatística de (p ≤ 0,0277), e nos descritores variando de 11,00 ± 3,63 para 1,83 ± 1,60, com significância estatística de (p ≤ 0,0277). Quanto à capacidade funcional, utilizando o Questionário da Incapacidade de Roland-Morris, também foi constatada melhora em todos os pacientes, com média pré 9,50 ± 3,83 e média pós 1,83 ± 2,04, conforme observado no gráfico 2, apresentando significância estatística (p ≤ 0,0272). GRÁFICO 2 - Questionário da Incapacidade de Roland-Morris. No que se refere à mobilidade lombar, foi utilizado o Teste Schober e verificou-se alteração entre a media pré 19,83 ± 0,75 e pós tratamento 21,50 ± 1,10, com diferença estatisticamente significante (p ≤ 0,0029). Este resultado pode ser observado no gráfico 3. 6 GRÁFICO 3 – Teste de Schober. Com o estudo, também foi verificado aumento na amplitude durante o movimento de flexão do quadril com a perna estendida com valores variando de 55,00 ± 16,73 para 89,67 ± 17,04, constando como resultado positivo para aumento de flexibilidade dos músculos posteriores do membro comprometido, com significância estatística (p ≤ 0,0036). O resumo dos resultados pode ser observado na tabela 1. TABELA 1- Médias pré e pós, desvio padrão e significância estatística. Instrumentos de avaliação EAV PRÉ (média ± DP) 4,60 ± 1,94 PÓS (média ± DP) 0,07 ± 0,16 Valor do p McGILL - índice 26,00 ± 10,18 3,67 ± 7,61 0,0277 McGILL - descritores 11,00 ± 3,63 1,83 ± 1,60 0,0277 ROLAND-MORRIS 9,50 ± 3,83 1,83 ± 2,04 0,0272 SCHOBER 19,83 ± 0,75 21,50 ± 1,10 0,0029 TEPE 55,00 ± 16,73 89,67 ± 17,04 0,0036 0,0277 DISCUSSÃO A lombalgia e a lombociatalgia ainda é um problema de saúde pública e um problema do consultório dos clínicos e ortopedistas (23). Como já mencionado, a hérnia de disco é a causa mais comum, comprimindo estruturas nervosas adjacentes, precipitando fraqueza motora, redução de reflexos e perda sensorial (3, 8, 24, 25) devido à alteração da função fisiológica do nervo (12). Um exemplo destas alterações foi achado no estudo de Cornefjord et al (26), onde realizaram um experimento em porcos, submetendo as raízes 7 nervosas a compressão e ao contato direto do núcleo pulposo do disco intervertebral, sendo constatado que, a mera presença do conteúdo do núcleo pulposo nas raízes nervosas já era o suficiente para causar alterações morfológicas e funcionais, bem como uma redução do fluxo sanguíneo intraneural em comparação com o controle contralateral das mesmas raíz nervosas. Shaclock (12) relata que o corpo é um recipiente do sistema nervoso, e o sistema músculo esquelético apresenta-se como uma interface mecânica para o sistema nervoso, assim uma lesão nervosa, gera alterações em suas propriedades mecânicas (tensão, deslizamento e compressão) e fisiológicas (alteração do fluxo sanguíneo intraneural, condução nervosa, e resposta inflamatória), que, por sua vez, sustentam ou agravam a lesão. Tais lesões podem derivar para disfunções nas estruturas que recebem sua inervação. Como consequência, estruturas músculo-esqueléticas podem estar comprometidas em uma disfunção de origem neural (14). A média de idade apresentada pelos participantes da pesquisa foi superior a 40 anos, o que condiz com o estudo de North et al (11) que relata a prevalência de ciatalgia entre pessoas com idade superior a trinta anos. O predomínio de participantes do sexo feminino nesta pesquisa vem confirmar os dados encontrados por Boeing (7) e Silva et al (3). Uma vez que as mulheres combinam a realização de tarefas domésticas com o trabalho fora de casa, ficam expostas a cargas ergonômicas, posições viciosas e repetitivas (3, 5, 7), além do que, possuem características anátomo-funcionais diferentes das do homem, o que as tornam mais propensas aos sintomas dolorosos (27). No presente estudo, optou-se por utilizar de forma conjunta as técnicas de MN deslizantes e tensionantes. A associação destas duas formas de aplicação teve bons resultados na redução da intensidade da dor, de acordo com a EAV e o Questionário Modificado da Dor McGill. A aplicação de forma conjunta ou individual dessas técnicas foi relatada com sucesso em estudos com autores descrevendo pacientes com sinais de mecanosensibilidade de tecido neural aumentada, combinado com sintomas lombares e em membro inferior (14), como pode ser observado nos estudos de Cleland et al (28). Resultados positivos quanto à redução da dor também foram alcançados por Junior e Teixeira (15) e George (16). Qualquer processo inflamatório que afeta uma raiz nervosa pode levar ao desenvolvimento de tecido fibroso, causando aderências que resultam em disfunção, déficit 8 de mobilidade do nervo, gerando dor durante o movimento (29, 30). Pacientes com lombalgia e lombociatalgia frequentemente apresentam dificuldades em pegar objetos no chão, subir e descer escadas, dificuldade de deambulação o que pode limitar sua funcionalidade, restringindo principalmente as atividades ocupacionais e de lazer, comprometendo sua capacidade funcional (31, 1). Neste estudo os pacientes apresentaram resultados significativos quanto à melhora na capacidade funcional comprovando os achados de Machado e Bigolin (5) onde os pacientes também obtiveram melhora após o tratamento com MN. Em se tratando da mobilidade da coluna lombar, foi possível observar um aumento significante, contradizendo os dados encontrados por Boeing (7). Isto pode ser devido ao tempo de tratamento superior e as diferentes formas de aplicação da técnica empregada para tratamento. A comparação da amplitude do movimento de flexão do quadril durante a realização do TEPE pré e pós tratamento não fazia parte dos objetivos iniciais da pesquisa, sendo utilizado apenas para verificar alterações neurodinâmicas tendo como parâmetro valores goniométricos estabelecidos na literatura. Entretanto, como o ganho de amplitude foi significativo optou-se por incluir estes resultados no estudo. De acordo com Shaclock, o ganho de amplitude está relacionado à melhora na capacidade do nervo em suportar a tensão, melhorando a excursão em seu trajeto longitudinal (14). No presente estudo, foi estipulado um protocolo de 15 atendimentos, considerado um tempo de tratamento intermediário em relação ao encontrado na literatura. A amostra inicial era composta por 11 indivíduos, destes, houve 5 desistências, os quais não entraram para análise dos resultados finais. Apesar da quantidade de atendimentos inferior, os pacientes desistentes apresentaram redução de aproximadamente 60% no quadro álgico, com uma média de 3,6 atendimentos, de acordo com os registros na EAV diária. Este fator, entre outros, provavelmente contribuiu para o abandono do tratamento. As técnicas de mobilização do tecido neural são movimentos ativos e passivos que objetivam restabelecer a habilidade do sistema nervoso em tolerar as forças compressivas normais, de atrito, fricção e forças de tensão associados com as atividades diárias (14). É hipotetizado que estes movimentos terapêuticos possam ter um impacto positivo sobre os sintomas, melhorando a circulação intraneural, o fluxo axoplasmatico, a viscoelasticidade do tecido conjuntivo neural e redução da sensibilidade, o que restabelece a neurodinâmica do sistema nervoso e sua integração com o sistema musculo-esquelético (12, 14, 15). 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os resultados encontrados neste estudo, constatou-se que o emprego da MN, fazendo uso de técnicas deslizantes e tensionantes, foi eficaz para a redução da dor, melhora da capacidade funcional, obtenção de ganho na amplitude de movimento do quadril e aumento na mobilidade da coluna lombar. Sugere-se a realização de novos estudos, nos quais sejam realizado o acompanhamento periódico dos participantes, a fim de verificar o comportamento da dor após término do tratamento com MN. 10 REFERÊNCIAS 1. Dutton M. Fisioterapia Ortopédica: Exame, Avaliação e Intervenção. São Paulo: Artmed; 2006. 2. 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Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v13n4/aop044_09.pdf 13 ANEXO A - Questionário Modificado da Dor McGill® NOME:_________________________________________________________________ DATA DA AVALIAÇÃO:_______________AVALIADOR: ______________________ Questionário de Dor McGill – Avaliação do Padrão da Dor Algumas palavras abaixo descrevem a sua dor atual. Escolha apenas uma palavra de cada grupo. Não escolha palavras que não se aplicam. Diga a que melhor descreve sua dor atual. A E I M Q 1-vibração 1-beliscão 1-mal localizada 1-amedrontadora 1-espalhada 2-tremor 2-aperto 2-dolorida 2-apavorante 2-irradia 3-pulsante 3-mordida 3-machucada 3-aterrorizante 3-penetra 4-latejante 4-cólica 4-doída 4-atravessa 5-como batida 5-esmagamento 5-pesada 6-como pancada B F J N R 1-pontada 1-fisgada 1-sensível 1-castigante 1-aperta 2-choque 2-puxão 2-esticada 2-atormenta 2-adormece 3-tiro 3-em torção 3-esfolante 3-cruel 3-repuxa 4-rachando 4-maldita 4-espreme 5-mortal 5-rasga C G K O S 1-agulhada 1-calor 1-cansativa 1-miserável 1-fria 2-perfurante 2-queimação 2-exaustiva 2-enlouquecedora 2-gelada 3-facada 3-fervente 3-congelante 4-punhalada 4-em brasa 5-em lança D H L P T 1-fina 1-formigamento 1-enjoada 1-chata 1-aborrecida 2-cortante 2-coceira 2-sufocante 2-que incomoda 2-nauseante 3-lacerante 3-ardor 3-desgastante 3-agonizante 4-ferroada 4-forte 4-pavorosa 5-insuportável 5-torturante Número de Descritores Índice de Dor Sensorial ............................................... Sensorial ............................................... Afetiva ................................................... Afetiva .................................................... Avaliativa ............................................... Avaliativa ............................................... Diversas ................................................ Diversas ................................................ Total ....................................................... Total ....................................................... As categorias de A a J representam respostas sensitivas à experiência dolorosa (tração, calor, torção, entre outros); os descritores das categorias de K a O são respostas de caráter afetivo (medo, punição, respostas neurovegetativas, etc.); a categoria P é avaliativo (avaliação da experiência global) e as de Q a T são diversas. Chave para o questionário da dor: Grupo A: sugere distúrbio vascular. Grupo B – H: sugerem distúrbio neurogênico. Grupo I: sugere distúrbio musculoesquelético. Grupo J – T: sugerem transtorno emocional. Guia de pontuação - adicione o número total de verificações (x): Total: 4 – 8 = normal 8 – 10 = foco excessivo na dor 10 – 16 = um Psicólogo pode ajudar mais que um Fisioterapeuta Maior que 16 = provavelmente não tem condições de responder aos procedimentos terapêuticos. 14 Fonte: DUTTON, 2006. ANEXO B - Questionário da Incapacidade de Roland-Morris® NOME:_______________________________________________________________ DATA DA AVALIAÇÃO:_________________AVALIADOR:___________________ INSTRUÇÕES: Quando suas costas doem, você pode encontrar dificuldade em fazer algumas coisas que normalmente faz. Esta lista possui frases que as pessoas usam para se descreverem quando sentem dores nas costas. Quando você ouvir estas frases poderá notar que algumas se destacam por descrever você hoje.Ao ouvir a lista pense em você hoje. Quando uma frase descrever você hoje, responda sim. Se a frase não descrevê-lo responda não e siga para a próxima frase. Lembre-se, responda sim apenas à frase que tiver certeza que descreve você HOJE. PERGUNTAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Avaliação SIM NÃO Reavaliação SIM NÃO Fico em casa a maior parte do tempo por causa de minhas costas. Mudo de posição freqüentemente tentando deixar minhas costas confortáveis. Ando mais devagar que o habitual por causa de minhas costas. Por causa de minhas costas eu não estou fazendo nenhum dos meus trabalhos que geralmente faço em casa. Por causa de minhas costas, eu uso o corrimão para subir escadas. Por causa de minhas costas, eu me deito para descansar mais freqüentemente. Por causa de minhas costas, eu tenho que me apoiar em alguma coisa para me levantar de uma cadeira normal. Por causa de minhas costas, tento conseguir com que outras pessoas façam as coisas por mim. Eu me visto mais lentamente que o habitual por causa de minhas costas. Eu somente fico em pé por períodos curtos de tempo por causa de minhas costas. Por causa de minhas costas evito me abaixar ou me ajoelhar. Encontro dificuldades em me levantar de uma cadeira por causa de minhas costas. As minhas costas doem quase que o tempo todo. Tenho dificuldade em me virar na cama por causa das minhas costas. Meu apetite não é muito bom por causa das dores em minhas costas. Tenho problemas para colocar minhas meias (ou meia calça) por causa das dores em minhas costas. Caminho apenas curtas distâncias por causa de minhas dores nas costas. Não durmo tão bem por causa de minhas costas. Por causa de minhas dores nas costas, eu me visto com ajuda de outras pessoas. Fico sentado a maior parte do dia por causa de minhas costas. Evito trabalhos pesados em casa por causa de minhas costas. Por causa das dores em minhas costas, fico mais irritado e mal humorado com as pessoas do que o habitual. Por causa de minhas costas, eu subo escadas mais vagarosamente do que o habitual. Fico na cama a maior parte do tempo por causa de minhas costas. Fonte: DUTTON, 2006. 15 16