1 QUANDO O ÓDIO SOBE AO PALCO: O ROCK FASCISTA E SUA ATUAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL (1990-2010) Pedro Carvalho Oliveira - Universidade Federal de Sergipe1 Dilton C. S. Maynard2 1. Introdução Os fascismos vêm, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, adaptando-se aos mais diversos cenários e contextos, buscando espaço e adeptos mesmo 68 anos após terem sido declarados mortos junto a Adolf Hitler e Benito Mussolini. Em meio a isto, tentam encontrar formas de diálogo com o tempo presente, utilizando-se de mecanismos comuns às sociedades contemporâneas para estabelecer contato. Neste sentido, duas ferramentas mostram-se importantes recursos para realizar tal aproximação: a Internet e a música. Com a popularização da Internet a partir dos anos 1990, as sociedades ocidentais tornaram-se cada vez mais informatizadas e os computadores pessoais se proliferaram. A comunicação foi levada a um diferente patamar. De 1995, quando tornou-se um negócio privado, até 2001, o número de usuários subiu de 16 para 400 milhões, chegando atualmente a mais de 800 milhões (MAYNARD, 2012). Criar um blog ou um site para espalhar pelo mundo suas formas de pensar tornou-se algo fácil. No final do século XX, enquanto a Internet evoluía, surgiu o Napster, programa desenvolvido por Shawn Fanning, criando “um local de encontro virtual em que, ao trocar seus arquivos de músicas, as pessoas podiam se encontrar” (BARBROOK, 2009, p. 370). Neste momento, a mp3 (mini-player camada 3) ganhava força e popularidade em meio a um processo que revolucionava a forma de ouvir música. O compartilhamento destes arquivos, muito criticado por autoridades e artistas, atualmente 1 [email protected] Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS) Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET/FNDE/MEC) 2 Professor orientador. 2 não conhece fronteiras. Programas semelhantes ao Napster e blogs foram criados com este objetivo. Em meio a isto, grupos fascistas de todo mundo começaram a tirar proveito destas benesses propiciadas pela informática. A extrema-direita organizaou-se na rede e a utilizou para difundir seus ideais. Entre páginas com escritos que tentam legitimar fascismos de diferentes tipos, é possível encontrar sites dedicados exclusivamente à hate music, subgênero musical que, entre outras coisas, é usado para convocar os adeptos destas ideologias a unirem-se em torno delas e incentivarem a intolerância, levada a cabo nas ruas por sua principal audiência, os skinheads simpáticos ao seu conteúdo. As bandas ligadas a este estilo musical peculiar e agressivo são o principal objeto deste trabalho. Mais especificamente, nos deteremos nas bandas que integram o RAC (“Rock Against Communism”, ou “rock contra o comunismo”), movimento musical que utiliza o rock para espalhar a palavra dos fascismos e legitimar discursos de ódio contra seus opositores, configurando-se em uma ramificação singular da hate music, que é composta por diferentes estilos musicais como o pop, a techno, o country, entre outros. Apesar de ser, como veremos, um movimento com raízes na Europa, o estilo encontrou aceitação ampla entre os jovens skinheads sul-americanos. Para conhecermos tanto uma parte da hate music sul-americana, como características dos fascismos no Continente, faremos leituras de músicas gravadas pelas bandas “Quinta Columna” (Colômbia) e “Marcha Violenta” (Chile), percebendo suas letras como documentos. Complementarmente, observaremos a associação destas bandas com movimentos fascistas existentes na América do Sul, como o colombiano Tercera Fuerza e o chileno B&H Chile. Por meio da análise de conteúdos presentes em seus sites oficiais, conheceremos mais de perto as afinidades comuns entre conjuntos e organizações. Por fim, analisaremos a relação entre a política de extrema-direita presente na América do Sul, a juventude fascista e a hate music, neste caso representado pelo rock próprio deste ideário, servindo a interesses muito proximamente ligados à intolerância. O comportamento provocador proveniente deste tipo de música afasta-se da postura tradicionalmente liberal e anticonservadora comum aos que se envolvem com o rock, bastando para gerar questionamentos que nos conduzam por este trabalho. 3 2. O movimento RAC e a hate music Durante o processo de tomada da França pelos nazistas, iniciado em 1940, houve um esforço significativo por parte das autoridades do Reich em restringir tanto quanto fosse possível as liberdades artísticas dos parisienses. Aquele que era um celeiro artístico mundial, passava agora ao controle intenso dos invasores cujos intentos eram sufocar a produção artística percebida como forma de resistência nacionalista. A música, um dos principais elementos da cultura local, tentava ser reduzida a um patamar inferior ao da música alemã, seguindo as pretensões nazistas de superar seus dominados neste âmbito (RIDING, 2012). Por meio da música é possível expressarmos diversos sentimentos, despertarmos outros e idealizarmos o mundo. Para os nazistas do passado, isto não foi diferente. Neste caso, o sentimento está associado ao nacionalismo, ao reforço da unidade alemã, à grandiosidade histórica de seus heróis do passado e ao novo império que se erguia sob a égide dos nazistas. Atualmente, a música continua sendo um elemento importante para os fascismos que, ao contrário do que muitos pensam, continuam existindo, mesmo que sob outras aparências. No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a Inglaterra vivia um período de efervescência. Margareth Thatcher, representante do Partido Conservador, era eleita para o cargo de Primeira Ministra, tendo em mãos o objetivo de solucionar diversas crises que assolavam o país. As crescentes taxas de desemprego, resultantes da diminuição na produção industrial, uma grave recessão econômica e a crise nas Malvinas, território disputado pelos ingleses e pela Argentina, foram somente alguns deles. Este último levou obrigatoriamente à guerra centenas de jovens, resultando em muitas mortes e num episódio traumático para a história recente dos dois países. Neste contexto, partidos e movimentos políticos como o National Front e o British Movement surgem como propostas para solucionarem as crises por meio de ideias alinhadas a pensamentos fascistas, isto quando não explicitamente posicionadas como tais. Em meio a eles há políticos que criticam veementemente a ineficácia da esquerda, especialmente os comunistas, na busca pela solução de problemas e apontamnos como responsáveis, bem como ao liberalismo que teria provocado aquela situação. Paulatinamente vão ganhando espaço entre uma pequena porção da sociedade inglesa, encantada pelo discurso nacionalista e incisivo. Para alcançar os jovens, o apelo começou discreto. 4 Em 1977, o movimento punk havia chegado ao seu auge na Inglaterra, por meio do punk rock e de bandas como The Clash e Sex Pistols, revolucionando não apenas o comportamento, mas também o jeito de se fazer rock. Com poucos acordes e necessitando não mais do que pessoas com coragem para tocar, mesmo que não sendo músicos de fato, o gênero deu impulso à filosofia do “faça você mesmo”, enquanto resgatava o rock mais tradicional e simples dos anos 1950, então sufocado pelos excessos psicodélicos e virtuosos dos anos 1960. Por volta de 1982, quando o movimento punk já não tinha tanta força, os skinheads, velhos conhecidos da sociedade britânica, ganhavam novo vigor aproveitando o impacto do punk (MARSHALL, 1993). Eles próprios se encarregaram de se apropriar daquela música, mudando sua denominação para Oi!, incrementando-a com suas próprias visões de mundo. Como disse George Marshall, “o Oi! nada mais era do que o punk sem pose” (1993, p. 78), declarando que os skinheads viviam uma realidade mais dura, pois naquele momento os punks estariam sendo englobados pelas grandes indústrias da moda e da música. Antes disso, “partidos políticos de extrema direita procuraram afiliados (e votantes) dentro da cena punk londrina” (SALAS, 2006, p. 34), mas frustraram-se pela pouca seriedade da maioria dos punks para tratar de questões políticas, algo que mudaria no decorrer dos anos 1980. Os skinheads, por sua tradição operária que permeia sua história desde os anos 1960, quando surgiram para o mundo, possuíam alguma consciência política, muito embora pouco explorada pelos próprios e relativamente deixada de lado. Como o problema do desemprego por volta de 1979 tornara-se cada vez mais grave, parte dos skinheads e seus familiares, cuja fonte de renda estava nas fábricas, agora cada vez mais desabilitadas, foram severamente afetados. Em meio a isto, as acusações dos partidos National Front e do British Movement de que os poucos empregos que restavam vinham sendo ocupados por estrangeiros paquistaneses, que os comunistas não lutavam pelos operários e que os judeus controlavam a economia quando esta deveria ser gerida pelos ingleses, foram pouco a pouco sendo absorvidas pelos skinheads, que tomavam-nas como verdades. Liderado pela Skrewdriver e sob o apoio do NF, surge o movimento RAC (ou Rock Agains Communism, “rock contra o comunismo”), uma resposta ao recém criado RAR (Rock Against Racism, “rock contra o racismo), que agrupava bandas contrárias aos recentes envolvimentos de bandas do Oi! com ideias fascistas (MARSHALL, 1993). A Skrewdriver, que tinha à sua frente Ian Stuart Donaldson, um dos mais conhecidos 5 ativistas do nacional-socialismo inglês nos anos 1980, utilizava o Oi! para disseminar palavras contra todos aqueles que eram considerados inimigos de suas causas e a favor daquilo que percebiam como o único caminho a se seguir. Surgia assim um movimento com dupla finalidade: em primeiro lugar, convocar os jovens a uma adesão ao pensamento de extrema-direita que começava a ganhar força naquele momento, além de irem à caça dos seus supostos “inimigos”. Em segundo lugar, consequentemente, o RAC e suas bandas, apoiadas por partidos que patrocinavam seus shows e festivais, angariava skinheads para o crescente rebanho político. Percebendo esta dinâmica, voltamos ao passado do nazismo clássico, quando a “filosofia da Juventude Hitlerista afirmava que jovens devem ser liderados por outros jovens” (BARTOLETTI, 2006, p. 30). A hate music tornou-se este elemento agregador cujos princípios obedecem esta premissa. Não podemos dizer que a Skrewdriver e o movimento RAC foram os inventores da hate music. A Ku Klux Klan já se utilizava de músicas para disseminar o ódio aos negros, cantando seus princípios racistas. Nos anos 1960, ainda quando os skinheads não possuíam a imagem de racistas extremistas, o norte-americano Clifford Joseph Trahan, conhecido sob a alcunha de Johnny Rebel, declarava apoio à Ku Klux Klan e à América Sulista, decorando a capa de seus discos e os palcos onde se apresentava com bandeiras dos Estados Confederados da América. Em seu site3 podemos encontrar letras de suas músicas, com ofensas explícitas a negros, judeus, entre outros. Os conceitos de “música de ódio” que usamos aqui tentam definir as características que constituem este subgênero e as formas como ele pretende atuar junto ao RAC. Seu conteúdo não representa um fenômeno desprovido de intenções, objetivando apenas o entretenimento ou a diversão, mas sim “um claro convite para a violência radical, seja essa ou não sua intenção” (SALAS, 2006, p. 156). Neste caso, elas podem não estar atribuídas somente ao rock, mas a outros tipos musicais. No entanto, entre os componentes do RAC estes fundamentos são mais evidentes, além de mais contundentes. Segundo Heléne Lööw (1998), cada movimento revolucionário possui sua própria música, palavras e poetas. A música não necessariamente cria organizações e nem os músicos estão sempre liderando alguma revolução. Mas o protesto revolucionário em forma de música dá voz aos sonhos, às visões e às fantasias dos 3 Aryan 88 - <http://www.aryan88.com/whiterider/officialjr/>. Último acesso em 01 de abril de 2012, às 11h36. 6 revolucionários a respeito das sociedades utópicas que almejam estabelecer. Assim sendo, a “música de ódio” assume o papel também de desejo, de cantar aquilo que sonham tanto os que a executam, quanto os que a ouvem, gerando uma consonância. O desejo mútuo é um agregador explorado por este tipo de música. O discurso fascista não é conduzido pela via racional, mas sim por meio da apelação. Não há um discurso livre, um debate sobre o que está sendo colocado, mas sim uma convicção cega a respeito do que lhes é posto. Portanto, torna-se patente aquilo que vence pelo emocional, o que explica o fato dos líderes desta ideologia serem conhecidos pelos seus discursos inflamados e veemência convincente (MOYANO, 2004). Assim são também os vocalistas destas bandas, que com uma caneta na mão e um microfone em outra, escrevem e reproduzem seus pensamentos para apontar culpados para os seus problemas. 3. A hate music na América do Sul: o mesmo ódio em um palco diferente Com a queda do Muro de Berlim em 1989, antecedendo ao fim da União Soviética e ao encerramento da Guerra Fria dois anos depois, o mundo observava o que parecia ser o surgimento de “uma nova ordem mundial, baseada no direito internacional e na cooperação entre as nações” (SILVA, 2004, p. 21). A globalização começava a ganhar força e neste contexto a popularização da Internet foi especialmente importante. Pessoas do mundo inteiro poderiam comunicar-se por meio da rede mundial de computadores, cuja prática de navegação dos usuários cresceu junto com o número de lares plugados à web, ampliado até o final da década de 1990. Porém, apesar desta conexão, parece que “ao invés de unirem-se em torno de valores comuns, os povos do mundo tornaram-se ainda mais divididos por suas diferentes – e competitivas – identidades culturais” (BARBROOK, 2009, p. 342). E é por meio das inovações dos meios de comunicação que o contingente de skinheads ligados aos fascismos ganha força, circulando pelo mundo e chegando à América do Sul. A derrota do socialismo, na mesma década do boom da Internet, deu ímpeto à força estadunidense, cujo poder se ampliava ainda mais por meio de sua soberania econômica, principalmente. Diante disto, os novos fascistas sul-americanos direcionavam cada vez mais seus discursos no sentido de apontar as falhas do socialismo derrotado, ao mesmo tempo em que criticavam o peso do imperialismo norte-americano e europeu no Sul. A Internet ajudaria a espalhar estas mensagens. 7 Atualmente, a América do Sul vive um momento de grande integração frente a outras nações próximas, como uma forma de promover a independência de seus países do imperialismo norte-americano e europeu, que há muito aproveita os recursos da região por meio de acordos, impedindo que as nações latino-americanas exerçam a divisão de suas riquezas para o seu próprio povo. Busca-se a soberania frente aos países que exploram estas riquezas e, em troca, oferecem muito pouco ou quase nada (ARVELÁIZ, 2012). Estas medidas são tomadas, em sua maioria, por alianças de governos de esquerda, predominantes nesta região. É curioso pensarmos que, da mesma forma, os neofascistas sul-americanos criticam o imperialismo, reivindicam a soberania nacional, mas sem que haja alianças entre outros países, exceto se estas alianças forem formadas por governos de extrema-direita, como uma forma de conquista ampliada. Por isto, boa parte das bandas ligadas ao RAC na América do Sul prefere um discurso cujo foco está no nacionalismo, presente no fascismo clássico por meio do mito da grandeza nacional (KONDER, 2009). Embora isto ocorra, a todo tempo podemos comprovar referências à história do nazismo alemão, da mitologia nórdica, entre outras. Estas contradições fazem parte, primeiramente, da fraca fundamentação de seus discursos além de, principalmente, serem marcas desta insistente readaptação ideológica. Apesar de parecer frágil, esta adaptação é crescente e mesmo convivendo com certas contradições se solidifica e angaria adeptos, seja com o apoio ou não de movimentos políticos. Para entender os fascismos com os quais as bandas e seu público se guiam, será necessário primeiramente compreendermos como eles são possíveis ainda hoje, mais de 60 anos após o fim dos regimes que os criaram. O historiador brasileiro Francisco Carlos Teixeira da Silva aponta que desde os anos 1980, distantes dos simples saudosismos de antigos fascistas que viram suas pretensões frustrarem-se com o fim da Segunda Guerra Mundial, grupos de tendência fascista aparecem na Europa. Isto ocorre, entre muitos fatores, graças aos questionamentos ao socialismo soviético em crise, quando partidos de extrema-direita reivindicavam a revisão de sequelas adquiridas no passado (SILVA, 2004). Desde então, os fascismos em suas mais variadas formas tem buscado uma reformulação de seus discursos, visando assimilar a linguagem do tempo presente. Para tanto, os líderes políticos de extrema-direita “tornaram-se hábeis em apresentar uma face moderada ao público em geral, ao mesmo tempo que, na esfera interna, acolhem 8 entre seus filiados pessoas que simpatizam abertamente com o fascismo” (PAXTON, 2007, p. 286). Neste caso, o fascismo ainda é possível? Robert O. Paxton responde, por meio de exemplos como a participação do partido Alleanza Nazionale no cenário político italiano em 1994, e da chegada de JeanMarie Le Pen em segundo lugar ao término das eleições francesas de 2002, que sim, o fascismo ainda é possível. Mesmo que não haja uma conjuntura de crises como as que levaram ao poder Benito Mussolini na Itália e Adolf Hitler na Alemanha (2007), o partido Aurora Dourada ganhou expressiva força nas eleições gregas em 2012, ainda que declaradamente alinhado ao nazismo. No que diz respeito às reverências ao fascismo clássico, poderemos observar que estas aparecem em forma de exemplo a ser seguido, aproveitando-se de todos os elementos que forem possíveis para justificar sua repetição em outros tempos. Os ditos inimigos são os mesmos: negros, judeus, homossexuais, imigrantes, comunistas, enfim, todos aqueles percebidos pelos fascistas como “degenerados”, são expostos na hate music como alvos a serem eliminados em nome da causa, abrindo caminho para a existência de uma nação nacional-socialista. As músicas refletem o ponto de vista em que a “alteridade social e individual surge, assim, como objeto central da ação do fascismo” (SILVA, 2005, p. 149). Esta ação, enfatizada nas músicas, ganha tons vívidos de prática da violência. 4. Para entender os fascismos sul-americanos: a hate music como documento 4.1.“Quinta Columna” e o caso colombiano Exemplificando o comportamento, as ideologias, o universo e as práticas fascistas, as “músicas de ódio” nos servem como fontes importantes para uma compreensão de como a extrema-direita idealiza suas pretensões no continente sulamericano, onde os avanços da esquerda têm sido importantes desde a primeira década do século XXI. Antes de tudo, não devemos nos apegar ao que diferencia os movimentos fascistas, sejam políticos ou apenas organizados por skinheads, com aqueles originários da Europa, berço dos principais exemplos, como Alemanha e Itália. Importante para nós é observar que tratam-se de ideologias capazes de se modificar para se adaptar, seja onde for. 9 Na Colômbia, a organização Tercera Fuerza4 é um dos grupos nacionalsocialistas mais bem organizados na web e muito expressivo em todo país. Sua existência é pontuada como a recuperação de um projeto antigo, iniciado na cidade de Pereira nos anos 1950, cujo lema seria “Dios y Patria”, interrompido pela ida de muitos dos seus idealizadores à Espanha. Atualmente, definem-se da seguinte forma: Tercera Fuerza se converte na comunidade militante de ideias de um setor juvenil que pretende preservar e restabelecer a essência e a identidade do espírito do Nacional-Socialismo e hispânico em nosso país, elevando-o como um exemplo prático do nosso socialismo. Não se trata de proselitismo político, pois não é uma organização de massas ou que tenha como prioridade conseguir adeptos ou seguidores entre setores sociais diferentes, acreditamos que as pessoas destinadas a lutar por nossa causa vagam por aí, é uma questão de que descubram-se por si mesmos.5 Esta militância juvenil é construída por meio de acampamentos para aprender defesa pessoal, táticas militares, para a realização de atividades físicas e debates em torno do nacional-socialismo. Processo muito semelhante ao da juventude hitlerista do III Reich, onde este tipo de convivência tinha por objetivo doutrinar garotos e garotas a lutarem pela causa nazista (BARTOLETTI, 2006). Longe da organização e adesão de seus inspiradores, a Tercera Fuerza conta também com eventos musicais onde a presença de bandas do RAC é comum. Uma maneira de unir sua juventude pelo nazismo em diferentes âmbitos. O VI Rudolf Fest, marcado para ocorrer no dia 03 de março de 2012 em Bogotá, capital da Colômbia, é a quarta edição de um tradicional festival organizado pela Tercera Fuerza, que faz questão de exibir no cartaz de divulgação o seu nome sobre a figura de Rudolf Hess, personagem importante entre os nazistas (Figura 1). O evento anunciou a presença da banda canadense “Vinland Warriors”, além das colombianas “Orgullo Nacional”, “Stukas”, “Escuadrón Dieciocho” e “Quinta Columna”. Esta última possui uma forte ligação com a Tercera Fuerza, participando de muitos shows organizados por ela. 4 Tercera Fuerza Nación – <http://www.tercerafuerzanacion.org/>. Último acesso em 15 de junho de 2013, às 17h15. 5 Tercera Fuerza ideário – Disponível em <http://www.tercerafuerzanacion.org/ideario.html>. Último acesso em 15 de junho de 2013, às 17h35. Tradução nossa. 10 Figura 1: pôster do VI Rudolf Fest, em homenagem a Rudolf Hess, conselheiro de defesa da Alemanha nazista e pretenso sucessor de Adolf Hitler e Hermann Göring. No topo, no nome da organização Tercera Fuerza e seu lema: “Herança, terra, comunidade” (Fonte: http://www.tercerafuerzanacion.org/eventos.html >. Último acesso em 21 de julho de 2012, às 17h50. Figura 2: pôster do show em homenagem a Luis Felipe Toquica Burbano, organizado pelo grupo Tercera Fuerza, contando com a presença de oito bandas que defendem estes ideais. São elas: Quinta Columna, Skin Heads Rebels, Perpetual Witness, May Day, Hedor, Desecrate, Carnagia e Soul Burner (Fonte: <http://www.tercerafuerzanacion.org/noticias.ht ml>. Último acesso em 21 de julho de 2012, às 17h30. Um destes ocorreu em homenagem a Luis Felipe Toquica Burbano, jovem de apenas 17 anos que em 14 de março de 2008 teria sido morto por um skinhead socialista6. Toquica era membro da Tercera Fuerza e não resistiu aos ferimentos causados pelo espancamento e uma suposta agressão com arma branca. No dia 31 do mesmo mês, seus “camaradas” utilizaram a música para lembrá-lo. O evento contou com oito bandas, entre grupos de RAC e NSBM (Nacional-socialist Black Metal, ou “Black metal nacional-socialista”). A “Quinta Columna” estava entre elas (Figura 2). 6 Medida de aseguramiento contra Skinhead por homicídio – Disponível em <http://www.terra.com.co/actualidad/articulo/html/acu9810.htm>. Último acesso em 15 dejunho de 2013, às 14h20. 11 Trata-se de uma banda cuja disponibilidade de material é muito escassa, reduzindo-se a pequenas citações em blogs voltados à hate music e sua página no MySpace7. Uma das músicas hospedadas no site é “Caos em Bogota”, ou simplesmente “Caos”, cover da banda argentina “Comando Suicida”. A princípio nos parece apenas uma referência ao universo skinhead, mas a conduta que evocam é passível de ser problematizada: Acaso no recuerdas en el 77 con todos los skinhead en su maximo esplendor una mueca en su cara buscando siempre lucha buscando siempre accion vuelven los skinhead otra ves las botas y el que se nos cruce lo vamos a destrosar! somos la vieja estirpe los vamos a coger somos la vieja estirpe los vamos a matar8. A referência são os skinheads do final dos anos 1970, que reaparecem ao mundo depois de anos distantes das capas de jornais e noticiários. Neste momento, impulsionados pelo punk, como dito anteriormente, os skinheads ganham novamente as ruas. Há quem diga, no entanto, que estes “novos” skins distanciam-se por completo dos considerados “originais”, cujo auge se deu nos anos 1960. Os que se colocavam como tais por volta de 1977 são muitas vezes percebidos apenas como cópias, inspirados pelo passado (KNIGHT, 1982). 7 Quinta Columna RAC – Disponível em <http://myspace.com/vcolumnarac/>. Último acesso em 15 de junho de 2013, às 20h25. 8 QUINTA COLUMNA CAOS – Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=2b7bd91U3Es>. Último acesso em 18 de julho de 2012, às 21h30. Transcrição realizada pelo autor. 12 Perceber a diferença entre os skinheads dos anos 1960 e aqueles que reapareceram ou tornaram-se skins no final da década seguinte é fundamental. Ao abordar casos de violência envolvendo skinheads, a imprensa reforça a igualdade entre todos eles, ignorando a presença de movimentos de esquerda e antifascistas entre os “carecas”. Muitos autores, ao abordarem esta subcultura, ignoram o processo de aproximação que a extrema-direita realizou sobre ela. A participação do historiador, munido de sua metodologia e sua crítica, é importante para apontar estas mudanças. Os skinheads, sejam eles fascistas ou não, estão ligados à violência desde as suas origens, graças às brigas de rua envolvendo gangues, entre as torcidas de futebol rivais ou pela truculência tradicional de seus adeptos acentuada pela cerveja, paixão comum entre estes. Em alguns casos, o bairrismo e algumas formas de preconceito, como a homofobia, já eram presentes de maneira alarmante nos anos 1960 (MARSHALL, 1993), mas não conduzidos de maneira sistemática por ideologias fascistas. Quando ressurgiram os skins, já ameaçados pela presença de partidos de extrema-direita, era importante mostrar de que lado cada um estava. Movimentos como o RAR (Rock against racism, ou “rock contra o racismo”) e o SHARP (Skinheads against racial prejudice, ou “skinheads contra o preconceito racial”) surgiram para estabelecer e enfatizar as diferenças entre os “carecas”. O primeiro corresponde ainda à década de 1970, na raiz dos primeiros grupos de skinheads fascistas, como uma resposta à postura adotada em cumplicidade ao National Front e o British Movement. O segundo, surgido já nos anos 1980, agrega de maneira mais expressiva skins ligados às raízes da subcultura, onde a música jamaicana os colocava lado a lado com os negros, rejeitando o racismo. A “Quinta Columna”, posicionada ao lado do Nacional-Socialismo, diz, ao gravar esta música, que ser skinhead é colocar-se às ruas buscando luta e ação, agredindo quando for necessário, especialmente aos que posicionarem-se em seu caminho impedindo o progresso de suas ideias. “E ele que não nos cruzem, nós vamos destroçar”, diz um trecho da letra. E continuam: “Somos a velha estirpe, nós vamos pegar; somos a velha estirpe, nós vamos matar!” Estas declarações, aliadas às preferências ideológicas do grupo, definem um comportamento intolerante contra qualquer um que não esteja do seu lado. Ao passo em que assume parte do RAC e dispõe-se a participar de shows promovidos por organizações nazistas, a banda explicita suas intenções. 13 4.2. “Marcha Violenta”: pelo sangue e pela honra do Chile O Chile é percebido como o maior reduto de neonazistas da América do Sul, onde desde o final do século XX movimentos políticos adeptos desta ideologia ganham força e estruturam-se, principalmente com o apoio de ideólogos como Miguel Serrano e Alex López, tornando-se um país cuja difusão do fascismo é ampla (MOURA, 2012). Além de movimentos políticos como os já conhecidos Patria Nueva Sociedad e Frente Orden Nacional, durante algum tempo o Blood & Honour foi um significativo grupo para os skinheads neonazistas. O Blood & Honour foi fundado por Ian Stuart Donaldson (Skrewdriver) e seu amigo Des Clarke em 1987, na Inglaterra, como uma espécie de movimento independente, sem associações partidárias (SALAS, 2006). Trata-se de uma organização essencialmente musical, cujas bases estão na propagação dos ideais fascistas por meio do RAC. Assim, muitos são os shows realizados por diferentes células do grupo pelo mundo, fundadas com o aval da matriz. No Chile, o B&H nasce em 2008 segundo informações de seu site oficial9. Ainda na mesma página vemos uma declaração que nos chama a atenção: “Durante o ano realizamos distintas atividades propagandísticas também musicais, contando atualmente com uma banda estabelecida (Marcha Violenta), e uma outra a caminho.” (Figura 3) Apesar de ser um conjunto cujo material é também raro, é possível identificarmos o discurso que revela propósitos e idealismos, bem como seu envolvimento com o RAC. Suas músicas foram dispersas pela rede, sendo encontradas apenas em compilações feitas por blogs. Na página do B&H Magallanes no YouTube é possível encontrar este material10. 9 Blood & Honour Divisón Chile – Disponível em < http://28chile.webcindario.com/index2.html>. Último acesso em 15 de junho de 2013, às 21h25. 10 B&H Divission Chile – Disponível em <http://www.youtube.com/user/28Magallanes?feature=watch>. Último acesso em 15 de junho de 2013, às 22h00. 14 Figura 3: Aspecto da página inicial do site Blood & Honour Chile, onde é possível ler o ideário da organização e suas pretensões. Em destaque, uma declaração sobre o uso da música como forma de propaganda, envolvendo a banda Marcha Violenta (Fonte: Entre as músicas encontradas, gravadas em videoclipes improvisados, com <http://28chile.webcindario.com/index2.html>. Último acesso em 15 de junho de 2013, às 21h15). imagens históricas da Segunda Guerra Mundial ou a logo da banda, temos uma muito peculiar: “I Hate Commie Scum” (ou “Eu odeio a escória comunista”), cover de uma banda australiana, a Fortress. Peculiar porque a regravação tem como base uma banda estrangeira. Mais ainda: uma banda cuja nacionalidade poderia ser questionada pelos fascistas sul-americanos, ao passo em que representa um país do primeiro mundo, com interesses supostamente semelhantes aos europeus e dos Estados Unidos. Nesta música temos o seguinte: Don’t try to speak to me About racial equality Blacks and whites are not the same Lies spread by the communists Hand in hand with capitalists Smash them both is my aim I hate commie scum I spit in the red flag The Reds are on the street tonight Let’s get that commie scum11 Traduzindo a letra, concluímos que o posicionamento da banda é agressivo de muitas maneiras. Para eles, não adianta que se fale em igualdade racial, pois negros e brancos não são semelhantes, uma clara alusão ao tradicional racismo de bandas do RAC. Afirmam que este discurso igualitário é parte de mentiras espalhadas por 11 Transcrição do autor. 15 comunistas, que supostamente caminhariam lado a lado com capitalistas. O objetivo, afirmam entre acordes e gritos, é esmagar a ambos. Depois, reiteram o ódio aos comunistas, dizendo que cospem em sua bandeira vermelha, e que se os “vermelhos” estão nas ruas eles precisam ser retirados. Como visto na página inicial do site B&H Chile, este é “um agrupamento de jovens brancos eurodescendentes”. Existe aí a imposição da raça branca sobre qualquer outra, ao passo que restringem o público. Se a Marcha Violenta é colocada como banda oficial do agrupamento, nada mais previsível do que suas convicções raciais. Ao regravarem a música seus integrantes reforçam este pensamento, negando qualquer semelhança entre negros e brancos. A “eurodescendência” citada também diz muito: uma clara tentativa de ligar a América do Sul aos descobridores europeus, de quem possuiriam traços genealógicos diretos. Este explorado sentimento de “nós”, os brancos, e “eles”, as outras raças, fortalecem o sentimento de pertencimento a um grupo específico, que elimina o “eu” e privilegia o coletivo, algo bastante aproximado do que se via entre a população alemã em meio ao domínio nazista. Este coletivo é uma agregação de indivíduos cujo ponto em comum, além da ideologia Nacional-Socialista, é um racismo elevado ao nível de prioridade (PIEROBON, 2012). Ainda que na Alemanha a questão racial tenha sido mais explorada, tanto Hitler quanto Mussolini viam no socialismo e comunismo a imagem de um inimigo. O primeiro, percebendo a existência de muitos judeus entre os revolucionários filiados ao comunismo, como Rosa Luxemburgo, acrescentou isto à sua lista de explicações para o antissemitismo (FERRO, 2008). Já na Itália, embora o Führer alemão tenha feito o mesmo, “o Partido Socialista Italiano, fomentando greves, observando com simpatia a revolução russa de Lenin, passa a ser sistematicamente denunciado por Mussolini, como uma força antinacional” (KONDER, 2009, p. 65), tendo como princípio o conflito entre a nação e tudo aquilo que fosse contrário a ela, tão característico do fascismo. Portanto, a agressão, como revela a música, é uma opção para defender os propósitos de seus compositores e do público que identifica-se com esta forma de intolerância. Se você não é branco, defende uma postura política ou ideológica oposta ou defende a igualdade independentemente da raça pode ser classificado como um inimigo, alguém a ser eliminado. 16 Considerações finais Na Colômbia, em 02 de junho de 2013, três jovens que trabalhavam para a vereadora Diana Alejandra Rodriguez, do Partido Progressista, foram agredidos por um grupo de skinheads neonazistas que teriam quase os matado, tamanha a agressividade dos golpes proferidos12. Apesar disto, foram liberados poucos dias depois, gerando insatisfação entre a população. No Chile, o caso mais marcante nos últimos anos é o de Daniel Zamúdio, jovem homossexual que após ser internado pelas agressões sofridas, incluindo suásticas talhadas em sua pele, acabou vindo a óbito em no dia 27 de maio de 2012. Embora não possamos garantir que a hate music seja a motivadora de atos reais de intolerância como estes, podemos afirmar que ela os legitima. Este estilo musical propagandeia o universo dos fascismos modernos e explicita a forma como a luta para propagá-lo deve acontecer. Trata-se de uma manifestação que tenta anular a integridade do outro, bem como justificar atos que colocam em risco a vida de seres humanos apenas por não serem o que fascistas entendem como ideal. As músicas, as bandas e os demais envolvidos nesta cruzada fascista nos oferecem indícios vívidos sobre como, em pleno século XXI, aquelas ideologias que pensávamos terem ficado no apagar de 1945 continuam entre nós. Para isto, adquiriram novas formas, adaptaram-se a novos discursos e ferramentas de difusão, como a música e a Internet. Porém, não devemos nos enganar: os fascismos e o ódio intrínseco a eles não residem apenas no canto e na web: saem deles e ganham as ruas. Referências bibliográficas ARVELÁIZ, Maximilien. Um novo modelo de integração para os novos tempos. In: Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo: Posigraf, julho de 2012, ano 05, nº 60, p. 45. BARBROOK, Richard. Futuros imaginários: Das máquinas pensantes à aldeia global. Tradução de Adriana Veloso et al. São Paulo: Peirópolis, 2009. 12 Polémica por libertad de ‘skinheads’ que golpearon a três jóvenes – Disponível em <http://www.eltiempo.com/colombia/bogota/ARTICULO-WEB-NEW_NOTA_INTERIOR12845850.html>. Último acesso em 16 de junho de 2013, às 00h20. 17 BARTOLETTI, Susan Campbell. Juventude Hitlerista. Tradução de Beatriz Horta. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006. FERRO, Marc. O século XX explicado aos meus filhos. Tradução de Hortencia Santos Lencastre. Rio de Janeiro: Agir, 2008. KNIGHT, Nick. Skinheads. London: Omnibus Press, 1982. KONDER, Leandro. Introdução ao fascismo. São Paulo: Expressão Popular, 2009. LÖÖW, Heléne. White Power Rock’n’Roll: A Growing Industry. In: KAPLAN, Jeffrey; TORE, BjØrgo. Nation and Race – The developing Euro-American racist subculture. Boston: Northeastern University Press, 1998, pp. 126-147. MARSHALL, George. Espírito de 69: A bíblia do skinhead. São Paulo: Trama Editorial, 1993. MAYNARD, Dilton Cândido Santos. Escritos sobre história e Internet. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2012. MOURA, Luyse Moraes. Aspectos da nova extrema-direita chilena em tempos de Internet. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos (Org.). História, neofascismos e intolerância: Reflexões sobre o Tempo Presente. Rio de Janeiro: Editoria Multifoco, 2012, p. 93-116. MOYANO, Neonazis – La sedución de la svástica: Em busca Del IV Reich. Espanha: Nowtilus Frontera, 2004. PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. Tradução de Patrícia Zimbres e Paula Zimbres. São Paulo: Paz e Terra, 2007. PIEROBON, Chiara. Rechtsrock: White Power music in Germany. In: SHEKHOVTSOV, Anton; JACKSON, Paul. White Power Music: Scenes of extremeright cultural resistance. RNM Publications: Northampton, 2012, p. 7-23. RIDING, Alan. Paris, a festa continuou: A vida cultural durante a ocupação nazista, 1940-44. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. SALAS, Antonio. Diário de um skinhead: um infiltrado no movimento neonazista. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Planeta, 2006. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. O século XX: Entre luzes e sombras. In: TEIXEIRA, Francisco Carlos Teixeira da (Org.). O século sombrio: Uma história geral do século XX. Rio de Janeiro: Campus, 2004. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Os fascismos. In: FILHO, Daniel A. R.; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste (Orgs.). O século XX – Volume II: O tempo das 18 crises – Revoluções, fascismos e guerras. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2005.