ARTIGO abet - EMPRENDEDORISMO

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A CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL E O EMPREENDEDORISMO NO
BRASIL
Monaliza Pires Lima1
Enimar J. Wendhausen2
RESUMO
O estudo em questão tem como objetivo geral verificar os reflexos da crise
econômico-financeira internacional sobre o empreendedorismo no Brasil.
Apresentam-se como objetivos específicos: a) descrever o perfil dos
empreendedores brasileiros; b) investigar a relação existente entre a evolução
dos empreendedores iniciais e nascentes no período de 2002 a 2010, à luz dos
aspectos conjunturais do País; c) verificar os efeitos da crise econômicofinanceira sobre a atividade empreendedora.Trata-se de uma pesquisa descritiva
e se caracteriza como bibliográfica e documental. Pode-se concluir que a
atividade empreendedora no Brasil é influenciada pelas condições econômicas e
sociais do país. Por sua vez, a crise econômico-finaceira internacional não afetou
de forma significativa a atividade empreendedora do País. Isto pode ser explicado
pelo fato de serem estes empreendimentos de micro e pequenos portes voltados
para atender ao consumo interno e em decorrência da implantação de políticas
anticíclicas que estimularam o consumo, além de incentivos ao
empreendedorismo, através de Leis como a Lei Geral da Micro e Pequena
Empresa e a Lei do Empreendedor Individual.
Palavras-chave: Crise; Empreendedorismo; Perfil do empreendedor.
1
2
Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Amazonas.
Mestrado em Economia pela UFPB/ Professora Assistente do DEA/FES/UFAM.
INTRODUÇÃO
A importância da atividade empreendedora no Brasil vem ganhando
impulso desde a década de 90. O Brasil é considerado um dos países que possui
uma das mais altas taxas de empreendedorismo total (TEA) e a atividade
empreendedora tem sido apontada como geradora de emprego e renda para o
País.
Segundo
o
Global
Entrepreneurship
Monitor
(GEM),
a
atividade
empreendedora pode ser motivada tanto pela necessidade como pela
oportunidade e fatores como o crescimento da economia e o mercado de trabalho
podem ser determinantes na indicação dos motivos para se empreender.
Percebe-se que a condição para a promoção do empreendedorismo está
relacionada à situação econômica do País. Dessa forma, com o desdobramento
da crise que surgiu nos Estados Unidos em 2007 e repercutiu internacionalmente
em 2008, surge à seguinte questão: a crise econômico-financeira internacional
afetou a atividade empreendedora no Brasil?
O objetivo geral consiste em verificar os reflexos da crise econômicofinanceira internacional sobre o empreendedorismo no Brasil. Apresentam-se
como objetivos específicos: a) descrever o perfil dos empreendedores brasileiros;
b) investigar a relação existente entre a evolução dos empreendedores iniciais e
nascentes no período de 2002 a 2010, à luz dos aspectos conjunturais do País; c)
verificar
os
efeitos
da
crise
econômico-financeira
sobre
a
atividade
empreendedora.
O estudo justifica-se pelo fato de se reconhecer a importância que a
atividade empreendedora desempenha para a economia brasileira e verificar se a
crise financeira iniciada em 2007 afetou a atividade empreendedora no Brasil;
além de ser este um assunto bastante discutido atualmente por toda a sociedade,
que tem destacado as benesses que a atividade empreendedora pode promover.
Por sua vez, os estudos desenvolvidos sobre o tema, apesar de terem aumentado
nos últimos anos, ainda assim, apresentam uma quantidade reduzida se
comparados com os de outros países. A exemplo dos Estados Unidos que
realizam há algum tempo pesquisas sobre o tema. Desta forma, procura-se, ao
desenvolver estudos como este contribuir com as discussões sobre o
empreendedorismo e estimular muitas outras.
Em relação aos procedimentos metodológicos utilizados, quanto ao
objetivo da pesquisa, a mesma pode ser classificada como descritiva, pois
descreve as características de determinado fenômeno ou população (GIL, 1991).
Além disso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e documental. Foram
utilizados dados do Relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) e de
instituições como do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
O artigo encontra-se estruturado em três seções: a primeira discute os
principais fatores responsáveis por desencadear a crise econômico-financeira
originada nos Estados Unidos e os efeitos gerados pela crise sobre a economia
brasileira; na segunda seção apresentam-se os principais conceitos de
empreendedorismo e empreendedor; a terceira seção descreverá o perfil dos
empreendedores brasileiros, quanto ao gênero, faixa etária, nível de escolaridade
e renda. Assim como, apresentará a evolução da taxa de empreendedorismo
total no Brasil (TEA) no período de 2002 a 2010 e os possíveis efeitos da crise
sobre a mesma. .
1 A CRISE ECONÔMICO FINANCEIRA INTERNACIONAL: ASPECTOS
CONDICIONANTES E SEUS IMPACTOS SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA
Segundo Acioly, Matijascic, Chernavsky, Piñón e Leão (2009) a origem da crise
econômica internacional que se manifestou nos Estados Unidos a partir de 2007
teve origem no setor financeiro. A explicação para o ocorrido não está centrado
somente em um único fator e sim em um conjunto de aspectos tanto
macroeconômicos
quanto
microeconômicos.
A
respeito
dos
fatores
macroeconômicos tem-se a ocorrência da reduzida taxa de juros que contribuiu
para expandir o crédito e financiar a demanda interna. Além disso, a facilidade de
crédito tornou menos seletiva à concessão de financiamento, incorporando
maiores riscos à operação. Em relação aos aspectos microeconômicos pode-se
citar o reduzido controle dos mercados financeiros e a elevada oferta de liquidez
que gerou o aparecimento de uma série de produtos. Acrescenta-se também que
o modelo de empréstimos empregado, principalmente pelos bancos de
investimentos, os quais transformavam parcela dos empréstimos em carteiras de
títulos que eram vendidos junto ao sistema financeiro, conduzindo uma
transferência de risco.
A maneira como ocorria à concessão de crédito era arbitrária, uma vez que
não se estabeleciam condições para os indivíduos que recorriam aos
empréstimos. Dessa forma, qualquer pessoa conseguia obter o financiamento
sem que houvesse a necessidade de comprovação de renda, apresentação do
histórico de inadimplência ou até bens como garantia.
Com a facilidade de crédito e eventualmente, uma menor restrição e
garantia para a concessão do mesmo, houve um aumento pela busca de
empréstimos por parte das famílias para comprar imóveis e/ou expandirem a
capacidade de consumo.
Um agravante com relação às hipotecas subprime se referia ao fato de que
eram empréstimos longos, com duração de 30 anos, que se dividiam em dois
períodos. Nos três primeiros anos do pagamento do empréstimo, somente se
pagava as taxas de juros que eram fixas e consideradas baixas. Em seguida, no
segundo momento tem-se o período que coincide até o término do contrato, onde
a situação alterava, pois as taxas de juros aumentavam e passavam a ser
ajustadas conforme as taxas impostas pelos bancos (IPEA, 2008).
Com o decorrer do tempo, a tendência foi o surgimento da dificuldade para
pagar os empréstimos. No entanto, como o mercado imobiliário estava
enfrentando um intenso processo de expansão caracterizado pela elevação no
preço dos imóveis, muitas pessoas tiveram a possibilidade de refinanciar os seus
contratos junto aos bancos. Com a redução do boom do mercado imobiliário, esse
mecanismo de renegociação do contrato não pode ser mais sustentado, a
situação tendeu a se agravar, pois houve uma diminuição da oferta de crédito, em
parte ocasionada pelo acréscimo das despesas referentes aos empréstimos e
pelo aumento da inadimplência ligada ao subprime (IPEA, 2009).
Conforme Acioly, Matijascic, Chernavsky, Piñón e Leão. (2009) o número
de inadimplentes vinculado ao subprime nos Estados Unidos no primeiro trimestre
de 2007, respondia por 2,1%, enquanto que no terceiro trimestre de 2008,
alcançou 5,1%, indicando a evolução de inadimplentes relacionados a hipoteca
subprime .
É importante esclarecer que outros segmentos financeiros foram atingidos,
isto porque as hipotecas subprime eram usadas como lastro para as operações
de securitização. Essas operações de securitização em sua predominância
apresentavam garantias e seguros, por isso quando o aumento da inadimplência
se intensificou, as seguradoras e companhias foram abaladas pelo aumento
crescente pela procura dos benefícios (IPEA, 2008).
Quanto à cronologia dos fatos, é a partir do segundo semestre de 2008,
com a quebra do banco de investimento Lehman Brothers que a crise começa a
afetar o restante das economias, visto que até então, estava somente presente
em alguns países desenvolvidos, como nos Estados Unidos. Seus efeitos
passaram a ser mais perversos, pois surgiram dúvidas quanto à recuperação dos
sistemas financeiros ocorrendo também uma retração do consumo mundial por
bens e serviços.
A instabilidade no mercado financeiro foi o bastante para instalar a
insegurança e exercer impacto negativo sobre as expectativas futuras, assim a
busca pela venda de ativos de alto risco se acentuou, acarretando em uma
considerável queda nos preços destes ativos e uma acentuada procura por ativos
detentores de maior liquidez (CINTRA; PRATES, 2011).
É importante esclarecer que os mecanismos de propagação dos impactos
da crise financeira ocorrida em meados de 2007 não ocorreram uniformemente
entre os países, e a intensidade com que as economias foram atingidas,
dependeu quase que exclusivamente do vínculo de relação com o mercado
financeiro americano, podendo acrescentar que as medidas realizadas pelas
autoridades determinaram o real efeito gerado pela crise.
O fato descrito anteriormente pode ser verificado no comportamento das
atividades econômicas, quantificado pelo Produto Interno Bruto (PIB) dos diversos
países. A escassez de crédito, por exemplo, contribuiu para que houvesse uma
redução da atividade econômica, pois o episódio freqüentemente, enfrentado
pelas empresas foi a recusa de financiamento de crédito, para que estas
pudessem dar prosseguimento ao processo produtivo, assim gerou-se uma
contaminação no ciclo econômico. Afinal, sem investimento para expandir e
continuar as atividades, a demanda por insumos por parte destas empresas foi
drasticamente reduzida, afetando outros setores da economia, além de
proporcionar a elevação no nível da taxa de desemprego e refletindo sobre o
consumo (MOLLO, 2008).
Pode-se afirmar que entre os anos de 2000 e 2007 o crescimento
econômico enfrentado pela maioria dos países respondeu de forma considerável
às expectativas de expansão, todavia constata-se que a partir do segundo
trimestre de 2008, houve uma inversão da situação econômica dos países
desenvolvidos como Estados Unidos, Japão e os pertencentes à Zona do Euro
que passaram a ser atingidos por uma desaceleração em suas economias.
Analisando o cenário do Brasil em relação à crise financeira, pode-se
afirmar que o maior impacto provocado pela mesma foi o rompimento do
crescimento econômico que o país atravessava antes a deste episódio. Gerando,
conseqüentemente, o encerramento de uma
expansão econômica, além de
instalar o pessimismo e a incerteza sobre a condição futura da economia
brasileira perante o clima de instabilidade presente na economia mundial.
A crise suscitou um sentimento que sempre se faz presente em momentos
de dúvidas sobre o percurso que a economia tomará que é a insegurança quanto
às expectativas futuras. Apesar de ser um aspecto com características
psicológicas, o medo, o pessimismo e a insegurança são inerentes ao processo e
surgem à medida que os agentes vão percebendo certas anormalidades no
sistema econômico.
Chernavsky (2011) enfatiza dois pontos que contribuíram para a diminuição
do grau de confiança na economia brasileira:
O primeiro é que no caso do Brasil, a eclosão da crise permitiu que o nível
de desconfiança aumentasse e se estendesse de forma generalizada. Essa
situação se agravou com os prejuízos apresentados pelas grandes empresas
exportadoras, como a Sadia e a Aracruz que tiveram suas atividades
comprometidas, devido ao fato de fazerem uso de contratos de Adiantamentos de
Contrato de Câmbio (ACCs), como alternativa para financiarem o capital de giro,
com isso dando condições para prosseguir nas suas atividades produtivas. Com a
retração de crédito, ocasionada pela redução de oferta por parte do mercado
financeiro, e a súbita desvalorização cambial, essas empresas ficaram
impossibilitadas de continuarem utilizando estes contratos.
O segundo aspecto que estimulou a incerteza por parte dos agentes foi a
notícia sobre o declínio nas transações de ativos financeiros. Verificou-se que em
dezembro de 2008, o volume financeiro transacionado respondeu por uma queda
de 42% na Bovespa e 34% na Bolsa Mercantil e de Futuros (BM&F).
O bom desempenho obtido pela economia brasileira antes da deflagração
da crise ocorreu, devido à variação positiva das exportações, provocada
principalmente pelo indicio de alta dos preços das commodities, ocasionada pela
expansão da demanda mundial dos produtos brasileiros. Para o Brasil, o período
anterior à crise significou a estabilização de sua economia, isso pode se traduzido
pelo excelente resultado das exportações que em 2008, alcançaram o valor
recorde de US$ 197 bilhões, gerando superávit na balança comercial (CASTILHO,
2011).
Esse cenário colocou o Brasil em uma situação privilegiada no comércio
internacional, mas ao mesmo tempo, contribuiu para que o país se tornasse mais
vulnerável às flutuações do mercado mundial.
De fato, os impactos da crise financeira somente foram sentidos no Brasil
no segundo semestre de 2008. Até então, a acentuada expansão econômica foi
capaz de amenizar os seus efeitos. No entanto, com o decorrer do tempo, a
economia brasileira passou a sofrer os reflexos da crise, verificando uma redução
nos preços das commodities.
A partir dessas circunstâncias, o fluxo de comércio internacional
apresentou um declínio acentuado. Com isso, entre o último trimestre de 2008 e
fevereiro 2009, o montante de exportações e importações caíram 48% e 54%,
respectivamente, evidenciando o reflexo proporcionado pela crise. A explicação
para a retração do comércio mundial pela ótica da economia brasileira se deve à
redução da demanda pelos produtos exportados pelo Brasil, para os seus
principais parceiros comerciais, como Estados Unidos, Japão, Argentina e
Europa, que nesse cenário encontrava-se com as suas economias instáveis e
fragilizadas. Enquanto que a economia brasileira passando por dificuldades, em
função do declínio da taxa de investimento e da atividade produtiva, passou a ser
impulsionada pelo mercado interno (CASTILHO, 2011).
O efeito da crise sobre o declínio do nível de confiança na economia
brasileira “levou ao adiantamento das decisões de compra e de investimento dos
agentes e fez com que o PIB brasileiro diminuísse no terceiro trimestre de 2008 e
no primeiro trimestre de 2009 com uma variação negativa de 0,2%” (CASTILHO,
2011, p. 105).
No tocante ao crédito, pode-se confirmar que as instituições financeiras
foram bastante atingidas, visto que a queda nos preços dos ativos financeiros e a
grande procura por liquidez pelos agentes econômicos afetaram o nível de
crédito, ocasionando um alto custo para sua aquisição.
Desta forma, a dificuldade de obter crédito para financiar a atividade
doméstica e o consumo, se tornou gigantesca. Assim sendo, é importante
destacar que a economia brasileira apresentou reduções no seu nível de
investimento, consumo, renda, além de ter a sua atividade produtiva atingida
negativamente, resultando em acréscimos na taxa de desemprego e rompendo a
consolidação do crescimento da economia brasileira que sucedeu à crise
(CHERNAVSKY, 2011).
Dessa forma, a crise econômica internacional que repercutiu inicialmente
sobre o mercado financeiro se estendendo à atividade produtiva, em decorrência,
sobretudo, de uma queda na expectativa dos agentes econômicos, impactou o
crescimento econômico tanto dos países desenvolvidos quanto dos países em
desenvolvimento, além de proporcionar a redução do nível de comércio entre os
países e a oferta de crédito, principalmente para o setor produtivo.
2
O
EMPREENDEDOR
E
O
EMPREENDEDORISMO:
ASPECTOS
CONCEITUAIS
A expressão entrepreneur indica entre, estar sob e preneur, origina-se do
verbo francês prende, conduzir. Ou seja, o empreendedor é o indivíduo que
possui a capacidade de criar e conduzir um empreendimento por conta própria,
sabendo da existência dos riscos embutidos e, sobretudo visando o seu benefício
(LEITE, 2000). Quando se busca a definição de empreendedorismo e
empreendedor, observa-se que não há um consenso quanto ao conceito entre os
diversos autores que abordam este tema.
O empreendedorismo na concepção de Melo Neto e Froes (2002, p. 6) “é
um neologismo derivado da livre tradução da palavra entrepreneurship, sendo
utilizado para designar os estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas
origens, seu sistema de atividades, seu universo de atuação”.
De acordo com Dolabela (2006) o empreendedorismo envolve iniciativa e
inovação. Para o mesmo, o empreendedor é aquele que possui iniciativa e está
sempre buscando inovar. O autor ressalta que não se pode confundir
empreendedor com aquela pessoa que apenas gerencia sua empresa, sem se
preocupar em introduzir qualquer tipo de inovação, seja na forma de vender,
produzir ou tratar os clientes. Percebe-se que o conceito abordado é semelhante
a ideia utilizada por Schumpeter. Para este último, o empresário é aquele que
através da utilização de novas combinações ou novos métodos promove a
mudança no sistema econômico, por meio do processo denominado destruição
criativa.
Schumpeter (1982) em obra intitulada “A Teoria do Desenvolvimento
Econômico”, relaciona a ocorrência do desenvolvimento econômico, por meio
daquilo que descreve como “destruição criativa”. Ou seja, é o processo pelo qual,
novos produtos substituem produtos já existentes no mercado, sem contar novos
hábitos de consumo e gostos que são inseridos ao consumidor. O autor afirma
que o desenvolvimento econômico é fruto de novas combinações, provenientes
da inovação que é responsável por impulsionar o processo. Acrescenta também
que os surgimentos de novas combinações são decorrentes de cinco situações:
a) criação de novo bem ou serviço; b) descoberta de uma nova maneira de
produzir; c) aparecimento de um mercado ainda não explorado; d) surgimento de
uma fonte de matérias-primas necessárias à produção de um determinado
produto; e e) indução de uma nova forma de organização, gerenciamento,
planejamento da empresa. Esses mecanismos permitem que as estruturas no
mercado sejam modificadas, atingindo o crescimento.
A destruição criativa descrita por Schumpeter (1982) possui a capacidade
de desencadear o dinamismo, provocando alterações e até ruptura nos sistemas
produtivos e no próprio mercado. Assim, a figura do empreendedor na economia e
principalmente para a sociedade é de vital relevância, pois este é propenso a
investir, alocando de forma ótima os recursos e buscando como resultado a
consolidação do empreendimento e promoção do crescimento econômico, da
geração de riqueza, emprego e renda que constituem fatores benéficos para a
sociedade.
Os economistas têm contribuído significativamente com estudos sobre o
empreendedorismo, todavia esta contribuição ainda é discreta, assim como a
inserção do empreendedorismo aos modelos econômicos e as alternativas de
pesquisas
que
identifiquem
o
real
impacto
deste
processo
sobre
o
desenvolvimento econômico de um país (DOLABELA, 1999).
Os comportamentalistas destacam que o empreendedorismo decorre das
características pessoais, da motivação e das atitudes do empreendedor diante
das oportunidades presentes na sociedade. Este conjunto de elementos é
apresentado por esta vertente como as causas que explicam o comportamento
dos empreendedores diante da situação de empreender. Sendo tais elementos os
responsáveis por garantir o prosseguimento ao processo que envolve o
empreendedorismo.
Diferentemente dos economistas que relacionam o empreendedorismo ao
conceito de inovação, os comportamentalistas buscam entender os motivos que
levam uma pessoa a empreender, tendo grande parte das suas respostas
atreladas ao perfil psicológico do empreendedor. Desta maneira, uma das
dificuldades encontradas por esta corrente é estabelecer os fatores psicológicos,
características do empreendedor aos modelos científicos, mesmo porque a
tendência é que estes elementos sejam diferenciados de empreendedor para
empreendedor.
Empreendedores são agentes que promovem rupturas, quebra de
paradigmas e utilizam como ferramentas a oportunidade, a criatividade, a
curiosidade e o conhecimento como aliados para se diferenciar no mercado que é
altamente competitivo. É vital o surgimento de estímulos e incentivos que
busquem despertar o espírito empreendedor nos indivíduos.
Um aspecto relevante sobre o empreendedorismo é o motivo que
possibilita a vontade de ser empreendedor. Filion (2000) afirma que quanto à
motivação, ela pode ser voluntária ou involuntária. A motivação voluntária
corresponde ao empreendedorismo motivado por oportunidade que é a situação
em que o indivíduo tem um projeto, busca concretizá-lo, o faz de maneira
planejada, organizando-se, até porque o empreendedor tem nítida convicção de
que existem riscos ao se estabelecer um empreendimento. Assim sendo, o
planejamento é um dos instrumentos utilizados para minimizar os impactos dos
riscos incorridos pelo empreendedor sobre o negócio.
Por sua vez, a motivação involuntária ou o empreendedorismo motivado
por necessidade decorre de um contexto em que o indivíduo procura uma
alternativa para a sua sobrevivência. Dificilmente há a presença do planejamento
ou do conhecimento sobre os riscos inerentes a empresa. Esse tipo de motivação
é tido como o menos indicado, pois em geral, surge pouca inovação, o
gerenciamento é falho e pouco contribui para o crescimento econômico do país.
Este último motivo em conjunto com outros fatores contribui para que o
empreendimento não consiga se manter no mercado, impactando diretamente as
consideráveis taxas de mortalidade das empresas.
Em análises desenvolvidas nos relatórios do GEM os empreendimentos
encontram-se divididos em estágio e motivação. O estágio se refere aos
empreendimentos nascentes que são os negócios em estágio de implantação ou
empreendimentos novos que são os negócios em fase de funcionamento entre
três meses e três anos e meio Além disso, existe o conceito de empreendedores
estabelecidos que se referem aos empreendimentos presentes no mercado há
mais de três anos e meio.
Em relação à motivação, o empreendimento pode ocorrer por necessidade
ou oportunidade. Os empreendimentos por necessidade são motivados em
virtude do indivíduo se deparar com a falta de alternativa de trabalho e renda, e
vislumbrar na atividade empreendedora a possibilidade de sobrevivência.
Enquanto que os empreendimentos por oportunidade são gerados pela percepção
de uma opção rentável de negócio.
Os empreendimentos são classificados segundo os critérios do GEM Brasil
como: a) empreendimentos nascentes; e b) novos empreendimentos. O
empreendimento é denomidado como nascente quando o empreendedor está
conduzindo a implantação da empresa e esta passa a gerar receitas para
sustentar seus custos em um prazo não superior a três meses. Por sua vez, os
novos empreendimentos são aqueles que já estão em funcionamento e possuem
faturamento por pelo menos três meses (SALIM, 2010).
Para os que desenvolvem estudos sobre o tema em questão é importante
saber quem são os empreendedores iniciais e quem são os empreendedores
estabelecidos. São considerados empreendedores iniciais aqueles que possuem
até 42 meses de vida. Enquanto que os empreendedores estabelecidos são
aqueles à frente de empreendimentos com mais de 42 meses de vida.
O surgimento de novos empreendimentos e empreendedores dependem
de inúmeras variáveis, dentre as quais a situação econômica do país. Por sua
vez, em períodos de crise, sejam elas internas ou externas, as decisões para
empreender
podem
ser
afetadas
e
os
motivos
para
iniciar
novos
empreendimentos sejam por oportunidade ou necessidade podem afetar o
crescimento econômico da nação.
3 OS EFEITOS DA CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL SOBRE O
EMPREENDEDORISMO NO BRASIL
Segundo o relatório do GEM quando verificada a proporção de
empreendedores iniciais - aqueles que têm empreendimentos há pelo menos 42
meses (SALIM, 2010), por gênero no Brasil - constata-se nos anos de 2002 a
2010 a predominância da participação masculina.
Contudo, apesar do sexo masculino prevalecer em relação ao feminino, em
2005, a porcentagem de empreendedores do gênero masculino correspondeu ao
mesmo percentual da participação feminina. Enquanto que nos anos de 2007 e
2009, a situação se inverteu
e a participação feminina na atividade
empreendedora superou a masculina.
Os possíveis motivos que contribuíram para a maior participação das
mulheres em atividades empreendedoras estão relacionados a uma mudança de
comportamento, especialmente pelo aumento da participação da mulher no
mercado de trabalho, do nível de escolaridade e das alterações estruturais na
família, além da redução da taxa de fecundidade feminina (MARTINS,
CRNKOVIC, PIZZINATTO, MACCARI, 2010).
Desde o início do século XXI, as mulheres têm promovido mudanças e
conquistando gradativamente espaço na sociedade. Constata-se que 35% dos
lares no Brasil são sustentados por mulheres e no mercado de trabalho
correspondem por 42% da força de trabalho. Desta forma, pode-se afirmar que o
empreendedorismo feminino no Brasil está em expansão e as empreendedoras
brasileiras são consideradas uma das mais empreendedoras do mundo (GRECO,
2010).
Tabela 1 – Empreendedores iniciais segundo gênero – Brasil – 2002 a 2010 Taxa (%)
Empreendedores Iniciais- Brasil
Gênero
Proporção (%)
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2002-2010
Masculino
57,6
53,2
56,6
50,0
56,2
47,6
52,7
47,0
50,7
52,4
Feminino
42,4
46,8
43,4
50,0
43,8
52,4
47,3
53,0
49,3
47,6
Total
100
100
FONTE: GEM, 2002 a 2010.
100
100
100
100
100
100
100
100
Quando se menciona a crescente participação feminina, percebe-se que o
ápice desta situação ocorreu em 2007, período em que o percentual da
participação de homens caiu para 47,6%, em contraste com a participação
feminina que atingiu 52,4%. Além disso, acrescenta-se que no ano em questão, a
proporção de mulheres ligadas ao empreendedorismo por necessidade foi de
63% enquanto o de homens correspondeu a apenas 38% (PASSOS; FELIX;
GRECO; BASTOS JUNIOR; SILVESTRE; MACHADO, 2007).
Conforme observado na Tabela 2, o perfil etário dos empreendedores
brasileiros iniciais no período compreendido entre 2002 e 2010 apresentou um
percentual de 16,7% de empreendedores na faixa etária de 25 a 34 anos. É
importante destacar a situação de duas faixas etárias, a primeira relacionada ao
grupo com idade entre 18 a 24 anos que compreendem os empreendedores mais
jovens - estes ocuparam a terceira colocação no período de 2002 a 2010 - e a
segunda, formada por empreendedores de 45 até 54 anos de idade, com um
percentual de 11,9%.
Tabela 2 – Empreendedores iniciais segundo faixa etária – Brasil – 2002 a 2010Taxa(%)
Faixa Etária
2002 2003
18 a 24 anos
10,0
12,6
25 a 34 anos
18,6
16,0
35 a 44 anos
15,2
14,4
45 a 54 anos
12,1
11,5
55 a 64 anos
6,0
3,7
Total
12,4
11,2
FONTE: GEM, 2002 a 2010
2004
12,6
17,2
14,7
10,5
7,3
12,5
Empreendedores Iniciais – Brasil
Taxa (%)
2005 2006 2007 2008 2009
10,7
10,9
10,6
15,4
13,5
14,7
16,5
14,4
12,8
17,9
12,1
10,7
16,1
13,7
18,7
10,0
8,8
13,3
10,4
14,4
2,9
6,0
4,3
3,0
6,5
10,1
10,6
11,7
11,1
14,2
2010
17,4
22,2
16,7
16,1
9,5
17,5
2002-2010
12,6
16,7
14,7
11,9
5,5
12,3
O Brasil é um país com alto nível de concentração de renda e para o
jovem a alternativa para empreender vincula-se à necessidade de incrementar a
renda familiar; pois, o mercado de trabalho não consegue absorver todo esse
contingente. Ainda assim, a participação desta faixa etária (18 a 24 anos),
conforme apresentado Tabela 2 ocupa a terceira colocação, o que pode ser de
certa forma justificado pelo fato do incentivo ao empreendedorismo ser recente e
de certa forma ainda não ter conseguido atingir um maior número de jovens.
De acordo com Greco (2009) o jovem empreendedor por necessidade
apresenta características distintas daquele que empreende por oportunidade.
Geralmente, o que está ligado ao empreendedorismo por necessidade é o que
apresenta uma renda relativamente baixa e possui um nível de escolaridade
situado entre 5 e11 anos de estudo. Enquanto que o jovem empreendedor por
oportunidade detém uma renda maior e possui o grau de escolaridade acima de
11 anos, significando que, ou já terminou ,ou está cursando o ensino superior, o
que possivelmente o torna bem mais qualificado e com uma formação
educacional maior. Por isso, esse jovem empreendedor apresenta uma atividade
empreendedora direcionada para os serviços orientados para empresas (GRECO,
2009).
É importante ressaltar que a participação do jovem na atividade
empreendedora no Brasil vem sendo incentivada por políticas voltadas para o
jovem; como exemplo, o Programa ProJovem Trabalhador e o Programa Jovem
Empreendedor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (
SEBRAE) (GRECO, 2009).
A participação dos empreendedores iniciais situados na faixa etária acima
de 45 anos é bem discreta se comparada às demais faixas. Porém, a taxa de
empreendedorismo para esses grupos vem crescendo desde 2009.
Quanto ao nível de escolaridade, verificou-se a evolução do grau de
escolaridade do empreendedor brasileiro de 2002 a 2010. É possível identificar
entre os anos de 2002 a 2003 a predominância de empreendedores que possuem
de 1 a 4 anos de educação formal. Em 2002 eram 48,5% e em 2003 passou para
43,7%, , observando-se uma pequena redução.
A tendência depois de 2004 que se seguiu até 2010 foi o aumento da
participação dos empreendedores brasileiros que apresentavam de 5 a 11 anos
de educação formal, conforme verificado na Tabela 3, significando que mais da
metade da proporção de empreendedores iniciais no Brasil estão inseridos neste
grupo.
Os empreendedores que apresentam mais de 5 anos de estudo constituem
a maioria, em geral são aqueles que conseguem identificar as oportunidades no
mercado, além de contribuírem com um maior nível de atividades inovadoras que
segundo Schumpeter (1982) são os empreendimentos capazes de possibilitar
uma maior competitividade à atividade econômica e contribuir com o crescimento
econômico do país. Por isso, é que o empreendedorismo por oportunidade é o
mais indicado no que concerne aos maiores benefícios gerados ao país.
Tabela 3 – Empreendedores iniciais segundo nível de escolaridade – Brasil –
2002 a 2010- Proporção (%)
Empreendedores Iniciais – Brasil
Educação (anos de
estudo)
Proporção (%)
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
2002-2010
Sem educação
formal
1a4
2,3
1,6
2,3
5,0
0,9
3,0
3,0
1,0
1,2
2,3
48,5
43,7
29,4
24,1
28,8
25,7
27,8
27,6
20,2
30,6
5 a 11
37,4
40,9
54,2
50,9
51,3
54,0
52,7
52,7
53,5
49,7
Mais de 11
11,8
13,9
14,2
20,0
19,0
17,3
16,5
18,7
25,1
17,4
Total
100
FONTE: GEM, 2002 a 2010.
100
100
100
100
100
100
100
100
100
Passos, Felix, Greco, Bastos Júnior, Silvestre, Machado (2007) indicam
que para o Brasil é importante reduzir as ineficiências presentes no sistema
educacional. Pois, conforme pesquisa realizada pelo GEM, um elevado nível de
escolaridade contribui para o aumento da atividade empreendedora por
oportunidade.
Quanto a renda dos empreendedores brasileiros a maioria destes encontrase no grupo de faixa de renda inferior a 6 salários mínimos, sendo que grande
parte destes empreendedores apresenta renda mensal de menos de 3 salários
mínimos.
Bastos Júnior (2005) destaca que no Brasil a taxa de empreendedorismo
total (TEA) por oportunidade é maior entre os empreendedores com nível de
renda mais alta, enquanto que a TEA por necessidade é predominante entre os
indivíduos com faixa de renda menor. Assim, a relação é proporcional entre a
atividade empreendedora por oportunidade e o nível de renda. Já a relação entre
o empreendedorismo por necessidade e a renda é inversamente proporcional,
uma vez que, quanto menor a renda, maior o empreendedorismo por
necessidade.
Com relação à renda dos empreendedores brasileiros, apenas em 2008
foram acrescentadas as faixas de renda de mais de 15 Salários Mínimos (SM) a
18 SM e a faixa de mais de 18 SM. Constatou-se que o percentual de
empreendedores com menos de 3 SM predominou; enquanto que em 2008
apenas 0,9% dos empreendedores estavam incluídos na faixa de renda superior a
18 SM. Por sua vez, não foi possível obter informações em relação à faixa de
renda dos empreendedores para os anos de 2005, 2006, 2007, 2009 e 2010.
Segundo o relatório do GEM, o Brasil é um dos países com uma das
maiores taxas de atividade empreendedora. Essa situação pode ser percebida à
medida que se compara a trajetória da taxa de empreendedorismo total (TEA) no
período compreendido entre 2002 a 2010.
Tabela 4 – Evolução da taxa de empreendedores iniciais (TEA) – Brasil – 2002 a
2010
Empreendedores Iniciais- Brasil- TEA
2002
2003
2004
2005
13,5
12,9
13,5
11,3
FONTE: GEM, 2002 a 2010.
2006
11,7
2007
12,7
2008
12,0
2009
15,3
2010
17,5
2002-2010
13,3
Em 2003 a taxa de empreendedores iniciais (TEA) correspondeu a 12,9%
que comparado com o período anterior apresentou uma redução. Vale ressaltar
que os ataques especulativos decorrentes das incertezas provocadas pelas
eleições presidenciais brasileiras culminaram em desequilíbrios no balanço de
pagamentos e impactou negativamente as exportações do país (BAER, 2002).
Este cenário contribuiu com uma taxa de desemprego correspondente a 10,5% e
com um PIB de 1,1% o que pode ter afetado a atividade empreendedora.
Contudo, nesse mesmo ano, começam a surgir sinais de estabilização
financeira e monetária cujo resultado se reflete em 2004. No ano de 2004, a
economia passou a dar sinais de recuperação apresentando um PIB de 5,7 % e
uma diminuição da taxa de desemprego de 9,7%. A TEA apresentou um
percentual de 13,5% e o empreendedorismo por oportunidade foi superior ao por
necessidade.
Sabendo
dos
benefícios
econômicos
e
sociais
que
a
atividade
empreendedora é capaz de proporcionar ao país, várias iniciativas foram
consolidadas com o intuito de fomentar a expansão do empreendedorismo, dentre
as mais relevantes pode-se citar: a Lei Complementar n° 123/ 2006 conhecida
como a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa que entrou em vigor em 2007 e a
Lei Complementar n° 128/ 2008 que é a Lei do Empreendedor Individual.
A Lei Geral da Micro e Pequena Empresa foi criada com a finalidade de
estimular a formalização das micro e pequenas empresas. Além de reduzir os
principais entraves enfrentados pelas mesmas no Brasil. A implementação da Lei
permitiu que houvesse uma diminuição dos altos impostos cobrados aos
empresários e redução da burocracia, promovendo as condições favoráveis à
criação e ao desenvolvimento das micro e pequenas empresas (BRASIL, 2011).
Observando a Tabela 5, constatou-se a partir de 2007 o aumento de
empreendedores novos, enquanto que a elevação de empreendedores nascentes
ocorreu apenas a partir de 2009. Nesse período, o país já sofria os efeitos da
crise econômico-financeira internacional. Contudo, o governo brasileiro já havia
adotado políticas econômicas anticíclicas, além de ter criado Leis, conforme as
citadas anteriormente que acabaram proporcionando um cenário favorável para
os empreendedores brasileiros.
Tabela 5 – Evolução da taxa de empreendedores novos e nascentes – Brasil –
2002 a 2010
Empreendedores Iniciais – Brasil
Taxa (%)
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Empreendedores novos
8,5
Empreendedores
5,7
nascentes
FONTE: GEM, 2002 a 2010.
20022010
6,9
8,9
8,2
8,6
8,7
9,3
9,8
11,8
9,0
6,5
5,0
3,2
3,5
4,3
2,9
5,8
5,8
4,7
É importante destacar que a taxa de empreendedores por necessidade é
bem mais sensível às condições econômicas do país. Pois, conforme citado por
Barros e Pereira (2008), a tendência é que havendo um aumento no nível de
atividade econômica e a implantação de empresas na região, onde antes se
presenciava
níveis
de
desemprego
elevados,
contribui
para
que
os
empreendedores por necessidade optem por trabalhar com registro em carteira e
desistam de suas atividades como empreendedores. Abandonando a condição de
empreendedor para ser um funcionário. Da mesma forma, quando o nível de
atividade econômica diminui e a taxa de desemprego aumenta, pode ocorrer no
mercado o ingresso de empreendedores por necessidade.
Na Tabela 6, verifica-se a razão entre empreendedorismo por necessidade
e oportunidade. Constatou-se que no ano de 2007, para cada 10 empreendedores
por necessidade existiam 14 empreendedores por oportunidade. A partir da
criação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa foi possível observar a
elevação desta razão. Contudo, em 2009 ocorreu uma redução na razão
empreendedorismo por oportunidade e necessidade. Neste período, o PIB do
Brasil foi de -0,6% enquanto a taxa de desemprego alcançou um patamar de
9,1%. Em 2010 a situação se inverteu, o PIB brasileiro foi de 7,5% e a razão entre
empreendedores por oportunidade e necessidade passou a ser de 2,1 .
Tabela 6 – Empreendedores iniciais, segundo razão entre oportunidade e
necessidade – Brasil – 2002 a 2010
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Razão Empreendedorismo por
Oportunidade/ Necessidade
FONTE: GEM, 2002 a 2010.
0,8
1,2
1,1
1,1
1,1
1,4
2
1,6
2,1
De acordo com a Tabela 7, que apresenta as expectativas de criação de
emprego por parte dos empreendedores iniciais, a partir do quinto ano de
existência do empreendimento, pode-se observar que de 2002 a 2010, em torno
de 41,8% destes empreendedores não tinha intenção de criar empregos.
Apresentaram expectativas de gerar a quantidade de 1 a 5 empregos, 39,1%
empreendedores. Por sua vez, 13,6% pretendiam criar de 6 a 19 empregos e
apenas 5,5% mais de 20 empregos. A explicação dada pelo relatório para tal fato
se deve possivelmente ao número acentuado de empreendedores por
necessidade que ainda é grande no Brasil.
Tabela 7 – Proporção de empreendedores segundo expectativa de criação de
emprego – Brasil – 2002 a 2010
Empreendedores Iniciais - Brasil Expectativa de criação
de emprego (5º ano)
Proporção (%)
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2002-2010
Nenhum emprego
N.d
N.d
40,9
31,3
40,9
46,6
45,5
50,6
36,7
41,8
De 1 a 5 empregos
N.d
N.d
40,4
47,2
40,9
38,2
32,8
34,2
40,2
39,1
De 6 a 19 empregos
N.d
N.d
13,9
17,6
10,9
12,6
13,8
11,4
15,2
13,6
Mais de 20 empregos
N.d
N.d
4,8
4,0
7,3
2,6
7,9
3,8
8,0
5,5
Total N.d N.d
FONTE: GEM, 2004 a 2009 e 2010.
Nenhum dado (N.d).
100
100
100
100
100
100
100
100
Com relação à intenção dos empreendedores iniciais em exportar, observase que a expectativa deste tipo de empreendedor em exportar é bastante
reduzida. Destes, no período de 2002 a 2010, 86,3% não possuíam nenhuma
expectativa e apenas 1,1% apresentava uma expectativa de 75% a 100%.
Greco
(2008) indica que os principais obstáculos que as empresas de
pequeno e de grande porte encontram para exportar estão relacionados à
questões como: os preços praticados externamente, o custo com transporte, além
de políticas de restrições externas adotadas por alguns países, principalmente
relativas a taxas, medidas de controle e quotas. Uma característica apontada é
que as exportações brasileiras estão concentradas em produtos primários que de
certa maneira, possuem grande representatividade na balança comercial.
Entretanto, utilizam baixa capacidade tecnológica e agregam pouco valor, além de
serem mais sensíveis à flutuações do mercado internacional.
Quanto à utilização de inovação pelos empreendimentos brasileiros,
verifica-se que a maioria dos empreendedores iniciais são caracterizados como
indivíduos que não agregam inovação aos seus produtos ou serviços. No período
compreendido entre 2002 a 2010, a proporção de empreendedores que fizeram
uso de inovação representou apenas 5,7%, em contraste aos 82,2% dos
empreendedores que não utilizaram nenhum tipo de inovação em seus
empreendimentos.
O
estímulo
a
inovação
é
primordial,
pois
ela
possibilita
aos
empreendimentos adquirirem maior competitividade, seja no mercado interno ou
no externo. Segundo Schumpeter (1982) são os empresários que através de suas
inovações permitem a um país alcançar prosperidade e o crescimento econômico.
Todavia, no Brasil a cultura ainda incipiente em relação a ser um empreendedor
interfere na motivação de se empreender. Assim, a falta de oportunidades no
mercado de trabalho, contribui com o aparecimento de empreendedores por
necessidade que em sua maioria apresentam reduzido potencial inovador ou
nenhuma intenção em fazê-lo (SCHELMM, PASSOS, FELIX, GRECO, BASTOS
JÚNIOR, MACHADO, 2007).
Conforme Passos, Felix, Greco, Bastos Júnior, Silvestre e Machado (2008)
três fatores são citados como responsáveis pela baixa capacidade de inovação
dos empreendimentos: 1) o ambiente socioeconômico brasileiro caracterizado por
alta taxa de desemprego, a concentração de renda e o baixo rendimento da
população, o que estimula o empreendedorismo por necessidade; 2) a estrutura
do mercado que está vinculada a setores tradicionais que não agregam inovação
e não fazem uso de tecnologias. Ou seja, os empreendedores estão em setores,
em que os produtos e serviços existentes já estão saturados.
A Tabela 8 destaca que de 2002 a 2010 a atividade empreendedora no
Brasil estava concentrada nos setores de serviços orientados aos consumidores
(57,2%), principalmente aqueles voltados ao comércio varejista.
Pode-se afirmar que a maioria dos empreendimentos iniciais encontra-se
voltado para segmentos já existentes, que possuem uma estrutura pronta, mas
que apresentam uma alta concorrência e potencial inovador baixo, o que impede
o crescimento destes empreendimentos (GRECO, 2006).
Tabela 8 - Empreendedores iniciais por setor de atividades no Brasil – 2002 a
2010
Empreendedores Iniciais
Setor de atividades
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
20022010
Proporção (%)
Setor Extrativista
3,1
2,1
1,7
2,7
2,5
2,0
1,8
1,9
2,0
2,2
Setor de Transformação
31,8 33,8 33,9 18,6 47,3 29,9 31,4 22,1 24,3
30,3
Serviços orientados às
9,2
6,7
6,4 11,8 9,9 13,5 15,5 5,2 14,2
empresas
Serviços orientados aos
55,9 57,5 58,0 66,8 40,4 54,5 51,3 70,9 59,5
consumidores
FONTE: GEM , 2007, 2008, 2009 e 2010.
10,3
57,2
Quanto aos recursos para promover a atividade empreendedora, a
disponibilidade de capital ainda se constitui em um entrave ao desenvolvimento
desta atividade (GEM, 2002). Os empreendedores enfrentam dificuldades em
relação à obtenção de crédito das instituições financeiras e acabam utilizando
recursos próprios, recorrendo ao apoio da família, de amigos ou procuram o
financiamento de empresas de capital de risco denominadas como Venture
Capital.
Segundo relatório do GEM (2003), aspectos como: a divulgação limitada
dos programas que concedem crédito ao empreendedor e a existência de
obstáculos para se obter capital, por parte das micro e empresas de pequeno
porte, acabam prejudicando a atividade empreendedora. Principalmente os
empreendimentos nascentes e novos.
Quanto aos recursos utilizados para iniciar um empreendimento, Greco
(2006) indica que 63% são recursos próprios, sendo que deste percentual 51,5%
advêm de poupança ou salário do empreendedor, 16,5% de venda de bens ou
imóveis, 7,2% de empréstimos pessoais junto às instituições bancárias.
Segundo Greco
(2010) a atividade empreendedora se constitui numa
alternativa capaz de promover o desenvolvimento econômico ao País. Entretanto,
para que os empreendimentos possam crescer é preciso que haja maior apoio
financeiro e este ainda é tido como um dos aspectos que dificultam a expansão
dos empreendedores brasileiros.
CONCLUSÃO
Predomina a participação masculina na atividade empreendedora. No
entanto, em 2007 e 2009 observou-se que a participação feminina superou a
masculina. Quanto a idade dos empreendedores brasileios, constatou-se o
predomínio da faixa etária de 25 a 34 anos. O nível de escolaridade da maioria
dos
empreendedores
brasileiros
tem
apresentado
uma
evolução,
com
predominância dos anos estudados de 5 a 11 anos. Em relação a faixa de renda,
mais da metade dos empreendedores recebe menos de 3 salários mínimos.
No que concerne à evolução da taxa de empreendedores iniciais, os anos
de 2009 e 2010 apresentaram as taxas de 15,3% e 17,5% respectivamente.
Constatou-se o crescimento no número de empreendedores novos a partir de
2007, indicando a relevância das políticas de incentivo à expansão do
empreendedorismo
no
país.
Tais
como:
as
políticas
de
estímulo
ao
empreendedorismo, como a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (2006) e a
Lei do Empreendedor Individual (2008) que estão contribuindo para formalizar os
empreendimentos e diminuir os obstáculos para a criação e funcionamento da
empresa.
O empreendedorismo por oportunidade superou o empreendedorismo por
necessidade. Deve-se ressaltar que é justamente o empreendedorismo por
oportunidade que pode contribuir com o fomento de trabalho e renda.
Um
aspecto preocupante é que parcela considerável dos empreendimentos iniciais se
encontram voltados para segmentos já existentes que apresentam potencial
inovador baixo e alta concorrência, o que pode afetar o crescimento destes
empreendimentos.
Pode-se afirmar que determinadas flutuações cíclicas observadas no
período em análise, a exemplo a crise econômico-financeira internacional, não
afetaram de forma significativa a atividade empreendedora no Brasil. Isto pode ser
explicado pelo fato de serem estes empreendimentos de micro e pequeno porte
voltados para atender o consumo interno e pelo fato de que o governo brasileiro
adotou políticas anticíclicas assim que os primeiros impactos da crise fizeram-se
sentir sobre a economia do país.
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