Lucro sobre o custo alimentar A avaliação de parâmetros que refletem a eficiência alimentar propicia o questionamento de alguns conceitos. Tem sido comum afirmar que vacas que consomem poucos alimentos concentrados, muita forragem e que, por conseqüência, têm baixa produção, são aquelas de baixo custo e de melhor desempenho financeiro. Será que o menor custo alimentar por litro de leite produzido e o lucro máximo ocorrem no menor custo diário por vaca? Em produção de leite o objetivo final deve ser maximizar a receita menos o custo de alimentação (RMCA). Sabendo-se que a alimentação representa grande parte dos custos de produção, este parâmetro é uma referência importante na busca de melhor desempenho econômico. Otimizar a RMCA significa otimizar o lucro. A RMCA é o resultado de vários aspectos técnicos e econômicos da atividade. Quanto maior a produção de leite (para um mesmo custo de alimentação ou mesmo sistema de produção), maior será a RMCA; quanto maior o preço do leite, maior será a RMCA; quanto maior a porcentagem de vacas em lactação, maior a RMCA; quanto menor a porcentagem de novilhas, maior a RMCA; quanto menor o custo dos alimentos, maior a RMCA. Em qualquer rebanho, sob qualquer regime de alimentação, a eficiência e o lucro aumentam quando os nutrientes destinados à manutenção dos animais tornam-se uma porção pequena dos nutrientes totais consumidos. Este conceito se baseia no princípio de que os custos de alimentação aumentam linearmente com o aumento da produção de leite, e que as exigências de manutenção não mudam com o aumento da produção, desde que a dieta esteja bem balanceada (esse conceito pode não se aplicar a animais sob condições de estresse como falta de sombra, necessidade de caminhadas excessivas, competição no cocho etc.). Em situações em que o preço do leite é muito baixo, há vacas no rebanho que são individualmente lucrativas, mas parte delas pode dar prejuízo, mesmo se a dieta estiver corretamente balanceada. Dessa forma fica claro perceber que o preço do leite se torna um fator importante na determinação Baixo custo é do nível de produção a partir do qual uma vaca deve ser desejável, mas o retirada do rebanho. Além da alimentação, há diversos fatores, produtor não vive de tais como os custos de ordenha, manejo sanitário e reprodutivo, custo mínimo e sim de etc., que devem ser considerados junto com a RMCA para se lucro máximo determinar o ponto em que uma vaca deixa de ser lucrativa. A decisão de mandar essa vaca para o lote de vacas secas ou para o frigorífico deve ser tomada com base no custo diário de manutenção do animal. A RMCA deve sempre ser mantida, e se possível aumentada. Em muitos casos mudanças de curto prazo para reduzir os custos de alimentação resultam em queda na produção e/ou perda de qualidade do leite, de forma que a receita bruta da fazenda cai em proporções maiores do que a redução que se consegue nos custos de alimentação. É possível um produtor produzir a um custo maior e obter rentabilidade mais elevada do que outro que produza leite a um custo mais baixo, desde que este aumento de custos represente um aumento desproporcionalmente maior de produção. Esse é o conceito que sustenta a viabilidade da suplementação com concentrados. Se o produtor trabalha com vacas de bom potencial, eficientes, e consegue alimentar essas vacas com forragem de alta qualidade, a suplementação é uma ferramenta poderosa para aumentar o lucro da fazenda. Se, além disso, consegue reduzir o custo de alimentação sem perder desempenho, com o uso estratégico de subprodutos, o lucro é garantido. O uso de subprodutos da agroindústria, tais como a polpa cítrica, farelo de trigo, casca de soja, farelo de algodão, farelo de glúten de milho, dentre outros, em substituição ao milho e ao farelo de soja, pode representar uma economia de custos, sem perder qualidade nutricional. A disponibilidade e o preço em relação aos ingredientes tradicionais são os principais fatores a serem observados na tomada de decisão pela sua inclusão nas rações, além de suas características nutritivas. Outro ponto que demanda muita atenção do produtor é a perda de alimentos na fazenda. Muito raramente conseguimos de fato utilizar integralmente todos os ingredientes que compramos, pois há muitas fontes de perda, desde o transporte, armazenamento até o fornecimento. Rebanhos maiores conseguem imprimir um ritmo de uso de alimentos mais intenso, o que minimiza as perdas, que geralmente ficam entre 3 e 5%. Já rebanhos pequenos podem ter perdas até 3 vezes maiores, principalmente se o ritmo de uso for muito lento. Quanto mais tempo o alimento fica estocado na fazenda, maior a chance de perdas, e o custo dessas perdas deve ser considerado, pois a quantidade comprada de alimentos invariavelmente é maior do que a fornecida. Além das perdas diretas, o produtor também deve considerar a possibilidade de deterioração de alimentos, com redução de qualidade, o que nem sempre é percebido pelo produtor. Isso pode resultar em redução no desempenho dos animais, além de poder causar doenças e intoxicações. Dessa forma, o controle de perdas quantitativas e qualitativas de alimentos é um ponto de grande impacto na RMCA, em qualquer situação de preço do leite, que se torna extremamente crítico quando o preço está baixo. Rodrigo de Andrade Ferrazza Acadêmico de Veterinária e Zootecnia da UFLA [email protected]