História Contemporânea

Propaganda
História Contemporânea
Aula XI
Objetivo: analisar os eventos da Primeira Guerra Mundial.
A) Os atores e o cenário.
A primeira guerra mundial foi um confronto imperialista, ou seja, representava a
competição dos interesses econômicos dos países envolvidos. Apesar do envolvimento
de outras nações, representou o enfrentamento de quatro Estados: França, Inglaterra e
Rússia de um lado, contra a Alemanha, de outro.
Estas quatro nações possuíam características distintas, vinculadas ao seu
processo de industrialização. A Inglaterra, como visto por nós, foi pioneira no processo, e
não só financiou, em muitos casos forneceu o modelo para os outros países, através de
seus acertos e erros. Isto permitiu que os demais queimassem etapas, como no caso da
Alemanha, que centrou o seu processo de industrialização na indústria pesada, e investiu
na educação técnica e científica, formando em pouco tempo toda uma geração que
promoveria a superioridade técnica da indústria alemã, o que contribuiu para tornar
obsoleta a tecnologia utilizada pelos ingleses.
França e Rússia possuíam características distintas dos dois primeiros. Nesses dois
países havia a manutenção de uma forte presença do campo na economia. Na França, a
manutenção de uma população rural formada por pequenos proprietários direcionou a
industrialização francesa para os artigos de luxo, se aproveitando da consolidada imagem
de requinte e bom gosto associada a sua cultura. Na Rússia, a industrialização baseada
no setor têxtil estava sob o controle do capital estrangeiro, o que enfraquecia a burguesia
nativa. A realidade da maior parte da população era a vida no campo (79% dos habitantes
viviam no campo), em um sistema de semiescravidão e absoluta miséria. O que tornava a
Rússia uma potência era o tamanho de sua população, e a existência de um Estado forte
e militarista.
Apesar do fenômeno conhecido como Belle Époque, uma crença de estar-se
vivendo em uma época de paz e progresso, baseados nos avanços científicos e
tecnológicos, e no aumento da riqueza total, o período foi marcado pelo crescimento
constante das animosidades entre os países. Dois exemplos para isso foram o aumento
da militarização, com o alistamento obrigatório se tornando a prática comum, o que
aumentava a presença efetiva de militares na política, e, também, a valorização da cultura
militar; sua disciplina como modelo para a sociedade. Crescia também o nacionalismo,
vinculado à ideia de progresso e superioridade cultural e econômica. Deste modo, cada
país se via como candidato ao posto de “maior do mundo”, atribuindo a seus rivais diretos
a responsabilidade por qualquer obstáculo surgido a essa pretensão.
Os sistemas de educação pública, surgidos no século XIX, ajudaram a consolidar
uma cultura nacional que valorizava a história nacional e uma língua nacional. O sistema
educacional contribuiu para o aumento do patriotismo, pois incluía as rivalidades, com seu
caráter histórico, nos programas de ensino.
As rivalidades nacionais e os interesses imperialistas faziam com que fossem
formados blocos a partir de interesses comuns. Deste modo, a Alemanha se uniria ao
Império Austro-Húngaro e a Itália para garantir os seus interesses nos Balcãs, contra a
Rússia e o Império Turco, formando a Tríplice Aliança. França e Inglaterra, apesar da
rivalidade, se aproximariam na Entente Cordiale, definindo áreas de atuação na África, e
firmando posição contra o crescimento da Alemanha. A Rússia que precisava do capital
destes para a sua industrialização, e tinha interesses na disputa dos Balcãs, apoiando a
independência dos povos eslavos, se uniria a eles.
B) A Primeira Grande Guerra.
O estopim da guerra foi o assassinato do príncipe herdeiro do trono da Áustria,
Francisco Ferdinando, em 1914, por uma organização secreta, a mão negra, que defendia
a independência da Sérvia, apoiada pelos russos. A Áustria declarou guerra aos sérvios
que solicitaram apoio dos russos, e, em um efeito dominó, os países envolvidos em
alianças foram entrando no conflito.
Os longos quatro anos em que a guerra se realizou, contrastaram com a
expectativa inicial, principalmente dos alemães, de um breve conflito. A razão para isto
estava na estratégia adotada pelos alemães conhecida como plano Schlieffen que previa
o ataque à Bélgica, como caminho para a França, e uma rápida vitória sobre estes dois
países. As primeiras vitórias alemãs convencera-os do acerto da estratégia, o que fez com
que partissem para o ataque à Rússia, abrindo então duas fontes de combate.
A dispersão do exército alemão e o aumento da resistência belga e francesa,
apoiados pela Inglaterra, tornava a guerra mais longa do que o previsto. Na Rússia, a
superioridade bélica do exército alemão esbarrava na superioridade numérica do exército
russo, o que também contribuiu para o prolongamento da guerra.
No Flanco ocidental, a reorganização das tropas da aliança franco-inglesa levou a
guerra a uma nova fase. Esta seria caracterizada pelo imobilismo da guerra de trincheiras.
A superioridade da artilharia impedia as tropas de ambos os lados de avançarem, levando
à morte nas trincheiras e a guerra à estagnação.
Os anos de 1915-1916 foram marcados pela generalização do conflito, com a
entrada de vários países em ambos os lados da guerra. No final de 1916, a introdução de
uma nova máquina de guerra ajudaria a superar o imobilismo das tropas, o tanque,
inventado pelos ingleses.
O ano decisivo para o desfecho da guerra foi 1917, e um evento foi fundamental: a
Revolução Russa. Fruto das tensões internas e das perdas da guerra, a revolução levou
ao afastamento da Rússia do conflito (afastamento tornado definitivo em 1918), o que
permitiu a Alemanha concentrar os seus esforços na frente ocidental. Uma das ações dos
alemães foi decretar o bloqueio naval da Inglaterra e da França. Esta medida feria os
interesses dos norte-americanos, que haviam se tornado os grandes fornecedores de
alimento e armas para os aliados da Entente Cordiale.
A entrada na guerra dos americanos significou uma renovação nas forças da
Entente, liderados agora por um único comando, o general francês Foch, que combatiam
de forma mais organizada os exaustos soldados alemães, fatigados pela guerra de duas
frentes. Entre junho e julho de 1918, as tropas da Entente impuseram sucessivas derrotas
à Tríplice aliança. A Itália derrotou os austríacos, e ingleses, franceses e norte-americanos
derrotaram os alemães.
Em 18 de novembro de 1918 a Alemanha assinou o armistício. O tratado que seria
assinado impôs uma severa humilhação ao povo e a nação alemã, considerada pelos
vencedores a única responsável pela guerra. Contudo, a história demonstrou que todas
as nações envolvidas no conflito foram responsáveis, pois a guerra foi fruto da
competição imperialista estabelecida entre elas.
C) Os efeitos da guerra.
A guerra representou uma grande perda de vidas humanas, de ambos os lados. A
França teve 1,4 milhão de mortos, para uma população de 33 milhões de habitantes. A
Alemanha teve 1,7 milhão de mortos para uma população de 66 milhões de habitantes. O
que agravava a situação foi que esta perda se deu entre a população economicamente
ativa, naqueles que seriam os responsáveis pela manutenção do dinamismo da economia
de seus países, e que não estariam presente na reconstrução da destruição da guerra.
O grande número de mortes ocorreu nas trincheiras. Fruto da fase de estagnação
da guerra, estas funcionavam como verdadeiros campos de morte, fosse pela evolução
dos conflitos e do desenvolvimento de novas tecnologias bélicas, como o gás mostarda,
fosse pela total insalubridade, motivada pelas doenças e pelo convívio com os cadáveres
em decomposição.
A guerra também abalou a crença na ciência como elemento positivo. O emprego
da ciência e da tecnologia como recursos de guerra ganhou uma nova dimensão na
primeira guerra mundial. A química e a engenharia serviriam para transformar as
descobertas técnicas e científicas em máquinas de destruição em massa: as armas
químicas, os tanques, os aviões e submarinos. Mas amplamente utilizado que os dois
primeiros, o submarino teve um papel, fundamental, nem tanto nos combates, mas nos
ataques aos navios de suprimentos, o que atingia os soldados, mas também a população
civil, condenados a fome.
D) Os acordos do pós-guerra.
Os acordos que delimitaram o novo mapa geopolítico da Europa começaram a ser
firmados no período final da guerra. Em 1918 os bolcheviques, para saírem do conflito,
assinaram com a Alemanha o Tratado Brest-Litovsk, onde foram obrigados a ceder à
Finlândia, A parte russa da Polônia, a Ucrânia e os países bálticos da Lituânia, Letônia e
Estônia.
No início de 1918, o presidente Wilson, dos Estados Unidos da América do Norte,
propôs um plano com base em 14 pontos que estabelecia uma paz sem vencedores e
impunha regras de convívio econômico baseadas no livre comércio. França e Inglaterra
não aceitaram estes pontos e, a partir da Conferência de Paris, em 1919, estabeleceram
o Tratado de Versalhes que era totalmente desfavorável aos alemães. Houve perdas
territoriais, perda do controle sobre os recursos naturais, perda de todas as áreas
coloniais, desmilitarização e uma multa de 132 bilhões de marcos-ouro.
Além da humilhação pela forma como foi imposto, o tratado retirava boa parte da
soberania alemã e condenava a sua população a um estado de indigência econômica. O
ressentimento foi grande, e o nacionalismo continuou a ser o único elemento capaz de
fornecer uma resposta às frustrações, um caminho para recomeçar. O tratado havia
encerrado apenas o primeiro capítulo do conflito.
Download