Cognition, dementia and hormones - treatment Não há como contestar a inequívoca importância dos E para a higidez e funcionalidade dos diversos setores cerebrais seja por ações genômicas seja por mecanismos não genômicos, como ativação da circulação cerebral entre outros. Decorre, pois, que os E têm primazia quando se cogita administrar algum fármaco para controle e possível tratamento da DA. e d i t o r ia l Cognição, demência e hormônios – tratamento Mario Gáspare Giordano Okhura et al., 1995, avaliaram a circulação cerebral em grupo restrito de 14 mulheres na pós-menopausa. Nove pacientes usaram estrogênios conjugados eqüinos por três semanas e as cinco restantes usaram placebo. Verificaram aumento da circulação sanguínea cerebral e cerebelar, de modo significativo, entre as usuárias de E. O pequeno número de pacientes e a mensuração global da circulação cerebral não permitiram inferências particularizadas embora inequívocos foram os benefícios observados. O estudo de Baltimore em idosas (Resnick et al., 1998) .analisou grupo de 15 mulheres usuárias de E, isolado ou associado a Pg, por até 20 anos. Grupo de 17 mulheres serviu de controle. Testes de avaliação cognitiva, a MRI, o PET foram instrumentos utilizados para análise dos dados. A MRI não evidenciou diferenças no volume cerebral ou dos ventrículos. Houve incremento da circulação em áreas específicas do SNC entre as usuárias de E. Estas, também, melhor se saíram nos testes neuropsíquicos de memória verbal e espacial. Contudo, como concluem os autores, os mecanismos e a avaliação cognitiva demandam mais estudos para melhor esclarecimento dos dados obtidos. Disciplina de Ginecologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) FEMINA | Fevereiro 2007 | vol 35 | nº 02 71 Cognição, demência e hormônios – tratamento TRH – Dados favoráveis Le Blanc et al., 2001, empreenderam estudo de metanálise com inclusão de 29 trabalhos. Concluíram pela vantagem da TRH na pós-menopausa para mulheres sintomáticas, com melhora de algumas funções cognitivas. Para as assintomáticas não houve benefício. Limitações metodológicas dos estudos impediram inferências categóricas. Costa et al., 1999, realizaram estudo de avaliação retrospectivo, incluindo 3.128 mulheres na pós-menopausa. Após um ano de uso da TRH verificaram os autores que as usuárias exibiram proteção contra a deterioração das funções cerebrais. Pan et al., 2003, acompanharam 40 mulheres na pós-menopausa. Um grupo (23 pacientes) usou estrogênios conjugados e medroxiprogesterona. Outro grupo (17 pacientes) usou tibolona (2,5 mg/dia). Após três meses de observação o teste 3 MSE mostrou melhora nos dois grupos com discreta superioridade para as usuárias de E + Pg. TRH – Dados inconclusivos Burder et al., 2001, acompanharam 42 pacientes na pósmenopausa com idade igual ou superior a 75 anos. Utilizaram E isolado ou associado a Pg por nove anos. Concluíram pela inexistência de bons resultados para as funções cognitivas. Hogervorst et al., 2005, analisaram os efeitos da androgenioterapia em mulheres na pós-menopausa, hígidas ou com distúrbios funcionais do SNC. Concluíram que os androgênios não foram superiores aos estrogênios para a discreta melhora verificada nas funções cognitivas. King et al., 2004, realizaram estudo observacional com 493 mulheres na faixa etária entre 40-80 anos. Foram usados testes de avaliação cognitiva. As usuárias de TRH por cinco ou mais anos não exibiram resultados favoráveis superiores às não usuárias. Almeida et al., 2006, acompanharam 115 mulheres na pós-menopausa tardia (idade superior a 70 anos). Um grupo usou 2 mg de estradiol por 20 semanas. O segundo grupo serviu de controle (uso de placebo). Os testes de avaliação não evidenciaram qualquer benefício para as funções cognitivas, humor ou qualidade de vida. Hogervorst et al., 2002, realizaram metanálise com inclusão de cinco estudos e 210 mulheres na pós-menopausa portadoras da DA. Analisaram a possível eficácia dos E (estrogênios conjugados eqüinos na dose de 0,625 mg ou 1,25 mg/dia) para as usuárias servindo de controles as não usuárias. Resultado benéfico marginal foi 72 FEMINA | Fevereiro 2007 | vol 35 | nº 2 obtido para as usuárias de 0,625 mg/dia após um mês de tratamento. Os bons resultados desapareceram com três, seis meses e um ano de acompanhamento. Concluíram pela inexistência de dados favoráveis no uso da TRH para portadoras da DA. Em recente estudo de metanálise Low & Anstey, 2006, analisaram os dados de 26 trabalhos verificando os resultados da TRH na melhora das funções cognitivas e em 17 outras publicações averiguaram a eficácia da TRH na diminuição do risco de demência. Foram arregimentadas 21.933 mulheres na faixa etária média de 71,5 anos. Resultado: a TRH favoreceu a memória verbal, desempenho das atividades diárias e redução do risco de demência; a TRH não favoreceu a memória visual, a rapidez de raciocínio e a função cognitiva. A maioria dos estudos, atualmente existentes, não mostrou vantagem na TRH para melhora das funções cognitivas em mulheres na pós-menopausa tardia. Alguns outros ensaios clínicos analisaram o uso do GnRH com eventuais benefícios nas funções cerebrais de mulheres hígidas. Também a testosterona, DHEA, tibolona e Serms foram avaliados. Os resultados não foram convincentes. Quando presentes, sempre foram inferiores aos obtidos com emprego de E. Yoon et al., 2003, confrontaram o uso do tacrine (inibidor da acetilcolinesterase) com o de E em mulheres com DA. Após acompanhamento de seis meses os autores evidenciaram algum benefício ora com o tacrine ora com E. Os resultados, porém, não foram convincentes e o 3MSE não mostrou superioridade entre as substâncias utilizadas. Estudo Women’s Health Initiative Memory Study (WHIMS) Citamos em separado esta publicação pela relevância da mesma. Foi estudo randomizado, duplo-cego, placebo controlado com estudo de dados melhor conduzidos até hoje. Este estudo foi integrado por subgrupo de mulheres do WHI e, evidentemente, com menor poder estatístico em relação ao estudo original. Planejado inicialmente para ser conduzido por nove anos foi interrompido com cinco anos no braço constituído por mulheres usando associação de E e Pg e aos sete anos no braço integrado por usuárias de E. O grupo usando E + Pg, com os controles, foi constituído por 4.532 mulheres na faixa etária compreendida entre 65 e 79 anos (Shumaker et al., 2004). O grupo usando E isolado, com os controles, foi constituído por 2.808 mulheres (Espeland et al., 2004). Como ferramenta de avaliação foi usado o 3MSE. Cognição, demência e hormônios – tratamento Após cinco anos, o braço utilizando E + Pg, bem como após sete anos o grupo utilizando E, mostraram déficit cognitivo, significativo, em relação aos controles (Figura 1). Os autores dos estudos concluíram que o uso de E isolado ou associado a Pg não deve ser recomendado para pacientes na faixa etária analisada com a finalidade de proteger as funções cognitivas. Malgrado os resultados, este estudo não está imune a muitas críticas. Ele está dissociado da prática clínica. Não administramos nem rotineiramente, nem continuamente, preparados hormonais para mulheres com idade superior a 65 anos. É grande a probabilidade dos neurônios não mais “responderem” à administração de esteróides. Acorde com observação pertinente de estudiosos do tema o ideal seria a administração de terapia hormonal quando as mulheres estivessem na faixa dos 50 anos. O acompanhamento futuro forneceria a real dimensão dos benefícios, eventual malefício ou neutralidade no que tange ao uso de preparados hormonais com a finalidade de proteção das funções cognitivas. Considerações finais Alguns estudos mostraram que os E agem favoravelmente na melhora das funções cognitivas. Para tal as observações Figura 1 - Extraído de Espeland et al., 2004. Círculos brancos indicam a avaliação cognitiva do grupo controle, círculos pretos, a das mulheres com terapia hormonal, no espaço de cinco ou sete anos. clínicas mostram que a estrogenioterapia deverá ser recomendada nas cercanias da menopausa. O uso tardio não parece melhorar a atividade cerebral e, com os dados disponíveis, tem ação prejudicial. Descortinamos importante área de pesquisa clínica no setor. Estudos futuros serão importantes. A administração precoce de E e acompanhamento destas pacientes na faixa etária em que mais incide a DA servirá de guia para que orientemos corretamente nossas pacientes. Leituras suplementares 1. Almeida OP, Lautenschanger NT, Vasikaran S et al. A 20- week randomized controlled trial of estradiol replacement therapy for women aged 70 years and older: effect on mood, cognition and quality of life. Neurobiol Aging 2006; 27: 141-9. 2. Burder EF, Schechtman KB, Burge SJ et al. Effects of hormone replacement therapy on cognitive performance in elderly women. Maturitas 2001; 38: 137-46. 3. Costa MM, Reus VI, Wolkowitz OM et al. Estrogen replacement therapy and cognitive decline en memoryimpaired post-menopausal women. Biol Psychiatry 1999; 46: 182-8. 4. Espeland MA, Rapp SR, Shumaker SA et al. Conjugated equine estrogen and global cognitive function in postmenopausal women. Women’s Health Initiative Memory Study. JAMA 2004; 291: 2959-68. 5. Hogervorst E, Yaffe K, Richards M, Huppert F. Hormone replacement therapy to maintain cognitive function in women with dementia. Cochrane Database Syst Rev 2002; CD 003799. 6. Hogervorst E, Bandelow S, Moffat SD. Increasing testosterone levels and effects on cognitive functions in elderly men and women: a review. Curr Drug Targets CNS Neurol Disord 2005; 4: 531-40. 7. King R, Travers C, O’Neil S et al. The influence of postmenopausal hormone replacement therapy on cognitive functioning: results from an observational study. J Br Menopause Soc 2004; 10: 103-7. 8. Le Blanc ES, Janowsky J, Chan BK, Nelson HD. Hormone replacement therapy and cognition: systematic review and meta-analysis. JAMA 2001; 285: 1489-99. 9. Low LF, Anstey KJ. Hormone replacement therapy and cognitive performance in postmenopausal women: a review by cognitive domain. Neurosci Biobehav Rev 2006; 30: 66-84. FEMINA | Fevereiro 2007 | vol 35 | nº 2 73 Cognição, demência e hormônios – tratamento 10. Okhura T, Teshima Y, Isse K et al. Estrogen increases cerebral and cerebellar blood flow in postmenopausal women. J North Am Menopause Soc 1995; 2: 13-8. 11. Pan HA, Wang ST, Pai MC et al. Cognitive function variations in postmenopausal women treated with continuous, combined HRT or tibolone: A comparison. J Reprod Med 2003; 48: 375-80. 12. Resnick SM, Maki PM, Golski S et al. Effects of estrogen Local: Expominas- BH Realização: SOGIMIG Tel.: 55(31)3222-6599 Fax: 55(31)3222-6599 [email protected] www.sogimig.org.br 74 FEMINA | Fevereiro 2007 | vol 35 | nº 2 13. Shumaker SA, Legault C, Kuller L et al. Conjugated equine estrogen and incidence of probable dementia and mild cognitive impairment in postmenopausal women. Women’s Health Initiative Memory Study. JAMA 2004; 291: 2947-58. 14. Yoon BK, Kim DK, Karig Y et al. Hormone replacement therapy in postmenopausal women with Alzheimer’s disease: a randomized prospective study. Fertil Steril 2003; 79: 274-80. 32º Congresso Mineiro de GO - EMGO 2007 16 a 19 de maio Belo Horizonte - MG replacement therapy on PET cerebral blood flow and neuropsychological performance. Horm Beh 1998; 34: 171-82.