UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO DE CRIANÇAS ESPECIAIS Por: Adriane Vidal Vaz Orientadora Profª Marta Relvas Rio de Janeiro 2012 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO DE CRIANÇAS ESPECIAIS Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica. Por: Adriane Vidal Vaz 3 RESUMO A experiência pessoal tem um papel fundamental no desenvolvimento e na composição do indivíduo, também influencia a construção de estilos preferenciais, levando o aluno a usar estratégias de aprendizado específicas de acordo com a situação. O aprendizado específico provoca mudanças, que variam de acordo com as motivações, interações e estratégias do próprio aprendizado. Assim o impacto da instrução difere de pessoa para pessoa. Alunos na mesma classe assistindo às mesmas aulas não vão aprender as mesmas coisas, pois eles não começam todos com o mesmo conhecimento básico nem com o mesmo modo de aprendizado. Experiências de aprendizado têm de levar em conta diferenças individuais, de forma que a diversificação do currículo para acomodá-las seja uma meta educacional cada vez mais importante. A Neuropedagogia estuda como o cérebro humano aprende e como guarda este aprendizado, tendo o cérebro como propulsor deste aprendizado. Sabe-se que aprendizagem, memória e emoções ficam interligadas quando ativadas pelo processo de aprendizagem, pois a capacidade de aprender está ligada ao prazer que a conquista do conhecimento pode proporcionar, principalmente quando este conhecimento é produzido pelo próprio educando, conclui-se que o nível de emoção no momento do aprender interfere no resultado do processo. Já que o cérebro vai se modificando fisiológica e estruturalmente, conhecer as bases neurobiológicas da aprendizagem torna-se indispensável para o professor. Pois nenhum sistema de ensino pode impor uma homogeneidade ou “normalidade” ideal e, sim, assegurar a inclusão de todos os alunos, pois educar na diversidade é hoje o grande desafio dos professores que atuam em salas de aula cada vez mais heterogêneas, incluindo alunos com deficiências, transtornos, distúrbios, síndromes, dificuldades, enfim, modalidades diferentes de aprender. 4 METODOLOGIA O estudo será desenvolvido através de pesquisa bibliográfica, reflexão pessoal e pesquisa de campo de terceiros, buscando-se na literatura material necessário para a análise textual e crítica, selecionando-o e organizando-o de forma a, em etapa posterior, produzir o texto monográfico. Como referencial teórico será utilizado o livro Distúrbios de Aprendizagem e de Comportamento (Oliver, Lou de) que tem como objetivo identificar alguns distúrbios que, quando mal diagnosticados, podem trazer maiores prejuízos a alunos e familiares, mostrando o fato que distúrbios, sejam de aprendizagem ou comportamento, possuem várias opções de tratamento e possibilidades de controle ou cura. Serão utilizados também os livros Neurociência e Transtornos de Aprendizagem (Relvas, Marta), que mostra como o funcionamento de estímulos cerebrais podem despertar inteligências e como ocorrem o aprendizado e a memorização e Psicomotricidade e Neuropsicologia (Fonseca, Vitor) que traz alguns modelos e métodos interessantes para compreender, observar, modificar e enriquecer o desenvolvimento humano, oferecendo suporte para percepção do diagnóstico e da intervenção neuropedagógica nas perturbações do desenvolvimento e da aprendizagem. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 6 CAPÍTULO I - Como o cérebro aprende 9 CAPÍTULO II - O enigma do autismo infantil 20 CAPÍTULO III – Distúrbios de aprendizagem 37 CONCLUSÃO 50 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 53 ÍNDICE 55 6 INTRODUÇÃO O tema deste estudo é o funcionamento do cérebro de crianças que estejam cursando da educação infantil aos primeiros anos do ensino fundamental, que apresentem dificuldades na aprendizagem. A questão central é identificar como o cérebro humano, em geral, aprende e como guarda informações, especificando como o processo ocorre em crianças especiais. A preocupação com a qualidade da educação é uma questão complexa e bastante explorada, mas que permanece como um ideal a ser alcançado pelos educadores. As mudanças socioeconômicas ocorridas na sociedade fizeram com que a escola reformulasse suas funções, o seu papel. Logo, a escola, acabou por assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento integral do educando, em seus múltiplos aspectos: físico, intelectual, escolar, social, emocional, moral, enfim os aspectos que os alunos desenvolvem enquanto permanecem na escola. Assim, a escolha do tema deve-se ao crescente número de crianças com dificuldades na aprendizagem nas escolas e à falta de preparo dos profissionais envolvidos para lidar com tais problemas, surgindo, então, a necessidade de conhecer caminhos que levem o professor e demais profissionais envolvidos no processo ensino aprendizagem ao conhecimento de como orientar este aluno, e sua família, ajudando-os a alcançar o sucesso escolar e pessoal. No primeiro capítulo verifica-se que se conseguimos ler, ouvir músicas, sentir cheiros, é porque possuímos nosso sistema biológico integrado ao centro do cérebro, o qual recebe, interpreta e responde aos estímulos provocados pelo ambiente e que são envolvidos pelas memórias construídas ao longo de nossa existência. Pois o cérebro, sozinho, não possui função alguma, ele só estabelece um funcionamento quando em conjunto com outros sistemas que se 7 interconectam recebem e respondem aos estímulos para realizar um potencial de atividades elétricas e químicas. A forma de aprender está relacionada ao recebimento de estímulos que captamos pelos nossos sentidos, que são selecionadores de estímulos chamados canais sensoriais. Esses estímulos, conhecidos como informações, tais como: som, visão, tato, gustação, olfação, chegam ao tálamo, que é uma estrutura no cérebro que tem a função de receber esses estímulos e reenviálos para áreas específicas que são responsáveis pela elaboração, decodificação e associação dessas informações. O tálamo junto com o hipotálamo, as amígdalas cerebrais (responsáveis pela emoção) e o hipocampo (responsável pela memória de longo prazo) promovem as lembranças e a aprendizagem significativa. O tópico seguinte trata do autismo, como são as crianças com reconhecida dificuldade de comunicação e isolamento, mas com uma habilidade singular para perceber padrões repetidos e manipular estruturas complexas. Será discutida a incapacidade do autista para estabelecer relações normais com pessoas e reagir a situações, e ainda, a autossuficiência dessas crianças que agem como se ninguém estivesse presente, dando a impressão de uma sabedoria silenciosa. O contato físico é vivido com angústia e severa patologia da linguagem. Na terceira parte são estudados os distúrbios de aprendizagem, sabe-se que a falta ou diminuição de oxigenação no cérebro causa várias lesões e, dependendo da gravidade, até a morte da pessoa. E, dentre as sequelas mais comuns, estão os distúrbios de aprendizagem. É fato que distúrbios, tanto de aprendizagem quanto de comportamento, não têm uma só causa ou fator desencadeante e, consequentemente, existem vários tipos e características, várias opções de tratamentos e possibilidades de controle ou cura. 8 Existem grandes oportunidades de cura para alguns tipos de dislexia e outros distúrbios de aprendizagem e de comportamento. Os tratamentos variam desde terapias diversas até medicamentos ou ondas emitidas no cérebro por meio de aparelhos sofisticados. Percebe-se, então, que o cérebro é o órgão mais fascinante do corpo humano. Ele controla tudo: da respiração até nossas emoções, inclusive o nosso aprendizado. Conhecimentos básicos de neurociência são essenciais para o trabalho do educador, já que seu objetivo é proporcionar aprendizagem a seus alunos e, de preferência, da forma mais otimizada possível. Assim, escola precisa reestruturar as suas práticas, pois o aluno possui muitas informações, mas não significa que tenha o conhecimento desejável para a vida. A escola, junto com a sociedade, precisa estar voltada para uma aprendizagem valorizada qualitativamente no modo de refletir, pensar e interagir com o mundo. 9 CAPÍTULO I COMO O CÉREBRO APRENDE Ao nascer, o ser humano possui, em média, 88 bilhões de células especializadas denominadas de neurônios, que se organizam e se fortalecem após o nascimento, pela interação e pelos estímulos externos. O cérebro, sendo a parte mais importante do corpo humano, controla tudo, desde a respiração até as emoções, inclusive o aprendizado, por isso é considerado um dos órgãos mais fascinantes do corpo humano. Mas, sozinho não possui nenhuma função, só estabelece um funcionamento quando, em conjunto com outros sistemas que se interconectam, recebe e responde aos estímulos para realizar um potencial de atividades elétricas e químicas. Assim, é importante que os professores tenham conhecimentos básicos de neurociência, que é a ciência que trata do desenvolvimento do sistema nervoso, para que, ao desenvolverem seu trabalho, proporcionem aprendizagem à seus alunos da forma mais otimizada possível. A evolução filogenética do cérebro permitiu que células especializadas denominadas de neurônios se agrupassem e formassem um sistema nervoso central. Essas células são responsáveis pela condução de estímulos nervosos eletroquímicos, que ativados ou potencializados, são transformados em aprendizado quando inseridos em um contexto significativo. Os neurônios se agrupam formando um sistema nervoso central que conduz estímulos nervosos. Nesse sistema de comando existem neurônios sensitivos ou aferentes, responsáveis pela coleta de informações vindas do meio ambiente, que são enviadas ao centro de comando formado pelo sistema 10 nervoso central para que elabore e retorne uma determinada reação ou resposta. Isso só é possível porque a informação retorna por outros neurônios, os eferentes ou motores. As respostas podem ser elaboradas e retomadas a partir de qualquer ponto do sistema nervoso central como encéfalo, medula oblonga ou tronco encefálico. O neurônio de associação é outro tipo de neurônio considerado de grande importância na complexidade do sistema nervoso. Ele trabalha na organização dos diversos tipos de informação e na elaboração das respostas a serem enviadas aos estímulos. É o princípio da inteligência, capaz de elaborar a compreensão, o raciocínio, a linguagem, mesmo que primitiva, mas diferenciada dos outros seres vivos. Esse agrupamento de neurônios forma o encéfalo, que é protegido por uma calota óssea, o crânio. Esses neurônios promovem ao ser humano a capacidade de elaborar tarefas finas, como, por exemplo, o movimento com o lápis para escrita. Segue-se, então, para o neocórtex, que é uma estrutura capaz de favorecer o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, tais como: aprender, ensinar, pensar, relacionar-se afetiva e emocionalmente, utilizando a motricidade. Os neurônios são formados pelo corpo celular, axônios e dendritos. Essa estrutura é envolvida por uma substância lipídica denominada mielina. A parte central, ou corpo celular, contém o núcleo celular. Observa-se que o corpo celular possui grande número de prolongamentos, ramificando-se diversas vezes, como pequenos arbustos, são os dendritos, que realizam a função de receber as informações vindas dos neurônios aos quais se associa. O grande número de neurônios é importante para célula nervosa, pois permite multiplicar a área disponível para receber as informações aferentes. O axônio é um filamento mais longo e fino que sai do núcleo, ramificando-se pouco no trajeto e muito no final, e por ele saem as informações eferentes 11 dirigidas às outras células de um círculo neural, assim são elaboradas as respostas aos estímulos recebidos pelos sentidos. A sinapse constitui uma região fundamental e especializada no processamento da informação pelo sistema nervoso é a região de contato entre um terminal de fibra nervosa e um dendrito ou corpo, ou, em algumas vezes, um outro axônio, de uma segunda célula. Na sinapse, nem sempre os sinais elétricos passam sem alterações, eles podem ser bloqueados parcial ou completamente, ou serem multiplicados. Assim, não ocorre somente uma transmissão da informação, mas uma transformação durante a passagem, o que pode causar uma disfunção neurofisiológica, provocando alterações no encéfalo. Essa transmissão sináptica pode ser química ou elétrica. Na sinapse elétrica, as correntes iônicas passam diretamente pelas junções comunicantes, que é a região de aproximação entre duas células, para as outras células rapidamente, sendo que o sinal passa praticamente inalterado entre as células. Na sinapse química, a transmissão do sinal através da fenda sináptica, que é uma região de aproximação entre duas células bem maior que as junções comunicantes, é realizada por neurotransmissores, podendo ser excitatória, quando ocorre um aumento no estímulo recebido pelo neurônio pós-sináptico. Ou inibitória, quando há uma diminuição do estímulo no neurônio pós-sináptico. Essas transformações ocorrem durante a sinapse e garantem ao sistema nervoso uma enorme diversidade e capacidade de processamento da informação. Os neurotransmissores são substâncias químicas naturais produzidas nos neurônios que promovem essas potencialidades e possibilidades. São eles: dopamina, que controla os níveis de estimulação e de controle motor em muitas partes do cérebro; acetilcolina, que controla a atividade de áreas cerebrais relacionadas à atenção, aprendizagem e memória; noradrenalina, que induz à excitação física e mental e ao bom humor; glutamato, é o principal 12 neurotransmissor excitante do cérebro, vital para estabelecer os vínculos entre os neurônios que são a base da aprendizagem e da memória à longo prazo e encefalinas e endorfinas, que modulam a dor e reduzem o estresse. Para Relvas (2010), o professor pode perceber a influência dos neurotransmissores na cognição, ao realizar jogos ou dinâmicas de grupo, em que o pressuposto básico é a solução de um problema cuja argumentação seja criada e elaborada pelo aluno. Ao educador cabe o papel de mediador das discussões, incentivador das ideias que surgirem e orientador dos caminhos a serem seguidos. As células motoras e sensitivas são estimuladas, o que produz a energia celular, tarefa que a célula possui para se manter viva e ativa, obtendo-se melhor conexão dessas sinapses, e, assim, ocorre maior qualidade e durabilidade das informações acessadas. 1.1- O cérebro na sala de aula Cresce no país a discussão sobre o alcance da neurociência na escola. Embora educadores e neurocientistas estejam conscientes de que não há fórmulas definitivas, acreditam que o conhecimento do cérebro traz impactos determinantes na prática do ensino. Enquanto a ciência e a tecnologia do século 21 continuam a revelar funções do mais importante órgão do corpo humano, educadores percebem que o cérebro pode ajudá-los a melhorar a prática de ensino. O cérebro se modifica, se desenvolve, de forma contínua por toda a vida. Esse desenvolvimento é guiado tanto pela biologia quanto pela experiência. As predisposições genéticas interagem com a experiência para determinar a estrutura e a função do cérebro. Devido a essa interação contínua, cada cérebro é único. 13 Embora existam diversas diferenças individuais no desenvolvimento cerebral, características ligadas à idade podem ter consequências importantes para o aprendizado. À medida que os cientistas conhecerem as mudanças no cérebro relacionadas à idade, os educadores terão condições de usar essas informações para projetar materiais didáticos mais apropriados à faixa etária e muito mais eficientes. Segundo Chiesa (2012), a emoção associada ao aprendizado tem ocupado cada vez mais espaço nas discussões que envolvem os processos de cognição. Ao contrário do afeto, que é sua interpretação consciente, as emoções surgem de processos cerebrais e são necessárias para adaptação e regulação do comportamento humano. As emoções são reações complexas e cada emoção, corresponde a um sistema funcional distinto, possuindo seu próprio circuito cerebral que envolve estruturas chamadas de sistema límbico (também conhecido como sede das emoções) bem como as estruturas corticais, principalmente o córtex préfrontal, fundamental na regulação das emoções. Essa estrutura conclui sua maturação na terceira década de vida de um indivíduo. O desenvolvimento completo do córtex pré-frontal, e por consequência a regulação das emoções e a compensação de potenciais excessos do sistema límbico, ocorrem de forma relativamente tardia nos seres humanos. Emoções podem parecer sentimentos conscientes, mas são respostas psicológicas aos estímulos destinados a nos afastar do perigo e nos aproximar da recompensa. Apesar de serem geradas constantemente, em geral, as pessoas não tem consciência disso. O cérebro humano leva anos para atingir o potencial pleno das habilidades sensoriais, motoras e intelectuais. Em torno dos 3 anos, a retenção de memória é possível devido ao desenvolvimento do hipocampo. Entre 6 e 13 14 anos, amadurecem as regiões relacionadas à linguagem e à compreensão das relações espaciais, incluindo o córtex parietal. Na adolescência, embora mais bem preparado para lidar com desafios sociais e intelectuais, o cérebro processa informações emocionais via amígdala. A maturidade emocional só chega por volta dos 30 anos, com o desenvolvimento completo do córtex pré-frontal e a total capacidade de raciocínio e de avaliação das ações. Trocas contínuas tornam possível separar os componentes fisiológicos, emocionais e cognitivos de um comportamento específico. A força dessa interconectividade revela o impacto substancial das emoções no momento do aprendizado. Uma emoção positiva associada ao aprendizado facilita o sucesso, enquanto uma emoção negativa pode resultar em fracasso. Para Chiesa (2012), de formas complementares, a neurociência, a neurociência cognitiva e a psicologia cognitiva buscam entender os mecanismos das funções cognitivas. A cognição é definida como um conjunto de processos que permitem o processamento de informações e o desenvolvimento de conhecimento. Esses processos são conhecidos como funções cognitivas. As funções cognitivas superiores, que correspondem aos processos mais elaborados do cérebro, estão centradas principalmente no córtex, uma estrutura altamente desenvolvida nos seres humanos. São exemplos dessas funções, determinados aspectos da percepção, da memória e do aprendizado, como também a linguagem, o raciocínio, o planejamento e a tomada de decisões. As interações sociais também servem como catalisadores do aprendizado. Sem estas, não se aprende nem é possível o desenvolvimento adequado. O aprendizado melhora conforme a riqueza do contexto social. Lidar com os outros permite o desenvolvimento de estratégias e aprimoramento do raciocínio. Assim, a interação social é uma condição tanto 15 para o desenvolvimento inicial das estruturas cerebrais, quanto para o desenvolvimento normal das funções cognitivas. Para um aprendizado bem sucedido, a combinação de motivação e autoestima é fundamental. Existe a motivação intrínseca, que depende unicamente das necessidades do aluno e as extrínsecas, que é decorrente das influências externas. O aluno com motivação intrínseca aprende com mais facilidade, pois existe o desejo de entender. 1.2– Memória e aprendizado O cérebro funciona por meio de sinapses, que são as conexões realizadas por células nervosas denominadas neurônios, que transmitem informações químicas e elétricas. Segundo Carbonini (2012), o período de maior realização de formação de sinapses ocorre entre o sétimo mês de gestação e os dois anos de vida da criança. A maior mielinização (processo de formação da bainha de mielina que reveste os axônios – parte do neurônio) ocorre da 24ª semana de vida intrauterina ao parto e do nascimento até, aproximadamente, os dois anos de idade. Pesquisas feitas via intrauterina e com bebês evidenciaram as capacidades de aprendizado e memória no ser humano desde muito cedo. Os primeiros anos de vida são fundamentais, o cérebro do bebê ao entrar em contato com os estímulos do ambiente, principalmente por vias sensoriais, constrói o conhecimento transformando-o em aprendizado. Devido a grande importância da estimulação, muitos pais e professores proporcionam diversas atividades, sendo que a mais importante para a criança se desenvolver é o brincar, ou seja, ser criança na fase que deve ser: na infância. 16 O ser humano, ao nascer, é totalmente dependente dos cuidados de um adulto. Carbonini (2012), diz que o ser humano nasce imaturo e o processo de maturação do sistema nervoso continuará em desenvolvimento. Por exemplo, em um bebê o cérebro pesa cerca de 400 g, na idade adulta pode atingir cerca de 1,5 kg. Os cinco primeiros anos são essenciais para o desenvolvimento na espécie humana, logo, um ambiente rico em estímulos visuais, auditivos, táteis, gustativos e sinestésicos, oferece à criança a possibilidade de lidar com diversas experiências, fornecendo-lhe subsídios para aquisição de conhecimentos e consolidação dos processos de aprendizagem. Sabe-se que uma criança exposta a um ambiente pouco provedor de estímulos, pode acarretar prejuízos ou atrasos no desenvolvimento em diversos aspectos, como cognitivo, motor e de linguagem. Hoje, a neurociência é conhecida dentro da educação por uma área chamada neuropedagogia, nessa nova concepção, a ciência e a educação trabalham juntas, com crianças sem e com dificuldades de aprendizagem. A neuropedagogia tem como base a neurodidática, disciplina que enfoca a importância da aprendizagem da melhor forma, como o cérebro é capaz de aprender. O educador, então, deve saber como o cérebro de cada um de seus alunos aprende, e qual a melhor forma de estimulá-los, partindo do princípio que cada ser humano é único e que as formas de aprendizagem podem ser diversas. O aluno deve ser estimulado por meio de suas diversas vias sensoriais, considerando o meio em que vive e suas experiências anteriores. Dentro da sala de aula, na medida em que o professor observa seus alunos nessa perspectiva, passa a compreendê-los e a oferecer outros recursos para que a aprendizagem seja significativa e efetivada. Isto é, conforme o conteúdo é ensinado e a criança não compreende, deve ser utilizada outra estratégia. Sabe-se que isso demanda tempo e disponibilidade tanto do professor quanto da gestão escolar, o que nem sempre é possível. 17 Independentemente da faixa etária, a contribuição do brincar é de extrema importância para o desenvolvimento da criança. Os brinquedos devem ser direcionados à faixa etária e ao nível de desenvolvimento em que a criança se encontra. Para Carbonini (2012), as músicas, jogos, histórias são sementes férteis, pois cada brincadeira mobiliza o cérebro da criança segundo os componentes de movimento, oralidade, ritmo, rima e sequência. Assim, a criança precisa realizar brincadeiras de movimento, como andar, correr e saltar; circulares como as de roda, cantos ou declamações; as que desenvolvem as percepções sonora e visual; e as que envolvem parlendas e quadrilhas, pois o folclore e as brincadeiras consideradas universais atuam no desenvolvimento da imaginação, indispensável ao desenvolvimento infantil, já que servem de estímulo ao cérebro. As histórias, contos, lendas e fábulas também têm papel importante na formação e no desenvolvimento da memória e da imaginação, atuando na formação da estrutura narrativa da memória, o que proporciona muitos subsídios para o desenvolvimento e aprendizagens posteriores, destacando-se a apropriação da escrita e a atividade criativa da mente humana. Assim, os sistemas biológicos são integrados ao centro do cérebro, o qual recebe, interpreta e responde aos estímulos provocados pelos ambientes, que são envolvidos pelas memórias construídas ao longo da vida. A aprendizagem é a união da memória, atenção, concentração, interesse, desejos, estímulos intrínsecos e extrínsecos que permeiam a mente e o cérebro humano. A habilidade de aprender e lembrar-se de coisas novas, chama-se memória declarativa e é processada em uma parte do cérebro diferente de onde ficam armazenadas as informações que dizem como proceder em determinada situação. O cheiro é um poderoso mecanismo de ativação da memória. 18 Quando a memória é relacionada a um cheiro, pode ser resgatada mais facilmente. Cada vez que uma lembrança é recuperada ou um novo pensamento ocorre, uma nova conexão é criada no cérebro. A memória é formada por associações, assim, para desenvolver a memória de alunos, é importante trabalhar com métodos mnemônicos. Pois, o cérebro usa o período de descanso para consolidar memórias. Dormir pouco diminui a habilidade de construir novas memórias. Segundo Relvas (2010), a memória mnemônica baseia-se em métodos tipicamente verbais, utilizados para memorizar listas ou fórmulas e baseia-se no princípio de que a mente humana tem mais facilidade de memorizar dados quando estes são associados à informação pessoal, espacial ou de caráter relativamente importante, do que dados organizados de forma não sugestiva para o indivíduo ou sem significado aparente. Sem o cérebro nada funcionaria e, ainda que funcionasse, não haveria consciência disso. Ele é o repositório da memória, da mente e dos sentimentos. Esse órgão guia grosseiros, desde os movimentos mais sutis aos mais as emoções e os pensamentos, da inconsciência ao completo despertar e até mesmo à hiperconsciência. Como é através do cérebro que se aprende, conhecer os mecanismos envolvidos no aprendizado torna-se cada vez mais uma necessidade para pais, professores e alunos. O aprendizado está relacionado ao recebimento de estímulos que são captados pelos sentidos, estes são selecionadores de estímulos chamados canais sensoriais. Esses estímulos são as informações, como: som, visão, tato, gustação e olfação, que chegam ao tálamo, que é uma estrutura no cérebro com a função de receber os estímulos e reenviá-los para áreas responsáveis pela elaboração, decodificação e associação das informações. O tálamo junto com o hipotálamo, as amígdalas cerebrais (responsáveis pela emoção) e o hipocampo (responsável pela memória de longo prazo) promovem lembranças e aprendizagem significativa. 19 Os neurônios trabalham a partir da ativação de seu potencial eletroquímico, a fim de desenvolver o melhor aprendizado e, devido ao gasto de energia, precisam ser ativados para otimizar o funcionamento de outros neurônios, e uma das formas de ativar e relaxar os neurônios é intercalando as atividades através de recursos didáticos diferentes. É importante que os alunos sejam orientados a manter horas de sono saudáveis, a ingerir água, a realizar atividades físicas e a ter bons pensamentos, o que promove a qualidade dessas conexões. As vivências e experiências de vida trazem novos aprendizados ao cérebro humano, essas são arquivadas na memória para serem associadas na medida em que forem necessárias, assim as sinapses são promovidas através dos estímulos extrínsecos e conexões neurais. É preciso que a escola reestruture suas práticas, pois hoje, o aluno possui muitas informações, mas isso não significa que tenha o conhecimento desejável para a vida. A escola, a família e a sociedade precisam estar voltadas para uma aprendizagem que valorize o refletir, o pensar e o interagir com o mundo. O aluno não deve apenas assistir à aula, esta deve ser reflexiva, pois o cérebro necessita de desafios coerentes, interação e participação, sempre. Com isso é fundamental que a aula seja repleta de desafios e afetividades, pois o aprender promove novas conexões neurais. 20 CAPÍTULO II O ENIGMA DO AUTISMO INFANTIL Autismo é um distúrbio de comportamento complexo, com etiologias múltiplas e graus variados de severidade. É definido por manifestações comportamentais que incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados, além de restritos interesses. Segundo Gadia (2012), devido à variedade no grau de habilidades sociais e de comunicação e nos padrões de comportamento que ocorrem em crianças autistas, torna-se mais apropriado o termo transtorno do espectro autista (TEA). Pois, não existe um marcador biológico para o diagnóstico autista, sendo a delimitação de seus limites uma decisão clínica. A criança com autismo possui severas limitações, como atraso no desenvolvimento da linguagem, dificuldade em manter relações sociais, comportamento estereotipado e foco de interesse muito restrito. A síndrome alcança de1 à 5 casos em cada 10 mil crianças, em uma proporção de 2 a 3 meninos para cada menina. Estudos mostram que nos últimos 30 anos houve um considerável aumento nos diagnósticos de crianças autistas, é provável que este aumento seja, principalmente, devido a um maior reconhecimento do transtorno em crianças menos severamente afetadas, as diferenças nos critérios diagnósticos entre o DSM-III e o DSM-IVR e a um maior reconhecimento desses transtornos tanto nas áreas da saúde quanto pela população em geral. Apesar de que, não pode ser completamente excluída a possibilidade de que tenha havido um aumento real na incidência, possivelmente associado a fatores ambientais e epigenéticos. Os critérios atualmente utilizados para 21 diagnosticar autismo são os descritos no Manual Estatístico e Diagnóstico da Associação de Psiquiatria, o DSM. A partir de 2013, com a publicação do DSM-V, haverá mudanças no diagnóstico que incluem a eliminação dos subgrupos (o diagnóstico seria apenas transtornos autistas) e dois grupos de sintomas, que são: sociocomunicativos e interesses fixos e repetitivos, pois atualmente existem três grupos. Levando em consideração diferentes níveis de desenvolvimento e idade cronológica. Segundo Medeiros (2012), não há pesquisas que estimem a incidência da síndrome no Brasil. No mundo, acredita-se que haja mais de 70 milhões de pessoas com autismo. O primeiro estudo foi feito por Leo Kanner, em 1943, que diferenciava o autismo da esquizofrenia infantil. O autismo é definido como incapacidade para estabelecer relações normais com pessoas e reagir a situações. São crianças autossuficientes, como numa concha, agindo como se ninguém estivesse presente, dando a impressão de uma sabedoria silenciosa. O contato físico é vivido com angústia, como uma ameaça de romper a sua solidão. Kanner descreve o desejo de imutabilidade, quando nada deve mudar ou se mover e a severa patologia da linguagem. O autista não estabelece laços sociais, o que muitas vezes leva ao isolamento e indiferença às pessoas. Em casos menos graves, a criança não procura o contato social, mas aceita ser procurada sem oferecer resistência. Há crianças que procuram contato social, mas de forma inadequada. Pode ter dificuldades em aprender regras sociais, e também de perceber as pessoas. Na forma mais grave há um total desinteresse em se comunicar com os outros. O autista faz comentários irrelevantes e fora de contexto, algumas crianças fazem bastante, mas sem se envolver em uma conversa recíproca. Há ausência de brincadeira que utilizem a imaginação, em alguns casos há 22 imitação mecânica, uma imitação repetitiva e estereotipada, sem a compreensão das emoções. Essas crianças podem ter dificuldade em reconhecer os sentimentos dos outros. Para Medeiros (2012), esses sinais observados no autista ocorrem devido a uma não realização simbólica do outro, ou seja, a ideia do “eu” e do “outro” não é desenvolvida. O não reconhecimento do outro leva à um padrão de linguagem restrito, tendendo a repetição infinita, isso porque a comunicação não é exatamente dirigida ao outro. Outras dificuldades do autista são a capacidade de compreensão, de representação do mundo e de abstração. O que provoca inaptidão para interagir e se comunicar. Devido à ausência da representação, há impossibilidade de dar sentido aos objetos, a reação das pessoas e à imaginação lúdica. Nem sempre a criança autista consegue interpretar afeto e metáforas, ou seja, não compreende as entrelinhas, tem dificuldade de interpretar o todo, detendo-se a detalhes. Mas a criança que desenvolve a linguagem tem condições de um melhor prognóstico. Sobre a origem da síndrome, Medeiros (2012) diz que não há estudos que correlacionem o autismo com lesões no cérebro. Acredita-se que seja causado por uma alteração funcional dentro do útero materno. Existe a hipótese de que haja um erro na migração dos neurônios, no cérebro dos autistas. Pode ainda, ocorrer o aumento da beta-endorfina, uma substância que faz com que a criança tenha um distanciamento da realidade e uma maior sensibilidade ao calor. Uma solução seria eliminar o glúten e a codeína. Alguns estudos mostram que a criança autista tem o cérebro grande, tem o tamanho médio da cabeça maior que o previsto para a idade. Esse volume cerebral seria resultado do aumento da substância branca. Podem haver alterações nas proporções ou nas relações entre as diferentes regiões do cérebro. 23 Mostram que a organização minicolunar cerebral é anormal em autistas. Minicolunas são estruturas radiais muito finas que representam o nível mais básico de organização cortical vertical, tanto do ponto de vista anatômico quanto fisiológico. Um maior número de minicolunas, menores e menos compactas do que o esperado tem sido descrito em autistas, principalmente no córtex pré-frontal dorsolateral e singular anterior. Essas descobertas sugerem que anormalidades na proliferação de células neuronais precursoras ou alterações na arquitetura minicolunar por causas diversas poderiam estar relacionadas com a neuropatologia do autismo e de outros distúrbios do desenvolvimento. O tamanho da cabeça de autistas tende a ser semelhante ao de outras crianças ao nascer. No entanto, o perímetro cefálico apresenta um ritmo mais acelerado de crescimento que se torna claro entre 12 e 24 meses. Gadia (2012) diz que entre dois e cinco anos de idade, 90% dos autistas têm volume cerebral maior do que a média para crianças da mesma idade e entre 20% e 37% apresentam macrocefalia. Estudos de neuroimagem sugerem um padrão anormal de desenvolvimento cerebral em autistas, com um crescimento acelerado durante os primeiros anos de vida, seguido por uma desaceleração em algumas regiões do cérebro, enquanto em outras áreas há parada do crescimento. A ressonância magnética funcional (FMRI) tem sido útil no estudo das áreas de processamento social. Há uma acentuada ativação do giro fusiforme (área facial fusiforme), quando figuras de faces são apresentadas, durante um exame de FMRI. Mas, os autistas tendem a ativar outras regiões, como frontais e occipitais. Essas alterações podem ser de volume, metabolismo, conectividade e assimetria. O autista teria dominância hemisférica invertida em relação a estimulação auditiva. Isso quer dizer que as causa do autismo em uma pessoa podem não ser as mesmas para outra. Essas hipóteses surgiram a partir de 24 observações indiretas, como ressonância magnética ou scanner de cérebro, ou de estudos de cérebros post-mortem. Um traço marcante dos autistas é a recusa em olhar nos olhos, pois o contato visual permite a leitura das emoções do outro. Estudos mostram que essa atitude de esquiva deve-se a defeitos de partes do cérebro ligadas a respostas emocionais (amígdala e giro orbifrontal). A região da amígdala é responsável por detectar emoções através do reconhecimento facial, e é uma área relacionada ao medo. Foram detectados defeitos anatômicos nessa região do cérebro de algumas crianças autistas. Existem outros transtornos que podem estar associados ao autismo, como o retardo mental, a epilepsia, transtornos neuropsiquiátricos, agitação psicomotora, agressividade, ansiedade, distúrbios do sono, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo. Isso dificulta o diagnóstico, já que a variedade de transtornos pode mascarar a verdadeira deficiência. Nem sempre o diagnóstico pode ser feito por exames laboratoriais e de imagem, normalmente é feito pela avaliação do comportamento. Sendo que, a heterogeneidade desses distúrbios pode ser devida a etiologias distintas ou a uma combinação de fatores, tais como etiologia, predisposição genética e fatores ambientais. Quando se trata de autismo, o terapeuta deve partir do princípio de que algo precisa ser organizado na criança, e que esta criança não vai facilitar o processo. O desenvolvimento não ocorrerá de modo intrusivo, pelo contrário, o autista poderá aprofundar o seu comportamento estereotipado. É possível construir um canal de comunicação com a criança a partir das falas estereotipadas, começando por um mínimo de comunicação, em direção à complexidade. Para Medeiros (2012), hoje, a preocupação da psicanálise é detectar a doença o mais cedo possível a fim de seja feita uma intervenção precoce, assim, é possível trabalhar para que se produza o vínculo com os pais. Pois o 25 autista não consegue distinguir suas sensações internas daquelas que lhe chegam do exterior. O diagnóstico de autismo depende de avaliações de linguagem e neuropsicológicas, e ainda de exames complementares como estudos de cromossomas incluindo DNA para X-frágil e microarray e estudos de neuroimagem ou neurofisiologia. É preciso uma equipe multidisciplinar para avaliação, que deverá apoiarse em escalas objetivas. Uma das escalas de avaliação mais usadas é a childhood Autism Rating Scale (CARS), que consiste em entrevista com 15 itens com os pais ou responsáveis pela criança autista com mais de dois anos de idade. A cada um dos 15 itens aplica-se uma escala de sete pontos, o que permite classificar formas leves, moderadas ou severas de autismo. As avaliações psicológicas mais detalhadas usadas para diagnóstico de autismo são o Sistema Diagnóstico de Observação do Autismo (ADOS) e a Entrevista Diagnóstica de Autismo (ADI). Que representam entrevistas estruturadas e bastante complexas e um método de observação para avaliar objetivamente a habilidade social, de comunicação e o comportamento de autistas que podem variar de crianças sem linguagem até adultos capazes de comunicar-se relativamente bem. Gadia (2012) diz que em famílias com crianças autistas, há cerca de 3% à 8% de risco de recorrência. Em gêmeos monozigóticos a porcentagem de concordância para o diagnóstico é de, pelo menos, 60%, quando são usados critérios do DSM-IV, de 71% para TEA e de 92% com um espectro mais amplo de distúrbios de linguagem e socialização. A relação entre fatores genéticos e eventos não genéticos em determinar severidade na expressão de um distúrbio do espectro autista requer ainda muita investigação. Apesar de que até 20% dos transtornos autistas possam ser atribuídos a algum gene determinado, nenhum gene isoladamente é responsável por mais de 2% dos casos. 26 O tratamento dos TEA é feito por uma intervenção multidisciplinar que envolve técnicas de mudanças de comportamento, programas educacionais ou de trabalho e terapias de linguagem/comunicação. Devem fazer parte dessa equipe, psicólogos ou educadores treinados em análise comportamental, funcional e em técnicas de mudanças de comportamento. As dificuldades que mais interferem na integração de crianças autistas dentro da família e da escola, e de adolescentes e adultos na comunidade, são os problemas de comportamento. Em crianças, esses problemas incluem hiperatividade, desatenção, agressividade e comportamentos automutilantes. Esses sintomas persistem em adolescentes e adultos. A agressividade e os comportamentos automutilantes podem aumentar na adolescência. Também contribuem para os problemas de comportamento de autistas, as respostas anormais a estímulos sensoriais, tais como sons altos, a supersensibilidade tátil, o fascínio por determinados estímulos visuais e a alta tolerância à dor. Distúrbios de humor e de afeto são comuns e podem ser manifestados por crise de riso ou de choro sem razão aparente, falta de percepção de perigo ou medo excessivo, ansiedade generalizada, ataques de cólera ou reações emocionais ausentes ou diminuídas. As medicações mais utilizadas para o tratamento de autistas são os antipsicóticos. Gadia (2012) diz que a risperidona e o aripiprazole são as únicas medicações aprovadas pela Food and Drug Administration para tratar sintomas associados ao autismo, tendo como base estudos que mostraram diminuição significativa em escalas de irritabilidade, agressividade, comportamentos automutilantes e repetitivos. Entretanto, há uma série de efeitos colaterais associados ao uso prolongado dessas medicações, incluindo hipertensão, dislipidemias, diabete e desordens de movimento tardias, como discinesia tardia. Os benefícios e os efeitos colaterais do uso à longo prazo ainda não foram avaliados. Os 27 medicamentos devem ser utilizados pelo menor tempo possível, pois o fator risco-benefício parece ser maior quando os comprometimentos são mais severos. 2.1 – Síndrome de Asperger Em 1944, o médico austríaco Hans Asperger, relatou uma síndrome e a denominou como psicopatia autista, considerando um distúrbio do desenvolvimento associado a alterações orgânicas e enfatiza a hipótese de uma lesão de integração de informações. Spencer (2010), diz que o relato original explicitava a existência de crianças com sérios comprometimentos de interação social, além de peculiaridades comportamentais diferentes, quando comparadas ao conjunto de atitudes normais. Inteligência em níveis aceitáveis e sem atrasos no desenvolvimento da linguagem. Segundo Oliver (2011), as pessoas com esse distúrbio possuem as dificuldades ou as falhas consideradas na tríade do autismo, mas não apresentam nenhum atraso significativo de desenvolvimento de fala ou no cognitivo, podendo ser consideradas apenas excêntricas ou estranhas para os padrões considerados normais de comportamento. Mas, existe uma certa contradição, pois se a tríade é caracterizada por falhas ou dificuldades na comunicação, na interação social e na imaginação e, como consequência, surgem as dificuldades comportamentais, um indivíduo não poderia apresentar a tríade e manter a total normalidade no que se refere ao desenvolvimento da fala e do cognitivo. Assim, para Oliver (2011), a Síndrome de Asperger deveria ser vistas com suas próprias características, desvinculada do autismo, já que a descrição 28 dos sintomas engloba os descritos como próprios do autismo e acrescenta outros próprios somente do Asperger. Na verdade, seria uma variação do autismo, com características próprias, da mesma forma que se classifica o grau leve de autismo como limitrofia. As variações, com sintomas específicos, denominam-se Asperger. Em relação à linguagem o Asperger possui fluência verbal antes dos quatro anos de idade apresenta gramática e vocabulário muito bons, mas, por vezes, de maneira formal e repetitiva, a voz tende a ser monótona e sem emoção, e os diálogos giram em torno do ego. Esta fluência é semelhante a um tipo de autismo, mas não a todos os outros. Em relação à aprendizagem e à cognição mostra-se obcecado por tópicos complexos, pode ser considerado uma pessoa excêntrica, com variação do QI muito abaixo do normal na habilidade verbal e acima da média em outras habilidades. Em muitos casos pode apresentar dislexia e problemas de escrita, discalculia ou dificuldade em matemática, falta de bom senso e preferência pelo pensamento concreto. Em relação ao comportamento, apresenta tendência a movimentos desajeitados. Por não ter muita dificuldade em entender as sensações, pode ser socialmente atento, mas apresentar falhas na reciprocidade. Pode aceitar as pessoas e até conviver com elas, mas sem integrar-se inteiramente. Por vezes, apresentam depressão e desordem bipolar, entre outras características. Demonstram comprometimentos qualitativos acentuados na relação social, como gestos comunicativos não verbais anormais, expressão facial, postura do corpo e contato visual com outras pessoas. Muitas vezes possuem dificuldade para estabelecer relacionamentos com pessoas do seu convívio social, parecendo não desenvolver uma disposição espontânea para compartilhar atividades, interesses ou realizações. Desenvolvem padrões pessoais de comportamento restritos, repetitivos e aparentemente inflexíveis, conduzindo-os às rotinas e aos rituais específicos 29 de natureza não funcional. Há insistente preocupação em seguir os mesmos roteiros de atitudes que interferem na vida ocupacional e social. Mas, não existem atrasos significativos na linguagem nem no desenvolvimento cognitivo. Muitas vezes a escolarização é desenvolvida dentro da normalidade sem problemas expressivos de aprendizagem. Na síndrome de Asperger, a criança apresenta inteligência normal. A dificuldade está nas relações interpessoais e na linguagem, pois nem sempre entendem os ditados mais comuns ou ditos populares. Suas características são muito parecidas com autistas. Muitos Aspergers possuem níveis de inteligência e linguagem superiores, mas apresentam dificuldade de interagir socialmente. Na vida adultas, estes indivíduos são considerados excêntricos, diferentes e com comportamentos estranhos. A causa da síndrome de Asperger não é conhecida, mas alguns estudos mostram que pode ser hereditária. Sugere-se uma semelhança com o autismo, nas áreas genéticas, metabólicas, infecciosas e perinatais, que são os problemas transcorridos durante o parto. Quanto ao tratamento, não há nenhum específico para a Síndrome. Pode ser usada a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) ou a Arteterapia, apesar das poucas opções disponíveis para tratamento, percebe-se que as pessoas tratadas têm uma vida produtiva, conseguindo viver de forma independente. Para um bom tratamento, é preciso considerar os aspectos bioquímicos, que refere-se à aceitação ou alergias a tipos de alimentos, medicamentos,etc, o aspecto neurosensorial que é a integração sensorial, desenvolvimento de padrões, estimulação e integração auditiva, facilitação da comunicação em diversos níveis, terapias relacionadas com a vida diária, de acordo com a rotina do paciente, o aspecto psicodinâmico que é a terapia de abraços, Psicoterapia e Psicanálise. 30 Para Spencer (2010), os modelos de intervenção, como Educação Especial e Modificação de Comportamento, usados no tratamento do autismo, tendem a exercer influências satisfatórias na motivação das potencialidades intrínsecas da síndrome. 2.2 – Intervenções Neuropedagógicas 2.2.1 - O método TEACCH O método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children), que em português significa Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Deficiências Relacionadas à Comunicação, é um programa de intervenção terapêutica educacional e clínico. Segundo Spencer (2010), os pressupostos científicos do método TEACCH foram desenvolvidos pelo Dr. Eric Schopler e sua equipe de pesquisadores, cuja metodologia de trabalho consistia em uma intensa observação comportamental das crianças autistas, em variadas situações e diante de diferentes estímulos. Desses estudos resultam conclusões sobre o comportamento das crianças autistas. Os distúrbios de comportamento do autista podem ser modificados à proporção que ele consegue entender o êxito de suas expressões verbal ou gestual no ambiente, bem como o que se espera dele em certas circunstâncias. Durante as estimulações, a criança autista, exprime melhor a percepção visual do que a percepção auditiva, responde positivamente quando 31 estimuladas em ambientes organizados, ou seja, o funcionamento comportamental adaptativo do autista é melhor em condições estruturadas. Uma das características dos princípios metodológicos dirigidos ao aprendizado do autista é a programação das atividades, como tempo, duração, material, e da previsibilidade das rotinas organizadas em quadros, painéis ou agendas. Para cada sequência de trabalho, existe um local recomendado, espaços para a realização de atividades individuais com a presença do terapeuta, para as atividades em grupo, outro local destinado ao momento do lanche e mais um local para tempo livre, onde são selecionados materiais e atividades direcionadas aos interesses das crianças. Esses interesses são descobertos na realidade familiar, informados pelos pais nas entrevistas com a equipe de profissionais. São princípios do método TEACCH: a busca de entendimento de como é, como pensa, como age a criança e o adolescente autista; a determinação de objetivos específicos e claramente definidos com relação ao programa terapêutico; especificação dos comportamentos que o autista pode ou não realizar. Elaboração de planos terapêuticos individuais dirigidos aos comportamentos alvo, com especificação das respostas; adaptação dos métodos terapêuticos à problemática da criança ou do adolescente; registro do que ocorre com a criança; seleção cuidadosa de comportamentos relevantes; seleção de comportamentos que respeitem e mantenham semelhança com o que a criança já sabe fazer. E ainda, a divisão do comportamento final esperado em informações que serão apresentadas aos poucos em uma sequência progressiva e repetida; utilização de esquemas de reforçadores e de estímulos de preparação produzindo um condicionamento secundário. 32 O método TEACCH está fundamentado no behavirismo, onde só é possível teorizar e agir sobre o que é cientificamente observável. O método consiste em uma linha de pensamento indutivo, mensurável e determinista, enfatizando a objetividade, suprimindo análises subjetivas. O trabalho de intervenção terapêutica é baseado na determinação de objetivos bem definidos e direcionados aos comportamentos que se pretende mudar, com o propósito de extinguir ou amenizar comportamentos indesejáveis, reforçando, positivamente, os estímulos que aumentam a probabilidade das condutas adequadas e, negativamente, todo estímulo que produza condutas inadequadas à convivência social. A linguagem é uma capacidade geneticamente determinada na espécie humana, o que diferencia o ser humano das demais espécies. O esperado em condições normais é que haja desenvolvimento regular aliado à maturação do principal órgão ligado do funcionamento da linguagem, o cérebro. O problema no autismo é um acentuado comprometimento na aptidão de assimilar e expressar o significado abstrato existente nos signos e nos símbolos que são representações criadas e nomeadas culturalmente. Por isso o autista age com hostilidade a determinadas situações, mostrando comportamento introvertido, e utilizando o outro como instrumento para alcançar um objeto. Ou seja, devido à dificuldade de comunicação, usa a mão do adulto, tentando transmitir sua mensagem. O método TEACCH é fundamentado na teoria da psicologia da linguagem ou psicolinguística que atua nos distúrbios abrangentes do desenvolvimento como terapêutica psicopedagógica, juntamente com a teoria comportamental. O método valoriza a importância atribuída a funcionalidade dos conteúdos ensinados e ao sentido pragmático aplicado no espaço de vivência do autista. A fim de atingir os objetivos pedagógicos planejados, devem ser utilizados estímulos visuais, como fotos, figuras, cartões que orientem o autista 33 na escola e nos ambientes de sua casa. Estímulos corporais, linguagem não verbal que enfatiza gestos, movimentos do corpo, aplausos, apontar um objeto pretendido. Quando a criança demonstrar desenvoltura na atividade ensinada, a conduta adquirida passa a fazer parte da rotina de trabalho do aluno. O método recebe críticas por aplicar uma abordagem determinista, onde não é considerado um espaço de livre escolha para motivação. Nesta concepção, há uma reduzida confiança na vivência de ações espontâneas, entendidas pela psicologia humanista como expressão da potência humana que acontece independentemente de uma exaustiva prática educacional condicionante. 2.2.2 - O método ABA – Análise Aplicada do Comportamento A princípio, é feita uma análise da criança ou do adolescente, tendo como finalidade identificar habilidades já assimiladas, sendo assim, ensinadas habilidades que o autista ainda não domina. Cada habilidade ensinada por etapas obedece a uma organização de atendimento individual. Os trabalhos de estimulação ao aprendizado de novas aptidões são apresentados ao aluno por auxílio de indicação ou instrução. O terapeuta intervém como mediador em casos onde o aluno necessita de apoio para começar a prosseguir na atividade, essa ajuda é concedida até que o autista consiga executar a tarefa com autonomia, evitando o reforço à dependência. O terapeuta obtém provas de que o aprendizado está fluindo quando as respostas positivas de mudança do comportamento ocorrem em decorrência das ações pedagógicas. É observado que, quando um evento particular de estímulo-resposta é reforçado (recompensado), o indivíduo é fisiologicamente 34 condicionado a reagir, tendendo a repetir as respostas positivas ou agradáveis referentes ao processo de aprendizagem e socialização. Respostas inadequadas como birras, fugas repentinas, não são reforçadas. O reforço é uma das bases fundamentais na teoria estímuloresposta de Skinner. Nos procedimentos de avaliação do método ABA, é feita uma análise detalhada dos dados e fatos ocorridos na relação ensinoaprendizagem, registrando as tentativas e os resultados, com o objetivo de descobrir quais os eventos que funcionam como reforço positivo ou negativo. Nesta intervenção é aplicado o condicionamento operante, da teoria de Skinner, sendo um mecanismo de aprendizagem que introduz novas condutas, reforçando-as a partir do processo de modelagem. Os métodos TEACCH e Aba estão consolidados na Psicologia behaviorista, que parte da premissa de que o comportamento humano é controlado pelo ambiente e pelos genes. Assim, a principal crítica feita aos métodos é a concepção de educação mecanicista, adestradora, mais inclinada a robotizar do que a promover as potencialidades humanas. 2.2.3 - Sistema de Comunicação por meio de Figuras O Sistema de Comunicação por meio da Troca de Figuras (PECS), do original Picture Exchange Communications System, tem o objetivo de ajudar crianças e adultos portadores da síndrome autística ou portadores de outros distúrbios de desenvolvimento a adquirir habilidades de comunicação. Habilidade de comunicação envolve a capacidade de enviar e receber informações do ambiente onde a pessoa estabelece relações, saber expressar o que deseja para obter algo e satisfazer necessidades. Quando o autista pede verbal ou gestualmente alguma coisa a alguém, ele percebe a existência da pessoa, mantendo uma interação que também ocorre com objetos. 35 A comunicação receptiva tem como característica verificar o que o autista tem como aptidão a fim de estimular nele a assimilação das informações recebidas, ensinando-o à perceber a função contida nos elementos concretos (signos e símbolos) da cultura em que vive. O sistema utiliza esse mecanismo expressivo e receptivo da comunicação para ensinar pessoas autistas a perceber que, pela comunicação, se alcança a realização de desejos. Alguns exemplos da necessidade de comunicação intrínseca ao ser humano são manipular um objeto ou saciar a fome e a sede. O PECS tem como metodologia descobrir o que motiva a pessoa autista ou com síndromes correlatas a querer se comunicar, que elementos da realidade são mais atraentes e qual razão o induz à vontade de comunicar-se. Provocar sentidos funcionais de comunicação é uma dimensão da comunicação funcional que marca qualquer sistema de comunicação. Outro passo é ensinar a criança ou adolescente os meios que possibilitarão condições de se expressar, evitando dependência das pessoas para atender suas necessidades básicas. Os meios de comunicação são: comunicação motora e gestual, ou seja, deslocar-se em direção a algo e apontar; fazer uso de objetos; usar figuras para indicar o que quer; expressar sons relacionados à determinada coisa; usar palavras; comunicar-se por linguagem de sinais; fazer uso de sentenças ou de palavras escritas. Estão inseridos na comunicação funcional o contexto e o conteúdo. Os momentos em que a pessoa expressou atos comunicativos e para quem foram direcionados, trata-se do contexto. Já no conteúdo, é avaliado o teor da mensagem e o que o emissor da fala quis dizer naquela situação. O método PECS em primeiro lugar avalia capacidades e habilidades da pessoa com dificuldade de comunicação, depois estimula seu aprendizado. Este método de intervenção promove a aquisição e o desenvolvimento da 36 linguagem, baseando-se nos estudos da moderna Psicologia da linguagem ou Psicolinguística. 37 CAPÍTULO III DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Antes de tratar dos distúrbios de aprendizagem é importante saber os três estágios básicos da aprendizagem, segundo Oliver (2011): a subaprendizagem, quando a pessoa entra em contato com o assunto, mas não presta atenção, não assimilando; a aprendizagem simples, quando entra em contato com o assunto, presta atenção, mas não memoriza e a superaprendizagem, quando a pessoa entra em contato com o assunto, presta atenção, assimila e memoriza. Na subaprendizagem e na aprendizagem simples é preciso acompanhamento psicopedagógico e análise através de exames e testes para detectar onde há e qual é a falha existente. Podem ocorrer as dificuldades, os problemas ou os distúrbios, que ocorrem basicamente de três formas. Pode ser por causas psicológicas, como traumas, problemas familiares ou problemas financeiros, pode ser por causa orgânica como desnutrição, anemia ou distúrbios como dislexia ou disgrafia, ou por causas do sistema, por ter um método inadequado à aprendizagem ou despreparo dos professores. Ao avaliar todos esses fatores, os sintomas devem ser observados a fim de identificar o distúrbio. Já as dificuldades de aprendizagem referem-se àquelas que podem ser experimentadas por qualquer pessoa em alguma disciplina ou momento da vida escolar. Podem ser classificadas em naturais ou secundárias. As causas naturais estão relacionadas à aspectos evolutivos; estilos de aprendizagem; vínculo negativo com a aprendizagem formal; problemas na 38 proposta pedagógica; exigências da escola; falta de assiduidade; ou conflitos pessoais e familiares. As causas secundárias referem-se à outros quadros diagnósticos, isto é, alterações ou problemas primários que podem causar dificuldades na aprendizagem. Podem-se citar como alterações primárias as alterações perceptivas, alterações psicomotoras, alterações da atenção, alterações de memória, alterações no pensamento e linguagem, quadros neurológicos e transtornos do desenvolvimento mental. Os transtornos das habilidades escolares ou da aprendizagem referemse à três tipos específicos de transtornos de aprendizagem, segundo o DSMIV-R (Manual Diagnostico dos Transtornos Mentais): transtorno da leitura (dislexia), transtorno da matemática (discalculia) e transtorno da escrita (disgrafia). Algumas das características dos transtornos do desenvolvimento são: não apresentam etiologia definida, apesar de pesquisas apontarem para fatores anatômicos, fisiológicos, neuroquímicos e genéticos; presença de substrato orgânico, sem marcadores biológicos específicos; multifatores desencadeantes que se iniciam na infância ou adolescência sem cura conhecida até o momento. São condições indispensáveis para o diagnóstico, a intensidade dos sintomas, a persistência mesmo com terapêutica adequada e o prejuízo nas diversas áreas de funcionamento. Os transtornos mentais classificam-se em: transtornos de déficit de atenção; transtornos das habilidades escolares; transtornos de ansiedade; transtornos da comunicação; transtornos alimentares; transtornos da excreção; transtornos invasivos do desenvolvimento; transtornos do humor; retardo mental; transtornos de tique e transtorno da coordenação. 39 3.1 – Deficiência Mental As primeiras suspeitas sobre deficiência mental nas crianças ocorrem com o seu lento desenvolvimento motor. A criança não engatinha, demora a andar e a desenvolver a linguagem, por existirem sérios comprometimentos funcionais do cérebro. Segundo Relvas (2011), é preciso conhecer a fisiologia do cérebro a fim de favorecer a educação sensorial e saber que a criança com deficiência mental demora a aprender, precisando de estímulos intensos. Possui dificuldades na discriminação dos objetos e deficiência dos sentidos, o que prejudica o aprendizado. Em fase escolar, apresenta incapacidade de generalizar, abstrair e analisar. As causas podem ser pré-natais, perinatais (durante o parto) ou pós natais. Podendo ser diagnosticada durante a gestação, no momento do parto ou durante as fases da vida, como fatores nutricionais, traumatismo craniano, falta de estímulos sensoriais, motores e emocionais. A deficiência mental pode ser severa, que ocorre raramente, mas as crianças que apresentam permanecem dependentes durante toda a vida, podendo ter seu ajustamento social melhorado, dentro de limites. Ou leve, que ocorre em maior quantidade, podendo não ser observado pela família, agravando na aprendizagem escolar. As crianças com lesão cerebral são ativas e dispersas, não se concentram por muito temo em uma atividade. As crianças mais tímidas ou retraídas costumam ficar isoladas, evitam contato com adultos e com outras crianças, e não demonstram interesse por brinquedos. Assim, é preciso proporcionar contato gradativo com os outros. 40 3.2 – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) Segundo Oliver (2011), o TDAH, provavelmente, é causado por alterações no desenvolvimento neuroemocional. Acredita-se que possa ser genético e/ou por alterações nos neurotransmissores, afetando a atenção e coordenação motora. Pode também ser definido como transtorno multifatorial associado a fatores ambientais genéticos. Para Relvas (2011), é um transtorno psiquiátrico, neurobiológico, que se apresenta, normalmente, na infância ou adolescência, acompanhando o indivíduo por toda a vida. Em alguns casos ocorre transtorno de conduta, depressão, ansiedade, sendo que tais fatores interferem no aprendizado escolar. Podem ser consideradas como causas do TDAH as variações no tamanho e na morfologia do cérebro, anormalidades no cerebelo, principalmente no hemisfério direito, considerado responsável pela maioria dos distúrbios de coordenação motora e a dopamina considerada a principal alteração neuroquímica acentuando as alterações morfológicas. Estudos demonstram uma diminuição no metabolismo da região frontal. Este distúrbio é caracterizado por uma hiperatividade, que torna a criança irritada, impaciente para brincar, inclusive quebrando seus brinquedos, muito chorona e com sono irregular. Ao ser detectado, a criança deve ser encaminhada a um psicopedagogo para avaliar se ela apresenta apenas uma hiperatividade natural para sua idade, podendo ser tratada pelo próprio psicopedagogo ou, se for mais grave, necessitará de avaliação psiquiátrica. Antes de diagnosticar um distúrbio é necessário que o profissional avalie muito bem todos os sintomas, realize exames e ouça outras opiniões, inclusive os professores. 41 Deve-se analisar que, apesar da maioria dos indivíduos apresentar um conjunto de sintomas e características de desatenção, hiperatividade, impulsividade, existem algumas variações que os classificam em três subtipos. O combinado, quando os sintomas igualam-se em desatenção, hiperatividade e impulsividade, o desatento quando os sintomas tendem para a desatenção, variando desde simples desatenção até grande alienação, e o hiperativoimpulsivo, quando os sintomas aliam-se à hiperatividade e impulsividade. Pode-se detectar a hiperatividade-impulsividade, através dos seguintes comportamentos ( dentre outros): responde precipitadamente antes do término da pergunta, dificuldade em aguardar sua vez, interrompe conversas de outras pessoas, toma decisões sem raciocinar, precipita-se em atitudes e palavras, envolve-se em situações perigosas sem avaliar riscos e consequências. O aluno desatento apresenta as seguintes reações e características: parece ausente, demora muito a encontrar uma resposta ou não responde, parece não entender uma questão e não se esforça para entendê-la e não desenvolve satisfatoriamente as atividades propostas. 3.3 – Discalculia ou dificuldade em matemática? Segundo Oliver (2011), alguns profissionais acreditam que a discalculia só ocorre após um Acidente Vascular Cerebral ou traumatismo craniano, mas, na verdade, qualquer acontecimento anormal que desencadeie uma descarga elétrica no cérebro pode causar um distúrbio, seja de aprendizagem ou não. A dificuldade no aprendizado de matemática afeta grande parte dos estudantes e pode ser causada pela deficiência do próprio sistema de ensino, já a discalculia é um distúrbio neurológico, com causas diversas, que afeta a habilidade com números. É um problema de aprendizado independente, mas pode estar associado à dislexia. 42 A pessoa com discalculia se confunde em operações matemáticas, conceitos matemáticos, fórmulas, sequências numéricas, formas geométricas, ao realizar contagens, sinais numéricos e também na utilização da matemática no dia a dia. Alem do tratamento adequado, o portador de discalculia pode ser auxiliado no seu dia a dia por uma calculadora, uma tabuada e outros recursos que facilitam o entendimento dos números. Após detectado o problema, em primeiro lugar, as causas biológicas e neurológicas devem ser diagnosticadas por meio de exames específicos e tratadas por profissionais das respectivas áreas. Após todos os testes e exames, se for comprovado que a criança não possui nenhuma disfunção neurológica, nenhuma deficiência causada por anemia ou desnutrição, se a criança estiver bem física e mentalmente, restarão as causas psicológicas e a deficiência dos sistemas de ensino para justificar a dificuldade com os números. As causas psicológicas são muitas e complexas e devem ser tratadas por um psicopedagogo ou psicólogo, que analisará o histórico de vida e escolaridade da criança. As dificuldades causadas pela deficiência do ensino também são muitas, e sua solução depende de uma nova visão da matemática. Para criança, uma adição descrita por números, por exemplo, é apenas um conjunto de símbolos numéricos, totalmente abstrato, sem significado. Uma forma de fazer a criança assimilar as operações matemáticas é tornar tudo o mais real possível, utilizando palitos, figurinhas, bolinhas, enfim, qualquer material palpável. Assim os números deixarão de ser apenas sinais escritos e terão um significado real. São muitas as técnicas que podem ser usadas para solucionar as falhas no ensino da matemática abstrata, com criatividade, o professor encontrará várias formas de ensinar e despertar na criança o interesse pelos números, facilitando o aprendizado. 43 As principais dificuldades dos alunos são de passar do texto para linguagem matemática, a falta de vivências concretas e a inadequação dos temas com o desenvolvimento. O termo “problemas de matemática” vem carregado e emoção negativa, com significado de algo ruim, difícil de resolver e que precisa ser eliminado. Para crianças que não aprendem matemática por problemas psicológicos, pode ser mudado o nome de problema para “vamos descobrir o resultado”, por exemplo. Essa estratégia pode melhorar o aprendizado, e isto, aliado a matemática concreta facilita a aprendizagem. É possível detectar a discalculia entre os três e seis anos de idade, analisando os seguintes sintomas: parece não reconhecer números nem distingui-los; confunde-se, achando que todos os números são iguais; não consegue dizer com exatidão quantos anos tem, nem mostrar nos dedos; não distingue o número de sua residência nem a data do seu aniversário; não consegue contar em sequência lógica; não faz contas básicas, mesmo usando material concreto; não reconhece símbolos matemáticos; não escreve os números e demonstra nervosismo nas aulas de matemática. Ao apresentar estes sintomas, pode-se pensar em discalculia, que deverá ser comprovada por meio de exames e testes. Há evidências de que a discalculia possa ser provocada por lesões no lobo parietal inferior, região vinculada à visualização espacial mental, e no lobo temporal. Estudos mostram que áreas do lobo parietal nos dois hemisférios cerebrais são ativadas durante a resolução de cálculos aproximados. Essas regiões não são ativadas durante as tarefas com cálculos exatos. Isso porque a capacidade de estimar, necessária ao cálculo, envolve neurônios no lobo parietal e independe da linguagem, que está relacionada à execução de cálculos exatos. Não se pode dizer que o lobo parietal seja o centro do cálculo, mas sim uma zona de convergência de diversas funções cerebrais, incluindo a memória 44 de trabalho visual e espacial. Estudos mostram que, em uma pessoa com lesão apenas no lobo temporal, a tomografia detectou que também não funcionavam normalmente áreas do lobo parietal e occipital. Significa que, além da memória de curto prazo, estaria também prejudicada a habilidade para formar imagens mentais dos problemas. 3.4 - Dislexia Entende-se que a dislexia seja uma dificuldade na aquisição de linguagem. E, léxico é o conjunto das palavras usadas em um idioma, o termo disléxico define a pessoa desprovida da capacidade de aquisição desse conjunto de palavras. A dislexia, assim como vários outros distúrbios, existe em diversos níveis, ou seja, não apresenta um único tipo. Para psicopedagogia existem três tipos básicos: a dislexia congênita ou inata, que nasce com o indivíduo e pode ter variadas causas, dentre elas uma alteração hemisférica cerebral. A pessoa com dislexia congênita possui pouca ou nenhuma habilidade para leitura e escrita. Este tipo de dislexia é irreversível, mas pode ser bem controlada e bem direcionada se for feito um tratamento multidisciplinar, envolvendo psicopedagogo, neurologista e/ou psiquiatra dependendo da gravidade do caso. Caso haja também distúrbios de fala ou audição necessita-se de um fonoaudiólogo, se houver dificuldades motoras ou de lateralidade é preciso um psicomotricista. A dislexia adquirida ocorre por meio de um acidente qualquer, como por exemplo, um acidente vascular cerebral, se o indivíduo antes lia e escrevia, passa a apresentar dislexia com falhas de memória e muita dificuldade em ler e escrever. 45 A dislexia ocasional é aquela causada por fatores externos e que aparece ocasionalmente, pode ser por esgotamento do sistema nervoso ou excesso de atividades, não havendo a necessidade de tratamento, apenas repouso ou mudanças na rotina. Existem pessoas que possuem algumas características disléxicas, mas essas características isoladas não significam nada ou podem ser causadas por outros distúrbios. Na maioria dos casos, o disléxico não identifica sinais gráficos, letras ou qualquer código que caracterize um texto, logo ele não troca letras, é algo muito mais complexo, pois seu cérebro não identifica o que seja uma letra. Existem evidências neurobiológicas de que existe uma interrupção nos sistemas neuronais associados à leitura em crianças disléxicas. Segundo Oliver (2011), para neuropsicológica, dislexia é a alteração dos processamentos periférico e central. As dislexias periféricas são causadas pelo comprometimento no sistema de análise visual-perceptiva, e as centrais são causadas pelo comprometimento do processamento linguístico dos estímulos. As dislexias centrais dividem-se em: dislexia de superfície, que é a falha de leitura de palavras irregulares, em um comprometimento da via lexical; a dislexia fonológica caracteriza-se pela incapacidade para leitura de não palavras e habilidade para leitura de palavras reais, devido a danos ou lesões na via de conversão de grafema para fonema e a dislexia profunda que é semelhante à dislexia fonológica em relação ao bloqueio para leitura, mas a diferença é que há presença de paralexias semânticas e maior facilidade em leitura de palavras concretas e frequentes. As dislexias periféricas dividem-se em dislexia atencional, quando a pessoa lê palavras isoladas, mas tem dificuldade em ler várias palavras simultaneamente, encontrada quando ocorre lesões no lobo parietal esquerdo; em dislexia por negligência que é atribuída à lesão nos lobos frontal, parietal e temporal, a pessoa apresenta ausência ou dificuldade de leitura no campo visual contralateral à lesão cerebral. 46 E a dislexia literal, quando o indivíduo consegue ler letras individuais, mas tem dificuldade em ler palavras. Está relacionada à lesões occipitais inferiores extensas à esquerda. Conclui-se que as dislexias partem de uma lesão, sendo cada tipo em um ponto do cérebro, assim o tratamento deve ser voltado ao controle dessa lesão. 3.5 – Dislalia Trata-se da má pronúncia das palavras, omitindo ou acrescentando fonemas, trocando um fonema por outro, distorcendo-os ou trocando sílabas. Assim, os sintomas da dislalia são a omissão, a substituição, o acrésimo ou a deformação dos fonemas. As causas podem ser malformações (congênitas ou como consequência de traumatismos dos órgãos fonadores) ou alterações na boca, na língua e no palato. Certas dislalias podem ser causadas por enfermidades do sistema nervoso central ou pode não haver nenhuma alteração orgânica, que é a dislalia funcional. Pode, ainda, ser causada por hereditariedade, imitação ou alterações emocionais. Até os quatro anos, os erros na linguagem são considerados normais. Depois dessa fase, a criança que continua falando errado, precisa passar por exames específicos a fim de detectar as causas e os possíveis tratamentos. A dislalia pode afetar a escrita. Ao ser detectada, a criança deve ser encaminhada à um fonoaudiólogo para tratamento específico e, caso apresente falhas tanto de escrita quanto de leitura, deve ser tratada em conjunto, fonoaudiólogo, psicopedagogo e outros profissionais que sejam necessários. 47 3.6 – Exames que detectam distúrbios Quanto ao tratamento por meio de medicamentos, existe o lado positivo e o negativo, sendo que os dois lados devem ser bem analisados para que seja escolhida a melhor solução. O primeiro fato a se pensar é que o medicamento trata o conjunto dos sintomas do distúrbio. Assim, o medicamento vai melhorar os sintomas desejados, mas também pode tirar, por exemplo, a agilidade de raciocínio, que não seria o objetivo. A pessoa pode tornar-se apática, lenta, e relatar que sentia-se melhor com os sintomas do distúrbio. Por isso cada caso deve ser avaliado, conversando muito com o paciente, com a família, a fim de chegar à melhor solução, que poderá ser de fazer o tratamento através de medicamentos ou de terapias. Seja qual for o método escolhido, o tratamento deve existir, pois sem o tratamento a tendência do distúrbio é piorar. Existem exames que detectam diversos distúrbios com certa precisão. O PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons) e o SPECT (Tomografia por Emissão de Fóton Único) são tecnologias de neuroimagem dinâmica que utilizam marcadores radioativos. Através desse instrumento, podem ser obtidos indicadores do nível de ativação funcional de determinadas regiões do cérebro, sendo que quanto maior o fluxo sanguíneo dessa região, maior será o nível de ativação funcional. Para Oliver (2011), o problema dessas duas técnicas é a baixa resolução da têmpora. Por serem incapazes de medir ocorrências em tempo menor do que um minuto, há dificuldade em medir ocorrências relacionadas ao processamento de informações pelas redes neuronais que constituem o Sistema Nervoso Central e ocorrem em milissegundos. 48 Além da ativação de regiões associadas ao processamento da linguagem, área de Wernicke localizada no lobo frontal e da área de Broca localizada no lobo temporal, ambas no hemisfério cerebral esquerdo, observou-se a ativação seletiva de estruturas como a porção anterior do giro cíngulo e o cerebelo direito, cujo envolvimento no processamento da linguagem não era previsto, até então. Através do PET, houve a constatação da existência de dois padrões distintos de ativação encefálica para um mesmo indivíduo realizando uma mesma tarefa cognitiva, e cada um desses padrões estando associado a um grau distinto de proficiência na execução dessa tarefa. Pesquisadores observaram que indivíduos sem experiência na execução de determinada tarefa cognitiva apresentavam uma ativação encefálica extensa, envolvendo o córtex frontal esquerdo, incluindo a área de Broca, o córtex temporal esquerdo, incluindo a área de Wernick, a porção anterior do giro cíngulo e hemisfério cerebelar direito. À medida que esse indivíduo familiarizava-se com a atividade de extensa ativação do encéfalo, havia uma ativação muito mais restrita e localizada, em uma pequena região, o córtex insular, de ambos os hemisférios cerebrais. Outro método é a Ressonância Magnética Funcional, um mapeamento não invasivo capaz de detectar regiões cerebrais que estão com o nível de funcionamento alterado durante a realização de uma tarefa específica. Por meio de um processamento estatístico, é possível detectar que áreas do cérebro são responsáveis pelo estímulo em uma determinada área do corpo. Este mapeamento pode ser utilizado para evitar que, em uma cirurgia no cérebro, extirpem-se parte do tecido nervoso responsáveis pelas áreas sensitiva e motora. A Magnetoencefalografia é uma técnica não invasiva que permite observar a evolução dos processos eletrofisiológicos na escala do 49 milissegundo, utilizando a medição dos campos magnéticos associados à atividade elétrica cerebral. Através desta técnica é possível localizar regiões funcionais do córtex cerebral e avaliar a integridade das vias de transmissão de sinais. As aplicações clínicas mais importantes são a localização funcional pré-cirúrgica e a localização da atividade epilética. Nas últimas décadas a eletroencefalografia está sendo modernizada através da utilização de computadores, onde é possível elaborar um mapeamento cerebral que avalia a quantidade da atividade elétrica de uma determinada região. Hoje este método é aplicado para tentar localizar com exatidão os focos epiléticos ou tumores cerebrais. Os focos epiléticos são pequenas regiões no cérebro onde a atividade elétrica se apresenta anormal. Através da observação dos traçados dos canais, o neurologista é capaz de verificar a área exata em que se encontra a anormalidade. Segundo Oliver (2011), a Psiquiatria utiliza a eletroencefalografia para estabelecer diferenças entre vários diagnósticos, como hiperatividade e os distúrbios da atenção em crianças, as demências senis ou não, a atrofia cerebral, a esquizofrenia e alguns casos de depressão. 50 CONCLUSÃO Conhecer a organização do cérebro, suas funções, habilidades cognitivas e emocionais, potencialidades e limitações do sistema nervoso pode tornar o trabalho do educador mais significativo e eficiente, contribuindo para o seu entendimento sobre as dificuldades de aprendizagem e para sua orientação em relação às intervenções. Sabendo que o cérebro se modifica em contato com o meio, durante toda a vida e que a memorização de informações é mais efetiva quando associada à um conhecimento já adquirido, o professor deve apresentar os conteúdos da aula de forma coerente, relacionando-os com o dia-a-dia do aluno, de forma que desperte seu interesse. Pois o aluno pode simplesmente decorar uma nova informação sem significado para ele, mas o registro torna-se mais forte se criar vínculos e relações daquele conteúdo com o que já está armazenado em seu arquivo de conhecimentos. Assim, a escola deve ser um espaço que motive e não somente que se ocupe em transmitir conteúdos. Para que isso ocorra, o professor precisa propor atividades que os alunos tenham condições de realizar e que despertem a curiosidade deles e os faça avançar, levando-os a enfrentar desafios, a fazer perguntas e a procurar respostas. O professor, ao observar as emoções dos alunos, pode perceber como o meio escolar os afeta, se está incentivando emocionalmente ou causando apatia por ser desestimulante. Dessa forma, consegue reverter um quadro negativo, que não favorece a aprendizagem. No que se refere a autistas, atualmente, existe uma série de intervenções e de programas abrangentes de tratamento que podem fazer uma diferença importante e produzir ganhos significativos e duradouros. Acredita-se 51 que serviços educacionais e comunitários melhores e mais disponíveis mudarão o prognóstico à longo prazo. Apesar de ser provável que o número de autistas no Brasil ultrapasse um milhão de pessoas, ainda existe uma série de desafios a serem enfrentados nessa área, como a falta de recursos e a falta de conhecimento da sociedade a respeito do problema e dos tratamentos existentes. É necessária a criação de programas de detecção precoce, treinamento de profissionais da saúde e educação e a utilização de intervenções cientificamente comprovadas em todos os níveis da saúde pública e privada. Conhecendo o desenvolvimento e o funcionamento do cérebro, é possível compreender alterações como as disfunções cognitivas e do comportamento, assim o aluno pode ser encaminhado para uma avaliação neuropsicológica. As avaliações não trazem respostas definitivas para qualquer dificuldade, mas são importantes para exclusão ou confirmação de hipóteses diagnósticas, pois sabendo se o cérebro da criança está funcionando ou não dentro do esperado para sua idade, por meio da avaliação de suas funções cognitivas, a escola, a família e a equipe multidisciplinar podem orientar estratégias de encaminhamento ou intervenção terapêutica adequada a cada caso. O trabalho em equipe e a formação contínua do educador são condições indispensáveis para o bom ensino. É preciso ter uma equipe capaz de diagnosticar e acompanhar alunos com dificuldades, ou seja, que saiba trabalhar com a heterogeneidade e com as diferenças. E, repensar o modelo tradicional de sala de aula, talvez seja um dos caminhos possíveis nesse quadro de modernização do discurso escolar. O educador deve assumir diante das famílias, ainda que com muitos conflitos no início, uma posição de autoridade, respaldada em uma ética e uma 52 técnica significativa o suficiente para imputar às famílias as responsabilidades que lhes são inerentes. Para isso, é importante que a escola invista na formação da equipe pedagógica e no contato sistemático desta com as famílias, sobretudo com aquelas que costumam não acompanhar o desenvolvimento de seus filhos na escola, alegando falta de tempo. Sabe-se que a medicação não é a solução definitiva nem única para as crianças com distúrbios de aprendizagem. Por isso cabe ao educador levar em conta que a boa educação é uma das vias possíveis, se não a mais importante, para lidar com o problema. Muito médicos e psicólogos veem os transtornos como variante comportamental e pedem cautela no diagnóstico. A prescrição de remédios acirra a polêmica sobre a medicalização na infância e na adolescência. Muito ainda há para compreender acerca dos transtornos, mas sem dúvida a informação é fundamental para diminuir o preconceito. 53 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Barkley, Russell A. Ligados em 220 volts. Revista Mente Cérebro. São Paulo: Editora Duetto, 2012. Bartoszeck, A. B; Bartoszeck, F.K. Percepção do professor sobre neurociência aplicada à educação. EDUCERE. Revista de Educação, 2009. Carbonini, Adriana. Conexões: quanto mais, melhor!. Revista Projetos Escolares. São Paulo: Editora On Line, 2012 Chiesa, Bruno Della. Um “ABC” do Cérebro. Revista Neuroeducação: A Ciência do Aprendizado. SãoPaulo: Editora Segmento. 2012 FONSECA, Vitor. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica. Petrópolis, RJ: Vozes,2007. _____________. Psicomotricidade e Neuropsicologia: Uma Abordagem Evolucionista. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2010 Gadia, Carlos A.N. J. Transtornos Autistas. Revista Psique. São Paulo: Editora Escala, 2012, Edição 74. 54 Medeiros, Roberta de. Criança Encapsulada. Revista Psique. São Paulo: Editora Escala, 2012, Edição 74. Oliver, Lou de. Distúrbios de aprendizagem e de comportamento. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2011, 6 Ed. Relvas, Marta Pires. Neurociência e Educação: gêneros e potencialidades na sala de aula. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010. 2ª Ed. Relvas, Marta Pires. Fundamentos biológicos da Educação – Despertando inteligências e afetividade no processo da aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010. 5ª Ed. Spencer, Eric; Rodrigues, Janine Marta Coelho. A criança Autista, um estudo psicopedagógico. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010. Surian, Luca. Autismo: Informações essenciais para familiares, educadores e profissionais da saúde. São Paulo: Editora Paulinas, 2010. 55 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 RESUMO 3 METODOLOGIA 4 SUMÁRIO 5 INTRODUÇÃO 6 CAPÍTULO I COMO O CÉREBRO APRENDE 9 1.1 – O cérebro na sala de aula 12 1.2 – Memória e Aprendizado 15 CAPÍTULO II O ENIGMA DO AUTISMO INFANTIL 20 2.1 – Síndrome de Asperger 27 2.2 – Intervenções Neuropedagógicas 30 2.2.1 – O método TEACCH 30 2.2.2 – O método ABA 33 2.2.3 – Sistema de comunicação por figuras 34 56 CAPÍTULO III DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 37 3.1 – Deficiência Mental 39 3.2 – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade 40 3.3 – Discalculia ou dificuldade em matemática? 41 3.4 – Dislexia 44 3.5 – Dislalia 46 3.6 – Exames que detectam distúrbios 47 CONCLUSÃO 50 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 53 ÍNDICE 55