Licenciado sob uma Licença Creative Commons APORTE DA MERCADOLOGIA EM EMPRESAS DE EVENTOS NO ÂMBITO RURAL Contribution of Marketing in Companies of Events in Rural Context Fabio Luciano Doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional(ANHANGUERA-UNIDERP) e Mestre em Estratégias e Organizações (UFPR).E-mail: [email protected] " Resumo Este estudo apresenta a conceituação e os elementos do composto de marketing ligados a organizações indicadas a um prêmio nacional que promovem sob demanda eventos para instituições vinculadas ao meio rural. Dentro do universo de interesse, 37 instituições (indicadas ao prêmio e com serviços prestados para organizações com vinculação ao meio rural) de diversos estados brasileiros compuseram a amostra. Emergiu da pesquisa, entre outras informações, a vinculação direta na percepção dos responsáveis pelas empresas pesquisada de que os elementos do composto de Marketing apresentam íntima relação com os resultados organizacionais, contudo aponta-se que a natureza, o direcionamento entre outros elementos formam as peculiaridades de cada instituição e influência no potencial e no alcance dos instrumentos mercadológicos. Palavras Chaves: Marketing, Composto de Marketing, Eventos, Meio Rural, Turismo. . Abstract This paper presents the conceptualization and elements of the marketing mix linked to the organizations listed for a national award that promote on demand events related institutions to countryside. Within the universe of interest, 37 institutions (indicated for the award and with services provided for organizations with linkage to the rural environment) of several states composed the sample. Emerged from this research, among other data, the direct relationship in the perception of responsible companies surveyed that the elements of the marketing mix have intimate relationship with organizational results, however points out that the nature, direction and other elements form the peculiarities of each institution and influence the potential and scope of instruments in the market place. Keywords: Marketing, Marketing Mix, Event, Countryside, Tourism. 54 INTRODUÇÃO Em um mundo cada vez mais competitivo em que elementos como a tecnologia, comportamento do consumidor, leis e regulamentações, fatores ambientais e alterações socioeconômicas e educacionais alteram-se a uma velocidade e intensidade impar surge a emergência de análise pormenorizada dos fatores que auxiliam ou dificultam o alcance dos objetivos organizacionais, especialmente no setor turístico pela natureza de suas ofertas ao mercado. Este contexto de competitividade aliada a mudanças estruturais rápidas e constantes faz emergir nas organizações a necessidade de se atingir objetivos de curto (metas), médio e longo prazo e para tanto se torna vital a montagem de estratégias refinadas para a prospecção, captação e manutenção de uma carteira de clientes (turistas ou usuários) que permita a obtenção de resultados almejados dentro de um determinado período. A tarefa de obter e manter resultados positivos traz em seu cerne a dificuldade de resultados permanentes visto que as organizações são criações humanas desprovidas de permanência efetiva e real cuja função maior é a de servir a seus objetivos aliados a sua contribuição para com a sociedade e a economia de um país, região ou local específico. A perpetuação de uma organização é tarefa básica que cabe ao espírito empreendedor e atingir tal intento é o teste definitivo da capacidade de administração de seus gestores (DRUCKER, 2002). Os elementos ligados ao composto de Marketing - produto, preço, promoção (comunicação) e praça (logística) - se apresentam como parâmetros interessantes no auxílio da execução do processo de planejamento de ações necessárias para a efetiva aliança entre os esforços de uma organização e os resultados obtidos no mercado (YUDELSON, 1999). Torna-se vital levantar para a área de turismo os elementos considerados relevantes no que tange a sobrevivência, crescimento e perpetuação das atividades empresariais através das práticas consideradas essenciais no contexto atual. Como atividade econômica as empresas ligadas de forma direta ou indireta ao turismo têm enfrentado cenários cada dia mais turbulentos, CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 55 competitivos e com ganhos consideráveis em termos de profissionalização do setor. Dentro desse contexto e especialmente considerando que todas as organizações necessitam obter resultados satisfatórios, a função do marketing estratégico passa a auxiliar as organizações na identificação dos usuários ou turistas potenciais, interpretar suas necessidades e desejos além de permitir a correta segmentação e posicionamento frente ao público-alvo desejado. A Organização Mundial do Turismo (OMT) estimou que o crescimento anual do setor turístico é de aproximadamente 6% no Brasil o qual resulta em uma tendência global, na qual o turista não mais deseja ser um simples expectador de sua viagem, mas sim, o protagonista, que efetivamente vivencia a cultura e a experiência nos novos destinos visitados (OMT, 2001). No Brasil, o IDESTUR (2010) – Instituto de Pesquisa do Turismo Rural observou um percentual muito maior de crescimento, tanto no número de empreendimentos quanto ao de consumidores, e também prevê um grande número de produtos ofertados aos turistas. Considerando a dificuldade de estabelecer relações claras e racionais entre uma necessidade humana e os benefícios almejados por um usuário dos serviços ou produtos do turismo o composto de marketing surge como elemento básico na interpretação, montagem de propostas, inserção de estímulos e crucialmente com capacidade – se bem realizado - de influenciar fluxos de demanda reais ou potenciais. CONSIDERAÇÕES SOBRE MARKETING As ações de Marketing visam fundamentalmente a geração de elementos que de forma específica se propõem a gerar satisfação na relação entre uma organização e seus clientes, sejam reais ou potenciais. Kotler e Keller (2006) especificam que Marketing é “(...) um processo social por meio dos quais pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor (...)”. Marketing é apontado pela literatura como sendo capaz de agregar valor a produtos e serviços com foco na atração, estímulo e gestão da CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 56 demanda tendo como base a identificação de necessidades e desejos dos clientes ou consumidores dentro de um ou mais segmentos de mercado. (TAVARES, 2000; COBRA, 2005; KOTLER e KELLER, 2006). Marketing na concepção de Kotler (2000) é a atividade humana direcionada a satisfação das necessidades e desejos realizável através dos processos de troca. De forma simples as necessidades são comuns a todos os seres humanos tais como respirar, ter sede, fome, precisar de abrigo, higiene pessoal entre outros pontos. Já os desejos representam algo específico para saciar uma necessidade humana. Ter fome é uma necessidade, consumir algum tipo específico de alimento é um desejo. As organizações rurais – assim como as demais - ofertam produtos (bens físicos, serviços, ideias, lugares, pessoas ou informações) para atender as demandas específicas de segmentos ou nichos de mercado de seu interesse e sendo assim pode ser considerado um produto qualquer oferta que venha ao encontro de uma necessidade ou desejo e que permita troca. Tanto o crescimento quanto a sobrevivência das organizações estão diretamente atrelados as suas ações de busca, atendimento e manutenção de clientes através da criação de algum tipo de vantagem competitiva dentro do ambiente em que operam através da oferta de produtos, serviços, imagem, lugares, informações ou mesmo ideias (DICKSON, et al., 2001) Para Mintzberg e Quinn (2001) elaborar, contextualizar e operacionalizar estratégias parte do pressuposto do atendimento das necessidades que uma empresa tem no gerenciamento de suas ações considerando determinado(s) ponto(s) ou objetivo(s) a ser (em) atingido(s) ao longo de um período de tempo. Oliveira et.al. (2011) discorrem a respeito da necessidade das organizações se apresentarem de forma competitiva em razão da pressão de diversos fatores tanto internos quanto externos o que por consequência gera visibilidade para os instrumentos e técnicas de gestão empresarial destacando a importância de sua utilização de forma contundente. Ainda segundo os autores: “[...]setores econômicos que estão em franco desenvolvimento, como é o caso do turismo, muitas vezes perdem o timing CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 57 correto acerca dessa prática, justamente em virtude de as preocupações voltarem-se ao atendimento da demanda e à resolução de problemas internos das organizações, desconsiderando, ao menos em parte, a busca pela eficácia dos processos e a definição de uma estratégia competitiva clara e que permita o desenvolvimento e a sustentação de vantagens no longo prazo.” (OLIVEIRA et al. 2011) À medida que os níveis competitivos aumentam as organizações turísticas rurais necessitam adequar-se as exigências do mercado ou como agente ativa – propulsora das mudanças - ou como agente passiva – reagindo as mudanças na busca por crescimento ou pelo menos sobrevivência. A ausência de ações consolidadas pode comprometer no longo prazo a atração e manutenção de clientes reais e potenciais (COBRA, 2005). Nesse cenário de busca por adequação as ações ligadas ao Marketing são fundamentais para a adequação ou análise de readequação de ações dentro do contexto competitivo e de busca por participação de mercado em um mercado em franco crescimento, contudo com sérios gargalos a serem resolvidos. COMPOSTO DE MARKETING O conceito inicial a respeito do Composto de Marketing foi introduzido por Neil Borden em 1953 tendo como base o trabalho de James Culliton que havia realizado a descrição do executivo de negócios como um profissional que realizava a combinação de “diferentes ingredientes”. A partir de então, a expressão Marketing Mix ou Composto de Marketing passou a ter a conotação de “Mistura” ou mesmo “Composição” de ingredientes com a finalidade de se obter respostas vinculadas ao mercado de atuação das empresas (CHURCHILL e PETER, 2000). Os conceitos então associados ao Composto de Marketing foram explicados por diversos autores através de uma lista de variáveis ou ferramentas e suas atividades inerentes. O conceito ganhou estrutura e popularização através dos estudos de McCarthy na década de 60. O autor CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 58 defendeu que o Composto de Marketing compreende as decisões que uma organização precisa realizar a respeito destas variáveis controláveis. A ideia de que as variáveis eram controláveis baseava-se no pressuposto que os elementos vinculados ao composto de Marketing eram elementos vitais para as tomadas de decisão nas organizações (BOONE e KURTZ, 2001). McCarthy (1960) então reuniu tais variáveis controláveis de Marketing e as categorizou em quatro partes: Produto, Preço, Promoção (Comunicação) e Praça (Logística). Conforme a figura a seguir: Figura 1: Elementos do Composto de Marketing Fonte: Adaptado de Kotler e Keller, 2006 e McCarthy, 1960 Kotler (2000) defende que o Composto de Marketing forma um dos alicerces fundamentais na atualidade e o defini como um conjunto de ferramentas mercadológicas que uma organização se vale para perseguir seus objetivos de Marketing dentro do mercado-alvo de interesse. O autor ainda defende a ideia de que o composto traz em si o conceito de um conjunto organizado de instrumentos que dão suporte ou parâmetro para que as decisões sejam tomadas de forma coerente e eficaz. Sheth (1998) aponta que o Composto de Marketing conforme foi concebido por McCarthy advém da corrente de pensamento em Marketing intitulada Escola Funcional a qual direcionava sua atenção e esforço a CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 59 funcionalidade das atividades ligadas ao mercado. A literatura especializada tem apontado através de estudos e casos que existe um grande risco associado ao se abordar cada função do composto de Marketing de forma isolada. Segundo diversos autores existe uma relação de interdependência dinâmica associada aos elementos e que decisões isoladas podem ao invés de beneficiar uma organização vir a comprometer seus resultados pela ausência de aderência entre as ações e as necessidades e desejos dos clientes (SHAPIRO, 1988; COOK et. al., 1989; LAMBIN, 2000; KOTLER e KELLER, 2006). Salienta-se que um programa de Marketing em organizações rurais consistente, integrado e com capacidade de alavancagem mesmo estando em consonância com os requisitos exigidos pelo mercado pode não ser suficiente para gerar os objetivos almejados pois, dentro do processo existem as variáveis incontroláveis pela organização que podem afetar de forma direta ou indireta os resultados (AAKER e JOACHIMSTHALER, 2000; NASCIMENTO e LAUTERBORN, 2007). Por fim, é preciso ressaltar que nem sempre os programas mercadológicos se ajustam de forma impar ao paradigma “produto, comunicação, logística e preço” e que portanto analisar de forma pormenorizada a contribuição de cada elemento dentro da realizada da organização rural se torna ponto pacífico de atuação. SETOR TURÍSTICO O setor de turismo no país tem caminhado a passos largos nos últimos anos tanto em ações como em materiais que proporcionam conhecimento e ampliação dos conceitos ligados a área. Uma afinada concepção é apresentada por Melgar (2001) ao discorrer que Turismo: “(...) é o conjunto de atividades realizadas por uma pessoa em um lugar diferente daquele onde possui sua residência habitual, quando motivado por razões surgidas livremente e quando não sejam exercidas ações profissionais remuneradas diretamente por setores econômicos do lugar visitado” (MELGAR, 2001, P. 76) CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 60 Segundo Beni (2003) a atividade turística dentro de uma perspectiva empresarial e econômica foi conceituada pela primeira vez em 1910 por Herman von Schullern na qual o turismo era “(...) a soma das operações, especialmente as de natureza econômica, diretamente relacionadas com a entrada, permanência e deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país, cidade ou região”. A visão talvez fosse adequada para a época, contudo, o formato que se prega no que concerne ao turismo é que o mesmo aparenta estar em constante estado de transformação e que apresenta-se como uma atividade complexa e com fortes relações de interdependência e subordinações às condições de mercado e também aos elementos internos de funcionamento (SWARBROOKE e HORNER, 2002). Com o advento das alterações mundiais sofridas nos diversos setores da economia entre eles o setor de Turismo juntamente com as artes, o esporte, a cultura aliados a importância cada vez maior dada pelas pessoas no que diz respeito a qualidade de vida trazem a noção de que a atividade turística a cada ano ganha mais espaço na mídia, nos meios sociais e não relações de consumo de forma ativa, mutável e multifacetada (ENGEL et. al, 2000; LICKORISH e JENKINS, 2002). O setor de turismo apresenta-se como um fenômeno de ordem social além de potencialmente gerador de progresso tanto regional quanto nacional tanto nos campos sociais, culturais, políticos quanto nos campos econômicos e educacionais (BENI, 2003). TURISMO RURAL As organizações de natureza exclusivamente rurais tem ganho espaço e força dentro do contexto turístico segundo Violin (2013) em especial, destaca o autor, na promoção de eventos e atividades de atração de turistas ou usuários de serviços e produtos vinculados ao meio rural no escopo turístico. Segundo o Ministério do Turismo em Amorim (2011, p.2), turismo rural caracteriza-se pelo “conjunto de atividades desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 61 serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade” Cada vez mais o homem vem buscando o campo, ou a natureza como forma de lazer e de fuga das cidades industrializadas, o qual pode ser observada considerando: A revalorização do rural contida nas práticas de excursões ao campo, os veraneios e as atividades de lazer nele, bem como outras diversas formas de sua utilização e consumo, tem se fundado na grande expressão planetária que tomou o ambientalismo nas últimas décadas. As apelações de reencontro com a natureza, a harmonia, a qualidade de vida e o respeito como o meioambiente, que se apresentam nos discursos ressignificadores do rural, têm evidenciado a crise da ideia de progresso contínuo e sem limites que acalentou o projeto modernizador via industrialismo e urbanização dos últimos duzentos anos. (FROEHLICH, 2000) Com isso, o turismo rural, e os outros diversos setores do turismo que envolvem o ambiente natural, tem ganhado, cada vez mais destaque na sociedade contemporânea, como afirma Froehlich, 2000, p.4) “a representação urbana do espaço rural não só como um espaço de produção (de alimentos, de produtos primários), mas também como um espaço de biodiversidade, de lazer e serviços (turismo [...]), tem acarretado em novas ‘funções’ para este espaço.” Com esse aumento da popularização do turismo rural, os empreendimentos ligados ao setor, tendem a se expandir e a adquirir novos meios de marketing e estratégias de negócios. De forma mais específica as atividades relacionadas ao turismo necessitam cada vez mais de estruturação e direcionamento, especialmente se for considerado que, segundo Cobra (2005) e Jain (2000) as estratégias de marketing turístico tornaram-se fundamentais para o setor na solidificação das tomadas de decisão envolvidas no processo de gerenciamento das ações de estímulo ou resposta ao mercado consumidor de turismo, em especial nas organizações turísticas vinculadas a rural, isso posto considerando a necessidade de adequação ou adaptação do empreendimento rural a lógica de funcionamento do ambiente em que opera. MARKETING TURÍSTICO CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 62 Já a alguns anos a atividade turística tem se apresentado como um dos setores econômicos mais promissores, expressivos e potencialmente geradores de resultados no mercado mundial. Contudo maior potencialidade do setor de turismo rural traz consigo maior volume de ofertas decorrentes do aumento da competitividade além de alterações ambientais – entre elas as características do comportamento do consumidor- que influenciam a forma de trabalhar das empresas e alteram constantemente as “regras do jogo”. A alta competitividade que envolve a grande maioria dos setores inclusive o de turismo traz a consequente concorrência entre destinos, empresas, conceitos, espaços e ideias. Neste sentido a busca por diferenciação das ofertas a serem apresentadas aos consumidores - que tem se tornado cada vez mais exigentes - é uma forma de obter participação de mercado e manutenção de segmentos e nichos. (LOVELOCK e WRIGHT, 2001). A Embratur (1992) define o Marketing turístico como sendo “um conjunto de técnicas estatísticas, econômicas, sociológicas e psicológicas, utilizada para estudar e conquistar o mercado, mediante lançamento planejado dos produtos”. O primeiro autor a definir Marketing Turístico foi Krippendorf (1989) o qual apontou que o marketing voltado ao turismo representa uma adaptação sistemática e coordenada da política das empresas de turismo, tanto privadas como do estado objetivando a satisfação de forma plena das necessidades de determinados grupos de consumidores, e obtendo com isso, um lucro apropriado. Na concepção de Cobra (2005) “o Turismo é uma importante fonte de receita e a compreensão das oportunidades de mercado permite direcionar as estratégias de marketing”. O Marketing Turístico então se apresenta como uma ferramenta indispensável para o funcionamento e gerenciamento efetivo das organizações, especialmente no que concerne a diferenciação das ofertas aos segmentos de interesse (MONTEJANO, 2001). O composto de Marketing aplicado ao turismo não deve ser interpretado como uma mistura de elementos e sim como a combinação de CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 63 forma esquematizada e estruturada de ações entre as variáveis (BALANZÁ e NADAL, 2003). Dentro deste contexto uma associação interessante é realizada por Middleton (2002) ao expressar que os conceitos do composto de Marketing podem ser interpretados como um conjunto coordenado de alavancas operadas com o objetivo de se chegar a um determinado ponto. De forma ilustrativa o autor compara as variáveis controláveis com um automóvel que possui acelerador, freio, volante e câmbio. O movimento desses controles deve ser utilizado em consonância com as condições enfrentadas em uma estrada em constante mudança e em conjunto conforme a necessidade mais ampla ou pontual. Beni (2003) defende que o marketing turístico representa um processo administrativo pelo qual as organizações vinculadas ao turismo identificação seus clientes tanto reais quanto potenciais. Malhotra (2001) reforça tal posição ao salientar que o estabelecimento de comunicação com esses segmentos ou nichos com o objetivo de conhecer e influenciar suas necessidades e desejos é algo vital as organizações. Ao passo que Melgar (2001) aponta que estas ações têm como objetivo a formulação e adaptação de produtos e serviços para a obtenção de indicadores positivos de satisfação dos usuários ou turistas. De forma sintética as definições apresentadas evidenciam que o papel do marketing turístico é o de analisar, compreender e propor ações que beneficiem de um lado o cliente através da satisfação de suas necessidades e desejos e de outro a empresa através do cumprimento de seus objetivos estabelecidos previamente (PELIZZER, 2005). Segundo a OMT (2001) por sua natureza os serviços turísticos representam elementos constitutivos vitais no composto da oferta aos usuários possibilitando a experimentação, o uso e a consequente experiência de consumo. Middleton (2002) reforça que um dos elementos ou características a serem observados é o fato da heterogeneidade da demanda por parte dos usuários a qual gera diferenças em termos de expectativa e interpretação da oferta de maneira tão diversificada que tornam seu julgamento de adequação ou inadequação sujeito a diferentes interpretações e avaliações, informações CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 64 corroboradas por outros autores como Aaker, 2001; Kuazaqui, 2001; Melgar,2001 e Ignarra, 2003. De forma sintética o produto turístico entendido como toda oferta dispensada aos consumidores é composta tanto de elementos tangíveis tais como equipamentos, infraestrutura, bens físicos e recursos diversos como também intangíveis ao projetar serviços, propostas de preço, elementos ligados a imagem e ao gerenciamento da atividade que de forma sistêmica atuam em conjunto na busca da satisfação de necessidades e desejos reais ou potenciais dos consumidores sejam eles turistas ou usuários do empreendimento rural (MONTEJANO, 2001; DIAS e CASSAR, 2005). Por fim, trabalhar o composto de Marketing Turístico considerando as variáveis controláveis do Marketing - preço, promoção (comunicação) praça (logística ou distribuição) e das características do produto - se mostra viável ao proporcionar a possibilidade de aperfeiçoar os processos de tomada de decisão e também ao facilitar o planejamento estratégico de ações coordenadas dentro de objetivos definidos ao longo de um período de tempo pelas organizações. METODOLOGIA O primeiro procedimento metodológico ocorreu através da pesquisa de cunho bibliográfico, ou seja, o contato direto do pesquisador com o que foi escrito sobre determinado assunto, permitindo-o reforço de suas análises na pesquisa ou a manipulação de suas informações. Foram levantadas informações de fontes diversas referentes ao contexto de organizações vinculadas a evento. Posteriormente foi realizada observação direta extensiva com a aplicação de questionário, a fim de se coletar dados em série através de perguntas fechadas. O universo de interesse deste estudo versou sobre organizações indicadas a um prêmio de amplitude nacional especificamente na resposta de representantes de tais organização cuja natureza é a de eventos, contudo, considerando-se a dificuldade de acesso as organizações foram obtidas 37 CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 65 empresas que concorreram ao prêmio no período de 2009 até 2013 de forma aleatória configurando assim a amostragem como sistemática. Tais organizações foram contatadas e as que sinalizaram de forma positiva para a pesquisa receberam acesso a um questionário online que continha questões de natureza fechada e semi-aberta. AMARO et. al. (2005, p.6) afirmam que o "questionário do tipo fechado tem na sua construção questões de resposta fechada, permitindo obter respostas que possibilitam a comparação com outros instrumentos de recolha de dados". Já as perguntas semiabertas ou mistas são definidas pelas autoras como questionários que apresentam questões de diferentes tipos: resposta aberta e resposta fechada. Das 72 organizações contatadas 39 retornaram respostas e dessas 37 devolveram dados válidos procedendo-se na sequência a análise do conteúdo dos questionários respondidos, os quais foram categorizados e disponibilizados de modo a buscar a compreensão dos fenômenos pertinentes a temática de estudo. A pesquisa então assumiu natureza qualitativa a qual é conceituada por RODRIGUES (2007) como aquela que traduz em números as opiniões e informações que serão classificadas e analisadas, utilizando-se de técnicas estatísticas. . ANÁLISE DOS DADOS Dentro do universo de pesquisa o principal intento foi o de levantar a relação entre as estratégias mercadológicas e sua contribuição ao modo de operação de empresas reconhecidas como representantes da categoria através do filtro de um prêmio de cunho nacional que tivessem com suporte ou execução eventos junto a organizações notadamente do meio rural. 1 UMA PRIMEIRA INFORMAÇÕES RELEVANTE DIZ RESPEITO A NECESSIDADE DE ADAPTAÇÃO DAS FERRAMENTAS DE MARKETING AOS DESAFIOS ESPECÍFICOS DE CADA ÁREA, JÁ QUE TODAS AS EMPRESAS PESQUISADAS CONCORDARAM COM A PREMISSA DE QUE O AJUSTE DAS ESTRATÉGIAS MERCADOLÓGICAS DEPENDE DE MODO CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 66 SUBSTANCIAL DA OBSERVÂNCIA DOS ELEMENTOS VINCULADOS AOS DESAFIOS ESPECÍFICOS PERTINENTES A CADA ÁREA. 2 SEGUNDO 89% DOS ENTREVISTADOS OS FATORES DE TRAÇÃO DE CADA UM DOS ELEMENTOS DO COMPOSTO DE MARKETING TEM RELAÇÃO DIRETA COM O PLANEJAMENTO DAS AÇÕES VINCULADAS AS SOLICITAÇÕES DOS CONTRATANTES, CONTUDO, SUA FORMA DE VENDA QUASE QUE INVARIAVELMENTE ESTÁ FOCADA EM UM OU NO MÁXIMO DOIS REQUISITOS OFERTADOS PELO ELEMENTO DO COMPOSTO, POR EXEMPLO, EM UM DETERMINADO RAMO O COMPOSTO DE PRODUTO APRESENTA-SE COMO O ELEMENTO CENTRAL DE CONTRATAÇÃO ATRAVÉS DA MONTAGEM DE ALGUM TIPO DE PRODUTO ESPECÍFICO. 3 EM EMPRESAS CUJO FOCO ESTÁ RELACIONADA A PERSONALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS O PRODUTO É O PRINCIPAL ELEMENTO CONSTANTE NO PLANEJAMENTO, SEGUNDO 93% DOS ENTREVISTADOS. 4 EM TODAS AS ORGANIZAÇÕES A COMUNICAÇÃO SE APRESENTOU COMO ELEMENTO VITAL, PORÉM EM NENHUMA DELAS ESSE ELEMENTO DO COMPOSTO FOI PREPONDERANTE NO PLANEJAMENTO, PORÉM, FOI POSSÍVEL AFERIR QUE TODOS AS ORGANIZAÇÕES VINCULADAS A EVENTOS REALIZA ALGUM TIPO DE COMUNICAÇÃO COM O MERCADO, SENDO OS PRINCIPAIS MEIOS A INTERNET, CONTATOS PESSOAIS E TELEFÔNICOS COM DISPONIBILIZAÇÃO DE MATERIAL VISUAL EM PAPEL OU MESMO EM VÍDEO ALÉM DE ESPAÇOS COMPRADOS EM REVISTAS ESPECIALIZADAS. O composto de preço apareceu como importante em todas as empresas, porém em nenhuma delas as organizações apontaram esse elemento como diferencial estratégico único, contudo, ressaltaram que esse elemento do composto é vital para o conjunto das estratégias, figurando como uma espécie de fiel da balança na decisão de contratar ou não a empresa de eventos. Considerando o último elemento que é a Logística (praça) 92% das empresas apontaram que esse elemento se apresenta como vital na execução CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 67 das atividades, porém, 84% das empresas apontam a existência de dificuldades na estruturação desse elemento no sentido de evitar falhas. De forma geral, todas as empresas participantes, a exemplo de estudos anteriores, apontaram serem tracionadas mais fortemente por um dos elementos do composto de Marketing, ou seja, dependendo da natureza da organização, do seu ambiente, do nível de concorrência entre outros elementos a organização investe tempo, dinheiro e esforços na promoção de seu composto mercadológico tido como ideal. Dentro dos quatro elementos as característica dos produtos ou serviços apresentam-se como quase uma unanimidade entre o grupo pesquisado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Houve uma época em que as atividades organizacionais particularmente as relacionadas ao turismo vinculado a eventos- – eram realizadas de tal forma que grande parte das decisões eram tomadas e os resultados – bons ou ruins - eram obtidos através de tentativa e erro. Essa época era menos complexa e competitiva do que os tempos atuais. Conforme o mercado foi se tornando mais complexo e apresentando múltiplas variáveis que influenciavam de forma cada vez mais acirrada a disputa por espaço na preferência dos consumidores as organizações de todos os setores - em especial as de serviços- precisaram desenvolver mecanismos para levantamento, análise e uso de dados e informações advindas de concorrentes, governo, consumidores, fornecedores entre outros para ajustar sua oferta ao seu segmento de clientes. Nesse sentido as estratégias de marketing foram se tornando mais refinadas e com capacidade de contribuir com os objetivos e metas traçados pelas empresas na busca por participação de mercado, consolidação da imagem, diminuição dos indicadores de insatisfaciência dos consumidores entre diversos outros pontos. Alguns elementos justificam o estudo da relação entre as estratégias ligadas ao Composto de Marketing e os resultados obtidos por organizações vinculadas a eventos dentre elas, segundo Violin e Sobrinho (2013) destaca-se: CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 3, p. 53-71, jan./dez. 2014 68 1) Menor probabilidade de aceitação do erro por parte dos consumidores de produtos e serviços turísticos; 2) Avanços tecnológicos mais constantes e ocorrendo em menor espaço de tempo com alterações substanciais na forma de execução de processos e procedimentos; 3) Elevação nos índices de profissionalização das pessoas; 4) Consumidores com maior acesso a informação e com maior capacidade de utilização da mesma em suas decisões de aquisição e uso; 5) Diminuição média da lucratividade e riscos inerentes associados a má gestão de custos; 6) Índice de mortalidade de novos produtos e serviços em patamares elevados; e 7) Pré-disposição dos consumidores a experimentar novas marcas, produtos, serviços e ideias, entre outras constatações. O tema relacionado ao Composto de Marketing aplicado ao turismo não é necessariamente novo, contudo, ainda apresenta espaço para ampliação especialmente da experiência nacional no setor de eventos para com o uso destas ferramentas como balizadoras e auxiliares no processo de planejamento e tomada de decisão. Desta forma, ampliar o campo de estudo e trazer experiências bem sucedidas de empresas consideradas referência auxiliará outras organizações do ramo a se espelharem nas práticas que tem atualmente gerado resultados positivos e permitir o avanço deste campo de estudo. REFERÊNCIAS AAKER, D.A. Administração estratégica de mercado. Porto Alegre: Bookman, 2001. AAKER, D.A. e JOACHIMSTHALER, E. Brand Leadership, London: Free Press, 2000. AMARO, A.; PÓVOA, A.; MACEDO, L. Metodologias de Investigação em Educação. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 2005. BALANZÁ, I. M., NADAL, M. C. Marketing e comercialização de produtos turísticos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. 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