TÁTICAS ALIMENTARES DOS PEIXES DOS RIOS ESTIVADO, SALOBRAS E TRISTE (BACIA DO PARAGUAI) EM NOBRES, MT (1) Tomazzelli, P.I. ; Bessa, E. (2) 1 Acadêmica do curso de Biologia – UNEMAT. Laboratório de Ecologia Comportamental da 2 Reprodução, LECR Campus Universitário de Tangará da Serra. – email: [email protected] ; Professor Orientador, Laboratório de Ecologia Comportamental da Reprodução, LECR Depto. de Ciências Biológicas, UNEMAT. Resumo: A região de Nobres possui um crescente ecoturismo, com grut as, águas cristalinas e uma rica ictiofauna. Muitas espécies são de interesse dos visitantes, como as piraputangas, piaus e dourados, porém, a diversidade de peixes de menor porte passa despercebida. Para registrar esta fauna e as táticas alimentares por e la apresentada foram realizadas 36 h de mergulho livre, com captura fotográfica subaquática e coleta de espécimes para a identificação. Foram utilizados os métodos ad libitum e animal focal, para as descrições comportamentais. As 14 espécies observadas apr esentaram táticas diversas, como captura de itens alóctones, predação de tocaia ou de perseguição, pastejo, especulação de substrato ou raspagem, assim como diversos habitats diferentes dentro do rio. Apesar de ser realizado por espécies diferentes, o ecos sistema de rio de cabeceira em Nobres está bem completo e apresenta alta complexidade, comprovando a riqueza e também a fragilidade deste ambiente. Palavras-chave: Ictiofauna, Ecoturismo, Forrageamento, Cabeceiras. Introdução: É através da dieta que os a nimais obtêm o alimento de que necessitam para crescer, manter sua homeostase e reproduzir -se. Os mecanismos comportamentais que os animais usam para obter alimento são chamados de táticas alimentares, já que podem variar entre indivíduos e pela localidade de acordo com a disponibilidade de recursos alimentares (A LCOCK, 2009). A dieta dos peixes é tão diversa quanto suas espécies (L OWE-McCONNELL, 1999), cada ecossistema tem uma ou algumas espécies ocupando guildas tróficas como predadores, herbívoros, planc tívoros e parasitas. Além disso, os peixes podem ser muito plásticos em relação a suas dietas, aproveitando o que houver disponível. Contudo, o exercício do papel trófico de cada espécie é um fator chave na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas aquátic os e pode ser um bom método diagnóstico da qualidade daquele ambiente. A região de Nobres possui um crescente interesse no ecoturismo, com grutas, águas cristalinas e uma rica ictiofauna. Muitas espécies são de interesse dos visitantes, como as piraputang as, piaus e dourados, porém, a diversidade de peixes de menor porte passa despercebida. O progresso do turismo, porém, pode acarretar impactos ambientais. Portanto é interessante conhecer a ecologia dos peixes ali existentes, tanto para regular os impactos do ecoturismo quanto para permitir que o visitante compreenda o que observa nos rios. Desta forma, o objetivo do presente trabalho é descrever as táticas alimentares dos peixes de Nobres. Material e Métodos: Para registrar esta fauna e as táticas aliment ares por ela apresentadas foram realizadas 36 h de mergulho livre. Também foram feitas fotografias subaquáticas com uma câmera digital protegida por caixa estanque de acrílico usando o recurso macro como sugerido por S ABINO (1999). Utilizou-se os métodos ad libitum (todas as ocorrências) e animal focal, para as descrições comportamentais (MARTIM E BATESON, 2007), que foram feitas em prancheta de acrílico a lápis sobre folha de poliéster impressa a laser, todo o conjunto é resistente à água. A coleta de espécimes foi realizada com peneiras e covos usando como isca farinha e óleo de sardinha. A identificação foi feita com o auxílio de B RITSKI, SILMON E LOPES (2007) e KRINSKI E MIYAZAWA (2009). Resultados e Discussão: Foram observadas 14 espécies, seus comport amentos e locais de vida preferenciais (Tabela 1). Espécie Lambari Astyanax bimaculatus Piraputanga Brycon hilarii Characidium zebra Joaninha Joaninha Mato Grosso Lápis Curimba Lambari Crenicichla lepidotta Crenicichla vittata Hyphessobrycon eques Dourado Camboatá Leporellus sp. Parodon SP Prochilodus sp. Moenkhausia sanctafilomenae Salminus brasiliensis Callichthys sp. Cascudo Hypostomus sp. Tática alimentar Cata de itens alóctones Cata de itens alóctones Captura de animais bentônicos Predador de espreita Predador de espreita Cata de itens alóctones Raspador de substrato Raspador de substrato Comedor de fundo Cata de itens alóctones Habitat Lâmina d’água Lâmina d’água Fundo arenoso Fundo rochoso Fundo rochoso Banco de macrófitas Fundo rochoso Fundo rochoso Fundo arenoso Lâmina d’água Predador de perseguição Meia água Especuladores de Fundo arenoso substrato Raspador de substrato Fundo rochoso ou troncos Foram registradas até o presente momento oito táticas alimentares para os peixes dos riachos de Nobres. A tática alimentar mais empregada foi a de cata de itens alóctones, utilizada p or quatro espécies. SABINO (2000 ), também a cita como a mais difundida em um igarapé da Mata Amazônica. A tática de raspar substrato foi em segundo lugar a mais utilizada, sendo empregada por Hypostomus, Leporellus e Parodon. Conclusão: O ecossistema de riacho de cabeceira tem diversos nichos que estão todos preenchidos em Nobres, no entanto os organismos a realizarem cada um destes nichos são diferente s dos encontrados em outros locais. Isto atesta ainda a complexidade ecológica destas cabeceiras, assim como sua fragilidade. Para descrição mais detalhada dos comportamentos exibidos pelos peixes, são necessárias mais observações e coletas principalmente para aqueles de menor porte. Isto deverá ocorrer com a continuidade deste projeto que está apenas em seus primeiros meses de execução, somando tanto horas de observação quanto coletas e estudos paralelos ao aqui apresentado enfocando a dieta e a reprodução destas espécies. Referências Bibliográficas ALCOCK, J. Animal Behavior, an evolutionary approach. Nova Iorque, Sinauer & Associates. 2009. BRITSKI, H. A. ; SILIMON, K. Z. S. ; LOPES, B. S. . Peixes do Pantanal: manual de identificação 2a. edição r evista e ampliada. 2a.. ed. Brasília: Embrapa, 2007. v. 1. 230 p. KRINSKI, D. ; MIYAZAWA, C. S. Peixes de Riachos de Cabeceira de Tangará da Serra, Mato Grosso: lista de espécies e a bordagem citogenética. 1. ed. Cuiabá/MT: KCM Editora, 2009. v. 500. 158 p . LOWE-McCONNELL, R. H. Estudos Ecológicos de Comunidades de Peixes Tropicais. São Paulo, EdUSP. 1999. MARTIM, P. E BATESON, P. Measuring Behavior, an introductory guide. Harvard, Cambridge Universitary Press. 2008. SABINO, J. Comportamento de peixes em riachos, métodos de estudo para uma abordagem naturalística. Oecologia Brasiliensis, v. VI. PPGE -UFRJ, rio de Janeiro. 1999. SABINO, J. Estudo comparativo em comunidades de peixes de riachos da Amazônia Central e Mata Atlântica: Distribuição espacial, pa drões de atividade e comportamento alimentar. 2000.152 f. Tese (Doutorado em ecologia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2000.