Do Nascimento à morte dos Oceanos António Ribeiro (Universidade de Lisboa) A Tectónica de Placas explica a história geológica da Terra pela introdução do conceito de Ciclo de Wilson, de abertura e fecho dos oceanos, com duração de 200 a 300 milhões de anos; na fase de convergência geram‐se orógenos por subducção/obducção, seguida por colisão de arcos insulares e, ou continentes; a maioria dos orógenos situa‐se pois nas fronteiras de placas (orógenos interplaca) e a deformação interna das placas continentais explica o caso, menos frequente, de orógenos intraplacas. A aglomeração dos continentes individuais por fecho dos oceanos intervenientes, conduz à geração de supercontinentes por extroversão ou introversão em ciclos de supercontinentes com duração mais longo, de 300 a 500 MA; o último foi a Pangeia aos cerca de 250 MA, a partir do qual derivaram, por fragmentação, os continentes actuais. A Tectónica de Placas levanta algumas novas questões, ainda discutidas pelos especialistas; uma diz respeito ao seu inicio na História da Terra, ligado à variação do modo de convecção em função do regime térmico do Planeta à escala global. Assim certos autores defendem que a Tectónica de Placas se inicia desde o registo geológico mais antigo, com taxas de actividade decrescentes no sentido do presente regime. Outros defendem a predominância no Arcaico de um regime de convecção do tipo pluma, mais activo e com células de menores dimensões; este passa a partir da fronteira com o Proterozóico, aos 2500 MA, a um regime predominante do tipo placa, com células de maior dimensão e rigidez interna cada vez mais acentuada; discute‐se se o regime de pluma ainda coexiste com o regime de Placa no estado actual dr evolução térmica da Terra e é responsável pelos chamados “hot‐spots”. Outro tema diz respeito ao ponto de viragem do ciclo de Wilson representado pelo início da subducção. No paradigma actual de placas rígidas os níveis de tensão que levam à cedência total da litosfera oceânica seriam muito elevados, com tensões diferenciais da ordem dos 800 Megapascal, inferidos experimentalmente a partir das composições mineralógicas dos materiais geológicos envolvidos. A evidência factual aponta para níveis de tensões diferenciais muito mais baixas, da ordem de 200 Megapascal, o que levou alguns autores (Karato, 2008) a defenderem uma reologia não rígida mas branda (“soft”); esta seria devida a uma conjugação de factores responsáveis pelo enfraquecimento da litosfera oceânica; um factor é o papel dos fluidos, expresso pelo metamorfismo hidrotermal dos fundos oceânicos; tais fluidos induzem a serpentinização do manto oceânico, sobretudo ao longo das fracturas, eventualmente profundas, geradas durante o seu arrefecimento; outro seria a actuação de processos, ainda mal caracterizados no laboratório, na transição do regime frágil da litosfera superficial para o regime dúctil da litosfera mais profunda; contribuiria assim para o enfraquecimento da litosfera oceânica durante o seu encurvamento (“bending”) e subsequente cedência total no inicio da subducção. Os estudos realizados nos últimos 20 anos por geocientistas na Ibéria e NW de África conduzem à hipótese de na litosfera atlântica mais antiga, na intersecção da Fronteira de placas Açores‐Gibraltar com as margem “passivas” aí presentes estarem reunidas as condições para inicio de subducção neste sector do Atlântico; Tal hipótese explicaria a geração do megassismo e tsunami de 1755. Este processo é simultaneamente espontâneo porque envolve a transição de margem passiva para activa e herdado, porque se dá na intersecção com a fronteira de Placas Eurásia‐África estabelecida desde o início da abertura do Atlântico; é o único exemplo de início de subducção à escala do globo no seu estado de evolução geológica actual. Permite‐nos especular que o fecho do Atlântico dentro de 100±50 MA conduzirá à aglomeração num novo supercontinente com uma configuração próxima da Pangeia de há 250 MA. Este cenário contrasta com os restantes, propostos por vários autores a partir da extrapolação da Cinemática de Placas inferida da teoria e da observação por geodesia espacial. Finalmente o futuro da Terra estará obviamente marcado pela desaceleração e cessação do processo de Tectónica de Placas dentro de poucos milhares de milhões de anos no contexto da evolução do Sistema Solar no seu conjunto. Bibliografia – Dias, R; Araújo, A; Terrinha, P; Kullberg, J.C., (editores, em impressão) Geologia de Portugal. Karato, S‐I – 2008 Deformation of Earth Materials – An Introduction to the Rheology of Solid Earth. Cambridge Univ. Press, Cambridge, UK, 463 p. Ribeiro, A (with a contribution from A. Mateus) 2002 – Soft Plate Tectonis, Spinger.