crescimento urbano e impactos pluviais na cidade de - Unifal-MG

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CRESCIMENTO URBANO E IMPACTOS PLUVIAIS NA CIDADE DE
UBÁ/MG
Vitor Juste dos Santos
[email protected]
Mestrando em Geografia pela Universidade Federal de Juiz de Fora
RESUMO
Em Ubá/MG os problemas com impactos pluviais são frequentes. A cidade se expandiu
inicialmente às margens dos cursos d’águas e posteriormente espraiou-se para as vertentes e
topos de morros. Dessa forma, desconfia-se que o principal fator no encadeamento destes
impactos seja o crescimento desordenado do espaço físico da cidade para as áreas perigosas.
Numa tentativa de elucidar essa questão, nesta pesquisa foram propostos dois objetivos: 1)
verificar se o número de impactos pluviais aumentou na cidade de Ubá ao longo do tempo; 2)
sendo positiva a resposta do primeiro objetivo, verificar o que levou a este aumento: a
ampliação da intensidade e da frequência das precipitações ao longo do tempo ou o
crescimento do espaço físico da cidade para áreas suscetíveis a tais impactos? Ou seriam as
duas situações? Algumas considerações iniciais foram feitas a partir dos resultados,
destacando que, a partir dos dados analisados na pesquisa, existem mais indícios de que os
impactos pluviais ficaram mais frequentes e intensos devido ao crescimento urbano
desordenado, do que devido a um aumento nos índices pluviométricos.
Palavras-chave: Crescimento Urbano; Impactos Pluviais; Ubá/MG.
ABSTRACT
In Ubá/MG, problems with stormwater impacts are frequent. The city initially has expanded to
the riverbanks and later spilled over into the slopes and hilltops. That way, it is suspected that
the major factor in the worsening these impacts is the uncontrolled growth of the physical space
of the city for dangerous areas. In an attempt to elucidate this question, in this study two
objectives were proposed: 1) verify if the number of stormwater impacts in the city of Ubá has
increased throughout time; 2) being positive response in the first objective, evaluating what has
led to this increase: the magnification the intensity and frequency of rainfall throughout time or
the growth of the physical space of the city to areas susceptible to such impacts? Or they would
be the two situations? Some initial considerations were obtained from the results, emphasizing
that, from the data analyzed in the study, there are indications that the stormwater impacts have
become more frequent and intense due to the urban sprawl, than due to an increase in rainfall
indices.
Key-words: Stormwater impacts; Ubá/MG; Urban Growth.
1 – INTRODUÇÃO
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A falta do planejamento territorial e urbano, as insuficientes ações políticas,
além das desigualdades sociais e econômicas, são um dos fatores que possibilitam a
expansão da ocupação humana para áreas de risco. Não basta somente o fato de esta
expansão avançar sentido a tais áreas, soma-se a isto a vulnerabilidade das
populações envolvidas, que na maioria dos casos ocupam estes locais devido ao
preço mais baixo da terra ou até mesmo de forma irregular, devido à necessidade
básica de um lugar como moradia (SPOSITO, 1989). Uma das comprovações dessa
realidade pode ser o fato de que a maioria dos desastres (mais de 70%) ocorreu em
países em desenvolvimento (MARCELINO, 2007 apud EM-DAT, 2007), e 95% dos
óbitos por decorrência dos mesmos ocorreram nos países considerados pobres
(MARCELINO, 2007 apud DEGG, 1992; ALEXANDER, 1995; TOBIN e MONTZ, 1997).
Chega-se ao ponto em que a expressão “desastre natural” é questionada, pois
se considera que os fenômenos naturais provocam os desastres em função das
formas de produção, ocupação e uso do espaço, e não somente devido ao fenômeno
em si (MOURA e ANDRADE E SILVA, 2008).
Assim, como destaca Rocha (2005, p. 27), “[...] devido aos processos
contraditórios do crescimento urbano, a ameaça aumenta, pois os centros urbanos se
expandem até zonas de maior perigo, excedendo os limites das áreas mais seguras,
adotadas pelos primeiros habitantes”. Isto faz com que, como ainda explana o mesmo
autor, “[...] pelo mesmo processo da natureza, os recursos que oferecem
oportunidades para a vida humana se convertem, em distintos momentos, em
ameaças para ela mesma e suas criações” (p. 26).
É o caso da cidade de Ubá/MG, que concentra sua área urbana sob o domínio
da unidade geomorfológica dos planaltos cristalinos rebaixados, também denominados
de Mar de Morros (AB’SABER, 2006), encontrando-se na mesorregião da Zona da
Mata (Figura 1). As ocupações das aglomerações humanas, desde o início de sua
formação,
se
concentraram
nas
áreas
de
várzeas
e
terraços
fluviais,
consequentemente sendo afetadas pelas inundações no período chuvoso, por conta
destas ocupações invadirem as áreas onde as águas dos cursos d’águas se
extravasam no período de cheia (ANDRADE, 1961). Este autor expõe essa situação
em sua pesquisa (ANDRADE, 1961, p. 24):
Cidades que construídas inicialmente nos terraços mais altos, a
salvo das inundações, ao se desenvolverem necessitam descer
para a várzea e se expandir linearmente pela margem do rio
principal, estendendo tentáculos que acompanham os cursos
dos pequenos afluentes que nele desaguam, deixando
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enormes áreas desocupadas, nos altos e nas encostas, muitas
vezes a poucos metros de distância do centro.
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Figura 1 – Mapa de localização do município de Ubá/MG.
Portanto, devido à necessidade de um recurso essencial à vida, que é a água,
as ocupações humanas se concentraram próximos aos cursos d’águas para facilitar o
acesso ao mesmo, pois os recursos tecnológicos disponíveis no período em que
iniciou o crescimento da cidade ubaense não permitiam que a água fosse transportada
para as áreas mais altas e distantes, que são as de maior declive e topos de morros
(Figura 2).
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Figura 2 – Aglomerações das ocupações humanas, em Ubá/MG na década de 1960, residindo
nas áreas de várzea e terraços fluviais, evitando ocupar as partes mais altas do sítio.
Fonte: Arquivo Histórico de Ubá.
Porém, Andrade (1961) realizou seu estudo em Ubá no final da década de
1950. Neste período, a mesma possuía, aproximadamente, uma população de 49.874
habitantes, sendo que 29.915 moravam na zona rural e 19.959 na zona urbana (IPEA).
Era um período, portanto, que o município tinha como base de sua economia o setor
primário, pois a população rural superava a urbana em quase 10.000 habitantes, com
o cultivo de fumo sendo a produção mais importante (ALBINO, 2009).
Atualmente, a situação se difere bastante daquele contexto apresentado, pois
Ubá possui uma população estimada de aproximadamente, 108.493 habitantes (IBGE,
2013), sendo que no censo de 2010 esta era de 101.466, com 97.599 habitando a
área urbana e 3.867 a zona rural (IPEA) (Figura 3). Este grande aumento populacional
foi impulsionado na década de 1970, quando a população urbana superou a rural
devido à perda de significância do fumo e o crescimento do setor moveleiro na cidade,
atraindo pessoas do campo para o meio urbano.
Figura 3 – Crescimento populacional do município de Ubá/MG entre 1940 e 2010.
Elaborado por Vitor Juste dos Santos (2013).
Fonte: IPEA, Andrade (1961), Albino (2009) e Oliveira (2010).
Assim, como as áreas de várzea e os terraços fluviais foram densamente
ocupados dentro daquele contexto apresentado anteriormente, as ocupações
humanas, atualmente, estão se expandindo para as encostas e topos de morros,
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residindo, em muitos casos, em vertentes íngremes (Figura 4), retomando, portanto,
às afirmações explicitadas por Rocha (2005), e que foram citadas anteriormente.
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Figura 4 – Ocupação de encostas e topos de morros no bairro São Domingos, ao fundo da
fotografia. Imagem de Vitor Juste dos Santos (2014).
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Figura 5 – Crescimento da mancha urbana da cidade de Ubá acompanhando os cursos
d’águas.
2 – OBJETIVOS
De acordo com o exposto na introdução, os objetivos almejados neste artigo
são:
1) Verificar se o número de impactos pluviais aumentou na cidade de Ubá ao longo
do tempo;
2) Sendo positiva a resposta do primeiro objetivo, verificar o que levou a este
aumento: a ampliação da intensidade e da frequência das precipitações ao longo
do tempo ou o crescimento do espaço físico da cidade para áreas suscetíveis a
tais impactos? Ou seriam as duas situações?
3 – FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
Maia e Pitton (2009) destacam em seu estudo, que a maioria das cidades
brasileiras não possuem dados climáticos e históricos de inundações (ou até mesmo
de outros impactos pluviais, como tempestades, movimentos de massa, etc.), sendo
essa prática bem recente com o surgimento da Defesa Civil. Portanto, ganha
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importância as notícias de jornais, que demonstram ser uma fonte valiosa na
caracterização e na verificação da frequência dos eventos ao longo do tempo.
Há algumas pesquisas que se basearam em notícias de jornais, com o intuito
de verificar se houve um aumento no número de ocorrências de inundações em áreas
urbanas, como os trabalhos de Mendes e Mediondo (2007), Barreto (2012) e Binda et
al. (2012).
Mendes e Mediondo (2007) verificaram os dados sobre a evolução urbana e da
população do município de São Carlos/SP, além das ocorrências de inundações e
alagamentos na Bacia do Gregório, localizada dentro da cidade, especificamente no
período de 1940 a 2004.
Os resultados mostraram que o crescimento urbano da bacia teve influência no
aumento e na frequência de inundações e alagamentos, bem como na magnitude de
seus impactos. A avaliação da urbanização da bacia, no período citado anteriormente,
demonstra que a evolução ocorrida entre 1950 e 1970 foi responsável em grande
parte pelos impactos de inundação, visto que mesmo com a diminuição da taxa de
urbanização verificada a partir da década de 1970, o número acumulado de
ocorrências foi se acentuando.
Barreto (2012) analisou a série histórica de precipitação do município de
Jacareí/SP entre os anos de 1942 a 2011, conjuntamente com os registros de jornais
municipais de ocorrências de impactos pluviais durante o mesmo período. Com essa
análise, observou-se que apesar de haver uma pequena variação nos índices
pluviométricos, os registros de jornais aumentaram de forma discrepante, indicando
que os impactos pluviométricos resultam da ação antrópica que se espalha pelo
espaço urbano, mais do que uma variabilidade temporal das chuvas.
Binda et al. (2012), também verificam que os casos de inundações e
alagamentos na cidade de Chapecó/SC têm se tornado cada vez mais frequentes,
principalmente a partir de 1990, apesar de se ter registros desde a década de 1980,
demonstrando que o aumento da população, a expansão urbana e a falta de
infraestrutura urbana assumem papel fundamental nessas ocorrências.
Na presente pesquisa, será feita uma avaliação parecida e baseada nos
trabalhos citados, no entanto, não levando somente em consideração os casos de
inundações e/ou de alagamentos. Nesta, vários impactos desencadeados pelas
chuvas foram levados em consideração, como os movimentos de massa,
tempestades, entre outros, assim como os casos de inundações e alagamentos, nos
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quais foram todos englobados em mesmo conjunto denominado de “impactos
pluviais”.
A primeira avaliação consistirá na análise temporal dos casos de impactos
pluviais na cidade ubaense, em que um levantamento histórico do jornal “Cidade de
Ubá” foi feito contemplando os anos entre 1937 a 1994. Os jornais “Folha do Povo” e
“O Noticiário” serviram como complemento à pesquisa, abarcando o período de 2008 a
2013.
Não foi encontrado nenhum jornal entre o período de 1995 a 2007, o que
comprometeu
significativamente
a
pesquisa, pois estas informações seriam
importantes na análise temporal, visto que se sabe que impactos pluviais ocorreram
durante estes anos, pois existem fotos e alguns documentos que comprovem essas
informações, como alguns impactos que ocorreram em 1997.
A partir do levantamento de todas as notícias com ocorrências de impactos
pluviais, foi elaborada uma matriz contabilizando o número de casos em cada década.
Devido à falta de dados entre os anos de 1995 a 2007, optou-se em dividir os períodos
da seguinte maneira: entre 1941 a 1950; 1951 a 1960; 1961 a 1970; 1971 a 1980;
1981 a 1990; e entre 2008 a 2013. A opção por esta divisão também levou em
consideração as diferentes fontes (entre 1937 a 1994 – jornal “Cidade de Ubá” e entre
2008 a 2013 – jornais “Folha do Povo” e “O Noticiário”), e também entre o período de
2008 a 2013 a área urbana é maior em relação ao período de 1937 a 1994, como é
visto na figura 5.
Além dos números de casos, foram listados os principais locais de ocorrência
de impactos pluviais em cada período, ou seja, aqueles que mais se repetiram ao
longo das notícias. Essa primeira avaliação teve o intuito de alcançar o primeiro
objetivo da pesquisa.
A segunda avaliação foi sobre os dados de precipitação utilizados nesta
pesquisa. Três fontes distintas foram levadas em consideração, sendo estas a
Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), utilizando dados de
pluviosidade do período de 2003 a 2013, os resultados obtidos na pesquisa de Reis et
al. (2012) e a de Andrade (1961). Os dados pluviais mensais médios da COPASA e os
obtidos no trabalho de Reis et al., ou seja, os mais recentes, foram confrontados com
os obtidos por Andrade (1961), ou seja, os mais antigos.
Essa segunda avaliação teve a intenção de verificar se o comportamento
mensal das chuvas mudou ao longo do tempo, mesmo que de forma preliminar, devido
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à carência de dados climatológicos da área de estudo. Ou seja, foi com o intuito de
alcançar parte do segundo objetivo.
Na terceira e última avaliação, debruçou-se sobre os dados populacionais de
1940 a 2010 obtidos através do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e
sobre as imagens de satélite Landsat 5 dos anos de 1985, 1997 e 2011 obtidas
através do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Além destes dados, os
relatórios sobre Avaliação de Danos (AVADAN’s) relacionados aos impactos pluviais
em Ubá e as notícias sobre chuvas obtidas nos jornais municipais citados acima
também foram de suma importância nesta última avaliação. Com as informações
sobre a população ubaense foi feito um gráfico de crescimento populacional e com as
imagens foi elaborado um mapa de crescimento da área urbana através do software
Arcgis 10, no qual foi de utilidade no cálculo das áreas urbanas em Km² nos três
diferentes anos analisados. Com as notícias dos jornais municipais foi elaborado um
gráfico contabilizando os impactos pluviais por década, e estas junto com os
AVADAN’s auxiliaram na elaboração de outro mostrando o número máximo de bairros
atingidos por década.
Com estes gráficos prontos, as informações contidas nos mesmos foram
relacionadas, com a intenção de alcançar parte do segundo objetivo desta pesquisa.
Dessa forma, com todas as tentativas de respostas, algumas conclusões foram feitas
sobre esta pesquisa.
4 – RESULTADOS
A partir do levantamento histórico dos impactos pluviais na cidade ubaense,
foram encontrados registros de impactos pluviais desde 13 de dezembro de 1877.
Nesta ocasião, segundo o jornal “Folha do Povo” de 19 de janeiro de 1919, a
inundação do ribeirão Ubá durou cerca de seis horas, atingindo a parte baixa da
cidade e a Rua São José, que na época possuía poucas casas, causando pouco
prejuízo material. No entanto, nesta mesma edição o jornal destaca a inundação do
ribeirão Ubá do dia 18 de janeiro de 1919, que atingiu os mesmos pontos que a de
1877 e durou apenas uma hora. Comparando os dois casos, a inundação de 1919
causou mais prejuízos à população, pois passados 42 anos, foram construídas mais
residências na Rua São José e em outros pontos próximos a margem do ribeirão.
Percebe-se, de acordo com a comparação realizada pela notícia, que mesmo a
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inundação durando uma hora, ela foi mais trágica que a do século anterior devido ao
maior aglomerado de ocupações ao longo da margem.
Mas esses impactos não foram incluídos na análise a seguir, pois como a
notícia é de 1919, outra lacuna temporal surgiria na pesquisa, entre 1920 e 1936.
Assim, optou-se por trabalhar a análise a partir da década de 1940, como se observa
na tabela 3.
Através do levantamento e organização das informações contidas nas notícias,
percebe-se que o número de casos de impactos pluviais variou ao longo dos períodos
analisados. No entanto, a partir da década de 1970 o número de casos é maior em
relação aos períodos anteriores, sendo exatamente a partir desta década que o
município de Ubá passa a ter sua população habitando predominantemente a área
urbana, como observado na figura 3.
Outra observação importante é em relação ao período 2008-2013, que foram
contabilizados oito casos. Além de esse período ter um número de bairros atingidos
bem maior em relação ao período passado (1981-1990), 35 contra seis, aquele
contabilizou um número maior de casos em relação aos outros mesmo com apenas
seis anos analisados, enquanto os outros são dez. Se esta análise fosse reduzida até
o final da década de 2000, ou seja, de 2008 a 2010, o número de casos seria reduzido
a seis, porém, seria mesmo assim significativo, pois teria sete anos de desvantagem
em relação aos outros períodos. Ou seja, provavelmente essa contagem seria maior
se o acesso às notícias dos jornais de 2001 a 2007 fossem possíveis, pois se sabe
que ocorreram impactos em alguns destes anos devidos a fotos e documentos, como
alguns casos que ocorreram em 2004.
Tabela 3 – Ocorrência de impactos pluviais em Ubá/MG.
Período
Nº de Casos
Principais Locais de Ocorrência
1941 – 1950
1951 – 1960
1
5
1961 – 1970
2
1971 – 1980
7
1981 – 1990
4
Parte baixa da cidade.
Parte alta como a parte baixa da cidade. Avenidas Cristiano
Roças e Governador Valadares. Ruas São José, 19 de Março,
Nossa Senhora da Saúde, Inácio Godinho e João Pessoa.
Também o Matadouro, Tanque Pedro Batalha, Vila São
Domingos e altos do Caxangá.
Bairro Jardim Glória. Ruas CADES e Major Fusaro. Partes
baixa e alta da cidade.
Bairros Triângulo, Jardim Glória, Caxangá, São Domingos, e
Vila Casal. Avenidas Jacintho Soares Souza Lima, Padre
Arnaldo Jansen e Ex Combatentes. Ruas São José, das
Flores, CADES, Santa Cruz, Antônio Batista, Ten. Pedro
Batalha, 13 de Maio, Cel. Carlos Brandão, Nossa Senhora da
Saúde, João Pessoa e D. Silvério.
Bairro São Domingos. Região do Córrego Pedro Batalha.
Avenida Jacintho Soares Souza Lima. Praça Gladstone Faria
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Alvim. Ruas Santa Cruz, D. Helvécio, 13 de Maio, Peixoto
Filho, Cel. Carlos Brandão, Júlio Soares, Ten. Pedro Batalha,
Sebastião Lisboa, Antônio Batista, Camilo dos Santos, Nossa
Senhora da Saúde.
1991 – 2007
Não foi encontrada nenhuma notícia.
2008 – 2013
8
Bairros Santa Luzia, São Domingos, Louriçal, Caxangá, São
João, Eldorado, Cristo Redentor, Da Luz, Agroceres,
Industrial, Inês Gropo, Jardim Glória, Olaria, Meu Sonho,
Palmeiras, Primavera, Santa Edwiges, Santana, Shangrila,
Santa Bernadete, Vale do Ipê, Valdemar de Castro, Vila
Casal, São Sebastião, Galdino Alvim, Lava-pés, Oséas
Maranhão, Pires da Luz, Vila Gonçalves, Copacabana,
Peluso, Ponte Preta, Triângulo, Universitário e Bom Pastor.
Avenidas Jacintho Soares Souza Lima e Cristiano Roças.
Ruas Antônio Batista, Capitão Teixeira Pinto, São José, Da
Harmonia, Francisco André de Araújo, Ceará e José Teixeira
de Abreu.
Fonte: Jornais “Cidade de Ubá”, “Folha do Povo” e “O Noticiário”.
Portanto, mesmo sem ter acesso a estas notícias, há indícios de que o número
de casos de impactos pluviais registrados pelas notícias de jornais seja maior a partir
da década de 2000 em relação aos períodos anteriores. Mas a partir das informações
obtidas através das notícias dos jornais municipais, não é possível afirmar que o
número de casos aumentou ao longo do tempo.
Mesmo o primeiro objetivo não sendo plenamente atingido, devido às
dificuldades de obtenção dos dados, optou-se por tentar dar algumas respostas ao
segundo.
Observando a figura 6, nota-se que as médias mensais de precipitação obtidas
através dos dados da COPASA entre 2003 a 2013 (11 anos) indicam que os meses
com os índices pluviométricos mais altos são de outubro a abril, nos quais atingem ou
ultrapassam os 100mm. Destacam-se os meses de novembro, dezembro e janeiro,
onde as médias superam os 200mm. Já os meses menos chuvosos vão de maio até
setembro, nos quais as médias não ultrapassam os 50mm.
Os dados da COPASA são coincidentes aos resultados obtidos por Reis et al.
(2012), que obtiveram as normais climatológicas de precipitação dos municípios de
Minas Gerais. Para Ubá verificaram que os meses mais chuvosos são os de outubro a
março, nos quais ultrapassam os 100mm, com os meses de dezembro e janeiro
ultrapassando os 200mm, e os de novembro e fevereiro chegando próximos a esse
índice. Ao contrário dos dados da COPASA, o mês de abril não ficou entre os meses
em que a média mensal atingiu os 100mm. Os resultados obtidos para os meses de
maio a setembro foram semelhantes os obtidos através dos dados da COPASA.
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Comparando esses resultados mais recentes com os obtidos por Andrade
(1961), verificam-se muitas semelhanças. Os meses que ultrapassam a média de
100mm de chuvas são os de outubro a março, ou seja, assemelha-se ao
comportamento pluviométrico encontrado na pesquisa de Reis et al. (2012). Já para os
meses de maio a setembro, houve grandes semelhanças em relação às duas outras
fontes.
240
Figura 6 – Comparação entre as médias mensais de chuvas do município de Ubá/MG.
Com base na confrontação dos dados destas três fontes, observa-se que o
comportamento da chuva é semelhante, ou seja, não houve mudanças significativas
nos índices mensais médios de precipitação.
Observando a figura 7, nota-se que fatores como o crescimento da população
urbana ubaense e a diminuição da população rural podem estar relacionados com o
aumento dos eventos que causaram impactos pluviais na cidade. No período em que a
predominância era de população rural (1940-1960), a média de eventos foi de 2,7 por
década, já no período posterior, em que a população urbana supera a rural (19702000), essa média aumenta para 4,5 eventos por década. Além de o segundo período
ser superior ao primeiro em termos de eventos ocorridos, cabe mencionar que para a
década de 1990 não foram encontradas informações sobre eventos que causaram
impactos pluviais, o que poderia aumentar essa média.
Cabe destacar, também, ainda na figura 7, o crescimento da área urbana
ubaense, que de 1985 a 2011 teve uma taxa de crescimento urbano de 370%. Tal fato
pode ser um dos fatores que contribuiu para o aumento da média de eventos a partir
da década 1970, pois o grande crescimento populacional urbano impulsionado pela
indústria moveleira fez crescer a demanda por espaços a serem ocupados no sítio
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onde está localizada a cidade. Devido a isso, enquanto na década de 1960, quando
Andrade (1961) pesquisou a cidade ubaense, as ocupações urbanas eram
predominantes nos vales fluviais. Já, atualmente, com a densa ocupação nestes vales,
as ocupações humanas se expandiram para as encostas e topos de morros, como
visto anteriormente. Portanto, até a década 1980, o número de impactos pluviais ficava
restrito a no máximo seis bairros atingidos. Na década de 2000, esse número já
aumentou para 35 bairros atingidos.
Como explanado antes, sobre a década de 1990, não foram encontrados
nenhum tipo de notícias de jornais que mostrem impactos pluviais em Ubá e também
quais bairros atingidos por estes eventos. Porém, sabe-se que tais eventos ocorreram
a partir de fotos que os registraram, sendo que as mesmas se encontram no Arquivo
Histórico municipal. Tal acontecimento comprometeu um pouco a análise, pois essas
informações seriam importantes para melhor compreender a evolução do número de
eventos impactantes e dos locais atingidos pelos mesmos.
Figura 7 – Relação entre crescimento populacional e da área urbana da cidade de Ubá/MG
com o número de eventos relacionados a impactos pluviais e os número de bairros atingidos.
Elaborado por Vitor Juste dos Santos (2014).
* Não foram encontradas informações sobre esse período (década de 1990).
Fonte: AVADAN’s, INPE, IPEA e Jornais Municipais.
5 – CONCLUSÕES
A partir dos resultados da pesquisa, algumas considerações podem ser feitas.
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É importante ressaltar que mesmo o primeiro objetivo da pesquisa não sendo
alcançado de forma plena, há fortes indícios a partir de informações extras, como fotos
e alguns documentos obtidos através da Defesa Civil municipal, de que o número de
casos de impactos pluviais seriam maiores na década de 2000 em relação às décadas
anteriores.
Além disso, algumas informações importantes podem ser extraídas dessas
notícias, como os locais frequentemente atingidos, quais tipos de impactos são
predominantes na cidade e em quais meses são mais recorrentes.
Mas mesmo com a resposta insuficiente em relação ao primeiro objetivo, há
fortes evidências de que o crescimento do espaço físico da cidade de Ubá seja
desencadeador de impactos pluviais, devido à expansão desordenada para as
margens de cursos d’águas e para as vertentes íngremes/topos de morros. Essas
evidências estão contidas nos gráficos elaborados para a figura 7, e são reforçadas
pelos dados de pluviosidade contidos na figura 6, que mostra que o comportamento
das chuvas não se modificou ao longo de 50 anos, levando em consideração as
médias mensais.
Portanto, se não está chovendo mais ao longo dos meses, é bem provável que
os impactos pluviais registrados nas notícias de jornais e nos relatórios da Defesa Civil
municipal sejam causados mais pelas intervenções antrópicas sobre o meio.
É claro que as informações contidas nesta pesquisa são iniciais e que outras
devam ser adquiridas e analisadas para responder de forma satisfatória aos objetivos
propostos. O intuito dessa pesquisa não foi de responder essas questões de forma
definitiva, mas de começar a levantar questões sobre os problemas relacionados às
chuvas na cidade de Ubá.
REFERÊNCIAS
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil. Potencialidades
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