Os Cruzados (Terezinha do Menino Jesus - Palestras Domingueiras às Crianças – Cabana de Lysis, 30-06-1937) Vocês querem uma história. Contarei uma, embora não seja compreendida por alguns dos pequeninos que aqui se encontram, mas dessa parte se encarregará um outro amigo invisível, pela graça de Deus. Tem atravessado a humanidade períodos de intensas e negras trevas. Entre estes aquele que se destaca como o de maior obscurantismo, é o que atravessou a humanidade no tempo das celebres cruzadas. Foi uma época em que os espíritos se debatiam entre a crença de uma duvida atroz. Crença cheia e eivada de superstições, porque julgavam que para alcançar o Céu, era necessário praticar tais e tais obras sobre a terra. Animados já pelo chefe da Igreja Católica, já pelos padres: que procuravam retirar da mão dos infleis o túmulo do Cristo de Deus! Queriam a libertação de Jerusalém, mas desejavam libertála: por meio da espada! Lutas, trevas... Entre os homens nada existia nos corações, campeava a ignorância e a superstição se alastrava como erva daninha. Era comum, no entanto, naquela época as aparições e os supostos milagres, mas muitas vezes aqueles que procuravam traduzi-los fielmente, falando a verdade, a palavra do Cristo de Deus, eram acoimados de feiticeiros, de magos, e dura sorte os esperava. A ansiedade reinava em todos os corações, o egoísmo, as atrocidades eram sem nome e levados por um grande fatalismo debaixo do qual se ocultava um egoísmo inominável, procuravam os dominadores dos povos, reis e senhores, alcançar a grandeza dos seus, levando a mortalidade, a destruição e o extermínio por todo o planeta, por povos que viviam tranqüilos, procurando evoluir. Os cruzados cometeram, como sabeis, atrocidades de toda sorte, em nome do Cristo de Deus. Em que treva medonha poderiam viver aquelas consciência? O Divino Mestre só pregava entre os homens o "Amai-vos uns aos outros", - a bondade, o perdão, a doçura, a renúncia, a paciência, a resignação. Todos estes sentimentos tinham sido como que varridos por uma rajada de ódios. No coração dos cristãos reinava um profundo ódio por aqueles que se haviam tornado senhores de Jesus! A Guerra Santa! - quanta atrocidade. Senhor Deus... Em meio deste quadro, na cidade de Marselha, no Mediterrâneo, no Sul da França, vivia uma donzela que fora educada por um pai que seguia a doutrina do Cristo de Deus, - muito devotado, homem de coração boníssimo, tendo já uma grande compreensão da Verdade, incutira ele no coração de sua filha que Jesus, o meigo Jesus, pregara a Paz, a tranqüilidade, e pelas parábolas e palavras que espalhara entre os seus apóstolos, dizia claramente que Ele desejara era que houvesse sempre um grande entendimento entre os homens, que todos procurassem tão somente fazer o Bem para com o próximo, tirando do coração rancores, duvidas e ideais de vingança. Assim educada, já porque tivesse um espírito evoluído, embora vivesse em um meio muito obscuro, a donzela tinha uma compreensão nítida da Verdade e seu coração despertara já para o amor; guardava ela a imagem de um mancebo muito dado a aventuras. Naquela época a audácia era preconizada como parte da educação dos jovens, e constituía um grande patrimônio para o espírito. Ele era, pois audacioso e até nas horas de maior entusiasmo, um desordeiro. Não compreendia a sublimidade daquele amor, daquele grande amor que lhe votava a donzela, e desprezando-a, procurava feri-la quanto possível. Sofrendo calada, buscava ela na sua Fé um apoio para caminhar serena na vida. Assim fazem os que têm compreensão da Verdade, - quando se sentem feridos, ofendidos ou desesperançados buscando forças na própria alma, e orando com fé, conseguem adquirir uma grande coragem para enfrentar todas as dificuldades da vida, formam como que uma couraça para se protegerem contra aqueles que ainda não compreenderam a Verdade. Cheio de entusiasmo, desejando alcançar o Céu pela espada, alistou-se o mancebo como cruzado. Deveriam partir e para isso contava receber o auxilio do Doge de Veneza, a cidade que era naquela época dominadora do mundo; o luxo, a riqueza aí se expandiam, e toda sorte de crimes, atrocidades aí também se praticavam, muitas vezes em nome do Cristo de Deus. Os senhores eram impiedosos e para abafar, para calar os próprios crimes exibindo-o com o brilho de uma falsa moral, necessitavam de uma aventura multo estranha, que procurasse elevá-los aos olhos do mundo. Um grande grupo se preparou. Partiram os cruzados, mas antes tiveram de enfrentar um grupo de mercenários, que perturbavam o esplendor de Veneza. Desejavam conquistar uma parte do sul da Itália, e nesta luta muito brava, perderam a vida, pensando ao partir que por terem perecido no campo de batalha, alcançariam o Céu, mal as suas almas se evolassem pelo Espaço sem fim. Combates atrozes se travaram, e aquele jovem cheio de ardor é que não compreendia o amor sublime que lhe votava aquela donzela, tão meiga e pura, perdeu as vistas na luta tremenda em que outros companheiros desapareceram do numero dos vivos. Sua revolta a principio foi imensa. Que destino cruel - cego! Ele que se sentia tão cheio de entusiasmo, de ardor para lutar, para vencer, para viver. Depois um abatimento profundo invadiu todo o seu ser. Seu coração chorava lagrimas amargas já que seus olhos haviam desaparecido. Mas os homens em meio dos maiores sofrimentos buscam encontrar sempre uma esperança, e sempre encontram uma mão amiga a guiá-los. Foi quando ele se recordou daquela meiga criatura que era toda devotamento para com ele. Partiu para Marselha, mais reanimado já, e lá chegando, encontrou naquele bondoso coração a coragem para viver... A alegria aos poucos lhe voltou ao coração, porque quando os homens sentem que têm também um coração amigo a pulsar por eles e a sofrer constantemente as suas grandes mágoas, os homens sentem-se reanimados. Agora, doces lições dos ensinamentos da palavra do Cristo de Deus ele recebia porque a donzela, carinhosa e meiga, procurava varrer do seu coração a idéia de que os homens, para alcançar o Céu, têm que cometer muita grandeza de bravura e de heroísmo. Pregava ela a Verdade de que os homens se devem amar muito uns aos outros, e procurar ter o coração sempre puro, buscando na oração uma força extrema para vencerem todas as mil contrariedades da vida, procurando espalhar o Bem, para terem consigo um grau de relativo consolo, de conforto que só lhes vêm quando praticam o Bem! Graças a Deus. Tereza Orador: Tereza de Jesus. Psicografia: D. Francisca Frankel. Publicação: Revista Novo Horizonte – nº 6 – junho 1937 Palestras Domingueiras às Crianças. casadocoracao.org