O Pe. LEONEL FRANCA S.J. Pe. Pedro M. Guimarães Ferreira S.J - Vice Reitor da PUC-Rio Texto para “O Testemunho da Fé” (15/03/07 ) Leonel Edgar da Silveira Franca, de família baiana, nasceu no Rio Grande do Sul quando seu pai, engenheiro, ali trabalhava em construção de estrada de ferro, em 1893, mesmo ano em que nasceram outros grandes líderes católicos do século XX, entre os quais Alceu Amoroso Lima, Heráclito Sobral Pinto e Paulo Setúbal. Tendo feito seus primeiros estudos em Salvador, Bahia, aos 13 anos, com a morte da mãe, é transferido para o Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, R.J., um internato dirigido pelos Padres Jesuítas, que gozava então de notável reputação. A par da inteligência de escol, Leonel Franca revelou logo uma forte vocação religiosa, que desabrochou, ao fim do curso colegial, na sua decisão de ingressar na Companhia de Jesus, tendo sido logo admitido no Noviciado dos Jesuítas, ali mesmo no prédio do Colégio Anchieta. Este é um tempo em que o jesuíta se dedica especialmente à oração, meditação e – se Deus for servido – aos inícios da contemplação. Neste tempo se lançam os alicerces da vida espiritual do jesuíta. Ao final de dois anos, os votos de pobreza, castidade e obediência. Terá sido nesta época que o jovem Franca exprimiu numa máxima de vida a sua entrega a Deus: “Com o Absoluto não se regateia. Quem não deu tudo, não deu nada. O sacrifício deve ser holocausto”. Após este período de intensa formação espiritual, seguiram-se dois anos de Estudos Clássicos e Humanidades, ainda em Nova Friburgo, após os quais ele é enviado à Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, para os estudos de Filosofia, 3 anos. Aluno sempre brilhante, ele volta ao Brasil, com apenas 22 anos, mas já com uma respeitável bagagem intelectual, para exercer o Magistério no Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro. Alí permanece 5 anos, onde faz entre os alunos inúmeras amizades e admiradores, exemplo que já era de santidade, ciência e sabedoria. Leciona quase que todas as disciplinas, Religião, Latim, Filosofia, Álgebra, Geometria, Trigonometria, Química, História Natural e ainda encontra tempo para escrever seus dois primeiros livros, um deles sendo “Noções de História da Filosofia”, que se tornaria um “best seller”. Leonel tinha saúde débil, com um problema cardíaco congênito, tendo tido uma primeira crise séria ainda aos 14 anos. Mais 4 viriam antes do colapso final. Em vista disto, é impressionante a atividade por ele desenvolvida durante seus 55 anos de existência. Em 1920, volta a Roma, para a mesma Universidade Gregoriana, a fim de estudar a Teologia, a etapa mais importante na formação intelectual de um Sacerdote. Em 1923, ao fim do 3º ano de Teologia, ele é ordenado “Sacerdote para sempre”. Ainda em 1923 seria publicado seu terceiro livro, “A Igreja, a Reforma e a Civilização”, que seria um novo “best seller”. Segue-se mais um ano de teologia, o 4º, ao fim do qual a aprovação com grau máximo em exame de toda Filosofia e Teologia estudadas, conquistando o Doutorado nas duas ciências. Segue-se a chamada “Terceira Provação”, de 10 meses, uma volta intensa à oração, um “polimento” espiritual antes do início da vida ativa. Em fins de 1925 o Pe. Franca volta de vez para o Brasil. Após uma passagem, pouco mais de 1 ano, por Nova Friburgo, como Professor de Filosofia dos Jesuítas em formação, ele é destinado novamente ao Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, não mais para ser professor, mas para uma atividade que se revelaria intensa e profunda em termos de orientação espiritual e intelectual. Ansiosamente esperado pelas lideranças intelectuais católicas que se concentravam na então Capital da República, ele foi como bem dizia o Pe. Leme Lopes, o “pai espiritual da inteligência brasileira de sua época”. Assistente eclesiástico do Centro Com Vital, que teria enorme importância dos anos 20’s aos anos 50’s, reunindo o escol da inteligência católica leiga de então, Pe. Franca foi também o fundador e primeiro Assistente Eclesiástico da “Ação Universitária Católica”, precursora da JUC – Juventude Universitária Católica - e também Assistente Eclesiástico da Associação de Professores Católicos. Pe. Franca foi além disso consultor ad hoc para um sem número de problemas da Igreja e do Brasil, principalmente na área da Educação – ele foi por muitos anos membro do Conselho Nacional de Educação. Pe. Franca era extremamente disciplinado na administração do próprio tempo, reservando-se sempre o necessário para ler, estudar e escrever. Nestes 21 anos finais de sua vida, no Rio de Janeiro, ele encontra tempo para escrever várias obras de fôlego, muitas das quais se tornariam outros “best sellers”, como “O Divórcio”, “A Psicologia da Fé”, notável pela profundidade e subtileza psicológica, “O Problema de Deus”, outra obra prima, e aquela que foi provavelmente a mais profunda de suas obras, “A Crise do Mundo Moderno”. Mas não se pode falar sobre o Pe. Franca sem se dar especial destaque àquela que foi sua obra por excelência, idealizada por muitos anos, já no tempo em que era jovem estudante jesuíta e realizada através de notável trabalho de persistência, lucidez e dedicação: a Universidade Católica do Rio de Janeiro, que aliás deveria se chamar Universidade Católica do Brasil, de acordo com a vontade do Concílio Plenário dos Bispos do Brasil ao final dos anos 30’s. Além de ser seu Fundador – juntamente com Dom Leme, o grande Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro de então – ele foi o primeiro Reitor de “Faculdade Católicas”, inicialmente só Filosofia, fundada em 1940, que se tornaria Universidade em 1945 e Pontifícia Universidade Católica em 1947. Em 1948 entregava sua alma a Deus o Pe. Leonel Franca. “Morreu um santo”, escreveu Alceu Amoroso Lima. E esta era a opinião unânime de todos os que o conheceram de perto. Como disse o Pe. Leme Lopes, “deixava de bater aquele coração tão arrítimico para o corpo, mas que com tão perfeito ritmo batera para Deus”.