You, Your Liver and Alpha-1_PT_Layout 1

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Você,
o seu Fígado
e a Alfa-1
O FÍGADO NA DEFICIÊNCIA DE
ALFA-1 ANTITRIPSINA
A Deficiência de Alfa-1 Antitripsina, ou Alfa-1, é uma condição genética
que pode provocar doença nos pulmões, no fígado, na pele e nos vasos
sanguíneos. Apesar de as primeiras descrições da Alfa-1 apontarem para o
seu papel na promoção da doença pulmonar em adultos, na verdade, a
Alfa-1 é primariamente uma condição causada por complicações no fígado. A doença hepática por Alfa-1 pode surgir em recém-nascidos, crianças e adultos. Este guia destina-se aos pais de uma criança com Alfa-1, a
qualquer pessoa com Alfa-1 e aos prestadores de cuidados de saúde.
É sempre importante confirmar o diagnóstico de Alfa-1 se isso ainda não
tiver sido feito. O diagnóstico de Alfa-1 baseia-se na determinação da
presença da proteína AAT anormal (geralmente a proteína Z) numa
amostra do sangue do doente (exame do fenótipo ou Tipo PI). O diagnóstico também pode ser realizado analisando as anomalias no gene AAT,
submetendo novamente a exame uma amostra de sangue. Normalmente
estes exames são realizados juntamente com a medição do nível de AAT
no sangue.
INTRODUÇÃO À DOENÇA HEPÁTICA POR ALFA-1
Este folheto temático pertence a uma série retirada do guia
Big Fat Reference Guide to Alpha-1 (BFRG) da AlphaNet.
Copyright© AlphaNet, Inc. 2009
Normalmente a proteína Alfa-1 antitripsina ou AAT é produzida em
grandes quantidades no fígado e depois libertada no sangue. No entanto,
as pessoas portadoras de dois genes anormais para Alfa-1 (geralmente,
dois genes Z, com o gene M normal) produzem uma proteína AAT anormal que não pode ser libertada a partir das células hepáticas. Por conseguinte, a AAT acumula-se no fígado, o que origina uma deficiência ou
níveis baixos de AAT no sangue. Enquanto os danos pulmonares por
Alfa-1 parecem estar diretamente relacionados com o baixo nível sanguíneo de AAT, crê-se que os danos hepáticos resultam da invulgar acumulação interna de proteína Z anormal.
1
Como a maior parte da investigação na doença hepática por Alfa-1 foi realizada
sobre a proteína Z, esta será a base para o guia. Há muitas outras variantes do
gene AAT que podem causar Alfa-1, possuindo algumas mecanismos ligeiramente diferentes.
INFORMAÇÃO-CHAVE: Enquanto os danos pulmonares por Alfa-1
parecem estar diretamente relacionados com o baixo nível sanguíneo de AAT, crê-se que os danos hepáticos resultam da invulgar
acumulação interna de proteína Z anormal.
Para compreender da doença hepática por Alfa-1, será muito útil rever as
funções básicas do fígado em condições normais e discutir as técnicas médicas
utilizadas para avaliar a saúde hepática.
FUNÇÕES DE UM FÍGADO NORMAL
As funções do fígado são praticamente as mesmas durante toda a vida de uma
pessoa, desde o nascimento até uma idade avançada. No entanto, o fígado de
um recém-nascido precisa de algum tempo para se desenvolver completamente.
FUNÇÃO SINTÉTICA. O fígado produz um grande número de proteínas e
de outras substâncias essenciais para o normal funcionamento de muitas partes
do organismo. Muitos componentes da porção líquida e não celular do sangue
são produzidos no fígado. Algumas destas substâncias são essenciais para uma
coagulação sanguínea normal, importantes para possibilitar uma distribuição
normal de sais, fluidos e nutrientes pelo corpo através da corrente sanguínea e
vitais para fornecer energia a todo o organismo durante a atividade e a abstinência alimentar.
FACTO: O fígado é a central de filtragem e distribuição do organismo. Uma parte da sua função é eliminar resíduos enquanto produz
proteínas e substâncias vitais para manter o corpo a trabalhar corretamente.
FUNÇÃO DIGESTIVA. Todo o sangue que sai dos intestinos passa pelo fígado para que os nutrientes dos alimentos sejam processados, armazenados ou distribuídos corretamente pelas restantes partes do organismo. O fígado também
produz uma substância chamada bílis. À medida que as células hepáticas produzem a bílis, esta vai sendo armazenada na vesícula biliar até à ingestão de alimentos. Nesta altura, é drenada para o intestino através de um tubo denominado canal biliar, misturando-se com os alimentos para auxiliar na digestão dos
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lípidos e na retirada de nutrientes do interior de determinados lípidos. A bílis é
depois removida do intestino, transferida para a corrente sanguínea para ser
devolvida ao fígado e reciclada pelas células hepáticas para reutilização. Uma
parte da bílis fica no conteúdo intestinal, conferindo às fezes a sua característica
cor castanha.
O fígado possui a sua própria fonte de sangue, denominada “circulação
portal”, que transporta o sangue dos intestinos e do estômago para o fígado e o
baço. Esta circulação assumirá posteriormente uma importância maior, que
será descrita quando falarmos das doenças hepáticas
FUNÇÃO EXCRETORA. O fígado intervém na eliminação dos resíduos do
organismo de diversas formas. Em primeiro lugar, as toxinas ingeridas com os
alimentos são eliminadas pelo fígado durante a passagem do sangue intestinal.
Alguns dos resíduos são depois transformados em substâncias úteis ao organismo nas células hepáticas e outros neutralizados, transferidos para a bílis, introduzidos no intestino e depois eliminados com as fezes. Os resíduos do resto do
corpo são transferidos para o fígado através da corrente sanguínea para serem
transformados e/ou eliminados pela bílis e fezes.
O corpo utiliza um mecanismo similar para retirar da circulação determinados drogas e medicamentos. Estas substâncias são decompostas e neutralizadas no fígado e posteriormente expulsas do organismo através da bílis ou da
urina.
CONSULTAS COM O SEU MÉDICO
Você pode procurar assistência médica porque não se está a sentir bem, porque
detetou uma alteração no seu estado de saúde habitual, porque está a experimentar um sintoma ou problema particular ou porque está especialmente preocupado(a) por padecer de Alfa-1. Também pode procurar assistência médica
porque tem Alfa-1 e está grávida e porque é natural querer saber quais são os
riscos de o bebé nascer com Alfa-1 e de adquirir uma doença hepática na infância.
Independentemente das suas razões para procurar assistência médica, a primeira
consulta com o seu médico irá envolver um historial médico e exame físico
rigoroso, entre outras avaliações clínicas, para determinar a existência de um
problema e saber como tratá-lo.
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AVALIAÇÃO GERAL DO ESTADO DO FÍGADO
Os médicos utilizam vários aspetos do historial clínico do doente e exames físicos,
juntamente com outros exames, para formarem um parecer global sobre a atividade hepática.
HISTORIAL CLÍNICO. Em primeiro lugar, o médico pode analisar o historial
clínico do doente, procurando quaisquer características que possam indicar problemas hepáticos prévios e ignorados. Esta ação pode incluir a análise de qualquer antecedente de icterícia (pele e olhos amarelos) enquanto bebé, criança ou
adulto, bem como qualquer antecedente de cirurgia, cálculos biliares, pedras nos
rins, lesões graves, hospitalizações, transfusões sanguíneas ou outros eventos clínicos relevantes. Muitas vezes, o médico também irá analisar informação similar
relativa aos familiares mais próximos do doente. Normalmente será efetuado um
estudo dos fatores de risco e das exposições conhecidas a certas infeções que
envolvem o fígado, nomeadamente a hepatite A, B ou C, a tuberculose, o VIH
e/ou doenças sexualmente transmissíveis; o cancro e as doenças imunitárias constituem outros fatores de risco. Geralmente, também será necessária uma lista
completa da medicação, ervas medicinais e suplementos dietéticos que o doente
tenha utilizado, bem como do consumo de álcool e drogas e da exposição profissional a tóxicos. Todos estes fatores podem ter uma influência determinante na
saúde hepática e devem ser debatidos exaustivamente com o médico.
As perguntas do médico podem diferir entre adultos e crianças com Alfa-1 e
incidirão sobre sintomas específicos que, se presentes, podem fazer suspeitar de
problemas hepáticos, apesar de, por si sós, não serem conclusivos.
Por exemplo:
• A diarreia pode ter muitas causas, mas é referida frequentemente em adultos
e crianças com anomalias no fluxo biliar e digestão de lípidos inadequada.
• O prurido é uma queixa comum dos doentes com doença hepática relevante, pois é causada pela acumulação sob a pele de resíduos que não estão
a ser devidamente eliminados do sangue pelo fígado.
• Sintomas como dor abdominal, indigestão ou vómito são bastante inespecíficos, embora se manifestam com frequência em pacientes com doença
hepática.
Com a Alfa-1 e várias outras complicações hepáticas, pode ocorrer uma acumulação excessiva de tecido cicatricial no interior do fígado. Esta cicatrização do fígado denomina-se cirrose. Esta afeção pode interromper o fluxo de sangue do
intestino através do fígado, causando uma tensão excessivamente elevada e um
fluxo de sangue anormal nos vasos de outras partes do organismo. O termo
médico para este problema é hipertensão portal (“portal” significa o vaso sanguíneo do intestino ao fígado e “hipertensão” significa normalmente elevada pressão
e fluxo anormal no interior deste vaso). A hipertensão portal pode provocar o
vómito de sangue e/ou a libertação de sangue nos movimentos intestinais, além
de outros problemas como tumefação abdominal. Os médicos vão querer conhe4
cer qualquer evento de sangramento incomum. Os problemas de sangramento
podem estar relacionados com uma absorção deficiente de vitamina K ou com
uma fraca função sintética do fígado. Da mesma forma, também quererão
saber se existe uma sonolência invulgar ou alteração na atenção mental, pois
também podem estar relacionadas com uma degradação silenciosa do
fígado.
FACTO: O fígado e a alimentação estão intimamente relacionados.
A avaliação médica do papel do fígado no estado nutricional do doente pode
incluir a análise de vários fatores de saúde. Medições simples como a altura, o
peso, a estimativa da percentagem de gordura corporal, a estimativa da massa
corporal magra (quantidade de tecido não-adiposo do corpo) ou uma avaliação
similar denominada índice de massa corporal (IMC) são frequentemente muito
úteis, em especial nas crianças em desenvolvimento.
A avaliação da velocidade e da qualidade de cura de feridas, da qualidade da
pele e do cabelo do doente e a medida de vários níveis proteicos no sangue
também podem proporcionar informação sobre o estado nutricional de uma
pessoa e o eventual papel da doença hepática.
Qualquer historial de potenciais problemas hepáticos incluirá perguntas sobre o
consumo de álcool. Apesar de o consumo excessivo de bebidas alcoólicas ser a
principal causa de problemas hepáticos em todo o mundo, por vezes até o consumo ocasional de álcool pode aumentar o risco de lesões hepáticas em pessoas
com outros fatores de risco, nomeadamente a Alfa-1.
EXAME FÍSICO. Quando um médico realiza um exame físico, irá prestar
atenção a características do corpo que podem estar relacionadas com doença
hepática. Em primeiro lugar, o médico observará com atenção a pele do
paciente, procurando várias erupções cutâneas associadas a doença hepática e
indícios de fricção resultante do prurido ligado ao fígado. O prurido está muitas vezes relacionado com a icterícia. Esta afeção consiste numa descoloração
amarela da pele causada pela acumulação de um resíduo chamado bilirrubina.
O fígado elimina a bilirrubina do corpo, mas a doença hepática pode prejudicar
esta eliminação. A descoloração amarela do branco dos olhos também pode
ocorrer devido ao mesmo processo.
INVESTIGAR: É importante compreender que os recém-nascidos
têm muitas vezes icterícia que não está relacionada com a doença hepática por Alfa-1.
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É importante compreender que os recém-nascidos têm muitas vezes icterícia que não está relacionada com a doença hepática por Alfa-1. Este tipo muito
comum de icterícia está relacionado com a destruição de glóbulos vermelhos e
com a incapacidade do fígado imaturo em lidar com a bilirrubina criada por
esta destruição. É possível fazer exames sanguíneos para distinguir este tipo
comum de icterícia nos recém-nascidos da icterícia causada por lesões hepáticas.
Por vezes, são observadas aglomerações invulgares de veias na pele de doentes
com doença hepática que apresentam muito poucos sintomas.
Ocasionalmente, aparecem em redor do umbigo veias de grandes dimensões,
repletas de sangue acumulado devido à hipertensão portal.
Um exame atento das mãos e dos pés pode revelar tumefação, um indício de
retenção anormal de sais e fluidos que pode ser causada por problemas hepáticos. Os médicos procuram uma ligeira alteração na forma dos dedos chamada
hipocratismo digital que ocorre em pacientes com doença pulmonar e hepática
de diversas causas; também examinarão o coração e os pulmões cuidadosamente, pois os problemas hepáticos podem provocar alterações significativas na função cardíaca e pulmonar.
O exame do abdómen proporciona informação importante sobre a saúde
do fígado. Este órgão localiza-se na secção superior direita do abdómen. Num
bebé, o fígado pode ocupar uma enorme parte de todo o abdómen e é possível
palpar um fígado dilatado. O fígado pode doer ao toque ou parecer rugoso
através da pele, elem de ter uma consistência mais dura do que o normal ou
uma forma irregular. Quaisquer destes achados pode indicar doença hepática.
INFORMAÇÃO-CHAVE: A ascite é um indicador de doença hepática relativamente grave.
O baço é um órgão de grandes dimensões situado no lado esquerdo do abdómen e que pode ficar dilatado com a doença hepática, especialmente em resultado do fluxo sanguíneo anormal resultante da hipertensão portal. O fluido
acumula-se no próprio abdómen e este excesso denomina-se ascite, sendo normalmente detetado durante o exame físico. A ascite é um indicador de doença
relativamente grave. Por último, o exame do ânus e do reto pode revelar
hemorroidas, vasos sanguíneos inusitadamente dilatados e dolorosos, que também são um indício do fluxo sanguíneo anormal provocado pela hipertensão
portal.
AVALIAÇÕES LABORATORIAIS. Os exames laboratoriais são um elemento importante para a avaliação hepática geral, pois verificam funções específicas
do fígado.
EXAME GERAL DO FÍGADO. Existem vários exames diagnósticos para a saúde
do fígado que proporcionam informação geral sobre a condição hepática ou
que apontam especificamente para determinadas doenças. Os exames ao san6
gue mais comuns são o AST e a ALT (anteriormente denominados SGOT e
SGPT). Estas análises pertencem a um conjunto de exames sanguíneos denominados provas da função hepática ou PFH. O AST e a ALT são químicos ou
enzimas que se encontram normalmente no interior das células hepáticas e que
passam para o sangue a uma velocidade muito baixa. No entanto, se as células
hepáticas estiverem irritadas ou danificadas, então estes químicos infiltram-se com
maior velocidade e os níveis no sangue aumentam. Regra geral, quanto maior for
o nível sanguíneo, maior será a lesão das células hepáticas.
BOAS NOTÍCIAS: O AST e a ALT são normalmente elevados em bebés
com Alfa-1, mas na maior parte dos casos estas elevações voltam ao
normal durante os primeiros dois anos de vida.
Os adultos com Alfa-1 raramente têm elevações destes exames ao fígado,
exceto se houver uma lesão hepática significativa. Infelizmente, estas enzimas
hepáticas podem não ser elevadas em pessoas cuja lesão hepática ocorre a um
baixo nível ao longo de meses ou anos como, por exemplo, no caso de muitos
adultos com lesão hepática crónica por Alfa-1.
A fosfatase alcalina (Fos Alc) e a gama glutamil transferase (GGT ou
yGT) são substâncias químicas que normalmente se encontram nas células dos
canais biliares, as vias que drenam a bílis do fígado para o intestino, e que se
forem elevadas no sangue, sugerem lesões nas células hepáticas. Os exames gerais
de contagem sanguínea, nível de ferro no sangue e sais no sangue (eletrólitos
como sódio, potássio, cloreto e bicarbonato) apresentam muitas vezes valores
anormais na doença hepática, embora não apontem para uma condição específica.
No entanto, para uma pessoa com risco de doença hepática, as baixas contagens
sanguíneas são um indício de sangramento ignorado.
A doença hepática consegue afetar muitos órgãos do corpo, pelo que podem
ser realizados exames orientados para outros sistema. A creatinina sérica e o
azoto ureico no sangue (BUN) são medidos para avaliar a função renal. Os
níveis de amílase e lípase procuram detetar lesões no pâncreas, um órgão abdominal importante para a digestão. Como o canal biliar que drena a bílis do fígado
para o intestino atravessa o pâncreas, a doença hepática e do próprio canal biliar
pode eventualmente lesar o pâncreas. Os níveis no sangue de uma substância
química denominada alfa-fetoproteína são frequentemente elevados em pacientes com diversos cancros, nomeadamente o cancro do fígado. Como a Alfa-1 é
um fator de risco para o desenvolvimento do cancro do fígado, as medições periódicas da alfa-fetoproteína podem ter um efeito tranquilizador.
Além dos exames anteriores utilizados para determinar o estado de saúde
geral do fígado, podem ser realizados mais testes para examinar algumas das suas
funções específicas.
EXAME DA FUNÇÃO SINTÉTICA. A avaliação das funções hepáticas sintéticas
ou produtoras implica frequentemente a determinação dos níveis sanguíneos de
substâncias produzidas pelo fígado. A albumina é uma proteína determinada
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habitualmente e que auxilia no transporte de sais e nutrientes por todo o organismo. Muitas vezes também são realizados exames de coagulação sanguínea
como o Tempo de Protrombina (TP) e o Tempo de Tromboplastina
Parcialmente Ativada (TTPa ou TTP). Estes exames apresentam resultados
anormais se os níveis sanguíneos de proteínas produzidas normalmente no fígado e necessárias para a coagulação sanguínea forem demasiado baixos. No entanto, os resultados anormais dos exames TP/TTP também podem ter origem
noutros problemas, nomeadamente a ação de determinados medicamentos.
EXAME DA FUNÇÃO DIGESTIVA. Uma forma eficiente de avaliar a função
digestiva hepática implica determinar os níveis de vitaminas lipossolúveis no
sangue. A bílis produzida no fígado e drenada para os intestinos é essencial
para uma digestão normal e para a adsorção das vitaminas lipossolúveis e os
médicos utilizam os níveis no sangue das vitaminas lipossolúveis A, D e E neste
tipo de avaliação nutricional, especialmente em crianças.
FACTO: Os doentes com uma doença hepática significativa possuem muitas vezes níveis baixos de vitamina K.
A vitamina K é outra vitamina lipossolúvel com um papel crucial na coagulação sanguínea e nos resultados dos exames TP/TTP descritos anteriormente. Ape-sar de a deficiência de vitamina K poder originar uma grave hemorragia, no ca-so de uma deficiência mais moderada desta vitamina, os resultados
TP/TTP anormais podem constituir o único início. Como os médicos não
conseguem muitas vezes determinar se a vitamina K é baixa devido a uma fraca
absorção da mesma ou a insuficiente produção dos fatores de coagulação, é
comum tratar simplesmente resultados TP/TTP anómalos com um suplemento
de vitamina K.
EXAME DA FUNÇÃO EXCRETORA/DESINTOXICANTE. O método mais
comum para avaliar esta função hepática consiste em medir os níveis sanguíneos de bilirrubina, um produto residual do corpo eliminado através da bílis.
Existem vários tipos de bilirrubina no sangue e os níveis de alguns tipos serão
anormalmente elevados se a função excretora do fígado também for anormal.
No entanto, outros tipos de bilirrubina sanguínea não estão relacionados com a
função hepática, sendo assim importante que o médico distinga os vários tipos
de bilirrubina.
À medida que a função hepática se deteriora, o fígado perde a capacidade
de processar os produtos da digestão de proteínas. Quando as proteínas são
digeridas, o amoníaco químico é libertado no sangue e as células de um fígado
normal decompõem esta substância em componentes menos tóxicos. Um fígado em insuficiência permite que o amoníaco saia da circulação portal e entre na
circulação geral antes de ser decomposto, o que origina níveis de amoníaco elevados no organismo. Com níveis consideravelmente elevados, podem surgir
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sintomas como sonolência anormal, alterações de raciocínio e personalidade e
tremores. As medições de amoníaco são realizadas normalmente através da
colheita de uma amostra no sangue de uma artéria. Os níveis elevados de amoníaco podem constituir um indicador de doença hepática grave.
OUTROS EXAMES DIAGNÓSTICOS. Os exames tomográficos (explorações CAT) ou ultrassónicos permitem obter imagens excelentes do fígado e
revelar defeitos congénitos, lesões traumáticas, cálculos na vesícula biliar, tumores ou alterações no teor de tecido cicatricial, de água ou de lípidos no fígado.
Estas alterações podem indicar a presença de doença hepática. Por vezes, realiza-se uma endoscopia, uma técnica que consiste na introdução pela boca ou
reto de um tubo flexível iluminado com uma câmara de televisão diminuta na
extremidade para examinar diretamente o estômago e/ou intestinos. Esta
exploração consegue identificar vasos sanguíneos anormais associados a hipertensão portal ou procurar outros problemas intestinais normalmente associados
a doença hepática. É possível utilizar um procedimento endoscópico especial,
denominado ERCP, para avaliar os canais biliares e mesmo tratar cálculos biliares. O seu médico pode recomendar uma biopsia ao fígado para obter uma
amostra de células hepáticas que podem ser examinadas diretamente no microscópio. Em primeiro lugar, para descontrair o doente são administrados sedativos e analgésicos e, depois de uma limpeza da região com uma solução antisséptica, injeta-se uma anestesia local sob a pele no lado direito do abdómen superior, junto às costelas inferiores. Seguidamente, introduz-se uma agulha entre
as costelas diretamente no fígado para retirar uma amostra do tamanho de um
palito. Apesar de potencialmente ser muito valioso para conhecer os problemas
hepáticos de um doente, o procedimento é invasivo e envolve um risco real de
complicações, embora reduzido.
INFORMAÇÃO-CHAVE: As biopsias ao fígado não são necessárias
para o diagnóstico de Alfa-1 ou da doença hepática por Alfa-1.
As biopsias ao fígado não são necessárias para o diagnóstico de Alfa-1 ou da
doença hepática por Alfa-1, mas são úteis para distinguir a doença hepática
Alfa-1 de outras causas de lesões hepáticas como infeções, exposição a substâncias tóxicas ou ferimentos.
CONSULTA EXTERNA INICIAL
Enquanto um recém-nascido com problemas hepáticos graves é muitas vezes
tratado em ambiente hospitalar, muitas crianças e adultos com uma doença
hepática mais moderada podem ser seguidos em regime ambulatório. A consulta externa inicial depois do diagnóstico da doença hepática por Alfa-1 deve
concentrar-se na avaliação e no tratamento dos problemas existentes e na prevenção de novas complicações.
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Conforme descrito anteriormente, será levado a cabo um exame físico e histórico rigoroso que se foca na saúde hepática geral. Os achados como baixo peso,
fraco crescimento infantil ou anormalidades detetadas no exame físico que possam indicar hipertensão portal ou anomalias do próprio fígado são levados
muito a sério e podem exigir mais exames.
Na maioria dos casos, nesta primeira consulta será solicitada uma primeira
avaliação laboratorial básica do fígado que, normalmente, incluirá os seguintes
exames:
• Medições sanguíneas de AST/ALT
• Bilirrubina
• Albumina,
• TP/TTP e vitamina
lipossolúveis (A, D e/ou E
• Eletrólitos
•
•
•
•
•
AUS
Creatinina
Amílase
Lípase
Exame para hepatite vírica
Estas análises já foram descritas em pormenor nas páginas seis a nove.
Dependendo da idade e dos antecedentes do doente, podem ser necessários
mais exames.
Os exames ultrassónicos ou tomográficos são frequentes e muito úteis para
obter informação mais detalhada, pois mostram o estado atual dos órgãos no
abdómen e podem ajudar a determinar o cancro do fígado ou a hipertensão
portal. Pode ser recomendável realizar uma biopsia ao fígado para determinar
outras causas de dano hepático e nesta altura inicia-se a vacinação contra os
vírus da hepatite A e B nas pessoas que ainda não estão imunizadas. Nos casos
de baixo peso, fraco crescimento ou baixos níveis de vitaminas no sangue, dá-se
início a uma suplementação nutricional com vitaminas específicas ou com
estratégias gerais para aumentar a ingestão de calorias. No caso de doença
hepática muito avançada, também existem vários tratamentos para a hemorragia ascítica, a hipertensão, a tumefação, a dor e o prurido.
Fos Alc, GGT, LDH, TP/TTP, albumina) para adultos e crianças e o exame
especializado em intervalos de alguns anos para a remota possibilidade de cancro do fígado em adultos podem constituir toda a manutenção de saúde de que
se necessita. Muitos adultos e crianças terão níveis ligeiramente elevados de
AST/ALT sem adquirirem doença hepática e podem ser acompanhados por um
clínico geral bem informado. Se houver indicações de doença mais grave, é
recomendado um controlo mais intensivo realizado por especialista hepático
bem informado na doença Alfa-1. Este controlo inclui normalmente a avaliação regular do crescimento e nutricional, exames de rotina ao sangue e ao fígado, estudos imagiológicos repetidos como explorações TC ou ultrassónicas e
uma supervisão cuidada em caso de complicações da doença hepática como
ascite, hipertensão portal ou hemorragia ou uma diminuição significativa da
função hepática.
CAUSAS E TRATAMENTO DA DOENÇA HEPÁTICA
ASSOCIADA A AAT
Os mecanismos que levam à acumulação da proteína AAT anormal nas células
do fígado foram descobertos nas duas últimas décadas. A proteína AAT anormal, especialmente a AAT tipo Z, dobra-se anormalmente e permite que outras
moléculas AAT anormais próximas fiquem “presas entre si” e se agrupem em
Fígado afetado por
Alfa-1 Antitripsina
Hepatócito com grânulos que
representam Alfa-1 Antitripsina
agregada
ATENÇÃO: Como todos os adultos com Alfa-1 estão em risco devido a
doença pulmonar, o seu médico deve monitorizar os seus sinais.
CONSULTAS EXTERNAS DE SEGUIMENTO
Depois de a avaliação inicial do grau de lesão hepática, se existir, estar completa, deve ser elaborado um plano de monitorização contínua. Se não houver
provas de doença hepática, as crianças podem prosseguir as consultas de rotina
com um médico de clínica geral com controlos anuais ou, inclusive, menos frequentes realizados por um especialista gastrointestinal pediátrico. Os adultos
sem sinais de doença hepática são frequentemente acompanhados por um
médico de clínica geral familiarizado com o controlo específico do fígado, só se
recomendando um especialista hepático se forem detetados problemas. Uma
monitorização anual dos exames sanguíneos do fígado (AST/ALT, bilirrubina,
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Moléculas Alfa-1 Antitripsina polimerizadas num único grânulo
11
enormes conjuntos de moléculas. Este processo denomina-se polimerização e
os agregados AAT podem inclusive ser observados no microscópio como “grânulos” no interior das células hepáticas.
Os mecanismos exatos através dos quais esta acumulação da proteína AAT
anormal no interior das células do fígado provoca doença e lesão hepática em
Alfa-1 ainda são desconhecidos. O que se sabe é que as pessoas com uma
forma incomum de Alfa-1, aquelas com a deficiência Nulo, não contraem a
doença hepática por Alfa-1. Como os indivíduos com a deficiência Nulo não
produzem AAT no fígado e, portanto, não sofrem de acumulação de proteína
AAT anormal, é razoável assumir que a presença desta proteína acumulada
causa a doença hepática em indivíduos com outros tipos de Alfa-1, como o tipo
Z. As pessoas com a deficiência Nulo têm um elevado risco de doença pulmonar, tal como os outros doentes com Alfa-1.
Atualmente não existe um tratamento específico para a doença hepática
por Alfa-1, além dos tratamentos gerais para várias afeções hepáticas diferentes.
Como as lesões no fígado parecem não estar relacionadas com falta de AAT no
sangue, a terapia de reposição não é utilizada para tratar a doença hepática. Em
vez disso, a manutenção concentra-se na prevenção das complicações gerais da
doença hepática crónica e no tratamento rápido e eficaz dos problemas inevitáveis.
ATENÇÃO: A cessação tabágica em adultos com Alfa-1 e nos pais de
crianças com Alfa-1 é obrigatória.
Todos os doentes são imediatamente alertados dos perigos do tabagismo por causa do elevadíssimo risco de lesões pulmonares potencialmente fatais
em Alfa-1, embora não exista uma relação conhecida entre fumar e a doença
hepática por AAT. A prevenção do consumo de tabaco em crianças deve ser
prioritária. Pensa-se que o fumo passivo constitui um risco tão grande para
pessoas com Alfa-1 como o tabagismo e as crianças devem ser protegidas da
exposição ao fumo passivo.
O álcool em excesso pode causar danos hepáticos mesmo em pessoas saudáveis, sendo provável que as pessoas com uma doença hepática prévia sejam
mais suscetíveis aos efeitos tóxicos do álcool para o fígado. Há muito poucos
estudos sobre os efeitos do álcool no fígado com Alfa-1.
INFORMAÇÃO-CHAVE: A maior parte dos especialistas hepáticos
recomendaria a abstinência ou pelo menos uma ingestão de álcool
muito reduzida para qualquer indivíduo com Alfa-1, houvesse ou não
quaisquer indícios de lesões hepáticas.
TRATAMENTO DE PROBLEMAS
HEPÁTICOS ESPECÍFICOS
FUNÇÃO DIGESTIVA INSUFICIENTE. Em bebés e crianças, a manutenção de um crescimento e estado nutricional normais é um dos objetivos mais
importantes. Alguns problemas podem ser tratados com suplementos alimentares através de tubos de alimentação se a ingestão oral e o crescimento não forem
adequados. O fraco crescimento e os problemas na alimentação oral em bebés
com Alfa-1 foram observados por motivos desconhecidos, mesmo em bebés
sem problemas hepáticos graves.
Icterícia, exames sanguíneos com fluxo biliar pobre (colostase), baixos
níveis sanguíneos de vitaminas lipossolúveis ou diarreia crónica sem infeção
podem significar que os lípidos não estão a ser bem digeridos. Se for este o
caso, a vigilância e a adição de vitaminas lipossolúveis conseguem prevenir
complicações graves, que podem incluir a hemorragia potencialmente fatal causado por deficiência de vitamina K, raquitismo (danos ósseos em crianças) por
deficiência de vitamina D, problemas neurológicos (cegueira, confusão mental)
por deficiência de vitamina A ou neuropatia periférica (danos nos nervos das
extremidades) por deficiência de vitamina E.
FUNÇÃO EXCRETORA/DESINTOXICANTE INSUFICIENTE. As crianças ou adultos com colostase significativa (fluxo biliar anormalmente baixo)
podem desenvolver um prurido severo devido aos elevados níveis sanguíneos de
substâncias biliares residuais. Esta situação pode ter forte impacto no sono,
desempenho escolar e profissional e na qualidade de vida em geral. O tratamento com anti-histamínicos para bloquear o prurido, medicamentos orais
para tentar eliminar o excesso de resíduos biliares dos intestinos (resinas aglutinantes como colestiramina), o tratamento com luzes especiais ultravioletas
(fototerapia) e fármacos que ajudem a aumentar o fluxo biliar (ácido ursodesoxicólico) podem proporcionar algumas melhoras, mas não uma cura.
Nos casos de danos hepáticos graves, a acumulação de amoníaco e de
outros resíduos que o fígado não consegue eliminar do organismo pode causar
sonolência excessiva e confusão mental. Como o amoníaco é produzido quando o organismo decompõe as proteínas, os adultos com doença hepática suficientemente grave para causar elevações dos níveis de amoníaco no sangue são
sujeitos a dietas restritas em proteínas. Por vezes, utilizam-se medicamentos
orais (como a lactulose) para ajudar a eliminar dos intestinos os produtos residuais, melhorando assim a atividade mental.
FUNÇÃO SINTÉTICA DEFICIENTE. Se o fígado não produzir quantidades adequadas de proteínas para o sangue como a albumina e os fatores de coagulação do sangue, podem surgir vários problemas para o organismo. No caso
de os níveis de albumina no sangue serem baixos, a distribuição de água e de sal
12
13
por todo o organismo pode ser interrompida, com a ocorrência de tumefação e a
acumulação de fluido no abdómen (ascite). Nos adultos, um dos primeiros tratamentos para este problema consiste em limitar a ingestão de sal alimentar.
BOM CONSELHO: Limitar a ingestão de sal pode ajudar a controlar a
tumefação do organismo.
Por vezes limita-se o sal na alimentação das crianças, embora isto seja difícil de supervisionar e possa ter um impacto negativo na qualidade vida da criança. Também podem ser utilizados vários diuréticos (medicamentos que eliminam o excesso de fluido do organismo) para que os rins aumentem a eliminação
de urina e para que, consequentemente, diminua a quantidade de sal acumulada
no organismo. Por último, o fluido pode ser drenado do abdómen com uma
agulha através de um procedimento simples e normalmente seguro denominado
paracentese, apesar de habitualmente serem necessários vários tratamentos.
Ocasionalmente, são administrados tratamentos intravenosos com albumina para
aumentar temporariamente os níveis albuminosos no sangue.
No caso de exames de coagulação sanguínea anormais numa pessoa com
doença hepática, muitas vezes administra-se uma dose de vitamina K, pois a
causa pode ser uma digestão da vitamina K insuficiência. No entanto, frequentemente o nível de vitamina K é normal, mas a coagulação sanguínea continua
anormal por causa de uma produção deficiente de vitamina K no fígado. Esta
situação é muito mais difícil de tratar. Se uma pessoa estiver a sangrar ativamente ou estiver programada uma cirurgia ou algum outro procedimento invasivo, pode ser administrado plasma fresco congelado intravenoso (PFC, a parte
líquida do sangue) para tentar parar ou evitar a hemorragia. No entanto, o restabelecimento da coagulação sanguínea com tratamentos PFC dura apenas algumas horas e normalmente não previne hemorragias futuras. Portanto, o PFC
não é administrado em pacientes estáveis e em franca recuperação, mesmo se os
exames de coagulação sanguínea forem anormais.
CIRROSE E HIPERTENSÃO PORTAL. O desenvolvimento de cirrose e
hipertensão portal é comum se a doença hepática associada a Alfa-1 se agravar.
A cirrose e a circulação portal estão descritas na página quatro. As crianças e os
adultos nestas condições não apresentam sintomas e vivem normalmente durante
décadas sem quaisquer outros problemas de saúde. Assim, os tratamentos invasivos e arriscados nestas condições são recomendados unicamente para pessoas
com problemas de saúde consideráveis como um fraco crescimento em crianças,
tumefação ou dor excessiva ou hemorragia grave.
A cirrose e a hipertensão portal podem contribuir para a tumefação e a ascite. Quando isto acontece, os planos de tratamento inicial envolvem normalmente dieta, diuréticos e paracentese. A maior parte dos doentes com hipertensão
portal é alertada para evitar o paracetamol ou outros denominados medicamen14
tos anti-inflamatórios não-esteroides (AINE), porque aumentam a probabilidade de hemorragia grave em doentes hepáticos. No entanto, a maior parte das
pessoas com doença hepática crónica ligeira a moderada podem tomar ocasionalmente doses normais de paracetamol segundo as instruções do seu médico.
Para a hemorragia excessiva do esófago (o tubo que liga a garganta ao estômago), do estômago, dos intestinos ou do reto em consequência de hipertensão
portal, estão disponíveis diversas opções de tratamento.
INVESTIGAR: A sobredosagem de paracetamol pode causar danos
no fígado.
Os tratamentos com endoscópio, um tubo flexível que possui uma câmara,
introduzido no esófago através da boca, conseguem muitas vezes reduzir ou
prevenir a hemorragia esofágica da mesma forma como vários medicamentos
orais e intravenosos. Se a doença hepática estiver num estádio avançado, a
hemorragia pode ser tão grave que requer transfusões sanguíneas. Em alguns
casos, pode ser realizada uma cirurgia abdominal (cirurgia de derivação) para
desviar parte do fluxo sanguíneo dos vasos hemorrágicos. No entanto, este tipo
de cirurgia envolve um risco de redução da eliminação de resíduos do sangue
pelo fígado e pode mesmo agravar os sintomas de sonolência e confusão mental. Noutros casos, especialmente enquanto se espera por um transplante de
fígado, pode ser levado a cabo um procedimento de derivação menos invasivo
denominado TIPS (derivação portossistémica transjugular intra-hepática). O
procedimento é realizado com instrumentos especiais inseridos nos vasos sanguíneos do doente, sendo similar a um cateterismo cardíaco, e consegue reduzir
o risco de hemorragia esofágica sem as complicações da confusão mental pósoperatória. No entanto, a alteração do fluxo sanguíneo resultante de uma TIPS
dura apenas algumas semanas ou meses e, portanto, tem de ser repetida se o
doente não receber um transplante entretanto.
TRATAMENTO DE INFEÇÕES. A doença hepática crónica pode diminuir
a eficácia do sistema imunitário e, portanto, os doentes e os seus médicos
devem estar atentos aos sinais de infeção grave que levem a procurar assistência
médica. Em primeiro lugar, qualquer febre numa pessoa com doença hepática
grave deve desencadear, pelo menos, um telefonema a um médico.
Isto é particularmente importante se houver também dor abdominal, vómito,
diarreia, hemorragia ou icterícia, em conjunto ou sozinhos se constituírem uma
alteração significativa ou se forem persistentes. As infeções normais e sem relação com o fígado, como a gripe, conseguem ser mais severas e requerer tratamentos mais agressivos se o doente padecer de doença hepática grave.
15
BOM CONSELHO: Qualquer doente hepático grave deve contactar o
seu médico se tiver febre.
Além disso, os doentes hepáticos podem desenvolver graves infeções bacterianas do sangue, infeções dos canais biliares no próprio fígado e infeções bacterianas dos fluidos abdominais. Por vezes são necessários exames ao sangue, paracenteses ou biopsias ao fígado como parte da avaliação e, outras vezes, os tratamentos podem ser iniciados sem uma grande quantidade de exames. Os antibióticos, frequentemente administrados por via intravenosa, constituem o tratamento mais comum. Ocasionalmente os exames endoscópicos e/ou raios x são utilizados na avaliação ou no tratamento.
TRANSPLANTE DO FÍGADO
Se a doença hepática constituir um risco de vida, devido à hipertensão portal
com hemorragia ou devido à capacidade diminuída do fígado para realizar a sua
função sintética e/ou desintoxicante, o último tratamento atualmente disponível
é o transplante de fígado. Neste procedimento, o fígado doente é retirado cirurgicamente do organismo do doente e um novo e normal é colocado no seu lugar,
unindo todos os vasos sanguíneos e canais biliares. Em algumas condições hepáticas, um familiar pode voluntariar-se para doar parte do seu fígado para transplante naquilo que se denomina um transplante de “doador familiar vivo”, possuindo a vantagem de o órgão estar disponível quando necessário e de haver
maior probabilidade de “compatibilidade” entre o fígado do doador e o sistema
imunitário do receptor. A correspondência perfeita só existe entre gémeos idênticos. Regra geral, os doentes Alfa-1 que precisam de transplante do fígado não
são bons candidatos a um transplante de doador familiar vivo porque, como a
Alfa-1 é uma doença genética, a probabilidade de qualquer familiar próximo ter
pelo menos um ou eventualmente dois genes anormais é bastante elevada (100
% em gémeos idênticos). A maior parte dos centros não realizará o transplante
de um fígado de um doador familiar Alfa-1 devido ao receio de o fígado novo
estar sujeito a um risco acrescido de lesão no futuro.
Portanto, a origem dos fígados para pessoas com Alfa-1 (e muitas outras
com doença hepático em fase terminal) é geralmente um doador não familiar
que tenha sido declarado em morte cerebral e que tenha expressado a sua vontade de doar os seus órgãos para transplante. Como o sistema imunitário do organismo vai considerar este órgão transplantado um “invasor” estranho e tentará
atacá-lo, é necessário realizar vários procedimentos para possibilitar a sobrevivência e o desenvolvimento do novo fígado no abdómen do receptor.
Primeiro têm de ser feitos exames para determinar o tipo de células e de sangue
do dador e do receptor para se conseguir uma “boa compatibilidade”. Em
segundo lugar, o receptor de um transplante de fígado toma medicação muito
16
forte para suprimir o sistema imunitário e prevenir que o organismo rejeite o
novo órgão. No entanto, esta imunossupressão é uma “faca de dois gumes”.
Embora estes medicamentos sejam muito eficazes para reduzir a rejeição do
fígado novo, também podem deixar o organismo sem defesas se surgirem “invasores estranhos” como vírus, bactérias e fungos. As infeções graves são comuns
durante os primeiros dias e meses após o transplante de um órgão importante
como o fígado.
BOAS NOTÍCIAS: O transplante de fígado tornou-se uma solução de
longo prazo com ótimos resultados para a doença hepática em fase
terminal e potencialmente fatal.
Um transplante do fígado bem-sucedido pode proporcionar décadas de
vida saudável. Para uma pessoa com Alfa-1 que receba um transplante de fígado, existe o benefício acrescido de o fígado novo e normal produzir agora quantidades normais de AAT normal. Essencialmente, o transplante de fígado cura
a Alfa-1! É importante compreender que apesar de o fígado transplantado ter
dois genes humanos AAT e produzir quantidades normais de proteína AAT,
todas as restantes células do organismo ainda possuem o gene AAT anormal.
Assim, uma criança que receba um transplante de fígado devido a doença hepática por Alfa-1 e que se torne um adulto saudável, tem de compreender que
pode transmitir o gene AAT anormal a qualquer futura geração através do seu
esperma ou óvulos que continuam a ter os mesmos genes maus que sempre
tiveram.
Mas se o transplante de fígado é tão bom, porque não transplantar todas as
pessoas com Alfa-1? As razões são várias. Primeiro e mais importante, não há
fígados de dadores suficientes para tratar as pessoas que atualmente se encontram em lista de espera para salvar as suas vidas. Em segundo lugar, embora o
transplante consiga bons resultados, não deixa de ser um procedimento cirúrgico importante, com complicações associadas e com uma taxa de mortalidade
significativa.
NA LISTA DE ESPERA PARA UM TRANSPLANTE DO FÍGADO.
Conforme explicado anteriormente, precisar de um transplante de fígado e
fazer um são duas coisas completamente diferentes. Se uma pessoa tiver doença
hepática por Alfa-1 suficientemente grave para receber um transplante de fígado, então o primeiro passo é a avaliação num centro de transplante hepático.
17
CONHECIMENTO-CHAVE: Com base nos exames de bilirrubina, TP e
creatinina, será atribuído um número a um adulto que representa a
gravidade da sua doença hepática. Esta classificação denomina-se
pontuação MELD para adultos ou pontuação PELD para crianças com
menos de 12 anos de idade. (MELD: sigla inglesa de Modelo para
Doença Hepática Terminal; PELD: sigla inglesa de Doença Hepática
Terminal Pediátrica.)
Os exames que constituem a pontuação MELD são a bilirrubina, o TP e a
creatinina (consultar os detalhes nas páginas sete e oito). Com base nestes exames, a um potencial receptor de transplante será atribuída uma pontuação entre
6 e 40, sendo 6 menos doente e 40 gravemente doente. A estimativa PELD é
um pouco mais complexa, mas considera várias questões relacionadas com a
doença hepática na infância. Quando um dador de fígado fica disponível num
determinado centro ou área de transplante, o paciente com a pontuação MELD
ou PELD mais elevada e boa compatibilidade de tecido receberá o fígado. Há
exceções de prioridade que permitem a uma pessoa passar para o topo da lista.
Basicamente, esta exceção pode ser atribuída a um doente com aparecimento
súbito e rápido de insuficiência hepática e que não se espera que viva mais que
algumas horas.
Mesmo que a sua pontuação seja elevada, há vários fatores que podem
impedi-lo(a) de receber um transplante hepático. Você não pode receber um
transplante em caso de:
• Cancro noutra parte do seu organismo
• Doença grave cardíaca, pulmonar ou nervosa
• Alcoolismo ou toxicodependência
• Infeção grave ativa
• Incapacidade para seguir as instruções do seu médico
Como as pessoas com doença hepática Alfa-1 também podem padecer de
uma doença pulmonar por Alfa-1, por vezes esta condição constitui um impedimento para um transplante hepático.
CANCRO DO FÍGADO
É necessário acrescentar algumas palavras breves sobre o cancro hepático, pois
existe um risco acrescido claro de cancro do fígado primário (carcinoma hepatocelular). É uma forma de cancro do fígado rara, sendo inclusivamente rara
em pessoas com Alfa-1, mas não tão rara em Alfa-1 como na população geral.
A razão pela qual devem ser realizados exames para este cancro com alfa-feto-
18
proteína e ultrassom abdominal é que, em caso de detecção numa fase inicial, o
tratamento cirúrgico para este tumor (cortar a secção de fígado cancerosa) pode
curá-lo.
PERGUNTAS SEM RESPOSTA E O FUTURO DA
DOENÇA HEPÁTICA ALFA-1
PERGUNTAS SEM RESPOSTA. Embora se saiba que o fígado é o órgão
principal envolvido na produção de proteína AAT e que são os problemas nesta
produção que causam a deficiência de AAT no sangue e doença hepática em
algumas pessoas, ainda não há resposta para o facto de algumas crianças e adultos adquirirem doença hepática por Alfa-1, enquanto noutras pessoas isto não
sucede.
Cerca de 2 % das crianças nascidas com Alfa-1 tipo Z desenvolvem insuficiência hepática que requer transplante durante os dois primeiros anos de vida.
A maior parte dos bebés nascidos com dois genes Z apresentam exames da função hepática anormais durante este mesmo período. No entanto, naqueles que
não desenvolvem doença hepática significativa, estes valores dos exames regressam habitualmente ao normal durante a infância. Alguns investigadores têm
sugerido a existência de um problema do mecanismo hepático que manuseia as
proteínas acumuladas nos 2 % que adquirem insuficiência hepática grave e talvez este trabalho conduza a tratamentos que previnam esta situação.
Nos adultos, a maior parte das pessoas com Alfa-1 não irá desenvolver uma
doença hepática clinicamente relevante. Se esta se manifestar, será normalmente muito ligeira e crónica, mantendo-se estável durante anos. No entanto,
alguns adultos desenvolvem a doença hepática subitamente com uma rápida
evolução negativa que resulta em transplante do fígado. Tanto quanto se sabe
atualmente, não há nada que distinga as pessoas com lesão hepática ligeira crónica daquelas com uma doença súbita de progressão rápida.
Os estudos têm mostrado que as pessoas mais velhas com Alfa-1 (com mais
de 65 anos) possuem uma cicatrização hepática observável ao microscópio,
mesmo se os seus exames da função hepática estiverem completamente normais. Isto sugere que todas ou a maior parte das pessoas com Alfa-1 possuem
níveis baixos e persistentes de lesão hepática ao longo das suas vidas.
Felizmente, o fígado consegue tolerar este tipo de lesão e continuar a desempenhar as suas funções normais da forma descrita no início deste guia.
A razão por que a lesão se agrava para além desta tolerância em algumas pessoas
e noutras não é uma pergunta importante, mas ainda sem resposta. Pensa-se
19
que os fatores ambientais e eventualmente os genéticos adicionais desempenham algum papel no desenvolvimento da lesão.
O FUTURO. Embora seja óbvio que ainda há muito para aprender, o trabalho prossegue para aplicar o que já se sabe no desenvolvimento de novas terapias para a Alfa-1. Como sabemos que a deficiência no sangue causadora de
doença pulmonar e que os próprios problemas hepáticos são provocados pela
acumulação de proteína anormal no interior das células hepáticas, os cientistas
estão a tentar desenvolver medicamentos que façam com que a proteína AAT
aprisionada em células hepáticas saia destas para o sangue. Isto teria a dupla
vantagem de diminuir as lesões nas células hepáticas e de empurrar a proteína
para o sangue onde conseguiria limpar os tecidos do organismo e, em particular, os pulmões. Um medicamento assim representa uma cura potencial para
esta condição especial.
Além das terapias para tratar ou prevenir a doença por Alfa-1, os trabalhos
também têm avançado na área dos exames diagnósticos capazes de detetar
lesões hepáticas ligeiras e moderadas de forma mais precisa que os métodos
atuais.
A AlphaNet gostaria de agradecer ao Doutor Jeff Teckman pela
sua ajuda na preparação do presente documento.
Este folheto foi elaborado pela AlphaNet como parte do seu programa de
Prevenção e Controlo da Doença Alfa-1 (PCDA).
A AlphaNet é uma organização norte-americana sem fins lucrativos que presta serviços
de controlo da doença e de apoio a pessoas afetadas pela doença Alfa-1 através de uma equipa de profissionais médicos e de Coordenadores dos Serviços do Doente AlphaNet
com formação específica.
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