Este manual tem como objetivo fornecer informações aos pacientes e seus familiares a respeito da Síndrome Mieloproliferativa Crônica. Sabemos que as informações médicas são cercadas, na maior parte das vezes, por termos técnicos, difíceis e incompreensíveis pela maioria dos usuários. Dessa forma, esperamos que esse encarte possa esclarecer suas dúvidas. Qualquer comentário é muito bem vindo, seja sobre a clareza desse manual ou sobre a omissão de alguma informação considerada importante e pode ser enviado através da urna de sugestões do HEMORIO ou pelo e-mail [email protected]. Acesse o Portal do HEMORIO e saiba mais sobre outras orientações e serviços: O termo “Síndrome Mieloproliferativa Crônica” (SMPC) é usado para descrever algumas doenças que apresentam sinais clínicos e laboratoriais semelhantes resultantes da proliferação descontrolada das células da medula óssea (hemácias, leucócitos e plaquetas). Fazem parte desse grupo, a Policitemia Vera (PV), a Mielofibrose (MF), a Trombocitemia Essencial (TE) e a Leucemia Mielóide Crônica (LMC). Nesse encarte trataremos da PV, da MF e da TE. Para facilitar a compreensão dessas doenças, vamos nos deter ao conhecimento da formação das células sangüíneas, suas alterações e suas implicações clínicas. O sangue é constituído por alguns tipos de células, produzidas na medula dos ossos. Os três principais tipos de células sangüíneas são: Contém hemoglobina, que é uma proteína rica em ferro. Absorve oxigênio, quando passa pelos pulmões e o distribui para diferentes órgãos e tecidos no corpo. A redução dessa proteína causa anemia que se manifesta por tonteira, fraqueza, sonolência, dor de cabeça, irritabilidade, respiração acelerada e palpitação. São pequenos elementos celulares em forma de disco que ajudam a coagulação sangüínea. As plaquetas previnem o sangramento anormal ou excessivo, e sua falta, portanto, pode causar hemorragia. Os três principais tipos de glóbulos brancos são os granulócitos, monócitos e linfócitos. Os glóbulos brancos são importantes no combate às infecções. Essas doenças são agrupadas nessa síndrome porque apresentam diversas semelhanças.São elas: Causa: A causa das SMPC é desconhecida. A doença surge da transformação de uma célula muito jovem da medula óssea (célula-mãe das células do sangue). Esta célula anormal cresce e interfere com a produção das células normais. População atingida: São doenças relativamente raras, com maior incidência aos 50-60 anos de idade. São raros os casos diagnosticados em idades inferiores. 3 Quadro clínico: A esplenomegalia (aumento do baço) é o sinal comum a todas as síndromes mieloproliferativas, sendo mais expressiva na MF. Exames Diagnósticos: Nas SMPC, o exame da medula óssea (biópsia óssea) mostra um excesso de células abrangendo as 3 linhagens celulares (eritróide, granulocítica e megacariocítica). Cerca de 30% dos doentes têm anormalidades citogenéticas. Tratamento com medicamentos mielossupressores: Tem como objetivo reduzir a proliferação das células da medula óssea. Os medicamentos freqüentemente empregados nas SMPC são a hidroxiuréia, o Interferon - alfa recombinante, o busulfan e o clorambucil. Evolução para Mielofibrose, ou agravamento da mesma: Nesta fase, a medula óssea desenvolve fibrose progressiva e torna-se hipocelular e com diminuição na produção de células do sangue, levando a anemia, leucopenia, e trombocitopenia. Leucemização: É a complicação mais temida e felizmente rara. A leucemia secundária, responde mal à terapêutica antileucémica. O tratamento dessa complicação vai depender do estado geral e da idade do paciente. O emprego de medicamentos quimioterápicos é melhor tolerado nos pacientes jovens e com um bom estado geral. Os pacientes idosos e/ou debilitados devem ser tratados com terapêuticas paliativas ou de suporte. Prognóstico: As SMPC têm um curso lento. A sobrevivência dos doentes é semelhante à da população normal do mesmo grupo etário. Entretanto, risco maior de complicações ocorre em pacientes idosos nos quais outros fatores de risco são freqüente como doença aterosclerótica, doença cardíaca e/ou diabetes. As principais causas de morte em doentes com SMPC são fenômenos tromboembólicos, leucemização, outras neoplasias malignas, hemorragias, e as complicações da mielofibrose. Os efeitos colaterais da Hidroxiuréia podem ser leves ou moderados, consistindo em náuseas e erupção cutânea. O busulfan e o clorambucil podem provocar erupção cutânea, fibrose pulmonar e aplasia de medula óssea (redução de leucócitos, hemácias e plaquetas), além de efeitos gastrintestinais como náuseas, vômitos e diarréia. O Interferon pode ocasionar insônia persistente e sintomas semelhantes à gripe, como por exemplo febre, dor muscular intensa e cefaléia. A seguir, apresentamos algumas informações específicas sobre essas doenças. Converse com seu médico, caso persista alguma dúvida a ser esclarecida. 4 É doença crônica, de evolução lenta, traduzida clinicamente por aumento das células do sangue, incluindo glóbulos vermelhos (eritrocitose), glóbulos brancos (leucocitose), e plaquetas (trombocitose), e baço aumentado (esplenomegalia), que apresenta duas fases: ª Na fase inicial (fase pletórica) há um excesso de células do sangue, com predomínio de hemácias; ª Na segunda fase as células do sangue estão reduzidas, o baço atinge grandes dimensões e a medula óssea desenvolve um processo de fibrose. Os sintomas iniciais incluem dores de cabeça, aspecto ruborizado e congestionado da pele e mucosas (pletora), prurido cutâneo, episódios de tromboses e/ ou sangramentos, sudorese, perturbações visuais, e fraqueza. Outras manifestações incluem as complicações cárdio-vasculares como hipertensão arterial, angina e insuficiência cardíaca congestiva. Alguns doentes não apresentam sintomas. A eritrocitose, a leucocitose, a trombocitose e a esplenomegalia são as características mais importantes do diagnóstico. Geralmente, duas ou três destas características estão presentes. É baseado no conjunto de sinais e sintomas. O exame físico mostra aumento do tamanho do baço (esplenomegalia) e do fígado (hepatomegalia) em 75% e 30% dos pacientes, respectivamente. Os exames complementares laboratoriais são importantes para o diagnóstico. Em número expressivo de pacientes, o hemograma mostra excesso de glóbulos vermelhos (eritrocitose), hematócrito elevado, excesso de glóbulos brancos (leucocitose) e excesso de plaquetas (trombocitose) em número expressivo de pacientes. Há duas entidades que devem ser excluídas antes de se fazer o diagnóstico de PV: (1) policitemia aparente: também conhecida como “policitemia de stress” é caracterizada por diminuição do volume plasmático, e ocorre em algumas situações clínicas como por exemplo, a desidratação. 5 (2) policitemia secundária: deve-se à produção excessiva do hormônio eritropoietina, que é necessária para a maturação das células da medula óssea precursoras das hemácias. O excesso de eritropoietina pode ser devido a deficiência crônica de oxigênio, encontrada em determinadas doenças, como o “shunt cardíaco”, enfisema pulmonar, bronquite crônica, tabagistas, certas hemoglobinopatias, entre outras. A dosagem da Eritropoietina (EPO) Encontra-se aumentada nos casos em que a eritrocitose é secundária à hipóxia, e normal ou reduzida, nos casos de PV. A terapêutica depende de alguns fatores, como por exemplo da idade, do sexo do paciente, das manifestações clínicas e da fase da doença. É um procedimento, no qual é retirado uma quantidade de sangue do paciente. Tem como objetivo normalizar o hematócrito e mantê-lo entre 42% e 45%. A freqüência e a quantidade de sangue a ser retirado varia com o estado clínico e a idade do doente. Alguns pacientes têm sua doença controlada com flebotomias. Em doentes com idade inferior a 50 anos e sem história prévia de tromboses, a flebotomia está indicada. Além dos fármacos imunossupressores, citadas anteriormente, na PV pode se usar, em alguns casos, um medicamento radioativo, chamado P32 (fósforo). Devido ao risco de complicações trombóticas e hemorrágicas, qualquer cirurgia importante deve ser adiada até que a doença esteja controlada. Se a doença não for controlada os sintomas que ocorrem são: Freqüentes complicações, e ocorrem em cerca de 1/3 dos doentes. Por ordem de freqüência, os acidentes cerebrovasculares, o enfarte do miocárdio, a trombose das veias profundas das pernas, o tromboembolismo das artérias pulmonares e a trombose das veias hepáticas (síndrome de BuddChiari). Cerca de 75% dos pacientes de PV desenvolvem complicações trombóticas e/ou hemorrágicas durante ou após cirurgias. O uso profilático de agentes antiplaquetários, como a aspirina ou o dipiridamol, não é eficaz, e podem aumentar com o seu uso, o risco de hemorragias. São observados em cerca de 25% dos doentes e são, geralmente, episódios de pouca gravidade. As principais manifestações hemorrágicas são hemorragias gengivais, equimoses e/ou epistaxe. Quando ocorrem, devem 6 ser tratadas com transfusões sanguíneas. Às vezes, as transfusões de plaquetas podem ser necessárias. Na fase inicial o uso repetido de flebotomias pode levar a um estado de carência de ferro, que ajuda no controle da eritrocitose. Estes doentes devem ser seguidos com estudos de determinação do ferro sérico e ferritina, e a deficiência de ferro deve ser corrigida com a administração cuidadosa de suplementos de ferro oral. Sua incidência encontra-se aumentada nos portadores de PV. Seu tratamento não é diferente daquele dos pacientes não portadores de PV. Incluem tonturas e vertigens. São complicações frequentes, devido ao aumento de proliferação celular. Devem ser empregados medicamentos específicos, como o alupurinol. É uma doença mieloproliferativa crônica caracterizada por número elevado de plaquetas produzidas pelos megacariócitos que estão em poroliferação aumentada na medula óssea. A doença é geralmente descoberta incidentalmente através de exames de rotina ou por ocasião de pré-operatório. Quando o paciente apresenta algum sinal ou sintoma, as manifestações mais freqüentes são as alterações tromboembólicas e as hemorrágicas. As hemorragias (sangramentos) afetam predominantemente as mucosas oral e nasal, o tubo digestivo e a pele (manchas roxas). A trombose pode ser outra manifestação da doença e ocorre principalmente nos vasos cerebrais (acidentes cerebrovasculares), os vasos periféricos das extremidades (insuficiência vascular periférica), e as artérias coronárias (angina de peito e/ou enfarte do miocárdio). Os sintomas variam de acordo com o local da trombose. Outros sintomas são menos específicos e ocorrem raramente, como febre, suores e perda de peso. A esplenomegalia (baço dilatado) ocorre em cerca de 50% dos casos, e hepatomegalia (fígado dilatado) em 20% dos casos. 7 Antes de ser feito o diagnóstico de TE, é necessário excluir outras causas, como a trombocitose reativa ou secundária, incluindo deficiência de ferro, estado pós esplenectomia (remoção do baço), neoplasias e infecções crônicas (tuberculose, micoses sistêmicas, osteomielite). Os critérios utilizados para o diagnóstico são: ª ª ª ª 3 Contagem de plaquetas acima de 600.000/mm , em duas ocasiões. Ausência do cromossoma de Filadélfia. Esplenomegalia Biópsia da medula óssea. A terapêutica varia com a sintomatologia do paciente. Se não houver sintomas, ainda que as cifras plaquetárias estejam altas, não há necessidade de se iniciar tratamento específico, podendo-se optar apenas por observação periódica e aspirina, para prevenção de trombose. Os pacientes que apresentarem fatores de risco para trombose (doença cardiovascular) devem ser submetidos a tratamento específico. Para pacientes sintomáticos (hemorragia e/ou trombose, pode-se optar por 2 técnicas terapêuticas de redução de plaquetas: É um método mecânico de remoção seletiva de plaquetas do sangue periférico. O benefício é transitório, estando indicada nos casos em que seja necessária redução de plaquetas em poucas horas (processos agudos de isquemia cerebral ou miocárdica). O anagrelide é um agente terapêutico adicional ao uso de medicamentos citados anteriormente. Os sintomas, durante o curso da doença, se essa não for controlada são os episódios trombóticos. As veias profundas de membros inferiores são as mais atingidas. A trombose das veias hepáticas, pode levar à ascite e insuficiência hepática. Nas grávidas, os enfartes da placenta podem levar à insuficiência placentária, aborto espontâneo, atraso do crescimento fetal e partos prematuros. A isquemia cerebral transitória origina sintomas não específicos, tais como cefaléias, tonturas, diminuição da acuidade mental ou sinais focais (convulsões, oclusão das artérias da retina). As alterações visuais incluem visão dupla (diplopia), escotomas e amaurose fugaz (perda de visão momentânea). 8 A mielofibrose (MF) ou metaplasia mielóide agnogênica é doença classificada como síndrome mieloproliferativa crônica que pode ser tanto doença mieloproliferativa específica, ou fazer parte da história clínica de outras doenças mieloproliferativas, como fases avançadas da policitemia vera, leucemia mielóide crônica e tromobocitemia essencial. Cerca de 70% dos pacientes são assintomáticos ou apresentam poucos sintomas. O diagnóstico é feito ocasionalmente pela presença de esplenomegalia e de alterações no hemograma. Petéquias e/ou equimoses (manchas roxas na pele) são freqüentes. A esplenomegalia é um sinal sugestivo da doença, estando presente em praticamente 100% dos pacientes. A biópsia de medula óssea mostra graus variados de fibrose (mielofibrose). O tratamento se baseia em alguns parâmetros, como presença de sintomas específicos da doença ou de suas complicações. Em situações especiais a radioterapia e medicamentos como o danazol podem ser utilizados. As complicações são, geralmente devidas ao crescimento progressivo do baço e/ou à progressão da doença. A desnutrição, que ocorre pela redução da capacidade do estômago que se encontra comprimido pelo baço volumoso, a desnutrição pode se instalar ao longo da doença. As severas esplenomegalias tendem a reter o sangue no interior dessa víscera, o que se manifesta por anemia, leucopenia e/ou plaquetopenia. As repercussões clínicas são fadiga, dispnéia, tendência a infecções e sangramentos. Infartos esplênicos podem surgir, levando a dores abdominais e mais raramente pode levar à trombose dos vasos sangüíneos abdominais e insuficiência hepática. 9 Direção Geral Clarisse Lobo Equipe Técnica Jamison Menezes Vera Marra Editoração Marcos Monteiro Revisado em Maio de 2005 2332-8611 10 ONDE QUER QUE VÁ, LEVE UMA MENSAGEM DE AMOR FALE SOBRE A DOAÇÃO DE SANGUE! Rua Frei Caneca, 8 - Centro - Rio de Janeiro - CEP: 20.211-030 - Tel.: 2332-8611 www.hemorio.rj.gov.br SECRETARIA DE SAÚDE E DEFESA CIVIL