PLANTAS MEDICINAIS USADAS PELOS ÍNDIOS KAMBIWÁ

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ISSN 2179-4413
Volume 1 / Número 1 / Abril/Jun - 2010
PLANTAS MEDICINAIS USADAS PELOS ÍNDIOS KAMBIWÁ IBIMIRIM PE
Maria de Lourdes dos Santos1, Espedito Menezes de Araújo2; Abraão Romão Batista2,3,
1-Estudante de Biologia da Universidade Estadual da Vale do Acaraú
2-Biólogo. Professor da Universidade Estadual da Vale do Acaraú
3-Orientador. Biólogo. Professor da Universidade Estadual da Vale do Acaraú. [email protected]
RESUMO: O uso de plantas medicinais consiste em um resgate histórico cultural dos índios da
etnia Kambiwá, das aldeias Nazário e Pereiros, relatando o uso da terapia alternativa que faz parte
do arsenal terapêutico conhecido por meio dos medicamentos utilizados, são chamados de
fitoterápicos ou drogas vegetais e esses são feitos de partes de plantas cujos princípios ativos não
foram purificados. Muitos das plantas medicinais são venenosas ou levemente tóxicas, devendo ser
usadas em doses muito pequenas para terem o efeito desejado. Nesse contexto, o desenvolvimento
de estudos tendo como reconhecer o uso e a importância das ervas medicinais na etnia Kambiwá,
bem como seus costumes, crenças e tradições, além da preservação e o cultivo das mesmas, onde
pode vir a ser um ensaio importante na busca de encontrar um eixo norteador de pesquisas
interdisciplinares. Em se tratando da etnia Kambiwá, o uso das plantas medicinais trás benefícios à
comunidade indígena, explicitando características importantes sobre a utilização adequada dessas
plantas. As ervas mais utilizadas pelos índios das aldeias Nazário e Pereiros são: arruda, mastruz,
alecrim, angico, quixabeira, umburana e babosa. As mesmas são utilizadas para profilaxia e cura de
doenças, também na prática dos rituais e das crenças populares da etnia Kambiwá.
Palavras-chave: Plantas medicinais. Fitoterápicos. Etnia Kambiwá.
ABSTRACT: Use of medicinal plants is at a historical culture of the ethnic Indians Kambiwá,
villages and Pereiros Nazaire, reporting the use of alternative therapy that is part of the therapeutic
through the known drugs used are called herbal medicines or herbal drugs these are made from parts
of plants whose active principles have not been purified. Many medicinal plants are poisonous or
slightly toxic and should be used in doses too small to have the desired effect. In this context, the
idea of studies to recognize the importance and use of medicinal herbs Kambiwá ethnicity, as well
as their customs, beliefs and traditions, beyond the preservation and cultivation of them, which
might be an important test in the quest to find a guiding principle of interdisciplinary research. In
terms of ethnicity Kambiwá, the use of medicinal plants bring benefits to the indigenous
community, highlighting important features about the appropriate use of these plants. Herbs
commonly used by Indians in the villages and Nazario are Pereiros: rue, mastruz, rosemary,
mimosa, quixabeira, umburana and aloe. They are used to prevent and cure diseases, also in the
practice of rituals and folk beliefs of ethnic Kambiwá.
Keywords: Medicinal plants, Herbal medicines, Ethnicity Kambiwá.
1.
INTRODUÇÃO
O uso de fitoterápicos pelo homem está associado a sua evolução antropológica, da época
em que era simples nômade até tornar-se um espécime sedentário. Com a fixação de moradia,
surgiram as mais variadas necessidades que foram sendo aperfeiçoadas pela lógica da
experimentação e observação de necessidade, por erros e acertos (VIEIRA, 1992).
Segundo Morgan (1994), as plantas medicinais brasileiras não apenas curam, mas realizam
milagres. As plantas medicinais foram objeto de estudo na tentativa de descobrir novas fontes de
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obtenção de princípios ativos. Através de dados fornecidos pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), constata-se que o uso de plantas medicinais pela população mundial tem sido muito
significante nos últimos anos, sendo incentivado pela própria OMS.
No principio existia apenas o conhecimento empírico. Hoje, porém, muitas pesquisas
científicas comprovam as propriedades medicinais de várias plantas, comprovando (ou não) o uso
popular destas. É importante ressaltar que, ao contrário do que muitos imaginam, algumas plantas
fazem mal a saúde e por isso não deve-se fazer uso indiscriminado desta terapia (COSTA, 1996).
O estudo sobre a medicina popular vem merecendo atenção cada vez maior devido ao
contingente de informações e esclarecimento que vem sendo oferecido a ciência. Esse fenômeno
tem propiciado o uso de chás, decoctos, tesanas e tinturas, fazendo com que, na maioria dos países
ocidentais, os medicamentos de origem vegetal sejam retomados de maneira sistemática e crescente,
na profilaxia e tratamento das doenças, ao lado da terapêutica convencional (LORENZI, 1996).
As plantas medicinais são consideradas recursos auxiliares de programas terapêuticos que
resgatam aspectos culturais, do uso desta terapia, contribuindo para qualidade de vida alternativa
dos povos indígenas (BLAZZI, 2002).
A sociedade indígena pode ser considerada ainda a maior e mais confiável fonte do
conhecimento empírico existente, pois ainda detêm na grande quantidade de informações
inexploradas pela ciência oficial sobre formas de como lidar com ambiente biologicamente
diversificado e que podem ser úteis para compreensão destes ecossistemas e para o
desenvolvimento de atividades produtivas menos predatórias. As potencialidades e aplicações de
várias plantas com interesse medicinal aromático e alimentício surgiram recentemente com um
interesse renovado na revitalização do conhecimento tradicional da população indígena que reside
nas reservas (ou malocas). Muitas das famílias que hoje vivem nas aldeias dependem
constantemente da FUNASA (Fundação Nacional de Saúde) entre outras instituições
governamentais, que aos poucos introduziram novos hábitos à comunidade indígena, tais como: o
uso de remédios farmacológicos e orientação sobre métodos de prevenção. Isso unido ao fato de
serem poucos os que conhecem, com clareza, as erva medicinais, fez diminuir a dependência em
relação a essas plantas (ALMEIDA, 1993).
A etnia Kambiwá, mostra sua eficácia e baixo risco de uso de plantas medicinais assim
como reprodutividade e constância de sua qualidade. No entanto, devem ser levados em conta
alguns pontos para formulação dos fitoterápicos como a necessidade do trabalho multidisciplinar,
para que a espécie vegetal seja selecionada corretamente, a partir dos teores dos princípios ativos,
adequando-se a manipulação e aplicação de forma correta das plantas utilizadas (RICARDO e
RICARDO, 2006).
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O saber popular é enriquecido com o saber cientifico e o interesse pelas plantas medicinais
aumenta, tanto por parte da população em geral, quanto pelos profissionais de saúde que através da
pesquisa confirmam sua importância e valor cultural.
Estimulando a conservação das ervas medicinais e desmistificando a crença de que, as
plantas são responsáveis pela cura devido a presença de um espírito inteligente, já que existem
dados científicos que comprovam que a cura se dá através dos teores dos princípios ativos dos
vegetais. Levando a comunidade indígena Kambiwá, a teoria dos fitoterápicos, aprimorando os seus
conhecimentos empíricos (BAROLLO, 1996).
Os povos Kambiwá habitam a região das Serras Negras e Serras do Periquito na cidade de
Ibimirim/PE (as quais constituem o mesmo alinhamento orográfico, situado na região Vale do
Moxotó). Onde esses povos apresentam na sua rica cultura, o cultivo, pelas plantas medicinais para
profilaxia e cura de doenças (FUNAI, 2010).
Este trabalho tem como finalidade a pretensão de retomar o cultivo e uso das plantas
medicinais em que resgata o conhecimento tradicional da etnia Kambiwá, valorizando sua cultura,
além de fazer com que as crianças e adolescentes voltem a valorizar os ensinamentos e
conhecimentos dos curandeiros e rezadores da comunidade, valorizando assim uma antiga tradição
característica do povo Kambiwá.
2.
MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Tipo de pesquisa
Foi realizada uma pesquisa de campo nas aldeias Nazário e Pereiros da Etnia Kambiwá.
2.2 Localização da área a ser pesquisada
A terra indígena Kambiwá está situada nos municípios de Ibimirim, Inajá e Floresta,
Pernambuco. Sub-região do Vale do Moxotó, na região da Serra Negra e Serra do Periquito,
localizada a uma distância de 339 km da capital de Recife (IBIMIRIM, 2004-2010).
A comunidade Kambiwá tem na agricultura o seu principal meio de subsistência, apesar da
má qualidade do solo, da carência de água e das condições climáticas, pois a região apresenta clima
seco e as chuvas irregulares provocam constantes períodos de estiagem, o que dificulta a atividade
agrícola. A produção é pequena, a maior parte é destinada ao consumo. O pouco que sobra é
comercializado na feira livre de Ibimirim (Figura 1). Praticam também a caça como atividade
complementar de subsistência e se dedicam à extração do mel de abelhas. Quanto ao artesanato, é
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produzido em pequena escala e constituiu-se de peças para os trajes rituais e de aiós (bolsas para
caça), confeccionados com a palha do ouricuri (coco pequeno) e a fibra do caroá.
Figura 1. Localização geográfica do município de Ibimirim-PE.
Fonte: IBGE
O procedimento atual para identificação, delimitação e demarcação das terras indígenas é de
responsabilidade de um grupo técnico de trabalho, composto por técnicos da FUNAI, do INCRA
e/ou da Secretaria Estadual de terras da localização do imóvel (FUNAI, 2010).
2.3 População e Amostra
A população indígena da Etnia Kambiwá está estimada em 2.820 pessoas (FUNAI, 2006).
Esses índios vivem aldeiados pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio). A amostra utilizada foi de
3% da população.
2.4 Coleta de Dados
As entrevistas foram realizadas, utilizando-se questionários semi-estruturado, composto
por 6 questões, enfocando a obtenção, utilização e motivação para o uso das plantas medicinais.
2.5 Plano de Analise de Dados
Os dados foram agrupados, analisados e apresentados em forma de gráficos, contendo
números absolutos e percentuais para análise e discussão dos resultados e comparados à luz da
literatura pertinente ao assunto em destaque, utilizando-se da ferramenta Microsoft Excel 2007 ®.
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3.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Diante dos dados obtidos através da pesquisa realizada nas aldeias Nazário e Pereiros, onde
habitam povos indígenas da Etnia Kambiwá, constatou-se a habitual utilização das plantas
medicinais, tanto para o tratamento e cura de doenças como para realização de rituais, uma prática
milenar que caracteriza a cultura indígena. Normalmente esse tipo de terapia é repassada de geração
a geração pelos curandeiros das aldeias, considerados pessoas sábias e que detém grande
conhecimento sobre a preparação e formas de utilização dessas ervas.
O curandeiro das aldeias Nazário e Pereiros, José Marciano dos Santos é o líder José Cícero
dos Santos, afirmam que doenças como: gastrite, úlcera, diarréia, bronquite e tantas outras, podem
ser curadas com uso contínuo e adequado de determinadas plantas medicinais. Essa afirmação foi
constatada após a análise dos questionários aplicados a 56 pessoas (homens/mulheres), numa faixa
etária de 17 a 50 anos de idade, moradoras das localidades supracitadas.
Quando perguntados sobre a importância da utilização de plantas medicinais para o
tratamento de doenças (Figura 2), onde 87% dos entrevistados responderam positivamente.
Figura 2. Importância das plantas medicinais para tratamento de doenças.
Quando indagados a respeito da crença na cura de doenças à partir dos fitoterápicos (Figura
3) a maior parte dos entrevistados acredita que pode haver cura sim com sua utilização.
Figura 3. Pessoas que acreditam na cura de doenças através dos fitoterápicos.
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Quando questionados sobre as plantas mais utilizadas na etnia Kambiwá (Figura 4),
constatou-se que a maioria (99%) dos entrevistados utilizam arruda, alecrim (98%) e mastruz
(96%).
Figura 4. Plantas medicinais mais utilizadas na Etnia Kambiwá.
Quando indagados sobre as doenças para qual o tratamento fitoterápico é utilizado (Figura
5), 9 entrevistados declararam usar esse tratamento para gastrite, 29 pessoas utilizam as ervas no
tratamento da diarréia, 13 pessoas utilizam para o tratamento de bronquite e 5 responderam outras
doenças.
Figura 5. Doenças para qual o tratamento fitoterápico é mais utilizado.
Questionados sobre a forma de utilização das plantas medicinais (Figura 6), observou-se que
das alternativas propostas 56 pessoas fazem o chá, 41 fazem uso do gargarejo, enquanto 36 utilizam
o melado (Lambedor), 27 fazem compressas, e 16 dos entrevistados utilizam inalação.
Figura 6. Formas de utilização das plantas medicinais.
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Quando perguntados sobre a forma de cultivo e locais de obtenção das ervas medicinais
(Figura 7), observou-se que 23 pessoas das entrevistadas adquirem essas ervas na reserva indígena,
os outros 33 plantam no quintal de casa.
Figura 7. Locais onde as plantas medicinais podem ser encontradas.
4.
CONCLUSÕES
Diante dos resultados obtidos, pode-se verificar que o uso de plantas medicinais tem
contribuído para a subsistência dos povos indígenas das aldeias Pereiros e Nazário da etnia
Kambiwá. Por apresentar praticidade e economia, as ervas viabilizam uma alternativa eficaz na cura
de determinadas doenças, além de serem utilizadas em seus rituais. Através da pesquisa realizada
com o curandeiro e lideranças das aldeias em estudo, SEMMA (Secretaria do Meio Ambiente) e
Secretaria de Agricultura, observou-se que, além das ervas, há também crenças cultuadas pelos
raizeiros, benzedeiros, e donas de casa, que por um motivo ou outro, carregam consigo essas
preciosas informações, recebidas dos ancestrais, sem o conhecimento científico que garantem seu
uso seguro, e sem que haja concordância do científico com o popular, mas contudo utilização de
forma empírica.
Durante a fundamentação houve momentos de descobertas e aprendizagens significativas, o
modo como foi repassado todo o conhecimento dos cultivadores, propiciou um redirecionamento da
prática, chegando a conclusões seguras sobre o cultivo e uso das plantas medicinais. É um saber
adquirido da comunidade, cultivar plantas medicinais e fitoterápicas que propicia melhoria da saúde
com produtos de baixo custo e resgatando valores culturais da etnia Kambiwá.
O conjunto de resultados também permite visualizar grande importância para saúde da
comunidade indígena que se automedica, com as ervas existentes na região.
A partir do trabalho surgiu uma nova visão da realidade da etnia Kambiwá, possibilitando a
interação com as tradições culturais dos povos indígenas Kambiwá.
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5. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, E. R. de. Plantas Medicinais Brasileiras: conhecimentos populares e científicos. São
Paulo: Hemus, 1993.
BAROLLO, R. F. M. Homeopatia: ciência médica e arte de curar. 1. ed. São Paulo, SP: Robe,
1996. 71p.
BLAZZI, T. O maravilhoso poder das plantas. 3 ed. Tatua, SP. Casa publicadora brasileira, 2002.
COSTA, L. C. Viva melhor com a medicina natural. 1ª ed. Itaquaquecetuba, SP: vida plena,
1996.
FUNAI PE. Livro D-11: documentos enviados à diretoria de 1853 a 1860. Estande 7, prateleira A12, Seção de documentos. Arquivo Público Estadual de Pernambuco. Recife. Jun. 2010.
IBIMIRIM. Prefeitura Municipal de Ibimirim/PE. Secretaria de Agricultura e meio Ambiente.
Administração 2004-2010.
LORENZI, H. A arte de curar versus a ciência das doenças: história social da homeopatia no
Brasil. São Paulo: Dynamis Editorial, 1996.
MORGAN, R. Enciclopédia das Ervas e Plantas Medicinais. São Paulo. Hemus. 1994.
RICARDO, B.; RICARDO, F. Povos Indígenas no Brasil. São Paulo: Instituto Socioambiental,
2006.
VIEIRA, L. S. Fitoterapia da Amazônia. Ed. Ceres. São Paulo: 1992.
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