~ VIOLÊNCIA E CONFLITO NA FORMAÇÃO DO ESTADO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE HOBBES E GIRARD Jairo Rivaldo da Silva1 RESUMO: A questão sobre o que deu origem ao Estado faz parte de uma discussão que envolve a filosofia política e a antropologia. Essas duas disciplinas buscam, cada qual ao seu próprio modo, respostas sobre o que realmente teria dado origem ao Estado. O objetivo do presente artigo é demonstrar como o filósofo inglês do século XVII, Thomas Hobbes, e o antropólogo francês do século XX, René Girard, responderam a essa questão. Analisaremos as principais obras desses pensadores a fim de entender como se deu a formação do Estado e que papel a violência desempenhou no seu surgimento. Inicialmente, resumiremos a filosofia política de Thomas Hobbes, sua abordagem sobre a natureza humana e sua tese sobre a origem do Estado. Em seguida, exporemos o pensamento do antropólogo René Girard, sua teoria sobre as causas da violência nas sociedades pré-estatais e sua análise genealógica das instituições culturais a partir dos ritos sacrificiais. Finalmente, reuniremos os aspectos convergentes e divergentes do pensamento de Hobbes e Girard demonstrando, que apesar de separados pelo tempo e pela cultura, os dois autores se aproximam no que diz respeito a identificar a causa da origem do Estado. Palavras-Chave: Estado, Violência, Conflito, Política, Teoria Mimética. ABSTRACT: The question of what gave rise to the state is part of a discussion involving political philosophy and anthropology. These two disciplines seek, each in his own way, answers on what really gave rise to the state. The aim of this article is to demonstrate how the English seventeenth-century philosopher, Thomas Hobbes, and the French anthropologist of the twentieth century, René Girard, answered this question. We will analyze the major works of these thinkers to understand how was the formation of the state and what role violence has played in its emergence. At first, we summarize the political philosophy of Thomas Hobbes, his approach to human nature and his thesis on the State of origin. Then expose the thought of the 1 Graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (FAFICA). Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Email: [email protected] 25 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 anthropologist René Girard, his theory about the causes of violence in pre-state societies and their genealogical analysis of cultural institutions from the sacrificial rites. At last, we gather the convergent and divergent aspects of the thought of Hobbes and Girard demonstrating that though separated by time and culture, the two authors approach with regard to identifying the cause of the State of origin. Keywords: State, Violence, Conflict, Politics, Mimetic Theory. INTRODUÇÃO Ao observar o Estado atual com todos os seus mecanismos repressores, seu funcionamento organizacional e sua hierarquia, não nos damos conta de que nem sempre foi assim. Não paramos para nos perguntar como viviam os seres humanos antes da criação do Estado. Nem sobre o que teria, efetivamente, dado origem ao Estado e as nossas instituições culturais. O presente artigo busca essas respostas no pensamento do filósofo inglês do século XVII Thomas Hobbes, e do antropólogo francês do século XX, René Girard. De forma especifica, analisaremos, a partir das principais obras desses pensadores, como se deu a formação do Estado e que papel a violência desempenhou no seu surgimento. Veremos como esses dois pensadores, cada qual em seu próprio campo e a seu próprio modo, respondem a esse questionamento. Em um primeiro momento, resumiremos a filosofia política de Thomas Hobbes, sua abordagem sobre a natureza humana e sua tese sobre a origem do Estado. Em um segundo momento, esboçaremos o pensamento do antropólogo René Girard, sua teoria sobre as causas da violência nas sociedades pré-estatais e sua análise genealógica das instituições culturais a partir dos ritos sacrificiais. Por fim, reuniremos os aspectos convergentes e divergentes do pensamento de Hobbes e Girard demonstrando que há uma relação de imbricação no pensamento desses dois autores no que diz respeito à origem do Estado. 26 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 O PAPEL DA VIOLÊNCIA NA FORMAÇÃO DO ESTADO NA FILOSOFIA POLÍTICA DE THOMAS HOBBES Hobbes é conhecido popularmente pela frase “o homem é o lobo do homem”. No entanto, a origem dessa máxima encontra-se na obra Asinaria do comediante romano Plauto. O filósofo de Malmesbury faz uso dessa expressão ao seu próprio modo quando escreveu a dedicatória da sua obra De Cive ao conde William de Devonshire. Ali, Hobbes afirma que “para ser imparcial, ambos os ditos são certos – que o homem é um deus para o homem, e que o homem é lobo do homem”. (HOBBES, 2002: 3). Também estamos acostumados com o Hobbes contratualista, com o precursor das ideias liberais, com o geômetra influenciado por Galileu ou com o empirista influenciado por Francis Bacon. No entanto, há uma face inexplorada de Hobbes que gostaríamos de realçar, me refiro ao que poderíamos chamar, de acordo com a terminologia nietzschiana, de genealogista. Isso não significa que desconsideramos os aspectos do pensamento de Hobbes acima mencionados; antes, significa que em Hobbes somos colocados diante da questão da formação mesma do Estado, bem como do processo civilizatório humano. Embora existam controvérsias quanto às causas da violência e da guerra na filosofia de Hobbes2, concordamos com Skinner (2010: 56-57) quando afirma que, “o paradoxo desesperado no qual se funda a teoria política de Hobbes é que o maior inimigo da natureza humana é a própria natureza humana”. Desde a composição dos Elements (1640), onde o filósofo britânico esboça, nos seus primeiros treze capítulos, a sua tentativa inicial de explicar a natureza humana, passando pela obra De Cive publicada um ano depois, até finalmente chegarmos ao esboço final da sua filosofia política no Leviathan (1651), Hobbes 2 De acordo com Abizadeh, as três posições tradicionais sobre as causas da guerra na filosofia de Hobbes são 1) a de que a guerra é o resultado inevitável do estado de natureza onde os seres humanos competem por recursos escassos 2) a de que mesmo que existam indivíduos puramente benignos, sem um soberano para protegê-los, o medo da morte violenta os fará se anteciparem à violência dos outros 3) a de que a guerra é causada pela maldade natural dos seres humanos. ABIZADEH, Arash. (2011). Hobbes on the Causes of War: A Disagreement Theory. In. American Political Science Review. Vol. 105, N. 2, p. 299. 27 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 sustenta a ideia de que o ser humano é violento, egoísta e vaidoso. E devido ao fato de que todos os homens são iguais, existe um conflito inevitável, ou na linguagem hobbesiana, uma “guerra de todos contra todos”. Hobbes está disposto a sustentar, assim como Pierre Clastres depois dele, que “as sociedades primitivas são sociedades violentas, seu ser social é um ser-para-a-guerra”. (CLASTRES, 2004: 160). É bem verdade que não devemos descontextualizar a ideia hobbesiana de uma guerra de todos contra todos. Como observa Magalhães, “a condição natural ou estado de guerra não é uma frase que se lê literalmente. Trata-se de uma ‘hipótese da razão’, uma construção lógica, para exprimir uma situação em que os homens viveriam se não houvesse um senhor comum para subjugá-los”. (2014: 51). Além disso, Hobbes estava diante da guerra civil inglesa que certamente teve algum impacto sobre o seu pensamento. Como observa Ribeiro, “seu pensamento brota de um convívio cotidiano com a anarquia”. (2003: 111). Entretanto, como pontua Clastres, “o próprio Hobbes acredita poder ilustrar o fundamento de sua dedução com a referência explícita a uma realidade concreta: a condição natural do homem não é apenas a construção abstrata de um filósofo, mas sim a sorte efetiva, observável, de uma humanidade recentemente descoberta”. (CLASTRES, 2004: 161). Clastres se refere aqui às recentes descobertas dos selvagens no continente americano, o que teria levado Hobbes a pensar na condição natural dos seres humanos antes do advento do Estado. Mas como também lembra Magalhães, “para ele, a guerra de todos contra todos é fruto da própria natureza humana que persegue os indivíduos desde a mais remota antiguidade”. (2014: 40). Isso significa que em Hobbes a condição natural ou estado de guerra tem uma dupla natureza: hipotética e histórica. De acordo com Brandão, o estado de guerra (2006: 35) “é histórico no sentido de que a guerra de todos contra todos teria realmente existido em determinados locais ou em determinadas circunstancias”, e é hipotético por representar uma circunstancia em que os homens viveriam sem um Estado. No De Corpore Politico, também chamado Elements of Law, Hobbes denomina de “paixões naturais” (natural passion) a tendência que os homens possuem de provocar os outros, além de sempre sustentarem um alto conceito de si 28 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 mesmos (Vanity), e de frequentemente se compararem uns aos outros. (HOBBES, 1969: 82). São essas paixões, inerentes a todo homem, que na ausência de uma poder coercitivo se transformariam numa força violenta incontrolável capaz de subverter todo gênero humano. De acordo com Leo Strauss, é assim porque “o homem é um animal como todos os outros”. (STRAUSS, 1952: 8). No processo de desnudar a natureza humana, Hobbes (consciente ou inconscientemente) nos ajuda a entender como vivíamos antes do advento das nossas instituições culturais. O estado de guerra, apesar de hipotético, é um exercício antropológico baseado nas observações que o filósofo fez dos povos selvagens que o cercavam, mas que levado a cabo através de um processo genealógico, nos levará logicamente aos primórdios do gênero humano. No De Corpore Hobbes aponta nessa direção quando afirma: The state of hostility and war being such, as thereby nature itself is destroyed, and men kill one another, (as we know that it is, both by the experience of savage nations that live at this day, and by the histories of our ancestors the old inhabitants of Germany, and other now civil countries, where we find the people few, and short lived, and whitout the ornaments and comforts of life, which by peace and society are usually invented and procured) he therefore that desireth to live in such an estate as is the estate of liberty and right of all to all, contradicteth himself. For every man by natural necessity desireth his own good, to which this estate is contrary, wherein we suppose contention between men by natural equal, and able to destroyer one another (HOBBES, 1969: 85). No De Cive, Hobbes associa a violência natural dos homens que vivem sem um Estado com o fato de desejarem sempre o mesmo objeto numa sociedade com recursos escassos: A razão mais frequente porque os homens desejam ferir-se uns aos outros, vem do fato de que muitos ao mesmo tempo, têm um apetite pela mesma coisa; que, contudo, com muita frequência eles não podem nem desfrutar em comum, nem dividir; do que se segue que o mais forte há de tê-la, e necessariamente se decide pela espada quem é o mais forte. (HOBBES, 2002: 30). No capítulo XIII do Leviatã, a igualdade, bem como a escassez de recursos são a causa da discórdia e dos conflitos entre os seres humanos: 29 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 Desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos os nossos fins. Portanto, se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos. E no caminho para o seu fim (que é principalmente a sua própria conservação, e às vezes apenas o seu deleite) esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro. (HOBBES, 2003: 107). Diante do quadro pintado por Hobbes de luta, violência e caos, surge a questão: como escapar desse estado caótico? Ou, como escapamos primitivamente desse estado de guerra? HOBBES E A INVENÇÃO DO ESTADO Quando Hobbes escreve apontando a criação do Estado como uma solução para controlar as paixões e pulsões animalescas dos homens, ele o faz tendo em vista a sua situação imediata. Como é sabido, Hobbes era um defensor entusiasta da causa realista na guerra civil inglesa entre o rei Carlos I e o Parlamento. Isso significa que a sua defesa de um Estado forte e centralizado na figura do monarca visava, a priori, abafar as sedições e controlar os ânimos dos ingleses. Para Hobbes, o Estado é, tanto artifício razão, quanto necessidade coletiva, não necessariamente derivada da razão, mas também decorrente das paixões. É assim, segundo Hobbes, que surge o Estado, através do que ele chama de pacto ou contrato (Covenant). Para isso, é necessário, como ele expõe no Leviatã, que os homens transfiram os direitos naturais que possuem – com exceção do direito de autodefesa – para um soberano ou assembleia que os represente. De acordo com ele, essa instituição é A causa final, finalidade e desígnio dos homens (que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre outros), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver em repúblicas, é a precaução com a sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera condição de guerra, que é a consequência necessária (conforme se mostrou) das paixões naturais dos homens, quando não há um poder visível capaz de os manter em respeito e os forçar, por medo do castigo, ao cumprimento dos seus pactos e à observância das leis de natureza (...). (HOBBES, 2003: 143). 30 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 Assim, para Hobbes, apenas a criação do Estado seria capaz de manter a paz entre os homens. De outra sorte se destruiriam no estado de guerra. Isso não significa que o Estado hobbesiano seria pacifista e promotor racional da paz; antes, isso indica que aquelas potencialidades violentas que são inerentes ao animal humano, são agora transferidas para uma instância superior que possui plena legitimidade para aplicar circunstancialmente essa mesma violência contra quem violar o contrato. Além disso, as guerras que no estado de natureza eram inadmissíveis (pois levariam a espécie à extinção) são agora, com a instituição do Estado, perfeitamente legítimas, bastando apenas à justificação do bem comum. Segundo Hobbes, “pertence à soberania o direito de fazer a guerra e a paz com outras nações e Estados. Quer dizer, o de decidir quando ela, a guerra, corresponde ao bem comum (...)”. (HOBBES, 1997: 149). Isso significa que em Hobbes a violência desempenha um duplo papel: ela produz as condições para que o contrato seja firmado, consequentemente, ela gera indiretamente o Estado e a civilização, e ela também é um recurso legítimo do Estado então constituído. A VIOLÊNCIA NA ANTROPOLOGIA DE RENÉ GIRARD “O Darwin das ciências humanas”. (SERRES Apud GIRARD; ANTONELLO; ROCHA, 2011: 33). Assim se refere Michel Serres ao antropólogo francês René Girard (1923-2015), cuja teoria tem a pretensão de explicar o surgimento da cultura e todas as instituições através do que ele denominou de “desejo mimético” e do mecanismo do “bode expiatório”. As raízes do pensamento girardiano encontram-se, sobretudo, na sua primeira publicação, Mentira Romântica e Verdade Romanesca (1961), onde Girard faz uma análise de boa parte da literatura ocidental, desde Dom Quixote até Proust, e consegue detectar nas tramas que envolvem os personagens da literatura mundial o mecanismo mimético. Mas foi somente 11 anos depois com a publicação de A Violência e o Sagrado (1972) que as ideias de Girard ganharam repercussão no 31 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 mundo acadêmico, especialmente na antropologia. Em 1978, com a publicação de Coisas Ocultas desde a Fundação do Mundo, Girard tem a oportunidade de apresentar a sua teoria de forma sistematizada. Nos últimos anos tem havido um crescente interesse por parte de estudiosos de diversas áreas na teoria mimética girardiana. Mas qual é o papel da violência na teoria girardiana? Em a Violência e o Sagrado, o antropólogo demonstra através de uma análise dos ritos sacrificiais, tanto de seres humanos quanto de animais, que a violência atuou como uma espécie de cimento que uniu as sociedades primitivas. No entanto, antes de explicarmos como a violência teve essa função socializadora e até mesmo humanizadora, é necessário entendermos o que, de acordo com Girard, desencadeia essa violência nas sociedades primitivas. A originalidade da teoria girardiana está em descobrir a natureza mimética do desejo. De acordo com Girard, é o desejo mimético o grande responsável pelo desencadeamento da violência generalizada que caracterizou e que ainda, de certo modo, caracteriza a sociedade. De acordo com o paradigma em vigência desde a modernidade, existe uma relação direta entre o sujeito desejante e o objeto desejado, mas na teoria girardiana o desejo não se dirige diretamente ao objeto desejado; antes, ele deseja sempre a partir de um mediador, a partir de um modelo. Segundo Girard, O mundo moderno é ultraindividualista, quer que o desejo seja estritamente individualizado, único. Em outras palavras, meu apego ao objeto do desejo é de certo modo predeterminado. Se o desejo é só meu, eu sempre desejo as mesmas coisas. E se o desejo é fixo, não há mais diferença entre instinto e desejo. A mobilidade do desejo em contraste com a fixidez dos apetites ou instintos ou do ambiente social, decorre da imitação. Aí reside a grande diferença: todos temos sempre um modelo que imitamos. Só o desejo mimético pode ser livre, ser de fato desejo, pois tem de escolher um modelo. (GIRARD; ANTONELLO; ROCHA, 2011: 81). É justamente pela utilização de um modelo imitativo que na teoria girardiana é instaurado o conflito e a violência. Entretanto, o conflito não se instaura imediatamente. Isso acontece devido à natureza dos modelos que escolhemos como mediadores dos nossos desejos. Segundo Girard, os modelos podem ser de duas 32 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 naturezas, consequentemente, de duas naturezas serão as relações miméticas. Em primeiro lugar, existe a mimese de mediação externa. De acordo com a teoria de Girard, isso acontece quando o meu modelo não está no mesmo domínio em que estou. Por exemplo, podemos ter como modelo algum herói do passado ou que esteja muito distante de nós. De acordo com Girard, um conflito direto entre sujeito e modelo nessa relação está fora de questão, pois seria impossível que houvesse um encontro entre sujeito e modelo, daí a sua natureza externa. Em segundo lugar, existe a mimese de mediação interna. É justamente aqui onde residem as raízes da violência mimética. Ao pertencerem ao mesmo domínio contextual, bem como pelo fato de estarem expostos à proximidade física e psicológica, o sujeito através do seu modelo, deseja o mesmo objeto daquele, daí resulta uma rivalidade sempre crescente, que mimeticamente imitada por todos os membros do grupo resultaria numa guerra generalizada. De acordo com Girard: Desse modo, os rivais se tornam cada vez mais indiferenciados, cada vez mais idênticos: duplos. Uma crise mimética sempre é uma crise de indiferenciação que irrompe quando os papéis de sujeito e modelo se reduzem ao de rivais. É o desaparecimento do objeto que possibilita isso. Essa crise não cresce só entre os oponentes; ela contagia os expectadores. (Ibid., 2011: 81). A violência na teoria girardiana é algo que se confunde com o processo de hominização dos primeiros hominídeos. Segundo Girard, ela é o solo onde se deu o processo civilizatório humano. Todavia, longe de fixar com exatidão em que momento o bicho homem passa do seu estado pré-humano para o que conhecemos como homo sapiens, Girard encontra nas instituições religiosas primitivas o uso da violência como arma (racional ou instintiva) contra a própria violência que ameaçava a sua sobrevivência. No estado de natureza girardiano os processos violentos se iniciavam de forma imitativa, de maneira que devemos perguntar: como sobrevivemos a esse processo de constante indiferenciação, rivalidade e violência? Qual foi a solução dos primeiros hominídeos para o problema da violência mimética? 33 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 O BODE EXPIATÓRIO E A ORIGEM DA CIVILIZAÇÃO A resposta girardiana às questões colocadas acima pode ser resumida no que Girard denominou de “mecanismo do bode expiatório”. Isso significa dizer que a crise mimética instaurada nas sociedades primitivas era, de tempos em tempos, resolvida através de um sacrifício (seja ele humano ou animal). Como observa Giacoia, René Girard ressalta o papel seminal da violência ritualizada no sacrifício propiciatório como o assassinato fundador da sociedade e elemento fundamental de conservação e fortalecimento de vínculos comunitários. A vítima emissária, o sacrifício sangrento do bode expiatório, sustenta Girard, é o rito (ato) sagrado de que a sociedade carece para desviar para controlar e neutralizar a sempre presente (mesmo que em estado de latência) agressão intragrupal; uma violência intestina sempre à espreita, que, em razão de seu explosivo potencial de reprodução mimética, pode irromper e multiplicar tendências hostis, gerando as crises que ameaçam dissolver uma comunidade na guerra de todos contra todos. (GIACOIA JR., 2013: 39). Assim, para o antropólogo francês, sem uma vítima propiciatória sacrificada nos rituais de grande parte das religiões primitivas, a autodestruição das sociedades seria inevitável. A causa dessa instituição não pode ser o que conhecemos como racionalidade. De acordo com Vinolo (2012: 78), “Girard não postula nenhuma racionalidade nessa hominização, os hominídeos não se põem de acordo para se tornarem homens. Ela se origina unicamente do medo de morrer pela violência intestina, medo de ver o grupo aniquilado por rivalidades miméticas”. A paixão do medo juntamente com a instituição do sagrado são, segundo Girard, os verdadeiros responsáveis pelo processo civilizatório. Pressionados pelo medo, todas as comunidade humanas se comportam da mesma maneira. Elas tentam reproduzir o milagre que as salvou, imolando uma nova vítima em vez da primeira, na esperança que a mesma causa produza os mesmos efeitos. E é exatamente o que acontece em todos os lugares onde as comunidades humanas sobrevivem e prosperam. O poder de pacificação enfraquece aos poucos, mas durante um certo tempo, cada vez que se imola uma vítima substituta, de acordo com o modelo inicial, a violência se apazigua. A primeira iniciativa cultural da humanidade é a imitação do assassinato fundador, que é uma coisa só junto com a invenção do sacrifício ritual. (GIRARD, 2011: 64). 34 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 Em A Violência e o Sagrado, ao escrever sobre o que podemos chamar de sublimação da violência mimética, Girard afirma que “o sacrifício oferece ao apetite da violência, o que a vontade ascética não consegue saciar, um alívio sem dúvida momentâneo, mas indefinidamente renovável, cuja eficácia é tão sobejamente reconhecida que não podemos deixar de levá-la em conta” (GIRARD, 1990: 32). Isso nos leva a entender que a violência tem, ela mesma, um caráter sagrado na teoria girardiana, na medida em que ela é capaz de produzir a paz social. Por essa razão, Girard declara que “o sacrifício não é apenas uma violência a mais, uma violência acrescentada a outras violências, mas é a última violência, é a última palavra da violência”. (GIRARD, 2008: 46). No sacrifício coletivo, não somente são sublimadas as violências individuais capazes de extinguir a espécie, mas de acordo com Girard, é no sacrifício e na sua repetição ritual que podemos desvelar a origem das nossas instituições culturais. De acordo com Meruje e Rosa (2013: 153). Girard apresenta o sacrifício como a primeira instituição humana que permite justificar a existência em sociedade. Ou seja, o sacrifício ritual constitui o vínculo ou essa arcaica «cola» que permite passar do «eu» ao «nós». Assim, o ritual é para Girard a origem de todas as outras instituições sociais e, por isso, é a primeira instituição humana. Em que consiste então o sacrifício? O sacrifício consiste em descarregar sobre uma vítima (o bode expiatório) todas as tensões existentes na sociedade as quais ameaçam romper a ordem que a mantém. O sacrifício é o regulador da homeostase do corpo social. Por outras palavras, o sacrifício permite expulsar do meio social toda a forma de violência que ameaça a sociedade. Essa violência resulta muitas vezes de dissídios que se acumulam entre os membros da sociedade, pois tais tensões surgem da incapacidade dos homens conseguirem conciliar os seus desejos, desenvolvendo uma rivalidade mimética (...). A origem das instituições pode ser exemplificada na sublimação da violência e na sua constante encenação produzida pelo teatro grego primitivo, especificamente através das tragédias. Na origem dessa instituição grega subjaz, já etimologicamente, a presença do sacrifício. Como observa Jaeger, “como diz o seu nome, a tragédia nasceu das festas dionisíacas dos coros de bodes”. (JAEGER, 1994: 296). Isso porque o termo tragédia, do grego τραγῳδία (τράγος = bode e ᾠδή 35 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 = canto) significa literalmente “canto dos bodes”. Não somente o sacrifício do bode, encenado periodicamente no início, durante ou depois do espetáculo teatral, mas também através dos mitos gregos, pode ser constatada a plausibilidade da teoria girardiana da função reconciliadora dos sacrifícios e da gênese das nossas instituições domesticadoras. O mito de Édipo é, segundo Girard, um exemplo de bode expiatório que reconcilia a sociedade após ser expulso de Tebas. Como é sabido, após todos os acontecimentos fatídicos narrados na tragédia, Édipo se torna rei, mas uma peste acomete a cidade, uma verdadeira crise social que ameaça extinguir a população de Tebas, nesse momento (assim como instintivamente se fazia desde tempos imemoriais) procura-se um culpado, e a culpa pela crise recai sobre Édipo. Além das tragédias e mitos gregos, o mecanismo do bode expiatório está presente também no imaginário religioso-cultural dos povos semíticos. Nas escrituras judaicas do antigo testamento, a figura do bode emissário (Levítico, capítulo 16), bem como a presença de infinitos sacrifícios com função reconciliadora estão no centro da vida social do povo judeu. Em O Sacrifício, onde Girard faz uma acurada análise dos sacrifícios a partir dos textos indianos védicos e pós-védicos, há a constatação de que nos textos religiosos e, portanto, culturais, mais antigos da humanidade, a presença dos sacrifícios com uma função reconciliadora era uma realidade. Segundo Girard, “a confiança que os Brâmanas têm no sacrifício é total”. (GIRARD, 2011: 61). Isso significa que “a sobrevivência de todas as comunidades seria constantemente ameaçada se não houvesse a intervenção do sacrifício, às vezes, do seu próprio chefe, para colocar fim nisso”. (Ibid.). O fato de não existirem povos cuja origem cultural não seja eminentemente religiosa, faz com que Girard considere o mecanismo do bode expiatório um fenômeno universal. Segundo ele “A cultura humana é religiosa fundamental e originariamente mais do que secundária e acessoriamente”. (Ibid.). Isso é um fato, de acordo com Girard, mesmo para as nossas sociedades supostamente secularizadas e racionalistas. As instituições racionais da sociedade moderna – Estado, leis, trabalho, educação, economia, etc. ― tornam presente o processo sacrificial através de uma dissimulação da violência que o re-vela, i.e., o mostra e 36 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 simultaneamente o esconde. O sacrifício deixa de ter a sua forma primordial, pura, e torna-se numa justiça legítima que é manifestado por outras suas instituições obedienciais: por exemplo, penais, prisionais, escolares, hospitais psiquiátricos, sanatórios, etc. (MERUJE; ROSA, 2013: 158). Assim, embora os ritos sacrificiais não estejam mais aparentemente presentes no seio das sociedades que eles mesmos originaram, a violência sublimada e transferida para as nossas instituições legais são a prova cabal de que somos incapazes (apesar de toda a nossa racionalidade) de extinguir a potência telúrica da violência, tendo em vista que foi, de acordo com Girard, ela mesma a responsável por essas instituições. HOBBES E GIRARD: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS O que há em comum entre o filósofo britânico do século XVII e o antropólogo francês do século XX? Mas não somente isso, ao propor uma análise comparativa, não significa que apenas esboçaremos as convergências existentes entre os dois pensadores; também demonstraremos as suas divergências. Como vimos, no cerne da teoria hobbesiana sobre a origem do Estado subjaz a ideia de um conflito radical. É particularmente o aspecto violento de sua teoria, que a nosso ver, tem uma relação de imbricação com o pensamento do antropólogo francês. Se em Hobbes temos uma tentativa de suprimir ou até mesmo domesticar a violência e os conflitos (especialmente a guerra civil inglesa) através da criação do Estado absolutista. Em Girard, temos uma possível explicação das causas geradoras da violência através da teoria do desejo mimético, bem como da potencia geradora da violência, exemplificada nos atos sacrificiais que deram origem as instituições culturais, entre elas, o Estado. Em De Cive, o filósofo inglês afirma que o desejo de ferir o outro advém justamente da nossa condição natural de igualdade e de proximidade. Hobbes destaca ainda que “não há guerras que sejam travadas com tanta ferocidade quanto as que opõem seitas da mesma religião, e facções da mesma república” (HOBBES, 37 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 2002: 30). Perspectiva semelhante pode ser encontrada na antropologia de René Girard. Segundo o antropólogo francês: A guerra primitiva desenrola-se segundo toda a evidência entre grupos bem vizinhos, ou seja, entre homens que não se distinguem por nada de objetivo no plano da raça, da linguagem, dos hábitos culturais. Entre o “fora” inimigo e o “dentro” amigo, não há diferença real (...). (GIRARD, 2008: 110). É importante notar, porém, que na antropologia de Girard o que desencadeia, em última instancia a violência e o conflito não é tão somente a igualdade de condições, mas sim, o desejo mimético. Esse desejo é despertado nos indivíduos não como na teoria de Hobbes, onde os sujeitos entram em luta por desejarem sempre o mesmo objeto; antes, de acordo com Girard, o desejo é despertado sempre pelo desejo do outro, pelo desejo do modelo ou mediador. De modo, que a natureza imitativa do desejo nos leva, consequentemente, ao conflito e à violência. Apesar dessa divergência, existe, efetivamente, uma proximidade na teoria de Girard com o pensamento de Hobbes exposto, especialmente, no Leviatã. Como já havia percebido Stéphane Vinolo: Com relação à condição do homem natural ou dos hominídeos, Girard é aqui bastante próximo das concepções de Thomas Hobbes no Leviatã. A especificidade humana vem do fato de que, ao contrário do animal, cada homem é bastante potente, pelo desenvolvimento da técnica e da estratégia, para matar qualquer outro homem, e isso funda uma igualdade natural essencial entre os homens (VINOLO, 2012: 80). A convergência entre a percepção hobbesiana e a intuição girardiana não se limitam a concluir que no estado natural, ou na crise mimética primitiva, a espécie humana seria facilmente extinta, mas se aproximam também na solução proposta para a “guerra de todos contra todos”, a saber, a criação do Estado. E embora o contrato hobbesiano pressuponha a existência de homens que já fazem uso avançado das suas capacidades racionais, em Girard – quando supostamente o homem é ainda indistinguível da natureza – ele é capaz de chegar à mesma conclusão lógica através das instituições sacrificiais. Em Hobbes é o contrato firmado coletivamente a partir da decisão individual de cada cidadão de transferir para o soberano ou assembleia os seus direitos naturais que possibilitam o surgimento do Estado. No pensamento de René Girard, o 38 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 controle da violência e dos conflitos também dependem de uma espécie de decisão coletiva. No entanto, Girard rejeita a pedra de toque do contratualismo, de “que a passagem de um estado pré-social a um estado social, repousa sobre uma decisão, sobre um acordo racional estabelecido entre indivíduos que compreenderam que o seu interesse egoísta está na cooperação e não na violência”. (VINOLO, 2012: 77). Para Hobbes, a união das vontades produziu o ato político originário, tendo em vista que na transferência dos direitos naturais o grupo passa a depender – no que diz respeito à sua preservação – quase totalmente do Estado. Assim, a violência sublimada pelos contratantes passa a ter um papel legal e regulador de qualquer ato violento na sociedade. Nesse sentido, como bem observa Giorgio Agamben, “em Hobbes, o fundamento do poder soberano não deve ser buscado na cessão livre, da parte dos súditos, do seu direito natural, mas, sobretudo, na conservação, da parte do soberano, de seu direito natural de fazer qualquer coisa em relação a qualquer um, que se apresenta então como direito de punir”. (AGAMBEN, 2002: 113). Por isso, Hobbes afirma que, Essa submissão das vontades de todos à de um homem ou conselho se produz quando cada um deles se obriga, por contrato, ante cada um dos demais, a não resistir à vontade do indivíduo (ou conselho) a quem se submeteu; isto é, a não lhe recusar o uso de sua riqueza e força contra quaisquer outros (...). (HOBBES, 2002: 96). Em Girard temos a união de um grupo em torno de uma vítima, cuja morte ou expulsão da comunidade resultará na preservação do grupo. A essa união Girard denominou de “mecanismo do bode expiatório”. De acordo a teoria do antropólogo francês, esse mecanismo é usado sempre quando o processo de violência mimética chega ao seu clímax. No mimetismo girardiano, o conflito se inicia não porque dois antagonistas desejam o mesmo objeto, mas porque ao ver o outro desejando determinado objeto mimeticamente o imito. Nesse processo, há, em primeiro lugar, uma relação de proximidade entre os antagonistas, de maneira que um dos antagonistas deseje ser como o outro. Entretanto, à medida que se percebe que os objetos disponíveis são singulares, se instaura o caos. De acordo com Girard, esse conflito seria repetido mimeticamente até se extinguirem os últimos antagonistas. Daí o surgimento necessário dos rituais sacrificiais: 39 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 O milagre do sacrifício é a formidável “economia” de violência que se realiza. Ele polariza contra uma única vítima toda a violência que, um pouco antes, ameaçava a comunidade inteira. Essa liberação parece ainda mais milagrosa por intervir sempre in extremis, no momento em que tudo parece perdido. (GIRARD, 2011: 63). Desse modo, “a função do sacrifício, enquanto ritual, é nem mais nem menos que ‘purificar a violência’”. (MERUJE, 2009: 14). Assim, na teoria de Girard, o sacrifício do bode expiatório teria a mesma função civilizadora do contrato hobbesiano. CONSIDERAÇÕES FINAIS As origens do Estado e da cultura humana são sangrentas. A violência está na gênese das nossas instituições culturais. Por mais que sublimadas, essas potencias não podem ser extintas, sob a pena de que talvez extingamos com ela quem realmente nós somos. Como tivemos oportunidade de observar, apesar de resguardadas as diferenças, tanto Hobbes quanto Girard carregam no âmago do seu pensamento uma profunda reflexão sobre o papel da violência na criação do Estado. De modo que ao compararmos o pensamento de um filósofo político com o de um antropólogo não estamos simplesmente confrontando duas ciências (a antropologia e a filosofia política), tendo em vista que ambos tratam propriamente daquilo que é humano, ou seja, daquilo que criamos, seja racionalmente, seja passionalmente. Como ficou evidente, no contrato hobbesiano, o ato político fundador é o ato racional. Todavia, mesmo em Hobbes, o elemento passional não pode ser excluído. O medo, especificamente o medo da morte violenta, é capaz de produzir uma reflexão e um acordo coletivo capaz de gerar uma instancia superior dotada de capacidades democraticamente outorgadas e de poderes coercitivos altamente domesticadores. A saber, o próprio Estado. Por uma via diversa, mas não conceitualmente divergente, René Girard demonstra a partir da sua teoria mimética como, através da violência generalizada, os animais pré-humanos foram capazes de (passional ou intuitivamente) criar através dos sacrifícios de animais ou de seres humanos, um mecanismo capaz de 40 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 sanar, mesmo que temporariamente o caos mimético. A saber, o mecanismo do bode expiatório. Esse mecanismo tinha funcionalmente o mesmo papel do Estado hobbesiano, ou seja, o papel de domesticar a violência intestina. REFERÊNCIAS ABIZADEH, Arash. (2011). Hobbes on the Causes of War: A Disagreement Theory. In. American Political Science Review. Vol. 105, N. 2, p. 299. AGAMBEN, Giorgio. (2002). Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: Editora UFMG. BRANDÃO, Assis. (2006). O Estado de Natureza e o Contrato em Hobbes. In. Perspectiva Filosófica. Revista do programa de pós-graduação em filosofia da Universidade Federal de Pernambuco. v.1, n.25, Janeiro-Junho, p. 29-50. CLASTRES, Pierre. (2004). Arqueologia da Violência. São Paulo: Cosac & Naify. GIACOIA JR, Oswaldo. (2013). Nietzsche: o humano como memória e como promessa. Petrópolis, RJ: Vozes. GIRARD, René; ROCHA, João Cézar de Castro; ANTONELLO, Pierpaolo. (2011). Evolução e Conversão. São Paulo: É Realizações. GIRARD, René. (1990). A Violência e o Sagrado. Tradução de Martha Gambini. São Paulo: UNESP. ____________. (2008). Coisas Ocultas Desde a Fundação do Mundo. São Paulo: Paz e Terra. ___________. (2011). O Sacrifício. São Paulo: É Realizações. HOBBES, Thomas. (1969). The English Works of Thomas Hobbes. vol. IV. London: John Bohn, Enrietta Street, Covenant Garden. ___________. (2002). Do Cidadão. São Paulo: Martins Fontes. ___________. (2003). Leviatã. São Paulo: Martins Fontes. JAEGER, Werner Wilhelm. (1994). Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes. 41 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961 MAGALHÃES, Fernando. (2014). 10 Lições Sobre Hobbes. Petrópolis, RJ: Vozes. MERUJE, Márcio Miguel Alexandre. (2009). A Violência como Phármakon: entre o (des)velar do segredo cristão e a possibilidade de um novo homem em R. Girard. Portugal: Universidade da Beira Interior. MERUJE, Márcio; ROSA, José Maria Silva. (2013). Sacrifício, Rivalidade Mimética e “Bode Expiatório” em R. Girard. In. Griot: Revista de Filosofia. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. v.8, n.2, dezembro, p. 151-174. RIBEIRO, Renato Janine. (2003). A Marca do Leviatã: linguagem e poder em Hobbes. São Paulo: Ateliê Editorial. SKINNER, Quentin. (2010). Hobbes e a Liberdade Republicana. São Paulo: UNESP. STRAUSS, Leo. (1952). The Political Philosophy of Hobbes: Its basis and Its genesis. Chicago: The University of Chicago Press. VINOLO, Stéphane. (2012). René Girard: do mimetismo à hominização. São Paulo: É Realizações. 42 Contemporânea – Revista de Ética e Filosofia Política, Caruaru, v. 3, n. 1, p. 25-42, jul./dez. 2016. ISSN 2447-0961