Visualização do documento A Primeira Grande Guerra - As potencias em conflito e a guerra.doc (71 KB) Baixar A Primeira Grande Guerra Márcia Maria Menendes Motta AS POTÊNCIAS EM CONFLITO E A GUERRA A Primeira Guerra Mundial envolveu vários países, mas representou, principalmente, o confronto entre quatro potências: França, Inglaterra, Rússia, por um lado, e a Alemanha, do outro. Para compreender as razões da eclosão deste primeiro conflito mundial é preciso ter em mente que ele foi uma guerra imperialista, onde as rivalidades políticas expressavam a competição econômica das potências em conflito. As principais nações envolvidas eram diferentes entre si, mas, apesar disso, as transformações ocorridas na Europa durante a segunda metade de século 18 e por todo o século 19, caracterizadas pelo aparecimento do capitalismo industrial, só podem ser entendidas em seu conjunto. As diferenças entre países refletiam os problemas criados pela industrialização e a conseqüente competição por mercados e capitais. Em suma, o desenvolvimento do capitalismo empurrou o mundo inevitavelmente em direção a uma rivalidade entre os Estados, à expansão imperialista, ao conflito e à guerra (Hobsbawm, 1995, p. 437). Comecemos pela Inglaterra, a primeira nação industrial do mundo de então. Em fins do século 18, a Inglaterra tinha dado início à Revolução Industrial. Através da utilização da máquina a vapor e da indústria têxtil, os ingleses iniciaram um processo de modificação das formas de produzir que alteraria a sociedade em todos os seus aspectos. Além disso, o processo de fechamento dos campos havia liberado grande parte da população camponesa, que, expulsa do campo, foi para a cidade em busca de emprego, A aceleração do crescimento econômico inglês se beneficiava da existência de um amplo e consolidado mercado interno. Além disso, havia um importante comércio ultramarino, sendo a Inglaterra considerada como "a senhora dos mares". No entanto, na primeira década do século 20, aquele país "pagava o preço" por seu pioneirismo. O surgimento de outros países industriais colocou um limite à expansão da indústria britânica. A experiência inglesa servia como modelo para os novos países industriais. Isso não quer dizer que eles imitavam passo a passo o que havia ocorrido com a Inglaterra. Isso, sabemos, era impossível. Eles não precisavam passar por todos os estágios, podiam "queimar etapas", pois, à luz da realidade britânica, acumulavam um maior conhecimento acerca do processo industrial. Assim, ameaçada pelo crescimento econômico das outras potências, a Inglaterra tinha - naquela época - equipamentos e tecnologias obsoletos em comparação, principalmente, com a forte indústria alemã. Vejamos então a experiência alemã. Em menos de uma geração, a Alemanha transformou-se de um conjunto de estados economicamente atrasados num país unificado e forte. Impulsionada pela indústria pesada, com uma base tecnológica muito avançada, a Alemanha adquiriu o status de potência em poucos anos. Sem romper as estruturas políticas mais arcaicas da sociedade, o Estado alemão apoiava-se no poder dos grandes proprietários de terra e impulsionava sua industrialização, que tinha como característica uma forte associação entre a indústria e os bancos. O estímulo à construção de estradas de ferro ajudou a consolidar o mercado interno, ao mesmo tempo que fortaleceu sua industrialização. O processo de industrialização alemão foi resultado de um planejamento cuidadoso. Para responder à forte concorrência britânica, o Estado alemão estimulou a formação de cartéis, favorecendo a generalização de grandes conglomerados industriais capazes de concorrer nos mercados nacional e internacional. Além disso, desde cedo, o Estado percebeu que sua desvantagem econômica poderia ser superada através da educação. Assim, ao patrocinar e estimular um sistema de educação técnica e científica direcionada à industrialização avançada, o Estado formou em poucos anos uma nova geração de homens científica e tecnicamente qualificados, "preparados para acabar rapidamente com a inferioridade alemã na indústria e para assegurar o primeiro lugar à Alemanha nas indústrias dependentes da ciência, que se estavam a tornar cada vez mais importantes". A França era a outra potência. Sua industrialização havia seguido um curso diverso do da Inglaterra, e possuía características surpreendentes. No início do século 19, a França tinha uma economia ainda dominada pelo setor agrário. A maior parte da população francesa vivia no campo. Neste sentido, o mercado interno era pouco desenvolvido, pois os camponeses só esporadicamente compravam algum produto industrial. As poucas industrias existentes atendiam a uma pequena parcela da população que vivia nas cidades. Além disso, a concorrência dos produtos ingleses desestimulava os investimentos que pretendessem rivalizar com eles. Assim, ao contrário das indústrias têxteis inglesas, os franceses, desde o início, concentraram suas indústrias nos produtos de qualidade, aproveitando o fato de que a cultura francesa era, àquela época, sinônimo de beleza e bom gosto. Com o auxílio do Estado e com o apoio do capital inglês, foram construídas estradas de ferro que permitiram a consolidação do mercado nacional, encorajando o investimento na indústria em larga escala e a sua concentração em locais mais favoráveis. Apesar dos avanços porém, a França era ainda um país atrasado, se comparado à Inglaterra; particularmente, à Alemanha. Para alguns autores, a razão desse atraso em vez fosse decorrência do fato de que a industrialização francesa tenha só um fator de menor ruptura social, na medida em que preservou, por exemplo, a sociedade camponesa. A quarta e última potência era a Rússia. Sua força não estava na industria. De cerra forma, ela era um "gigante com pés de barro". Havia de ser um setor industrial eficiente e tecnologicamente avançado, mas este setor uma ilha num país de camponeses, pois cerca de 79% da população r eram ainda compostos de pessoas que viviam no campo. Portanto, um de imensos contrastes, onde o que havia então de mais moderno em ter industriais convivia com sociedades agrárias miseráveis. Se podemos falar que havia um processo industrial em curso na Rússia, não podemos nos esquecer de que tal industrialização era dependente de capital estrangeiro vésperas da Primeira Guerra Mundial, o capital internacional controla cerca de 72% dos investimentos diretos no setor metaI/mecânico e investe fortemente na indústria têxtil, até então reservada ao investimento de capitalistas russos. A Rússia era, em suma, uma potência em número de habitantes. O populoso dos países europeus era dominado por um Estado militarizado e autoritário, que procurava atuar como intermediário entre o capital internacional e a indústria. Cabia a esse Estado a responsabilidade de assegurar a ordem e a paz social, tentando impedir as revoltas dos operários e camponeses contra a miséria que então assolava o país. A Primeira Guerra só foi crescer a miséria e a desorganização econômica, trazendo à luz a frágil da industrialização desse país. O SÉCULO 20 A descoberta de novas fontes de energia, de novos remédios e de novas tecnologias fortalecia a crença na inesgotável capacidade humana de inventar, de criar novos produtos, dando a ilusão de que se estava vivendo um período áureo da humanidade. Era a Belle Époque, conhecida pelo seu otimismo, pela certeza de uma estabilidade e paz duradouras. Mas, na verdade, o desenvolvimento econômico daqueles quatro países (Inglaterra, Alemanha, França e Rússia) acentuava a hipótese de conflitos. Os esforços da industrialização e a competição desenfreada tendiam a recriar antigas rivalidades. Nesse sentido, a deflagração de uma guerra entre duas ou mais potências era uma realidade possível. Não era à toa que a indústria bélica via aumentar os seus recursos, incentivando-se a criação de novas tecnologias para a morte. Um período de "Paz Armada" pois, além das novas armas, foi adotado, em quase todos os países, o serviço militar obrigatório. A obrigação do jovem em prestar serviço militar tinha por si só efeitos sociais bastante significativos, pois fazia crescer a influência do exército na sociedade e na política de seus países, a disciplina dos quartéis tornava-se, um exemplo a ser seguido em outros locais. Mas nenhum governante acreditava numa guerra longa que pudesse vir a envolver tantas nações. O surgimento do sistema de alianças e a formação de blocos atendiam aos interesses de cada país de se defender em relação à ofensiva de um terceiro, mas era difícil prever que isso provocaria um efeito dominó, ou seja, uma vez iniciado o conflito, as partes envolvidas num acordo se colocariam na defesa de sua aliança em contraste com a(s) outra(s). De certa forma, a idéia de que a guerra seria curta e rápida estava de acordo com a crença na superioridade de um país em relação ao outro. Com a industrialização, fortaleceu-se o nacionalismo dos países, o que significou a construção e generalização de um conjunto de tradições que procuravam convencer a população de cada país de sua importância e superioridade na história mundial. O passado de cada nação era contado de forma a mostrar sua força e a união de seu povo. Desdobrava-se do nacionalismo a idéia de um inimigo externo (outra nação), encarado como o responsável pelos problemas vividos pelo país. O Estado tinha então um importante papel a cumprir. A generalização da educação pública consolidou uma única língua nacional, construiu uma única história e, para tanto, utilizou-se de antigas mágoas e rivalidades. Era necessário forjar a noção da noção da superioridade de um povo em relação ao outro e criar, em caso de derrotas passadas, o desejo da revanche. O nacionalismo era assim criado para fortalecer a unidade nacional, a obediência de todos cidadãos aos interesses do país, fortalecendo o patriotismo, que, uma vez tratado, faria com que milhares de jovens se mostrassem dispostos a defender de seu país numa guerra. Não era difícil supor que a rivalidade entre França e Alemanha pode provocar um conflito. Afinal, a unificação da Alemanha em 1871 ocorreu interior da Guerra Franco-Prussiana, que significou para a França não mente a derrota, como também a perda das regiões da Alsácia (rica em ferro e carvão). Não era difícil supor que o rápido desenvolvimento, da indústria alemã ameaçava de frente os interesses ingleses e exigia, por parte da Inglaterra, medidas de contenção ao poder germânico. A Alemanha por sua vez, via com grande interesse a possibilidade real de se tornar a principal potência européia. A expansão imperialista de cada um desses, países era um fato por si explosivo. Assim, por exemplo, a região dos Bálcãs parecia um barril de pólvora, envolvendo interesses da Áustria, da Rússia e do Império Turco. Ali seus interesses austríacos esbarravam no desejo de autonomia das minorias étnicas e no avanço russo na região. A Alemanha, interessada em preservar seus acordos com a Áustria formou então a Tríplice Aliança, composta por seu país, o Império Austro-Húngaro e a Itália (que mais tarde iria se aproximar de outra aliança). Havia ainda o confronto envolvendo a Inglaterra e a França em rela, à região do Marrocos. O esforço de superar a rivalidade entre eles criou o Entente Cordiale, que estabeleceu acordos para a definição das áreas coloniais na África. O acordo firmado entre França e Inglaterra acabou por definir uma estratégia contra o avanço alemão, uma vez que ambos os países sofriam os resultados - diretos ou indiretos - da expansão imperialista da Alemanha. A Entente Cordiale ainda contaria mais tarde com a participação da Rússia. Necessitando dos capitais franceses e ingleses para empreender sua industrialização, a Rússia firmou um acordo com as duas potências. Além disso, o país buscava expandir sua influência em direção aos Bálcãs, apoiando a independência dos povos eslavos, que então eram dominados pelo Império Austro-Húngaro. O INÍCIO E A GENERALIZAÇÃO DA GUERRA: AS FRENTES DE BATALHA A gota d'água para a eclosão da guerra foi um atentado que levou à morte o príncipe herdeiro do trono austríaco, realizado em Sarajevo, capital da atual Bósnia, então uma província do Império Áustro-Húngaro. Estavam ali em disputa dois projetos. De um lado, a Sérvia, país também localizado nos Bálcãs, que defendia a formação de uma grande Sérvia, capaz de abrigar todos os povos eslavos da região. Nesse sentido, aproximarase da Rússia. De outro lado, a Áustria-Hungria, com suas ambições imperialistas na região. Em 1914, o herdeiro do Império Austro-Húngaro, prestes a assumir o poder, divulgava o seu projeto, que se resumia em constituir uma monarquia tripla, composta pela Áustria, Hungria e pela população eslava. Ao chegar em Sarajevo para propagar suas intenções, o herdeiro foi morto por uma sociedade secreta, a Mão Negra, que defendia a incorporação da Bósnia à Grande Sérvia e sua independência ante os interesses austro-húngaros. A morte do herdeiro do Império Austro-Húngaro tornou-se assim o estopim do conflito, uma vez que a Áustria, apoiada pela Alemanha, exigiu a apuração sumária do episódio. Ora, como isso não foi feito, a Áustria declarou guerra à Sérvia. Para se precaver contra a ofensiva desse império, os série, procuraram a ajuda dos russos. Como um efeito dominó, o sistema de alianças transformaria um conflito regional na Primeira Guerra Mundial. Colocaram-se de um lado, e num primeiro momento, França, Inglaterra e Rússia; de outro, a Alemanha e a Áustria-Hungria. Os interesses alemães ficaram bastante claros logo no início do conflito, através da tática conhecida como Plano Schlieffen. Formulado por Alfred von Schlieffen, o plano partia da crença de que a guerra seria de curta duração. Assim, preparou-se um estudo de operações militares que previa a violação do território belga e do noroeste da França, passando a oeste de Paris. Segundo as previsões do plano, os franceses seriam então derrotados num período máximo de 40 dias. Após a derrota francesa, os alemães atacariam os russos. A ofensiva alemã, portanto, começou pela Bélgica e pelo noroeste da França e partia do pressuposto da inexorabilidade da vitória alemã, desconsiderando assim a capacidade de resistência, tanto de belgas quanto de franceses. A superioridade inicial do exército alemão fez., de fato, com que os franceses fossem obrigados a recuar. A chegada do exército inglês à Bélgica não impediu as primeiras derrotas dos aliados. Tudo indicava que os alemães estavam corretos em sua previsão. Eles estavam tão confiantes no sucesso seu plano que, já em fins de agosto de 1914, as tropas germânicas se deslocavam para a Europa Oriental, em direção à Rússia. Logo no início da Primeira Guerra Mundial, portanto, estabeleceram duas frentes de batalha: a ocidental e a oriental. Na primeira, localizavam-se os embates dos exércitos alemães contra as tropas inglesas e francesas; já na segunda, encontravam-se os conflitos que envolviam, por um lado, alemães e austríacos e, pelo outro, os russos. Apesar da esperança de todos, a guerra mostrava-se cruel: ela não seria de curta duração. Logo, desde os primeiros meses, colocou-se a questão dos efetivos militares, em razão das enormes perdas sofridas no início do contato. O dispêndio de munições superou assim todas as previsões. Os Estados então envolvidos na guerra tiveram que se organizar para armar, equipar e abastecer os exércitos que, apesar das previsões otimistas, não voltariam logo para suas casas. Em relação ao confronto com a Rússia, na frente leste, os alemães perceberam que a situação ali era extremamente delicada. Apesar da superioridade germânica, do ponto de vista do arsenal militar, os russos eram bastante numerosos e, naquele momento, confiantes em sua responsabilidade de defender o país do tzar. No entanto, em fins de agosto de 1914, o exército abriu mão conseguiu uma expressiva vitória na frente oriental, na batalha de Tarmemberg. Em 29 de outubro, os russos tiveram ainda que enfrentar mais um novo inimigo, com a entrada do Império Turco na guerra. Em resposta a França, Grã-Bretanha, Bélgica e Sérvia declararam guerra àquele país. Na frente ocidental ocorreu, ainda no ano de 1914, uma das principais batalhas da Primeira Guerra - a Batalha do Marne. A sua importância resume-se no fato de que ela consagrou a derrota do plano alemão e o surgimento da guerra de trincheiras. Ali, ambos os adversários iriam sentir os estados da guerra que dominaria a frente ocidental em quase todo o período do conflito. O domínio da artilharia e a incapacidade de vencer decisivamente o inimigo dariam um caráter estático à guerra, sem a possibilidade de aval real de nenhuma das partes envolvidas. De temporárias, as trincheiras passaram a ser então definitivas. Desde o Mar do Norte até Verdun, os soldados permaneciam entrincheirados e milhares de homens ali morreram sem uma das partes alcançasse a vitória. Os esforços dos aliados em vencer a guerra impunham a busca de novas estratégias de ataque. Assim, entre 1915 e 1916, as ofensivas inimigas conseguiam a vitória definitiva, apesar da preparação e do emprego da artilharia pesada. Em 23 de maio de 1915foi a vez da Itália se posicionar em relação ao conflito, declarando guerra contra a Áustria. Das batalhas que então se seguiram, a de Verdun mostrou ao mundo os efeitos arrasadores da guerra, quando os alemães tentaram quebrar o poderio francês. Os esforços dos aliados em vencer o inimigo deram origem, em 1916, ao Plano Joffre. Era, em suma, a decisão de um ataque franco-inglês na região do Somme, com o objetivo de destruir o avanço germânico. Dois acontecimentos importantes ocorreram nos anos de 1915 e 1916. O primeiro foi a chamada Campanha de Gallipoli. As forças aliadas desembarcaram na península de Gallipoli e ali encontraram as tropas turcas fortificadas e mais bem equipadas para a guerra de trincheiras do que eles próprios. A campanha, marcada por atos de heroísmo e cheia de sacrifícios culminou com a derrota aliada e sua retirada em junho de 1916. Como resultado da campanha, cabe ressaltar a entrada na guerra da Bulgária, ao lado da Alemanha, e a ocupação da Sérvia pelos inimigos. O segundo ocorreu em setembro de 1916, a chamada ofensiva do Somme, quando os tanques - inventados pelos britânicos - foram empregados pela primeira vez. O ano de 1917 seria decisivo para as forças aliadas. Em janeiro, a Alemanha proclamou o completo bloqueio da Grã-Bretanha e da França, e todas as potências neutras foram avisadas para que retirassem seus navios e vapores dos mares britânicos O bloqueio alemão, que significava na prática o afundamento indiscriminado de qualquer navio estrangeiro, acabou por impor a entrada dos Estados Unidos na guerra. Os Estados Unidos já eram uma potência e mantinham uma posição de neutralidade diante do que então acontecia com os países europeus. Assim, entre os anos de 1914 e 1917, os americanos não se envolveram no conflito, embora mantivessem estreita relação comercial com os Estados aliados, vendendo-lhes; alimentos e armas. Por conseguinte, o bloqueio alemão feria os interesses econômicos americanos, uma vez que impedia a manutenção das exportações deste país para os seus parceiros. Outro fator acelerou a decisão americana de declarar guerra à Tríplice Aliança: a saída da Rússia da guerra. A eclosão da Primeira Guerra Mundial foi um ponto de inflexão importante para a vitória da Revolução Russa de 1917. O crescimento da miséria e a desorganização da economia faziam crescer o descontentamento de todos os setores em relação ao Estado. O acirramento dos conflitos internos criou as condições para a Revolução de Fevereiro (de 1917), que derrubou o tzarismo e que, após sua queda, formou um governo provisório. No entanto, esse governo não atendeu aos anseios populares: manteve a Rússia na guerra não foi capaz de diminuir a miséria. A crise na indústria, a escassez de , mentos e a inflação davam os argumentos necessários para que os bolchevistas conseguissem aumentar sua influência junto ao operariado. A síntese c, lutas sociais de então. "pão, paz e terra" , respondia aos apelos dos pobres do campo e da cidade. Assim, em outubro de 1917, os bolchevistas, liderados por Lenin, tomaram o poder e, um pouco mais tarde, com a paz de Brenon Litovsk (março de 1918), conseguiram retirar a Rússia da guerra. Após a saída da Rússia, os alemães ampliaram seus esforços na frei ocidental para dar fim ao conflito e conseguirem afinal a vitória. Os meses finais de 1917 foram bastante problemáticos para os aliados, pois parecia impossível romper a linha germânica e avançar. Além disso, tanto a Áustria: como a Alemanha lançaram uma grande ofensiva no norte da Itália. As dificuldades das forças aliadas foram aos poucos sendo sanadas com os reforços americanos, cujos exércitos começaram a desembarcar na França. No entanto, durante os meses de abril e maio de 1918, os alemães ainda castigaram bastante as nações da Entente, mas isso teve um preço exército alemão estava também esgotado. Nos meses de junho e julho de 1918, apoiados pela aviação e pela artilharia pesada, os aliados começaram a acumular sucessivas vitórias. A criação de um comando único em julho, em mãos do general francês Foch, permitiu uma organização mais racional da ofensiva aliada. Um exemplo disso foi a chamada segunda batalha do Marne. Em junho, os austríacos foram derrotados pelos italianos. Logo depois, americanos e ingleses conseguiram romper as linhas alemãs e, a partir daí, estes foram sendo sucessivamente derrotados. Em 18 de novembro de 1918, após quatro longos anos de conflitos, mortes e sofrimentos para ambos os lados, o Estado alemão assinou o armistício. Para o povo alemão, porém, o reconhecimento da derrota significou a aceitação de um tratado marcado por humilhações ao povo e à nação alemã. A primeira Guerra Mundial terminara com a condenação de um único país visto como responsável pelo conflito. Mas sabemos que ela expressou de forma cruel a competição das potências e a crença na superioridade de um em detrimento de outra. Ao todo, 14 países da Europa entraram no conflito. Em 1917, um ano antes do término do conflito, apenas a Suíça, a Espanha e alguns reinos de escandinavos se mantinham neutros. Todos os demais foram arrastados a uma campanha cuja intensidade não parava de crescer. AS TÉCNICAS PARA O MASSACRE A morte de milhares de cidadãos franceses, alemães e ingleses, além de outros povos, ajudou a consolidar o adjetivo da Grande Guerra para este evento. Entre 1914 e 1918, muitos e muitos homens estiveram em lonas e cansativas batalhas, às vezes entrincheirados, lutando em nome de seu país, e morrendo por ele. A França teve 1,4 milhão de mortos, num período em que a população francesa era de 39 milhões de habitantes. A Alemanha perdeu 1,7 milhão de homens, numa população total de 66 milhões. As perdas humanas representaram o fim do sonho de um mundo de paz por parte daqueles que, em nome de seus países, haviam assumido a responsabilidade de defendê-los. Eram, em sua grande maioria, jovens soldados e, por conta disso, suas mortes representavam a perda de parte da população economicamente ativa, ou seja, de pessoas capazes de exercerem várias atividades profissionais. Na Inglaterra, por exemplo, um quarto dos alunos das importantes universidades de Oxford e Cambridge com menos de 25 anos morreu em combate. Mas as mortes desses mesmos homens traziam também à luz uma realidade muito dura para os seus países de origem. Muitas mulheres tornaram-se, com a perda de seus respectivos maridos, as "viúvas de guerra". Antes mesmo de se saberem viúvas, elas e outras mulheres haviam ingressado no mercado de trabalho, substituindo os homens que estavam nas frentes de batalha nas profissões que, até então, eram reservadas ao sexo masculino. Aprendendo a sobreviver sem a ajuda de seus maridos, elas tiveram ainda que aprender a criar sozinhas seus filhos, órfãos dos homens que morreram na guerra. Estas crianças que muitas vezes nem chegaram a conhecer seus pais, ficaram conhecidas como "pupilos da nação". A morte de milhares de homens foi decorrência direta do fato de estarmos tratando de uma guerra de trincheiras que se tornou - nas palavras de um importante historiador "uma máquina de massacre provavelmente sem precedentes na história da guerra". No princípio, a construção de trincheiras era vista como uma medida temporária e tinha como finalidade ser um bom campo de tiro para as armas portáteis. No entanto, elas se tornaram o palco principal da guerra, na medida em que nenhum dos dois lados conseguia avançar. Milhões de homens ficavam une diante dos outros nos parapeitos das trincheiras em barricadas feitas com sacos de areia, Ali, conviviam diariamente com ratos e piolhos - agentes transmissores de infinitas doenças. Sem auxílio médico, morriam muitas vezes em razão de enfermidades. A guerra de trincheiras impedia ainda a remoção dos cadáveres abandonados, o que só agravava o estado geral da degradação e dor. A guerra de trincheiras trazia também graves conseqüências psicológicas para aqueles que sobreviviam ao caos. Nas palavras de um famoso historiador, o combatente estava a todo instante sujeito a uma tensão nervosa e o abastecimento não chegava, os bombardeios martelavam as posições de destruir as redes, as trincheiras e os abrigos, os obuses de grosso calibre abriam enormes buracos, que transformavam o terreno num campo de crateras que a chuva convertia em lamaçal. O sofrimento daqueles homens pode ser sentido através de alguns seus depoimentos, escritos nos campos de batalha. Um combatente da ilha do Somme escreveu: "A mesma velha trincheira, a mesma paisagem, Os mesmos ratos, crescendo como mato, Os mesmos abrigos, nada de novo, Os mesmos e velhos cheiros, tudo na mesma, Os mesmos cadáveres no front, A mesma metralha, das duas às quatro, Como sempre cavando, como sempre caçando, A mesma velha guerra dos diabos" Uma carta encontrada no bolso de um soldado alemão afirmava: "Estamos tão exaustos que dormimos, mesmo sob intenso barulho. A mais coisa que poderia acontecer seria os ingleses avançarem e nos fazerem pioneiros. Ninguém se importa conosco. Não somos substituídos. Os aviões caçam projéteis sobre nós. Ninguém mais consegue pensar. As rações estão esgotadas - pão, conservas, biscoitos, tudo terminou! Não há uma única gota de água. É o próprio inferno. Entrincheirado, o soldado deveria estar disposto a resistir aos bombardeios, à fome e ao desespero. Com um pouco de sorte poderia vir a sobreviver aos caos, mas, para que isso pudesse ocorrer, era preciso também que ele estivesse imbuído da ética da responsabilidade, da crença de que a vitória na guerra dependia de sua coragem, de sua capacidade sobre-humana de resistir. A resistência era um valor, que um vez compartilhado por todos os soldados entrincheirados, permitia que eles acreditassem numa vitória inevitável. A proximidade da morte unia os soldados e eliminava as diferenças de classe. A hierarquia social era substituída pela hierarquia fundada na coragem física e na integridade. O inimigo era o outro, o estrangeiro. Para o francês, o alemão era o assassino do seu irmão e o espírito de vingança prevalecia sobre o cansaço e o medo. Para o alemão, a mesma coisa. Era o francês o responsável pela desgraça, pelo surgimento e generalização da guerra. Entretanto, para piorar ainda mais a vida dos soldados, os exércitos em conflito experimentaram novas tecnologias para a morte. Empregado pela primeira vez pelos alemães na primavera de 1915, o gás fazia aumentar as baixas em ambos os lados. Muitos dos gases então utilizados não eram muito eficazes, mas provocavam um efeito psicológico efetivamente arrasador. Soldados entrincheirados ficavam apavorados com medo de uma possível morte provocada por envenenamento. O mais conhecido dos gases então utilizados ficou conhecido com o nome de gás mostarda, a mais temida de todas as armas químicas da Primeira Guerra Mundial. Diferentemente dos outros gases, que atacavam apenas o sistema respiratório, este queimava qualquer parte exposta do corpo humano, incluindo os olhos. Os britânicos, por sua vez, inauguraram, em setembro de 1916, o emprego de tanques. O tanque era uma arma que estava sendo desenvolvida em segredo, e, por conta disso, a origem do termo tank nada mais era do que uma alusão de que seria apenas um tanque de armazenar água. Na verdade, eram veículos blindados que tinham como objetivo vencer as trincheiras do inimigo. Alguns depoimentos de guerra nos informam que os alemães ficaram bastante assustados quando viram pela primeira vez aquele monstro que cuspia balas por todos os lados. Não foi nessa guerra, no entanto, que tais armas mostraram todo o seu poder de destruição. Problemas técnicos impediram a completa eficácia dos tanques. Somente na Segunda Guerra os tanques e os gases viriam a comprovar sua capacidade de produzir morte aos milhares. O emprego de aeronaves é, sem dúvida, um capítulo interessante da Primeira Guerra Mundial, principalmente no que se refere à utilização dos zepelins, aeronaves (chamadas dirigíveis) alongadas, cheias de gás hélio. O primeiro dirigível impulsionado a motor foi construído do pelo alemão Paul Haenlein, em 1865. Logo depois, ele foi aperfeiçoado pelo também alemão, conde Zeppelin, daí o nome dessas aeronaves. Com um grande sucesso obtido antes da guerra no transporte comercial, o zeppelin havia impressionado os militares, e muitos acreditaram na sua capacidade de servir como arma de guerra. Além disso, as autoridades navais alemãs estavam convencidas de que o zepelim era capaz de desempenhar importante papel nas operações navais. Em 1906, Santos Dumont realizou o primeiro vôo do "mais-pesado no ar"; no entanto, a supremacia do dirigível continuava, pelo menos na mente do público. Isso explica o medo da população inglesa na primeira noite ante a declaração de guerra. Muitos acreditavam que os zepelins iriam a Londres, à noite. Segundo um estudioso do papel a Grã-Bretanha fora, durante muitos anos, o alvo da propaganda. Alguns comentaristas tinham, inclusive, escrito artigos na imprensa pressagiando os ataques que viriam do Mar do Norte. Não foi dessa vez, no entanto, que a aviação mostraria também o poder de destruição. Na Primeira Guerra, ela foi usada basicamente para conhecimento e observação dos tiros da artilharia. Foi no mar que novas armas tiveram o efeito desejado, ou seja, ajudou a pôr fim ao conflito. Ali, as forças navais utilizaram novos modelos de cruzadores e submarinos alemães e couraçados e submarinos ingleses por exemplo. Ambos os lados procuraram destruir os navios carregados de suprimentos para os inimigos. Ao afundá-los, eles impediam que as populações civis tivessem alimentos suficientes para sobreviver. Desta forma, pretendiam matar de fome os inimigos. Os submarinos foram uma das grandes esperanças da Alemanha. No início de 1917 os alemães aumentaram a atividade da guerra submarina objetivando vencer a Inglaterra antes da entrada dos Estados Unidos. A intenção da guerra submarina aumentou as perdas britânicas, até junho. No entanto, o início do sistema de comboios e outras táticas anti-submarinas reduziram muito a eficácia do submarino. A partir daquele momento outras estratégias procuravam impedir a destruição de navios, particularmente mercantes. No entanto, durante longos meses, em razão dos ataques de submarinos e navios, velhos e crianças - ausentes dos campos de batalha sentiam na pela, ou melhor, no estômago, o efeito mais cruel de uma guerra: a morte pela fome. Indefesos em suas moradias, os cidadãos de inúmeros países viviam a generalização da miséria e da inanição. Muitos morriam literalmente de foem, enquanto outros contraíam doenças ocasionadas por uma alimentação deficiente e irregular. Para aqueles que haviam acreditado um dia na superioridade inquestionável de seu país e de seu povo e apostado numa vitória rápida, a fome trazia a certeza de que a guerra não mais se limitava aos campos de batalha Ela tornava-se presente no cotidiano de todas as pessoas e apresentava-se viva através da fome, como a forma cruel de uma técnica de massacre. OS ACORDOS DE PAZ Antes mesmo do fim do conflito, como já foi referido, a Rússia saiu da guerra, mas sua retirada não foi tranqüila. Ao contrário, ela representou um jogo de forças no interior da nação russa e expressou as disputas políticas pelas quais passava a nova sociedade, surgida com a Revolução de 1917. Após tomarem o poder, os bolchevistas tinham que resolver uma questão fundamental, pois, para salvar a revolução, eles tinham que fazer a paz - desejo expresso por soldados, camponeses e operários. Os bolchevistas desejavam uma paz sem anexações territoriais, mas não era essa a intenção de seus inimigos, os austríacos e os alemães. Coube a Leon Trotsky, um dos líderes da revolução, encaminhar as negociações com os inimigos. A estratégia de Trotsky era a de afirmar que não assinaria uma paz anexionista, ao mesmo tempo que declarava terminado o estado de guerra. Esta atitude confundia os alemães, mas na verdade encobria o fato de que dificilmente o exército russo tinha condições de voltar a combater. Havia também a crença de que, caso o Estado alemão decidisse prosseguir o conflito contra os russos, os soldados e operários alemães não obedeceriam às ordens, irmanados com os princípios da Revolução de 1917. A realidade, porém, foi outra. Ao contrário dos desejos dos bolchevistas, a Alemanha voltou a combater e os soldados alemães defenderam sua pátria e não foram sensíveis aos apoios do operariado russo. A força do nacionalismo em muito maior do que o desejo de união de todos os operários. Sem saída, o novo Estado da Rússia aceitou o Tratado de Brest-Utovsk, que foi, sem sombra de dúvida, uma paz humilhante. Pelo tratado, os bolchevistas foram obrigados a aceitar a perda da Finlândia, da Polônia russa e da Ucrânia, assim como a dos chamados países bálticos: a Lituânia, a Letônia e a Estônia. No início de 1918, o então presidente dos Estados Unidos apresentou ao Congresso americano um plano de paz, que pretendia ser uma solução justa para o fim da guerra. Seu plano ficou conhecido como "Os 14 pontos que o presidente Wilson". Segundo o presidente americano, os Estados Unidos haviam entrado na guerra para precipitar a paz entre os povos e, neste sentido o plano tinha como finalidade assegurá-la, constituindose como fundamento das futuras negociações com os alemães. Sua divulgação pública e internacional acabou por fortalecer a suposição dos alemães de que os acordos de paz seriam baseados naqueles princípios, numa "paz sem vencedores". Para tanto, o plano estabelecia: 1. abolição da diplomacia secreta, ou seja, a diplomacia deveria se tomar pública; 2. plena liberdade de navegação, tanto em período de paz quanto de guerra, o que significava uma crítica à tática do bloqueio naval; 3. remoção, quando possível, de todas as barreiras econômicas entre as nações e o estabelecimento de uma igualdade de condições de comércio e as nações; 4. limitação dos armamentos nacionais, reduzidos ao menor nível; 5. ajuste imparcial das pretensões coloniais, considerando-se também os interesses dos colonizados; 6. ajuda à Rússia, para que este país pudesse obter uma oportunidade simpedida e desembaraçada para a determinação independente de seu desenvolvimento político; 7. restauração da independência da Bélgica; 8. devolução da Alsácia-Lorena à França; 9. reajustamento das fronteiras nacionais italianas; 10. autonomia dos povos da Áustria-Hungria; 11. restauração da Romênia, de Montenegro e da Sérvia, assegurando acesso ao mar aos sérvios; 12. autonomia dos povos até então submetidos aos turcos; 13. criação de uma Polônia independente; 14. criação de uma Sociedade ou Liga das Nações; Para o presidente americano, existia um princípio que norteava os seus quatorze pontos: era o princípio de justiça para todos os povos e nacionalidades, e o direito de cada um a viver em iguais condições de liberdade e segurança, uns com os outros, fossem eles fortes ou fracos. ... 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