MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA FISIOLOGIA VEGETAL Prof. Dr. ROBERTO CEZAR LOBO DA COSTA FISIOLGIA DO ESTRESSE EM PLANTAS 1. INTRODUÇÃO Conteúdo de água no solo Temperatura do ar Oxigênio Gás Carbônico outros Estresse ambiental sais Estresse papel importante solo e o clima a compreensão dos processos fisiológicos subjacentes ao danos estresse a distribuição de espécies vegetais mecanismos de adaptação e aclimatação de plantas a estresses ambientais Importância agrícola e ambiental Estresse em plantas O que é estresse ?? É definido como um fator externo, que exerce uma influência desvantajosa sobre a planta. (Taiz & Zeiger, 2004). É um desvio significativo das condições ótimas para a vida, e induz mudanças e respostas em todos níveis funcionais do organismo, os quais são reversíveis a princípio, mas podem se tornar permanente (Larcher, 2000). 3. RESPOSTAS DAS PLANTAS AO ESTRESSE Adaptação Aclimatação • resistência geneticamente determinada adquirido por processo de seleção durante muita gerações • tolerância aumentada como conseqüência de exposição anterior do estresse Tolerância: é a aptidão da planta para enfrentar um ambiente desfavorável, e varia de acordo com a espécie. Exemplo: A ervilha (Pisum sativum) 20°C soja (Glycine Max) 30° C + tolerante Percepção de sinais Transdução de sinais Respostas da planta e tolerância Figura 1: etapas da sinalização à desidratação em plantas. Cada quadro contém informações de proteínas e suas funções (data-mining) em espécies vegetais. Figura 2: Principais fatores de estresse (Larcher, 2000) 5.1 ESTRESSE HÍDRICO As respostas da célula: • incluem mudanças no ciclo de divisão celulares (sistema de endomembranas) • vacuolização, • alterações na arquitetura da parede celular. acentuar a tolerância ao estresse. Bioquimicamente, as plantas alteram o metabolismo de várias maneiras, para acomodar estresse ambiental, incluindo a produção de compostos osmorreguladores ESTRESSE HÍDRICO • Excesso ou falta de água Déficit hídrico • conteúdo de água de uma célula que está abaixo do conteúdo de água mais alto exibido no estado de maior hidratação • déficit hídrico e a translocação de fotoassimilados: diminui indiretamente a quantidade de fotoassimilados, translocados, pois reduz a fotossíntese e o consumo de assimilados das folhas em expansão. A produtividade de plantas, limitada pela água (Tabela 1) depende da quantidade disponível deste recurso e da eficiência do seu organismo. Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, 1989. Tabela 1: Produtividade dos cultivos de milho e de soja nos Estados Unidos Falta de água prejudica a a produtividade e a qualidade Estratégias de aclimatação do déficit hídrico • Redução da área foliar • Abscisão foliar • Acentuado crescimento das raiz • Fechamento estomático • Melhoramento genético • Ajuste osmótico Redução da área foliar A falta de água causa contração celular, afrouxamento de parede e redução no turgor. Isso causa redução na expansão celular e foliar Figura 3: Dependencia da expansão foliar em relação ao turgor individual de girassol (Helianthus annuus) foram submetidos a condiçoes de crescimento com amplo-suprimento hídrico ou com água limitada no solo para produzir em estresse hídrico moderado. Após reidratação, as plantas dos dois grupos de tratamentos foram estressadas por falta de água, sendo as taxas de crescimento foliar (GR) e o turgor (Ψp) medidos periodicamente. A redução da extensibilidade (m) e o aumento do limiar de turgor para o crescimento (Y) limitam a capacidade de crescimento da folha após exposição ao estresse. (Mattheus e cols., 1984) Abscisão foliar Figura 4: As folhas de plantas jovens do algodoeiro (Gossypium hirsutum) sofreram abscisão em resposta ao estresse hídrico. As plantas à esquerda foram hidratadas durante todo o experimento; as do meio e à direita foram submetidas a estresse moderado e severo, respectivamente, antes de serem novamente hidratadas. Apenas um tufo de folhas é mantido nos topos dos caules das plantas severamente estressadas (cedida por B. L. McMichael) A área foliar total de uma planta (número de folhas x área da superfície de cada folha) não permanece constante depois de todas as folhas terem atingido a maturidade. Se as plantas sofrerem um estresse hídrico após um desenvolvimento substancial da área foliar, as folhas sofrerão senescência e cairão (Figura 3). O Déficit hídrico acentua o aprofundamento da raiz no solo úmido Figura 5: Comparação do crescimento das partes aéreas (A) e das raízes (B) de plantas normais de milho em comparação com mutantes ABA-deficientes (viviparos) crescidas em vermiculita e mantidas em alto potencial hídrico (-0,03 MPa) ou em baixo potencial hídrico (-0,03 MPa em A e -1,6 MPa em B). O estresse hídrico (baixo potencial hídrico) diminui o crescimento tanto das raízes quanto das partes aéreas comparados com os controles. (C) Observe que sob estresse hídrico (baixo potencial ΨW), a taxa de crescimento da raiz, comparado com a da parte aérea, é muito maior quando sob estresse hídrico (baixo ΨW), a taxa de crescimento da raiz, comparada com as da parte aérea, é muito maior quando o ABA está presente (i. é, no tipo selvagem) do que quando ele está ausente (no mutante). (Saa e cols, 1990) Fechamento estomático 1. A luz estimula a fotossíntese e o transporte ativo de H+ para os grana, elevando o pH do estroma. 4. Uma vez que a membrana do cloroplasto é quase impermeável ao ABA-, o ABA- carregado é amplamente impermeável. 2. Em estroma alcalino, ABA●H se dissocia. 3. ABA●H difunde-se do citosol para o estroma Figura 6 : Acumulação deABA por cloroplastos na luz. A luz estimula a entrtada de protons nos grana, tornado o estroma mais alcalino. O aumento da alcalinidade causa a dissociação do ácido concentrado no citosol, diferença de concentrações de ABA●H no estroma fica abaixo da concentração no citosol, diferença de concentração que aciona a difusão passiva de ABA●H através da membrana do cloroplasto. Ao mesmo tempo, a concentração de ABA- no estroma aumenta, mas a membrana do cloroplasto é quase impermeável ao ânion (setas vermelhas), que, assim, permanece aprisionado. Esse processo continua até que as concentrações de ABA●H no estroma e no citosol sejam iguais. Mas desde que o estroma permaneça mais alcalino, a concentração total de ácido abiscísico (ABA●H + ABA-) no estroma ultrapassa em muito a concentração no citosol. Figura 7 : Via de trandução de sinais que ocorem nas celulas guradas durante os movimentos estomaticos. A luz azul promove a bertura dos estomatos ativando uma bomba de prótons que, por sua vez, ativa a entrada de potássio. De modo inverso, o ABA induz o fechamento estomáticoinibindo a bomba de prótons, que ativa a entrada de pot´´assio, e ativando o canal de saída de potássio. O cálcio é o mensageiro secundário na inibição da bomba de prótons pelo ABA. A indução do canal de saída de potássio pelo ABA é através do aumento do pH do citosol da célula guarda. Modificado de Schroeder et al (2001) O déficit hídrico limita a fotossíntese dentro do cloroplasto Figura 8: Efeito do estresse hídrico sobre a fotossíntese e a exposição foliar de girassol (Helianthus annuus). Essa espécie representa muitas plantas nas quais a expansão foliar é muito sensível ao estresse hídrico; ela é completamente inibida sob níveis moderados de estresse, que afetam severamente as taxas fotossintéticas (Boyer, 1970) Ajuste osmótico • É o aumento no conteúdo de solutos no citosol das células, diminuindo Ψo e conseqüentemente, o Ψw • Auxilia a manter o balanço hídrico da planta. • Os solutos acumulados (solutos compatíveis) São: prolina, álcoois de açúcar (sorbitol e manitol) e amina quartenária (betaína) • Prolina • Aminoácido acumulado em função do aumento no fluxo de glutamato • É um dos principais osmóticos acumulado durante o ajuste osmótico Figura 9: Perda de água e ganho de carbono pela beterraba (Beta vulgaris), uma espécie com ajuste osmótico, e feijão-decorda (Vigna unguiculata) uma espécie sem ajuste que economiza água durante o estresse, pelo fechamento estomático. As plantas cresceram em vasos e foram submetidas ao estresse hídrico. Todos os dia após a última rega, as folhas de beterraba mantiveram em potencial hídrico mais baixo do que as folhas de feijão-decorda, mas a fotossíntese e a transpiração durante o estresse foram apenas levemente maiores na beterraba. A diferença maior entre as duas espécies foi quanto ao potencial hídrico foliar. Tais resultados mostram que o ajuste osmótico promove a tolerância à desidratação, mas não têm um efeito maior sobre a produtividade. (McCree e Richardson, 1987) Estresse e choque térmicos • A maior parte de plantas superiores é incapaz de sobreviver ( 45° C). • A temperatura foliar alta e déficit hídrico levam ao estresse térmico RESFRIAMENTO E CONGELAENO • A formação de cristais de gelo e a desidratação do protoplasto matam as células • A limitação da formação de gelo contribui para a tolerância ao congelamento • Algumas plantas lenhosas podem aclimatar a temperaturas muito baixas • Algumas bactérias que vivem sobre superfícies foliares aumentam o dano pela geada • O ABA e sintese proteica estão envolvidos na aclimatação ao congelamento Numerosos genes são induzidos durante a aclimatação ao frio Estresse salino • A salinidade reduz o crescimento e a fotossíntese de espécies sensíveis. • Altas concentrações de sal na costa maritima e em estuários • Na agricultura, o problema maior é a aucumulação de sais provenientes da de irrigação • Área cultivada no Brasil: 66 milhoes de hectares • 3,63 milhões de hectares são irrigados, correspondem à 5,5 % da área cultivada • Estes 5,5 % de área representam 35% da produção agrícola nacional • Sem a irrigação o Brasil não produziria • Plantas halófitas (nativas de solos salinos e completam seu ciclo de vida naqueles ambientes • Atriplex (erva-sal) • Uso forrageiro (qualidade semelhante a semente de alface) • Exibem estimulação do cresciemnto sob concentrações elevadas de Clmuitas vezes maior do que o nível letal para plantas sensíveis • Utilizada para diminuir o impacto ambiental decorrente da salinidade, absorver grande quantidade de sal • Glicófitas “plantas doces”, não tem a mesma resistência ao sal que as halófitas. • Sensibilidade das plantas glicófitas à salinidade: • Lentamente sensíveis: milho, cebola, citros, alface, feijão •Moderadamente tolerante: beterraba e tamareira • A salinidade reduz o crescimento e a fotossíntese de espécies sensíveis • Altas concentrações de Na inativa enzimas e inibe síntese protéica Estresse por alagamento •Falta de oxigênio •A raiz necessita respirar para crescer •O O2 para a respiração das raízes provém dos espaços porosos do solo •Anoxia (falta total de oxigênio) •Hipoxia (reduzida concentração de oxigênio) • As raízes em geral obtêm oxigênio suficiente para a respiração aeróbico diretamente do espaço gasoso no solo. • Danificam em ambientes anoxicos prejudicando a parte aérea. Figura 10 : Durante o episódio de anoxia, o piruvato produzido pela glicolise é inicialmente fermentado a lactato. A produção de prótons pela glicólise e outras rotas metabólicas, assim como o decréscimo da translocação de prótons através da membrana plasmática e do tonoplasto levam a um abaixamento do pH citosólico. Com pHs mais baixos, a atividade da lactato desidrogenase é inibida e a piruvato descarboxilase é ativado, conduzindo a um aumento na fermentação de etanol e decréscimo na fermentação de lactato. Isto aumenta o pH citosólico e acentua a capacidade da planta de sobreviver em episódio de anoxia. Importância do oxigênio • Oxigênio é uma molécula altamente eletronegativa e tem importância em vários processos metabólicos como respiração, fotorrespiração e reações enzimáticas •Desta forma a falta de oxigênio inibe a cadeia transportadora de elétrons, diminuindo a produção de ATP. •A falta d energia afeta o crescimento de raízes e parte aérea da planta •Baixo teor de oxigênio provoca anaerobiose, com baixa produção de energia, e produção e etanol que degrada as membranas • Baixa disponibilidade de oxigênio causa epinastia (aumento do crescimento de uma superfície de um órgão de uma planta ou de suas partes, fazendo-a curvar-se para baixo). Estresse por alagamento Como algumas espécies sobrevivem a solos alagados ? • Através de adaptações e estruturas especializadas provocadas, em grande parte, pelo hormônio etileno. AERÊNQUIMA • É um tecido formado pela planta em resposta à oxigênio o solo. É resultante da morte celular programada de um grupo de células corticais da raiz localizada entre a endoderme e a hipoderme. • E a formação do aerênquima é induzida pela ação do etileno, em raízes crescendo em condições de hipoxia, há um aumento na atividade de célulases, xiloglucanases e endotransglicosilases. CONCLUSÃO • O estresse desempenha um papel importante na determinação de como o solo e o clima limitam a distribuição de espécies vegetais. Assim, a compreensão dos processos fisiológicos subjacentes ao danos provocados por estresse e dos mecanismos de adaptação e aclimatação de plantas a estresses ambientais é de grande importância para a agricultura e meio ambiente. • O estudo do estresse é necessário para que não haja aplicação incorreta desse insumo, pois muitas vezes sintomas de estresse são confundidos facilmente com deficiência de nutrientes ou ainda ataque de pragas e doenças Obrigado !!!