ARTRITE REUMATOIDE CANINA

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42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR
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ARTRITE REUMATOIDE CANINA – RELATO DE CASO
REBECA BACCHI-VILLANOVA1, GUILHERME FERNANDO DE CAMPOS2; POLIANA
FREITAS2; SABRINA MARIN RODIGHERI3; PATRÍCIA MOSKO1; ALYNE ARIELA2
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal – PUCPR
2
Médico Veterinário Autônomo
3
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Veterinária – FCAV-UNESP/Jaboticabal
RESUMO
A artrite reumatoide é uma artropatia erosiva imunomediada de
etiologia desconhecida, rara em cães. Foi atendido um paciente da
espécie canina com histórico de deformidade nas articulações rádioulnar-carpianas com evolução de 3 anos. Apresentava apatia, perde de
peso, rigidez após repouso, edema articular e claudicação de apoio. O
diagnóstico foi de artrite reumatoide, sendo tratado com prednisolona,
tramadol e amitriptilina. Cerca de 90 dias após o diagnóstico, a paciente
permaneceu estável e parcialmente ativa, porém com progressão das
alterações morfológicas da doença nas articulações referidas.
Palavras-Chave: cães, doença imunomediada, artropatia erosiva.
CANINE RHEUMATOID ARTHRITIS – CASE REPORT
ABSTRACT
Rheumatoid arthritis is an imune-mediated erosive arthropathy with
unknown etiology and it’s unusual in dogs. A female dog with deformity
in radioulnar carpal joint with 3 years of evolution, presenting lethargy,
hyporexia, progressive weight loss, stiffness after resting, edema
articular and such a difficulty in walking. Through exams the patient was
diagnosed with rheumatoid arthritis and treated with prednisolone,
tramadol and amitriptyline. About 90 days after diagnosis, the patient
remained stable and partially active. There was progression of
morphological changes in the joints.
Keywords: dogs, imune-mediated disease, erosive arthropathy.
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Introdução
Artrites são afecções articulares inflamatórias separadas em
diferentes classificações, sendo infecciosas e não infecciosas, que por
sua vez são divididas em erosivas e não erosivas (Brenol et al., 2007). A
artrite
reumatoide
é
um
artropatia
autoimune,
não-infecciosa,
caracterizada pela destruição crônica, bilateralmente e erosiva das
articulações (Brenol et al., 2007). Os antígenos são imunoglobulinas
alteradas do hospedeiro (IgG e IgM), conhecidas como fatores
reumatoides. É uma condição incomum, que ocorre em cerca de 2 para
cada 25000 cães (Bennet, 2004), causando lesões irreversíveis e muito
dolorosas, afetando drasticamente a qualidade de vida dos pacientes
acometidos. Poucos pesquisadores dedicam-se a este tema, o que
distancia da cura desta doença (Goeldner et al., 2011). Este trabalho
tem como propósito apresentar um caso de artrite reumatoide canina
discutindo seus principais aspectos.
Relato de caso
Um cão, sem raça definida, fêmea, de 5 anos de idade, foi
atendido em um hospital veterinário com um histórico de deformidade no
carpo com evolução de 3 anos. Há um mês apresentava apatia,
hiporexia, emagrecimento progressivo, rigidez após repouso das
articulações referidas e grande dificuldade de locomoção. Alopecia em
face medial de região társica esquerda também foi relatada pelo
responsável, devido a lambedura constante deste local. No exame
ortopédico foi observado edema, efusão articular, crepitação e
instabilidade em região de carpo bilateralmente com severa deformidade
valga. A radiografia da articulação rádio-ulnar-carpiana revelou edema e
espessamento de tecidos periarticulares bilateralmente, subluxação dos
ossos do carpo, áreas de erosão subcondral de rádio, ulna e
metacarpos com discreta reação periosteal. Já na articulação társica
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esquerda, foi detectado edema e dor à manipulação, sem alterações
radiográficas significativas. O exame ultrassonográfico abdominal,
hemograma, exames bioquímicos (alanina aminotransferase (ALT),
fosfatase alcalina (FA), creatinina e uréia) e urinálise não revelaram
alterações. Foi realizada artrocentese da articulação cárpica direita, na
qual o líquido sinovial apresentou-se turvo com valores de proteína e
neutrófilos acima do valor de referência, e coloração eosinofílica ao
fundo indicando presença de mucina. Foi prescrito prednisolona (3
mg/kg/SID/30 dias), cloridrato de tramadol (3 mg/kg/TID/15 dias) e
amitriptilina (2,14 mg/kg/BID por tempo indeterminado). Após 30 dias de
tratamento, o paciente apresentava-se mais ativo e com redução do
edema articular. Foi recomendada a redução gradual da dose diária de
prednisolona para 1,4 mg/kg. Após nove dias, o paciente manteve-se
estável e a dose da prednisolona foi mantida, passando o intervalo de
administração para 48 horas. Três meses após o diagnóstico e início do
tratamento, o paciente permaneceu estável e ativo, com discreta
progressão das alterações morfológicas da doença.
Discussão
A artrite reumatoide pode acometer cães de qualquer raça, sendo
mais observada em adultos (Goeldner et al., 2011), conforme observado
no caso referido. A maioria dos cães afetados apresenta histórico de
rigidez após períodos de repouso, apatia, anorexia, febre, claudicação
ou dificuldade de locomoção (Goeldner et al., 2011). Normalmente a
destruição crônica e erosiva é bilateralmente simétrica (Renberg, 2005).
O paciente do presente relato apesentou todos os sinais clínicos
descritos, com exceção da febre. Conforme a doença progride, o exame
clínico revela crepitação, frouxidão, luxação e deformidade nas
articulações (Goeldner et al., 2011), assim como observado nas
articulações de membros torácicos do paciente, nas quais a doença se
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mostrou mais avançada. As articulações do carpo deste paciente
apresentavam
deformidades
angulares
óbvias,
provocando
a
claudicação, sendo isso relatado por diversos autores (Pedersen et al.,
2005; Renberg, 2005). Os sinais radiográficos concordam com a
literatura (Brenol et al., 2007). Na avaliação do líquido sinovial é
esperada uma elevada contagem de neutrófilos (Renberg, 2005),
presença de precipitado de mucina, aspecto turvo da amostra e
ausência de microrganismos (Renberg, 2005), o que indica uma sinovite
inflamatória (Pedersen et al., 2005). No hemograma podem ser
detectadas alterações relacionadas ao processo inflamatório, como
leucocitose por neutrofilia (Pedersen et al., 2005), embora o paciente
não apresentasse estes achados hematológicos.
Lúpus eritematoso sistêmico (LES) deve ser descartado (Renberg,
2005). O paciente possuía apenas dois sinais que estão presentes no
LES: poliartrite e lesões cutâneas, no entanto as lesões cutâneas eram
causadas por lambedura, sugerindo dor devido ao comprometimento
articular. A urinálise da paciente não possuía alterações, descartando, a
glomerulonefrite, uma das complicações mais comuns do LES. Além
disso, a artrite por LES se apresenta não erosiva na radiografia (Colopy
et al., 2010). No paciente descrito, apesar de não ter sido possível dosar
o fator reumatoide, o diagnóstico foi baseado no histórico, sinais
clínicos, achados radiográficos, pela presença do precipitado de mucina
no líquido sinovial e pela exclusão de outras doenças que causam esse
tipo alteração articular. O tratamento da artrite reumatoide canina
baseia-se na imunossupressão. (Goeldner et al., 2005). O objetivo
principal do tratamento é a remissão dos sinais clínicos e retorno
razoável da função dos membros (Goeldner et al., 2005) objetivos
alcançados no paciente descrito. Como o uso de corticosteroides pode
trazer muitos efeitos colaterais a procura por novas drogas tem sido
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realizada. Dentre estas drogas está a leflunomida, que tem se mostrado
eficaz do tratamento desta afecção (Colopy et al., 2010). Campos et al.
(2014) demonstraram resultados satisfatórios com o emprego dessa
droga. A monoterapia com a prednisolona foi suficiente para recuperar a
qualidade de vida da paciente do presente relato, porém não foi possível
avaliar seus efeitos colaterais a longo prazo.
Conclusão
A artrite reumatoide é uma doença incomum na medicina
veterinária e de difícil manejo, uma vez que seu tratamento, na maioria
das vezes, é baseado no uso de corticoides e estes possuem muitos
efeitos colaterais. Embora se consiga um razoável controle da dor e
remissão dos sinais clínicos com a imunossupressão, as lesões
previamente instaladas possuem caráter irreversível. O diagnóstico é
feito pela dosagem do fator reumatoide, porém o histórico, sinais clínicos
e radiográficos são fortes sinalizadores da doença.
REFERÊNCIAS
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BRENOL, C.V.; MONTICIELO, O.A.; XAVIER, R. M. et al. Artrite reumatóide e
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gato. São Paulo, Ed: Guanabara, 2004, p. 1958-1965.
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4.
RENBERG, W. C. Pathophysiology and Management of Arthritis. Veterinary
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na artrite eroerosive um cão – relato de caso. Anais do XI Congresso Brasileiro
De Cirurgia do CBCAV e I Congresso Internacional de Cirurgia do CBCAV, p.
370-373, 2014.
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