PERFIL HEMATOLÓGICO DE PACIENTES COM VÍRUS

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PERFIL HEMATOLÓGICO DE PACIENTES COM VÍRUS DENGUE
ATENDIDOS EM LABORATÓRIO PRIVADO PARTICULAR DE MINAS
GERAIS ENTRE 2012 E 2013
Henrique Borges Kappel, Carlos Eduardo Reis, Guilherme Ferreira Oliveira
Laboratório Sabin de Análises Clínicas, Uberaba-MG
Introdução
Objetivo
A dengue é uma patologia infecciosa febril, presente em grande número em países
tropicais. Estima-se que 2,5 bilhões de pessoas estejam em áreas de risco e que há uma
incidência de 50 milhões de infectados a cada ano1. Em 2010, em uma das maiores
epidemias ocorridas no Brasil, o número de casos da doença no Estado de Minas
Gerais atingiu 214.552 casos e o município de Uberaba figurou como uma das cidades
com o maior número de casos notificados (2.640 casos)2.
Com isso avaliamos os parâmetros do hemograma em pacientes com dengue atendidos
em um laboratório privado de Uberaba (MG) entre 2012 e 2013 e de posse destes
dados, relacionamos a prevalência da doença a variáveis como idade, positividade do
Ns1 e sorologias IgM dos mesmos.
De maneira geral, a dengue é causada por vírus pertencentes ao gênero Flavivirus e
classificada como uma patologia infecciosa febril aguda apresentando quatro sorotipos
antigenicamente relacionados (sorotipos 1-4) 3. O primeiro surto de febre clássica pelo
sorotipo 1 foi registrado em 1981 no estado de Roraima, sendo este sorotipo
introduzido no Rio de Janeiro quatro anos mais tarde de modo que, a partir desse
momento, a doença tornou-se de visibilidade nacional, sendo verdadeiramente
reconhecida como problema de saúde pública. Em 1990, houve um importante surto
causado pelo sorotipo 2 novamente no município do Rio de Janeiro 4 e, em 2000, o
sorotipo 3 começou a circular concomitantemente aos demais sorotipos 5. O sorotipo 4
teve uma curta circulação em 1982 na região amazônica de forma restrita e, em 2008,
voltou a ser notificado em território nacional com três casos na cidade de Manaus 6.
A infecção pelo vírus cursa com um amplo espectro clínico, desde casos assintomáticos
e/ou febre indiferenciada à forma clássica da doença caracterizando-se por febre alta,
dor de cabeça, mialgia, artralgia, dor retro-orbitária e rash cutâneo. Em casos mais
graves, observam-se focos hemorrágicos da doença evidenciados pela prova do laço
positiva, petéquias e equimoses, e sangramentos ocasionais. Pode haver
extravasamento de plasma ocasionada pelo aumento da permeabilidade capilar,
aumento do hematócrito, derrame pleural, ascite e/ou hipoproteinemia 7.
Dentre os exames laboratoriais mais comuns, os parâmetros do hemograma
demonstram um importante aliado no diagnóstico e acompanhamento da evolução da
doença. Leucopenia, neutropenia com presença de linfócitos atípicos e plaquetopenia
com valores abaixo de 100.000 plaquetas/μL são comuns. Os testes bioquímicos
utilizados para o diagnóstico são: a detecção do antígeno NS1 e a sorologia IgM.
Média
Mínimo
Máximo
Material e métodos
Foram utilizados para o estudo, soro e plasma de 123 pacientes atendidos em um
laboratório privado de Uberaba, MG confirmados por uma e/ou outra metodologia
(NS1 e sorologia) além de avaliarmos os parâmetros no hemograma no período
compreendido entre 2012 e 2013. Os resultados foram agrupados e avaliados
estatisticamente pelo programa GraphPad Prism 5 e Bioestat 5.0 por meio de análises
descritivas e comparativas das alterações do hemograma, resultados das sorologias
e/ou NS1 (p<0,05) e variáveis como idade e sexo.
Resultados e discussão
Cento e vinte três pacientes reagentes pela sorologia (42) ou NS1 (81) foram
representados por 64 indivíduos do sexo masculino (52%) e 66 do sexo feminino (48%)
com idade variando de 1 a 80 anos sendo 39,2 anos a média. Não houve diferença
entre a prevalência de dengue entre os gêneros. A média de leucócitos totais e
plaquetas foram de 4.825/mm3 e 178.000/mm3 com mínimos e máximos variando de
1.600 a 12.200/mm3 e 80.000 a 286.000/mm3 respectivamente. O número médio de
bastonetes nas mulheres foi maior que em homens. O perfil hematológico de pacientes
com Ns1 mostrou maior leucopenia, neutrofilia com desvio à esquerda e linfopenia com
plaquetopenia em relação ao perfil sorológicos IgM. Autores tem mostrado alterações
semelhantes na série branca como leucopenia, linfopenia e plaquetopenia8, 9, 10.
Leucocitos (mm3) Bastonetes (%) Segmentados (%) Linfocitos (%) Monocitos (%) Plaquetas /mm3
4825
3.24
62.01
26.27
6.51
178000
1600
0
24
5
1
80000
12200
19
88
69
13
286000
6.5
6.6
Monocitos (%)
198000
Plaquetas /mm3
35.4
Linfocitos (%)
23.5
182000
*
52.9
Segmentados (%)
*65.2
IgM (42)
IgM (42)
Ns1 (81)
Ns1 (81)
5038
Leucocitos (mm3)
2
3.6
Bastonetes (%)
0
10
4497
*
*
20
30
40
50
60
70
0
50000
100000
150000
200000
250000
Tabela e figura 1. Estatística descritiva dos parâmetros hematológicos dos 123 pacientes avaliados com dengue
no período 2012/2013 mostrando número médio, mínimo e máximo de leucócitos, bastonetes, linfócitos,
monócitos e plaquetas. Nas figuras, podemos observar em valores médios, um quadro do hemograma
caracterizado por leve leucopenia, plaquetopenia, desvio à esquerda com neutrofilia e linfopenia. Esse quadro
hematológico mostra-se mais intenso (p<0.05) quando comparados os hemogramas de pacientes com dengue
diagnosticadas por Ns1 (fase inicial da doença) aos diagnosticados por sorologia (IgM reagente, após 7 dias do
início dos sintomas). *p<0.05
Conclusão
Alguns exames servem como suporte ao diagnóstico em situações difíceis de realização da sorologia ou Ns1, como nos casos de epidemias e
em caso de falta de kits. Neste sentido, o hemograma e seus parâmetros constituem-se com alto valor, principalmente na fase inicial onde a
leucometria e plaquetas mostraram-se com alterações mais acentuadas durante o curso da doença.
Referências
1) Guzman MG, Kouri G. Dengue: an update. Lancet Infect Dis 2: 33-42, 2002.
2) Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Boletim Epidemiológico nº14. Disponível em: http://200.198.43.10:8080/ses/publicacoes/estatistica-e-informacao-emsaude/alertas-tecnicos/boletim-epidemiologico-dengue.
3) Fonseca BAL, Figueiredo LTM. Dengue. In: Tratado de Infectologia, Veronesi R, Focaccia R (ed). Atheneu. São Paulo, 2006
4) Figueredo LTM. Febres hemorrágicas por vírus no Brasil. Rev Soc Bras Med Trop 39: 203-210, 2006.
5) Nogueira RM, de Araujo JM, Shatzmayer HG. Dengue viruses in Brazil 1986-2006. Rev Panam Salud Publica 22: 358-363, 2007.
6) de Melo FL, Romano CM, Zanotto PMdA. Introduction of Dengue Virus 4 (DENV-4) Genotype I into Brazil from Asia? PLoS Negl Trop Dis 3: e390, 2009.
7) Ministério da Saúde. Dengue: diagnóstico e manejo clínico adulto e criança. 4ªed. Brasília, 2011.
8) Oliveira ECL, Pontes ERJC, Cunha RV, Fróes IB, Nascimento D. Alterações hematológicas em pacientes com dengue. Rev Soc Bras Med Trop 42: 682-685, 2009.
9) Wichmann O, Stark K, Shu PY, Niedrig M, Frank C, Huang JH, Jelinek T. Clinical features and pitfalls in the laboratory diagnosis of dengue in travelers. BMC Infect Dis 6: 120129, 2006.
10) Wilder-Smith A, Earnest A, Paton NI. Use of simple laboratory features to distinguish the early stage of severe acute respiratory syndrome from dengue fever. Clin Infect Dis 39:
1818-1823, 2004.
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