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Uso de feno como alternativa alimentar para ovinos
AMARAL, Rafael Camargo
FERREIRA, Evandro Maia
Em qualquer sistema de produção agropecuário a meta principal é a
produtividade com lucratividade. Para isto, devemos nos basear em quatro pontos
importantes para o sucesso da ovinocultura: mercado, genética, saúde e nutrição.
Após definirmos a genética, devemos nos concentrar na alimentação dos animais, pois
por melhor que seja a composição genética do rebanho que passa a ser estabelecido, a
não observação do manejo nutricional adequado, irá impedir o aproveitamento pleno
da genética adquirida.
Assim, alguns itens devem ser considerados quando discutimos nutrição.
Primeiramente devemos ficar atentos ao planejamento da produção forrageira da
propriedade, de forma a maximizar a produção e utilização das pastagens no verão,
além de produzir volumosos de forma eficiente e economicamente viável para
suplementação do rebanho nos meses de inverno, período em que ocorre a redução
da capacidade produtiva das pastagens.
Neste contexto, devemos considerar a necessidade de suplementação das
matrizes com volumosos, para suprir a queda de produção das pastagens. Além disso,
em sistemas intensivos de produção onde se preconiza a produção de cordeiros super
precoces, o ganho de peso individual em confinamento deve ser ao redor de 300
gramas/dia para que os animais cheguem rapidamente ao peso de abate, com bom
grau de acabamento de carcaça.
Para tanto, se faz necessário à utilização de rações com 16% de proteína bruta
e alta energia. Rações com até 90% de concentrado na matéria seca tem sido utilizadas
para o atendimento das exigências nutricionais dos animais. Porém, para que se possa
obter adequado desempenho dos animais no confinamento, além, do balanço
adequado de energia e proteína, um teor mínimo de fibra fisicamente efetiva é
requerida.
A fibra é um componente muito importante na dieta de ruminantes, está
associada ao estímulo da mastigação, motilidade ruminal, secreção de saliva,
manutenção da estabilidade ruminal, consumo de matéria seca, além de fornecimento
de energia. Por outro lado, quando há pouca forragem na dieta e as exigências em
fibra não são devidamente atendidas, o animal pode apresentar problemas
metabólicos, como a acidose ruminal, com redução no desempenho e podendo chegar
à morte.
Nas duas situações, o feno surge como uma das possíveis soluções, tanto ao
problema da estacionalidade de produção das plantas forrageiras, permitindo que o
excedente de forragem, ou em áreas exclusivas de cultivo, possa ser armazenado e
empregado na alimentação dos animais em épocas de escassez (período seco do ano).
Constituindo-se em importante fonte constante de alimento, também representando
excelente alternativa para a utilização como fonte de fornecimento de fibra
fisicamente efetiva em dietas de alto concentrado para acabamento de cordeiros em
confinamento.
Dentre os fatores a serem observados para produção de feno, convém enfatizar
que a qualidade da forragem no momento da colheita é de importância primária. A
época ideal de corte seria aquela em que a forrageira estaria mais adequada para a
fenação, sob o aspecto qualitativo e quantitativo. Portanto, esta época não pode ser
definida em termos somente de crescimento ou de datas de cortes pré-fixadas, mas
sim, em períodos de descanso da cultura, condições locais do meio e aspectos
econômicos.
O valor nutritivo das plantas diminui com a maturidade, mas à medida que o
tempo de crescimento é prolongado a produção de matéria seca por unidade de área
aumenta. Com o crescimento, ocorrem alterações que resultam na elevação dos
teores de compostos estruturais, tais como celulose, hemicelulose e lignina e,
paralelamente, diminuição do conteúdo celular.
Além destas alterações, é importante salientar que a diminuição na relação
folha/caule resulta em modificações na estrutura das plantas. Desta forma, é de se
esperar que as plantas mais velhas apresentem menor conteúdo de nutrientes
potencialmente digestíveis. Dados de Alvim et al. (1996), registram aumentos
progressivos no teor de FDN e reduções no teor de PB e na relação caule/folha, para o
capim "coast-cross", à medida que o intervalo entre cortes aumentou (Tabela 1).
Tabela 1. Efeitos da freqüência de corte, durante as épocas de chuva e de seca, sobre a
qualidade do capim "coastcross".
* F/C: relação folha/caule; PB: proteína; FDN: fibra em detergente neutro; expressos
em % da MS.
Fonte: Adaptado de Alvim et al. (1996).
A qualidade de um feno depende de sua composição química, palatabilidade e
digestibilidade, que por sua vez estão na dependência de diversos fatores. Variações
na composição são causadas por enzimas e é sabido que as enzimas respiratórias e
hidrolíticas presentes nas células vivas continuam suas funções até que alguma
condição letal intervenha.
A fenação é, portanto, um processo de conservação no qual há a necessidade
de desidratação enérgica e parcial da massa, retirando-se a água disponível, para que
ocorra a ação deletéria de microorganismos, fazendo com que o produto final (feno) se
conserve por muito tempo.
Na fenação, além da perda natural de água, ocorrem outras que afetam partes
ou componentes da planta, durante a secagem, principalmente quando esta é
exagerada. A principal mudança na composição química refere-se à perda de
carboidratos solúveis. Como estes carboidratos são de alta digestibilidade, a perda no
valor nutritivo é maior que a perda de matéria seca considerada isoladamente.
Por exemplo, em leguminosas, ocorre decréscimo de 7 para 3,7% nos açúcares
totais (base MS). A maior perda é de glicose e frutose, mas há algum decréscimo
também de sacarose. Há pouca variação no teor de hexoses após a secagem de uma
gramínea por 24 horas, mas significativa perda em sacarose (6,2 para 5,4%) e frutose
(9,6 para 5,2%), o que evidência a hidrólise de hexoses livres. A frutosana em uma
gramínea decresce, hexoses não mostraram perdas e a sacarose aumenta. Este último
fenômeno é explicado pela sua síntese durante o período de emurchecimento.
Muitos pesquisadores verificaram que o amido, como também a frutosana, são
hidrolisados e que açúcares desdobrados são perdidos através da respiração. Por outro
lado, alguns pesquisadores verificaram aumento de polissacarídeos, possivelmente por
síntese. Os carboidratos das paredes das células freqüentemente, aumentam. Este fato
pode ser somente aparente, por causa da variação da matéria seca e a porcentagem a
ser calculada tendo ela como base. A fotossíntese também pode contribuir no estágio
inicial de emurchecimento, mas isto representa muito pouco.
Quanto à perda de substâncias nitrogenadas, a secagem à temperatura
ambiente resulta em pequenas perdas quando comparada com as perdas de
carboidratos. As proteases da planta são ativas durante o emurchecimento e o
nitrogênio solúvel total aumenta. Este é formado por peptídeos, aminoácidos, amidas
e bases voláteis. Tendo em vista que todas as formas de nitrogênio são disponíveis
para os ruminantes, não há grande perda no valor nutritivo causada por estas
interconversões. A estimativa é que ocorre uma perda de 2,5% de nitrogênio.
Diante disto, o feno pode representar uma rica fonte de nutrientes essências
para os ovinos. Contudo, de acordo com cada categoria animal, estado fisiológico, e
nível de produção as rações devem ser devidamente balanceadas.
Referências bibliográficas
ALVIM, M.J.; RESENDE, H.; BOTREL, M.A. Efeito da freqüência de cortes e do nível de nitrogênio sobre a qualidade da matéria seca
do "Coastcross". In: WORKSHOP SOBRE O POTENCIAL FORRAGEIRO DO GÊNERO CYNODON, 1996, Juiz de Fora. Anais... Juiz de
Fora: EMBRAPA-CNPGL, 1996. p.45-56.
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