Tem tomado conta das manchetes da mídia a crise na Parmalat

Propaganda
DISCURSO PROFERIDO PELO DEPUTADO MILTON BARBOSA, NA SESSÃO
PLENÁRIA DO DIA 28 DE JANEIRO DE 2004.
Senhor Presidente.
Senhoras e Senhores Deputados.
A crise na Parmalat italiana atingiu, os produtores
brasileiros de leite, frontalmente.
O escândalo na matriz italiana surpreendeu a
todos, apresentando um rombo de mais de 10 bilhões de euros. A dívida, chega a
2 milhões e 500 mil reais, no Brasil, e atinge pequenos produtores, agregados em
cooperativas. Apenas como exemplo, em Itaperuna, no Rio de Janeiro, as 11
cooperativas atendem a 10 mil produtores, sendo que 80 % deles são pequenos
produtores.
Isso não é de admirar, pois o Brasil possui o
segundo maior rebanho bovino do mundo, atrás apenas da Índia, com mais de
160 milhões de cabeças, sendo que 20% é destinado à produção de leite;
somente esse rebanho seria suficiente para inundar o mercado mundial de leite e
carne, se não fosse tão baixa a sua produtividade.
Temos o 3º maior rebanho de gado leiteiro, mas
ocupamos uma modesta posição na produção mundial; ela
é menor que a
demanda interna, tornando nosso consumo per capita muito pequeno. Visando a
redução de custos e riscos, como o que ocorreu com a atual crise da Parmalat, os
produtores investiram em rebanhos de dupla aptidão ( produção de carne e leite),
uma vez que o preço da carne e do leite são inversamente proporcionais.
Resultado : a baixa produtividade de ambos.
1
A produção leiteira média no Brasil é de 801
kg/vaca parida/ anual. Se o Brasil alcançasse a produção da Austrália ou da Nova
Zelândia, poderia reduzir seu rebanho a l/5 do tamanho atual. Os EEUU produzem
7 toneladas/vaca parida/ ano, ou seja 7.000 quilos por vaca/ano. A Califórnia, que
possui o segundo rebanho leiteiro dos EEUU, com 1milhão e 300 mil cabeças de
vacas em lactação, produz 36 milhões de litros de leite por dia, o que dá a
produção média de 29 kg/vaca/dia. Com tal produtividade, o Brasil para igualar a
quantidade de leite que atualmente produz, poderia reduzir seu rebanho a 1/10 do
atual. Nossos pastos tropicais, sem utilização de suplementação de alimentação,
como é de uso comum de nossos produtores, são capazes de produzir apenas
12/ks/vaca/dia.
Para melhor produção, é necessário acostumar o
produtor, ao uso de rações concentradas, mesmo onerando o custo da produção.
Devido à baixa produtividade, os produtores já se queixam que o preço não cobre
os custos de produção. É necessária a implantação de uma política de educação
de nossos produtores , bem como a aplicação de Programas de Qualidade de
reprodução. A reprodução regular, com o estabelecimento de nova prenhez cada
82 dias após o parto, produz uma nova parição a cada 365 dias aproximadamente.
A ampliação de intervalos entre os partos diminui a produção dos rebanhos e pesa
mais no orçamento do produtor, do que propriamente
a baixa produção por
lactação. O intervalo maior entre os partos representa uma quantidade de leite
que o produtor deixa de produzir, e portanto de receber, uma perda em termos
financeiros; aumenta o número de animais improdutivos na fazenda, e diminui o
número de novilhas para reposição, o que concorre para diminuir a eficiência dos
programas de seleção, descarte e venda de reprodutoras. Com a implantação de
um programa nesse sentido, a renda do produtor de leite não se concentraria
apenas na lactação, mas se diversificaria com a venda de animais para descarte e
venda de novilhas etc, diminuindo os riscos da atividade.
2
Temos que nos lembrar que leite é vida e que
está entre os 5 primeiros produtos mais importantes na alimentação.
O agronegócio do leite e derivados tem um papel
importante no suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda e pode
ficar à frente até mesmo do café, cana de açúcar e arroz.
Para cada real de aumento na produção agroindustrial do leite, há um crescimento aproximado de 5 reais no PIB, o que leva o
agronegócio do leite à frente de setores importantes da nossa produção como a
siderurgia e a industria têxtil. No setor de empregos, l milhão e 200 mil
propriedades produtoras de leite, emprega 3 milhões e 500 mil pessoas. Cada l
milhão de reais de demanda por produtos lácteos gera 195 empregos
permanentes, o que supera importantes setores da produção, como o
automobilístico, construção civil, siderúrgico e têxtil.
Sempre que foram noticiadas crises nos setores
da produção como a automobilística, siderúrgica, construção civil etc. o Governo
interviu. Todos se lembram da pressa com que, face ao perigo de demissão
coletiva no setor o Presidente Lula socorreu seus colegas metalúrgicos do ABC.
Da mesma forma com o setor de construção civil, abrindo créditos na Caixa
Econômica Federal para estimular o setor.
Além da liberação de créditos para a formação de
estoques, é mister que o Governo tome providências urgentes para diminuir, de
imediato, os efeitos dessa crise, pois o leite é alimento primordial na alimentação
humana, principalmente das crianças.
Com a implantação do real, e o aumento do poder
de compra da população, houve um grande aumento no consumo de leite,
iogurtes, e outros produtos derivados. Infelizmente com a atual queda de nível de
emprego e mais ainda, a queda de renda da população, devido à estagnação atual
da economia, esse mercado se retraiu.
3
Apesar das dificuldades, a produção no período de
1976 a 2000 cresceu em 339 milhões de litros, pois desde 1976, foram investidos,
em média, 6 milhões e 500 mil dólares por ano no setor. Para cada dólar investido,
o Brasil teve um retorno de 16 dólares! É o resultado do aprimoramento da saúde,
da alimentação, da genética do rebanho bovino.
A Parmalat concentra grande parte de sua
produção no leite Longa Vida, largamente consumido pela população. A outra
grande produtora de laticínios, a Nestlé, concentra sua produção em outros
produtos lácteos, como iogurtes, creme de leite, leite condensado, leite em pó etc.
Vai haver precariedade no fornecimento do leite
natural, pois as outras empresas do setor são insuficientes para absorver a
produção que era comprada pela Parmalat e para evitar esse problema o Governo
deve intervir.
Noticia-se um empréstimo de 200 milhões para as
cooperativas lesadas, mas todas elas estão com seus limites de crédito
comprometidos no setor bancário. Dado o grande número de pequenas
propriedades produtoras de leite, que somente subsistem com a formação de
cooperativas para organizar o comércio do produto, há necessidade de aumentar
sua
capacidade de estocagem, face à quebra da compra, o que pode
comprometer os estoques para a época de estiagem. A concessão de
empréstimos para aumentar a capacidade de estocagem
exige a revisão e
ampliação dos critérios existentes, com a possibilidade de contratação de novas
dívidas pelas cooperativas. Caso contrário a linha de crédito será inócua para a
finalidade a que se propõe.
É imprescindível ainda , que não se privilegie o
setor financeiro, como já é hábito de os bancos sempre levarem vantagem nas
situações de crises, em detrimento dos setores produtivos. São necessárias
medidas de socorro a esse setor da produção. Face às possibilidades econômicas
de nossa produção de derivados do leite, espero que o Governo
agilize a
implantação de uma política mais eficiente para o setor.
4
Há necessidade de uma política que possibilite
suprir a demanda interna e ter reservas para a exportação, o que é plenamente
realizável.
De nada adiantam as propostas mirabolantes de
CPMF internacional, Programa Fome Zero Nacional e Mundial, etc ,se não houver
alimentos para serem comprados e mitigarem a fome que assola parte da
humanidade.
Para acabar com a Fome, antes de qualquer coisa
é necessário haver alimento e para isso é preciso incrementar a sua produção,
facilitando o uso de sistemas racionais e menos onerosos
que estimulem o
produtor a investir.
Era o que tinha a dizer.
Obrigado.
MILTON BARBOSA
Deputado Federal- PFL-BA
5
Download