A FILOSOFIA COMO FERRAMENTA IMPORTANTE PARA A

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A FILOSOFIA COMO FERRAMENTA IMPORTANTE PARA A ADMINISTRAÇÃO:
REFLEXÕES A RESPEITO DA SUA INFLUÊNCIA
Quando o homem primitivo começou a refletir sobre suas ações tem-se os primeiros rudimentos
da filosofia. O mundo se tornou uma aldeia global. As teorias administrativas podem ser
entendidas através dos diferentes períodos históricos voltados à uma Teoria do Conhecimento e
uma Ética. Claudia Mara1
INTRODUÇÃO
Desde que o homem primitivo começou a refletir sobre suas ações, tem-se os primeiros
rudimentos da filosofia, isto é, o esforço para entender os fatos e acontecimentos a sua volta,
entretanto para efeito de estudo sistematizado, aceita-se que a Filosofia Ocidental surge nas
colônias gregas da Ásia Menor, representando um enorme avanço no desenvolvimento do
homem em relação ao seu passado. Surgiu no momento em que o ser humano se tornou
autoconsciente, contrapondo-se as explicações mitológicas dos deuses gregos de até então.
Buscar conhecer como são as coisas da vida através da filosofia para entender
racionalmente o mundo, eis a pretensão da filosofia. Com base em tal pretensão, grandes
descobertas ocorreram. Ao se reportar a história constata-se que, praticamente, todos os povos
da antiguidade desenvolveram formas diferentes de saber. Os indianos e mulçumanos
desenvolveram a matemática e a astronomia; os egípcios a trigonometria; os romanos, a
hidráulica e o direito; os gregos além de desenvolverem geometria, a mecânica, a lógica, a
astronomia, sistematizaram filosoficamente as condições de formação do conhecimento e assim
por diante.
A ética sempre fez parte da filosofia, tendo como seu objeto de estudo a moral, o dever
fazer, a qualificação do bem e do mal, a melhor forma de agir coletivamente.
Procura estabelecer princípios e universalmente válidos de valorização e condução na
vida. Entretanto, cada época histórica possui uma determinada moral.
A partir do momento em que a ciência e a tecnologia começaram a ocasionar enormes
riscos de malefícios à natureza e à humanidade, através de acontecimentos como a explosão das
bombas atômicas (que destruíram Hiroshima e Nagasaki no final da II Guerra Mundial);
contaminação de lagos, rios, mares e alimentos por substâncias tóxicas; ocorrências de danos
ecológicos; exploração abusiva de florestas; poluição ambiental; desastres nucleares como o de
Chernobyl; guerras bacteriológicas; clonagem; manipulações genéticas; a ética adquiriu novo
relevo vindo a ocupar a mente e os debates de muitos cientistas e dos seres humanos.
1
Antes de mais nada quero mencionar que este artigo foi escrito a quatro mãos com meu amigo e
colega de profissão Cláudio de Abreu Júnior que é Filósofo, e vive atualmente em Buenos Aires,
Argentina, e-mail:[email protected] Cláudio de Abreu Júnior, possui graduação em
Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2002) e mestrado em Filosofia pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (2006). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em
Epistemologia, atuando principalmente em Filosofia da Ciência. Atualmente é doutorando pela
Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), participa também do Programa de Pesquisa Filosofia
e História da Ciência, Universidad Nacional de Quilmes - IEC-UNQ.
As imensas transformações no mundo da tecnologia implicam num processo vertiginoso
de transformação social, no que se refere às mudanças do modo de pensar em uma nova
dimensão antropológica. O impacto da globalização da tecnologia é mundial. Como exemplo, as
conseqüências que podemos ter da aplicação ilimitada da engenharia genética, não apenas
aplicada aos animais e plantas, mas ao ser humano. Este fato já implica na busca de uma nova
concepção de ser humano. O questionamento estende-se a muitos setores da atividade humana e
está se transformando num questionamento cada vez mais radical, também nas estruturas das
instituições sociais, políticas e econômicas de um país.
Hoje, se vive na era da globalização. O mundo se tornou uma aldeia global. Passou se
do Estado-Nação para o Estado-Mundo. As concepções de mundo são adaptadas para essa nova
ordem mundial. Surgem ONG's, esoterismos, a filosofia se presta a um novo papel, não mais de
integrar o indivíduo ao Estado, como no mundo grego antigo, mas sim, de propor novas formas
de conceber um individualismo, o individualismo humanitário que parece estar se acentuando
com a idéia do voluntariado social, tanto por parte dos sujeitos quanto das organizações e dentro
do processo administrativo tem-se: História, Teoria do Conhecimento, Ética.
As teorias administrativas só podem ser entendidas através dos diferentes períodos
históricos voltados predominantemente para uma Teoria do Conhecimento e uma Ética. Sem
eles se torna praticamente impossível entender as diferentes modelos organizacionais.
Historicamente, as teorias da administração surgem em meados do século XIX com o
surgimento do modelo capitalista. A ideologia capitalista tem no lucro a força motriz do
sistema.
Anteriormente a esse período, as economias feudal, mercantil e artesanal da Idade
Média estavam subordinadas à ideologia religiosa católica e, por conseguinte, a moral cristã
medieval.
Portanto, para se entender a filosofia das empresas é necessário, antes de mais nada, ter
consciência da importância do trabalho na vida humana e as atividades correlatas
desempenhadas pelo executivo nas organizações. Ter noções de alguns pressupostos da ética
protestante é o primeiro passo para se situar as teorias da administração.
As teorias presentes no universo da gestão empresarial sejam elas, a Teoria Científica de
Taylor, A Teoria Clássica de Henry Fayol, A Teoria das Relações Humanas, a Teoria
Comportamentalista, a Teoria da Informação, a Teoria Holística possuem fundamentos
filosóficos e que respondem às questões essenciais da existência humana.
Ciência e filosofia: semelhanças e diferenças
Esta atividade humana bastante complexa a qual se denomina "ciência" – que se
constitui como um dos fenômenos culturais mais importantes em nosso tempo – envolve muitas
pessoas e muito dinheiro em um processo do qual resulta um tipo especial de saber, que é mais
sistematizado, com maior alcance, com maior precisão e controlável intersubjetivamente. Para
obter esse resultado, a ciência deve trabalhar com um objeto recortado, ter um método, uma
linguagem, prezar pela democracia e pelo controle.
Por recortar um objeto se deve entender delimitá-lo, precisá-lo, restringir o escopo de
interesse em relação à realidade. Isso está diretamente vinculado à clareza do problema de
trabalho. A atividade científica específica, ou seja, a que realmente se leva a cabo – em oposição
a, por exemplo, a atividade científica de uma disciplina específica, que pode ser definida como o
resultante de todas as atividades científicas específicas desta disciplina (Com essa diferenciação
não se pretende mais que deixar claro a importância de restringir o objeto de estudo até que seja
possível tratá-lo com o rigor e a precisão que caracterizam a atividade científica. Não se
pretende com isso tomar posição sobre qualquer outra discussão possível sobre este tema.) –,
para que seja possível, deve limitar-se a uma pequena parcela da realidade. Cada pesquisa trata
de uma parte do mundo da disciplina a qual pertence. A Biologia, a Química e a Física (dentre
outras) trata cada uma de uma parte do mundo das ciências naturais; a Administração, a
Economia e a Sociologia (dentre outras) tratam cada uma de uma parte do mundo das ciências
sociais. As ciências naturais e as ciências sociais tratam cada uma delas de uma parte do mundo
das
ciências
empíricas.
A lógica e a matemática tratam cada uma delas de uma parte do mundo das ciências formais. As
ciências formais e as ciências empíricas tratam cada uma de uma parte do mundo, que é o objeto
da ciência – global, que, mesmo com essa classificação hierárquica de múltiplos níveis, engloba
todas as pesquisas específicas.
O método é o conjunto de estratégias que os cientistas usam em suas atividades de
pesquisa. Trata-se de um conjunto de normas que versam sobre o processo de construção do
conhecimento, sendo que concebe esse processo como constando de quatro etapas: a de
observação, a de formulação de hipóteses, a de fazer previsões, a de verificar se realmente se
deu o previsto (Evidentemente que esta apresentação do método científico é bastante simples e
geral. Contudo, parece servir para o objetivo presente.). O método explicita o caminho a ser
percorrido ao longo do trabalho de pesquisa e assim permite que o cientista foque suas energias
somente no desenvolvimento de seu trabalho sem precisar dar conta de questões metateóricas.
A linguagem de uma ciência expressa seu marco teórico referencial e se distingue da
linguagem de outras ciências na medida em que está também restringida, como no caso do
objeto, a uma parte específica da realidade. Evidentemente que as ciências apresentam teorias
que se relacionam – apresentam vínculos, estão ligadas –, o que permite, em certas
circunstancias, que certos conceitos façam parte de mais de um marco teórico referencial, ou
seja, que estejam presentes em mais de uma teoria, que podem ser cada uma de uma ciência
distinta. Isso mostra que uma demarcação rigorosa entre as ciências talvez não seja possível;
contudo, há uma linguagem que marca o conjunto de teorias físicas, o conjunto de teorias
biológicas, o conjunto de teorias econômicas e visivelmente não são similares.
A democracia refere-se ao fato de que toda teoria deve ser apresentada em termos de
uma língua de domínio público (nada de uma linguagem que somente alguns "iniciados"
possam entender) e de um modo padrão – dado pelas instituições responsáveis pelas normas
técnicas para a apresentação de trabalhos científicos. Isso garante que qualquer pessoa, dadas
algumas condições básicas (Muitas vezes o grau de complexidade de uma teoria, por exemplo,
exige o estudo de algumas coisas, tais como algo de matemática, algo da própria disciplina em
questão etc.), possa entender o que está sendo apresentado. O conhecimento científico deve ser
de acesso universal (Evidentemente que aqui esta afirmação atinge apenas o aspecto citado, pois
não é objetivo deste trabalho discutir a "democracia" em seus outros âmbitos de aplicação em
relação ao conhecimento científico.).
As atividades científicas devem por fim, ser controladas. Isso significa que uma
experiência científica deve poder ser repetida afim de que se possa comprovar o que a teoria
afirma. Isso ajuda em muito para que o conhecimento científico seja sistematizado, com maior
alcance, com maior precisão e controlável intersubjetivamente.
A filosofia, por sua vez, é costumeiramente definida como amor ao saber. Como uma
primeira aproximação uma vez que valoriza todo um aspecto histórico que remonta a filosofia
grega, pode ter validade. Contudo, é importante buscar algo mais explicativo. Nesse sentido,
pode ser aceitável dizer que a filosofia é o estudo das concepções de mundo que a humanidade
teve, por exemplo, ao longo de períodos – como a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade
Moderna e a Idade Contemporânea – e como se deu o processo de passagem de uma concepção
a outra (Aqui se admite como filosofia a tradição que se iniciou com os gregos pré-socráticos.
Com isso não se pretende dizer que antes disso e em outros povos não exista filosofia.). Trata-se
de uma apresentação interessante, mas claramente generalizada. Seria de proveito ver a filosofia
como uma atividade humana que, como à atividade científica, busca a verdade e tem o mundo
como objeto, mas se diferencia desta à medida que – em vez de ter objeto recortado, método,
linguagem, democracia e controle – se caracteriza por se constituir de discussões conceituais
acerca de questões estruturais para as quais ainda não existe um modo sistemático de responder.
A pergunta "Qual é a causa do câncer?" é uma pergunta científica. Já a pergunta "Qual é a
natureza da causalidade?" trata-se de uma pergunta filosófica.
A filosofia forja os instrumentos que a ciência utiliza em suas atividades. Perguntando
sobre o ser das coisas (ontologia), sobre a possibilidade do conhecimento (gnosiologia), sobre o
modo como as coisas são apresentadas (estética), perguntando sobre o agir das coisas (ética), a
filosofia cria o conjunto de conceitos com os quais entendemos o mundo, ou seja, a filosofia
suporta a cada tempo, a concepção de mundo de então.
Em cada concepção de mundo há uma preocupação central, uma concepção de homem,
uma concepção da natureza, um tipo de relação com o transcendente, uma instituição
hegemônica. A filosofia trata destes conceitos e das estruturas de mundo que lhes são
pertinentes.
Como amor ao saber a filosofia busca entender o passado e presente em busca de poder
colaborar com um futuro melhor. Forja conceitos quando seu escopo de ideias não é suficiente
para chegar a uma solução para as questões estruturais da existência humana. Nesse processo,
vai deixando um rastro, um caminho que vira estrada. Neste ponto nasce a ciência! Assim se
deu, por exemplo, com a Biologia. A vida já foi um dos ais importantes problemas filosóficos e
hoje é uma ciência com varias divisões e subdivisões. Neste processo há também a contrapartida
da ciência, que quando atinge seu limite retorna para a filosofia uma série de questionamentos.
Esta relação entre filosofia e ciência faz de cada ciência específica (Pode ser que se passe o
mesmo com cada ramo da filosofia em relação à ciência.) herdeira da filosofia.
Concepções de mundo
No que se refere à Administração, este processo que leva as ciências específicas a
herdarem elementos de seu marco teórico da filosofia, se inicia com os primeiros filósofos
gregos. Os pré-socráticos, ao observarem o ambiente ao seu redor, que o mundo segue
uniformidades universais e necessárias, ou seja, é ordenado. Logo na sequência, Platão e
Aristóteles tratam de explicar essa ordem natural e, além disso, aplicar a noção de "ordem" à
perspectiva relacional da existência humana.
Deste modo se consolida a concepção de mundo tanto natural quanto social, que é a
base teórica da cultura ocidental. Platão e Aristóteles estão inseridos no período de apogeu da
cultura grega, que com a invasão de Alexandre e com a corrosão pela corrupção presente na
sociedade
grega,
acaba
por
colapsar.
Agora o grego não tem mais poder sobre os rumos da cidade, pois as decisões pertencem ao
imperador. Ao grego, que perdeu todas referencias e vive num mundo e numa condição
totalmente nova, resta o poder sobre si mesmo, ou seja, sobre sua conduta. O período
póssocrático é marcado então pela reflexão ética.
A Idade Média apresenta uma situação bastante diferente. Com a queda do Império
Romano no Ocidente, o mundo medieval se fragmentou e a economia, por exemplo, teve como
modelo o feudalismo baseado na origem divina da propriedade; politicamente, as relações se
consolidam segundo o binômio senhor/vassalo num contexto em que o clero possuía muitas
terras e o imperador era cristão. Portanto, com a igreja cristã sendo a instituição hegemônica, o
conhecimento importante era o conhecimento metafísico, tendo a lógica como sua principal
ferramenta. Trata-se de uma cultura transcendentalista onde moral e lei estão baseadas nas
virtudes teologais e o indivíduo é concebido como fiel.
A Idade Moderna, depois do rompimento com os padrões medievais, apresenta uma
estrutura de mundo que é visivelmente distinta das anteriores. O modelo econômico é capitalista
com base nas ideias de livre iniciativa e lucro pessoal; é o tempo das discussões políticas, do
surgimento da burguesia individualista e das monarquias absolutistas; o conhecimento está
agora focado na astronomia e na experiência com o mundo material. Neste período a instituição
hegemônica passa a ser a Coroa, que é o ícone do domínio individual e a base para a lei e a
moral, que agora dependem da vontade do monarca. Nesta cultura individualista o indivíduo é
concebido como um súdito.
A Idade Contemporânea, mesmo sendo – em comparação aos demais – um período de
tempo relativamente pequeno, por conta de sua complexidade, deve ser divido ao menos em
duas partes. No século XIX, primeira parte deste período, o socialismo surge como uma reação
ao capitalismo forjado no período anterior e nascem os direitos sociais; no que se refere à
política, a ideia de república consolida a ideia de "coisa pública" e a burguesia firma seu espaço
na estrutura social. O conhecimento se orienta para o Direito e para a Sociologia. É o tempo da
cultura social e do Estado Político como instituição hegemônica e base para a lei e a moral. O
século XX, segunda parte deste período, é o tempo da economia de mercado; na política firmase
o Estado Econômico com a divisão social feita de acordo com o poder aquisitivo; o
conhecimento orienta-se para a tecnologia. A cultura é caracteristicamente materialista e a lei e
a moral dependem da instituição hegemônica que agora é a empresa produtiva, o que leva o
indivíduo a ser concebido como um produtor.
O breve relato histórico mostra que a cada tempo é marcado por uma concepção de
mundo. A mudança de concepção se dá porque surgem novas situações e com elas novas
necessidades, inclusive de novos instrumentos (conceitos) que sejam úteis para o entendimento
do mundo. Os gregos necessitavam explicar a ordem natural e a ordem social. Na cultura
medieval a necessidade estava em fazer a mediação entre a revelação divina e a realidade deste
mundo.
Na Idade Moderna tem-se a necessidade de reconstruir, fazendo uso da razão, toda a concepção
de mundo – que agora não pode mais estar baseada em forças transcendentais. A tecnologia e as
novas conformações sociais exigem da filosofia contemporânea um apurado exercício de
fundamentação teórica dos processos gerenciais referentes principalmente a fenômenos políticos
e econômicos.
Herança
A filosofia consegue vencer esses desafios justamente pelo fato de que cria instrumentos
(conceitos)
que
permitem
ver
a
realidade
de
um
modo
distinto.
Platão, por exemplo, postula a divisão do povo grego em três grupos: o primeiro seria
constituído de pessoas com alma de bronze, as quais deveriam dedicar-se à agricultura, ao
comércio e às tarefas manuais; o segundo grupo seria constituído de pessoas com alma de prata,
as quais deveriam dedicar-se à guerra e a defesa da cidade; por fim, o terceiro grupo seria
constituído de pessoas com alma de ouro, as quais deveriam dedicar-se a (preparar-se para)
governar a cidade. Neste contexto estão presentes as ideias de hierarquia, função e capacidade.
A sociedade está em ordem quando cada um executa sua função de acordo com a hierarquia
existente. Estes aspectos destacados da filosofia de Platão são vistos na Administração
Científica por meio de seus três princípios:
a) Principio de preparo: fazer seleção de colaboradores atentando para suas habilidades e
capacidades de produzir mais e melhor no método escolhido para a produção. Cada pessoa tem
um conjunto de capacidades que pode servir para certar atividades e não servir para outras:
b) Principio de controle: vigilância sobre as ações para assegurar que a
produção se dê de acordo com o estabelecido. Um bom exemplo da utilidade da noção de
hierarquia;
c) Princípio de execução: distribuir diferentemente as ações e as responsabilidades para que o
processo esteja de acordo coma disciplina estabelecida.
Outro pensador que colabora em muito com a atividade administrativa é Descartes. Em seu
Discurso do Método são apresentados quatro preceitos que constituem o fundamento da
construção do conhecimento.
a) Primeiramente, devemos receber toda a informação sem filtrá-la, somente examinando sua
justificação e racionalidade. Trata-se de investigar de investigar a veracidade e a procedência da
informação, aceitando somente aquilo que é evidente;
b) Analisar o tema em questão fracionando-o em quantas partes for necessário. Ao fracionar,
por exemplo, um grande problema, tem-se melhores condições para analisar e, se for o caso,
fazer as devidas experiências;
c) Fazer a síntese por meio da elaboração ordenada e ampla das conclusões.Deve-se começar
pelos objetos menos complexos para, gradativamente,chegar aos que apresentem maior
complexidade;
d) Por fim, sempre com preocupação em relação à coerência geral, deve-se numerar e revisar
cuidadosamente as conclusões.
Esses preceitos cartesianos apresentam a base para ideias como a divisão do trabalho e
controle. Se os gregos pré-socráticos apontam para o fato de que o mundo é ordenado, Descartes
mostra que essa ideia (ordem) pode estar presente também na construção do conhecimento e na
ação humana. Em processos produtivos, por meio da divisão do trabalho, tem-se a
especialização e uma melhor possibilidade de controle do processo específico de cada etapa da
produção. Portanto, se a coerência geral é observada no planejamento do processo produtivo, o
que se tem é uma planta produtiva ordenada e, por isso, consistente.
Na Administração Científica se pode ver claramente a presença do pensamento
mecanicista cartesiano, pois nesse tipo de administração, observa-se que:
a) A empresa é concebida como uma máquina que, com uma engrenagem formada pela relação
entre setores, funciona de modo equilibrado e coerente;
b) A especialização de colaboradores em determinada função, por exemplo, na
linha de montagem faz com que o colaborador seja visto como uma peça da engrenagem da
máquina produtiva;
c) A concepção do indivíduo como produtor, sem levar em consideração as demais perspectivas
de sua existência;
d) As relações são baseadas em prescrições e descrições, consolidando a hierarquia de forças
dentro da empresa.
Desde o surgimento da filosofia grega as bases conceituais da cultura ocidental estão
sendo forjada. Dentre muitas contribuições, foram salientadas as de Platão e Descartes. O
primeiro com, pelo menos, as noções de hierarquia, função e capacidade; o segundo ao discutir
a construção do conhecimento, apresenta um modelo que ação que pode ser adaptado ao modelo
produtivo. Já no século XX, a contribuição da filosofia é um pouco distinta. Uma vez que a
concepção de mundo baseada na ciência já está consolidada e que a construção do
conhecimento se dá de um modo que faz se crer em sua consistência, o foco do exercício
filosófico se alarga. A preocupação com a sociedade continua como também a preocupação com
a existência humana; porém, a reflexão sobre o conhecimento ganha destaque pelo fato de que
surge uma nova forma de concebê-lo. Se a Idade moderna, com Descartes, Newton e outros,
sentou a base para a segurança que se tem em relação ao conhecimento científico, o pensamento
de Popper suscitou, ao menos, um pouco de desconfiança em relação ao modelo moderno.
Popper defende a ideia do falseacionismo. Não se pode saber se quando se tenha chego
ou não a verdade. O que realmente acontece é que as teorias seguem funcionando como
instrumentos para explicar fenômenos e então se segue fazendo uso delas. Contudo, é possível
que chegue um tempo em que uma teoria que se use seja refutada. Desse modo, Popper inverte a
lógica sobre o conhecimento, pois antes a busca era pela verdade comprovada e agora a busca é
pelas evidências das limitações da teoria, sua refutação. Em outras palavras, antes a busca era
por provar que a "coisa" é de determinado modo; agora, a busca está focada no contraexemplo,
ou seja, mostrar que o mundo não é como diz a teoria.
Esta mudança mostra ao administrador o quanto é dinâmico o mundo do conhecimento
e como não se pode ter um embasamento completamente sólido (estático). O ato de administrar
caracteriza-se por exigir oi constante exercício de examinar e reexaminar métodos e processo
para garantir a pertinência das rotinas adotadas. O conhecimento construído em ciências sociais
deve levar em consideração a situação, ou seja, não é imune a determinantes específicos de cada
contexto.
Com Popper se aprende que o conhecimento não se justifica absolutamente, mas está presente,
por exemplo, no processo administrativo como um instrumento que por agora está suprindo as
necessidades, mas que pode ser mudado a cada vez que não conseguir mais suprilas. Por vezes
alguns fatores (internos ou externos) causam mudanças na cultura organizacional e o controle
passa a ser mais difícil; isto exige uma flexibilidade, expressa na abertura para o diferente, em
relação aos pressupostos que tem o administrador.
Considerações Finais
Na era da globalização, das novas tecnologias, no mundo digitalizado. Tudo isso levou à
necessidade do conhecimento contínuo, do aprendizado permanente, da especialização.
As exigências para o trabalho são bastante diferentes da época Taylorista, na qual os
operários possuíam baixíssima qualificação e não havia mesmo praticamente necessidade desta.
O aparecimento da psicologia no processo de gestão organizacional nos anos 30, pouco
tem a ver com a visão de mundo hoje, bem mais individualista e competitiva.
Como deve ser filosoficamente esse novo homem?
Tem-se, também, os chamados modismos: o processo de gestão empresarial recebe os
impactos da cultura em que está inserido. A mitologia está presente na Administração através de
consultas astrológicas, numerológicas e outras práticas mágicas adotadas por algumas empresas.
Na década de 80, a Filosofia Oriental esteve continuamente presente no mundo dos
negócios com a aplicação da Teoria Z de origem japonesa.
Após ver algumas características da ciência e da filosofia, em que pese às diferenças, é
possível ver que existe uma relação entre essas formas de saber de tal modo que se dá uma
dinâmica onde a filosofia municia a ciência com conceitos e esta última municia a primeira com
questões para as quais não tem uma base conceitual para trabalhar.
Assim, cada etapa da civilização ocidental, a partir de suas necessidades, forja novas
formas de ver o mundo, do que resulta o surgimento de novos conceitos e novas formas de
saber, filosofia e ciência respectivamente. Neste contexto, a partir de Platão, Descartes e Popper
(e poderia ser Aristóteles, Agostinho de Hipona, Guilherme de Ockham, Newton, Kepler,
Rousseau, Maquiavel, Hegel, Nietzsche, Wittgenstein e tantos outros), foi destacada a
contribuição da filosofia para a Administração, esta ciência social de tamanha importância em
nossos dias.
Com isso aponta-se para o fato de que também a Administração, como uma ciência, é
herdeira da filosofia. Propondo-se um estudo mais específico da construção do saber
administrativo ao longo de sua história. Parece ser o caso de que este estudo deva regressar a
tempos anteriores a consolidação do saber administrativo como um saber científico. Eis um
caminho a ser trilhado...
REFERÊNCIAS
BALZER, Wolfgang; MOULINES, C. Ulises; SNEED, Joseph D. An Architecture for
Science. The Structuralist Program. Dordrecht: Reidel, 1987.
BAZANINI, Roberto. Filosofia da Administração. Texto adaptado. Disponível em: <
http://www.casadosite.com.br/bazanini/baza52./> Acesso em: 05.abril. 2010.
CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. São Paulo: Makron Books, 1996.
SANTOS, A. R. Ética: caminhos da realização humana. São Paulo: Ave Maria, 2001.
SEARLE, J. R. The Future of Philosophy. In: Phil. Trans. R. Soc. Lond. B (1999) 354, 20692080.
TAYLOR, F. W. Princípios de administração científica. 8 ed. São Paulo: Atlas, 1990.
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