Lidar com uma doença pulmonar crônica não é tarefa fácil

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Cuidados paliativos na Doença Pulmonar Avançada (DPA)
Lidar com um paciente portador de uma doença pulmonar crônica não é tarefa fácil. Torna-se ainda
mais complicado quando a doença pulmonar evolui para estadios mais avançados, ou seja, se aproxima
da fase terminal. Muitas vezes, o paciente nesta fase encontra-se tão debilitado, que tem dificuldades
para deambular dentro e fora de casa, seja pela dispnéia, caquexia, falta de oxigênio portátil, de
transporte adequado ou de outros inúmeros fatores.
Muitas doenças pulmonares crônicas podem causar um dano pulmonar progressivo e irreversível na
sua evolução, o qual frequentemente leva a incapacidade e morte. Infelizmente, para a maioria destas
doenças ainda não existem opções terapêuticas que consigam modificar tal evolução. Portanto, o
tratamento para estes doentes deve objetivar a melhoria do estado funcional e o alívio paliativo dos
sintomas.
Doença pulmonar avançada (DPA) é definida como toda doença pulmonar crônica não neoplásica, cujo
portador possui grande limitação para realizar as tarefas de vida diária, tem função pulmonar e trocas
gasosas bastante reduzidas, em geral é idoso e possui estado mental-social muito deteriorado,
reconhecidos fatores de risco que se associam com maior morbi-mortalidade.
A maioria dos casos de doença pulmonar avançada (DPA) é de doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC) grau IV (SBPT/GOLD) ou seja, com VEF1<30% do predito, isolada ou associada a outras
pneumopatias, seguida das fibroses pulmonares, doenças da circulação pulmonar, bronquiectasias
extensas e muitas outras. Os cuidados paliativos são aplicados a estes pacientes para garantir maior
sobrevida e melhor qualidade de vida, já prejudicada pelos sintomas respiratórios crônicos e/ou pelas
complicações clínicas decorrentes das co-morbidades sistêmicas que frequentemente estão associadas.
Ainda pouco divulgado no Brasil, os cuidados paliativos em doença pulmonar avançada são
direcionados aos pacientes e seus familiares (ou cuidadores) pela realização de um planejamento sobre
como tratar com segurança os pacientes em casa e sobre possíveis situações futuras que poderão ter de
enfrentar, para que estas medidas reduzam o número de internações. Um cuidador bem treinado se
sente seguro para iniciar em casa o tratamento (auto-manejo) previamente orientado pelo médico e com
isso melhorar a qualidade de vida do individuo.
Humanização
Oferecer atendimento humanizado e intenso investimento na qualidade de vida dos portadores de
doenças crônicas nas suas fases mais avançadas, principalmente em pacientes com câncer e atualmente
também em portadores de DPA, são os objetivos dos cuidados paliativos. Visa à aplicação de um
tratamento eficaz para o doente, e não somente para a doença. Além disso, atua no controle da dor, no
alívio dos sintomas gerais, e assim propicia uma sobrevida digna para os pacientes e seus familiares.
Normalmente, o paciente com doença pulmonar avançada possui limitações para realizar as tarefas
normais de vida diária, pela fadiga e dispnéia que apresentam ao realizar pequenos esforços.
Frequentemente este paciente apresenta limitações para tomar banho sozinho, deambular, alimentar-se
ou vestir-se, além de quase sempre depender de alguém para levá-lo as consultas médicas, exames, ou
para utilizar o oxigênio, mesmo o portátil. Por conseqüência, tudo isto gera ansiedade e depressão, que
podem ser minimizadas ou revertidas com medicações e orientações, muitas vezes simples.
Na doença pulmonar grave, orienta-se que o auto-manejo seja prontamente instituído pelo cuidador se
ocorrer súbita modificação nos sintomas do paciente. Por exemplo, nas freqüentes exacerbações
infecciosas da DPOC avançada (quando há aumento da dispnéia, da quantidade de secreção brônquica
e/ou presença de secreção purulenta), preconiza-se o uso de antibiótico e corticóide oral por 7 a 14 dias
e o aumento do uso de broncodilatadores inalatórios em casa, orientando-se procurar atendimento
especializado nas primeiras 24 a 48 horas se não ocorrer pronta re-estabilização dos sintomas. Recentes
estudos comprovaram que o auto-manejo têm impacto positivo na prevenção de exacerbações graves
da DPOC avançada (que costumam necessitar de internações em UTI), com conseqüente menor
mortalidade nestes pacientes.
Cuidados Domiciliares
Basicamente, os pacientes com doença pulmonar avançada necessitam que seu tratamento domiciliar
global esteja otimizado ao máximo, ou seja, que seja instituído o melhor tratamento farmacológico,
oxigenoterápico, nutricional, psicológico e educacional que engloba orientações sobre a doença e
exercícios físicos adaptados as possibilidades destes pacientes. Comprovadamente, a cessação do
tabagismo, o uso precoce de ventilação não-invasiva nas exacerbações da DPA, a oxigenoterapia
domiciliar prolongada e a cirurgia redutora do volume pulmonar em casos selecionados, aumentam a
sobrevida de pacientes com DPOC avançada. Já a atual terapêutica farmacológica que dispomos e a
reabilitação pulmonar clássica, melhoram a qualidade de vida destes doentes.
É de grande valia a integração de um programa educacional individual, baseado na explicação do que é
a doença, como se beneficiar com seu adequado tratamento e auto-manejo, importância dos exercícios,
como e porque usar o oxigênio, suas dificuldades e benefícios. A reabilitação pulmonar em domicilio
com o apoio de uma equipe multiprofissional é essencial. O corpo clínico deve ser composto por
médicos, enfermeiras, fisioterapeutas e outros profissionais afins, visando que a normatização de
condutas e as orientação sejam realizadas de forma uniforme e constante durante as consultas
ambulatoriais periódicas. Vale ressaltar que os fisioterapeutas são extremamente importantes neste
programa educacional, pois orientam o uso adequado de oxigênio, manobras de higiene brônquica e de
relaxamento, exercícios para melhorar a capacidade de exercício físico, assim como enfermeiros,
psicólogos, assistentes sociais e nutricionistas, as quais auxiliam na dieta, orientando refeições
balanceadas, fracionadas e com alimentos que facilitem a digestão.
Como resultado, o doente ganha uma estabilização satisfatória da doença, com a redução de
internações e melhora clínica. Ganha ainda um sono mais reparador, uma alimentação mais nutritiva e,
é claro, uma vida familiar com menos atribulações.
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