Terrorismo: a ameaça do século XXI

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As fotos registram o atentado terrorista contra as torres do World Trade Center, em
Nova Iorque, Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001. À esquerda, momentos
antes de o avião atingir a segunda torre do World Trade Center; à direita, as duas
torres já em chamas.
O terrorismo é o grande fenômeno global do início do século XXI.
Essa nova era do terrorismo internacional teve início com os atentados de 11 de setembro de 2001, quando extremistas islâmicos ligados à organização Al Qaeda (“A Base”) lançaram aviões contra as Torres Gêmeas e contra o Pentágono, nos Estados Unidos. Desde então,
ocorreram ataques às cidades de Madri (Espanha), Báli (Indonésia),
Moscou (Federação Russa), Riad (Arábia Saudita), Carachi (Paquistão),
Casablanca (Marrocos) e Istambul (Turquia), entre outros, que mostraram o grau de abrangência desses atos.
Como conceituar terrorismo? A definição desse fenômeno é complexa e depende de quem responde a essa indagação. De maneira
bastante genérica, pode-se afirmar que o terrorismo é um tipo de ação
caracterizado pelo emprego sistemático de métodos violentos para
criar situações de medo, visando algum objetivo político.
O conceito de terrorista muda em função das circunstâncias políticas. Certas personalidades da política internacional, tais como o falecido líder palestino Iasser Arafat ou o ex-primeiro ministro de Israel,
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SEAN ADAIR/REUTERS-NEWSCOM
Terrorismo: a ameaça
do século XXI
Terrorismo
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Menahen Béguin, foram, em épocas diferentes,
considerados terroristas. Mais tarde, ambos foram reconhecidos internacionalmente como líderes de seus povos, tendo sido inclusive agraciados com o Prêmio Nobel da Paz. O líder sulafricano Nelson Mandela, primeiro presidente da
República Sul-Africana pós-apartheid e reconhecido como um dos mais respeitados líderes políticos da atualidade, também foi considerado terrorista pelas autoridades do governo do país durante a vigência do regime racista. Mandela passou cerca de 25 anos recluso nas prisões da África do Sul. Mesmo no Brasil, durante os anos do
regime militar (1964-1985), algumas pessoas que
atualmente detêm altos cargos no governo federal foram consideradas terroristas.
Na atualidade, existe uma doutrina geopolítica
global antiterrorista posta em prática pelo governo norte-americano, conhecida como Doutrina
Bush, que tem como ponto central a luta contra
o terrorismo internacional. Assim, os ataques da
coalizão de forças liderada pelos Estados Unidos contra o Afeganistão (2001) e contra o Iraque (2003) são exemplos da aplicação prática
dessa doutrina.
Breve história do
terrorismo
Os termos terror e terrorismo, pelo menos na
Idade Moderna, foram usados originalmente durante a Revolução Francesa, especialmente entre os anos de 1793 e 1794, quando o Comitê de
Salvação Pública tomou o controle do país. Tendo à frente os revolucionários Maximilien Robespierre e Louis Saint-Just, a França passou por um
período caótico que ficou conhecido como a Era
do Terror.
No século XIX, o terrorismo passou a aparecer
nos livros de autores anarquistas que justificavam a validade de utilização de métodos terroristas para destruir o poder exercido por governantes despóticos, idéias que adentraram o século XX. Não se deve esquecer que foi um ato
terrorista – o assassinato, em 1914, do herdeiro
do trono austríaco, na cidade de Sarajevo, Bósnia – que desencadeou a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Um tiro no escuro
O estudante de origem sérvia Gavrilo Princip
teve seus quinze minutos de fama. No dia 28 de
junho de 1914, depois de uma série de trapalhadas que o haviam feito desistir de ir beber em
uma taberna em Sarajevo, ele percebeu, bem à
sua frente, o carro do herdeiro do Império Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinand.
Princip sacou o revólver e atirou, matando o futuro monarca. Saiu correndo e entrou em um cinema, onde foi preso. Morreu quatro anos depois,
quase à época do fim da grande guerra que, com
seu ato, ajudou a provocar.
O conflito em questão foi a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que matou nove milhões de pessoas, deixou mais de vinte milhões de feridos e
destruiu quatro impérios (Alemão, Russo, AustroHúngaro e Otomano). A destruição do Império
Russo veio na esteira da revolução bolchevique,
que fez surgir o primeiro país socialista do mundo
– a União Soviética.
A visita do arquiduque a Sarajevo, capital da Bósnia, província austro-húngara, foi uma provocação
aos olhos dos sérvios, povo que compunha grande parte da população local. O arquiduque decidiu
inspecionar manobras militares coincidentemente numa data histórica para os sérvios: nessa data,
no longínquo ano de 1389, os sérvios tinham sofrido uma grande derrota para os otomanos.
Ao agir como um terrorista, Gravilo pôs em movimento uma mistura terrível de alianças militares
de países, que gerou dois grandes blocos antagônicos (a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente),
prontos para uma guerra que todos os envolvidos
acreditavam poder vencer rapidamente. Na verdade, o cenário da guerra já vinha se formando há
mais tempo e o atentado em Sarajevo foi apenas
a “gota d’água”. De qualquer maneira, os tiros do
terrorista Gravilo Princip atingiram um alvo muito
maior que o peito de Francisco Ferdinand.
Entre o final da Segunda Guerra Mundial e os
últimos anos da década de 1960, as ações terroristas aconteceram principalmente nos continentes africano e asiático e estiveram ligadas às lutas
dos movimentos que buscavam o fim do domínio
colonial europeu. Em alguns casos, o terrorismo
foi usado tanto por colonizados como por colonizadores: em vários episódios da Guerra da Argélia
(1954-1962), por exemplo, atentados terroristas
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Informes e Documentos
Após 1968...
O ano de 1968 foi marcado por intensas manifestações estudantis que se verificaram em quase todo o mundo. Os jovens daquela época e outros ativistas (intelectuais, liberais, pacifistas) questionavam tanto o modo de vida capitalista como
também a intervenção norte-americana no Vietnã.
Após 1968, o terrorismo foi uma das respostas ao
refluxo dos movimentos contestatórios que marcaram aquele ano. Na impossibilidade de mudar o
status quo por meio de mobilizações pacíficas,
muitos militantes criaram pequenos grupos, que
passaram a praticar atentados terroristas.
Ao longo dos anos 1970, as ações terroristas
foram classificadas em quatro grandes tipos. No
primeiro deles, encaixavam-se as organizações
que empregavam métodos terroristas com o objetivo de destruir ou desestabilizar governos capitalistas e instituições políticas liberal-democráticas, em nome de uma sociedade comunista que
consideravam mais justa. Os principais exemplos
desse tipo foram as Brigadas Vermelhas, que atuaram na Itália, e o grupo Baader Meinhoff (ou Fração do Exército Vermelho), na Alemanha. As
ações mais espetaculares desses dois grupos
aconteceram entre o final da década de 1970 e o
início da década seguinte. Todavia, essas organizações foram aniquiladas em razão de suas disputas internas e pela ação eficiente dos órgãos
de repressão.
Sagração da Primavera
Em maio de 1913, cerca de um ano antes do início
da Primeira Guerra Mundial, estreou em Paris o balé
Sagração da Primavera, composto pelo russo Igor
Stravinsky. O espetáculo abalou os ouvintes tradicionais e chocou parte do público, que reagiu com vaias e ofensas. A obra, com seu ritmo frenético e suas
harmonias “estranhas” e fragmentadas, mostrava o
rompimento com a arte bem comportada da Europa
de então. Alguns meses depois, o início da Primeira
Guerra confirmava o veredicto de Stravinsky e de
outros artistas de vanguarda: o horror da guerra exigia novas formas artísticas, capazes de expressar as
desarmonias de um mundo em crise.
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O segundo tipo era aquele de caráter separatista, que visava à criação de um novo Estado. Enquadravam-se nesse tipo de terrorismo as ações
praticadas pelo Exército Republicano Irlandês (IRA),
o Pátria Basca e Liberdade (ETA) e grupos palestinos ligados ou não à Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Outro tipo é o denominado terrorismo de Estado, no qual o governo faz uso da violência para
reprimir grupos sociais ou organizações políticas
que lhes façam oposição. Especialmente nas décadas de 1960 e 1970, o terrorismo de Estado foi
usado amplamente por inúmeros governos ditatoriais na América Latina, Ásia e África. Contudo, não
se deve esquecer que, algumas décadas antes,
dois regimes ditatoriais – o de Josef Stálin, na União
Soviética, e o de Adolf Hitler, na Alemanha –, praticaram o terrorismo de Estado, assassinando milhões de pessoas.
Finalmente, há o chamado terrorismo negro (em
contraposição ao terrorismo vermelho, dos grupos
comunistas), que os grupos clandestinos de extrema-direita empregaram a fim de evitar o avanço democrático de forças socialistas. O exemplo
mais representativo foi o dos grupos neofascistas
que cometeram atentados na Itália, durante a década de 1970.
O novo rosto do terrorismo
O terrorismo contemporâneo, em suas quatro
versões (nacionalista, de extrema-esquerda, estatal e de extrema-direita), teve seu maior desenvolvimento nas décadas de 1960 e 1970. Na passagem dos anos 1980 aos anos 1990, duas novas
modalidades de terrorismo surgiram: o terrorismo
“doméstico”, tipicamente norte-americano, e o terrorismo internacional dos grupos fundamentalistas islâmicos.
Com o primeiro deles, o mundo descobriu um
lado sombrio da sociedade norte-americana. Dois
personagens marcaram a história do terrorismo doméstico dos Estados Unidos: o unabomber e Timothy McVeigh. O unabomber foi o terrorista que,
por cerca de duas décadas, enviou pacotes-bomba para suas vítimas. Quando os órgãos de segurança o capturaram, em 1996, ele não revelou nenhuma motivação política que justificasse suas
ações. Já Timothy McVeigh, um típico jovem norte-americano, sentia-se prejudicado pelo governo.
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foram praticados tanto pelos insurgentes, quanto
por militares franceses que eram contra a emancipação dos argelinos.
Terrorismo
Em 1995, ele fez explodir uma bomba num prédio
do governo federal, localizado na cidade de Oklahoma, causando a morte de 168 pessoas, inclusive
várias crianças. Ao justificar seu crime, McVeigh
alegou que tinha agido desse modo para se vingar
pessoalmente do governo.
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Diferente do terrorismo doméstico, o outro tipo
de terrorismo praticado na atualidade tem caráter internacional e vem sendo praticado por grupos fundamentalistas islâmicos. Suas ações têm
como objetivo lutar contra a expansão e a imposição dos valores (morais, políticos, sociais, econômicos, culturais) do mundo ocidental. Tendo
como referência o tradicionalismo religioso radical, determinados grupos extremistas passaram
a encarar os Estados Unidos e seus aliados ocidentais como a representação do “grande demônio” a ser destruído.
Esse tipo de terrorismo tornou-se cada vez mais
internacional na medida em que o mundo se globalizou em termos econômicos. Nos dois maiores
atentados realizados por esses grupos no início do
século XXI – o ataque às torres gêmeas do World
Trade Center em Nova York, no ano de 2001, e a
explosão de trens em Madri, em 2004 – as vítimas inocentes passaram a ser contadas às centenas e milhares.
O terrorismo basco
na Espanha e
na Irlanda do Norte
fases de maior atividade ocorreram entre as décadas de 1960 e 1980. Hoje, ambos encontram-se
em meio a complexas negociações de paz. Esses
movimentos também apresentam em comum o
fato de terem adotado, em alguns períodos de suas
respectivas histórias, doutrinas socialistas como
objetivo político.
A questão basca
As sete províncias bascas abrangem territórios de
dois países. Três delas situam-se na França, e as
quatro restantes, na Espanha. Essas sete províncias
perfazem uma área de 20,5 quilômetros quadrados
– superfície que corresponde aproximadamente ao
tamanho do estado de Sergipe, a menor unidade
federativa do Brasil. A maior parte do território basco, cerca de 85%, faz parte do território espanhol.
Do ponto de vista demográfico, os bascos são
aproximadamente 3 milhões de indivíduos, e pouco mais de 90% vivem no interior da Espanha.
A língua basca, traço fundamental da identidade
nacional desse povo, é falada por apenas 25% da
população basca espanhola e por cerca de 30%
dos bascos que vivem na França.
País Basco: entre a Espanha e a França
OCEANO
ATLÂNTICO
FRANÇA
Armas e violência ainda são usadas por dois dos
mais antigos movimentos separatistas existentes no continente europeu. Na Espanha, o grupo
Pátria Basca e Liberdade (o ETA, abreviatura de
Euskadi Ta Azkatasuna, em língua basca) luta há
décadas pela independência dos bascos em relação ao domínio espanhol.
Na Irlanda do Norte, o Exército Republicano Irlandês (o IRA, abreviatura de Irish Republican Army)
almeja o fim do domínio da Grã-Bretanha sobre o
Ulster (como é chamada a Irlanda do Norte) e sua
posterior anexação à Irlanda.
Tanto o ETA quanto o IRA têm suas origens na
passagem do século XIX para o século XX e suas
San
Sebastián
LABOURD
BISCAIA Guernica
BAIXA
NAVARRA
Bilbao GUIPÚSCUA
SOULE
ALAVA
Pamplona
NAVARRA
ESPANHA
0
50 km
Fonte: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço
mundial. São Paulo: Moderna, 2003. p. 64.
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Informes e Documentos
O nacionalismo basco
e o terrorismo
A derrota dos republicanos acarretou uma grande repressão sobre os bascos: 50 mil mortos, 300
mil exilados, a interdição da cultura basca, inclusive com a supressão do uso de sua língua. Essa
situação se estendeu por 36 anos, isto é, enquanto durou o regime ditatorial franquista.
Durante os longos anos de luta contra o regime
de Franco, foi criado, em 1959, o Euskadi Ta Askatasuna (ETA), ou Pátria Basca e Liberdade, cujo
objetivo era conseguir a independência do País
Basco por meio da luta armada. Desde sua criação, o ETA tinha duas alas – uma política e outra
militar. Esta última deu início, em 1967, a uma campanha terrorista, com ataques a oficiais da polícia
e do exército, altos funcionários do governo e edifícios públicos.
O governo de Franco reagiu: declarando estado
de emergência, desencadeou brutal repressão
sobre os bascos, medidas que acarretaram o
aumento do apoio popular à causa basca. Em seguida, o movimento separatista derivou para uma
perspectiva marxista.
SUCCESSION PABLO PICASSO 2005 – AUTVIS, BRASIL, 2005.
O nacionalismo basco tomou forma entre 1833
e 1876, durante as chamadas guerras carlistas.
Nesses conflitos, um numeroso contingente basco lutava não só para que Dom Carlos pudesse se
tornar o soberano da Espanha, mas também para
que se consolidasse a autonomia que suas províncias já possuíam. A derrota dos carlistas levou à
supressão dos privilégios dados aos bascos e ao
início dos conflitos e tensões entre eles e o governo central espanhol.
Mais tarde, durante a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939), ocorreu um grande crescimento do
nacionalismo basco. Esse conflito, considerado um
prenúncio da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
opunha republicanos e franquistas – nacionalistas
espanhóis comandados pelo general Francisco Franco. Os bascos apoiaram os republicanos, que haviam dado autonomia às províncias bascas.
Guernica, do pintor espanhol Pablo Picasso. A obra representa o horror dos bombardeios nazistas sobre a província basca de
Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola.
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No passado, as sete províncias bascas nunca foram unidas. Do lado espanhol, durante a Idade Média, uma delas estava ligada ao Reino de Castela,
e as demais, aos reinos de Navarra e Aragão. No
lado francês, as atuais províncias bascas passaram a fazer parte de uma unidade político-administrativa do país somente após a Revolução Francesa. Todavia, as sete províncias sempre estiveram ligadas por uma cultura e, sobretudo, por uma
língua comum. Única por sua gramática, a língua
basca não pertence a nenhum agrupamento lingüístico conhecido. Mesmo não sendo falada pela
maioria da população basca (que fala o espanhol
ou o francês), ela é verdadeiramente a base do
nacionalismo basco.
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Terrorismo
Após a morte de Franco, em 1975, o regime democrático que se instalou na Espanha, tendo à frente o rei Juan Carlos, propôs que as províncias bascas tivessem uma autonomia que lhes permitisse
organizar uma polícia, arrecadar impostos e difundir a língua basca. Essas propostas foram aceitas
num referendo em 1979, embora o ETA continuasse praticando ações violentas tendo em vista a
independência total.
Desde a conquista inglesa, os irlandeses promoveram inúmeras revoltas, forjando um forte sentimento nacionalista junto à sua comunidade. A esse
conflito se somou, no século XVI, uma rivalidade
religiosa, uma vez que a Inglaterra havia aderido
ao protestantismo e os irlandeses permaneceram
fiéis ao catolicismo.
Combatidos pelas forças de segurança espanholas (e também por nacionalistas bascos moderados)
e condenados por grande parte da opinião pública
espanhola e internacional, o ETA periodicamente
vem cometendo atentados à bomba e assassinatos de políticos, jornalistas, juízes e policiais.
Divisão política das Ilhas Britânicas
Ilhas Shetland
OCEANO
ATLÂNTICO
O IRA e o terrorismo
na Irlanda do Norte
Em quase 40 anos de conflitos e tensões, cerca de 3 mil pessoas foram mortas e aproximadamente 30 mil foram feridas na Irlanda do Norte,
região também conhecida como Ulster. Essa situação é o resultado da luta entre católicos e protestantes – divididos entre permanecer ligados
ao Reino Unido ou juntar-se à República da Irlanda (Eire).
O Ulster, região que corresponde à porção norte da ilha da Irlanda, possui cerca de 13,5 mil quilômetros quadrados e uma população aproximada de 1,7 milhão de habitantes, dos quais mais
ou menos 55% são protestantes e o restante é
católico.
MAR
DO
NORTE
GRÃIRLANDA Dublin
(EIRE)
DINAMARCA
BRETANHA
Londres
0
180 km
Inglaterra
País de Gales
Escócia
Irlanda do Norte
de
so
l da Mancha Pas
Cana
FRANÇA
s PAÍSES
l ai
BAIXOS
Ca
BÉLGICA
ALEMANHA
LUXEMBURGO
Fonte: CHALIAND, Gerard e RAGEAU, Jean-Pierre. Atlas
estratégico e geopolítico. Madri: Alianza, 1984. p. 101.
Católicos na Irlanda e na Irlanda do Norte
OCEANO
ATLÂNTICO
CA
NA
L
O
D
Londonderry
IRLANDA DO NORTE
E
RT
NO
Os protestantes, também conhecidos como
unionistas, querem permanecer sob soberania britânica, enquanto os católicos ou republicanos pretendem se juntar à República da Irlanda. Trata-se
de um conflito iniciado há séculos.
Descendentes dos celtas que se instalaram na
ilha 1.600 anos antes da era cristã, os irlandeses
formam um grupo dotado de uma língua e de uma
identidade bem particulares. No século XII, quando a Inglaterra conquistou a ilha da Irlanda, impôs
uma colonização brutal, confiscando terras, deportando ou massacrando cerca de metade da população local. Com essas medidas, a pequena mas
fértil área do Ulster foi se tornando um reduto majoritariamente inglês.
NORUEGA
Belfast
0
3 km
Católicos (%)
De 10 a 30
De 31 a 50
De 51 a 80
Mais de 80
IRLANDA
Fonte: CHALIAND, Gerard e RAGEAU, Jean-Pierre. Atlas
estratégico e geopolítico. Madri: Alianza, 1984. p. 101.
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O processo de pacificação, entretanto, tem
apresentado avanços e retrocessos. Periodicamente, choques e mortes continuam a ocorrer.
O IRA só se dispôs a entregar parcialmente suas
armas no final de 2001, e órgãos de segurança
britânicos afirmam haver indícios de que o movimento ainda mantém secretamente algumas atividades e um significativo arsenal.
Quando em 1912 a Grã-Bretanha resolveu dar autonomia à Irlanda, os protestantes do Ulster promoveram um levante armado e exigiram manter-se ligados a Londres. Nesse contexto é que os católicos
se organizaram militarmente e formaram o Exército
Republicano Irlandês (IRA), para lutar contra o domínio britânico. Em 1920, a Grã Bretanha propôs a criação de dois parlamentos na Irlanda – um para o Ulster e outro para o resto da ilha. É essa parte que veio
a formar, em 1937, a República da Irlanda ou Eire.
No final da década de 1960, o Ulster começou a
viver uma época de grande turbulência, pois a minoria católica, que sofria grande discriminação, passou a exigir igualdade e o respeito a seus direitos.
Os confrontos com os protestantes tornaram-se
inevitáveis, fato que motivou a intervenção por parte das tropas britânicas. A violenta repressão, acompanhada de ocupação militar iniciada em 1969, levou o conflito para um outro nível, com o IRA dando início a uma contínua campanha terrorista. Como
resposta, grupos de unionistas desenvolveram atos
similares contra os católicos irlandeses.
Árabes, muçulmanos
e o fundamentalismo
islâmico
Somente 25 anos depois, em 1994, é que se abriu
uma perspectiva de paz entre as partes
envolvidas, quando se iniciaram conversações entre
os governos britânico e irlandês e representantes dos
partidos católicos e protestantes da Irlanda do Norte. Em 1998, foi assinado o chamado Acordo de
Páscoa, que garantiu a formação de um parlamento
e de um governo com representação proporcional
de católicos e protestantes na Irlanda do Norte. Pelo
acordo, os republicanos concordaram que a província deveria manter-se subordinada ao Reino Unido
se a maioria de sua população assim quisesse.
Atualmente, o terrorismo que mais tem atraído
a atenção mundial é de origem islâmica. Neste
sentido, é muito importante fazer-se a distinção
entre três importantes conceitos: mundo árabe,
mundo islâmico e fundamentalismo.
Quando usamos o termo árabe estamos nos referindo a um povo, um grupo humano que tem a
sensação de partilhar uma série de características
históricas e culturais – como a língua, por exemplo.
O mundo árabe
OCEANO
ATLÂNTICO
TURQUIA
SÍRIA
IRAQUE
JORDÂNIA
TUNÍSIA
MARROCOS
IRÃ
ARGÉLIA
TRÓPICO
D E C ÂNC
LÍBIA
ER
EGITO
ARÁBIA
SAUDITA
EAU
OMÃ
MAURITÂNIA
SUDÃO
IÊMEN
ERITRÉIA
DJIBUTI
10
N.
IA
ÁL
OCEANO
ÍNDICO
M
Fonte: OLIC, Nelson B. e CANEPA, Beatriz.
Oriente Médio e a Questão Palestina.
São Paulo: Moderna, 2003. p. 29.
8
SO
Países do mundo árabe
Países de expressiva importância
da cultura árabe-islâmica
0
EQUADOR
20 E. Gr.
0
860 km
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A manutenção do Acordo de Páscoa baseia-se
em concessões entre as partes envolvidas: por serem mais numerosos, os protestantes têm garantido uma autonomia que lhes permite impedir a reunificação; por outro lado, eles têm sido obrigados a
aceitar a criação de instituições nas quais a influência política da República da Irlanda é considerável.
Terrorismo
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Assim, os povos árabes formam uma comunidade
de pouco mais de vinte países, localizados em duas
áreas principais: o Oriente Médio e o norte da África. Dos quinze países localizados no Oriente Médio, apenas três (Turquia, Irã e Israel) não fazem parte
do chamado mundo árabe. Já na porção setentrional do continente africano, todos os cinco países –
Egito, Líbia e os três países da região conhecida
como Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia) – fazem
parte do mundo árabe. Há ainda no continente africano pelo menos cinco países (Mauritânia, Sudão,
Djibuti, Eritréia e Somália) onde é expressiva a influência da cultura árabe.
Quando usamos o termo islâmico estamos nos
referindo a uma religião. São sinônimos para islâmico os termos muçulmano ou maometano. O
chamado mundo islâmico engloba mais de 60
países, tendo como principais áreas o Oriente Médio (o único país não-islâmico dessa região é Israel) e o norte da África. No subcontinente indiano
(Paquistão, Bangladesh e Índia), na Ásia central
(Uzbequistão e Cazaquistão, por exemplo), no sudeste asiático (a Indonésia é o país com maior
número de muçulmanos no mundo) e no noroeste da China (região do Xinjiang Uigur), o número
de muçulmanos na população é enorme. Além
disso, a influência islâmica se projeta ainda sobre
amplos espaços da África subsaariana (Nigéria,
por exemplo) e do sudeste da Europa (Bósnia e
Albânia, principalmente).
A religião islâmica surgiu no início do século VII,
na Península Arábica, baseada nos ensinamentos
do profeta Maomé (570-632), que teriam sido revelados por Deus com a mediação do arcanjo Gabriel. O conjunto dessas mensagens divinas forma o Corão, o livro sagrado do Islã. A palavra Islã
significa “aquele que se submete à vontade de
Alá” (Allah: “Deus”, em árabe).
Maomé, integrante de uma tribo árabe que vivia
na Península Arábica, onde hoje se situa a Arábia
Saudita, começou a pregar sua doutrina monoteísta aos 40 anos, mas encontrou forte oposição
em Meca, sua cidade natal. Ele teve então que
fugir para Medina, onde ganhou prestígio e tornouse profeta e legislador. Anos mais tarde, Maomé
e seu exército entraram triunfantes em Meca, que
se tornou o santuário do Islã e principal centro de
peregrinação. Quando morreu, em 632, as tribos
da Arábia já estavam unificadas em torno da língua árabe e da doutrina islâmica.
Com o objetivo de difundir a fé islâmica, exércitos árabes partiram para a conquista de novos territórios na Ásia, África e Europa. Além de converterem as populações conquistadas ao islamismo, propagaram a língua, os costumes e a cultura árabe. O
apogeu do Império Árabe ocorreu por volta de 750
d.C. – quando se estendia desde a Península Ibérica até o norte do subcontinente indiano, passando
pelo norte da África e pelo Oriente Médio. A partir
O mundo islâmico
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
0
OCEANO
PACÍFICO
ATLÂNTICO
0
3.440 km
OCEANO
ÍNDICO
0
Grande maioria (mais de 90%)
Minoria com alguma expressão (de 5 a 24%)
Maioria expressiva (de 50 a 90%)
Minoria pouco expressiva (menos de 5%)
Expressiva minoria (de 25 a 49%)
Área aproximada do mundo muçulmano
Fonte: OLIC, Nelson B. e
CANEPA, Beatriz. Oriente Médio
e a Questão Palestina. São Paulo:
Moderna, 2003. p. 30.
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Informes e Documentos
Como herança desse longo domínio, os países
do Oriente Médio, com a óbvia exceção de Israel,
apresentam uma maioria quase absoluta de populações islâmicas. Mas nem todos fazem parte do
chamado mundo árabe – tanto que os povos da
Turquia e do Irã, apesar de professarem o islamismo, mantêm a identidade cultural turca e persa,
respectivamente. Além do Oriente Médio, a outra
região muçulmana que pertence ao mundo árabe
é o norte da África.
O restante do mundo islâmico (Ásia Central,
Subcontinente Indiano e Sudeste Asiático) está
fora do mundo árabe. Não obstante, nessas regiões estão os países com os maiores contingentes de muçulmanos: Indonésia, com cerca
de 200 milhões; Paquistão, com aproximadamente 150 milhões; Índia e Bangladesh, com
pouco mais de 120 milhões. Atualmente os árabes não representam mais de 20% do total de
muçulmanos do mundo.
Deve-se ressaltar que na Indonésia, Paquistão e
Bangladesh os muçulmanos correspondem à
imensa maioria da população, enquanto na Índia
os muçulmanos correspondem a uma minoria que
engloba cerca de 11% do total da população do
país. No entanto, como a Índia possui mais de 1
bilhão de habitantes, os muçulmanos do país são
mais de 120 milhões de indivíduos, fato que a torna um dos países com maior contingente de seguidores dessa religião.
Países com maior número de muçulmanos (milhões)
200
180
145
150
120
110
100
65
62
50
0
Indonésia
Paquistão
Índia
Bangladesh
Irã
Turquia
Fonte: OLIC, Nelson B. e CANEPA, Beatriz. Oriente Médio
e a Questão Palestina. São Paulo: Moderna, 2003. p. 31.
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Sunitas e xiitas
A religião islâmica apresenta algumas divisões,
com destaque para os xiitas e sunitas. A cisão ocorreu há muitos séculos e esteve associada à sucessão de Maomé. Do ponto de vista político, essa divisão tem sido uma fonte de tensões religiosas em
países como Iraque, Iêmen, Líbano e Afeganistão.
Cerca de 85% dos muçulmanos em todo o mundo são sunitas. No Oriente Médio, região-berço
do islamismo, os sunitas são maioria em quase
todos os países, excluindo-se alguns poucos como
o Irã e o Iraque. Formado por mais de 90% de
xiitas, o Irã foi governado pela minoritária elite sunita (2% da população) até 1979, quando uma revolução derrubou a monarquia e implantou uma
república islâmica no país. No Iraque, até a derrubada do regime de Saddam Hussein, os sunitas,
cerca de 20% da população, exerceram o poder
político. Nesse país, as tensões e conflitos entre
os sunitas e a maioria xiita sempre existiram.
O fundamentalismo islâmico
O fundamentalismo é uma corrente de pensamento existente em praticamente todas as religiões do
mundo. Seus adeptos vêem os textos sagrados
como a única orientação para os diversos aspectos
da vida – das relações familiares e sociais até a organização política. Como interpretam as leis religiosas de forma integral, são conhecidos também
como integristas.
Na atualidade, as correntes fundamentalistas mais
atuantes estão quase todas associadas ao islamismo. Elas ganharam força na esteira da Revolução
Islâmica de 1979, quando pela primeira vez, na história do Irã, os fundamentalistas muçulmanos xiitas chegaram ao poder, por meio de um levante
popular. Sob a liderança política e espiritual do aiatolá (líder espiritual e temporal dos xiitas iranianos)
Khomeini, o Irã tornou-se foco de irradiação do integrismo islâmico. Os ideais fundamentalistas foram, aos poucos, conquistando fatias da população,
organizações e governos em países muçulmanos.
O assassinato do presidente egípcio Anuar Sadat (1981) por radicais islâmicos; a resistência armada do Hezbollah contra a ocupação israelense
no sul do Líbano, a partir de 1982; a luta da Frente
Islâmica de Salvação (FIS) e do Grupo Islâmico
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dessa época, o Império Árabe entrou em lento processo de decadência até a derrota final para os
mongóis, no século XIII.
Terrorismo
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Armado (GIA) na Argélia, iniciada em 1992; e, por
fim, a campanha de ataques e atentados do grupo
palestino Hamas contra alvos israelenses mostram
a crescente importância do fundamentalismo islâmico, nas últimas décadas. Entre os regimes que
receberam a influência da revolução iraniana, estão o paquistanês, o sudanês e o afegão.
Após os ataques criminosos contra as torres
gêmeas do World Trade Center e a sede do Pentágono, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de
2001, o terrorismo passou a ser visto pelas principais potências como uma ameaça de alcance global. A responsabilidade pelos ataques foi atribuída
à organização terrorista Al Qaeda, que se tornou a
inimiga número 1 dos EUA. Sob o comando de
Osama Bin Laden, o grupo tinha a proteção do governo dos talibans, no Afeganistão. Ao lado do objetivo de construir sociedades puramente islâmicas, a Al Qaeda aglutinou simpatizantes de quase
todo o mundo árabe-muçulmano com uma retórica antiocidental e antinorte-americana.
O islamismo radical
contemporâneo
Como fenômeno contemporâneo, o islamismo
radical só emergiu nos anos 50 e 60 do século XX,
graças a pensadores como o paquistanês Abul Ala
Mawdudi e o egípcio Sayd Qutb, os primeiros a
trazerem vigor à idéia de um luta intransigente –
prevendo inclusive o emprego do terrorismo – contra os poderes “apóstatas” estabelecidos. Um dos
tantos resultados da disseminação dessas idéias
foi o assassinato do presidente egípcio Anuar Sadat, em 1981, por militares surgidos desse meio.
Nos anos 1980, a Revolução Iraniana, liderada pelo
aiatolá Khomeini, e a resistência antiisraelense do
Hezbollah no Líbano, imprimiram ao islamismo a
forte marca xiita. Foi esse grupo libanês que usou
pela primeira vez a tática dos homens-bomba.
Com o fim da Guerra Fria (1989) e da primeira
Guerra do Golfo (1991), teve início o terceiro estágio do fundamentalismo islâmico, com frentes muito
mais amplas, trazendo a primazia sunita e – em particular depois de 2001 – um terrorismo antiocidental de caráter global. Hoje é preciso distinguir as lutas islamistas limitadas a uma região dos projetos
de caráter universalista. Na Bósnia e na Chechênia,
o Islã se “nacionalizou”, passando de comunidade
confessional a identidade étnica; em outros conflitos, como no Afeganistão e na Palestina, ocorreu o
oposto: foi o nacionalismo que islamizou progressivamente a população.
O islamismo como projeto universalista, tipicamente não-territorial, cujo protótipo é a Al Qaeda,
espalha-se atualmente sob a forma de clones clandestinos dessa organização, atuando em uma grande gama de países, principalmente afro-asiáticos.
Ao contrário dos conflitos localizados, que utilizam
o Islã como arma numa luta essencialmente nacional ou territorial, o islamismo global pretende destruir tanto as particularidades dentro do próprio
mundo muçulmano quanto o pluralismo da comunidade internacional, praticando o massacre maciço de não-muçulmanos.
Hoje os piores tipos de fanatismo ligados ao “islamismo universalizado” ocorrem em países onde
o processo da modernização ocidental é mais forte, traumático ou malsucedido, como os do mundo árabe do norte da África e do Paquistão, além
de florescer em lugares em que minorias muçulmanas enfrentam maior tensão e alienação, como
na Europa ocidental.
Apesar de sua aparência arcaica, o fundamentalismo muçulmano utiliza os meios mais avançados
para atingir sua finalidade – desde uma comunidade islamista virtual, na internet, até armas de destruição em massa – e está intrinsecamente conectado ao mundo moderno, o mesmo que pretende
As idéias do aiatolá Khomeini
No momento de defecar ou urinar, é preciso se
agachar de modo a não ficar de frente nem dar as
costas a Meca.
O vinho e as outras bebidas que embriagam são
impuras, mas o ópio e o haxixe não o são.
A mulher que deseja continuar seus estudos com
o fim de ganhar a vida por meio de um trabalho
decente, e que tenha um homem como professor,
poderá fazê-lo, se cobrir o rosto e se não tiver contato com os homens. Mas, se isso for inevitável e
contrariar os princípios religiosos, ela deverá renunciar aos estudos.
Não se deve abater um animal numa quinta-feira
à noite ou numa sexta antes do meio-dia.
É muito reprovável barbear-se, seja com barbeadores de lâmina ou elétricos.
KHOMEINI, Aiatolá. Princípios políticos, filosóficos, sociais e
religiosos do aiatolá Khomeini. Rio de Janeiro: Record, 1981.
11
Informes e Documentos
destruir. Ao explorar as múltiplas vulnerabilidades
do mundo globalizado, o fanatismo islamista exibe
uma combinação especificamente moderna, em
que a irracionalidade passional dos fins contrasta
com a racionalidade friamente calculada dos meios. O caráter altamente aterrador do projeto, que,
apesar de mobilizar uma minoria de muçulmanos,
atrai mais adeptos a cada dia, acontece graças à
exacerbação das injustiças e dos erros cometidos
pelo Ocidente.
“guerreiros da fé” que combateram as tropas soviéticas invasoras, no Afeganistão.
Financiando o terrorismo
islâmico
Na segunda etapa, os “guerreiros da fé” voltaram-se contra a monarquia saudita. Essa crise resultou do apoio da Arábia Saudita aos Estados
Unidos na Guerra do Golfo (1991) e da permissão
para que se instalassem bases americanas permanentes no país, que abriga Meca, a cidade santa
do islamismo. Na época líderes muçulmanos declararam que “pés ocidentais estavam conspurcando o solo sagrado do Islã”.
A monarquia saudita, estruturada sobre um clã
da Arábia central, firmou, no final do século XVIII,
um pacto com a seita islâmica wahabita. Fanáticos
defensores de um Islã puritano e inflexível, os wahabitas forneceram a linha de frente das forças da
monarquia, contribuindo para sua vitória nas inúmeras guerras que envolveram tribos árabes da Península Arábica. A monarquia criada por Ibn Al Saud
nos primeiros anos do século XX baseou-se no acordo da dinastia com os puritanos wahabitas.
Durante décadas, a família real conservou uma
posição dominante no pacto, enquanto os wahabitas exigiam apenas a manutenção dos seus direitos nos aspectos religiosos. Foi assim que o governo saudita pôde se tornar um aliado preferencial
dos Estados Unidos – bastava que as regras religiosas continuassem valendo nos assuntos civis do
país. Todavia, com o tempo e a complexidade cada
vez maior nas relações internacionais, houve uma
politização do wahabismo que foi se transformando numa oposição à aliança entre a monarquia saudita e os Estados Unidos.
Num primeiro momento, que pode ser localizado no início da década de 1980, essa politização
pareceu servir tanto à monarquia quanto aos norte-americanos. Com o apoio dos fundamentalistas sauditas, foram recrutados e armados os
12
Foi nesse contexto que Bin Laden acusou a monarquia saudita de sujeitar-se à política mundial dos
infiéis, declarou a jihad (“guerra santa”) contra os
Estados Unidos e instalou-se no Afeganistão.
Paralelamente, cresceram as manifestações de
oposição à monarquia, que foi obrigada a reprimir
as lideranças mais radicais do islamismo político
e, ao mesmo tempo, fazer vistas grossas ao financiamento da Al Qaeda a partir de ramos da própria
família real.
A Al Qaeda como
“fonte de inspiração”
A mais importante mudança no terrorismo nos
últimos anos foi a transformação da Al Qaeda,
rede liderada por Osama Bin Laden, de “um grupo num movimento, num conjunto de idéias e
métodos”, de acordo com estudo publicado pelo
Instituto de Defesa e de Estudos Estratégicos de
Cingapura (IDEEC).
Em 2001, após a invasão do Afeganistão por parte dos Estados Unidos, elementos da Al Qaeda
prosseguiram a trabalhar com grupos terroristas
que, desde a década de 1990, vinham sendo financiados, treinados e doutrinados graças à proteção e apoio do regime taliban, movimento religioso que governava o Afeganistão. Por meio da internet, do correio e de visitas de especialistas em
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A Arábia Saudita é o mais importante centro de
difusão do islamismo político contemporâneo. Esse
fato constitui um profundo paradoxo, pois o Estado
saudita tornou-se, desde o final da Segunda Guerra
Mundial, o principal aliado dos Estados Unidos na
região do Golfo Pérsico e, desde os choques de
preços do petróleo dos anos 1970, o parceiro crucial na regulação do mercado mundial do petróleo.
Alguns anos mais tarde, o dinheiro saudita também financiou os muçulmanos bósnios na Bósnia, os guerrilheiros chechenos que continuam
a desafiar a Rússia e os separatistas albaneses
de Kosovo na Sérvia. Nos tempos da guerrilha
anti-soviética no Afeganistão, Osama Bin Laden
teve o apoio da Central de Inteligência Americana (CIA) e de importantes figuras do governo
saudita.
táticas de combate, a Al Qaeda passou a compartilhar mais intensamente com outros grupos extremistas seu amplo conhecimento em terrorismo, dirigido a fortalecer uma campanha terrorista
contra os Estados Unidos, os aliados e os amigos
daquele país.
no Iraque. Imitando procedimentos da Al Qaeda,
grupos chechenos cometeram, nos últimos anos,
atentados espetaculares num teatro em Moscou,
em aviões em pleno vôo e em uma escola na república russa da Ossétia do Norte, causando centenas de mortes.
Por representar a vanguarda dos movimentos islâmicos, a Al Qaeda tem exercido expressiva influência sobre outros grupos similares espalhados
por várias partes do mundo. Muitos deles têm
copiado seus estilos de atentados suicidas, tal
como vem acontecendo no Iraque. Do mesmo
modo, as táticas, técnicas e tecnologias da Al Qaeda se espalharam por boa parte do mundo desde
o 11 de setembro de 2001 e a ameaça terrorista
tornou-se bem mais dispersa e difusa, contaminando tanto os grupos já existentes quanto os que
começaram a aparecer.
A ação norte-americana no Afeganistão, em
2001, levou à dispersão de vários milhares de terroristas, que deixaram o país e se estabeleceram
em zonas sem lei (regiões de países controladas
por guerrilheiros ou pelo crime organizado), situadas em vários lugares do mundo, como o Iraque,
o Iêmen, a área de fronteira entre o Paquistão e o
Afeganistão, a Caxemira, o sul das Filipinas, a Somália e a Chechênia.
Em 2004, órgãos de segurança britânicos descobriram em Londres um circuito usado em carrosbomba idêntico aos utilizados na Arábia Saudita e
SERGEI KARPUKHIN/REUTERS-NEWSCOM
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Terrorismo
Se o desmantelamento da infra-estrutura terrorista no Afeganistão diminuiu a capacidade organizativa da Al Qaeda, a dispersão de seus membros
expandiu significativamente os limites da violência terrorista. Assim, no lugar do Afeganistão, o
Paquistão e, principalmente o Iraque, tornaram-se
os novos centros de gravidade do terrorismo internacional.
Uma ameaça maior
que o terrorismo
O ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono,
em 11 de setembro de 2001, considerado até
agora o maior ataque terrorista da história, fez
mais de duas mil vítimas fatais. A ação de grupos extremistas no Iraque, ocupado desde 2003
pela forças da coalizão comandada pelos Estados Unidos, já provocou mais de 15 mil mortes
(das quais cerca de duas mil foram de soldados
norte-americanos).
Entretanto, enquanto os impactos dos atentados
terroristas estremecem o mundo, uma ameaça surda vai assumindo proporções alarmantes: se nada
for feito para combater o aquecimento global,
cuja causa principal é a emissão antropogênica de
dióxido de carbono, o número de vítimas será infinitamente maior a longo prazo.
Mãe olhando para o filho morto no atentado terrorista contra
escola de Beslan, na Ossétia do Norte, Federação Russa,
setembro de 2004.
Um dos principais efeitos do aumento das temperaturas globais é o acelerado derretimento das
calotas polares, tanto no hemisfério norte como
na Antártida. Esse fenômeno, por sua vez, acarreta um aumento do nível dos oceanos. Segundo
13
Informes e Documentos
previsões, o aumento do nível dos oceanos poderá chegar a 1 metro ao longo do século XXI, o que
seria catastrófico para alguns países de relevo baixo como Bangladesh (cerca de 150 milhões de habitantes) e para várias ilhas do Pacífico. Além disso, das dezenove maiores cidades do planeta, dezesseis são litorâneas, e mais da metade da população mundial vive em áreas costeiras.
(CO2), está mais que comprovada. Se as atividades primárias e os desmatamentos geram importantes quantidades de CO2, sabe-se que cerca de
60% do total das emissões de “gases de estufa”
originam-se da queima de combustíveis fósseis,
especialmente o petróleo e carvão. O PIB, o patamar de industrialização e a matriz energética explicam o nível das emissões de cada país.
Evidências científicas indicam que houve um aumento de 0,5 °C na temperatura média do planeta
desde 1975. As médias térmicas nos últimos 30
anos são as maiores do milênio. Desde 1990, já
são sete os anos que figuram entre os mais quentes desde que se fazem registros térmicos sistemáticos. O aquecimento global é uma realidade e
já afeta, direta e indiretamente, populações de todos os recantos do planeta.
Um mundo mais quente trará uma grande variedade de impactos para o meio ambiente, para a
saúde humana e para sociedade como um todo.
O comportamento dos animais e das plantas já dá
sinais de mudança. Haverá alterações na duração
das estações, do crescimento dos vegetais, produção, colheita e também na competição entre espécies animais, levando-as a se deslocar por longas distâncias em busca de novos hábitats. Muitas espécies poderão, inclusive, ser extintas.
Atividade 1
Jogo: Onde vai ser o atentado?
Material necessário para o jogo:
• seus conhecimentos de Geografia;
• um atlas geográfico.
Vamos supor que você faça parte de organismo
de segurança e tenha recebido uma mensagem
em código, comunicando que haverá um atentado terrorista na capital de um país do mundo. O
grupo responsável pelo atentado avisou que o mesmo poderia ser evitado se fosse decifrado um enigma. Esse enigma teria três etapas.
Na primeira há uma descrição de quatro países,
cuja identificação deve ser feita mediante “dicas”
geográficas fornecidas. A segunda etapa seria a
de separar uma letra de cada país identificada na
primeira etapa, segundo indicações fornecidas.
Na última etapa, rearranjando as letras conseguidas, você terá o nome da cidade e evitará o
atentado. Então, vamos lá.
Descrição do primeiro país:
Situado inteiramente em zona temperada, esse
país não possui litoral e tem fronteiras internacionais com apenas dois Estados, e um deles tem
14
Sem dúvida, o aquecimento global é uma ameaça bem maior do que o terrorismo.
“muita terra”, e o outro, “muita gente”. Sua capital tem nome composto.
Nome do país: MONGÓLIA
Selecione a primeira consoante deste nome: M
Descrição do segundo país:
Situado parcialmente na zona temperada, esse
país é cortado por um dos trópicos. Não possui
fronteiras terrestres com nenhum outro país e
seu ponto mais elevado, com 2.230 metros, localiza-se na porção sudeste. Sua cidade principal tem nome masculino e, na porção meridional, existe uma cidade com nome de mulher.
Nome do país: AUSTRÁLIA
Selecione a vogal que aparece repetida
três vezes neste nome: A
Descrição do terceiro país:
É banhado em sua porção setentrional por um
mar quase fechado. Sua parte meridional é cortada pelo Trópico de Câncer. Mais de 90% de
sua população concentra-se próxima ao litoral,
visto que, daí para o sul, a ocupação humana
fica prejudicada pelas condições climáticas.
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A contribuição das atividades humanas para a
emissão de gases causadores do aumento do efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono
Terrorismo
Foi colônia francesa até o início da década de
1960 e, desde 1992, seu governo tem vivido em
conflitos com fundamentalistas islâmicos.
Atividades geradoras de gases de estufa
4%
8%
Nome do país: ARGÉLIA
Selecione a primeira consoante que aparece
no nome do país: R
Produção e consumo
de energia
Emissão de CFC
14%
57%
Agricultura
Desmatamento
17%
Indústria
Descrição do quarto país:
Situado inteiramente na zona temperada, o país
em questão é banhado em sua porção oriental
por um mar quase fechado. Em sua fronteira sul
encontra-se um país cujo nome começa com B,
e a capital deste, com S.
Fonte: GREENPEACE. Aquecimento global.
Emissões anuais de dióxido de carbono
(% do total mundial)
Estados Unidos
Nome do país: ROMÊNIA
Selecione a primeira vogal que aparece no
nome do país: O
China
24,1%
Rússia
41%
Japão
Nome da cidade onde ocorreria o atentado:
ROMA
Entrevista com Osama Bin Laden
Vamos supor que você seja um jornalista e, num
“furo” de reportagem, tenha conseguido uma oportunidade de fazer uma entrevista com o terrorista
mais procurado do mundo. Com base em seus conhecimentos sobre Bin Laden, você vai escrever uma
reportagem que contenha os seguintes pontos:
Atividade 3
Leitura de gráficos e produção de texto
Com base nas informações contidas nos gráficos e em seus conhecimentos, produza um texto
no qual estejam presentes as causas e as conseqüências do aquecimento global do planeta. Como
conclusão, você deverá opinar sobre a seguinte
frase: o aquecimento global é uma ameaça maior
que o terrorismo?
Alemanha
8%
4% 5%
Outros
Previsão de elevação das temperaturas globais
6
Previsão inicial
5
Previsão recente (Haia, 2000)
4
3
2
1
a) uma descrição das peripécias pelas quais você
passou para ser levado ao esconderijo onde fez
a entrevista;
b) quatro perguntas que foram feitas a Bin Laden,
com suas respectivas respostas.
Índia
Fonte: WORLD RESOURCES INSTITUTE. World
Resources 1998-1999.
( C)
Atividade 2
3,7%
0
2000
2020
2040
2060
2080
Ano
2100
Fonte: Unep e WMD.
Previsão de elevação do nível do mar
(cm)
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14,1%
100
Limite superior
80
Limite inferior
60
40
20
0
2000
2020
2040
2060
2080
Ano
2100
Fonte: Unep e WMD.
15
Informes e Documentos
BALENCIE, Jean-Marc e LA GRANGE, Arnaude de
(orgs.). Mondes rebelles: guerres civiles et violences politiques. Paris: Michalon, 1999.
BOYD, Andrew. An atlas of world affairs. 10. ed.
Londres: Routledge, 1998.
BRENER, Jayme. Jornal do século XX. São Paulo:
Moderna, 1998.
CARR, Caleb. A assustadora história do terrorismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
CHALIAND, Gerard e RAGEAU, Jean-Pierre. Atlas
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DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004.
OLIC, Nelson Bacic. Conflitos do mundo: questões
e visões geopolíticas. São Paulo: Moderna, 2000.
OLIC, Nelson Bacic e CANEPA, Beatriz. Oriente
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RAMONET, Ignácio. Guerras do século XXI. Petrópolis: Vozes, 2003.
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Periódicos
Guerra na paz (vários números). Rio de Janeiro:
Rio Gráfica, 1984.
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LA COSTE, Yves (dir.). Diccionnaire de geopolitique. Paris: Flammarion, 1995.
Equipe editorial
Maria Raquel Apolinário
Manuel Carlos Garcez Kopezynski
Carlos Zanchetta
Elaboração de originais
Nelson Bacic Olic
Graduado em Geografia pela USP
Professor de Geografia no Ensino Médio
Editor do boletim Mundo – Geografia e Política Internacional
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MAGNOLI, Demétrio. O mundo contemporâneo.
São Paulo: Atual, 2004.
Atualidades Vestibular. São Paulo: Abril, 2003/2004.
Jornal Folha de S.Paulo.
Mundo – Geografia e Política Internacional (vários
números). São Paulo: Pangea, 2003/2004.
Jornal O Estado de S. Paulo.
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Bibliografia
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