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Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A
Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo
diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319
O Ensino da Filosofia: desafios e possibilidades.
Rejane Oliveira da Silva1, Ms. Warley Kelber Gusmão de Andrade2
1
Acadêmica da Graduação em Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia e Monitora do Projeto de
Extensão Filosofia: Aprender a Ensinar, Departamento de Educação,Campus XII, Guanambi-BA e-mail:
[email protected];
2
Professor de Filosofia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia e Coordenador
do Projeto de Extensão Filosofia: Aprender a Ensinar, Departamento de Educação, Campus XII, GuanambiBA e-mail: [email protected];
Comunicação
Resumo
Este trabalho tem como objetivo discutir o ensino da Filosofia na atualidade, assim,
tentaremos demonstrar através das leituras realizadas acerca do tema, a importância da
Filosofia para a formação humana, e ainda, como a mesma vem sendo trabalhada nas
escolas depois do retorno da sua obrigatoriedade nos currículos escolares. Neste sentido
procuraremos apresentar a importância de se ensinar Filosofia de maneira filosófica, ou
seja, como um problema filosófico e não apenas como um tecnicismo pedagógico.
Apresentaremos também as atividades realizadas pelo Projeto de Extensão, Filosofia:
Aprender a Ensinar, no período de janeiro a outubro de 2010 no município de GuanambiBA. O objetivo central deste projeto é ajudar na formação de professores da rede estadual
e municipal de ensino da disciplina Filosofia, a partir de uma análise da situação atual nas
variadas instâncias de ensino, realizando um mapeamento que possa colaborar na
elaboração de políticas públicas educacionais voltadas para a melhoria do ensino de
filosofia nas redes estadual e municipal de educação de Guanambi-BA e região, bem
como, no levantamento de material bibliográfico disponível, visando fornecer recursos
para as aulas de Filosofia.
Levando em consideração o retorno da obrigatoriedade do ensino de Filosofia no Ensino
Médio e sua implantação em diversos processos seletivos para ingresso em cursos
superiores, levantaremos questões acerca do fato de não haver programas específicos de
conteúdos de Filosofia estabelecidos, além da falta de materiais bibliográficos próprios
para o Ensino Médio, bem como, de professores com formação específica na área, e ainda,
a escassez de uma estrutura adequada para seu desenvolvimento.
Palavras–chave: educação, filosofia, ensino, aprendizagem.
Vem crescendo em todo Brasil um movimento acadêmico e humanístico, de
valorização da Filosofia e de sua essencial importância como contribuinte para o
desenvolvimento integral do ser humano. E após o retorno da sua obrigatoriedade no
ensino no nível médio e sua implantação nos processos seletivos de algumas
universidades, vive-se um novo momento no percurso da disciplina.
Nesse sentido, o presente trabalho servirá principalmente para discutir o ensino da
Filosofia, especificamente a forma como a mesma vem sendo trabalhada atualmente.
Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto
Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319
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Assim, o primeiro questionamento que surge é se a Filosofia com todo o significado
que possui, está sendo trabalhada filosoficamente ou apenas de forma técnica, visando
exclusivamente o cumprimento de uma lei?
[...] o problema do ensino da Filosofia não poderia ser pensando apenas
como uma estratégia do ensinar, como um questionamento sobre o que
ensinar ou, ainda, sobre o que é ensinar. Essas questões, que se
vinculam a um registro pedagógico, não garantiam uma
problematização mais profunda da questão do ensino da Filosofia.
(GELAMO, 2009.p.15, Grifo do Autor)
A partir da citação acima, fica evidente que o ensino da Filosofia deve ir bem além
do tecnicismo pedagógico, ele deve ser pensado como um problema filosófico, com
significado, que não se vincule apenas às imagens do pensamento pelas quais as linhas
majoritárias do ensino da Filosofia são definidas, pois ela, a Filosofia, nos leva sempre a
vários questionamentos, principalmente sobre sua necessidade e importância na formação
do ser humano. Assim sendo, filosofar é ter uma atitude “crítica, radical e de conjunto”
(SAVIANI, 1986, p 23) diante da vida, do mundo, das questões que afetam o ser humano.
Neste sentido, a Filosofia não tem uma formula mágica para resolver os problemas da
vida ou solucionar os inúmeros problemas existentes na educação, mas,
[...] pode ser um instrumento para que possamos entender melhor as
situações pelas quais passamos, possibilitando que façamos escolhas
mais pensadas. (GALLO, 2006, p.12).
Logo, o que se pretende com essas discussões sobre a Filosofia enquanto
disciplina dos currículos do Ensino Médio, é procurar caminhos que nos levem a
compreender de maneira interna os desafios que envolvem o seu ensino, isto é, o que se
pretende realmente, quais meios utilizar, em tal tarefa. Mais ainda, definir seu alcance e
seus limites dentro de uma perspectiva filosófica e não apenas pedagógica, onde ela possa
ser expressa livremente e não exatamente da maneira como nos é imposta, envolvida em
didáticas que ao se preocuparem somente em definir os meios para ensinar, esquecem do
objetivo final de qualquer processo educacional, que é simplesmente educar.
Ainda quanto às questões que envolvem os aspectos didáticos-pedagógicos do
ensino da Filosofia, nos deparamos com outro problema, que é sobre a formação filosófica
do pedagogo, ou seja, até onde essa formação permitiria ao mesmo estabelecer uma
relação dos conteúdos a serem aprendidos e ensinados e os métodos de ensino e
aprendizagem para o ensino da Filosofia, pois o que se percebe é que além das
dificuldades em relação aos conteúdos a serem trabalhados na disciplina, há outra, que é
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como ensinar a prática da reflexão filosófica para estudantes que não são
estritamente filósofos.
Aparentemente tal questão pode não parecer importante, no entanto, existe
atualmente uma enorme dificuldade didática sobre como ensinar Filosofia, pois a maioria
dos professores que trabalham hoje na docência desta disciplina possui formação em
diversas áreas do conhecimento, e a Filosofia, portanto, não está entre elas. Diante deste
fato, surge a idéia de impossibilidade de ensinar Filosofia por alguns professores nãofilósofos – aqueles que não são formados em filosofia – que neste caso são a maioria, pela
grande dificuldade que encontram no seu ensino, já que os próprios filósofos – aqueles
que têm formação em filosofia – também possuem dificuldades para ensiná-la.
E tal deficiência parece ser bastante evidente na formação filosófica dos
graduandos de Pedagogia:
Há uma dicotomia entre a formação especifica e formação pedagógica:
na faculdade ou departamento de filosofia o professor aprende “o que
ensinar” na faculdade de educação aprende “como ensinar”. Não é raro
que as duas frentes de trabalho possuam concepções divergentes e até
mesmo conflitantes sobre o perfil do professor de filosofia no ensino
médio. (GELAMO, 2009.p.68)
Essas afirmações são preocupantes, pois mostram a precariedade e o desprezo,
tanto de alunos, quanto dos próprios professores na maneira de tratar o ensino da
Filosofia. E tal fato, pode ser constatado no próprio currículo dos cursos de Pedagogia,
que possuem de maneira geral, apenas em dois semestres, disciplinas específicas do
campo filosófico, o que caracteriza uma grande defasagem na formação dos mesmos no
que diz respeito ao modo como se dá a reflexão filosófica, dificuldade existente que vai
desde a formação necessária para que se possa ensiná-la, quanto pela extrema falta de
metodologias de trabalho. Tais fatos deixam evidente que não basta apenas a
determinação por meio de uma lei que a filosofia esteja novamente presente no Ensino
Médio, mas é necessário que esta presença seja significativa, do ponto de vista da forma
e de conteúdo, para que assim ela possa contribuir de maneira eficaz na formação dos
alunos.
Assim, “acreditamos que pensar o problema do ensino da Filosofia não poderia
estar restrito a fazer um exercício de reflexão sobre esses três pressupostos: importância,
metodologia e conteúdo.” (GELAMO, 2009.p.83). Pois se continuarmos no mesmo registro
criado a partir do modo como o ensino da Filosofia foi e está sendo tratado, não
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poderemos pensar outros problemas e mesmo outros modos de se ensinar a
Filosofia. Logo, é necessário rompermos com o dogmatismo que parece envolver o modo
de questionar o ensino da Filosofia, e daí evitar o erro de:
Pensar que os conhecimentos de filosofia podem estar desvinculados da
forma como deverá se dar o acesso a esses conhecimentos é um dos
equívocos da atual legislação. (ALVES, 2002, p132)
Neste mesmo sentido há ainda outra preocupação: como o professor de Filosofia
pode despertar em seus alunos o interesse por essa disciplina, sabendo do desprezo que
existe em relação à mesma? Como apresentá-la com significado para alunos que não
possuem o mínimo conhecimento a seu respeito?
No ensino de filosofia, tão importante quanto o processo de filosofar é
fazer que os alunos encontrem sentido no conteúdo filosófico a eles
proposto, pois dessa construção de sentido depende o sucesso da
aprendizagem. (GHEDIN, 2008, p.117)
E para Souza, esta questão apresenta duas vertentes, “uma filosófica e a outra
pedagógica, ficando claro que as duas são inseparáveis” (SOUZA,1992, p. 189). É preciso
tratar que concepção e que conteúdos de Filosofia devem ser desenvolvidos sem perder
de vista que:
A disciplina deve ser pensada a partir de uma situação pedagógica de
fato: existe uma tradição filosófica da qual o estudante com que se vai
trabalhar ignora quase tudo (SOUZA,1992, p. 189)”
E esclarece ainda que:
A Filosofia, enquanto “matéria-prima”, pode ser estudada ou ensinada
de duas maneiras: Filosofia como resposta ou produto e Filosofia
como questão ou processo (SOUZA,1992, p. 189, Grifo do Autor).
No primeiro caso pode ser definida como a aquisição de um saber pronto,
assimilado de maneira memorística e retórica e, no segundo, como um aprender a pensar.
Sendo assim, cabe dizer que um dos desafios do professor de Filosofia no Ensino
Médio é propiciar tanto para si mesmo, como para seus alunos uma educação que prime
pela formação que atenda as razões e aos interesses de ambas as partes em questão e não
pelo fazer por fazer, mas sim, buscando a causa dos fatos de forma intensa. Possibilitando
assim, condições de compreensão, apropriação e socialização de conhecimento, como
condições necessárias para enfrentar as exigências do mundo contemporâneo, pois,
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Filosofia não é apenas transmissão de conhecimentos e sim a construção do
conhecimento.
É justamente diante desta nova situação do retorno da obrigatoriedade da
disciplina filosofia aos currículos escolares do Ensino Médio que surgiu a idéia de se criar
um projeto de extensão que pudesse ajudar na formação dos professores que trabalham
com esta disciplina na rede estadual e municipal de ensino do município de GuanambiBA, já que, como veremos adiante a atual conjuntura no estado da Bahia caracteriza-se
por uma escassez de professores formados especificamente em filosofia, sendo que a
maioria dos professores que trabalham na rede estadual e municipal de ensino é como já
citamos acima, proveniente de outras áreas do conhecimento, como pedagogia, geografia,
história, matemática, dentre outras. Fato que incide diretamente nos objetivos propostos
do retorno da filosofia ao Ensino Médio, pois estes professores queixam do seu total
despreparo para trabalharem com o conteúdo específico da referida disciplina, e ainda,
afirmam que esta disciplina representa para eles uma espécie de “segredo, ou melhor, um
conhecimento reservado a poucos”, os filósofos, uma espécie de ser humano especial,
possuidor de características especiais não disponíveis a todas as pessoas.
Nesse sentido, este projeto de extensão tem como objetivo resgatar o papel do
ensino da Filosofia, que é o de estimular o espírito crítico. Portanto, ela – a filosofia – não
pode assumir uma atitude dogmática nem doutrinária: deve apresentar, de maneira plural,
teorias diversas e estimular a discussão, porém, de maneira sistemática e com método. É
justamente este potencial de diversidade de abordagens e de variedade temática que irá
permitir ao aluno o exercício da função crítica. Por isso, a idéia do projeto de extensão
Filosofia: Aprender a Ensinar, desenvolvido pelo Departamento de Educação, Campus
XII da Universidade do Estado da Bahia, em parceria com a Diretoria Regional de
Educação – DIREC-30 é contribuir junto aos professores da rede estadual e municipal de
ensino, na construção de programas de filosofia que não sejam restritivos, mas sim,
contemplem uma multiplicidade de temas, mas sempre com a preocupação de permanecer
dentro da especificidade daqueles que são genuinamente filosóficos, e principalmente
auxiliar a grande parte dos professores que atualmente trabalham com filosofia no
município de Guanambi-BA que não possuem formação específica nesta área.
E é justamente, com a pretensão em contribuir com a solução das dificuldades
citadas acima que o projeto de extensão Filosofia: Aprender a Ensinar vem realizando
algumas ações que visam ao mesmo tempo trabalhar na capacitação dos professores de
filosofia das redes municipal e estadual, como também, construir um mapa que possa
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apresentar a situação atual do ensino desta disciplina, para que assim os
administradores
escolares
possam
ter
dados
suficientes
para
ajudá-los
no
desenvolvimento de futuras políticas educacionais
E o primeiro passo já foi dado com a criação do Grupo de Estudos em Filosofia
Contemporânea, em funcionamento no Departamento de Educação, Campus XII da
Universidade do Estado da Bahia, com reuniões quinzenais e cujo objetivo é servir de
suporte para estudos de temas filosóficos bem como, o desenvolvimento de materiais
didáticos que ajudem na melhoria dos conteúdos filosóficos aplicados em sala de aula
pelos professores da rede estadual e municipal de ensino.
Mas a intenção é avançar mais, assim, a equipe do projeto de extensão Filosofia:
Aprender a Ensinar já iniciou levantamentos junto à rede estadual e municipal de ensino
que visam obter as seguintes informações: quantidade de escolas da rede que já possuem
Filosofia em sua grade curricular, mapeamento da formação dos professores que lecionam
a disciplina de Filosofia na Rede, avaliar junto aos alunos o significado do ensino da
disciplina Filosofia nos cursos do Ensino Médio, avaliar junto aos professores o
significado do ensino da disciplina Filosofia nos cursos do Ensino Médio, verificar os
Planos de Ensino da disciplina Filosofia desenvolvidos pelos professores da Rede, buscar
outras formas de aprendizagem que integrem ensino, pesquisa e extensão;
Pois o próprio Conselho Estadual de Educação do Estado da Bahia no seu Parecer
Nº. 213/2007 afirma que mesmo após a realização de levantamentos que descrevem a
situação do estado em relação à quantidade de professores de filosofia existentes na rede
estadual de ensino, não sabe determinar o número de professores habilitados
especificamente nesta disciplina, exigindo assim um levantamento mais detido que possa
ajudar na implantação de futuras políticas educacionais voltadas para esta área em
específico.
Deve-se salientar que este levantamento não especifica a correlação
entre a formação específica do professor e seu campo de atuação,
demandando ampliar a investigação nesse sentido. Ademais, outros
agrupamentos poderão ser feitos, tomando por base a realidade de cada
campo de conhecimento. Na rede pública estadual, o processo de
recadastramento dos docentes, iniciado pela SEC-BA em agosto de
2005, poderá se constituir em um referencial importante para
identificação da disponibilidade e da carência de professores
habilitados, orientando a abertura de vagas para efeito de concurso
público, de modo a suprir toda a demanda. É mister que se faça um
estudo das realidades regionais, identificando os locais onde há
professores sem a formação necessária a um bom desempenho
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profissional. (Parecer Nº. 213/2007 do Conselho Estadual de Educação
do Estado da Bahia)
Particularmente no estado da Bahia, segundo dados do Parecer Nº. 213/2007 do
Conselho Estadual de Educação do Estado da Bahia, a situação da implantação da
disciplina filosofia é preocupante, pois o estado sofre com a falta de professores da
referida disciplina, agravada ainda pelo número reduzido de cursos superiores de
Filosofia no estado, já que:
Analisando-se o panorama acerca da oferta de curso nessas áreas,
verifica-se que apenas duas universidades públicas – a Universidade
Federal da Bahia / UFBA e a Universidade Estadual de Santa Cruz /
UESC – ministram cursos de graduação em Filosofia. Por outro lado,
além da graduação destaca-se, na UFBA, o Mestrado em Filosofia e, na
UESC, o Curso de Especialização em Epistemologia e Fenomenologia.
A Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, que oferece o
Mestrado em Ensino, Filosofia e História das Ciências, em convênio
com a UFBA, e mantém o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia
– NEF, responsável pela publicação da Revista Ideação, está se
estruturando para iniciar a graduação em Filosofia. No setor privado,
distingue-se a Universidade Católica de Salvador - UCSAL, com
tradição nessa área, e, mais recentemente, a Faculdade São Bento e a
Faculdade Batista. (Parecer Nº. 213/2007 do Conselho Estadual de
Educação do Estado da Bahia)
Diante de tal situação, o Conselho Estadual de Educação do Estado da Bahia, no
mesmo parecer acima citado, já recomendava que as instituições de ensino superior da
Bahia, criassem cursos de licenciatura plena em Filosofia, pois esta ação referia-se a
responsabilidade destas instituições com a formação de professores para a educação
básica.
[...] refletindo sobre a extensão territorial do Estado da Bahia, e
considerando-se também o ensino nas instituições privadas, há que se
pensar em criar condições humanas e materiais favoráveis a uma
ampliação da inserção dessas disciplinas com qualidade, a fim de que
sua inclusão aconteça com a seriedade e as competências devidas. Isto
implicará, necessariamente, em expansão do quadro docente com
formação específica, em aquisição de um bom acervo bibliográfico que
permita o acesso aos textos clássicos de referência nessas áreas e à
literatura de autores nacionais, criteriosamente selecionados, bem como
na implantação de programas que incluam a Licenciatura e possibilitem
a formação continuada dos professores, aspecto, este, em que será
fundamental a interlocução entre as instituições de educação superior e
as escolas de educação básica.
Essas medidas desencadearão uma série de ações não apenas no nível
técnico ou pedagógico, mas também no campo da gestão dos sistemas
e redes de ensino, tornando imperativa a definição de políticas voltadas
para essas novas demandas, no âmbito estadual, podendo ter como
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aliadas as universidades. Decorrente do fato das disciplinas Filosofia e
Sociologia terem sido retiradas do ensino médio, na década de 1960, é
pequena a oferta de Cursos de Licenciatura em Filosofia e em
Sociologia, no Estado da Bahia. (Parecer Nº. 213/2007 do Conselho
Estadual de Educação do Estado da Bahia)
E foi justamente a partir dos dados apresentados acima que concluímos a
necessidade de realizar uma ação que culminasse na formação dos professores de filosofia
da rede estadual e municipal da região de Guanambi-BA, pois segundo dados do mesmo
parecer do Conselho Estadual de Educação do Estado da Bahia:
Será preciso pensar em estratégias educacionais em conjunto com as
DIREC e municípios, visto que, embora já estejam atuando, as
pesquisas têm demonstrado que os docentes encontram dificuldade em
lidar com essas disciplinas, para atender, especialmente, às aspirações
dos jovens estudantes do ensino médio. (Parecer Nº. 213/2007 do
Conselho Estadual de Educação do Estado da Bahia)
E o que pode ser percebido a partir da fala dos professores nas atividades já
realizadas pelo projeto é que os mesmos possuem muitas dúvidas de como administrar
suas aulas, quais metodologias seguir, além de haver uma grande preocupação dos
mesmos em relação ao desempenho e desenvolvimento de seus alunos na disciplina de
filosofia. Todos são formados em diversas áreas (Pedagogia, Geografia, História, entre
outras), mas nenhum tem formação específica em filosofia. A maioria caiu de páraquedas no ensino de tal matéria, sendo suas áreas de atuação anterior muito diferente
desta, ou então estavam acostumados com a execução de diferentes tarefas na escola
(Direção, por exemplo).
Algumas das principais queixas são: a baixa quantidade de aulas na semana, bem
como a curta duração da mesma, o desprezo dos alunos e até dos próprios colegas de
trabalho com o ensino de filosofia, a dificuldade na elaboração de uma ementa, de
material bibliográfico e de metodologias de ensino; o baixo desempenho intelectual dos
alunos como a dificuldade de interpretação, entre outras.
Nesse sentido o que podemos perceber é que:
(...) muito mais importante do que garantir a obrigatoriedade é
formalizar um projeto de filosofia que representa a volta da filosofia de
forma definitiva para a escola. De nada adianta termos filosofia nas
grades curriculares se não tivermos professores de filosofia
competentemente preparados para dialogar com as diferenças, com os
problemas educacionais, com o perfil de nossos alunos que freqüentam
o ensino médio” (Fávero, Altair, “Filosofia na sala de aula: pela força
da lei ou pela opção político-pedagógica da sociedade, p. 435.)
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Logo, a principal preocupação do projeto de extensão Filosofia: Aprender a
Ensinar, é estabelecer um debate entre os professores da rede pública de ensino sobre o
seguinte questionamento: como ensinar filosofia diante de tantos entraves?
Sendo que este debate pode contribuir para desmistificar a imagem da reflexão
filosófica como algo complicado e possível somente a pessoas especiais. Dessa maneira
estas discussões iniciais visam ajudar os professores da rede estadual e municipal de
ensino em sua prática no sentido de que os mesmos possam a partir da própria linguagem
dos seus estudantes apresentarem a importância da reflexão filosófica. Pois por meio de
tais reflexões os professores tendem a conquistar a confiança dos seus estudantes, falando
em uma linguagem próxima a realidade deles, usando dinâmicas ou outros meios para
introduzir os conteúdos filosóficos e desenvolver as aulas com melhor maestria.
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em:http://www.posgrap.ufs.br/periodicos/
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________. “Filosofia na sala de aula: pela força da lei ou pela opção político-pedagógica
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FUNATSU, Márcia L. T. A formação filosófica do licenciado em Pedagogia, Artigo
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http://www.mundofilosofico.com.br Acesso em: 03 nov. 2010.
GALLO, Silvio. Modernidade/pós-modernidade: tensões e repercussões na
produção de conhecimento em Educação. Revista da Faculdade de Educação da USP,
v.32, n.03, São Paulo: Editora da USP, 2006.
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que faz o filósofo quando seu ofício é ser professor de filosofia? - São Paulo : Cultura
Acadêmica, 2009.
GHEDIN, Evandro. Ensino de Filosofia no Ensino Médio. São Paulo: Cortez, 2008.
SAVIANI, Dermeval. Do senso comum à consciência filosófica. 12. ed. Campinas:
Autores Associados, 1986.
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Ensino Médio. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec/MEC),
1999.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA. Parecer Nº. 213/2007 do
Conselho Estadual de Educação do Estado da Bahia
SOUZA, Sonia Maria Ribeiro de. Por que Filosofia? Uma abordagem histórico
didática do Ensino de Filosofia no 2º grau. Tese de Doutorado, São Paulo: FEUSP,
1992.
VALLS, A. et al., “Diretrizes Curriculares aos Cursos de Graduação em Filosofia”, MECSESU, 1999.
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