89 CULTIVO DE PLANTAS TÓXICAS E A OCORRÊNCIA DE INTOXICAÇÕES EM DOMICÍLIOS NO MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS Naiani Alves de Jesus1 Eliane Aparecida Suchara2 RESUMO: Objetivou-se com esse estudo identificar a presença e estimar a ocorrência de casos de intoxicação por plantas tóxicas, no município de Barra do Garças. Assim, foi realizado um estudo epidemiológico descritivo do tipo probabilístico por conglomerado no período de outubro de 2009 a setembro de 2010. As plantas que apresentaram maior incidência nas residências foram Dieffenbachia picta Schott (58,3%) e Rosa sp. (38,2%), sendo relatada a ocorrência de intoxicações por plantas em 19,4% dos domicílios. Conclui-se que o cultivo e hábito de automedicação com plantas, aliado a falta de conhecimento da população pode levar a ocorrência de quadros de intoxicação. Palavras-chave: Intoxicação. Plantas tóxicas. Residências. ABSTRACT: The objective of this study was to identify the presence and estimate the occurrence of cases of poisoning by toxic plants in the municipality of Barra do Garças. Was carried out a descriptive epidemiological study of probabilistic conglomerate in the period October 2009 to September 2010. Plants with higher incidence in the residences were Dieffenbachia picta Schott (58.3%) and Rosa sp. (38.2%), reported the occurrence of plant poisoning in 19.4% of households. We conclude that the cultivation and habit of self-medication with plants, coupled with lack of knowledge of the population can bring the frame of intoxication. Key-Words: Intoxication, Toxic plants, Domicile. 1 2 Farmacêutica, Formada na Universidade Federal de Mato Grosso Professora, Doutora da Universidade Federal de Mato Grosso – Campus do Araguaia: [email protected] 1. INTRODUÇÃO O interesse e o conhecimento a respeito da toxicidade das plantas datam de épocas remotas, e sua importância é percebida, ora como instrumento de caça, através de flechas envenenadas, ora como um recurso adverso intencional de envenenamento para fins políticos, militares e pessoais como os ocorridos na Idade Média (SCHVARTSMAN, 1992). Já no final do século XIX e início do século XX, muitas plantas tóxicas exerceram importante papel como fonte de substâncias ativas, capazes de propiciar modelos moleculares para o desenvolvimento de fármacos (SIMÕES et al., 2007). Assim, estamos constantemente em contato com plantas e estas possuem substâncias químicas, que podem atuar beneficamente sobre organismos ou agirem de forma prejudicial (RITTER et al., 2002). Assim, as plantas medicinais e tóxicas constituem um grupo especial de vegetais, dada à sua importância etnobotânica e educacional (SOUSA et al., 1991). O Brasil apresenta uma vasta diversidade de plantas em seu território. Atualmente possui mais de 55.000 espécies de plantas superiores catalogadas e dezenas de outras são incluídas na lista todos os anos (ANDRADE FILHO et al., 2013). Quanto às plantas tóxicas é observado atualmente no país 131 espécies e 79 gêneros (PESSOA et al., 2013). Cabe ressaltar que são consideradas plantas tóxicas aquelas que, pela inalação, ingestão ou contato podem causar efeitos Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X lesivos ou distúrbios no organismo de homens e animais (ANDRADE FILHO et al., 2013). Considerando a ampla utilização das plantas com fins medicinais, a falsa idéia de inocuidade dos fitofármacos, modismos ditados pela mídia levados ao extremo, não relacionamento de chás e afins a efeitos colaterais é observado o crescimento das complicações e os efeitos adversos resultante do mau uso (ANDRADE FILHO et al., 2013). Assim, as intoxicações estão presentes no cotidiano de cada indivíduo, e em virtude disso, inúmeros acidentes domésticos toxicológicos ocorrem devido á carência de conhecimento da população, principalmente ao se observar hábitos e costumes dos moradores. E a intoxicação pode ser caracterizada como uma manifestação através de sinais e sintomas, que ocorre no organismo vivo após a exposição a um determinado tipo de produto ou substância, levando ao aparecimento de alterações bioquímicas, funcionais e/ou sinais clínicos compatíveis com o quadro de intoxicação (PINILLOS et al., 2003). Diante do contexto apresentado, juntamente com a grande ocorrência de subnotificação quanto aos atendimentos realizados e além do fato que os dados disponíveis na literatura sobre intoxicação por plantas na região Centro-Oeste são escassos, em especial no estado de Mato Grosso, este trabalho teve como objetivo estudar a presença de plantas tóxicas e a ocorrência de intoxicações provocadas por estes Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 89 –95. 90 agentes em domicílios do município de Barra do Garças -MT. para melhor resultados. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a identificação e avaliação do risco de plantas potencialmente tóxicas foi realizado um estudo epidemiológico descritivo do tipo probabilístico por conglomerado no período de outubro/2009 a setembro/ 2010. A área em estudo corresponde ao município de Barra do Garças-MT. Como instrumento de coleta, foi utilizado um questionário que permite obter informações a respeito dos residentes, condição socioeconômica, grau de escolaridade, conhecimento sobre plantas que são tóxicas e também se já houve intoxicação por parte de algum morador. Como critério de inclusão na amostra, poderiam responder o questionário, os entrevistados com idade a partir de dezoito anos, residentes nos domicílios pesquisados na cidade de Barra do Garças – MT. De modo semelhante, foram excluídos da trama amostral, todos os residentes que não se encontravam em casa no momento da coleta, de modo que a presente entrevista era feita então na próxima residência. A amostragem foi realizada com base nos domicílios de Barra de Garças – MT, a qual conta no ano de 2013 com uma população estimada de 57.791 habitantes (IBGE, 2013). A amostra populacional calculada considerando à população no ano de 2010 foi de 250 domicílios. A cidade de Barra do Garças-MT apresenta um total de 78 bairros, dos quais são divididos em 5 regiões: Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro, segundo a Prefeitura de Barra do Garças. Então, realizou-se um sorteio separadamente para cada região, de modo a serem sorteados dois bairros em cada conglomerado para representar o município como um todo. Foi utilizada a técnica de amostragem probabilística por conglomerado, onde os domicílios visitados foram escolhidos obedecendo-se a intervalos regulares, calculados de modo a, após terminar a pesquisa em todos os bairros sorteados, ter atingido o número mínimo previsto de questionários. Com base nos cálculos de amostragem foram aplicados 250 questionários nas residências de todos os bairros urbanos sorteados, sendo aplicados 25 questionários por bairro; a coleta de dados foi feita por quadra, de maneira alternada (casa sim, casa não) de acordo com a disponibilidade do entrevistador. Durante a entrevista, para a identificação das plantas foi disponibilizado ao morador um catálogo com todas as plantas presentes na pesquisa, baseadas em uma revisão bibliográfica. Foram entrevistados 250 domicílios e obtidos os resultados quanto ao perfil da população entrevistada, assim constatou-se que a população amostral era formada por 75,2% do sexo feminino e 24,8% pertencente ao sexo masculino. Em relação ao grau de escolaridade da população entrevistada, relatase que 43,2% possuem apenas o ensino médio; 27,6% dos residentes cursaram o ensino fundamental; 27,6% possuíam nível superior e 1,6% dos entrevistados disseram não ter nenhum grau de instrução. Em relação à faixa etária, destaca-se que os adultos de 26 a 50 anos representaram 48% da amostra, seguido de 37,2% do grupo de pessoas acima de 50 anos, e 14,8% dos entrevistados correspondiam aos jovens de 18 a 25 anos. A renda familiar dos residentes constituiu-se da maioria entre 1 a 3 salários mínimos (34,4%), seguido por 1 salário mínimo (24,8%), 3 a 5 salários mínimos mensais (24%), e uma pequena parcela possuía renda acima de cinco salários mínimos (8%). Quanto à ocorrência das plantas tóxicas cultivadas no município de Barra do Garças-MT, observou-se que 58,4% dos domicílios cultivavam essas plantas, as quais se encontram listadas na Tabela 01. Não foram encontradas ou citadas em nenhum domicílio as plantas Aubaitinga Datura stramonium (Estramômio), Euphorbia milii L. (Coroa de Cristo), Oxalis sp. (Trevo), Cytisus Scoparius (Giesta), Ficus pumila (Hera) e a Manihot sp. (Mandioca Brava). Considerando o local da residência onde estas plantas consideradas tóxicas estavam localizadas, a maioria encontrava-se no quintal (41%), seguido por locais fora de casa (30,6%), varanda (22,2%), sala (3,5%), cozinha (1,4%) e outros lugares do domicílio (1,4%). Com relação a ocorrência de intoxicações por plantas ocorridas no município de Barra do GarçasMT, estas foram relatadas em 19,4% dos domicílios entrevistados. As plantas responsáveis pelas intoxicações foram a Dieffenbachia picta Schott (Comigo-ninguém-pode) e o Euphorbia tirucalli L. (Avelóz), sendo que em 89,3% dos casos as intoxicações foram acidentais. É interessante pontuar que dentre os intoxicados, as mulheres tiveram uma maior frequência (89,3%) e a faixa etária mais acometida foi a maior de 50 anos (46,4%), seguida de indivíduos entre 26 a 50 anos (25%), de modo que, a faixa etária de zero a onze anos aparece com uma frequência inferior de 21,4%. Os entrevistados citaram como sendo a parte da planta responsável pela intoxicação, a folha (82,1%); acompanhado do caule (17,9%). As vias de administração utilizadas para plantas com finalidade terapêutica (popular) foi a via oral (71,4%) e tópico (14,3%). Das reações apresentadas pelo intoxicado foram citadas alergia (67,9%); agitação (28,6%) e sonolência (3,6%). Houve A análise dos dados foi realizada através do programa estatístico Epi info versão 6.04. Para garantir a confiabilidade dos dados foram utilizados os seguintes parâmetros estatísticos: nível de significância de 95%; poder estatístico de 90% e risco relativo 1,6. Utilizou-se o Software Microsoft Office Excel 2007 Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X apresentação e interpretação dos Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 89 –95. 91 uma prevalência de intoxicações de grau leve (89,3%), seguida por grau ignorado (7,1%) e grau moderado (3,6%). Assim, a busca pelo tratamento ocorreu em 85,7% na própria residência, sendo que somente em 7,1% dos casos foi procurado serviço hospitalar e 7,2% dos indivíduos recorreram a outros meios. Foi observada a cura em 100% dos casos de intoxicações diagnosticados em residências, não sendo observadas sequelas. Ao relacionar a faixa etária dos entrevistados com o nível de informação que estes possuem sobre as plantas tóxicas, nota-se que a faixa etária acima de cinqüenta anos apresentava maior conhecimento sobre as plantas que oferecem perigo, pois 78,5% destes possuíam conhecimento sobre a toxicidade das plantas cultivadas (Figura 01). Foi observada uma faixa etária que varia significativamente com os conhecimentos a respeito da toxicidade das plantas, onde a análise estatística revelou variações extremamente significativas (p = 0,00000035). Com relação ao sexo e o conhecimento prévio recebido sobre as plantas observou-se que o sexo feminino (62,6%) apresentou um índice de frequência de conhecimento superior ao sexo masculino (37,4%). Figura 01. Faixa etária dos informantes versus conhecimento sobre a toxicidade das plantas cultivadas nas residências. Com relação ao grau de escolaridade e o conhecimento dos sintomas causados por plantas tóxicas, observa-se que há uma maior prevalência do grau de instrução referente ao ensino superior com 39%, seguido de 31,7% dos informantes com nível médio de ensino e 29,3% com ensino fundamental. Assim, este estudo também evidenciou ocorrer variação entre o grau de escolaridade e os sintomas conhecidos pela população amostral e demonstrou valor significativo quanto as variáveis indicadas p = 0,015 (p<0,05). Cerca de 43,1% dos entrevistados relataram já ter recebido informações sobre a toxicidade das plantas encontradas em sua residência, porém durante as entrevistas notou-se que os informantes pouco sabiam que as plantas por eles cultivadas, eram tóxicas. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X Quanto a finalidade e uso das plantas cultivadas, estas são utilizadas como decorativas (95,1%) e com finalidade terapêutica (4,9%). Sendo que, as espécies utilizadas para fins terapêuticos tiveram frequência de uso relatada como rara em 57,1%, cerca de duas a quatro vezes por semana por 28,6% e uma vez por semana por 14,3%. Foi observado ao longo do estudo uma grande desinformação da população amostral, referente ao uso de plantas medicinais com potencial altamente tóxico, pois o uso descriminado destas plantas, a facilidade de obtenção, e o despreparo de quem as utilizam induz a casos de intoxicação por plantas consideradas como medicinais. O presente estudo evidenciou uma maior frequência dos entrevistados do sexo feminino, na qual nota-se uma forte influência cultural da região pesquisada, principalmente ao se observar hábitos e costumes ao lidar com plantas que erroneamente afirmam não ocasionarem nenhum malefício. De acordo com ARNOUS, et al., no ano de 2005, descreve em seus estudos que a baixa porcentagem de entrevistados do sexo masculino nos domicílios é devido ao horário em que as entrevistas foram concedidas. Quanto ao grau de escolaridade da população pesquisada, esta é marcada pelo alto índice de entrevistados que apresenta apenas o ensino médio, fato este presenciado durante as entrevistas, onde os informantes não sabiam distinguir uma planta tóxica de outra não tóxica, pois não detinham conhecimento suficiente. Segundo FONTES, et al. no ano de 2007, apenas 10% dos entrevistados apresentam o ensino fundamental completo, 75% apresentam o ensino fundamental incompleto e os 15% restantes são analfabetos. Essa realidade é decorrente de que anos atrás, o trabalho começava muito cedo para as crianças, e por residirem em área rural, não apresentavam condições ou oportunidades de estudo. Em relação à faixa etária, os entrevistados de 26 a 50 anos obtiveram uma maior frequência, ou seja, esta faixa de idade representa os entrevistados que fizeram parte da pesquisa, de modo similar FUCK e colaboradores no ano de 2005, que comenta que todos os residentes de seu estudo apresentaram faixa etária acima de 40 anos. A renda familiar da população estudada se concentra com maior porcentagem entre 1 a 3 saláriosmínimos mensais, fato semelhante ao trabalho realizado por ARNOUS et al., (2005), que constatou em sua pesquisa realizada no município de Datas, Minas Gerais, onde pesquisava sobre o conhecimento popular e interesse por cultivo comunitário de plantas, que a economia de baixa renda prevalece entre a maioria dos entrevistados (72%). Pode-se caracterizar a posição social da população estudada do município de Barra do GarçasMT quanto aos salários mínimos, desta maneira a Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 89 –95. 92 amostra populacional se enquadra no perfil entre classe baixa e média baixa, segundo dados do IBGE . O amplo cultivo de plantas tóxicas nas residências visitadas (58,4%) pode ser justificado pelo fato de que no Brasil, por ser um país de miscigenação racial e, portanto cultural, é influenciado pela crendice, principalmente africana e indígena, sobre o poder mágico das ervas em chás, infusões, entre outros na cura de patologias (SANTOS et al., 1995. O local do domicílio em que as plantas são mais incidentes se torna outro fator que instiga as intoxicações ocorridas, pois dependendo do local, os envenenamentos podem ser mais frequentes, justamente pelo maior contato do indivíduo com o agente tóxico. Neste caso, os locais de maior frequência onde as plantas tóxicas foram encontradas como o quintal e fora da residência, pode-se pontuar que não são áreas de grande risco se comparados a varanda, sala, cozinha e outros, pois estas localidades possuem um maior acesso pelos moradores e por conseqüência podem gerar um maior índice de intoxicação. As intoxicações por plantas ocorridas na cidade de Barra do Garças-MT, correspondem a 19,4%. Sendo que, as plantas responsáveis pelas intoxicações foram a Dieffenbachia picta Schott (Comigo-ninguémpode) e Euphorbia tirucalli L. (Avelóz). Os casos de intoxicação por plantas no município foram baixos, de modo que, a falta de informação a respeito da toxicidade das plantas e o nível de instrução permeiam os episódios ocorridos. Explica-se a alta incidência da planta comigoninguém-pode nas residências visitadas, através de diversos estudos que mostram a grande influência cultural marcada pelo uso desta planta para proteção do lar e também do uso ritualístico de comigo-ninguémpode em banhos realizados por cerimônias religiosas como a umbanda (MACIEL e GUARIM-NETO, 2006). Por conseguinte, a significativa presença desta planta nas residências visitadas, aumenta o risco das intoxicações no município. A grande parte das intoxicações foi acidental (89,3%), possivelmente, o local onde as plantas estão e são manejadas influencia nos acidentes toxicológicos, além de que os moradores ao cultivar estas plantas não tomam as precauções devidas, aumentando os índices de se intoxicarem. O elevado índice de intoxicação do sexo feminino pode ser justificado pela maior procura por parte das mulheres por essas plantas, seja de maneira direta ou não. Com relação à faixa etária das pessoas que se intoxicaram, verifica-se que os entrevistados com mais de cinquenta anos obtiveram uma margem superior de intoxicação (46,4%). É relatado na literatura que várias circunstâncias podem levar a um quadro de intoxicação como, por exemplo, a incapacidade de distinguir uma planta comestível de outra tóxica, o uso e abuso com fins recreativos, indicações de uso por pessoas leigas, Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X medicamentos caseiros e automedicação. Essas práticas comuns são observadas no comportamento da população adulta brasileira, o que justifica a frequência de intoxicação destas plantas na faixa etária acima de cinquenta anos (OLIVEIRA, 2002; ANDRADE FILHO et al., 2013). Quanto à parte do vegetal que causou intoxicação, acredita-se que o grande percentual da folha nas intoxicações referidas, seja pelo fato de que estas estão mais em contato com a vítima, o que não é expresso pelo caule, raiz e outros. Em concordância, VASCONCELOS e colaboradores, no ano de 2009, descrevem em suas análises, que 54% dos entrevistados apontaram as folhas, seguidas de 11% dos frutos, 8% do caule, enquanto cascas e flores foram referidas em 9,3% das ocorrências. Em relação à via de administração, a oral (71,4%) foi a mais utilizada, o que provavelmente, a incidência desta via na terapia medicinal, seja referente aos modos de preparo das plantas, as quais utilizam-se de métodos comuns como a infusão. De modo semelhante FONTES, et al., no ano de 2007, relata que tradicionalmente a comunidade trata a maioria de suas enfermidades por via oral. Pode-se pontuar também que a baixa incidência de intoxicados que procuraram o hospital (7,1%), está vinculada a gravidade de intoxicação, pois a grande maioria foi vítima de intoxicações leves, as quais não foram causas de uma preocupação maior, sendo que a busca pelo tratamento ocorreu na grande maioria dos casos na própria residência (85,7%). SALERNO e colaboradores (2008), em seu estudo analisaram que a situação referente à prevenção de intoxicações exógenas e notou que contraditoriamente a maioria dos entrevistados recorreria à emergência de um hospital no caso de alguma intoxicação, seja ela grave ou moderada. Também, deve-se considerar que o processo alérgico decorrente da maioria das intoxicações foi apontado como reação mais frequente observada nesse estudo, e essa manifestação dificilmente leva a procura de atendimento hospitalar. Ao relacionar a faixa etária dos entrevistados com o nível de informação que estes possuem sobre as plantas, verifica-se que, a faixa de idade superior a cinquenta anos possuía maior conhecimento a respeito destas plantas, o que pode ser justificado pela maior experiência de vida que estas pessoas possuem, considerando também a transmissão de conhecimento feita de geração para geração. A respeito do sexo e as informações recebidas sobre as plantas observa-se que o sexo feminino (62,6%) apresentou um índice de frequência superior ao sexo masculino (37,4%). O fato de que o sexo feminino apresenta maior conhecimento sobre as plantas e também são as que mais se intoxicam, estão ligadas ao episódio em que as mulheres são mais vinculadas as plantas, seja ela medicinal ou tóxica, pois se observou que ao longo das entrevistas os Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 89 –95. 93 informantes cultivavam tais plantas por simples prazer e pela beleza que muitas oferecem. Quanto ao grau de escolaridade dos informantes em relação ao conhecimento dos sintomas causados por plantas tóxicas, obteve-se uma prevalência do ensino superior (39%), o qual se sobressaiu pela capacidade de instrução. Verifica-se que 43,1% dos entrevistados já receberam informação sobre a toxicidade das plantas encontradas em sua residência, porém durante as entrevistas notou-se que os informantes não sabiam que a planta era tóxica, pois não tinha conhecimento da planta pelo nome correto e a magnitude de toxicidade da planta era tratada como uma questão trivial. As plantas tóxicas resultantes deste estudo são utilizadas como decorativas (95,1%) e com finalidade terapêutica (4,9%), assim os resultados da pesquisa apontaram que das plantas usadas para fins terapêuticos a grande maioria dos entrevistados relataram fazer uso do vegetal raramente (57,1%). No entanto, foi observada ao longo do estudo uma grande desinformação da população amostral, referente ao uso de plantas medicinais com potencial altamente tóxico, pois o uso indiscriminado destas plantas, a facilidade de obtenção, e o despreparo de quem as utilizam induz a casos de intoxicação por plantas consideradas como medicinais. Tabela 01 - Frequência de plantas tóxicas encontradas nos domicílios do município de Barra do Garças-MT, no período de outubro/2009 a setembro/2010. Planta Freqüência Planta Frequência n % Dieffenbachia picta Schott (Comigo-ninguém-pode) Rosa sp. (Rosa) 146 58,3 96 38,2 Pteridium aquilinum L. (Samambaia) Sanseveria trifasciata (Espada de São Jorge) Caladium bicolor Vent (Tinhorão) 80 31,9 64 25,7 57 22,9 Zantedeschia aethiopica Spreng. (Copo-de-leite) Anthurium andraeanum (Antúrio) 40 16 40 16 Hydrangea macrophylla (Hortência) Monstera deliciosa L. (Banana de macaco) Holocalyx balansae Mich. (Alecrim) Jatropha curcas L. (Pinhão roxo) Colocasia antiquorum Schott (Taioba) 33 13,2 21 8,3 19 7,6 19 7,6 16 6,3 Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X Nerium oleander (Espirradeira) Euphorbia pulcherrima Willd. (Bico de papagaio) Thevetia peruviana (Chapéu de Napoleão) Euphorbia tirucalli L. (Avelóz) Ricinus communis L. (Mamona) Datura suaveolens L. (Saia branca) Bambusa vulgaris Schrad (Broto de bambu) Allamanda catahrtica (Alamanda) Rhododendron sp. (Azaléia) Cestrum nocturnum (Dama-da-noite) Datura metel (Saia roxa) Lithraea brasiliens March (Urtiga) n % 11 4,2 11 4,2 7 2,8 7 2,8 4 1,4 4 1,4 4 1,4 2 0,7 2 0,7 2 0,7 2 0,7 2 0,7 Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 89 –95. 94 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por fim, ao realizar a identificação das plantas tóxicas presentes em domicílios do município de Barra do Garças, observou-se que grande parte da população amostral cultivava estas plantas, de modo que apresentavam no mínimo duas plantas tóxicas em cada residência visitada. Sendo que destas plantas destaca-se a Dieffenbachia picta Schott (Comigo-ninguém-pode), Rosa sp. (Rosa), Pteridium aquilinum L. (Samambaia), Sanseveria trifasciata (Espada de São Jorge) e Caladium bicolor Vent (Tinhorão). Também foi verificado que a prática da automedicação com plantas, indicações leigas e a falta de informação da população são costumes que contribuem significativamente para várias intoxicações relatadas pelos residentes. Assim, diante da exposição diária a essas plantas e do fato que a maioria dos entrevistados não tem conhecimento dos sintomas de intoxicação, a realização de campanhas educativas torna-se importante para alertar a população quanto aos riscos de sofrer uma intoxicação e evitar que ocorram intoxicações por plantas em domicílios. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE FILHO, A.; CAMPOLINA, D.; DIAS, M. B. Toxicologia na prática clínica. 2° ed. Belo Horizonte: Editora Folium. 2013. 700p. ARNOUS, A.H.; SANTOS, A.S.; BEINNER, R.P.C. Plantas medicinais de uso caseiro-conhecimento popular e interesse por cultivo comunitário. Rev. Espaço para a Saúde, V. 6, n. 2, p. 1-6, 2005 FONTES, D.J.; COELHO, V.A.T.; GOMES, F.T. Uso de plantas medicinais pelos moradores da comunidade de conceição de Ibitipoca, MG. Rev. Brasileira de Biociências, V. 5, n. 1, p. 237-239, 2007. FUCK, S.B.; ATHANÁZIO, J.C.; LIMA, C.B.; MING, L.C. 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