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Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho [Fundacentro]
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TRABALHO, SAÚDE E
AMBIENTE
Elementos para o desenvolvimento de
materiais de comunicação de riscos
As fontes de informação e sua influência na
exposição aos agrotóxicos pelos trabalhadores de
estufas de flores e plantas ornamentais
Glaucia de Menezes Fernandes
São Paulo
2013
Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Glaucia de Menezes Fernandes
Elementos para o desenvolvimento de materiais de
comunicação de riscos
As fontes de informação e sua influência na exposição aos
agrotóxicos pelos trabalhadores de estufas de flores e
plantas ornamentais
Dissertação apresentada ao Programa de Pós‐graduação “Trabalho, Saúde e Ambiente”, da FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, para obtenção do título de Mestre em Trabalho, Saúde e Ambiente. Área de concentração: Segurança e Saúde do Trabalhador Linha de pesquisa: Avaliação, comunicação e controle de riscos nos locais de trabalho Orientador: Profa Dra Alcinéa Meigikos dos Anjos Santos Co‐orientador: Profa Dra Marcela Gerardo Ribeiro São Paulo Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho [FUNDACENTRO] Agosto/2013 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Serviço de Documentação e Biblioteca – SDB / Fundacentro
São Paulo – SP
Erika Alves dos Santos CRB-8/7110
1234567890Fernandes, Glaucia de Menezes.
1234567890As fontes de informação e sua influência na exposição aos
1234567agrotóxicos pelos trabalhadores de estufas de flores e plantas
1134567ornamentais [texto] / Glaucia de Menezes Fernandes. – 2013.
1234567890104 f., enc. : il. color.
1234567890Orientadora: Alcinéa Meigikos dos Anjos Santos.
1234567890Co-orientadora: Marcela Gerardo Ribeiro.
1234567890Dissertação (mestrado)-Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
1234567Segurança e Medicina do Trabalho, São Paulo, 2013.
1234567890Referências: f. 69-76.
12345678901. Agrotóxicos – Flores – Cultivo – Risco profissional. 2. Flores –
1234567Cultivo – Estufa – Risco químico. 3. Flores – Cultivo – Comunicação
1234567de Riscos I. Santos, Alcinéa Meigikos dos Anjos. II. Ribeiro, Marcela
1234567Gerardo. III. Título.
É expressamente proibida a comercialização deste documento tanto na sua forma
impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente
para fins acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do
autor, título, instituição e ano da dissertação.
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Em memória de meus pais. À minha mãe, Leila, que fez de mim a mulher que sou. Às minhas irmãs, Deborah e Amarílis, meu eixo e meu esteio. Ao meu filho Yan, amor representado em vida. Ao meu namorado e companheiro, Celso, com quem, todos os dias, eu construo o “ser feliz”. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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AGRADECIMENTOS
À Fundacentro, por proporcionar meus estudos e apoiá‐los institucionalmente. Fui agraciada com a rara oportunidade de reunir atividade profissional e acadêmica num mesmo local. À Alcinéa Meigikos dos Anjos Santos, minha orientadora, apoiadora e uma amiga que fiz nestes dois anos. Pelo seu suporte, paciência, orientação, incentivo e estímulo constantes. À Marcela Gerardo Ribeiro, co‐orientadora deste estudo, por suas observações sempre pontuais, sua contribuição científica e seu olhar conciso sobre o trabalho. Ao coordenador da Pós‐Graduação, Carlos Sérgio, que tanto batalhou por todos os alunos – e às meninas da secretaria, sempre disponíveis a nos auxiliar. À toda equipe do projeto: Fernanda de Freitas Ventura, Paula Peixoto Monteiro, Thaís Maria Santiago Morais Barros e Walter dos Reis Pedreira Filho pelo apoio, colaboração, horas de trabalho e contribuição. Também à Camila Colasso, que dedicou sua atenção e tempo logo no início deste trabalho, ajudando em seu nascimento. Aos trabalhadores entrevistados, por dividirem comigo alguns sonhos, expectativas e visões de mundo. Sem eles, este estudo não existiria. À Karina Penariol Sanches – amiga, sub‐chefe, parceira de trabalho, revisora, braço direito – por todas as horas partilhadas, compartilhadas, seu grande apoio. Muito deste trabalho, devo também à você. À toda equipe do Serviço de Publicações, que trabalhou firme e coesa, que segurou rojões e apagou incêndios – durante as minhas ausências necessárias. À todos professores da Pós graduação, por sua orientação, apoio, auxílio, esclarecimento de dúvidas. Um agradecimento especial aos professores Gilmar da Cunha Trivelato e Eduardo Garcia Garcia, que colaboraram com textos e ideias, sempre mostrando especial interesse pelo projeto. Aos colegas de Pós, companheiros de risadas no café, do desespero nos trabalhos de sala e da alegria de chegar, juntos, a este momento! À tia Majô e primas, mãe e irmãs de todos os dias, por seu amor, estímulo e carinho. Por fim, agradeço aos colegas e familiares, durantes estes dois anos, por compreenderem minhas ausências em tantos eventos e que, mesmo sem saber, me trouxeram com suas palavras, brincadeiras e comentários sobre o mestrado, ânimo, incentivo e folego para continuar a jornada. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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RESUMO
O uso indiscriminado de insumos químicos na agricultura, nos países em desenvolvimento, vem se configurando como grave problema de saúde pública. Nesse contexto, o Brasil alcançou, em 2010, a posição de primeiro consumidor mundial de agrotóxicos. O setor de flores e plantas ornamentais é um promissor segmento de agronegócios, com crescimento anual de 15%, sendo o Estado de São Paulo é responsável por 70% da produção nacional. O impacto sobre a saúde humana, torna‐se um problema maior em estufas de flores. A dispersão mais lenta dos produtos em ambiente fechado pode expor o trabalhador a concentrações maiores de agrotóxicos, em relação às culturas em campo aberto. Assim, considerando a comunicação como mediadora das atitudes do trabalhador frente ao risco e como importante alicerce às práticas educacionais em Segurança e Saúde no Trabalho (SST), esta pesquisa, realizada em um dos polos produtores do Estado de São Paulo, teve como objetivo verificar se a informação que este sujeito conhece sobre suas práticas, colabora para a minimização de sua exposição, a fim de levantar dados que propiciem embasamento para o desenvolvimento de materiais de comunicação de riscos adequados à este público. Trabalhadores foram entrevistados utilizando‐se roteiro semi‐estruturado, complementados pela observação de suas atitudes, na preservação de sua saúde. Os dados foram tratados sob a perspectiva da análise de conteúdo temática, de Lawrence Bardin. Como resultados, observou‐se que os trabalhadores recebem informações de fontes cujo conhecimento técnico é muito variável, não atendendo a requisitos mínimos que subsidiem a saúde e a segurança em seu ambiente de trabalho, sendo as informações insuficientes para colaborar na minimização de sua exposição. Os trabalhadores percebem que há risco de exposição, sem clareza dos modos em que ela ocorre e, em consequência, sem conhecimento de meios de prevenção e cuidados com a saúde. O baixo nível de escolaridade é um dos fatores que influenciam o processo de troca e apreensão das informações pelos trabalhadores, os quais desconhecem, principalmente, a exposição dérmica no manuseio das plantas, que se dá nas atividades de trato cultural. Foi identificada a necessidade de elaboração de material de comunicação de riscos adequado às características desta população, com a participação de um profissional de design no processo, a fim de definir a melhor forma de apresentação do material, que venha fomentar conhecimento sobre o potencial de danos à saúde e ao meio ambiente, com orientações claras e voltadas para a prevenção e cuidados nas atividades do dia‐a‐dia, em estufas de flores e plantas ornamentais. O foco da comunicação de riscos deve ser a educação continuada destes trabalhadores. Palavras‐chave: agrotóxicos; exposição; estufas de flores; comunicação; comunicação de riscos. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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ABSTRACT
In developing countries, the indiscriminate use of pesticides in agriculture is emerging as a public health problem. In this context, Brazil has achieved, in 2010, first position as pesticides consumer. The sector of flowers and ornamental plants is a promising agribusiness segment with annual growth of 15%. The state of São Paulo is responsible for 70% of national production. The impact on human health becomes a bigger problem in flower greenhouses. The slow spreading of products indoors can expose workers to higher concentrations of pesticides in relation to crops in open field. Thus, considering the communication as a mediator of worker attitudes towards risk and as an important foundation for educational practices in Occupational Health and Safety (OHS), this study, conducted in one of the poles producers of São Paulo, aimed to check the information that this workers knows about their practices, contributes to minimizing their exposure in order to collect data that provide the basis for development of risk communication materials appropriate to this audience. Workers were interviewed using semi‐structured script, complemented by observing their actions in preserving their own health. The data were treated under the perspective of thematic content analysis of Bardin Lawrence. As result, it was observed that workers receive information sources whose technical expertise is highly variable, not meeting the minimum requirements that support health and safety in the workplace, and the information is not enough to minimize your exposure. Workers realize that there is risk of exposure, without clarity of the ways in which it occurs and therefore no knowledge of means of prevention and health care. Low education is one of the relevant factors in the exchange process and seizure of information by workers, who mainly do not know about dermal exposure in handling plant, which takes place in cultural activities treat. We identified the need to prepare a risk communication material appropriate to the characteristics of this population, with the participation of a professional designer in this process in order to define the best way of presenting the material which will contribute with knowledge about the potential damage to health and the environment, with clear guidelines and precautions aimed at the practical day‐to‐day flower greenhouses and ornamental plants. The focus of risk communication should be ongoing education of these workers. Key words: pesticides; occupational exposure; greenhouses; communication; risk communication. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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LISTA DE FIGURAS
QUADRO 1 Cores, segundo a classificação toxicológica dos agrotóxicos QUADRO 2 Principais agrotóxicos utilizados pelos produtores de flores e plantas ornamentais do polo da Região da Dutra QUADRO 3 Funções e tarefas relacionadas, em estufas de flores e plantas ornamentais FIGURA 1 Modelo estrutural da comunicação FIGURA 2 Representação esquemática das principais fontes de impacto da contaminação humana por agrotóxicos FIGURA 3 Esferas dos Riscos FIGURA 4 Exemplo de sistema de irrigação usada nas estufas visitadas FIGURA 5 Visão geral de uma da estufa FIGURA 6 Exemplo de tambor utilizado para preparo de calda FIGURA 7 Distribuição dos entrevistados por nível de escolaridade Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 1 2 OBJETIVOS .............................................................................................................................................. 5 3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS ...................................................................................................................... 7 3.1 COMUNICAÇÃO E PRODUÇÃO DE SENTIDO ........................................................................................................... 7 3.2 AGROTÓXICOS ............................................................................................................................................. 15 3.3 RISCO ........................................................................................................................................................ 21 4 METODOLOGIA ..................................................................................................................................... 29 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 O POLO PRODUTOR DA REGIÃO DA DUTRA ........................................................................................................ 29 O PROCESSO DE TRABALHO NAS ESTUFAS .......................................................................................................... 30 SELEÇÃO DOS TRABALHADORES PARA ENTREVISTA .............................................................................................. 35 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ............................................................................................................... 36 PARTICIPANTES DO ESTUDO ............................................................................................................................ 38 ASPECTOS ÉTICOS ......................................................................................................................................... 39 ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS ................................................................................................................. 39 5 RESULTADOS ........................................................................................................................................ 43 5.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS ........................................................................................................................... 43 5.2 PROCESSO DE TRABALHO ............................................................................................................................... 46 5.3 INFORMAÇÃO .............................................................................................................................................. 53 6 DISCUSSÃO ........................................................................................................................................... 61 7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................................................................ 67 8 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 71 9 ANEXOS ................................................................................................................................................ 79 9.1 ROTEIRO DE ENTREVISTA ............................................................................................................................... 79 9.2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (PARTICIPANTE) ....................................................................... 83 9.3 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (PRODUTOR) ........................................................................... 85 9.4 PARECER DE APROVAÇÃO DO CONSELHO DE ÉTICA EM PESQUISA ............................................................................ 87 Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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INTRODUÇÃO A utilização de produtos químicos, para o controle de pragas na agricultura, passou a ser mundialmente difundida após a Segunda Guerra Mundial (CARDONA, 2004). Seu uso intensivo e indiscriminado, na produção agrícola de países em desenvolvimento, vem se configurando como um grave problema de saúde pública, dada a característica econômica desses países, orientada para o aumento da produção e exportação de produtos agrícolas (KOH; JEYARATNAM1, 1996 apud WAICHMAN; EVE; NINA, 2007). No Brasil, a indústria de agrotóxicos começou a se expandir a partir de 1975, amparada politicamente pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento, criado naquele ano, cujo principal objetivo foi o de intensificar a produção e o consumo de insumos químico‐agrícolas no país (SILVA et al., 2005). De acordo com o Dossiê Abrasco, entre 2002 e 2012, o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, enquanto no Brasil o crescimento foi de 190% (CARNEIRO et al., 2012). A utilização de agrotóxicos nas lavouras brasileiras saltou de 599,5 milhões de litros no ano de 2002, para 852,8 milhões de litros em 2011. Desde 2008, o país tornou‐se o maior consumidor mundial de agrotóxicos, ultrapassando os Estados Unidos. No que se relaciona à área de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), o consumo de agrotóxicos está diretamente associado às questões de saúde do trabalhador, uma vez que é parte do sistema de produção e do dia a dia do agricultor. O estudo das implicações à saúde e do impacto ambiental causados pelo uso de agrotóxicos é de grande relevância para um país como o Brasil, em que a economia agrícola representa 1/3 do PIB nacional (BUAINAIN; DEDECCA, 2008; MITSUEDA; COSTA; D’OLIVEIRA, 2011). Quanto ao uso de agrotóxicos em estufas2, o impacto sobre a saúde humana torna‐se um problema ainda maior. O ambiente das estufas, projetado para a cultura de flores e plantas ornamentais, propicia e otimiza o desenvolvimento das plantas. Porém, devido às condições 1
Koh, D., Jeyaratnam, J. Pesticides hazards in developing countries. Sci. Total Environ., n. 188 (Suppl. 1), p.78-85, 1996.
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Ambientes protegidos, que mantém o calor condicionado em seu interior, a fim de controlar o crescimento das plantas e
protegê-las contra possíveis ameaças externas.
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características desse tipo de trabalho, que se dá em ambiente fechado, pode‐se prolongar e intensificar a exposição do trabalhador e aumentar os riscos à sua saúde. A dispersão mais lenta desses produtos, em relação às culturas em campo aberto, pode favorecer a exposição desse trabalhador a concentrações maiores de agrotóxicos, e por períodos mais prolongados (ILLING, 1997). A atividade de cultivo de flores e plantas ornamentais iniciou‐se no Estado de São Paulo, na década de 1950, vindo a se consolidar a partir da década de 1970, concentrando‐se, desde então, nas regiões de entorno dos municípios de Atibaia e Holambra (JUNQUEIRA; PEETZ, 2008). Atualmente existem cultivos em todo o país, principalmente nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco, Paraná, Goiás, Ceará, Bahia, Alagoas e alguns na região norte do país (MITSUEDA; COSTA; D’OLIVEIRA, 2011). Os números que envolvem a produção de flores e plantas ornamentais no Brasil são difíceis de precisar, em virtude da inconsistência das informações disponíveis, não sendo ainda devidamente atualizados por nenhuma fonte estatística oficial (JUNQUEIRA; PEETZ, 2008). As estimativas mais recentes, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR, 2012), apontam que o setor de floricultura brasileiro contava, em 2012, com cerca de 8 mil produtores e uma área cultivada estimada em cerca de 12 mil hectares, com tamanho médio de 1,7 hectares por propriedade. Desse cultivo, 71% se dá a céu aberto; 26% em estufas e 3% em tela (PERFIL do Setor, [200‐?]). O setor gera mais de 209 mil empregos diretos, dos quais, quase 30% são relativos à produção (IBRAFLOR, 2012), sendo uma atividade típica de pequenos produtores, caracterizada como agricultura de base familiar. O Estado de São Paulo é responsável pela produção de 70% do mercado brasileiro de flores e plantas ornamentais. O faturamento anual estimado, gira em torno de R$ 800 milhões; as exportações anuais, U$ 28,68 milhões, com incremento médio anual em torno de 15% (IBRAFLOR, 2012). Embora o número exato não esteja disponível, estima‐se que ao menos 80.000 pessoas estejam empregadas nesse setor, no Estado de São Paulo, com uma média Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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de 13 empregados por estufa. As unidades de produção paulistas estão distribuídas em sete polos de produção (PERFIL do Setor, [200‐?]): 1) Região de Atibaia (Atibaia, Bragança Paulista, Mairinque e Piracaia). 2) Região da Grande São Paulo (Ferraz de Vasconcelos, Embú, Ibiúna, Itapecerica da Serra, Cotia, Vargem Paulista e São Roque). 3) Região da Dutra (Arujá, Mogi das Cruzes e Salesópolis). 4) Região do Vale do Ribeira (Registro, Pariquera‐açú, Iguape). 5) Região do Paranapanema (Paranapanema). 6) Região de Campinas (Campinas, Indaiatuba, Monte Mor, Hortolândia e Limeira). 7) Região de Holambra (Holambra, Santo Antonio da Posse, Mogi Mirim e Arthur Nogueira). Os principais centros de comercialização de flores e plantas ornamentais no Brasil estão em São Paulo, como o mercado permanente de flores e plantas ornamentais da Ceasa Campinas, o mercado de flores e plantas da Ceagesp – entreposto terminal de São Paulo e a cooperativa Veiling Holambra‐SP (SEBRAE, 2009) Segundo levantamento realizado pelo Ibraflor, em 2003, das plantas cultivadas, 50,4% são mudas e plantas ornamentais; 28,8% são flores de corte; 13,2% são flores em vaso; 3,1% são folhagem em vaso; 2,6% são folhagem de corte e 1,9% são outros produtos diversos. As flores e folhagens em vaso representam 50% da movimentação, na cadeia produtiva, do faturamento nacional (SEBRAE, 2009). No ano de 2012, o faturamento do setor de flores e plantas ornamentais brasileiro foi de aproximadamente R$ 4,5 bilhões (SEBRAE, 2013). Apesar de sua importância econômica no cenário brasileiro, não há regulamentação específica sobre a utilização de agrotóxicos para a maior parte das espécies de flores e plantas ornamentais (JUNQUEIRA; PEETZ, 2005). Entre os poucos agrotóxicos indicados para a floricultura, a maioria é utilizada em dosagens inadequadas ou não leva em consideração a especificidade do produto, sendo empregados em plantas diversas daquelas para os quais são determinados. Além disso, existem muitas espécies de flores e plantas ornamentais ainda sem registro, fruto de enxertos e desenvolvimento de novas espécies. Por esta razão, grande parte dos produtos utilizados não têm indicação para a floricultura (ALENCAR; ALENCAR; ADISSI, 2008). Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Áreas tratadas com agrotóxicos requerem um período de espera, antes do retorno dos trabalhadores, para continuidade às suas atividades. Os intervalos de reentrada, tempo necessário de espera entre a aplicação de agrotóxicos e o retorno de pessoas na área tratada sem a necessidade de uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPIs (BRASIL, 2002), são indicados nos rótulos dos produtos. No caso da necessidade de ingresso em áreas recém‐tratadas, antes do término do intervalo de reentrada, devem ser tomadas precauções necessárias para evitar que trabalhadores se contaminem, como por exemplo, o uso de EPIs (BRASIL, 2005). No caso das estufas, em se tratando de ambiente fechado, no qual o tempo para a dispersão dos produtos é maior, esses cuidados deveriam ser redobrados. Além dessas questões, no Brasil, há escassez de dados relativos às boas práticas de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), relacionadas ao manuseio de agrotóxicos em estufas. Sob essas condições, além dos trabalhadores responsáveis pela aplicação dos agrotóxicos, que lidam diretamente com o insumo químico, a exposição dos trabalhadores responsáveis pelo trato cultural3 também deve ser observada. A informação e o conhecimento sobre os riscos aos quais estão expostos são de fundamental importância para os trabalhadores rurais, em razão do que, não podem ser negligenciados na gestão de riscos e construção de políticas públicas (MAGALHÃES, 2010). A comunicação de riscos é descrita na literatura como um processo interativo ‐ o diálogo ‐ entre os vários atores sociais (empresas, Governo, trabalhadores), preocupados com questões sobre o risco, no ambiente de trabalho (HEALTH AND SAFETY EXECUTIVE, 2009). Considerando a informação que o trabalhador tem e recebe sobre os riscos, oriundos de sua atividade, constata‐se a importância da comunicação enquanto mediadora de atitudes e do empoderamento do trabalhador no reconhecimento de seus diretos sobre a preservação de sua saúde no ambiente de trabalho. Assim, a comunicação de riscos se apresenta como um importante alicerce às práticas educacionais na área de SST. 3
Ações conjuntas de controle de uma determinada cultura, que incluem atividades como a poda, o monitoramento de pragas,
a adubação, entre outras, que visam seu melhor rendimento, podendo ser efetuadas de forma mecânica ou manual.
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OBJETIVOS Este estudo teve como objetivo principal identificar se a informação conhecida e recebida pelo trabalhador de estufas de flores e plantas ornamentais colabora para a minimização de sua exposição nas atividades diárias de seu trabalho. Sua finalidade é averiguar quais são os elementos necessários para o desenvolvimento de materiais de comunicação de riscos direcionados às necessidades da população estudada. Objetivos específicos: Para o desenvolvimento de materiais de comunicação de riscos, também é necessário: 1) verificar se o trabalhador compreende as informações contidas nos rótulos dos agrotóxicos; 2) identificar os saberes e crenças dos trabalhadores acerca dos riscos em sua atividade de trabalho e as maneiras usadas para se prevenir. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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FUNDAMENTOS TEÓRICOS 3.1 Comunicação e produção de sentido De acordo com Pereira (2005, p.9), “A comunicação pode ser considerada um processo social básico, primário, porque é ela que torna possível a própria vida em sociedade”. O intercâmbio entre os seres humanos se realiza por intermédio da comunicação. A origem do verbo comunicar vem do latim communicare, com o significado de participar, fazer saber, tornar comum. A comunicação, a partir desta observação, é o ato de tornar comum uma informação, a duas ou mais pessoas. A Figura 1 mostra o modelo clássico estrutural da comunicação, citado por Pereira (2005), e também encontrado em diversas publicações sobre o tema (CHALHUB, 2003; WOLF, 2003; SANTOS; CORREIA, 2004; SOUSA, 2006). Emissor
Mensagem
Receptor
Figura 1 Modelo estrutural da comunicação Neste modelo, Emissor é o agente responsável pela mensagem, aquele que a cria. Ele pode ser evidente, numa relação interpessoal ou grupal e pode também encontrar‐se parcialmente oculto, como no exemplo de uma obra literária ou artística, escrita por diversas pessoas. Receptor é o destinatário da mensagem, aquele que a recebe e a interpreta. Podem ser indivíduos e grupos. Identificar o grupo a que se destina uma mensagem (público‐alvo) é de fundamental importância, para a definição das características dessa mensagem e do veículo (TV, jornal, radio, cinema, outdoors, cartazes, folhetos – entre outras), por intermédio do qual ela será melhor transmitida. A Mensagem é toda “peça” de comunicação, que pode se dar por diversas vias: oral‐
auditiva, visual ou sinestésica. Uma palestra, um e‐mail, uma canção, uma peça teatral, um cartaz, uma novela – todas estas, entre outras – são peças de comunicação onde há transmissão. Tecnicamente, a mensagem, ao contrário do que se crê no uso comum da Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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língua, não é o que o emissor pretende comunicar, mas a forma daquilo que é comunicado. A mensagem (um filme cinematográfico, um livro) carrega em si a informação que pretende transmitir. Como complemento da estrutura básica apresentada, tem‐se: Signos: elementos constituintes da mensagem, como palavras, gestos e imagens; Informação: O conteúdo da mensagem, a intenção do emissor. Mensagens podem ser pouco ou muito informativas, de acordo com o seu grau de novidade para o receptor; Sintonia: Conexão psicológica entre emissor e receptor, não relativa à compreensão da mensagem, mas, à atenção que a mensagem é capaz de obter; Código: Linguagem e os sinais (visuais, sonoros, táteis) de determinada cultura. Para compreender uma mensagem é necessário que o receptor conheça o código usado pelo emissor; Retorno, ou feedback: Comunicação bidirecional, quando há interação entre o receptor e o emissor. O retorno possibilita o intercâmbio de informações. Quando não há retorno, a comunicação tende a ser encerrada; Contexto: Toda a comunicação ocorre em determinado local, época e sob circunstâncias específicas, isto é, ocorre num contexto específico. Codificar e decodificar uma mensagem, depende do contexto em que a comunicação se realiza. O significado da mensagem na comunicação poderá ser influenciado pelos contextos interno (a mensagem e seu código) e externo (a situação psicológica, cultural e social na qual a mensagem é compartilhada) (PEREIRA, 2005). O interesse pela comunicação é presente desde a época do filósofo Aristóteles, sendo que o modelo básico estrutural acima apresentado, linear, já se encontrava delineado nos estudos sobre retórica, elaborado pelos sofistas, cujos elementos eram locutor, discurso e ouvinte (TRIGUEIRO, 2001). Sob esta ótica, tradicional, o modelo de comunicação é estático, Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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unilateral. Todavia, os estudos sobre comunicação tiveram vasta evolução, tendo sido necessário romper com esta visão. Harold Lasswell, foi um dos primeiros teóricos da comunicação que contribuiu com uma visão analítica, a partir de uma perspectiva sociológica, considerando o fato da mensagem produzir sensações diferentes em diferentes indivíduos. A partir de seus trabalhos, o receptor passa a ser um objeto de análise, deixando de ser tratado, na área da comunicação, como parte de uma massa uniforme (CARVALHO, 2012). De acordo com Gomes (1997), “emissor e receptor não são indivíduos isolados e abstratos, mas lugares sociais. O indivíduo fala sempre a partir de interesses materiais e simbólicos de sua classe.”(p. 110). O processo da comunicação é interativo, cria uma inter‐relação de significados, a partir da troca de conceitos e espaços individuais. Quando o intercâmbio de ideias e experiências é aceito entre os interlocutores, cria‐se um espaço comum entre eles (GOMES, 1997). Como forma de sintetizar as ideias sobre a comunicação e seu papel para a área de Segurança e Saúde no Trabalho, destaca‐se a citação de Freire (1983): “A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados”. Martín‐Barbero (1997), discute a mediação na comunicação, que é precisamente sua conexão, aquilo que a transforma em algo novo, o processo que produz uma nova significação. De acordo com o autor, mediações podem advir dos meios de comunicação; dos próprios indivíduos e de seu espaço de convivência, a cotidianidade do sujeito. Assim, se pode inferir que, se o meio ambiente (espaço da cotidianidade do indivíduo) pode ser um produtor de sentido, é imprescindível observar, na esfera da comunicação, o contexto em que este sujeito‐trabalhador se insere, daí a importância de pesquisas que busquem conhecer a sua Voz, sua identidade e a forma como ele ressignifica o mundo. Assim, estudos discutem (MOREIRA et al., 2002; PERES, 2003; PERES; ROZEMBERG; LUCCA, 2005; WAICHMAN; EVE; NINA, 2006; BANDA; SICHILONGO, 2006; YAMASHITA, 2008; Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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GRÉGOLIS, 2009; BELO, 2009; MAGALHÃES, 2010). a forma mais adequada para a comunicação no âmbito rural, levando em conta seu contexto específico. Na maior parte das pesquisas publicadas acerca da comunicação de riscos no setor agrícola, evidencia‐se grande distância entre o contexto dos emissores, em geral técnicos e pesquisadores que pretendem gerar ações de melhoria na saúde e segurança desses trabalhadores; do contexto dos receptores, os trabalhadores da agricultura, o que leva à discrepância na compreensão da mensagem pelo público‐alvo. De acordo com Bordenave (1988), a necessidade de distinção entre comunicação rural e urbana se deve a uma série de fatores. A agricultura é uma atividade de natureza complexa, que necessita de um modelo de comunicação específico, voltado ao fluxo de informações entre a população rural, o Estado, as indústrias de agrotóxicos e as empresas voltadas ao agronegócio. Em seu sistema produtivo participam insumos, processos de transformação e produtos, sob o controle do homem; além de fatores não controláveis pelo agricultor, como por exemplo, o clima e as pragas. Assim, o autor comenta que os sistemas produtivos são diferentes para cada agricultor, pois os fatores disponíveis podem ser combinados de maneira diversa por eles. Destaca‐se, nesta questão, a importância da tomada de decisões na agricultura, que se baseia no querer, no saber e no poder – três fatores diretamente relacionados à comunicação. Nos estudos encontrados, destacam‐se, nos dias de hoje, a dificuldade de acesso à informações sobre o trabalho agrícola e sobre os fatores de segurança e saúde no uso de agrotóxicos e o baixo nível de escolaridade, como determinantes de diferenciação, em questões relativas à comunicação para a população agrícola (MOREIRA et al., 2002; PERES, 2003; PERES; ROZEMBERG; LUCCA, 2005; WAICHMAN; EVE; NINA, 2006; BANDA; SICHILONGO, 2006; YAMASHITA, 2008; GRÉGOLIS, 2009; BELO, 2009; MAGALHÃES, 2010). Conforme diz Rotundo (2007), O nível sócio‐cultural do trabalho rural no país, por si só, já é um fator de risco ao uso de pesticidas, que exigem um mínimo de conhecimento técnico para compreender as instruções de uso. (p.23) Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Apesar do destaque para o trabalhador rural, que é o público‐alvo deste trabalho de pesquisa, a compreensão das instruções para o uso e para os cuidados no uso dos agrotóxicos, não é somente inacessível a este trabalhador. Verifica‐se, pelos termos empregados em bulas e rótulos dos agrotóxicos, que a linguagem é inacessível para a maioria da população. De acordo com Rangel‐S (2007), as profundas desigualdades da sociedade brasileira resultam num processo assimétrico de comunicação, o que pode trazer limites à própria compreensão do que é informado. Belo (2009), destaca a indústria e o comércio como responsáveis por até 80% da informação recebida sobre agrotóxicos, pelos trabalhadores rurais – o que caracteriza um modelo de informação voltado aos interesses comerciais. A importância da informação é garantir o entendimento, por parte dos agricultores, de todas as fases que envolvam seu processo de trabalho com o uso de agrotóxicos, sendo a comunicação de riscos uma ferramenta relevante para o gerenciamento de riscos da área rural (BELO, 2009). A comunicação de riscos é uma área de intervenção no campo da saúde pública e meio ambiente, que se utiliza de múltiplas metodologias, com o objetivo de mitigar riscos, responder dúvidas de grupos envolvidos e dirimir barreiras na comunicação, visando sua maior eficácia (BELO, 2009). Como uma das etapas no gerenciamento de riscos e boas práticas de SST, esta “tecnologia para o controle de riscos e promoção da saúde e segurança”(RANGEL‐S, 2007, p.1375) visa compreender o contexto sociocultural do trabalhador para, no intuito de agregar informações ao seu conhecimento e experiência, fazê‐lo de maneira clara e compreensível. Em sua origem, a teoria da Comunicação de Riscos se apresentou como uma maneira de informar riscos à populações e comunidades expostas, tendo como exemplos os casos de acidentes famosos: Sevezo – Itália (1976), México (1984), Vila Socó – Cubatão (1984), Bhopal – Índia (1984), entre muitos outros. De acordo com Rangel‐S (2007), nesse modelo surgido na Europa e Estados Unidos, as empresas não garantiam a participação pública nas discussões sobre o risco, ignorando seus valores e crenças. Essa postura unilateral e elitista Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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acarretou em perda de credibilidade e declínio das instituições responsáveis pela comunicação do risco. Em decorrência desse quadro, buscou‐se um caminho alternativo, com entrevistas em estudos etnográficos a fim de “conhecer os processos de seleção e aceitação dos riscos que as pessoas fazem”(RANGEL‐S, 2007, p.1380). Atualmente, a comunicação de risco se insere nas análises de risco como um meio de proteger a população e promover seus interesses sanitários e ambientais, tendo como objetivo apropriar a sociedade de informações que lhe permitam realizar de forma mais consciente suas escolhas (LUCCHESE, 2001). O relatório RR700 – Understanding and influencing farmers’ atitudes (HEALTH AND SAFETY EXECUTIVE, 2009), destaca as dificuldades e desafios na construção de uma comunicação de riscos efetiva, além de descrever algumas necessidades para que isso ocorra. Dificuldades e desafios da comunicação de riscos:  Desenvolver mensagens acuradas e compreensíveis, integrando o contexto da comunicação, da vivência, da compreensão e dos valores do público‐alvo;  Construir uma relação de confiança pela instituição/área fonte das informações, que deve transmitir valores tais como: imparcialidade, competência, objetividade, consistência e empatia. Necessidades da comunicação de riscos:  A comunicação deve ocorrer, tanto na transmissão do conhecimento científico pelo especialista ao público, quanto na incorporação dos saberes e vivência do público a quem se quer informar;  Inserir a informação em seu contexto, construir uma comunicação de riscos que incorpore a forma como o risco é percebido pelo público‐alvo;  Desenvolver políticas públicas de gestão participativa na tomada de decisões sobre os riscos. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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De acordo com Weyman e Kelly (1999), a comunicação de riscos deve conciliar aos conceitos do público‐alvo os conceitos científicos, como forma de traduzir o material técnico, que em geral se apresenta com linguagem abstrata e nem sempre inteligível, em uma linguagem mais concreta e compreensível pela população. Os autores sugerem que as discrepâncias entre os pensamentos científico e do senso comum podem servir como guias na elaboração da comunicação de riscos. Para uma comunicação efetiva sobre riscos, é necessária a troca de informações entre público e comunidade científica. Vari (2004) considera que a comunicação de riscos não deva se apresentar como uma linha de mensagens de única via, mas, como um processo interativo de troca de informações entre indivíduos, grupos e instituições. O autor reitera a importância da comunicação de riscos em ações de controle e gerenciamento de riscos, que pode, por intermédio da informação, auxiliar os trabalhadores em suas atividades, munindo‐
os de subsídios que propiciem a exigência de seus direitos de segurança no ambiente de trabalho, bem como capacitá‐los sobre cuidados relativos à saúde. Alguns dos problemas inerentes à comunicação de risco são também destacados por Rowan4 (1996, apud Rangel‐S, 2007):  Há um alto nível de analfabetismo científico, não sendo usual o hábito de leitura de publicações sobre ciência, pela população;  Os estudos científicos são complexos, usam jargões e em pouquíssimas situações respondem diretamente à questão “isto é seguro?”;  Cientistas e tomadores de decisão não concordam em questões sobre riscos, quanto à sua caracterização, categorização e priorização de ações reguladoras;  Comerciantes de produtos sob investigação dão respostas públicas geralmente confusas e enganosas. O autor comenta que a comunicação de risco tem mais chances de sucesso quando o público, ao invés de manipulado, é empoderado. 4
Rowan F. The High Stakes of Risk Communication. Preventive Medicine; n. 25 p.26-29, 1996.
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Informação é um meio de empoderamento. Em atenção à sua importância, cabe ressaltar que as crises dos regimes autoritários, assim como os movimentos sociais, elevaram a comunicação e informação a um patamar de direito adquirido (RAMOS, 2005). Considerando o quadro de desigualdades sociais e a assimetria na comunicação, compreende‐se que um trabalho voltado à comunicação dos riscos à população de trabalhadores deveria promover a democratização das informações e um grau de empoderamento ao sujeito, no que se refere à qualidade de seu conhecimento e à possibilidade de uma melhor avaliação acerca de seu contexto pessoal e profissional (RIGOTTO et al., 2012). Em relação ao uso de agrotóxicos, a comunicação sobre riscos não deve se ater somente à explicação de dados técnicos. Segundo Belo (2009), esta comunicação visa propiciar conhecimento sobre o potencial de danos à saúde e ao meio ambiente, agregando‐se à experiência do trabalhador, diante de sua atividade profissional. A comunicação sobre riscos em relação ao manuseio de agrotóxicos é um dos fatores determinantes na contaminação humana, sendo a análise do processo de comunicação uma das etapas importantes nos estudos de avaliação integrada de contaminação por agrotóxicos (MOREIRA et al., 2002). Em muitos casos, especialmente nos locais em que há grande distância dos centros urbanos, o processo de comunicação de riscos na área agrícola, fica restrito à leitura dos rótulos e das bulas dos agrotóxicos – que passa, por esta razão, a ser a única fonte de informação acessível (WAICHMAN; EVE; NINA, 2006; FONSECA et al., 2007; ROTHER, 2008; BELO, 2009). A região avaliada neste estudo, não está a grande distância do principal centro urbano do país, a cidade de São Paulo. Entretanto, em acordo com Ribeiro et al. (2012), semelhante às outras regiões do país, as fontes de informação sobre agrotóxicos são restritas à comunidade local, associação, vendedores, rótulos e cursos, ministrados apenas para a parcela de trabalhadores responsáveis pela pulverização. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Belo e Peres (2011) destacam o fato do papel central que as informações contidas em rótulos e bulas têm no processo de comunicação rural, dada a fragilidade da assistência técnica e da educação rural brasileiras, ressaltando o dado de que a maioria das informações disponíveis sobre segurança e saúde no trabalho, sobre agrotóxicos, são fornecidas pela indústria e pelo comércio. Os rótulos dos agrotóxicos, além de instruções sobre uso, contêm pictogramas, elementos de desenho esquemático feitos para atrair a atenção, melhorar a compreensão dos avisos de alerta, principalmente para indivíduos com baixa ou nenhuma capacidade de leitura e para aumentar a consciência da periculosidade do produto, além de serem culturalmente “neutros”, passíveis de compreensão em diversas culturas (EDWORTHY e ADAMS5, 1996 apud ROTHER, 2008). A função dos pictogramas é abreviar nomes, objetos e comunicações, que passam a ser mais facilmente notados por símbolos de rápida visualização e fixação (UNITED NATIONS, 2011). Porém, inversamente ao que se propõem, algumas vezes os pictogramas tornam‐se elementos de difícil compreensão, que provocam erros em sua leitura, devido à má elaboração em seu planejamento conceitual e de projeto gráfico (design) (MARANGONI, 2005). Por fim, cabe ressaltar que a comunicação de riscos, em sua tarefa de disseminar informação, pode contribuir para a mudança e para melhoria no quadro de promoção à segurança e à saúde nos locais de trabalho, como parte do gerenciamento de riscos. 3.2 Agrotóxicos O uso abusivo de insumos químicos durante todas as fases do processo produtivo é uma prática bastante comum no cultivo de flores e plantas ornamentais (FONSECA et al., 2007). Por não se tratarem de produtos comestíveis, não existem controles semelhantes aos estabelecidos pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), da AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Anvisa), [2008?]. Apesar de existirem diversos insumos químicos para o controle de pragas no mercado brasileiro, poucos são os recomendados especificamente para floricultura. 5
EDWORTHY, J.; ADAMS, A. Warning Design: A Research Perspective. Taylor & francis, London, 1996.
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Cabe ressaltar que todas as fases do processo de trabalho em estufas de flores são manuais – como a fertilização, o transplante, a pulverização, o corte e a embalagem das flores e plantas. O contato com as plantas, os utensílios e as bases de apoio pulverizadas levam à absorção dos agrotóxicos por via dérmica (VEIGA, 2007). Um outro problema observado por Ribeiro et al. (2012), em relação ao uso de agrotóxicos, é o manuseio inadequado dos produtos pelo profissional responsável pelo preparo de calda6 e pela pulverização. A maioria dos trabalhadores rurais não conhece detalhadamente os efeitos nocivos dos agrotóxicos à saúde e ao meio ambiente. Em consequência, eles não usam, ou usam inadequadamente, os Equipamentos de Proteção Individual e por desconhecimento, não respeitam o intervalo de reentrada (BRASIL, 2005), isto é, o período após a aplicação dos agrotóxicos em que é vedada a entrada de pessoas sem uso de EPI adequado, retornando às atividades sem usar proteção (LONDRES, 2011). Conforme anteriormente descrito, 26% do cultivo brasileiro de flores e ornamentais é realizado em estufas. Além disso, 85% das plantas envasadas, especialidade da região focada neste estudo, são produzidas em estufas, no Estado de São Paulo. Esse tipo de ambiente é menos ventilado, aumentando as chances de exposição dos trabalhadores após a pulverização. Vários estudos sobre ocorrência de resíduos em hortaliças nas culturas de campo aberto são conhecidos. Por outro lado, são raros os estudos tanto a respeito da persistência desses resíduos em culturas protegidas, acerca do nível de contaminação dos trabalhadores que realizam o trato cultural destes locais (TREVIZAN, 2002; ROTUNDO, 2007). O termo agrotóxico é uma das diversas denominações utilizadas para tratar o grupo de insumos químicos destinados ao controle de pragas na agricultura. Termos como defensivos agrícolas, praguicidas, pesticidas, veneno e remédio, entre outros, são encontrados em textos e no dia‐a‐dia da atividade agrícola. 6
Mistura e diluição do agrotóxico em água, nas proporções indicadas pelo fabricante do produto, a fim de prepará-lo para
utilização na cultura.
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De acordo com Guivant (2000), os termos usados para definir o produto utilizado implicam em um posicionamento acerca do mesmo. Assim, por exemplo, o uso da palavra veneno mostra um conceito crítico sobre o produto, bem como o termo remédio mostra um posicionamento mais ameno. Sua definição oficial, de acordo com a Lei Federal 7.802, de 11/07/1989 (BRASIL, 1989), regulamentada pelo Decreto no 4.074/2002 (BRASIL, 2002) é: I ‐ agrotóxicos e afins: a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá‐las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento (BRASIL, 1989) De acordo com o histórico da legislação brasileira, termos diferentes foram substituindo os anteriormente adotados, à medida em que incorporavam novas informações à definição da função desses insumos químicos. Conforme citado por Magalhães (2010), em 1934, o Decreto no 24.114/1934 utilizava as palavras fungicida e inseticida, vindo a ser substituído, em 1974, pela Resolução CNNPA no 12/1974 pelo termo pesticida, como denominação genérica para os produtos e, em 1989, pelo termo agrotóxico, conforme descrito acima. Esta denominação foi considerada uma vitória sobre os interesses da indústria de agrotóxicos, para a qual o termo defensivo agrícola era mais adequado, por ser um termo mais ameno e vendável. Ainda segundo Magalhães (2010), a palavra agrotóxico é considerada mais abrangente, em sua ação essencial, que é a de ser uma substância agrícola com o objetivo de envenenar, considerando o radical da palavra. O termo agro vem do latim agru, que significa terra cultivada ou campo (AGRO, 2004) e o termo tóxico vem do grego toxikón, que significa ter propriedade de envenenar (TÓXICO, 2004). Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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O consumo de agrotóxicos se associa às questões de saúde do trabalhador, como parte integrante do sistema de produção, na atividade agrícola. O contato e uso diário desses compostos químicos tem como consequência evidente impacto ambiental e à saúde do trabalhador em agricultura, no Brasil (MOREIRA et al., 2002). Os agrotóxicos podem ser classificados pelo modo de uso, de acordo com sua função e com o tipo de praga a ser controlada, como inseticidas, fungicidas ou herbicidas. Os inseticidas têm como função combater insetos, larvas e formigas. Fungicidas, conforme identificado pelo nome, são utilizados para combater fungos. Os herbicidas combatem ervas daninhas. Além destes, diversos outros grupos de agrotóxicos são encontrados, como os raticidas, para combate aos roedores; os acaricidas, quem combatem ácaros; formicidas, contra formigas, entre outros (MAGALHÃES, 2010). Esses produtos são também classificados segundo o grupo químico ao qual pertencem, como organofosforados, organoclorados, carbamatos, piretróides, ácidos amídicos, triazinas, ureias e outros. No Brasil, a classificação toxicológica dos agrotóxicos está descrita na Lei 7.802 – Lei dos Agrotóxicos (BRASIL, 1989), regulamentada pelo Decreto 4.074 de 04 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002), o Brasil passou a alinhar‐se às exigências de qualidade para produtos agrícolas em âmbitos nacional e internacional. A classificação dos produtos agrotóxicos é apresentada no parágrafo único do Art. 2º, de acordo com a toxicidade em: I ‐ extremamente tóxico (faixa vermelha); classe II ‐ altamente tóxica (faixa amarela); classe III ‐ medianamente tóxica (faixa azul) e classe IV ‐ pouco tóxica (faixa verde). Em relação ao grau de toxicidade, a legislação determina que os rótulos dos agrotóxicos contenham uma faixa colorida, a fim de identificar o grau de periculosidade, conforme mostrado no Quadro 1, a seguir. Quadro 1 Cores, segundo a classificação toxicológica dos agrotóxicos Grupos
Classes
Cor do rótulo
Extremamente tóxicos
I
Faixa de identificação vermelha
Altamente tóxicos
II
Faixa de identificação amarela
Medianamente tóxicos
III
Faixa de identificação azul
Pouco tóxicos
IV
Faixa de identificação verde
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De acordo com as informações fornecidas pela Associação dos Floricultores da Região da Via Dutra – Aflord (2012b), entidade que reúne os principais produtores da região estudada, os agrotóxicos mais utilizados nas estufas de flores e plantas ornamentais da região, são, conforme descritos no Quadro 2: Quadro 2 Principais agrotóxicos utilizados pelos produtores de flores e plantas ornamentais do polo da Região da Dutra Agrotóxico
Classificação toxicológica
Nome commercial
Classe IV
Orthene (organofosforado), Confidor (piretroide)
Classe III
Saurus, Vertimec (acaricida), Provado, Applaud,
Inseticidas
Pirate (acaricida), Actara
Classe II
Supracid (organofosforado)
Classe I
Tiger, Lannate
Classe IV
Previcur, Monceren PM, Cercobin 700 WP, Amistar
WG
Fungicidas
Classe III
Classe I
Ridomil gold, Ridomil MZ, Rovral, Amistar TOP,
Rubigan
Dithane, Manzate, Ridomil GOLD, Ridomil Bravo,
Daconil, Captan, Bravonil, Score, Orthocide 500
Os agrotóxicos são absorvidos pelo organismo pelas vias oral, respiratória e dérmica. Na intoxicação ocupacional, a via de intoxicação mais comum é a dérmica, da qual decorre um maior número de intoxicações crônicas, dadas as características da exposição (CALDAS, 2000). A maior parte dos trabalhadores ainda vincula o problema de intoxicação ao cheiro, considerando somente a exposição por via respiratória, embora a intoxicação pela pele seja a mais importante em termos de contaminação (RANGEL, 1993; FONSECA et al., 2007; SILVA et al., 2012). Os graus de intoxicação por agrotóxicos, conforme descritos na literatura, são classificados em leve, moderado e grave. De acordo com Trapé (1994), os agrotóxicos podem determinar efeitos sobre a saúde humana de acordo com a forma e o tempo de exposição, além do grau de toxicidade do produto ao qual o trabalhador se expõe. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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A intoxicação aguda, em geral, se dá em exposições de alta dosagem a curto prazo, enquanto a intoxicação crônica se dá em exposições de dosagens menores ao longo de meses e anos – com efeitos adversos e muitas vezes irreversíveis (TRAPÉ, 1994). Existem três principais vias de contaminação por agrotóxicos: a ocupacional, a ambiental e a alimentar. A via ocupacional se caracteriza pela contaminação do trabalhador rural, nas diversas etapas de trabalho e se dá no processo de formulação (mistura e/ou diluição dos agrotóxicos, chamada de “preparo de calda”); na pulverização; na “puxada” de mangueiras (que auxiliam o processo de pulverização); no armazenamento dos produtos; no descarte de resíduos e das embalagens e na colheita. Mais de 80% dos casos de contaminação por agrotóxicos ocorre pela via ocupacional (MOREIRA et al., 2002). Em geral, quadros de exposição a agrotóxicos por via oral, estão relacionados a tentativas de suicídio e muitas vezes essa ação é consequência da própria intoxicação, uma vez que distúrbios cognitivos e neurocomportamentais também estão relacionados ao quadro de intoxicação (CARNEIRO, F. F. et al., 2012). A contaminação ambiental se dá pela dispersão do agrotóxico no meio ambiente, por diversas vias. Há acúmulo na biota, contaminando peixes e crustáceos, além dos lençóis freáticos, pela migração de resíduos, com potencial extremamente poluente; há a contaminação atmosférica, pela dispersão das partículas e há a contaminação do solo, pela deposição destas mesmas partículas (Soares; Porto, 2007). Sua expressão em termos de intoxicação também é importante, principalmente ao se considerar a população que vive no entorno das propriedades rurais, porém, é menos incidente que a via ocupacional. Por fim, há a contaminação pela via alimentar, amplamente divulgada e conhecida, que se caracteriza pela ingestão do alimento contaminado. Neste estudo, o foco está na via ocupacional, que é a maior fonte de intoxicações por agrotóxicos no país. A Figura 2 representa esquematicamente as principais vias responsáveis pela contaminação por agrotóxicos, considerando também fatores de redução e de amplificação do seu impacto: Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Figura 2 Representação esquemática das principais fontes de impacto da contaminação humana por agrotóxicos Adaptado de: MOREIRA et al., 2002 Fatores de ordem cultural, econômica e social, bem como a comunicação podem ser determinantes da amplificação e/ou da redução da contaminação (MOREIRA et al., 2002). 3.3
Risco O conceito de risco vem sendo tratado sob diversas abordagens, por várias áreas do saber. Embora não haja uma delimitação quanto à definição que lhe é atribuída, os aspectos subjetivos do risco, tais como os fatores humanos e sociais, têm sido, cada vez mais, destacados por sua relevância e complementariedade aos aspectos objetivos do risco, como suas probabilidades e consequências (GUIVANT, 1998; HEALTH AND SAFETY EXECUTIVE, 2009). Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Peres (2003) discrimina o risco como uma forma pela qual se identifica o perigo, representando o modo como um indivíduo ou uma população reconhecem uma ameaça determinada à sua constituição física, bem como ao seu ambiente. Magalhães (2010), afirma que ambos os conceitos – de risco e perigo – muitas vezes são usados como sinônimos, representando um evento que pode ocasionar algum tipo de dano, gerando confusão quanto às suas definições. Perigo é definido como a fonte potencial de dano, enquanto risco é um valor estimado, que considera tanto a probabilidade de ocorrência quanto a gravidade do dano em um dado evento ou exposição. Slovic (2010), afirma que o risco não existe de forma independente, fora da mente ou da cultura humanas, uma vez que o conceito de risco foi inventado pelo ser humano para ajudá‐lo a compreender e lidar com os perigos e as incertezas da vida. Sua observação e medição só podem se dar dentro de um contexto determinado. Adams (2009), infere que “risco” é uma palavra que se refere ao futuro, não tendo, portanto, existência objetiva. Há riscos para os quais a ciência oferece orientações úteis, como previsões. Ainda que sejam baseadas em medições e estatísticas, estas previsões não são o fato em si. Riscos são condicionais. O autor destaca as diferenças e limites entre o que é chamado de risco e o que é chamado de incerteza, diferenças consideradas nebulosas e não claramente definidas. De acordo com a Figura 3, a incerteza se insere no círculo classificado como “risco virtual”:
Por exemplo, o vibrião do cólera: é necessário um microscópio para enxergá‐lo e treinamento científico para compreendê‐lo. Percebido pela ciência Por exemplo, subir em árvores, andar de bicicleta, dirigir automóveis. Percebido diretamente Risco virtual (incerteza) Cientistas não sabem, ou não conseguem entrar em acordo, como no caso do aquecimento Global, tabagismo passivo, radiação de celulares, entre outros. Figura 3 Esferas dos Riscos (Adams, 2009) Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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A partir desta imagem, observa‐se que o círculo “percebido pela ciência” abrange o conhecimento acadêmico atual, que é disseminado com base em dados de pesquisa, verificáveis – enquanto os riscos “percebidos diretamente” são gerenciados pelo julgamento pessoal, sem análises probabilísticas. Em relação ao círculo de “riscos virtuais”, são questões sujeitas a debates, baseados em crenças, opiniões e incertezas ‐ tanto dos chamados especialistas como do público leigo. Em uma interessante discussão sobre o risco, Rangel‐S (2007), comenta: “Os autores convergem na constatação de que há múltiplas racionalidades em torno do risco, gerando por vezes conflitos, especialmente na relação entre cientistas/peritos e leigos”. A autora destaca a tendência encontrada na literatura de, num embate entre a visão dos especialistas e dos não especialistas, sinalizar como mais adequada a visão dos primeiros, em detrimento ao conhecimento dos segundos; posição dissonante da proposição de uma construção do conhecimento, uma vez que a racionalidade do trabalhador e sua experiência em relação ao risco traz informações e visões de mundo necessárias para a geração de processos de trabalho mais adequados. Também há, na literatura, diversos autores que defendem a relevância de considerar ambas as visões, a fim de aplicar, de maneira integrada, o conhecimento dos riscos na proteção da saúde (GUIVANT, 2000; BERNARDO, 2002; GOMIDE, 2005; CARDONA, 2004; RANGEL‐S, 2007; BELO, 2009). A multiplicidade de abordagens teóricas sobre os riscos e os diversos temas de investigação das ciências sociais sobre ele, uma vez entrecruzados, refletem a pluralidade e a complexidade do seu objeto: o homem e sua realidade social, em constante transformação (FREITAS; GOMEZ, 1997). Dentre as diversas conceituações de risco, a afirmação de que “os cientistas determinam riscos enquanto populações os percebem” (BECK7, 1992 apud RANGEL‐S, 2007, p.1377), será aqui destacada como um chamamento para a importância do diálogo reflexivo que deve 7
Beck U. Risk Society: Toward a New Modernity. (Theory, Culture and Society Series). London: Thousand Oaks; New Delhi:
Sage Publication; 1992.
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permear o desenvolvimento de materiais de comunicação de riscos, conforme definido pelos idealizadores da comunicação de riscos. Na área de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), de maneira geral, estudos com foco qualitativo, que visam compreender e caracterizar a exposição e a consequente intoxicação do trabalhador por agrotóxicos, usa como base a teoria da percepção de riscos. A percepção de riscos considera as motivações e as crenças do trabalhador, que, juntamente com sua experiência, informação e contexto culturais, contribuem para fomentar suas atitudes frente ao risco ao qual estão expostos em função da organização do trabalho. Além de atrelar crenças e experiências anteriores, a percepção do risco também é mediada pela cultura, contexto social e informação. Assim, considera‐se que, uma decisão tomada com base nas instruções contidas em materiais de comunicação, será afetada pela percepção que o indivíduo tem, a partir de sua construção cultural (BELO, 2009). Se a informação é um dos fatores de mediação da percepção e, uma vez que a comunicação é um processo produtor de significações (MARTÍN‐BARBERO, 1997) é possível que a percepção deste indivíduo seja por sua vez, modificada, a partir da informação que ele recebe. A percepção de riscos tem se destacado pelo interesse de diversas áreas de conhecimento, as quais estudam‐na a fim de caracterizar e avaliar atividades e tecnologias perigosas para os seres humanos. A percepção do risco está intimamente relacionada com a visão de mundo do indivíduo, numa relação complexa entre as características do perigo e sua filosofia pessoal, acrescidas de seu conhecimento teórico‐prático (ROHRMANN, 2008). A percepção também se refere ao processamento dos estímulos recebidos pelo cérebro, resultando em uma representação interna do mundo a partir destes estímulos (GAZZANIGA; HEARTHERTON, 2005). Considerando esta colocação, a afirmação que apenas os não estudiosos do risco têm percepção distorcida fica invalidada, uma vez que, de acordo com os autores, é inerente ao ser humano interpretar, para reconhecer aquilo que seu sistema sensorial percebe. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Slovic (2010), considera que, mesmo as estimativas dos especialistas, baseadas em estudos probabilísticos e de relações dose‐resposta, são fundamentadas em modelos teóricos cuja estrutura é subjetiva e carregada de hipóteses, dependentes de julgamento e escolhas destes profissionais, durante o processo de análise. As propriedades do risco, tratadas como “características” da avaliação do risco, se referem à percepção do indivíduo frente a um determinado risco e, em geral tem contrapontos positivo‐negativo. Elas são descritas como medo ou confiança, voluntariedade ou involuntariedade, conhecimento ou desconhecimento, familiaridade ou distanciamento, controle ou subjugação e natural, ou provocado pelo homem (HEALTH AND SAFETY EXECUTIVE, 2009). Os riscos podem ser considerados aceitáveis, negligenciáveis, toleráveis ou inaceitáveis, como formas de sua aceitação ou rejeição. Há um grande número de fatores que influenciam na decisão do indivíduo em tolerar ou rejeitar um risco. Sua aceitação e sua percepção são motivadas pela experiência e vivência práticas, por sua cultura, pelas convenções sociais, por sua idade e sexo, bem como por seu conhecimento técnico‐
científico a respeito dos efeitos e consequências de uma determinada atividade e exposição (MAGALHÃES, 2010). As decisões dos indivíduos sobre a aceitabilidade dos riscos se dão, de maneira geral, a partir de escolhas que definem o futuro, não sendo diretamente deduzidas de dados probabilísticos. Na seleção de riscos, nem sempre a evidência científica tem papel esclarecedor. A escolha responde a fatores culturais e sociais e não a fatores naturais. Uma vez que, mesmo cientificamente, não é possível conhecer tudo sobre os riscos, não há como garantir que os riscos evitados pelas pessoas em geral, sejam aqueles que necessariamente provocam mais danos (DOUGLAS; WILDAVSKY8, 1982 apud GUIVANT, 1998). A contribuição das ciências sociais na investigação dos processos de trabalho e saúde apontam para a necessidade de incorporar o conhecimento dos trabalhadores no gerenciamento de riscos, como forma de melhoria das análises de gerenciamento de riscos, 8
DOUGLAS, M.; e WILDASKY, A.. Risk and culture. An essay on the selection of technical and environmental dangers.
Berkeley, CA: University of California Press, 1982..
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adequando seus critérios de aceitabilidade, substituindo as atuais relações de poder pela legitimidade participativa nos processos decisórios. Os danos associados ao processo de produção e o risco enquanto conceito, são produtos de relações sociais historicamente construídas, implicando, para a compreensão de sua complexidade, a participação das diversas áreas de especialização das ciências sociais (FREITAS; GOMEZ, 1997). No contexto da exposição aos agrotóxicos, Magalhães (2010), ressalta a importância de incorporar informações às ponderações feitas pelos trabalhadores, fato que pode influenciar diretamente em suas decisões. De acordo com a autora, “o agricultor decide com os elementos que dispõe”(p. 39). Assim, comenta: Todas as informações e orientações recebidas constituem apenas elementos secundários que serão reelaborados e submetidos a uma lógica técnica e prática que orienta as decisões... parâmetros que, com frequência são distintos das referências racionais para uso de agrotóxicos (Magalhães, 2010, p. 39. Grifo meu) De acordo com Peres (2003), assim como cada indivíduo constrói sua percepção de risco a partir de seus valores, crenças e visões de mundo, deve‐se considerar que grupos populacionais específicos apresentem padrões semelhantes de percepção, advindos de convivência e experimentação comuns. Neste estudo, diversos aspectos tratados na percepção de risco e discutidos em outras teorias sobre relações de trabalho, foram utilizados como um aporte, uma vez que, nos trabalhos de campo, pôde‐se reconhecer evidências coincidentes com achados na literatura (SLOVIC, 1987; DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1993; VARI, 2004; CARDONA, 2004; MARANDOLA JR.; HOGAN, 2004; PERES; ROZEMBERG; LUCCA, 2005; VEIGA, 2007; ARAÚJO et. Al., 2007; FONSECA et al., 2007; ROHRMANN, 2008; GREGOLIS, 2009; MAGALHÃES, 2010). Como parte de um trabalho amplo de gestão de riscos, a comunicação de riscos se insere no contexto da informação ao trabalhador. Conhecer os saberes dessa população é base fundamental para o desenvolvimento de uma comunicação adequada, uma vez que a compreensão da comunicação se deve a um ser social, a fim de retratar os valores do grupo. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Em acordo com o que diz Yamashita (2008): “[...] os trabalhadores rurais têm uma cultura própria... necessitando, portanto, de uma comunicação direcionada a ele, que considere... sua cultura, seus saberes.”(p. 22). Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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METODOLOGIA Este estudo foi desenvolvido com base na abordagem qualitativa de pesquisa, de maneira a colher informações que pudessem subsidiar a avaliação do conhecimento dos trabalhadores sobre os riscos a que estão expostos, no contexto do trabalho em estufas de flores e plantas ornamentais. A abordagem qualitativa possibilita o entendimento e interpretação de questões subjetivas, pela perspectiva dos participantes da situação estudada. De acordo com Minayo (2010): O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. (p. 57)
Como estudo interpretativo, de base fenomenológica, os significados são construídos na interação social, o que propicia a composição de novas abordagens, a revisão e a criação de conceitos e categorias (MINAYO, 2010). Assim, procurou‐se ampliar o olhar daquilo que foi visto, buscando seu sentido. 4.1 O polo produtor da região da Dutra Este estudo “Elementos para o desenvolvimento de materiais de comunicação de riscos” foi desenvolvido como uma das etapas do projeto “Exposição Ocupacional a Pesticidas: o trabalho em estufas de flores”, iniciado na Fundacentro, em 2007. Desde então, o projeto reuniu informações sobre o processo de trabalho, sobre as práticas de segurança e higiene ocupacional existentes e sobre as possíveis fontes de exposição a agrotóxicos, nos polos produtores de flores e plantas ornamentais da Região do Alto Tietê, no Estado de São Paulo, do qual faz parte o polo da região da Dutra (RIBEIRO et al., 2012). Por se tratar de continuidade de projeto já existente, o contato anterior com os produtores de flores facilitou a aproximação e o agendamento das visitas para a realização do presente estudo. As empresas do polo da região da Dutra estão reunidas por intermédio da Associação dos Floricultores da Região da Rodovia Dutra (Aflord), que conta atualmente com 70 membros Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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associados, compostos principalmente por imigrantes de origem japonesa e seus descendentes. Os associados compõem 62 áreas produtivas de pequeno e médio porte, distribuídos em 4 principais regiões:  Arujá (abrangendo os municípios de Guarulhos, Arujá e Itaquaquecetuba);  Itapeti (abrangendo os municípios de Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim e Santa Isabel);  Cereja (abrangendo os municípios de Guararema);  Jacareí (abrangendo os municípios de Jacareí, São José dos Campos e Taubaté). A produção de plantas em vaso para interiores, é a especialidade dessa região. As flores e folhagens, são produzidas em estufas e comercializadas nos próprios vasos onde são cultivadas. Ou seja, toda a planta cultivada é mantida em vasos durante o período de seu pleno desenvolvimento, vegetação, eventuais florescimentos e frutificações (SEBRAE, 2009). 4.2 O processo de trabalho nas estufas Para melhor compreensão da aplicação da metodologia utilizada no desenvolvimento deste estudo, fez‐se necessária a descrição do processo de trabalho nas estufas. O trabalho em estufas de flores e plantas ornamentais, caracteriza‐se por uma rotina sistemática e bastante diversificada de tarefas, a fim de atingir o resultado final desejado: um produto de qualidade e vendável. Essa atividade envolve diversas fases, que vão desde a produção, até a distribuição para os comércios varejista e atacadista. A produção de flores e plantas ornamentais em estufas compreende as atividades de plantio, irrigação, transplante de vasos, adubação, monitoramento de pragas e doenças, e tratamento com agrotóxicos. A Figura 4 mostra um dos tipos de irrigação usado nas estufas visitadas. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Figura 4 Exemplo de sistema de irrigação usada nas estufas visitadas Foto: Paula Peixoto Monteiro, projeto “Exposição Ocupacional a Pesticidas: o trabalho em estufas de flores”/Fundacentro, 2013. Além dos cuidados com as plantas, a produção também abrange as atividades de serviços gerais, como: os cuidados com as estruturas físicas das estufas (montagem e manutenção), a limpeza da estufa (remoção de lixo proveniente das plantas), a manutenção de equipamentos (bombas para pulverização, instalações elétricas, tratores), o transporte de plantas com carrinho, a seleção e embalagem das flores e plantas destinadas à venda e o carregamento e descarregamento de caminhão para entrega nos postos de venda. Essas atividades são realizadas por trabalhadores denominados ajudantes. Grande parte das mudas são produzidas por estaquia ‐ plantio de um ramo ou folha da planta, para enraizamento e desenvolvimento de uma nova planta (FACHINELLO, 2005) e algumas espécies são produzidas por sementes. Depois de produzidas, as mudas são transplantadas para pequenos vasos, onde se aguarda o seu desenvolvimento, até atingirem as características desejadas, como altura e volume, para o plantio em vasos definitivos. Durante o tempo de espera são realizadas as podas e o controle pragas e doenças, bem como a retirada de plantas invasoras. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Após o transplante, as plantas são levadas para o abrigo de um viveiro com cobertura de tela plástica para sombreamento, como mostrado na Figura 5. Algumas espécies, necessitam de controle de temperatura e da quantidade de luz e/ou ventos. As atividades de cuidados das plantas são realizadas por trabalhadores do trato cultural, aqui referidos como manejadores. Figura 5: Visão geral de uma da estufa Foto: Camila Colasso, projeto “Exposição Ocupacional a Pesticidas: o trabalho em estufas de flores”/Fundacentro, 2011. O controle de pragas e doenças é realizado por meio de técnicas de monitoramento simples, como a observação direta de folhas e flores. Produtos químicos deveriam ser utilizados apenas quando populações destas pragas fossem detectadas, porém, muitas vezes os agrotóxicos são usados como medida preventiva. As tarefas de pulverização, incluem o preparo da calda do agrotóxico e a pulverização propriamente dita, conforme descrito a seguir.  Preparo de calda, realizado por adição direta do produto no tanque de preparo ou por meio de pré‐diluição. Agrotóxicos de formulação líquida são misturados em água, na proporção desejada para sua aplicação sobre as plantas. No caso de agrotóxicos em formulação de pó molhável, dissolve‐se o produto previamente em pequena Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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quantidade de água e depois completa‐se até o volume necessário para sua aplicação, conforme indicado na bula ou rótulo do produto. Nas estufas visitadas, o preparo da calda, usualmente, era realizado em tanques, baldes, caixas d’água ou tambores plásticos reservados para essa finalidade, conforme ilustrado na Figura 6. Figura 6 Exemplo de tambor utilizado para preparo de calda Foto: Glaucia Fernandes, 2013. Pulverização: etapa em que é realizada a aplicação do produto sobre as plantas, utilizando‐
se de equipamentos próprios para este fim (pulverizadores costais ou bomba estacionária – com motor e mangueiras). Nas estufas visitadas, as bombas estacionárias eram as mais utilizadas para a tarefa de pulverização. Esses equipamentos dispersam, sobre as plantas, o produto já diluído em água, em forma de gotículas de tamanhos variados, de acordo com o tipo de bico da mangueira. As atividades de preparo de calda e de pulverização são realizadas por trabalhadores que se auto denominam pulverizadores, sendo aqui definidos como aplicadores. Os produtores (proprietários das estufas) geralmente são os responsáveis pela escolha e aquisição dos insumos agrícolas; pelo controle de qualidade das plantas, pela seleção de produtos (sementes, mudas, flores); pela orientação dos trabalhadores; pelo controle de Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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produção; pela organização do trabalho; pela negociação de venda e por tarefas administrativas propriamente ditas. No dia‐a‐dia de trabalho das estufas as atividades são diversas e se superpõem com uma intensa rotina de trabalho, que se pauta pela produtividade. Dependendo da estrutura organizacional das estufas e da quantidade de funcionários, os produtores trabalham também na área de cultivo. Em algumas das propriedades há um encarregado que executa diversas atividades na produção, dá suporte à área administrativa e faz o papel de colega e capataz, dividindo tarefas com o produtor. Por outro lado, os aplicadores também podem realizar várias tarefas atribuídas aos manejadores. Quando não estão executando a pulverização, esses trabalhadores podem realizar tanto tarefas de cuidado das plantas, como quaisquer outros tipos de serviços gerais. Tanto os manejadores, como uma parte dos trabalhadores de serviços gerais, permanecem dentro da estufa durante todo o dia, realizando tarefas variadas. A partir da descrição do processo produtivo, pode‐se perceber que os aplicadores são os trabalhadores que têm contato direto com o agrotóxico. Os manejadores, por outro lado, geralmente têm contato indireto, ao reentrarem na estufa, quando vão manusear as plantas para a realização de suas atividades, após a aplicação do produto. As tarefas relacionadas às respectivas funções, estão sucintamente descritas no Quadro 3. Quadro 3 Funções e tarefas relacionadas, em estufas de flores e plantas ornamentais Função
Manejador
Tarefas
Plantio, irrigação, preenchimento e transplante de vasos, adubação,
monitoramento de pragas e doenças.
Manutenção das estruturas físicas e limpeza das estufas, manutenção de
Ajudantes gerais
equipamentos, transporte de plantas, seleção e embalagem, carregamento e
descarregamento de caminhão
Aplicador
Proprietários e
encarregados
Preparo de calda e pulverização
Escolha e aquisição dos insumos agrícolas; controle de qualidade e da
produção; orientação aos trabalhadores; organização do trabalho; negociação
de venda e tarefas administrativas
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A população deste estudo foi composta por trabalhadores que têm contato direto ou indireto com o agrotóxico, ou seja, antes, durante ou após a sua aplicação. Assim sendo, as funções que se enquadram neste perfil são:  a dos aplicadores, em sua maioria também responsáveis pelo preparo da calda e;  a dos manejadores, que cuidam das plantas durante todo o seu crescimento até estarem efetivamente prontas para a venda. Além desses, também foram incluídos no estudo, os proprietários e encarregados, cuja função englobava as tarefas de preparo de calda e/ou pulverização, e os ajudantes, que executavam atividades de manejo de plantas. 4.3 Seleção dos trabalhadores para entrevista As estufas visitadas foram selecionadas aleatoriamente entre aquelas constantes do cadastro da Aflord (ASSOCIAÇÃO DOS FLORICULTORES DA REGIÃO DA RODOVIA DUTRA, 2012a), com o auxílio do programa de numeração aleatória do software Excell. Após a seleção, os proprietários ou responsáveis pelas estufas foram contatados por telefone, e consultados sobre a disponibilidade e interesse em colaborar com a pesquisa, prosseguindo‐
se, então, com o agendamento da visita. Ao chegar na estufa, com visita previamente agendada, o produtor foi informado sobre os objetivos e a finalidade do estudo, tendo sido detalhado como se daria o contato com os trabalhadores e o tempo previsto para cada entrevista. Os trabalhadores, presentes no dia da visita, foram convidados a participar do estudo, sendo respeitados os critérios de inclusão e exclusão descritos a seguir: Critérios de inclusão: 1. Ter contato direto com agrotóxico (no preparo da calda e na pulverização), por qualquer pessoa que execute a tarefa, independentemente de sua função e; Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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2. Ter contato indireto com agrotóxico (no desenvolvimento de quaisquer atividades dentro da estufa após a pulverização), independentemente de sua função, desde que permanecesse dentro da estufa na maior parte da jornada de trabalho. Critérios de exclusão: Demais trabalhadores das estufas de flores e plantas ornamentais que não tivessem contato com agrotóxicos, como: trabalhadores auxiliares de serviços gerais externos às estufas e trabalhadores administrativos. A seleção dos indivíduos participantes do estudo procurou incluir trabalhadores que espelhassem características específicas do contexto da exposição a agrotóxicos em estufas de flores e plantas ornamentais. 4.4 Coleta de dados Com a finalidade de colher dados para elaboração do roteiro de entrevistas e para um primeiro contato com a sistemática de trabalho, foram realizadas visitas a duas propriedades indicadas pela Aflord. As visitas tiveram um caráter informal, para observação das instalações, colhendo algumas impressões acerca da rotina diária e das atividades de produção. [...] informações que tratam da reflexão do próprio sujeito sobre a realidade que vivencia e a que os cientistas sociais costumam denominar “subjetivos” [...] Constituem uma representação da realidade [...] (MINAYO, 2010 p. 262) A coleta de dados foi realizada por meio das técnicas de observação descritiva e de entrevistas individuais a partir de um roteiro semiestruturado. Conforme Minayo (2010), a abordagem semiestruturada permite que o entrevistado se aprofunde na discussão do tema, fornecendo ao pesquisador dados de natureza reflexiva. As entrevistas com os trabalhadores incluíram: – questões para elaboração do perfil sociodemográfico dos trabalhadores das estufas; – questões sobre o processo de trabalho, que visaram verificar indiretamente as noções dos trabalhadores sobre sua exposição ao agrotóxico; Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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– questões para analisar a capacidade de leitura e compreensão dos rótulos dos agrotóxicos, com o intuito de verificar se essa fonte de informação é eficiente na orientação para o uso dos agrotóxicos no trabalho e de que forma sua comunicação atinge a outros trabalhadores além dos aplicadores e; – questões sobre o conhecimento dos trabalhadores sobre os riscos à saúde e uso de EPI, que visaram identificar sua necessidade consciente de informação e seu conhecimento acerca dos riscos e cuidados relacionados às atividades de trabalho. A fim de verificar a adequação do roteiro de entrevista, foi realizado um pré‐teste com nove trabalhadores de uma das estufas cadastradas na Aflord. A partir do resultado do pré‐teste, algumas questões foram adequadas em sua forma de redação e outras foram incluídas. Após as modificações, os trabalhadores daquela estufa participante do pré‐teste, foram contatados novamente, para complementação das questões faltantes, visando o aproveitamento das entrevistas na análise total dos dados. As entrevistas foram conduzidas utilizando‐se linguagem acessível ao trabalhador e com abordagem espontânea, a fim de estabelecer proximidade e confiança entre entrevistadores e entrevistados. A equipe de trabalho contou com cinco entrevistadores, participantes do projeto da Fundacentro. Para garantir o sigilo aos entrevistados, os roteiros foram codificados, usando‐se para isso uma letra, seguida da numeração sequencial das entrevistas. As entrevistas foram gravadas em áudio, com posterior transcrição das respostas, nas quais o trabalhador explicou processos, declarou suas impressões, ou expressou opiniões. As entrevistas foram conduzidas de forma a deixar o trabalhador livre em suas declarações. As perguntas estruturantes do roteiro apresentado no Anexo 9.1 serviram para os entrevistadores investigarem as questões pertinentes ao estudo, sem tomá‐las como um questionário a ser literalmente respondido. Algumas posturas e entonações foram observadas e anotadas em bloco de notas à parte da transcrição, a fim de identificar possíveis antagonismos entre a fala e a postura do entrevistado. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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As visitas para o desenvolvimento deste estudo ocorreram no primeiro semestre de 2013. A maioria dos trabalhadores foi entrevistada em seus próprios ambientes de trabalho, onde houve a oportunidade de observar suas atividades cotidianas, seu modo de ser e agir e sua linguagem próprias. Apenas sete trabalhadores foram entrevistados nas dependências da Aflord, durante a realização de um curso de formação, para aplicadores de agrotóxicos. A observação dos trabalhadores durante a realização de suas atividades rotineiras, foi realizada à distância, sem a interferência direta do observador. A finalidade desta observação foi verificar como se dava o processo de trabalho na realidade, em confronto com a forma pela qual ela foi descrita durante as entrevistas. As observações foram realizadas nos intervalos entre as entrevistas e registradas por fotografias e notas de campo, a fim de reproduzir o contexto de trabalho apresentado e auxiliar na análise dos dados coletados. 4.5 Participantes do estudo Na pesquisa de base qualitativa, é difícil determinar a priori o número de sujeitos a serem entrevistados, uma vez que este número depende de características particulares das informações obtidas no decorrer da pesquisa Assim, optou‐se, neste estudo, pelo fechamento amostral por saturação, para a interrupção da coleta de novos dados. A literatura cita que a prática tem indicado um mínimo de 20 entrevistas, mas isso pode variar de acordo com o objetivo e contexto da pesquisa (DUARTE, 2002). O fechamento amostral por saturação é definido como o momento em que os dados obtidos a partir das entrevistas passam a apresentar redundância ou repetição, conforme objetivos pretendidos pelo pesquisador, a partir de quando não é considerado relevante dar continuidade à coleta de dados (DENZIN; LINCOLN, 19949 apud FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008). 9
Denzin N. K.; Lincoln Y. S. Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage Publications; 1994.
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Durante as visitas agendadas houve oportunidade de entrevistar 50 sujeitos antes da parada para avaliação da saturação. As 50 entrevistas correspondem a trabalhadores de 10 estufas envolvidas nesse processo. Na análise referente à saturação amostral, conforme proposto por Fontanella, Ricas e Turato 2008, observou‐se a não incidência de respostas com dados novos entre a 16a e a 23a entrevista, evidenciando que a amostra obteve o tamanho adequado aos objetivos deste estudo. Todas as 50 entrevistas foram consideradas para a análise dos dados. 4.6 Aspectos éticos O presente trabalho de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie e registrado sob n CAAE 08786112.8.0000.0084, com parecer de aprovação sob o n 276.950, conforme apresentado no Anexo 9.4. Conforme Resolução 196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), as entrevistas foram concedidas mediante concordância do entrevistado com o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), apresentado pelos entrevistadores ao trabalhador antes do início da entrevista (Anexo 9.2). O TCLE prestou‐se a esclarecer ao entrevistado os aspectos pertinentes à pesquisa, riscos relativos à sua participação como informante e garantias de confidencialidade das informações fornecidas, que se deu pela codificação das entrevistas, sem que houvesse identificação de nomes e origem da estufa à qual o trabalhador estava vinculado. 4.7 Análise dos Dados Qualitativos Os dados da pesquisa foram tratados sob a perspectiva da análise de conteúdo temática, de Lawrence Bardin (BARDIN, 2011). Após a transcrição das entrevistas, foi efetuada leitura flutuante e exaustiva dos depoimentos, a fim de identificar temas oriundos das falas, de onde resultou uma apreensão geral do contexto de trabalho em estufas de flores e plantas ornamentais. Nessa leitura, procedeu‐se uma primeira análise de conteúdo, identificando categorias predominantes a Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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partir do discurso dos entrevistados, que foram classificadas a partir dos dados provenientes das respostas. Os eixos temáticos identificados nortearam o aprofundamento de cada categoria, a fim de responder aos objetivos da pesquisa. Os temas gerais situaram‐se em torno dos processos de trabalho e da informação, tendo sido desdobradas em categorias mais específicas, dividindo‐se em sub‐categorias sobre: a) exposição (formas – direta ou indireta; cuidados pessoais no trabalho; uso de EPI como medida de prevenção); b) conhecimento e contato com rótulos (compreensão de textos, compreensão de figuras, significado do rótulo); c) conhecimento e percepção do risco no uso dos produtos (em suas atividades diárias e avaliação sobre o conhecimento e cuidados efetivos de colegas); d) origem e conteúdo da informação sobre o agrotóxico (fonte de informação, desejo de conhecimento, proatividade e dificuldades em sua consecução). Foram examinadas as relações entre as diferentes categorias, visando detectar sua lógica intrínseca. Partiu‐se do pressuposto de que a informação exerce influência na percepção e em consequência, colabora para aumentar ou diminuir o nível de exposição do indivíduo. Este estudo buscou descrever, analisar e compreender as atitudes dos trabalhadores frente à exposição aos agrotóxicos, no contexto do trabalho em estufas de flores e plantas ornamentais. A partir dos resultados obtidos, verificou‐se a possibilidade de extrapolação para situações com contextos similares. A interpretação dos dados coletados levou em consideração os sentimentos, as experiências, os valores e as opiniões manifestadas pelos trabalhadores durante as entrevistas e suas atitudes durante as situações de observação da rotina de trabalho. Para assegurar a maior aderência possível entre a interpretação dos dados coletados e a realidade, um aprofundamento da análise do estudo foi efetuado por meio da técnica de triangulação de dados (MORSE et al., 2002; CHO; TRENT, 2006; OLLAIK; ZILLER, 2012). Foram comparados depoimentos de trabalhadores com funções diferentes dentro da mesma Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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empresa; depoimentos de trabalhadores com a mesma função na mesma empresa e depoimentos de trabalhadores de empresas diferentes. As comparações foram complementadas com os dados das observações de campo. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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RESULTADOS As coletas de dados para este estudo foram realizadas no primeiro semestre de 2013. Foram entrevistados 50 trabalhadores das estufas do polo de produtores de flores e plantas ornamentais da Região da Dutra, no Estado de São Paulo. Os proprietários das estufas visitadas foram previamente consultados e permitiram a entrada da equipe de pesquisa nos locais de trabalho, mediante a assinatura do TCLE para produtores, conforme modelo apresentado no anexo 9.3. Os trabalhadores foram convidados a responderem as perguntas constantes do roteiro de entrevista, concordando mediante a assinatura do TCLE, anexo 9.2. Os resultados apresentados se referem às informações obtidas por meio das entrevistas com os trabalhadores que tinham contato direto ou indireto com agrotóxicos, durante a realização de suas tarefas rotineiras; e por meio de observações relativas aos ambientes das estufas de flores e plantas ornamentais, como contexto de trabalho. Os resultados se basearam na análise de categorias oriundas dos dados obtidos, que revelaram algumas características acerca da informação que os trabalhadores conheciam e recebiam em seu ambiente de trabalho, em relação aos cuidados e riscos à saúde, sendo confrontadas ou complementadas com os achados da literatura. 5.1 Perfil dos entrevistados Dos trabalhadores entrevistados, 22 eram do sexo feminino e 28 do sexo masculino, com idades entre 18 e 70 anos. Conforme classificação do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS (IBGE), 38 desses trabalhadores eram adultos (25 à 59 anos), nove eram jovens (15 à 24 anos) e três eram idosos (acima de 60 anos). Desses, 42 eram assalariados. Haviam seis trabalhadores em situação de acordo informal, alguns por opção própria: “eu que pedi” (sic) e outros, só eram registrados após três meses de experiência. Dois, dentre os entrevistados, eram proprietários. Com relação ao estado civil, 24 trabalhadores eram solteiros, 14 eram casados, dois eram divorciados e um era viúvo. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Quanto à naturalidade, 34 entrevistados eram do Estado de São Paulo; 10 eram do Estado de Minas Gerais; dois do Estado da Bahia; dois do Estado de Pernambuco e um do Estado de Tocantins. A Tabela 1 mostra que 30 entrevistados trabalhavam em estufas de flores e plantas ornamentais há mais de quatro anos. Tabela 1: Tempo de atividade em estufas e total, em agricultura Tempo de trabalho
Em estufas
Total (em agricultura)
Frequência de respostas
Frequência de respostas
1 a 6 meses
10
6
9 meses a 3 anos
10
5
4 a 10 anos
8
11
11 a 20 anos
17
19
Mais de 23 anos
5
9
Para 26 entrevistados, o trabalho em estufas de flores foi o único emprego na agricultura. Entre eles, havia trabalhadores que possuíam desde poucos meses até 40 anos de serviço. Por outro lado, nove deles, apesar de já terem trabalhado muitos anos na agricultura, em outros tipos de cultura, estavam há pouco tempo em estufas de flores. A Figura 7 mostra algumas características, quanto ao nível de escolaridade, específicas da amostra coletada, que chamaram a atenção no presente estudo. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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15 6
7
6
7
2
3
3
1
Figura 7 Distribuição dos entrevistados por nível de escolaridade (N=50) Segundo a classificação de Parente et al. (2009), foram encontrados 12 sujeitos com nível de escolaridade mínima (0 a 5 anos de estudo formal). Sendo que, metade deles era analfabeta ou sabiam apenas escrever o nome e, a outra metade, não havia concluído o Ensino Fundamental 1. Entre os trabalhadores com nível de escolaridade considerada baixa (5 a 10 anos de estudo formal) foram encontrados 16 sujeitos. Assim, é possível observar que 28 entrevistados possuem baixo grau de escolaridade – menos de 10 anos de estudo (PARENTE et al., 2009) semelhante aos achados de outros estudos realizados no âmbito rural (MOREIRA et al., 2002; PERES, 2003; PERES; ROZEMBERG; LUCCA, 2005; WAICHMAN; EVE; NINA, 2006; BANDA; SICHILONGO, 2006; YAMASHITA, 2008; GRÉGOLIS, 2009; BELO, 2009; MAGALHÃES, 2010). Estes dados indicam que, mesmo em um grande centro urbano como São Paulo, ainda se pode encontrar baixa escolaridade entre os trabalhadores rurais. Nota‐se, na Figura 7, destaque para a quantidade elevada de entrevistados que completaram o Ensino Médio. Oito, dos 15 entrevistados com este nível de escolaridade, trabalhavam na mesma empresa, nas diversas funções: encarregado, manejadores, aplicadores e um ajudante. Por se utilizar de tecnologia mais avançada no sistema de produção, essa estufa empregava trabalhadores mais especializados, além de adotar uma política de recursos humanos voltada para a qualidade de vida no trabalho, com incentivo ao estudo e inclusão de Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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ginástica laboral. A mesma empresa também empregava outros trabalhadores com menor nível de instrução, também entre manejadores, ajudantes e aplicadores. Isto possibilitou a observação das diferenças de postura entre os grupos. Conforme descrito no item Análise dos Dados Qualitativos, as respostas obtidas por meio das entrevistas, complementadas pelas observações de campo, foram classificadas em dois grandes eixos temáticos: Tema Processo de trabalho e Tema Informação. Os temas foram subdivididos em categorias, como apresentados a seguir. 5.2 Processo de trabalho O tema Processo de Trabalho agrupou os dados referentes às atividades de trabalho dos entrevistados, relatadas sob a ótica do trabalhador. As perguntas constantes do roteiro de entrevistas visaram verificar como se dava a exposição dos trabalhadores e analisar a postura de cada um, em relação às suas atitudes, voltadas à prevenção de possível contaminação por agrotóxicos. Para a interpretação dos dados, o tema foi dividido nas seguintes categorias: exposição aos agrotóxicos; uso de EPI como medida de proteção e cuidados pessoais no trabalho. As categorias de análise deste tema se propuseram a verificar a percepção dos entrevistados sobre os riscos, em suas atividades diárias. A análise foi realizada a partir da função principal dos trabalhadores, a fim de identificar características específicas em cada atividade. A Tabela 2 apresenta a distribuição, por função, dos trabalhadores entrevistados. Tabela 2: Distribuição, por função, dos trabalhadores entrevistados Função principal
Aplicadores
Manejadores
Ajudantes gerais
Encarregados
Proprietários
Frequência de respostas
N=50
11
26
8
3
2
Além dos 11 aplicadores apresentados na Tabela 2, foram identificados mais seis entrevistados que declararam efetuar a pulverização eventualmente, em razão de ausência do funcionário efetivo, totalizando 17 trabalhadores que executavam essa atividade. Entre Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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eles estavam um manejador, dois ajudantes, dois encarregados e um proprietário. Os aplicadores eventuais foram descobertos casualmente, durante a realização das entrevistas. No trabalho em estufas, a exposição direta aos agrotóxicos está vinculada ao preparo da calda e à sua pulverização. Todos os aplicadores, tanto fixos como eventuais, preparavam e aplicavam os agrotóxicos. Dependendo do tamanho da propriedade e do número de estufas em cada propriedade, os períodos de aplicação de agrotóxicos, por um mesmo aplicador, variavam desde diários até quinzenais, com duração de 1 hora e 30 minutos a 6 horas por dia. Todos os aplicadores fixos declararam realizar outras atividades dentro das estufas, incluindo o manejo de plantas, nos períodos em que não estavam aplicando agrotóxicos. Entre os aplicadores eventuais, apenas três permaneciam nas estufas por períodos prolongados, uma vez que dois deles eram encarregados e um era proprietário, cargos que exigem circulação pela propriedade. A descrição da rotina de trabalho, pelo entrevistado, possibilitou identificar os trabalhadores que realizavam atividades relacionadas com a exposição indireta. Esses relatos, juntamente com a observação de seus comportamentos característicos, tornaram possível averiguar compatibilidades e contradições entre a compreensão e a realidade dos trabalhadores, sobre a exposição aos agrotóxicos. A exposição indireta aos agrotóxicos está relacionada com as atividades de manuseio das plantas após a pulverização, devido à presença de resíduos dos insumos químicos tanto nas folhas das plantas, como em bancadas, vasos e outros utensílios usados nas estufas. Os trabalhadores que têm contato com as plantas são os manejadores e os ajudantes. Os entrevistados usavam o termo “veneno” para definir o agrotóxico. Alguns, quando perguntados diretamente sobre o termo usado, responderam com as palavras defensivo, remédio e preventivo, porém, durante as entrevistas, a palavra veneno surgiu naturalmente, por várias vezes. Conforme descrito por Guivant (2000), a palavra veneno propõe uma criticidade em torno do produto, o que sinaliza o reconhecimento, pelos trabalhadores, de prejuízo à saúde. Isto aponta para o modo como este grupo de trabalhadores representa o agrotóxico em suas atividades diárias, reconhecendo o produto como injurioso. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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No decorrer das entrevistas, todos os aplicadores relataram que, antes do início da aplicação dos agrotóxicos, é solicitado aos funcionários que deixem as estufas; tanto àqueles responsáveis pelo trato cultural (manejo), como aos responsáveis por quaisquer atividades realizadas no interior das estufas. Muitos justificaram que o motivo da saída, era que o cheiro muito forte tornava insuportável aos colegas ficarem nas estufas durante a pulverização. Os manejadores e os ajudantes disseram que são avisados sobre a aplicação dos agrotóxicos, mas muitos deles relataram que continuavam dentro da estufa, mesmo durante as aplicações, porém, em bancadas mais afastadas – uma evidente contradição entre as declarações dos aplicadores e dos manejadores. Os que saiam, retornavam à estufa logo após o término da pulverização para dar continuidade às atividades de rotina. Em várias estufas visitadas, trabalhadores comentaram ter havido mudanças recentes a respeito de sua presença nas estufas durante a pulverização, conforme exemplificado na fala a seguir: “Não, é nova, porque antes eles passavam [quanto tempo faz que eles mudaram? – entrevistadora]... Ah, faz uns 4, 5 meses, pouco tempo. Bem recente, porque antes eles passavam com a gente aqui dentro mesmo.“ Q 28 Em algumas estufas, os trabalhadores relataram que a pulverização passou a ser realizada no final da tarde, após encerradas as atividades de manejo dentro das estufas, e que a reentrada só ocorria no dia seguinte. Mesmo assim, muitos reclamavam ainda sentir o cheiro do agrotóxico, pela manhã. Em outras estufas, os relatos foram de que a pulverização ocorria pela manhã, bem cedo, e que os trabalhadores reentravam na estufa assim que chegavam para o trabalho. Dentre os entrevistados, excetuando‐se os aplicadores, 21 afirmaram que os trabalhadores permaneciam na estufa durante a pulverização sem usar qualquer tipo de proteção, enquanto 13 afirmaram não ficar na estufa durante a pulverização. Foi curioso observar as contradições nestas falas. Quando a declaração tratava do fato de o trabalhador estar desprotegido, os entrevistados tendiam a falar na terceira pessoa “não usa” (proteção). Se a Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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questão era sobre proteção, as falas eram feitas em primeira pessoa “não fico”; “saio” (durante a pulverização), uma evidência de distanciamento do problema. Muitas falas evidenciaram insegurança, receio de responder errado ou de comprometer os patrões. “Só chapéu por causa do Sol. [Por que você não usa (outra proteção)? – entrevistadora]. Ah, nunca usei isso, nunca... Acho que, algumas vezes, mais no começo, a gente ficava (na estufa). Acho que quando a gente não entendia muito... Daí depois começaram a falar que não podia.” Q 33 Os relatos indicam que, entre os participantes, é elevada a possibilidade de exposição direta, devido a permanência das pessoas dentro das estufas, durante a atividade de pulverização: “Eu sei que é prejudicial a minha saúde, mas eu tenho que fazer porque é o meu serviço, senão eu posso até ser mandada embora.”Q 05 “A gente sabe que o veneno é ao longo do tempo, mas a gente vai remediando, está bem, não está sentindo nada. O pessoal não se cuida, não se importa.” Q 44 Foi possível também verificar, que os entrevistados desconheciam que em áreas tratadas com agrotóxicos é necessária a observação de um intervalo de tempo antes da reentrada no local; que essa área deveria ser isolada e sinalizada e que, no caso de necessidade de entrada no local, durante este intervalo, o uso de equipamentos de proteção individual é obrigatório, conforme previsto pela NR‐31. Quando indagados sobre quanto tempo após a pulverização eles poderiam retornar à estufa para manuseio das plantas, as respostas foram as mais variadas possíveis: “Aplicou, aí (pausa reflexiva) num prazo de (pausa menor) doze (pausa) doze horas mais ou menos, (pausa maior) sem funcionário. Q 13 “Devido de ser viveiro... ele é aberto... Aí acaba o viveiro, aí dá um tempo, aí acabou aquela névoa, aí volta. [Aí já pode entrar? – entrevistadora]. Ah não, pode entrar não. Aí geralmente o seguinte, no caso, se for um veneno muito bravo, muito agressivo, aí nem volta mais... aí dá um tempo... aí o tempo, aí o tempo pra falar, o remédio... Ele dá aquela umedecida, dá aquela secada, né?... Geralmente, dia de sulfato as pessoas estão fazendo outro serviço... aí geralmente, como se diz, é uma situação difícil de falar muitas vezes porque, como se diz?... Voltar pode demorar um dia, dois Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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dias... se for um veneno brabo, muito brabo mesmo, tem que ficar um tempo bom.” Q 15 “Ah, eles voltam ali naquela estufa depois de uns sete dias...” Q 16 “No caso, quando vai aplicar o veneno a gente sai da estufa. E aí quando vai aplicar, se tá molhado a gente usa luva. Porque as vezes eles aplica o veneno depois que a gente saiu (foi embora), aí no dia seguinte eles avisam... Agora, quando eles vão passar no meio do dia, que é horário quente, aí eles avisam e a gente sai.” Q 36 “Já teve vezes da gente entrar 20 minutos depois.”Q 28 As falas apresentadas mostram uma mistura do que os entrevistados acreditam que deveria ser o ideal e do que efetivamente acontece em seu dia‐a‐dia, realidade a qual estão sujeitos devido às práticas de organização do trabalho que, nem sempre, dão ao trabalhador condições adequadas à sua segurança e saúde no trabalho. Sobre o uso de EPI como medida de proteção, buscou‐se analisar as preocupações dos trabalhadores em relação a possíveis prejuízos à sua saúde e as medidas de proteção por eles adotadas. Para as atividades de preparo da calda e de pulverização, entre os 17 aplicadores respondentes (fixos e eventuais), 12 afirmaram usar o conjunto completo de EPI durante essas atividades, composto de: macacão de PVC, luvas e botas de borracha, touca árabe, óculos protetores, e máscara, camisa com mangas longas e calça. Os demais informaram não usar o conjunto completo durante o preparo da calda e/ou pulverização, conforme se segue: “Eu acho que o pó, ele… assim, na pressa a gente acaba não usando máscara. Eu coloco ele lá dentro. Já viro dentro do tanque... Luva tem hora que também eu não uso, não tenho costume, né?” Q 17 “... visto meu equipamento: calça, bota, blusa, avental, luva. Dependendo, se o produto tem cheiro desagradável, eu pego, deixo a máscara por último. Só uso a máscara se o produto tem cheiro, porque eu acho que corre mais risco se eu não enxergar o que eu estou fazendo. Está faltando luz ali naquele quartinho...” Q 24 “Uso luva, bota, avental... Não uso avental não, muito calor, aí começa a esquentar, né? Eu pego e tiro o avental amarelo. Algumas vezes não... (não usa EPI para preparar calda). [o que você usa – entrevistadora]. Uso máscara. Máscara e luva.”Q 42 Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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“Pra aplicar, como eu apliquei só uma vez, não usei não... Tem só para quem passa. Como eu ia aplicar só uma vez, ele não me deu não.”Q 45 Ao serem perguntados se usavam algum tipo de proteção quando manuseavam as plantas, 31 dos entrevistados afirmaram não usar qualquer tipo de proteção; 12 usavam luva, quando achavam que “tinha veneno” e sete sempre usavam luva no manuseio das plantas, após a pulverização. As razões apresentadas para a não utilização de EPI foram de que não havia necessidade, de que a luva atrapalhava o tato ou de que a empresa não fornecia o EPI. Essa pergunta foi feita a todos os entrevistados, inclusive aos aplicadores, que também realizavam atividades de trato cultural. Os relatos, tanto para as atividades realizadas por aplicadores, como para as atividades que exigiam contato com as plantas, levam a crer que não há clareza sobre os danos à saúde que a atividade pode ocasionar. Esta deficiência de informação observada entre os trabalhadores possivelmente se dá em função das empresas não atuarem eficazmente na gestão das informações sobre SST, uma vez que a responsabilidade pela informação abarca os deveres da empresa, na organização e na gestão do trabalho. Em relação aos cuidados pessoais no dia‐a‐dia de trabalho, foram analisadas questões sobre a higienização das roupas de trabalho e sobre a higiene pessoal, a fim de verificar o conhecimento e a percepção dos entrevistados, relativos à contaminação que os acompanha, após as atividades diárias. Além disso, os entrevistados, foram indagados sobre sua opinião, em relação a seus pares, acerca de eventuais dificuldades em seu dia‐a‐dia, no conhecimento dos riscos sobre o uso e no contato com os agrotóxicos. Ao serem estimulados a informar como era feita a lavagem de suas roupas de trabalho, apenas um dos aplicadores respondeu que sua roupa era lavada em casa, junto com a dos familiares. Apesar de ter feito curso e ser aplicador fixo, o trabalhador, assim como os demais entrevistados, não sabia que as roupas de trabalho deveriam ser fornecidas e lavadas pela empresa. Diante do fato da falta de informação sobre a obrigação do contratante, em relação ao asseio dos uniformes, todos os trabalhadores lavavam suas roupas de trabalho, em suas Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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residências. Os EPIs utilizados para a aplicação de agrotóxicos eram lavados na empresa, de acordo com as declarações dos aplicadores entrevistados. Os demais aplicadores informaram que suas roupas eram lavadas separadamente das da família. No caso dos manejadores e ajudantes, apenas cinco deles responderam que a roupa era lavada em separado das de sua família. Considerando a somatória dos dois grupos, 29 trabalhadores lavavam suas roupas em casa, junto com as da família. Essas respostas indicaram que trabalhadores que realizavam atividades de manejo não sabiam que suas roupas de trabalho poderiam ser contaminadas com resíduos dos agrotóxicos, durante o manuseio da planta molhada, e no contato com utensílios, usados nas estufas. Esta informação mostrou‐se fundamental a esses trabalhadores, que não sabiam da necessidade de cuidados especiais com sua roupa de trabalho. Sobre a higiene pessoal, quatro aplicadores declararam que tomavam banho no local de trabalho, logo após a aplicação dos agrotóxicos, enquanto cinco deles disseram que apenas se lavavam logo após a pulverização, deixando o banho para ser tomado em sua casa, no final do dia. Mesmo em estufas em que havia chuveiros e a condição prevista em Lei, nem sempre este cuidado era tomado. Em uma das estufas o proprietário declarou informar aos trabalhadores que o banho é necessário após a pulverização, mas, que não poderia obrigar o trabalhador a esta rotina. Com informação adequada sobre cuidados e danos à saúde, aumentariam as possibilidades de que o trabalhador viesse a considerar atender à diretiva de seu contratante. A fim de avaliar a visão que têm de seu ambiente de trabalho em relação à proteção, os entrevistados foram questionados sobre sua opinião com relação a seus pares. Dos 50 entrevistados, 16 responderam que achavam que os colegas sabiam se proteger dos agrotóxicos e 34 responderam que achavam que, a maior parte das pessoas não sabia se proteger. Dentre esses, oito trabalhadores disseram que apenas o aplicador sabia se proteger. A crença de que o aplicador sabe se proteger melhor de que os colegas parece vir do fato de ele ter acesso a informações de que os demais não tem, ao mesmo tempo em que relacionam a percepção de proteção e cuidados, ao uso do EPI, como mostram nas falas: Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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“Quem aplica o veneno, eles vêm todos parecendo um homem da lua!” Q 36 “Quem aplica não tem dificuldade” Q 08 “Eles sabem sim, porque no rótulo vem escrito. Eu acho que eles devem ler, né?” Q 02 A fala a seguir, indica que o trabalhador tem consciência de que o sistema a que está submetido propicia a sua insegurança, quando ele identifica a responsabilidade da empresa nas questões de segurança. Indiretamente, ele aponta o responsável pela falta de proteção de outros colegas, no ambiente de trabalho. “...se tivesse (alguém na estufa, sem proteção), quem era o culpado? Não quero colocar o patrão... sei lá. Mas quem é o culpado, o aplicador, será? Acho que entre aspas.” Q 01 5.3 Informação O tema Informação agrupou os dados referentes à origem e ao conteúdo da informação sobre os agrotóxicos, recebida pelos trabalhadores entrevistados. Para a interpretação desses dados, o tema foi dividido nas seguintes categorias: fontes de informação sobre agrotóxicos; demanda de informações sobre agrotóxicos pelos trabalhadores; conhecimento dos trabalhadores sobre os riscos à saúde e compreensão dos rótulos dos agrotóxicos. As categorias de avaliação deste tema se propuseram a identificar quais informações sobre agrotóxicos o trabalhador de estufas de flores e plantas ornamentais conhece e recebe, no contexto de seu trabalho. Em relação às fontes de informação sobre agrotóxicos, buscou‐se verificar de quais fontes os trabalhadores recebem informações sobre agrotóxicos e sua implicação sobre os riscos que eles percebem em seu ambiente. Todos os aplicadores entrevistados declararam receber informações sobre os agrotóxicos nas empresas onde trabalhavam. Porém, essas informações se referiam somente aos cuidados para o uso do produto, durante seu preparo e aplicação. Do total de 17 aplicadores entrevistados, entre fixos e eventuais, apenas oito fizeram o curso de capacitação sobre prevenção de acidentes com agrotóxicos, conforme previsto no item 31.8.8 da NR‐31. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Por não fazerem uso do produto, manejadores e ajudantes não recebiam o mesmo tipo de informações que os aplicadores. Nas entrevistas, esses trabalhadores declararam não receber, das empresas onde trabalham, qualquer tipo de informação acerca de efeitos, perigo ou medidas de prevenção, para a exposição indireta aos agrotóxicos. Apenas dois trabalhadores mencionaram ter assistido a uma palestra, anos atrás. Para este grupo de trabalhadores, as informações são transmitidas no dia‐a‐dia, em conversas entre os colegas de trabalho. Vários deles aprenderam o ofício com familiares, que também lhe transmitiram informações sobre agrotóxicos. A Tabela 3 apresenta as fontes de informação sobre agrotóxicos, citadas pelos trabalhadores entrevistados. Tabela 3: Fontes de informações sobre agrotóxicos, recebidas pelos trabalhadores entrevistados Fonte da informação
Nunca recebeu
Patrão ou encarregado
Familiares e colegas de trabalho
Curso/palestra
Fornecedor
* Respostas múltiplas. Frequência de respostas N=59*
22
18
8
9
2
Considerando o fato de a cultura10 ter influência sobre o pensamento e a visão de mundo dos indivíduos, incluindo a sua forma de lidar com o seu entorno e com os seus pares (PÁTARO, 2007), tem‐se que, a apreensão das informações que esses trabalhadores recebem sobre o agrotóxico é, também, retrato de sua cultura, o que pode colaborar no surgimento de vieses, que, por vezes, desvirtuam esta informação. Assim, devido a multiplicidade de fontes e a variabilidade do grau de conhecimento técnico de cada uma dessas fontes de informação – cada emissor – os requisitos mínimos necessários para subsidiar a saúde e segurança no ambiente de trabalho, não eram atendidos. Sequencialmente ao levantamento dos dados sobre as fontes de informação sobre agrotóxicos, analisou‐se a demanda dos trabalhadores pela busca de informações, considerando seu desejo ou necessidade manifestados em receberem informações sobre os 10
Cultura é aqui interpretada como o conjunto de conhecimentos adquiridos pelo indivíduo, além de sua educação formal, em
função de sua origem e cultura étnicas, de seu entorno social e de conteúdos adquiridos por experiência, ao longo da vida. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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agrotóxicos e o que os levava a perceber esta lacuna de conhecimento em seu dia‐a‐dia de trabalho. A maioria dos aplicadores entrevistados, fixos e eventuais, acreditavam que receber informações sobre os agrotóxicos é importante e que isso faz parte da sua função. Porém, em seus depoimentos, a maior ênfase foi dada à necessidade de conhecimentos relacionados às indicações de uso do produto, como classe de uso e dosagem. Apenas quatro indivíduos mencionaram aspectos relacionados à preservação da saúde. Exemplos típicos desses depoimentos, são: “Alguns remédios sim, pra saber o jeito certo de aplicar o remédio.” Q22 “Acho que precisa de mais informação. São importantes, porque senão eu ia trabalhar de qualquer jeito e ia acabar me contaminando ou contaminando alguém, passar errado, ia matar a planta.” Q38 Entre manejadores e ajudantes, as respostas foram positivas em relação ao desejo de receberem mais informações sobre os agrotóxicos e se caracterizaram, principalmente, por preocupações em relação à saúde, tanto de maneira geral, quanto em relação aos problemas de reentrada, como por exemplo, nas seguintes falas: “Ajuda bastante. Por causa da saúde da gente, né?” Q 39 “Gostaria de saber efeitos colaterais, se afeta sistema nervoso, se... como tenho problemas respiratórios, até onde o produto me afeta... Acho que a gente tem que ter uma frequência forte, relembrar, reciclar, sempre. Acho importante, o resíduo fica, né? Tem que ter uma precaução.” Q 37 “Sim, principalmente quando é aplicado o veneno, se eu posso ter o contato logo no outro dia. Quantos dias depois da aplicação que a gente pode ter o contato com a flor pra não correr o risco de fazer mal” Q 25 Alguns trabalhadores mostraram relacionar a necessidade de informação com a sua função específica, declarando que não precisam de informações sobre o agrotóxico, por de não terem contato com o produto em suas atividades, o que evidencia seu desconhecimento do fato de estarem expostos indiretamente aos agrotóxicos. Pode‐se destacar duas falas que caracterizam o conflito de interesses entre empregados e empregadores, acerca da informação: Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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“Acho que seria bom, em parte [trabalhadores conhecerem as informações sobre o produto]. Em parte, pode atrapalhar porque tem funcionário que não tem nada que ver com a parte deles, eles não pulverizam e aí a pessoa fala que não dá pra trabalhar porque passou o produto. Tem gente que quer fazer outra coisa naquele dia... não sei se é o certo.” (empregador) "Precisa... A gente trabalha todo dia sem informação de nada, não tem muito tempo pra ver essas coisas”. (empregado) Os discursos representam a mentalidade de empresários que não têm muito interesse em que seus funcionários recebam informações sobre os riscos e os cuidados relativos ao uso dos agrotóxicos, que uma vez empoderados pela informação, passam a exigir seus direitos. Os trabalhadores, por sua vez, têm noção de que as informações que recebem são insuficientes. Ainda que não tenham ciência de quais sejam, evidenciam sua busca por melhores condições de trabalho. A fim de identificar o conhecimento dos trabalhadores sobre os riscos, foram reunidos dados referentes aos seus conhecimentos acumulados acerca dos problemas e cuidados no trabalho com agrotóxicos, considerando suas opiniões e conceitos pessoais sobre a exposição a esses produtos. Todos os trabalhadores entrevistados foram solicitados a manifestar sua opinião sobre o fato dos agrotóxicos poderem ou não causar prejuízo à saúde. A Tabela 4 mostra as respostas obtidas. Tabela 4: Respostas dos entrevistados à pergunta: “agrotóxicos são prejudiciais à saúde?” Opinião
Acreditam que sim
Acreditam que não
Só se o produto for forte e ficar perto
Só se não for aplicado corretamente
Só sem o uso do EPI
Frequência de respostas N=50
28
8
7
3
4
Para os entrevistados, cuja opinião era de que o agrotóxico afeta a saúde, as formas como isso poderia ocorrer seriam: “pelos olhos”, “pelo cheiro” (ao inalar) e “pela boca”. Apenas 2 respondentes, do total de 28 afirmativas, acreditavam que os efeitos à saúde poderiam se dar “ao longo do tempo”. Em seu próprio linguajar, eles descreveram algumas vias de Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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intoxicação e mostraram ter noção sobre a intoxicação crônica. Ressalta‐se o fato de que a intoxicação por via dérmica é desconhecida, ou pouco reconhecida, por estes trabalhadores. Entre os entrevistados que acreditavam que os agrotóxicos não fazem mal à saúde, estavam os manejadores e os ajudantes, isto é, trabalhadores cuja exposição é indireta. Metade destes trabalhadores afirmou que são fortes e nunca precisaram procurar um médico, o que os leva a relacionar esse fato com uma possível inocuidade desses produtos. Evidencia‐se nesta análise, assim como em dados apresentados anteriormente, a minimização dos riscos, por estes trabalhadores. Entre aqueles que responderam que o agrotóxico só faz mal se houver algum fator condicionante (“só se o produto for forte e ficar perto”; “só se não for aplicado corretamente”; “só sem o uso do EPI”), encontraram‐se entrevistados nas funções mais variadas: manejadores, aplicadores e proprietários. Respostas dadas por alguns aplicadores e um encarregado, atrelaram possíveis efeitos à saúde ao manejo inadequado dos agrotóxicos. As entrevistas de trabalhadores em diversas funções, que associaram a intoxicação do agrotóxico com fatores condicionantes, deram indícios da culpabilização do sujeito, como por exemplo: “se não trabalhar adequadamente, mexe (com a saúde)” Q 41 Por fim, as respostas que indicaram que os agrotóxicos são prejudiciais à saúde somente sem o uso de EPI foram dadas por um aplicador, por ajudantes e por um manejador, indicando que, independentemente de sua função, alguns trabalhadores observam o uso de EPI como uma fonte segura de proteção ao risco. Porém, esta relação foi estabelecida somente nos casos de exposição direta. Buscou‐se, sob a perspectiva do rótulo enquanto ferramenta de comunicação, verificar o significado que os trabalhadores atribuíam aos rótulos, quais deles efetivamente liam esse material e quais as informações eram por eles consultadas. Esta categoria avaliou os dados referentes ao hábito de leitura, conhecimento e compreensão dos rótulos dos agrotóxicos, pelos sujeitos deste estudo. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Todos os entrevistados responderam à seguinte pergunta: “para que você acha que serve o rótulo da embalagem do agrotóxico?” Os termos utilizados pelos trabalhadores para definir a função do rótulo são apresentados na Tabela 5. Tabela 5: Termos para definição da função dos rótulos sob a ótica dos trabalhadores entrevistados Termos
agregados ao
rótulo
Identificar, indicar
Informar, orientar,
explicar
Instruir, ensinar
Advertir
Significações dadas pelos trabalhadores
Frequência de
respostas (N=50)
Para que serve (tipo de cultura); saber para que é o
produto (tipo de praga); saber o que é o produto (classe –
herbicida, fungicida etc).
Mostra como usar o produto; orienta sobre os cuidados na
utilização.
É um meio de aprendizagem; auxilia no entendimento do
‘”jeito certo” de lidar com o produto; organiza a
informação.
Ter atenção; tomar cuidado; identificar o perigo; informar
sobre o risco; indica prejuízos à saúde; indica cuidados.
15
13
8
15
Como se pode observar, a maior parte dos entrevistados, independentemente de suas atividades dentro das estufas, usaram os termos identificar, indicar, informar, orientar, explicar, instruir e ensinar; agregados ao uso do produto. 15 deles usaram significações relativas ao verbo advertir, relacionando‐o com prevenção e cuidados à saúde. Estes dados indicam que os rótulos são reconhecidos como uma fonte de informação importante, porém nem todo o seu conteúdo é conhecido. As entrevistas indicam que a maior parte dos trabalhadores das estufas de flores e plantas não tem contato com os rótulos dos agrotóxicos. Esse contato está mais restrito aos aplicadores, encarregados e proprietários, uma vez que, nos rótulos são encontradas as indicações necessárias para o uso desses produtos, como classe de uso e dosagem. Praticamente a totalidade dos manejadores e ajudantes não tem acesso aos rótulos, com raras exceções, como no caso de aplicadores eventuais e em algumas iniciativas individuais. O acesso ao rótulo não é indicado àqueles que não necessitem ter contato com os agrotóxicos em sua atividade diária, considerando‐se a toxicidade dos produtos. Assim, um dos desafios da comunicação de riscos é o de levar aos demais trabalhadores o acesso às informações existentes nos rótulos, sem haver necessidade de contato com as embalagens dos agrotóxicos. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Dos 17 aplicadores entrevistados, cinco declararam consultar os rótulos frequentemente, sete declararam consultar os rótulos às vezes, ou, quando o produto é utilizado pela primeira vez e cinco, nunca leram os rótulos. Entre os entrevistados que não lêem os rótulos, havia tanto aplicadores fixos, como eventuais. Os aplicadores eventuais alegaram não ler, pelo fato de serem orientados pelo patrão ou pelo encarregado sobre o tipo de produto e a dosagem a ser usada. Um dos aplicadores fixos alegou também receber informações diretamente do patrão, enquanto outro disse que tinha muitos anos de experiência e conhecia bem os produtos utilizados. Com isso, ambos, que haviam declarado não precisar receber mais informações sobre o agrotóxico, descartaram, também, a necessidade da leitura dos rótulos. Estes trabalhadores não sabiam o significado das cores das faixas presentes nos rótulos das embalagens, além de terem dificuldades em dizer o significado de uma série de pictogramas apresentados a eles. As informações procuradas nos rótulos, por aqueles que declararam consultá‐los com frequência, se referiam principalmente às indicações de uso e dosagem. Apenas quatro aplicadores fizeram algum tipo de referência aos itens sobre precauções em suas consultas aos rótulos. Os trabalhadores consideraram os textos dos rótulos de difícil compreensão, confusos ou contendo informações desnecessárias. “Meio complicado, né? Porque sendo um rótulo de veneno poderia ser uma coisa mais... poderia ter um jeito mais fácil. “Q 16 “Muita coisa escrita, que está só ocupando espaço. Às vezes tem coisa que a gente não entende ” Q 04 Além disso, os entrevistados fizeram muita confusão com relação às cores das faixas dos rótulos. Em geral, associaram a cor à “força” do produto e não à sua toxicidade à saúde humana, dizendo “esse é o mais forte que tem” ou “é o mais brabo”, referindo‐se à faixa vermelha. Alguns não sabiam dizer o significado das outras cores, pois, na maioria das vezes, usavam produtos com a faixa vermelha. Esta dificuldade ou negação da necessidade de leitura dos rótulos pode se dar devido à baixa escolaridade evidenciada, no grupo de aplicadores. Onze trabalhadores, entre fixos e eventuais, têm apenas o Ensino Fundamental, sendo que todos estes declararam achar as Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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informações difíceis de entender. Entre os aplicadores fixos, o quadro é mais agravante, uma vez que apenas um deles tem o Ensino Médio completo, o único, dentre estes entrevistados, que declarou achar o rótulo fácil de entender. Entre os aplicadores eventuais, houve declarações de que os rótulos são fáceis de entender. Encarregados avaliaram a facilidade em função do hábito de uso, enquanto outros, também declarantes de que havia facilidade na leitura, em realidade nunca lêem os rótulos, informando‐se com seus superiores. Apenas o proprietário, que está neste grupo e tem Ensino Superior completo, fez uma avaliação crítica dos rótulos, dizendo que, pela quantidade de informações técnicas, o rótulo é de difícil compreensão para pessoas com menos instrução. Apesar de não terem livre acesso aos rótulos, uma vez que não fazem uso do produto e, por isso, não haveria necessidade de conhecerem informações sobre classe e dosagem, alguns manejadores entrevistados manifestaram livremente o desejo de conhecer as informações sobre os agrotóxicos contidas nesses rótulos. As principais preocupações citadas estavam relacionadas com cuidados com a saúde, como, por exemplo, “o mal que pode fazer”, “problemas para a saúde”, “prejuízo para saúde”. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Discussão Os trabalhadores entrevistados nas estufas de flores e plantas ornamentais retratam algumas características em comum com os agricultores de outros tipos de culturas, Segundo descrito na literatura. Várias dessas características já haviam sido identificadas em estudo preliminar realizado pela Fundacentro (RIBEIRO, 2012). Os trabalhadores entrevistados, de maneira geral, tinham consciência de que o ambiente de trabalho os expunha ao perigo. Esta percepção, entretanto, parecia estar fortemente vinculada apenas ao contato direto com os agrotóxicos. A crença de que somente o manuseio e inalação dos agrotóxicos são prejudiciais à saúde vinculava o perigo diretamente à atividade de preparação de calda e pulverização. Assim, por eles, somente quem estivesse perto o suficiente para inalar o produto, teria risco de intoxicação. Esta visão em relação ao trabalho se manifestou em vários momentos, durante as entrevistas e nas observações de campo: “Eles tomam cuidado quando vão mexer com o veneno. Estão sempre protegidos, sempre de luva ... O produto é muito fedido, começa a respirar dói a cabeça.” Q 26 “Ninguém sabe se proteger do veneno, porque a gente não tem costume de mexer com isso, né?” Q 32 Desta forma, esses trabalhadores acreditavam que havia necessidade de proteção durante a pulverização, mas não percebiam sua importância durante a realização de atividades do trato cultural. Mesmo os aplicadores, quando realizavam estas atividades nos intervalos das aplicações, se comportavam e pensavam da mesma maneira que os manejadores e ajudantes. “Só uso luva se tiver espinho. Na maioria das plantas, não uso nada não” Pulverizador fixo “Não uso (proteção quando mexe nas plantas). [Por quê? – entrevistadora]. Não sei, nunca parei pra pensar” Pulverizador eventual Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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De maneira semelhante ao encontrado em estudo publicado por Rotundo em 2007, a possibilidade de intoxicação por via dérmica (ROTUNDO, 2007) era desconhecida, ou pouco reconhecida, pelos trabalhadores entrevistados nas estufas. Carneiro (2012) menciona em seu trabalho que a noção sobre intoxicação crônica, quando distante e incorporada como inerente ao trabalho, mostra certo fatalismo, sem passar pela consideração de que os cuidados de proteção tomados no presente, poderão prevenir doenças no futuro. Em consequência de sua visão imprecisa e da inconsistência de ações de prevenção e proteção oferecidas pelos empregadores, várias atitudes dos entrevistados, apresentadas durante o processo de trabalho poderiam estar justificadas. A mudança recente nos horários de pulverização em algumas estufas assegurou melhor condição para os manejadores e ajudantes, porém, pelo fato desses trabalhadores não terem ideia de qual seria o intervalo de tempo seguro para a reentrada, manifestaram preocupação com os prejuízos pela inalação do produto. Os relatos indicam que o uso de EPI era compreendido como uma necessidade vinculada ao trabalho dos aplicadores. Ainda assim, o fato de vários deles terem admitido não usar o conjunto completo indicado para sua atividade, mostrou a ineficiência da capacitação e orientação dada a esses trabalhadores. A exposição indireta dos manejadores e ajudantes não era levada em consideração, por isso eles acreditavam não necessitar de proteção ou cuidados especiais durante o manuseio de plantas e utensílios, ou na limpeza de bancadas e pisos contaminados. A minimização do risco pelos trabalhadores é coincidente com resultados encontrados em outras pesquisas realizadas na área agrícola (LUCCHESE, 2001; GUIVANT, 2003; PERES; ROZEMBERG; LUCCA, 2005; FONSECA et al., 2007; YAMASHITA, 2008). O desconhecimento sobre a possibilidade de contaminação por via dérmica, foi novamente evidenciado nas questões de higiene pessoal. Para os aplicadores, a contaminação das roupas de trabalho é mais evidente devido às atividades vinculadas ao contato explícito com os agrotóxicos. Por outro lado, o fato de muitos deles não levarem em consideração a necessidade de se banharem logo após a aplicação dos produtos, mostrou não haver compreensão da contaminação pela via dérmica. Já os manejadores e, a maioria dos Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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ajudantes, desconheciam a necessidade de que suas roupas de trabalho deveriam ser fornecidas e lavadas pela empresa, em separado, evidenciando que esta informação não chegava até eles. Para esses trabalhadores, o banho ao final do dia estava vinculado ao descanso e higiene pessoal e não a uma necessidade relacionada ao tipo de trabalho realizado, como forma de eliminar possíveis resíduos químicos em sua pele. As respostas à questão sobre em que momento e local seu banho era tomado, foram, principalmente “quando chego em casa, depois do trabalho”, sendo o ato atribuído ao momento de seu banho diário. Estas características foram também encontradas por Ribeiro et al., 2012. Os aplicadores eram “privilegiados” em termos de informação. Aplicadores em geral, evidenciaram receber mais informações sobre os agrotóxicos, entretanto, não pareciam se ater às questões de saúde. Devido ao tipo de atividade realizada e ao contato direto com os agrotóxicos, esperava‐se que estes trabalhadores compreendessem melhor a importância das informações sobre segurança e saúde no trabalho. Observou‐se, porém, que as informações relativas ao uso técnico do produto eram mais valorizadas e reforçadas, pelos responsáveis pelo gerenciamento das estufas e, consequentemente, pelos próprios aplicadores, em detrimento das informações de SST. Trabalhadores de manejo recebiam poucas informações e declararam ter muita necessidade em conhecê‐las, sendo as questões sobre saúde suas maiores preocupações, evidenciando que eles sabiam da existência do risco, mas que tinham conhecimento insuficiente, tanto para lidar com ele como para exigir das empresas condições adequadas de trabalho. Diversos trabalhos encontrados na literatura (MOREIRA et al., 2002; WAICHMAN, EVE, NINA, 2006; TOMAZIN, ZAMBRONE, 2008; BELO, PERES; 2011) mencionam que, devido ao distanciamento de algumas áreas rurais dos grandes centros urbanos, o rótulo é a única fonte de informação acessível ao trabalhador. No caso deste estudo, a região estudada está próxima ao maior centro urbano brasileiro, sendo que os rótulos não representavam, de acordo com a região deste estudo, fonte única de acesso à informação. Os resultados deste estudo mostraram que os trabalhadores entrevistados também reconhecem os rótulos das embalagens de agrotóxicos como fonte segura de informação, revelando uma expressiva significação dada, pelo trabalhador, ao rótulo. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Manejadores e ajudantes não tinham como prerrogativa de trabalho a consulta aos rótulos, mas sabiam que eles poderiam conter informações de seu interesse, apesar de não conhecerem com exatidão quais informações haviam nos rótulos. Por não serem submetidos a um treinamento formal, recebiam informações desencontradas e se sentiam inseguros, por não saberem quais eram os mitos e quais eram as verdades sobre os agrotóxicos. Quando sentiam necessidade de informação, em geral, recorriam principalmente aos colegas aplicadores, por julgarem que eles “sabiam mais” em razão de terem acesso a informações das quais eles não dispunham. A imagem dos aplicadores, vestidos com EPI, também reforçava sua ideia de que eles teriam consciência do que estavam fazendo. Além disto, a leitura dos rótulos por estes trabalhadores, também reforçava a imagem, diante de seus colegas, de o aplicador ser um trabalhador melhor informado. Enquanto papel indiretos dos rótulos, o fato do trabalhador com livre acesso ser identificado como uma fonte mais segura de informação, apontou para uma significação dos rótulos como importante ferramenta de comunicação, independentemente de sua real eficácia. A avaliação sobre a compreensão dos rótulos dos agrotóxicos, em especial por parte dos aplicadores, revelou que vários deles não haviam sido plenamente capacitados pelos cursos obrigatórios e que não liam os rótulos. As informações sobre precauções não eram adequadamente compreendidas, possivelmente devido ao baixo nível de escolaridade da maioria desses profissionais, que torna muito difícil a compreensão dos termos e frases de complexidade técnicos existentes nos rótulos de agrotóxicos. Além disso, as orientações sobre os intervalos de reentrada nas estufas eram baseadas em critérios de produção, definidos pelo proprietário da estufa. Assim, os aplicadores não eram, de fato, as pessoas mais qualificadas para responderem às dúvidas dos colegas que desenvolviam atividades de rotina, dentro das estufas. A presença de alguns trabalhadores com nível de escolaridade mais elevado (Ensino Médio completo) possibilitou a observação das diferenças nas atitudes desses trabalhadores, que apresentam‐se como cidadãos mais críticos e exigentes de seus direitos, socializando questões de interesse, através do diálogo entre pares e superiores, trazendo para a prática o Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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que, na teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas é chamado de razão comunicativa, na qual, necessidades sociais situam‐se no âmbito da discussão e da reflexão, propiciando a tomada de decisões baseadas nos valores da comunidade interessada (GONÇALVES, 1999). É possível verificar estas ocorrências nas falas: “A gente já teve brigas feias aqui com o patrão por causa disso... agora como nós estamos assim, num nível mais elevado, a gente debate com ele que a gente não vai ficar na estufa porque pode ser um produto que faça mal... Hoje, não sei o que aconteceu lá dentro, que eles já deixam pra passar quando a gente não está... a nossa colega (nome) está fazendo faculdade de Agronomia, aí o professor foi instruindo à ela e a gente conversou com eles para não passarem produto forte quando a gente estiver aqui dentro.” Q 28 “...depois que eu comecei a estudar eu comecei a... porque lá falam sobre riscos, sobre essas coisas, então a gente começou a aplicar aqui, a exigir não ficar (na estufa)”. Q 31 “Por isso estarmos fazendo sempre cursos... a gente está sempre explicando pra quem está lá o porque tá sendo feito... a gente aprende aqui e repassa... então tanto nós como os funcionários que estão lá, acabam aprendendo com a nossa vinda no curso.” Q 13 De acordo com os achados em literatura, um nível educacional mais baixo representa maior vulnerabilidade aos riscos, quando relacionada às dificuldades na leitura e compreensão de rótulos, bulas e de materiais de comunicação de risco (SOARES, FREITAS, COUTINHO, 2005; YAMASHITA, 2008; BEDOR, 2009). De acordo com Parente et al. (2009), a escolaridade é um componente que afeta o desempenho neuropsicológico, havendo diferenças entre indivíduos de alta e baixa escolaridade. Sobre a capacidade de argumentação e análise, a educação escolar colabora na construção lógica do raciocínio (FISCHER11, 1987 apud RINALDI, 2007). Assim, sendo a escolaridade um fator de interferência no nível de compreensão do individuo, há necessidade de que materiais de comunicação de riscos, sejam adequados ao público, considerando suas capacidades, linguagem e características próprias. 11
FISCHER, W. Human Communication and Narration: toward a philosophy of reason, value, and action. Columbia, SC:
University of South Carolina Press. 1987.
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Uma das questões que se agregaram à pesquisa e à comunicação de riscos é o fato, oriundo das entrevistas, de que os trabalhadores com mais instrução procuram por mais informação e conhecimento, sobre questões de risco e saúde. Ao aprender sobre o produto, este trabalhador é empoderado em sua atividade, na medida em que tem domínio da informação acerca de sua realidade profissional. Dessa forma, tem maiores condições críticas de avaliar e discutir o processo produtivo, exigindo para si e para seus pares o direito a proteção à sua saúde. Pelas diferenças mostradas nos tipos e na qualidade da informação disponibilizada aos dois grupos, aplicadores e demais trabalhadores de estufas de flores e plantas ornamentais, evidencia‐se a necessidade da intervenção de um projeto adequado de comunicação de riscos, dirigido à carência de informações apresentada por estes trabalhadores, especialmente no que se trata de questões de saúde. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Conclusões e recomendações Os dados obtidos a partir deste estudo permitiram observar as atitudes dos trabalhadores de estufas de flores e plantas ornamentais durante a execução de sua rotina de trabalho e identificar de que modo as informações recebidas por eles exercem influência em sua prática de trabalho, percepção e na diminuição de sua exposição. Os trabalhadores reconhecem seu ambiente de trabalho como não isento de perigo, devido à presença dos agrotóxicos em sua rotina diária. O risco de exposição é percebido, mas eles não têm clareza quanto à maneira como isso ocorre. Por desconhecerem as implicações à saúde relativas ao contato dos agrotóxicos e de seus resíduos com a pele, os trabalhadores, não estavam alertas para exigirem que as precauções e medidas preventivas necessárias para evitar a contaminação e o adoecimento fossem tomadas pelos contratantes. Os manejadores e os ajudantes são os trabalhadores mais carentes de informação, por não fazerem uso dos agrotóxicos em sua rotina de trabalho e não terem como premissa o contato com os rótulos, além de não serem adequadamente orientados sobre os riscos do contato com os agrotóxicos. Os aplicadores têm um pouco mais de acesso à informação, porém, essa informação é incompleta ou não foi plenamente compreendida. As informações recebidas e conhecidas não são precisas e não há uma fonte segura que forneça informações relevantes sobre o trabalho com agrotóxicos. Desta forma, os trabalhadores sentem medo daquilo que não conhecem, mas percebem. Uma vez que a maioria dos entrevistados afirma não compreender as instruções nos rótulos dos agrotóxicos e que as informações conhecidas e recebidas por eles provêm de fontes cujo conhecimento técnico é muito variável, conclui‐se que o conjunto de informações que estes trabalhadores têm não é eficiente, ou suficiente, para contribuir com a minimização de sua exposição, nas atividades diárias de seu trabalho. A falta de domínio da informação não permite ao trabalhador a reivindicação de seus direitos nos cuidados e preservação de sua saúde. É de responsabilidade do empregador a Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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organização do trabalho de forma a propiciar condições adequadas ao trabalhador, bem como, de fornecer informações claras e compreensíveis sobre as características e as consequências da atividade de trabalho com agrotóxicos. Juntamente a esses procedimentos, é necessário, em acordo com a proposição dos projetos de comunicação de riscos, dar voz à experiência dos trabalhadores, a fim de discutir questões relativas à atividade, de forma a melhorar a gestão de riscos no ambiente. Assim, com base no quadro apresentado, considerando a necessidade de se desenvolver um material de comunicação de riscos, ele deverá ser adequado às características culturais e educacionais dos trabalhadores de estufas de flores e plantas ornamentais, buscando suprir as suas deficiências de informação relacionadas à atividade e ao ambiente de trabalho. O material de comunicação deverá inserir a informação no contexto das estufas de flores, incorporando a maneira como o risco é percebido pelo este público‐alvo. Em relação à contaminação por agrotóxicos, a comunicação sobre os riscos deverá abordar mais que a mera explicação de dados técnicos. Ela deverá propiciar conhecimento sobre o potencial de danos à saúde e ao meio ambiente, além de orientações claras, voltadas para as precauções a serem adotadas na prática do dia‐a‐dia das estufas, bem como informações sobre as obrigações dos gestores em relação às boas práticas de trabalho. O conteúdo técnico de informações, recomendado pela NR‐31, pode ser utilizado como um roteiro básico, mas os elementos que subsidiarão o desenvolvimento de um material de comunicação focado e mais efetivo, são as necessidades específicas de informação do público‐alvo ao qual se dirige. Estas necessidades determinam o recorte necessário para definir o conteúdo da mensagem a ser emitida. Os elementos que deverão constar em um material de comunicação de riscos, a fim de retratar as necessidades dos trabalhadores de estufas de flores e plantas ornamentais, conforme identificadas neste estudo, são: ‐ O que é a exposição indireta, como se dá e formas de prevenção; ‐ Tipos de intoxicação, consequências à saúde em curto e em longo prazos, com foco especial para a exposição dérmica; Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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‐ Cuidados pessoais, EPIs necessários no trabalho diário, higienização pessoal e de roupas de trabalho; ‐ Qual a importância e por que é necessário respeitar o intervalo de reentrada. Em razão do nível de escolaridade da maior parte dos trabalhadores estudados ser muito baixo, é necessário que a comunicação de riscos use o mesmo código entre emissor e receptor, adequando sua linguagem de forma que seja compreensível a este público. Além deste aspecto, há necessidade de contemplar a variabilidade do nível educacional desta população. Para efeito de comunicação de risco, os canais de comunicação mais adequados ao perfil dos trabalhadores de estufas de flores, devem ser mais pessoais e especificamente dirigidos a este público. Uma vez que esses trabalhadores estão habituados a receber informações verbalmente, a formação de agentes multiplicadores da informação, selecionados entre profissionais que já possuem a confiança deste grupo, pode auxiliar na disseminação de informações, colaborando com o processo de comunicação de riscos. Para a elaboração de materiais de apoio, recomenda‐se, num primeiro momento, a formação de grupos de trabalhadores com os quais se deve conversar, a fim de trocar ideias, esclarecer dúvidas e levantar maiores subsídios para o desenvolvimento de outros materiais informativos. Para o desenvolvimento de material gráfico, um designer deve acompanhar as reuniões, a fim de definir qual sua melhor forma de apresentação. O material deve, necessariamente, passar por testes entre os grupos, antes de sua execução final. Os materiais de apoio complementam a troca de informações e uma vez projetados, devem ser acompanhados de indicativos de seu uso. O foco da comunicação de riscos deve ser a educação do trabalhador, com projeto de treinamentos continuados. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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9 ANEXOS
9.1
Roteiro de entrevista Perfil socioeconômico 1. Sexo: 2. Idade: 3. Onde você nasceu? 4. Grau de escolaridade. Até que ano frequentou a escola? 5. Estado civil: 6. Tem filhos? Se sim, quantos? Se sim, ajuda na estufa? Como? 7. Você tem carteira assinada? Se não: como é seu contrato? Processo de trabalho nas estufas 8. Há quanto tempo você trabalha em estufa? E antes, já trabalhava com agricultura? Quanto tempo? 9. Como vocês chamam o produto usado para tratar as plantas/matar os bichinhos? 10. Qual é o seu trabalho na estufa. Quais são suas atividades, o que você faz no dia‐a‐dia? 11. Em qual das suas atividade você gasta mais tempo? 12. Você tem contato com o agrotóxico no seu trabalho? Quanto tempo (horas, dias, vezes) por dia (semana/mês)? 13. Você passa o dia todo na estufa? E quando aplica agrotóxico? Por quê? Somente para aplicadores e preparadores de calda 14. Você. prepara a calda? Onde? Como é feito o preparo? 15. Como é a aplicação? Que tipo de aplicador você usa? Como ela é feita? Leitura e compreensão dos rótulos dos agrotóxicos 16. Você lê os rótulos dos produtos? O que você procura/quer saber quando olha o rótulo? O que te interessa? 17. O rótulo é fácil ou difícil de entender? Você acha a letra fácil, boa ou pequena? Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Veja se você entende o que está escrito neste exemplo: “Não execute aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a
uma distância inferior a 500 (quinhentos) metros de povoação e de
mananciais de captação de água para abastecimento público e de
250 (duzentos e cinqüenta) metros de mananciais de água, moradias
isoladas, agrupamentos de animais e vegetação suscetível a danos.”
18. Você sabe pra que tem as figuras no rótulo? Para quê você acha que elas servem? 19. O que você acha que significam estas figuras? 20. Você sabe por que tem esta faixa colorida? O quê você acha que ela quer dizer? O que você acha que significa cada cor? 21. Por que os produtos tem rótulo? Pra que eles servem? O que você acha que o rótulo explica? Acesso à informação e conhecimento dos riscos e cuidados no trabalho com agrotóxicos 22. Você já recebeu instrução sobre os agrotóxicos aplicados aqui na estufa? Como foi? 23. Você acha que precisa conhecer as informações sobre o produto para realizar suas tarefas? Por quê? 24. Quando você tem alguma dúvida sobre o seu trabalho/produto aonde você busca informação? Qual informação? 25. Você usa proteção quando mexe nas plantas? Por quê? Se sim, qual? 26. Quem fica na estufa junto com o aplicador usa proteção? 27. Quem lava sua roupa? Como? Onde? 28. Você se lava ou toma banho depois da aplicação ou no final do dia de trabalho? Onde? Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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29. Você acha que o trabalho na estufa pode mexer com a saúde? 30. E ficar perto do agrotóxico, afeta a saúde? Se sim, de que jeito? 31. Você acha que o pessoal sabe usar o produto, sabe se proteger, ou eles têm dificuldade? Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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9.2
Termo de Consentimento livre e esclarecido (participante) TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado participante, Você está sendo convidado(a) para participar da pesquisa “Elementos para o desenvolvimento de um material de Comunicação de Riscos: As fontes de informação e sua influência na exposição ao agrotóxico pelos trabalhadores de estufas de flores e plantas ornamentais ”. A pesquisa está sendo desenvolvida pela pesquisadora Glaucia de Menezes Fernandes, aluna de Mestrado em Trabalho, Saúde e Ambiente da Fundacentro, sob a orientação da Professora Dra. Alcinéa Meigikos dos Anjos Santos. Também fazem parte da equipe os seguintes pesquisadores: Marcela Gerardo Ribeiro, Walter dos Reis Pedreira Filho, Paula Peixoto Monteiro, Fernanda de Freitas Ventura e Thaís Maria Santiago Morais Barros. Acreditamos que você pode nos ajudar contando como é a sua rotina de trabalho com as flores e plantas ornamentais. Queremos saber se as pessoas que trabalham aqui sabem sobre os cuidados para se trabalhar com os agrotóxicos. Queremos aprender também sobre os diferentes modos usados pelos trabalhadores para tentar evitar a contaminação. Você está sendo convidado(a) a fazer parte nesta pesquisa porque nós acreditamos que sua experiência como aplicador de agrotóxicos ou no manuseio das plantas será importante para entendermos as atividades de trabalho nas estufas. É nosso interesse saber mais sobre as práticas de trabalho locais, conhecer seu dia‐a‐dia de trabalho e como os rótulos dos produtos dão a informação sobre o uso, porque isso poderá nos ajudar a aprender como melhorar o seu trabalho com os agrotóxicos. Com essa pesquisa nós queremos colher informações para verificar se há necessidade de elaborar algum tipo de material de comunicação especial para os trabalhadores de estufas. Para isso, precisamos:  saber se as pessoas que trabalham em estufas sabem sobre os cuidados para se trabalhar com os agrotóxicos;  verificar se as informações contidas nos rótulos dos agrotóxicos são entendidas e usadas pelos trabalhadores;  aprender sobre os diferentes modos usados pelos trabalhadores para evitar a contaminação. Sua participação nesta pesquisa não é obrigatória. Você pode decidir se quer ou não participar. Se você concordar no início, mas mudar de ideia mais tarde, poderá deixar de participar. Você não será penalizado de nenhuma maneira caso decida não consentir na sua participação, ou desistir da mesma depois. Porém, a sua participação contribuirá para a melhoria dos conhecimentos sobre o uso dos agrotóxicos, beneficiando não só a você como a todos em condições de trabalho semelhantes às suas. Suas informações poderão ser úteis para preparar materiais de comunicação que informem sobre a maneira mais adequada de lidar com os agrotóxicos, ajudando no seu trabalho e na sua saúde. A sua participação consistirá em responder perguntas de um roteiro de entrevista a um dos pesquisadores da equipe de pesquisa. As perguntas serão feitas em seu próprio local de trabalho, em algum lugar que for melhor para você. Ninguém mais, além do (a) entrevistador (a) estará presente, a menos que você queira que outra pessoa esteja junto. Se você se sentir incomodado(a) em falar, ou não desejar responder a alguma das perguntas durante a entrevista, é só dizer e o (a) entrevistador Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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(a) passará para a próxima pergunta. O tempo de duração da entrevista é de aproximadamente uma hora. A entrevista será gravada, se você autorizar. Todas as informações registradas em papel e as gravações são confidenciais e sigilosas. As entrevistas receberão um número e ninguém ficará sabendo quais foram as suas respostas, nem seu patrão, nem os seus colegas de trabalho ou familiares. Somente a pesquisadora Glaucia de Menezes conhecerá os números. Os registros serão guardados em local seguro por cinco anos, conforme Resolução 196/96 do CONEP, e depois serão queimados. Os resultados finais da pesquisa serão divulgados em palestras dirigidas aos participantes da pesquisa, em artigos científicos e em congressos e seminários. Em nenhuma dessas oportunidades, os nomes das empresas e de seus funcionários serão mencionados. Se você tiver qualquer pergunta, você pode perguntar agora ou depois. Se você desejar fazer perguntas depois, você pode nos encontrar na Fundacentro: Rua Capote Valente, 710 – Pinheiros – São Paulo/SP – CEP 05409‐002 ou com as seguintes pesquisadoras: Glaucia de Menezes Fernandes Telefone: (11) 3066‐6326 e‐mail: [email protected] Alcinéa M. dos Anjos Santos Telefone: (11) 99687‐7520 e‐mail: [email protected] Este Termo de Consentimento está redigido em duas vias de igual conteúdo, sendo uma para o participante e outra para o pesquisador. Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e concordo em participar. ( ) Autorizo a gravação da entrevista ( ) Não autorizo a gravação da entrevista Estufa: ____________________________________________________________________ Nome do participante: _______________________________________ Código: __Q00___ Assinatura: ________________________________________________________________ Assinatura da testemunha (se necessário): _______________________________________ Nome e Assinatura do pesquisador: _____________________________________________ Data: ________________ Esta pesquisa foi registrada sob N CAAE 08786112.8.0000.0084 e revisada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie que é um comitê cuja tarefa é ter certeza que aqueles participantes de pesquisa serão protegidos de qualquer dano. Se você deseja mais sobre o Comitê, entre em contato com seu coordenador: Dr. Elizeu Coutinho de Macedo – Telefone (11) 2114‐8144 / e‐mail: [email protected] Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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9.3
Termo de Consentimento livre e esclarecido (produtor) TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado Senhor Produtor, A Fundacentro, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, é um órgão do Ministério do Trabalho e Emprego, que tem por objetivo o desenvolvimento de pesquisa na área de Segurança e Saúde no Trabalho. O projeto de pesquisa “Exposição Ocupacional a Pesticidas: O Trabalho em Estufas de Flores” vem sendo desenvolvido desde 2007 com o objetivo de avaliar as condições de trabalho e a potencial exposição a pesticidas dos trabalhadores de estufas de flores. A primeira etapa deste projeto foi concluída em 2011 e os resultados iniciais da pesquisa foram apresentados em reunião na sede da AFLORD (Associação dos Floricultores da Região da Via Dutra), ocorrida em 01/02/2012. Conforme divulgado na ocasião da reunião, uma nova etapa do projeto foi iniciada em 2012. Sua estufa está sendo convidada para participar da pesquisa “Elementos para o desenvolvimento de um material de Comunicação de Riscos: As fontes de informação e sua influência na exposição ao agrotóxico pelos trabalhadores de estufas de flores e plantas ornamentais”. A pesquisa está sendo desenvolvida pela pesquisadora Glaucia de Menezes Fernandes, aluna de Mestrado em Trabalho, Saúde e Ambiente da Fundacentro, sob a orientação da Professora Dra. Alcinéa Meigikos dos Anjos Santos. Também fazem parte da equipe os seguintes pesquisadores: Marcela Gerardo Ribeiro, Walter dos Reis Pedreira Filho, Paula Peixoto Monteiro, Fernanda de Freitas Ventura e Thaís Maria Santiago Morais Barros. Sua experiência no manuseio das plantas ou na aplicação de agrotóxicos será importante para o entendimento das atividades de trabalho nas estufas. É nosso interesse saber mais sobre as práticas de trabalho locais, porque isso poderá nos ajudar a aprender como controlar melhor a contaminação por agrotóxicos. A finalidade dessa pesquisa é compreender a realidade do trabalho em estufas de flores e colher informações que servirão de base para orientar a elaboração de material de comunicação destinado à prevenção e cuidados acerca do uso dos defensivos agrícolas, também conhecidos como agrotóxicos, nessa atividade. Essas informações serão obtidas a partir de entrevistas com os trabalhadores que aplicam esses produtos e aqueles que manuseiam as plantas após a aplicação. As perguntas serão feitas no próprio local de trabalho. Procuraremos interferir o mínimo possível em sua rotina e tarefas. As entrevistas serão individuais e sigilosas. Todas as informações registradas em papel e as gravações receberão um código. Dessa maneira, nem sua empresa e nem seus funcionários serão identificados quando os resultados forem divulgados. Somente a pesquisadora Glaucia de Menezes conhecerá os códigos. Os registros serão guardados em local seguro por cinco anos, conforme Resolução 196/96 do CONEP, e depois serão queimados. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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Os resultados finais da pesquisa serão divulgados em palestras dirigidas aos participantes da pesquisa, em artigos científicos e em congressos e seminários. Em nenhuma dessas oportunidades, os nomes das empresas e de seus funcionários serão mencionados. Os resultados servirão para verificar qual o tipo de material de comunicação é mais adequado para orientar os trabalhadores de estufas de flores e plantas ornamentais. Para que a pesquisa possa ser realizada com sucesso, contamos com sua preciosa colaboração e autorização. Se houver qualquer pergunta, pode fazê‐la agora ou depois. Se desejar fazer perguntas depois, pode nos encontrar na Fundacentro: Rua Capote Valente, 710 – Pinheiros – São Paulo/SP – CEP 05409‐002 ou com os seguintes contatos: Glaucia de Menezes Fernandes Telefone: (11) 3066‐6326 e‐mail: [email protected] Alcinéa M. dos Anjos Santos Telefone: (11) 99687‐7520 e‐mail: [email protected] Este Termo de Consentimento está redigido em duas vias de igual conteúdo, sendo uma para o participante e outra para o pesquisador. Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e permito que meus funcionários sejam entrevistados em seu local de trabalho. Estufa: Endereço: Telefone: Assinatura: ___________________________________________________________ Data: Esta pesquisa foi registrada sob N CAAE 08786112.8.0000.0084 e foi revisada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie que é um comitê cuja tarefa é ter certeza que aqueles participantes de pesquisa serão protegidos de qualquer dano. Se você deseja mais sobre o Comitê, entre em contato com seu coordenador: Dr. Elizeu Coutinho de Macedo – Telefone (11) 2114‐8144 / e‐mail: [email protected]. Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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9.4
Parecer de aprovação – Conselho de Ética Programa de Pós-graduação em Trabalho, Saúde e Meio Ambiente da Fundacentro
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