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Avaliação fitoquímica do extrato de Lippia Alba para utilização como
antioxidante natural em alimentos
Assessment phytochemical extract of Lippia Alba for use as natural
antioxidant in food
Daniel Mantovani1, Ornella Maria Porcu
1
Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo, 5790, Bloco J45, CEP 87020-900, Maringá-PR. E-mail: [email protected]
RESUMO
Este trabalho objetivou caracterizar a presença de substâncias antioxidantes em plantas medicinais as quais
possuem amplo uso como condimentos na alimentação. A presença de substâncias antioxidantes tem como ação
evitar e prevenir a oxidação em alimentos e dessa forma agem como conservantes naturais. A planta selecionada
para o estudo fitoquímico sistemático foi a Lippia alba (sálvia). Comprovou-se a presença de glicosídeos
saponínicos, taninos e taninos hidrolisáveis. Portanto, desde que seja seguido os parâmetros técnicos de
qualidade, a planta Lippia alba pode ser usada como um ingrediente alimentício podendo atuar como
antioxidante natural em alimentos preparados.
Palavras chave: Antioxidantes. Plantas medicinais. Compostos químicos.
ABSTRACT
This study aimed to characterize the presence of antioxidants in medicinal plants which are widely used as
condiments in food. The presence of antioxidants is to prevent action and prevent oxidation in foods and thus
act as natural preservatives. The plant selected for the study was a systematic phytochemical Lippia alba (sage).
Proved, the presence of glycosides saponins, tannins and hydrolysable tannins. So long as it followed the
technical parameters of quality, the plant Lippia alba can be used as a food ingredient can act as a natural
antioxidant in foods.
Key words: Antioxidant. Medicinal plants. Chemistry composts.
1 INTRODUÇÃO
As plantas produzem uma grande variedade de compostos químicos, os quais são divididos
em dois grupos, metabólitos primários e secundários. O metabolismo primário é considerado como
uma série de processos envolvidos na manutenção fundamental da sobrevivência e do
desenvolvimento, enquanto o metabolismo secundário consiste num sistema de importante função
para a sobrevivência e competição no ambiente (DIXON 2001). Os três grupos de metabólitos
secundários mais importantes em plantas são os terpenos um grupo dos lipídios, compostos
fenólicos (derivados dos carboidratos) e os alcalóides derivados dos aminoácidos, principais
constituintes das proteínas (VERPOORTE, 2000).
A confirmação científica dos efeitos benéficos das plantas condimentares que são usadas na
alimentação como uma fonte de agregação de valor à composição nutricional, aroma e sabor dos
alimentos, se deve, à presença de substâncias antioxidantes (BARA, et al., 2006). Os principais
alimentos utilizados na culinária são: Origanum vulgare (orégano), Myristica fragans (nozmoscada), Mentha piperita (menta), Foeniculum vulgare (funcho), Zingiber officinale (gengibre),
Pimpinella anisum (erva-doce), Eugenia caryophyllata (cravo-da-índia), Ocimum basillicum
(manjericão) e Lippia alba (sálvia) principalmente pela liberação de compostos que melhoram o
sabor dos alimentos e seus efeitos de prevenção (FILHO, 2000; ADITIVO e INGREDIENTES,
2003).
O potencial ativo das plantas se deve à presença de constituintes tais como flavonóides,
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alcalóides, triterpenos, sesquiterpenos, taninos, carotenóides e compostos fenólicos (BARA, et al.,
2006). Estes têm sido exaustivamente estudados e demonstraram ações farmacológicas a qual
podem ser empregados, como agentes medicinais. Por outro lado, os compostos apresentam ação
antioxidante, destacando as especiarias e ingredientes utilizados no preparo dos alimentos (FILHO e
YUNES, 1998).
O fenômeno da oxidação lipídica é uma das principais causas da deterioração dos
alimentos, podendo ser prevenida pela adição de antioxidantes naturais (tocoferol), substituindo os
compostos sintéticos (BHA, BHT, EDTA entre outros) utilizados na prevenção da oxidação dos
alimentos, pela substituição por antioxidantes provindos de fontes naturais como as plantas
(DIXON 2001).
Os antioxidantes podem ser classificados em produtos que atuam sobre a formação do 1O2
(oxigênio singlet), ou que reagem com o 1O2 (oxigênio singlet), atuando na forma competitiva com
radicais livres dos lipídios, impedindo a continuação da reação em cadeia (BOBBIO e BOBBIO,
2003), inibindo os processos de formação da rancidez em alimentos causada pela deterioração da
cadeia lipídica que ocorrem principalmente em alimentos os quais contém quantidades
significativas de óleos ou gorduras em sua composição.
Portanto, o principal objetivo deste estudo, foi caracterizar o perfil fitoquímico sistemático
da presença de substâncias antioxidantes presentes na Lippia alba.
2 MATERIAS E MÉTODOS
Para realização das análises via espectrofotométrica, foi necessário a obtenção dos extratos
dos componentes químicos da planta Lippia alba. Para realização deste procedimento, as plantas
foram coletadas no Refúgio Biológico da Itaipu Binacional, na forma in natura. Transportada até o
laboratório e realizado o procedimento de seleção das partes da planta que serão extraídas e
analisadas. Nesta seleção foram realizados os seguintes passos: retirada da terra com uso de água
corrente, caules, galhos e folhas secas.
As melhores folhas (verdes) foram secas em estufa a 45 OC por um período de duas horas
para retirada da água.
2.1 OBTENÇÃO DOS EXTRATOS
As folhas secas foram maceradas e trituradas até obtenção do pó e armazenadas em sacos
de polietileno em local fresco e arejado. Para realização do procedimento de extração, a matériaprima na forma de pó, foi pesada em balança de precisão + 0,0001g e transferida para um frasco
erlenmeyer de 50 ml acrescentando água destilada à temperatura ambiente.
As análises dos compostos fitoquímicos da planta Lippia alba foi realizada após obtenção
do extrato por difusão usando solventes alcoólicos, cetônicos e aquosos, para realização da
caracterização e identificação dos metabólitos secundários presentes na Lippia Alba. Foi utilizada a
técnica da cromatografia em camada delgada, demonstrada na Tabela 1 para pesquisa de
metabólitos secundários no extrato aquoso a 10 % m/v de Lippia alba e avaliação das características
sensoriais, conforme procedimento descrito pelo Instituto Adolfo Lutz (2004).
Os valores de absorção foram obtidos via espectrofotometria utilizando (Espectrofotômetro
UV/Vis, modelo 700 Plus-Latstore). A Figura 1, 2 e 3, demonstra os valores obtidos pelo espectro
de absorção na região do UV-Vis para cada extrato utilizado Farmacopéia Brasileira IV edição
(2004).
O recipiente foi deixado em repouso por 20 minutos e em seguida realizada a filtragem para
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retirada da parte foliar e obtenção dos extratos a serem submetidos para análise.
Os extratos prontos foram utilizados em 36 horas, após esse período, em seguida foram
desprezados e substituídos por novos extratos. Os extratos com concentração de 0,4%, ou seja,
aqueles que eram preparados com 0,1g do pó foram utilizados para a análises em
espectrofotometria.
E par os extratos com concentração de 10% foram preparados alterando a quantidade do
material para 10g de pó em 100 mL de solvente, e usadas para a análise dos metabólitos
secundários, por apresentar maior concentração.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo Matos, (1995) os testes fitoquímicos visam evidenciar as principais classes de
substâncias químicas presentes nas espécies, por reações qualitativas, a partir de extratos das plantas
com solventes específicos para cada classe
As classes de substâncias testadas para este estudo foram: fenóis, taninos hidrolisáveis,
condensados, flavonóides e alcalóides.
Os testes fitoquímicos mostraram de acordo com a (Tabela 1) que as folhas de Lippia alba
em extrato aquoso 10% m/v apresentaram coloração castanha, odor característico e caráter ácido pH
6,0. Para os metabólitos secundários notou-se a presença de glicosídeos e saponínicos, taninos
através da reação com sais de ferro III, taninos hidrolisáveis pela reação com formol clorídrico, e
ainda, a presença de ácidos voláteis com pH 5,0. A presença destas substâncias indicou a
diversidade de constituintes funcionais da planta Lippia alba.
Tabela 1. Características sensoriais e pesquisa de metabólitos secundários no extrato aquoso 10 % m/v de Lippia alba.
Extrato aquoso
Resultado
Características organolépticas
Cor
Castanho
Odor
Característico da planta
6,0
pH da mistura
Metabólitos secundários
Glicosídeos antociânicos
Glicosídeos saponínicos
++
Taninos
++
Reação com sais de Ferro III
+
Reação com Ácido Nitroso
Taninos hidrolisáveis
+++
Taninos condensados
5,0
Ácidos voláteis
Glicosídios Flavônicos
n.p
Reação de Shinoda
Glicosídios antraquinônicos
Obs.: (-) ausência de reação; (+) intensidade da reação: (+++) máxima; (++) média e (+) mínima; n.p = não pesquisado.
O resultado negativo para o teste de reação fotoquímica aplicados para os compostos
glicosídeos antociânicos, antraquinônicos, flavônicos e para alcalóides, evidenciou a ausência ou
baixa concentração para as classes dos constituintes estudados. Possivelmente devido à interferência
ambiental como temperatura, umidade, tipo de solo, estágio de desenvolvimento da planta, tendo
como conseqüência um prejuízo da atividade terapêutica.
Efing, (2008) ao estudar compostos secundários cita que a baixa quantidade destes
compostos pode ocorrer devido à interferência ambiental.
Espectro de absorção na região do UV-Vis para o extrato de Lippia alba, não foi possível
caracterizar as substâncias isoladamente, mas podemos evidenciar a presença de picos de absorção
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referentes às substâncias procuradas principalmente pela característica que cada solvente usado
apresenta.
O perfil qualitativo da absorção em diferentes solventes é apresentado nas (Figuras 1, 2 e
3).
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
300
Abs x comprimento de onda
600
Figura 1. Espectro de absorção na região do UV-Vis do extrato de Lippia alba em metanol.
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
300
400
500
600
Abs x comprimento de onda
Figura 2. Espectro de absorção na região do UV-Vis do extrato de Lippia alba em acetona.
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
300
600
Abs x comprimento de onda
Figura 3. Espectro de absorção na região do UV-Vis do extrato de Lippia alba em acetona.
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4 CONCLUSÃO
Os resultados preliminares obtidos com os extratos aquosos a 10 % de Lippia alba,
indicaram a presença de glicosídeos saponínicos, taninos e taninos hidrolisáveis. Portanto, desde
que seguidos rigorosamente os parâmetros técnicos de qualidade, esta planta pode ser usada como
um ingrediente alimentício que atuará como antioxidante natural.
Estudos adicionais são necessários para determinação e quantificação dos compostos
secundários, envolvidos neste processo.
A extração utilizando solventes alcoólicos, cetônicos e aquosos, permitiu uma extração com
maior rendimento dos compostos secundários, não levando a degradação destes compostos.
Entretanto, testes de toxidade devem ser levados em conta quando utilizados solventes como
metanol e cetona durante a extração.
A quantificação de substâncias biologicamente ativas é uma etapa importante para a
segurança e eficácia na utilização em produtos alimentícios e farmacêuticos.
AGRADECIMENTOS
À CAPES – Pelo incentivo a bolsa de estudos.
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