Efeito terapêutico da música EFEITO TERAPÊUTICO DA MÚSICA EM PORTADOR DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM HEMODIÁLISE THERAPEUTIC EFFECT OF MUSIC ON CHRONIC RENAL FAILURE PATIENTS IN HEMODIALYSIS EL EFECTO TERAPÉUTICO DE LA MÚSICA EN PORTADOR DE INSUFICIENCIA RENAL CRÓNICA EN HEMODIÁLISIS Simone Albino da SilvaI Silvana Maria Coelho Leite FavaII Murilo César do NascimentoIII Caroline Scalco FerreiraIV Nadiele Ribeiro MarquesV Sarah de Moraes AlvesVI RESUMO: Este estudo foi realizado numa clínica de hemodiálise do Município de Alfenas/MG, no período de abril a novembro de 2006, com o objetivo de avaliar a influência da exposição musical em portadores de insuficiência renal crônica, durante as sessões hemodialíticas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa por análise de conteúdo. A amostra foi composta por 30 sujeitos que realizavam hemodiálise na mesma sala. Tal terapia complementar mostrou-se positiva quanto à alteração na percepção do tempo, proporcionando sensações de bem-estar, alegria, felicidade, relaxamento, entretenimento, mudança na rotina, ausência de sintomas, recordações positivas e companhia. Conclui-se que a apresentação musical durante a hemodiálise teve efeito terapêutico satisfatório, evidenciado pelos relatos. Palavras-chave: Enfermagem; nefrologia; musicoterapia; terapia complementar. ABSTRACT ABSTRACT:: This study was carried out in a Hemodialysis Clinic in Alfenas, Minas Gerais, from April to November, 2006, to assess the effect of exposing chronic renal failure patients to music during sessions of hemodialysis. The sample for this qualitative study by content analysis comprised 30 subjects who underwent hemodialysis in the same room. The complementary therapy proved effective in altering perceptions of time, providing feelings of well-being, elation, happiness, relaxation, entertainment, change from routine, absence of symptoms, good memories and companionship. It is concluded that the effect of the music played during hemodialysis therapy was satisfactory, as evidenced by the patients’ reports of buoyant feelings. Keywords: Nursing, nephrology, music therapy; complementary therapy. RESUMEN: Este estudio fue realizado en una clínica de hemodiálisis en el Municipio de Alfenas/MG - Brasil, en el período de abril a noviembre de 2006, con el objetivo de evaluar la influencia de la exposición musical en portadores de insuficiencia renal crónica durante las sesiones de hemodiálisis. Se trata de una pesquisa cualitativa por análisis de contenido. La muestra fue compuesta por 30 sujetos que realizaban hemodiálisis en la misma sala. Tal terapia complementaria se mostró positiva cuanto a la alteración en la percepción del tiempo, proporcionando sensaciones de bienestar, alegría, felicidad, relajación, entretenimiento, cambio en la rutina, ausencia de síntomas, recordaciones positivas y compañía. Se concluye que la presentación musical durante la sesión de hemodiálisis tuvo efecto terapéutico satisfactorio, evidenciado por los relatos. Palabras Clave: Enferméria; nefrología; musicoterapia; terapia complementaria. INTRODUÇÃO A terapia renal substitutiva (TRS) em suas diversas modalidades, em particular a hemodiálise, constitui-se num aparato de grande complexidade tecnológica capaz de substituir parcialmente a função renal. I Em decorrência da complexidade envolvida na hemodiálise, pode-se observar, empiricamente, a existência de diversas intercorrências clínicas. Somadas a estas, o paciente traz consigo incertezas e medo. Enfermeira. Mestre. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas. E-mail: [email protected]. Enfermeira. Mestre. Docente do Departamento de Enfermagem e Pró-Reitora de Graduação da Universidade Federal de Alfenas – MG. Enfermeiro. Supervisor dos Setores de UTI Adulto e UTI Neonatal do Hospital Renascentista - Pouso Alegre, MG. IV Enfermeira. Secretaria Municipal de Saúde de Alfenas-MG. V Enfermeira. Supervisora do Setor de Radioterapia da Fundação Hospitalar do Município de Varginha. Cursando pós-graduação latu sensu em Enfermagem Oncológica no Hospital AC Camargo – SP. VI Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Alfenas. II III p.382 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):382-7. Silva SA, Fava SMCL, Nascimento MC, Ferreira CS, Marques NR, Alves SM Em face dessa realidade, faz-se necessária a inclusão de terapias complementares para a promoção da integralidade do cuidado. Ancorado nessa perspectiva, este estudo tem por objetivo avaliar a influência da exposição musical em pacientes durante as sessões de hemodiálise. REFERENCIAL TEÓRICO A insuficiência renal crônica (IRC) é uma síndrome metabólica que ocorre após uma perda superior a 50% da massa de néfrons do paciente sendo irreversível e progressiva1. Entre as principais causas de IRC estão o Diabetes Mellitus, a hipertensão arterial, a glomerulonefrite crônica, as uropatias obstrutivas e doença renal policística2. O tratamento da IRC engloba duas etapas: na primeira, o tratamento conservador, antes da necessidade da terapia de substituição da função renal; e na segunda, os métodos de substituição renal, incluindo as diversas modalidades de diálise e transplante renal1. A partir do momento em que o tratamento conservador não consegue controlar os sintomas da falência renal e os sinais e sintomas urêmicos que afetam todos os sistemas orgânicos, acompanhados de falta de bem-estar geral, os métodos de substituição renal devem ser instituídos3. A diálise é o processo artificial de remoção de líquidos e produtos residuais urêmicos do corpo, quando os rins não conseguem fazê-lo. Os métodos atualmente disponíveis de diálise compreendem a hemodiálise, a diálise peritoneal ambulatorial contínua, a diálise peritoneal automatizada e a diálise peritoneal intermitente. A hemodiálise é um método de depuração extracorpórea pelo qual o sangue obtido por acesso vascular (cateteres, shunts ou fístulas) é colocado em contado com uma solução de diálise em um filtro especial, que usa uma membrana semipermeável artificial, a qual substitui os glomérulos e túbulos renais como um filtro. Por meio dessa membrana ocorrem trocas por difusão, filtração e convecção. O excesso de água é removido do sangue por ultrafiltração. O circuito extracorpóreo tem um equipamento de complexidade variável que prepara, aquece, avalia e fornece a solução de diálise, impulsiona o sangue com uma bomba e monitora uma série de parâmetros do processo. Após purificação do sangue ele é devolvido ao corpo3. A duração e freqüência das sessões de hemodiálise serão estabelecidas de acordo com a quantidade de diálise necessária para se obter maior depuração de solutos, manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico, o controle da pressão arterial e um estado nutricional adequado com o mínimo de efeitos adversos e inconvenientes. Em geral, as sessões de hemodiálise ocorrem três vezes por semana durante, pelo menos, três a quatro horas por sessão3. A qualidade de vida também deve receber atenção especial, pois ela, além de ser importante para uma vida satisfatória do paciente, está relacionada à morbidade e à sobrevida do cliente4. O enfermeiro deve planejar intervenções não-farmacológicas como terapia ocupacional, jogos, brincadeiras e música, ensinando o paciente a viver dentro dos seus limites, convivendo com a doença e o tratamento hemodialítico, assumindo seus cuidados e controle do esquema terapêutico5. A música constitui parte da natureza e dos seres humanos, pois seus componentes básicos como ritmo, melodia e harmonia são comuns à composição do nosso organismo. Essa semelhança é evidenciada ao se observar o ritmo cardíaco, o sincronismo ao caminhar, a melodia e o volume de nossas vozes ao falar6. As ondas são captadas pelo pavilhão auricular e chegam ao conduto auditivo e ao tímpano, cujas vibrações atingem o ouvido médio, onde são convertidas em impulsos nervosos. Esses impulsos caminham até o cérebro pelo nervo vestíbulo-coclear que entendem tais estímulos como som. O deslocamento das vibrações sonoras no líquido cérebro-espinhal e nas cavidades de ressonância do cérebro determina um tipo de massagem sônica que, segundo a qualidade harmônica do som, produz efeitos positivos ou negativos, benéficos ou não ao sistema psico-bioenergético. As fibras nervosas convertem o som captado em estímulo nervoso propriamente dito7. A audição musical alegra o ouvinte e o torna sutilmente ligado ao ambiente sonoro. Sendo assim, a música é, com freqüência, preferível ao silêncio, em particular para pessoas com dores, porque o silêncio pode ampliar sua consciência do desconforto. A música leve, de fundo, pode aliviar o estresse e a ansiedade, simplesmente por capacitar a harmonia ou sintonia com o ambiente. Esse entroncamento explica como ondas cerebrais, freqüência cardíaca, respiração, tom emocional e outros ritmos orgânicos podem mudar sutilmente de acordo com o que se ouve8. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):382-7. • p.383 Efeito terapêutico da música A escolha do tipo de música pode ser baseada em indicação de alguns estudos e a maioria deles aponta que a música, adequada a promover relaxamento, é a composta por som de baixa amplitude, de ritmo musical simples e direto e de freqüência com tempo de aproximadamente 60-70 batimentos9,10. Deve-se fazer uma distinção entre a musicoterapia e o uso da música como uma forma de cuidado. A primeira é utilizada pelo musicoterapeuta em um processo estruturado de acordo com um objetivo11. A música como cuidado é encontrada com o nome de música terapêutica, a qual é utilizada como recurso complementar no cuidado humano visando equilíbrio, bem-estar, ampliação da consciência do processo saúde-doença12, assim como para dar conforto, para ajudar o manejo da dor, da ansiedade ou do estresse13. É proposta na atual Classificação das Intervenções de Enfermagem (CIE) a música como cuidado na assistência aos Diagnósticos de Enfermagem da North American Nursing Diagnostic Association (NANDA), como: angústia espiritual, distúrbio do sono, desesperança, ansiedade, distúrbio no autoconceito, distúrbio no campo energético, pesar, déficit de lazer, risco para solidão, isolamento social e dor14,15. Os enfermeiros devem avaliar integralmente os pacientes portadores de IRC em tratamento dialítico, uma vez que os aspectos emocionais são determinantes para o sucesso do tratamento e para a melhoria da qualidade de vida16. O uso da música é um recurso a mais entre tantos outros que compõem o arsenal de intervenções da enfermagem e que, pela sua ação integrativa, facilita o cuidado biopsicossocial e espiritual e a interação do profissional com o paciente17. METODOLOGIA Trata-se de um estudo qualitativo por análise de conteúdo, na modalidade de análise temática18. O estudo refere-se a indivíduos em tratamento em uma clínica de hemodiálise do município de Alfenas-MG, credenciada ao SUS, com capacidade instalada de atendimento de 150 pacientes ao mês. Os participantes da pesquisa foram organizados em quatro grupos que realizam hemodiálise na sala dois, nos 2º e 3º turnos, em dias diferentes, e que se adequavam aos critérios de inclusão: pacientes maiores de 18 anos; sem déficit auditivo e cognitivo; com comunicação oral preservada; que manifestaram o p.384 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):382-7. desejo de participar voluntariamente, e que assinaram, após apresentação dos objetivos deste trabalho, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido19. Os critérios de exclusão foram: pacientes que se recusaram a participar do estudo, em estado de rebaixamento do nível de consciência aferido pela escala de Glasgow3 e pacientes com diagnóstico de transtornos psiquiátricos, totalizando 33 sujeitos. Foi realizado um pré-teste na mesma clínica, com outros sujeitos que realizam hemodiálise em turnos diferentes do conjunto a ser submetido ao estudo, definindo o percurso metodológico de coleta dos dados: durante as 4 horas da sessão de hemodiálise, foi realizada apresentação musical de 60 minutos, dividida em quatro momentos de 15 minutos. A escolha do tempo total de apresentação foi uma adaptação das considerações de estudos que aplicam a música durante uma média de 25-90 minutos, ou em períodos de tempo com intervalos mais reduzidos – duas ou três vezes ao dia20. Essa adaptação também procurou respeitar os períodos de maior intensidade nas atividades de assistência de enfermagem, que são o início e termino da sessão, bem como os intervalos de hora em hora para a aferição dos sinais vitais. Cada apresentação musical foi feita ao vivo por um trio de acadêmicos de enfermagem que também são músicos. Os instrumentos musicais utilizados foram violão, flauta doce, maraca e voz, no seguinte roteiro musical: Uma canção é pra isso (Samuel Rosa e Chico Amaral); Jardim da fantasia (Paulinho Pedra Azul); Amor de índio (Beto Guedes); Moreninha linda (Tonico, Priminho e Maninho); É preciso saber viver (Erasmo Carlos e Roberto Carlos); Tocando em frente (Almir Sater e Renato Teixeira); Todo o azul do mar (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos); Fio de cabelo (Darcy Rossi e José Marciano); Aquarela (Toquinho e Vinícius de Moraes); Palavras de amor (Autor não encontrado); Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro); Saudades da minha terra (Goiá e Belmonte); 60 dias apaixonado (Darcy Rossi e Constantino Mendes); Luar do sertão (Catullo da Paixão Cearense e João Pernambuco); Beijinho doce (Nho Pai); Dias melhores (Rogério Flausino). Após o final da quarta apresentação musical, a questão norteadora foi apresentada aos sujeitos da pesquisa: O que foi para você a música durante a sessão de hemodiálise? A resposta foi gravada e, na realização de sua transcrição, cada sujeito foi identificado com a letra E, acrescida do número da entrevista, mantendo o sigilo do mesmo. Silva SA, Fava SMCL, Nascimento MC, Ferreira CS, Marques NR, Alves SM Essa transcrição foi submetida à análise temática18 que consiste em descobrir os núcleos de sentidos que compõem uma comunicação, cuja presença ou freqüência signifique alguma coisa para o objeto analítico visado. Este estudo teve seu projeto aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Alfenas – MG, pela diretoria da instituição de saúde à qual pertence a clínica de Terapia Renal Substitutiva (TRS) onde foi realizado, tendo sido desenvolvido no período de abril a novembro de 2007. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na análise temática18 dos discursos dos sujeitos foram identificadas cinco categorias: alteração positiva da percepção do tempo; bem-estar, entretenimento e mudança na rotina, recordações positivas e companhia. Alteração Positiva da Percepção do Tempo A realidade da vida dos pacientes em hemodiálise é permeada de alterações físicas que impõem limitações ao cotidiano e exige adaptações21. A hemodiálise causa muito sofrimento, tornando o paciente frágil e debilitado emocionalmente. Esses pacientes necessitam permanecer de 3 a 4 horas ligados a uma máquina, e essas horas muitas vezes são percebidas como intermináveis22. A contagem do tempo é regressiva até o tão esperado momento de serem desligados dos referidos maquinários. Com a música, esta angústia em relação à espera pelo final da sessão se torna menor, pois o foco de atenção no tempo é desviado, como fica evidenciado na categoria alteração positiva da percepção do tempo de hemodiálise: Nossa, nem vi a hora passar. (E1) Passam as horas e a gente nem vê o tempo [...] (E10) Gostei muito, passou a hora rapidinho. (E15) A gente passa horas felizes, muito felizes, bom demais. (E16) Trouxe muita alegria para nós que estamos aqui durante 4 horas. (E23) A música tem a capacidade de influir nos sentimentos, nas emoções e nas sensações23, o que justifica a sua inserção nas sessões de hemodiálise, tornandoas emocionalmente menos agressivas e colaborando para a melhora da qualidade de vida desses pacientes. Bem-estar A categoria bem-estar definiu-se com as falas dos sujeitos nas quais a exposição musical foi avaliada como uma experiência física agradável: Foi uma sensação muito boa. Senti melhor, senti bem. (E19) Sente melhor! Muito bom! Trouxe bem-estar, trouxe muito bem-estar. (E22) Bom, eu adoro música, qualquer tipo de música, é uma terapia pra gente, alguns momentos agradáveis, foi muito bom, gostei. (E30) Faz bem para o coração e para alma.Traz uma paz para gente. (E3) A música possui um grande potencial para promover o equilíbrio e o relaxamento do corpo e da mente7. A audição musical afeta positivamente a liberação de substâncias químicas cerebrais que podem regular o humor, reduzir a agressividade e a depressão24. Como foi observado em nosso estudo: Relaxante, deveria ter todos os dias (E24) Foi muito boa, deu até para cochilar, porque eu não durmo de jeito nenhum. (E3) Os sons podem acalmar, deixar o ser humano sossegado e induzir o sono25. Pesquisas constatam que a música é capaz de proporcionar tranqüilidade, indução e melhora do padrão de sono6,26. Entretenimento e Mudança na Rotina O tratamento hemodialítico é responsável por um cotidiano monótono e restrito, e as atividades dos respectivos pacientes são limitadas após o início do tratamento27. No local de estudo, a televisão se constitui na única forma de entretenimento, tornando a sessão rotineira. Com a inserção das apresentações musicais, criou-se uma opção de entretenimento e mudança na rotina: Distrai um pouco. (E7) Interte a gente um pouco, e é bom pra gente divertir. (E14) Foi diferente, saiu da monotonia. (E24) Muda um pouco também o ritmo, é que... praticamente televisão, né, música é muito bom. (E36) Recordações Positivas A música atua no emocional do paciente, estimulando sua memória para lembranças que tenham sido importantes, permitindo reviver eventos significantes da sua vida28,29, como na categoria recordações positivas pelas seguintes falas: Aquela música do Tonico e Tinoco é boa, eu gosto dela, eu cantava muito ela. (E12) É boa demais a música, a gente lembra as coisas boas (E14) Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):382-7. • p.385 Efeito terapêutico da música Companhia O uso da música pode contribuir para camuflar ruídos inoportunos, desviar a atenção e manter o paciente em contato com o mundo exterior30. Esses benefícios são acentuados quando há apresentação ao vivo, como mostram as falas da categoria companhia: Foi ótimo pra mim, e quando você chegou, eu senti bem porque a gente fica sozinho, ninguém conversa com a gente. (E20) Eu senti bem durante os dias que você estava vindo aqui. (E20) A presença do grupo musical no setor faz com que os pacientes se sintam acolhidos, diminuindo assim o sentimento de solidão que geralmente é experienciado durante as horas de hemodiálise. CONCLUSÕES Com o tratamento hemodialítico, os pacientes se deparam com a dependência de uma máquina para sobreviver. Isso pode fazer com que seu estado emocional seja abalado e, conseqüentemente, tenha sua qualidade de vida prejudicada. Nesse contexto, a música é uma proposta complementar para a humanização da assistência e melhoria da qualidade de vida dos pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise. Neste estudo, nas falas dos entrevistados participantes, foi possível identificar cinco categorias: diferenciação positiva da percepção do tempo de hemodiálise, bem-estar, entretenimento e mudança na rotina, recordações positivas e companhia. Essas categorias evidenciaram o que a música representou para os pacientes durante a sessão hemodialítica, indicando a sua utilização como alternativa eficaz de cuidado de enfermagem. A partir dos resultados obtidos, conclui-se que são de suma importância a utilização da música como cuidado de enfermagem no setor de hemodiálise e o desenvolvimento de novos estudos envolvendo o tema. Recomenda-se replicar este estudo em amostra significativa, de forma a corroborar estas conclusões, com o intuito de tornar as sessões hemodialíticas mais amenas31 e contribuir, dessa forma, para a humanização do atendimento e a melhoria da qualidade de vida de seus pacientes, além de observar um direito de cidadania32 do cliente - ser bem atendido em suas necessidades. p.386 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):382-7. REFERÊNCIAS 1.Soares CMB, Diniz JSS, Lima EM, Vasconcelos MM, Oliveira GR, Canhestro MR. 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