89 1. INTRODUÇÃO O interesse e o conhecimento a

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CULTIVO DE PLANTAS TÓXICAS E A OCORRÊNCIA DE INTOXICAÇÕES EM DOMICÍLIOS NO
MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS
Naiani Alves de Jesus1
Eliane Aparecida Suchara2
RESUMO: Objetivou-se com esse estudo identificar a presença e estimar a ocorrência de casos de intoxicação por
plantas tóxicas, no município de Barra do Garças. Assim, foi realizado um estudo epidemiológico descritivo do tipo
probabilístico por conglomerado no período de outubro de 2009 a setembro de 2010. As plantas que apresentaram maior
incidência nas residências foram Dieffenbachia picta Schott (58,3%) e Rosa sp. (38,2%), sendo relatada a ocorrência de
intoxicações por plantas em 19,4% dos domicílios. Conclui-se que o cultivo e hábito de automedicação com plantas,
aliado a falta de conhecimento da população pode levar a ocorrência de quadros de intoxicação.
Palavras-chave: Intoxicação. Plantas tóxicas. Residências.
ABSTRACT: The objective of this study was to identify the presence and estimate the occurrence of cases of poisoning
by toxic plants in the municipality of Barra do Garças. Was carried out a descriptive epidemiological study of
probabilistic conglomerate in the period October 2009 to September 2010. Plants with higher incidence in the
residences were Dieffenbachia picta Schott (58.3%) and Rosa sp. (38.2%), reported the occurrence of plant poisoning in
19.4% of households. We conclude that the cultivation and habit of self-medication with plants, coupled with lack of
knowledge of the population can bring the frame of intoxication.
Key-Words: Intoxication, Toxic plants, Domicile.
1
2
Farmacêutica, Formada na Universidade Federal de Mato Grosso
Professora, Doutora da Universidade Federal de Mato Grosso – Campus do Araguaia: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
O interesse e o conhecimento a respeito da
toxicidade das plantas datam de épocas remotas, e sua
importância é percebida, ora como instrumento de
caça, através de flechas envenenadas, ora como um
recurso adverso intencional de envenenamento para
fins políticos, militares e pessoais como os ocorridos na
Idade Média (SCHVARTSMAN, 1992). Já no final do
século XIX e início do século XX, muitas plantas
tóxicas exerceram importante papel como fonte de
substâncias ativas, capazes de propiciar modelos
moleculares para o desenvolvimento de fármacos
(SIMÕES et al., 2007). Assim, estamos constantemente
em contato com plantas e estas possuem substâncias
químicas, que podem atuar beneficamente sobre
organismos ou agirem de forma prejudicial (RITTER et
al., 2002). Assim, as plantas medicinais e tóxicas
constituem um grupo especial de vegetais, dada à sua
importância etnobotânica e educacional (SOUSA et al.,
1991).
O Brasil apresenta uma vasta diversidade de
plantas em seu território. Atualmente possui mais de
55.000 espécies de plantas superiores catalogadas e
dezenas de outras são incluídas na lista todos os anos
(ANDRADE FILHO et al., 2013). Quanto às plantas
tóxicas é observado atualmente no país 131 espécies e
79 gêneros (PESSOA et al., 2013). Cabe ressaltar que
são consideradas plantas tóxicas aquelas que, pela
inalação, ingestão ou contato podem causar efeitos
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lesivos ou distúrbios no organismo de homens e
animais (ANDRADE FILHO et al., 2013).
Considerando a ampla utilização das plantas
com fins medicinais, a falsa idéia de inocuidade dos
fitofármacos, modismos ditados pela mídia levados ao
extremo, não relacionamento de chás e afins a efeitos
colaterais é observado o crescimento das complicações
e os efeitos adversos resultante do mau uso
(ANDRADE FILHO et al., 2013). Assim, as
intoxicações estão presentes no cotidiano de cada
indivíduo, e em virtude disso, inúmeros acidentes
domésticos toxicológicos ocorrem devido á carência de
conhecimento da população, principalmente ao se
observar hábitos e costumes dos moradores. E a
intoxicação pode ser caracterizada como uma
manifestação através de sinais e sintomas, que ocorre
no organismo vivo após a exposição a um determinado
tipo de produto ou substância, levando ao aparecimento
de alterações bioquímicas, funcionais e/ou sinais
clínicos compatíveis com o quadro de intoxicação
(PINILLOS et al., 2003).
Diante do contexto apresentado, juntamente
com a grande ocorrência de subnotificação quanto aos
atendimentos realizados e além do fato que os dados
disponíveis na literatura sobre intoxicação por plantas
na região Centro-Oeste são escassos, em especial no
estado de Mato Grosso, este trabalho teve como
objetivo estudar a presença de plantas tóxicas e a
ocorrência de intoxicações provocadas por estes
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90
agentes em domicílios do município de Barra do
Garças -MT.
para melhor
resultados.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a identificação e avaliação do risco de
plantas potencialmente tóxicas foi realizado um estudo
epidemiológico descritivo do tipo probabilístico por
conglomerado no período de outubro/2009 a setembro/
2010. A área em estudo corresponde ao município de
Barra do Garças-MT.
Como instrumento de coleta, foi utilizado um
questionário que permite obter informações a respeito
dos residentes, condição socioeconômica, grau de
escolaridade, conhecimento sobre plantas que são
tóxicas e também se já houve intoxicação por parte de
algum morador. Como critério de inclusão na amostra,
poderiam responder o questionário, os entrevistados
com idade a partir de dezoito anos, residentes nos
domicílios pesquisados na cidade de Barra do Garças –
MT. De modo semelhante, foram excluídos da trama
amostral, todos os residentes que não se encontravam
em casa no momento da coleta, de modo que a presente
entrevista era feita então na próxima residência.
A amostragem foi realizada com base nos
domicílios de Barra de Garças – MT, a qual conta no
ano de 2013 com uma população estimada de 57.791
habitantes (IBGE, 2013). A amostra populacional
calculada considerando à população no ano de 2010 foi
de 250 domicílios. A cidade de Barra do Garças-MT
apresenta um total de 78 bairros, dos quais são
divididos em 5 regiões: Norte, Sul, Leste, Oeste e
Centro, segundo a Prefeitura de Barra do Garças.
Então, realizou-se um sorteio separadamente para cada
região, de modo a serem sorteados dois bairros em
cada conglomerado para representar o município como
um todo.
Foi utilizada a técnica de amostragem
probabilística por conglomerado, onde os domicílios
visitados foram escolhidos obedecendo-se a intervalos
regulares, calculados de modo a, após terminar a
pesquisa em todos os bairros sorteados, ter atingido o
número mínimo previsto de questionários. Com base
nos cálculos de amostragem foram aplicados 250
questionários nas residências de todos os bairros
urbanos sorteados, sendo aplicados 25 questionários
por bairro; a coleta de dados foi feita por quadra, de
maneira alternada (casa sim, casa não) de acordo com a
disponibilidade do entrevistador. Durante a entrevista,
para a identificação das plantas foi disponibilizado ao
morador um catálogo com todas as plantas presentes na
pesquisa, baseadas em uma revisão bibliográfica.
Foram entrevistados 250 domicílios e obtidos
os resultados quanto ao perfil da população
entrevistada, assim constatou-se que a população
amostral era formada por 75,2% do sexo feminino e
24,8% pertencente ao sexo masculino. Em relação ao
grau de escolaridade da população entrevistada, relatase que 43,2% possuem apenas o ensino médio; 27,6%
dos residentes cursaram o ensino fundamental; 27,6%
possuíam nível superior e 1,6% dos entrevistados
disseram não ter nenhum grau de instrução. Em relação
à faixa etária, destaca-se que os adultos de 26 a 50 anos
representaram 48% da amostra, seguido de 37,2% do
grupo de pessoas acima de 50 anos, e 14,8% dos
entrevistados correspondiam aos jovens de 18 a 25
anos. A renda familiar dos residentes constituiu-se da
maioria entre 1 a 3 salários mínimos (34,4%), seguido
por 1 salário mínimo (24,8%), 3 a 5 salários mínimos
mensais (24%), e uma pequena parcela possuía renda
acima de cinco salários mínimos (8%).
Quanto à ocorrência das plantas tóxicas
cultivadas no município de Barra do Garças-MT,
observou-se que 58,4% dos domicílios cultivavam
essas plantas, as quais se encontram listadas na Tabela
01. Não foram encontradas ou citadas em nenhum
domicílio as plantas Aubaitinga Datura stramonium
(Estramômio), Euphorbia milii L. (Coroa de Cristo),
Oxalis sp. (Trevo), Cytisus Scoparius (Giesta), Ficus
pumila (Hera) e a Manihot sp. (Mandioca Brava).
Considerando o local da residência onde estas plantas
consideradas tóxicas estavam localizadas, a maioria
encontrava-se no quintal (41%), seguido por locais fora
de casa (30,6%), varanda (22,2%), sala (3,5%), cozinha
(1,4%) e outros lugares do domicílio (1,4%).
Com relação a ocorrência de intoxicações por
plantas ocorridas no município de Barra do GarçasMT, estas foram relatadas em 19,4% dos domicílios
entrevistados. As plantas responsáveis pelas
intoxicações foram a Dieffenbachia picta Schott
(Comigo-ninguém-pode) e o Euphorbia tirucalli L.
(Avelóz),
sendo que em 89,3% dos casos as
intoxicações foram acidentais. É interessante pontuar
que dentre os intoxicados, as mulheres tiveram uma
maior frequência (89,3%) e a faixa etária mais
acometida foi a maior de 50 anos (46,4%), seguida de
indivíduos entre 26 a 50 anos (25%), de modo que, a
faixa etária de zero a onze anos aparece com uma
frequência inferior de 21,4%. Os entrevistados citaram
como sendo a parte da planta responsável pela
intoxicação, a folha (82,1%); acompanhado do caule
(17,9%). As vias de administração utilizadas para
plantas com finalidade terapêutica (popular) foi a via
oral (71,4%) e tópico (14,3%).
Das reações
apresentadas pelo intoxicado foram citadas alergia
(67,9%); agitação (28,6%) e sonolência (3,6%). Houve
A análise dos dados foi realizada através do
programa estatístico Epi info versão 6.04. Para garantir
a confiabilidade dos dados foram utilizados os
seguintes parâmetros estatísticos: nível de significância
de 95%; poder estatístico de 90% e risco relativo 1,6.
Utilizou-se o Software Microsoft Office Excel 2007
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apresentação
e
interpretação
dos
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uma prevalência de intoxicações de grau leve (89,3%),
seguida por grau ignorado (7,1%) e grau moderado
(3,6%). Assim, a busca pelo tratamento ocorreu em
85,7% na própria residência, sendo que somente em
7,1% dos casos foi procurado serviço hospitalar e 7,2%
dos indivíduos recorreram a outros meios. Foi
observada a cura em 100% dos casos de intoxicações
diagnosticados em residências, não sendo observadas
sequelas.
Ao relacionar a faixa etária dos entrevistados
com o nível de informação que estes possuem sobre as
plantas tóxicas, nota-se que a faixa etária acima de
cinqüenta anos apresentava maior conhecimento sobre
as plantas que oferecem perigo, pois 78,5% destes
possuíam conhecimento sobre a toxicidade das plantas
cultivadas (Figura 01). Foi observada uma faixa etária
que varia significativamente com os conhecimentos a
respeito da toxicidade das plantas, onde a análise
estatística
revelou
variações
extremamente
significativas (p = 0,00000035). Com relação ao sexo e
o conhecimento prévio recebido sobre as plantas
observou-se que o sexo feminino (62,6%) apresentou
um índice de frequência de conhecimento superior ao
sexo masculino (37,4%).
Figura 01. Faixa etária dos informantes versus
conhecimento sobre a toxicidade das plantas cultivadas
nas residências.
Com relação ao grau de escolaridade e o
conhecimento dos sintomas causados por plantas
tóxicas, observa-se que há uma maior prevalência do
grau de instrução referente ao ensino superior com
39%, seguido de 31,7% dos informantes com nível
médio de ensino e 29,3% com ensino fundamental.
Assim, este estudo também evidenciou ocorrer
variação entre o grau de escolaridade e os sintomas
conhecidos pela população amostral e demonstrou
valor significativo quanto as variáveis indicadas p =
0,015 (p<0,05). Cerca de 43,1% dos entrevistados
relataram
já ter recebido informações sobre a
toxicidade das plantas encontradas em sua residência,
porém durante as entrevistas notou-se que os
informantes pouco sabiam que as plantas por eles
cultivadas, eram tóxicas.
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Quanto a finalidade e uso das plantas
cultivadas, estas são utilizadas como decorativas
(95,1%) e com finalidade terapêutica (4,9%). Sendo
que, as espécies utilizadas para fins terapêuticos
tiveram frequência de uso relatada como rara em
57,1%, cerca de duas a quatro vezes por semana por
28,6% e uma vez por semana por 14,3%. Foi
observado ao longo do estudo uma grande
desinformação da população amostral, referente ao uso
de plantas medicinais com potencial altamente tóxico,
pois o uso descriminado destas plantas, a facilidade de
obtenção, e o despreparo de quem as utilizam induz a
casos de intoxicação por plantas consideradas como
medicinais.
O presente estudo evidenciou uma maior
frequência dos entrevistados do sexo feminino, na qual
nota-se uma forte influência cultural da região
pesquisada, principalmente ao se observar hábitos e
costumes ao lidar com plantas que erroneamente
afirmam não ocasionarem nenhum malefício. De
acordo com ARNOUS, et al., no ano de 2005, descreve
em seus estudos que a baixa porcentagem de
entrevistados do sexo masculino nos domicílios é
devido ao horário em que as entrevistas foram
concedidas.
Quanto ao grau de escolaridade da população
pesquisada, esta é marcada pelo alto índice de
entrevistados que apresenta apenas o ensino médio,
fato este presenciado durante as entrevistas, onde os
informantes não sabiam distinguir uma planta tóxica de
outra não tóxica, pois não detinham conhecimento
suficiente. Segundo FONTES, et al. no ano de 2007,
apenas 10% dos entrevistados apresentam o ensino
fundamental completo, 75% apresentam o ensino
fundamental incompleto e os 15% restantes são
analfabetos. Essa realidade é decorrente de que anos
atrás, o trabalho começava muito cedo para as crianças,
e por residirem em área rural, não apresentavam
condições ou oportunidades de estudo.
Em relação à faixa etária, os entrevistados de
26 a 50 anos obtiveram uma maior frequência, ou seja,
esta faixa de idade representa os entrevistados que
fizeram parte da pesquisa, de modo similar FUCK e
colaboradores no ano de 2005, que comenta que todos
os residentes de seu estudo apresentaram faixa etária
acima de 40 anos.
A renda familiar da população estudada se
concentra com maior porcentagem entre 1 a 3 saláriosmínimos mensais, fato semelhante ao trabalho
realizado por ARNOUS et al., (2005), que constatou
em sua pesquisa realizada no município de Datas,
Minas Gerais, onde pesquisava sobre o conhecimento
popular e interesse por cultivo comunitário de plantas,
que a economia de baixa renda prevalece entre a
maioria dos entrevistados (72%).
Pode-se caracterizar a posição social da
população estudada do município de Barra do GarçasMT quanto aos salários mínimos, desta maneira a
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amostra populacional se enquadra no perfil entre classe
baixa e média baixa, segundo dados do IBGE .
O amplo cultivo de plantas tóxicas nas
residências visitadas (58,4%) pode ser justificado pelo
fato de que no Brasil, por ser um país de miscigenação
racial e, portanto cultural, é influenciado pela crendice,
principalmente africana e indígena, sobre o poder
mágico das ervas em chás, infusões, entre outros na
cura de patologias (SANTOS et al., 1995.
O local do domicílio em que as plantas são
mais incidentes se torna outro fator que instiga as
intoxicações ocorridas, pois dependendo do local, os
envenenamentos podem ser mais frequentes,
justamente pelo maior contato do indivíduo com o
agente tóxico. Neste caso, os locais de maior
frequência onde as plantas tóxicas foram encontradas
como o quintal e fora da residência, pode-se pontuar
que não são áreas de grande risco se comparados a
varanda, sala, cozinha e outros, pois estas localidades
possuem um maior acesso pelos moradores e por
conseqüência podem gerar um maior índice de
intoxicação.
As intoxicações por plantas ocorridas na
cidade de Barra do Garças-MT, correspondem a 19,4%.
Sendo que, as plantas responsáveis pelas intoxicações
foram a Dieffenbachia picta Schott (Comigo-ninguémpode) e Euphorbia tirucalli L. (Avelóz). Os casos de
intoxicação por plantas no município foram baixos, de
modo que, a falta de informação a respeito da
toxicidade das plantas e o nível de instrução permeiam
os episódios ocorridos.
Explica-se a alta incidência da planta comigoninguém-pode nas residências visitadas, através de
diversos estudos que mostram a grande influência
cultural marcada pelo uso desta planta para proteção do
lar e também do uso ritualístico de comigo-ninguémpode em banhos realizados por cerimônias religiosas
como a umbanda (MACIEL e GUARIM-NETO,
2006). Por conseguinte, a significativa presença desta
planta nas residências visitadas, aumenta o risco das
intoxicações no município.
A grande parte das intoxicações foi acidental
(89,3%), possivelmente, o local onde as plantas estão e
são manejadas influencia nos acidentes toxicológicos,
além de que os moradores ao cultivar estas plantas não
tomam as precauções devidas, aumentando os índices
de se intoxicarem.
O elevado índice de intoxicação do sexo
feminino pode ser justificado pela maior procura por
parte das mulheres por essas plantas, seja de maneira
direta ou não.
Com relação à faixa etária das pessoas que se
intoxicaram, verifica-se que os entrevistados com mais
de cinquenta anos obtiveram uma margem superior de
intoxicação (46,4%). É relatado na literatura que várias
circunstâncias podem levar a um quadro de intoxicação
como, por exemplo, a incapacidade de distinguir uma
planta comestível de outra tóxica, o uso e abuso com
fins recreativos, indicações de uso por pessoas leigas,
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medicamentos caseiros e automedicação. Essas práticas
comuns são observadas no comportamento da
população adulta brasileira, o que justifica a frequência
de intoxicação destas plantas na faixa etária acima de
cinquenta anos (OLIVEIRA, 2002; ANDRADE
FILHO et al., 2013).
Quanto à parte do vegetal que causou
intoxicação, acredita-se que o grande percentual da
folha nas intoxicações referidas, seja pelo fato de que
estas estão mais em contato com a vítima, o que não é
expresso pelo caule, raiz e outros. Em concordância,
VASCONCELOS e colaboradores, no ano de 2009,
descrevem em suas análises, que 54% dos
entrevistados apontaram as folhas, seguidas de 11%
dos frutos, 8% do caule, enquanto cascas e flores foram
referidas em 9,3% das ocorrências.
Em relação à via de administração, a oral
(71,4%) foi a mais utilizada, o que provavelmente, a
incidência desta via na terapia medicinal, seja referente
aos modos de preparo das plantas, as quais utilizam-se
de métodos comuns como a infusão. De modo
semelhante FONTES, et al., no ano de 2007, relata que
tradicionalmente a comunidade trata a maioria de suas
enfermidades por via oral.
Pode-se pontuar também que a baixa
incidência de intoxicados que procuraram o hospital
(7,1%), está vinculada a gravidade de intoxicação, pois
a grande maioria foi vítima de intoxicações leves, as
quais não foram causas de uma preocupação maior,
sendo que a busca pelo tratamento ocorreu na grande
maioria dos casos na própria residência (85,7%).
SALERNO e colaboradores (2008), em seu estudo
analisaram que a situação referente à prevenção de
intoxicações exógenas e notou que contraditoriamente
a maioria dos entrevistados recorreria à emergência de
um hospital no caso de alguma intoxicação, seja ela
grave ou moderada. Também, deve-se considerar que o
processo alérgico decorrente da maioria das
intoxicações foi apontado como reação mais frequente
observada nesse estudo, e essa manifestação
dificilmente leva a procura de atendimento hospitalar.
Ao relacionar a faixa etária dos entrevistados
com o nível de informação que estes possuem sobre as
plantas, verifica-se que, a faixa de idade superior a
cinquenta anos possuía maior conhecimento a respeito
destas plantas, o que pode ser justificado pela maior
experiência de vida que estas pessoas possuem,
considerando também a transmissão de conhecimento
feita de geração para geração.
A respeito do sexo e as informações recebidas
sobre as plantas observa-se que o sexo feminino
(62,6%) apresentou um índice de frequência superior
ao sexo masculino (37,4%). O fato de que o sexo
feminino apresenta maior conhecimento sobre as
plantas e também são as que mais se intoxicam, estão
ligadas ao episódio em que as mulheres são mais
vinculadas as plantas, seja ela medicinal ou tóxica, pois
se observou que ao longo das entrevistas os
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informantes cultivavam tais plantas por simples prazer
e pela beleza que muitas oferecem.
Quanto ao grau de escolaridade dos
informantes em relação ao conhecimento dos sintomas
causados por plantas tóxicas, obteve-se uma
prevalência do ensino superior (39%), o qual se
sobressaiu pela capacidade de instrução.
Verifica-se que 43,1% dos entrevistados já
receberam informação sobre a toxicidade das plantas
encontradas em sua residência, porém durante as
entrevistas notou-se que os informantes não sabiam que
a planta era tóxica, pois não tinha conhecimento da
planta pelo nome correto e a magnitude de toxicidade
da planta era tratada como uma questão trivial.
As plantas tóxicas resultantes deste estudo são
utilizadas como decorativas (95,1%) e com finalidade
terapêutica (4,9%), assim os resultados da pesquisa
apontaram que das plantas usadas para fins terapêuticos
a grande maioria dos entrevistados relataram fazer uso
do vegetal raramente (57,1%). No entanto, foi
observada ao longo do estudo uma grande
desinformação da população amostral, referente ao uso
de plantas medicinais com potencial altamente tóxico,
pois o uso indiscriminado destas plantas, a facilidade
de obtenção, e o despreparo de quem as utilizam induz
a casos de intoxicação por plantas consideradas como
medicinais.
Tabela 01 - Frequência de plantas tóxicas encontradas nos domicílios do município de Barra do Garças-MT, no período
de outubro/2009 a setembro/2010.
Planta
Freqüência
Planta
Frequência
n
%
Dieffenbachia picta Schott
(Comigo-ninguém-pode)
Rosa sp. (Rosa)
146
58,3
96
38,2
Pteridium aquilinum L.
(Samambaia)
Sanseveria trifasciata (Espada de
São Jorge)
Caladium bicolor Vent (Tinhorão)
80
31,9
64
25,7
57
22,9
Zantedeschia aethiopica Spreng.
(Copo-de-leite)
Anthurium andraeanum (Antúrio)
40
16
40
16
Hydrangea macrophylla
(Hortência)
Monstera deliciosa L. (Banana de
macaco)
Holocalyx balansae Mich.
(Alecrim)
Jatropha curcas L.
(Pinhão roxo)
Colocasia antiquorum Schott
(Taioba)
33
13,2
21
8,3
19
7,6
19
7,6
16
6,3
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Nerium oleander
(Espirradeira)
Euphorbia
pulcherrima Willd. (Bico
de papagaio)
Thevetia peruviana
(Chapéu de Napoleão)
Euphorbia tirucalli L.
(Avelóz)
Ricinus communis L.
(Mamona)
Datura suaveolens L.
(Saia branca)
Bambusa vulgaris Schrad
(Broto de bambu)
Allamanda catahrtica
(Alamanda)
Rhododendron sp.
(Azaléia)
Cestrum nocturnum
(Dama-da-noite)
Datura metel
(Saia roxa)
Lithraea brasiliens March
(Urtiga)
n
%
11
4,2
11
4,2
7
2,8
7
2,8
4
1,4
4
1,4
4
1,4
2
0,7
2
0,7
2
0,7
2
0,7
2
0,7
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, ao realizar a identificação das plantas
tóxicas presentes em domicílios do município de Barra
do Garças, observou-se que grande parte da população
amostral cultivava estas plantas, de modo que
apresentavam no mínimo duas plantas tóxicas em cada
residência visitada. Sendo que destas plantas destaca-se
a Dieffenbachia picta Schott (Comigo-ninguém-pode),
Rosa sp. (Rosa), Pteridium aquilinum L. (Samambaia),
Sanseveria trifasciata (Espada de São Jorge) e
Caladium bicolor Vent (Tinhorão). Também foi
verificado que a prática da automedicação com plantas,
indicações leigas e a falta de informação da população
são costumes que contribuem significativamente para
várias intoxicações relatadas pelos residentes.
Assim, diante da exposição diária a essas
plantas e do fato que a maioria dos entrevistados não
tem conhecimento dos sintomas de intoxicação, a
realização de campanhas educativas torna-se
importante para alertar a população quanto aos riscos
de sofrer uma intoxicação e evitar que ocorram
intoxicações por plantas em domicílios.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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