A FILOSOFIA COMO FERRAMENTA IMPORTANTE PARA A ADMINISTRAÇÃO: REFLEXÕES A RESPEITO DA SUA INFLUÊNCIA Quando o homem primitivo começou a refletir sobre suas ações tem-se os primeiros rudimentos da filosofia. O mundo se tornou uma aldeia global. As teorias administrativas podem ser entendidas através dos diferentes períodos históricos voltados à uma Teoria do Conhecimento e uma Ética. Claudia Mara1 INTRODUÇÃO Desde que o homem primitivo começou a refletir sobre suas ações, tem-se os primeiros rudimentos da filosofia, isto é, o esforço para entender os fatos e acontecimentos a sua volta, entretanto para efeito de estudo sistematizado, aceita-se que a Filosofia Ocidental surge nas colônias gregas da Ásia Menor, representando um enorme avanço no desenvolvimento do homem em relação ao seu passado. Surgiu no momento em que o ser humano se tornou autoconsciente, contrapondo-se as explicações mitológicas dos deuses gregos de até então. Buscar conhecer como são as coisas da vida através da filosofia para entender racionalmente o mundo, eis a pretensão da filosofia. Com base em tal pretensão, grandes descobertas ocorreram. Ao se reportar a história constata-se que, praticamente, todos os povos da antiguidade desenvolveram formas diferentes de saber. Os indianos e mulçumanos desenvolveram a matemática e a astronomia; os egípcios a trigonometria; os romanos, a hidráulica e o direito; os gregos além de desenvolverem geometria, a mecânica, a lógica, a astronomia, sistematizaram filosoficamente as condições de formação do conhecimento e assim por diante. A ética sempre fez parte da filosofia, tendo como seu objeto de estudo a moral, o dever fazer, a qualificação do bem e do mal, a melhor forma de agir coletivamente. Procura estabelecer princípios e universalmente válidos de valorização e condução na vida. Entretanto, cada época histórica possui uma determinada moral. A partir do momento em que a ciência e a tecnologia começaram a ocasionar enormes riscos de malefícios à natureza e à humanidade, através de acontecimentos como a explosão das bombas atômicas (que destruíram Hiroshima e Nagasaki no final da II Guerra Mundial); contaminação de lagos, rios, mares e alimentos por substâncias tóxicas; ocorrências de danos ecológicos; exploração abusiva de florestas; poluição ambiental; desastres nucleares como o de Chernobyl; guerras bacteriológicas; clonagem; manipulações genéticas; a ética adquiriu novo relevo vindo a ocupar a mente e os debates de muitos cientistas e dos seres humanos. 1 Antes de mais nada quero mencionar que este artigo foi escrito a quatro mãos com meu amigo e colega de profissão Cláudio de Abreu Júnior que é Filósofo, e vive atualmente em Buenos Aires, Argentina, e-mail:[email protected] Cláudio de Abreu Júnior, possui graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2002) e mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2006). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Epistemologia, atuando principalmente em Filosofia da Ciência. Atualmente é doutorando pela Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), participa também do Programa de Pesquisa Filosofia e História da Ciência, Universidad Nacional de Quilmes - IEC-UNQ. As imensas transformações no mundo da tecnologia implicam num processo vertiginoso de transformação social, no que se refere às mudanças do modo de pensar em uma nova dimensão antropológica. O impacto da globalização da tecnologia é mundial. Como exemplo, as conseqüências que podemos ter da aplicação ilimitada da engenharia genética, não apenas aplicada aos animais e plantas, mas ao ser humano. Este fato já implica na busca de uma nova concepção de ser humano. O questionamento estende-se a muitos setores da atividade humana e está se transformando num questionamento cada vez mais radical, também nas estruturas das instituições sociais, políticas e econômicas de um país. Hoje, se vive na era da globalização. O mundo se tornou uma aldeia global. Passou se do Estado-Nação para o Estado-Mundo. As concepções de mundo são adaptadas para essa nova ordem mundial. Surgem ONG's, esoterismos, a filosofia se presta a um novo papel, não mais de integrar o indivíduo ao Estado, como no mundo grego antigo, mas sim, de propor novas formas de conceber um individualismo, o individualismo humanitário que parece estar se acentuando com a idéia do voluntariado social, tanto por parte dos sujeitos quanto das organizações e dentro do processo administrativo tem-se: História, Teoria do Conhecimento, Ética. As teorias administrativas só podem ser entendidas através dos diferentes períodos históricos voltados predominantemente para uma Teoria do Conhecimento e uma Ética. Sem eles se torna praticamente impossível entender as diferentes modelos organizacionais. Historicamente, as teorias da administração surgem em meados do século XIX com o surgimento do modelo capitalista. A ideologia capitalista tem no lucro a força motriz do sistema. Anteriormente a esse período, as economias feudal, mercantil e artesanal da Idade Média estavam subordinadas à ideologia religiosa católica e, por conseguinte, a moral cristã medieval. Portanto, para se entender a filosofia das empresas é necessário, antes de mais nada, ter consciência da importância do trabalho na vida humana e as atividades correlatas desempenhadas pelo executivo nas organizações. Ter noções de alguns pressupostos da ética protestante é o primeiro passo para se situar as teorias da administração. As teorias presentes no universo da gestão empresarial sejam elas, a Teoria Científica de Taylor, A Teoria Clássica de Henry Fayol, A Teoria das Relações Humanas, a Teoria Comportamentalista, a Teoria da Informação, a Teoria Holística possuem fundamentos filosóficos e que respondem às questões essenciais da existência humana. Ciência e filosofia: semelhanças e diferenças Esta atividade humana bastante complexa a qual se denomina "ciência" – que se constitui como um dos fenômenos culturais mais importantes em nosso tempo – envolve muitas pessoas e muito dinheiro em um processo do qual resulta um tipo especial de saber, que é mais sistematizado, com maior alcance, com maior precisão e controlável intersubjetivamente. Para obter esse resultado, a ciência deve trabalhar com um objeto recortado, ter um método, uma linguagem, prezar pela democracia e pelo controle. Por recortar um objeto se deve entender delimitá-lo, precisá-lo, restringir o escopo de interesse em relação à realidade. Isso está diretamente vinculado à clareza do problema de trabalho. A atividade científica específica, ou seja, a que realmente se leva a cabo – em oposição a, por exemplo, a atividade científica de uma disciplina específica, que pode ser definida como o resultante de todas as atividades científicas específicas desta disciplina (Com essa diferenciação não se pretende mais que deixar claro a importância de restringir o objeto de estudo até que seja possível tratá-lo com o rigor e a precisão que caracterizam a atividade científica. Não se pretende com isso tomar posição sobre qualquer outra discussão possível sobre este tema.) –, para que seja possível, deve limitar-se a uma pequena parcela da realidade. Cada pesquisa trata de uma parte do mundo da disciplina a qual pertence. A Biologia, a Química e a Física (dentre outras) trata cada uma de uma parte do mundo das ciências naturais; a Administração, a Economia e a Sociologia (dentre outras) tratam cada uma de uma parte do mundo das ciências sociais. As ciências naturais e as ciências sociais tratam cada uma delas de uma parte do mundo das ciências empíricas. A lógica e a matemática tratam cada uma delas de uma parte do mundo das ciências formais. As ciências formais e as ciências empíricas tratam cada uma de uma parte do mundo, que é o objeto da ciência – global, que, mesmo com essa classificação hierárquica de múltiplos níveis, engloba todas as pesquisas específicas. O método é o conjunto de estratégias que os cientistas usam em suas atividades de pesquisa. Trata-se de um conjunto de normas que versam sobre o processo de construção do conhecimento, sendo que concebe esse processo como constando de quatro etapas: a de observação, a de formulação de hipóteses, a de fazer previsões, a de verificar se realmente se deu o previsto (Evidentemente que esta apresentação do método científico é bastante simples e geral. Contudo, parece servir para o objetivo presente.). O método explicita o caminho a ser percorrido ao longo do trabalho de pesquisa e assim permite que o cientista foque suas energias somente no desenvolvimento de seu trabalho sem precisar dar conta de questões metateóricas. A linguagem de uma ciência expressa seu marco teórico referencial e se distingue da linguagem de outras ciências na medida em que está também restringida, como no caso do objeto, a uma parte específica da realidade. Evidentemente que as ciências apresentam teorias que se relacionam – apresentam vínculos, estão ligadas –, o que permite, em certas circunstancias, que certos conceitos façam parte de mais de um marco teórico referencial, ou seja, que estejam presentes em mais de uma teoria, que podem ser cada uma de uma ciência distinta. Isso mostra que uma demarcação rigorosa entre as ciências talvez não seja possível; contudo, há uma linguagem que marca o conjunto de teorias físicas, o conjunto de teorias biológicas, o conjunto de teorias econômicas e visivelmente não são similares. A democracia refere-se ao fato de que toda teoria deve ser apresentada em termos de uma língua de domínio público (nada de uma linguagem que somente alguns "iniciados" possam entender) e de um modo padrão – dado pelas instituições responsáveis pelas normas técnicas para a apresentação de trabalhos científicos. Isso garante que qualquer pessoa, dadas algumas condições básicas (Muitas vezes o grau de complexidade de uma teoria, por exemplo, exige o estudo de algumas coisas, tais como algo de matemática, algo da própria disciplina em questão etc.), possa entender o que está sendo apresentado. O conhecimento científico deve ser de acesso universal (Evidentemente que aqui esta afirmação atinge apenas o aspecto citado, pois não é objetivo deste trabalho discutir a "democracia" em seus outros âmbitos de aplicação em relação ao conhecimento científico.). As atividades científicas devem por fim, ser controladas. Isso significa que uma experiência científica deve poder ser repetida afim de que se possa comprovar o que a teoria afirma. Isso ajuda em muito para que o conhecimento científico seja sistematizado, com maior alcance, com maior precisão e controlável intersubjetivamente. A filosofia, por sua vez, é costumeiramente definida como amor ao saber. Como uma primeira aproximação uma vez que valoriza todo um aspecto histórico que remonta a filosofia grega, pode ter validade. Contudo, é importante buscar algo mais explicativo. Nesse sentido, pode ser aceitável dizer que a filosofia é o estudo das concepções de mundo que a humanidade teve, por exemplo, ao longo de períodos – como a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea – e como se deu o processo de passagem de uma concepção a outra (Aqui se admite como filosofia a tradição que se iniciou com os gregos pré-socráticos. Com isso não se pretende dizer que antes disso e em outros povos não exista filosofia.). Trata-se de uma apresentação interessante, mas claramente generalizada. Seria de proveito ver a filosofia como uma atividade humana que, como à atividade científica, busca a verdade e tem o mundo como objeto, mas se diferencia desta à medida que – em vez de ter objeto recortado, método, linguagem, democracia e controle – se caracteriza por se constituir de discussões conceituais acerca de questões estruturais para as quais ainda não existe um modo sistemático de responder. A pergunta "Qual é a causa do câncer?" é uma pergunta científica. Já a pergunta "Qual é a natureza da causalidade?" trata-se de uma pergunta filosófica. A filosofia forja os instrumentos que a ciência utiliza em suas atividades. Perguntando sobre o ser das coisas (ontologia), sobre a possibilidade do conhecimento (gnosiologia), sobre o modo como as coisas são apresentadas (estética), perguntando sobre o agir das coisas (ética), a filosofia cria o conjunto de conceitos com os quais entendemos o mundo, ou seja, a filosofia suporta a cada tempo, a concepção de mundo de então. Em cada concepção de mundo há uma preocupação central, uma concepção de homem, uma concepção da natureza, um tipo de relação com o transcendente, uma instituição hegemônica. A filosofia trata destes conceitos e das estruturas de mundo que lhes são pertinentes. Como amor ao saber a filosofia busca entender o passado e presente em busca de poder colaborar com um futuro melhor. Forja conceitos quando seu escopo de ideias não é suficiente para chegar a uma solução para as questões estruturais da existência humana. Nesse processo, vai deixando um rastro, um caminho que vira estrada. Neste ponto nasce a ciência! Assim se deu, por exemplo, com a Biologia. A vida já foi um dos ais importantes problemas filosóficos e hoje é uma ciência com varias divisões e subdivisões. Neste processo há também a contrapartida da ciência, que quando atinge seu limite retorna para a filosofia uma série de questionamentos. Esta relação entre filosofia e ciência faz de cada ciência específica (Pode ser que se passe o mesmo com cada ramo da filosofia em relação à ciência.) herdeira da filosofia. Concepções de mundo No que se refere à Administração, este processo que leva as ciências específicas a herdarem elementos de seu marco teórico da filosofia, se inicia com os primeiros filósofos gregos. Os pré-socráticos, ao observarem o ambiente ao seu redor, que o mundo segue uniformidades universais e necessárias, ou seja, é ordenado. Logo na sequência, Platão e Aristóteles tratam de explicar essa ordem natural e, além disso, aplicar a noção de "ordem" à perspectiva relacional da existência humana. Deste modo se consolida a concepção de mundo tanto natural quanto social, que é a base teórica da cultura ocidental. Platão e Aristóteles estão inseridos no período de apogeu da cultura grega, que com a invasão de Alexandre e com a corrosão pela corrupção presente na sociedade grega, acaba por colapsar. Agora o grego não tem mais poder sobre os rumos da cidade, pois as decisões pertencem ao imperador. Ao grego, que perdeu todas referencias e vive num mundo e numa condição totalmente nova, resta o poder sobre si mesmo, ou seja, sobre sua conduta. O período póssocrático é marcado então pela reflexão ética. A Idade Média apresenta uma situação bastante diferente. Com a queda do Império Romano no Ocidente, o mundo medieval se fragmentou e a economia, por exemplo, teve como modelo o feudalismo baseado na origem divina da propriedade; politicamente, as relações se consolidam segundo o binômio senhor/vassalo num contexto em que o clero possuía muitas terras e o imperador era cristão. Portanto, com a igreja cristã sendo a instituição hegemônica, o conhecimento importante era o conhecimento metafísico, tendo a lógica como sua principal ferramenta. Trata-se de uma cultura transcendentalista onde moral e lei estão baseadas nas virtudes teologais e o indivíduo é concebido como fiel. A Idade Moderna, depois do rompimento com os padrões medievais, apresenta uma estrutura de mundo que é visivelmente distinta das anteriores. O modelo econômico é capitalista com base nas ideias de livre iniciativa e lucro pessoal; é o tempo das discussões políticas, do surgimento da burguesia individualista e das monarquias absolutistas; o conhecimento está agora focado na astronomia e na experiência com o mundo material. Neste período a instituição hegemônica passa a ser a Coroa, que é o ícone do domínio individual e a base para a lei e a moral, que agora dependem da vontade do monarca. Nesta cultura individualista o indivíduo é concebido como um súdito. A Idade Contemporânea, mesmo sendo – em comparação aos demais – um período de tempo relativamente pequeno, por conta de sua complexidade, deve ser divido ao menos em duas partes. No século XIX, primeira parte deste período, o socialismo surge como uma reação ao capitalismo forjado no período anterior e nascem os direitos sociais; no que se refere à política, a ideia de república consolida a ideia de "coisa pública" e a burguesia firma seu espaço na estrutura social. O conhecimento se orienta para o Direito e para a Sociologia. É o tempo da cultura social e do Estado Político como instituição hegemônica e base para a lei e a moral. O século XX, segunda parte deste período, é o tempo da economia de mercado; na política firmase o Estado Econômico com a divisão social feita de acordo com o poder aquisitivo; o conhecimento orienta-se para a tecnologia. A cultura é caracteristicamente materialista e a lei e a moral dependem da instituição hegemônica que agora é a empresa produtiva, o que leva o indivíduo a ser concebido como um produtor. O breve relato histórico mostra que a cada tempo é marcado por uma concepção de mundo. A mudança de concepção se dá porque surgem novas situações e com elas novas necessidades, inclusive de novos instrumentos (conceitos) que sejam úteis para o entendimento do mundo. Os gregos necessitavam explicar a ordem natural e a ordem social. Na cultura medieval a necessidade estava em fazer a mediação entre a revelação divina e a realidade deste mundo. Na Idade Moderna tem-se a necessidade de reconstruir, fazendo uso da razão, toda a concepção de mundo – que agora não pode mais estar baseada em forças transcendentais. A tecnologia e as novas conformações sociais exigem da filosofia contemporânea um apurado exercício de fundamentação teórica dos processos gerenciais referentes principalmente a fenômenos políticos e econômicos. Herança A filosofia consegue vencer esses desafios justamente pelo fato de que cria instrumentos (conceitos) que permitem ver a realidade de um modo distinto. Platão, por exemplo, postula a divisão do povo grego em três grupos: o primeiro seria constituído de pessoas com alma de bronze, as quais deveriam dedicar-se à agricultura, ao comércio e às tarefas manuais; o segundo grupo seria constituído de pessoas com alma de prata, as quais deveriam dedicar-se à guerra e a defesa da cidade; por fim, o terceiro grupo seria constituído de pessoas com alma de ouro, as quais deveriam dedicar-se a (preparar-se para) governar a cidade. Neste contexto estão presentes as ideias de hierarquia, função e capacidade. A sociedade está em ordem quando cada um executa sua função de acordo com a hierarquia existente. Estes aspectos destacados da filosofia de Platão são vistos na Administração Científica por meio de seus três princípios: a) Principio de preparo: fazer seleção de colaboradores atentando para suas habilidades e capacidades de produzir mais e melhor no método escolhido para a produção. Cada pessoa tem um conjunto de capacidades que pode servir para certar atividades e não servir para outras: b) Principio de controle: vigilância sobre as ações para assegurar que a produção se dê de acordo com o estabelecido. Um bom exemplo da utilidade da noção de hierarquia; c) Princípio de execução: distribuir diferentemente as ações e as responsabilidades para que o processo esteja de acordo coma disciplina estabelecida. Outro pensador que colabora em muito com a atividade administrativa é Descartes. Em seu Discurso do Método são apresentados quatro preceitos que constituem o fundamento da construção do conhecimento. a) Primeiramente, devemos receber toda a informação sem filtrá-la, somente examinando sua justificação e racionalidade. Trata-se de investigar de investigar a veracidade e a procedência da informação, aceitando somente aquilo que é evidente; b) Analisar o tema em questão fracionando-o em quantas partes for necessário. Ao fracionar, por exemplo, um grande problema, tem-se melhores condições para analisar e, se for o caso, fazer as devidas experiências; c) Fazer a síntese por meio da elaboração ordenada e ampla das conclusões.Deve-se começar pelos objetos menos complexos para, gradativamente,chegar aos que apresentem maior complexidade; d) Por fim, sempre com preocupação em relação à coerência geral, deve-se numerar e revisar cuidadosamente as conclusões. Esses preceitos cartesianos apresentam a base para ideias como a divisão do trabalho e controle. Se os gregos pré-socráticos apontam para o fato de que o mundo é ordenado, Descartes mostra que essa ideia (ordem) pode estar presente também na construção do conhecimento e na ação humana. Em processos produtivos, por meio da divisão do trabalho, tem-se a especialização e uma melhor possibilidade de controle do processo específico de cada etapa da produção. Portanto, se a coerência geral é observada no planejamento do processo produtivo, o que se tem é uma planta produtiva ordenada e, por isso, consistente. Na Administração Científica se pode ver claramente a presença do pensamento mecanicista cartesiano, pois nesse tipo de administração, observa-se que: a) A empresa é concebida como uma máquina que, com uma engrenagem formada pela relação entre setores, funciona de modo equilibrado e coerente; b) A especialização de colaboradores em determinada função, por exemplo, na linha de montagem faz com que o colaborador seja visto como uma peça da engrenagem da máquina produtiva; c) A concepção do indivíduo como produtor, sem levar em consideração as demais perspectivas de sua existência; d) As relações são baseadas em prescrições e descrições, consolidando a hierarquia de forças dentro da empresa. Desde o surgimento da filosofia grega as bases conceituais da cultura ocidental estão sendo forjada. Dentre muitas contribuições, foram salientadas as de Platão e Descartes. O primeiro com, pelo menos, as noções de hierarquia, função e capacidade; o segundo ao discutir a construção do conhecimento, apresenta um modelo que ação que pode ser adaptado ao modelo produtivo. Já no século XX, a contribuição da filosofia é um pouco distinta. Uma vez que a concepção de mundo baseada na ciência já está consolidada e que a construção do conhecimento se dá de um modo que faz se crer em sua consistência, o foco do exercício filosófico se alarga. A preocupação com a sociedade continua como também a preocupação com a existência humana; porém, a reflexão sobre o conhecimento ganha destaque pelo fato de que surge uma nova forma de concebê-lo. Se a Idade moderna, com Descartes, Newton e outros, sentou a base para a segurança que se tem em relação ao conhecimento científico, o pensamento de Popper suscitou, ao menos, um pouco de desconfiança em relação ao modelo moderno. Popper defende a ideia do falseacionismo. Não se pode saber se quando se tenha chego ou não a verdade. O que realmente acontece é que as teorias seguem funcionando como instrumentos para explicar fenômenos e então se segue fazendo uso delas. Contudo, é possível que chegue um tempo em que uma teoria que se use seja refutada. Desse modo, Popper inverte a lógica sobre o conhecimento, pois antes a busca era pela verdade comprovada e agora a busca é pelas evidências das limitações da teoria, sua refutação. Em outras palavras, antes a busca era por provar que a "coisa" é de determinado modo; agora, a busca está focada no contraexemplo, ou seja, mostrar que o mundo não é como diz a teoria. Esta mudança mostra ao administrador o quanto é dinâmico o mundo do conhecimento e como não se pode ter um embasamento completamente sólido (estático). O ato de administrar caracteriza-se por exigir oi constante exercício de examinar e reexaminar métodos e processo para garantir a pertinência das rotinas adotadas. O conhecimento construído em ciências sociais deve levar em consideração a situação, ou seja, não é imune a determinantes específicos de cada contexto. Com Popper se aprende que o conhecimento não se justifica absolutamente, mas está presente, por exemplo, no processo administrativo como um instrumento que por agora está suprindo as necessidades, mas que pode ser mudado a cada vez que não conseguir mais suprilas. Por vezes alguns fatores (internos ou externos) causam mudanças na cultura organizacional e o controle passa a ser mais difícil; isto exige uma flexibilidade, expressa na abertura para o diferente, em relação aos pressupostos que tem o administrador. Considerações Finais Na era da globalização, das novas tecnologias, no mundo digitalizado. Tudo isso levou à necessidade do conhecimento contínuo, do aprendizado permanente, da especialização. As exigências para o trabalho são bastante diferentes da época Taylorista, na qual os operários possuíam baixíssima qualificação e não havia mesmo praticamente necessidade desta. O aparecimento da psicologia no processo de gestão organizacional nos anos 30, pouco tem a ver com a visão de mundo hoje, bem mais individualista e competitiva. Como deve ser filosoficamente esse novo homem? Tem-se, também, os chamados modismos: o processo de gestão empresarial recebe os impactos da cultura em que está inserido. A mitologia está presente na Administração através de consultas astrológicas, numerológicas e outras práticas mágicas adotadas por algumas empresas. Na década de 80, a Filosofia Oriental esteve continuamente presente no mundo dos negócios com a aplicação da Teoria Z de origem japonesa. Após ver algumas características da ciência e da filosofia, em que pese às diferenças, é possível ver que existe uma relação entre essas formas de saber de tal modo que se dá uma dinâmica onde a filosofia municia a ciência com conceitos e esta última municia a primeira com questões para as quais não tem uma base conceitual para trabalhar. Assim, cada etapa da civilização ocidental, a partir de suas necessidades, forja novas formas de ver o mundo, do que resulta o surgimento de novos conceitos e novas formas de saber, filosofia e ciência respectivamente. Neste contexto, a partir de Platão, Descartes e Popper (e poderia ser Aristóteles, Agostinho de Hipona, Guilherme de Ockham, Newton, Kepler, Rousseau, Maquiavel, Hegel, Nietzsche, Wittgenstein e tantos outros), foi destacada a contribuição da filosofia para a Administração, esta ciência social de tamanha importância em nossos dias. Com isso aponta-se para o fato de que também a Administração, como uma ciência, é herdeira da filosofia. Propondo-se um estudo mais específico da construção do saber administrativo ao longo de sua história. Parece ser o caso de que este estudo deva regressar a tempos anteriores a consolidação do saber administrativo como um saber científico. Eis um caminho a ser trilhado... REFERÊNCIAS BALZER, Wolfgang; MOULINES, C. Ulises; SNEED, Joseph D. An Architecture for Science. The Structuralist Program. Dordrecht: Reidel, 1987. BAZANINI, Roberto. Filosofia da Administração. Texto adaptado. Disponível em: < http://www.casadosite.com.br/bazanini/baza52./> Acesso em: 05.abril. 2010. CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. São Paulo: Makron Books, 1996. SANTOS, A. R. Ética: caminhos da realização humana. São Paulo: Ave Maria, 2001. SEARLE, J. R. The Future of Philosophy. In: Phil. Trans. R. Soc. Lond. B (1999) 354, 20692080. TAYLOR, F. W. Princípios de administração científica. 8 ed. São Paulo: Atlas, 1990.