Tese - FELIPE_DE_PAULA_NOGUEIRA_CRUZ (1,70

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOSSISTEMAS
FELIPE DE PAULA NOGUEIRA CRUZ
Variabilidade genética no gene da glicoproteína B (gB)
do Citomegalovírus Humano (HCMV) em amostras de
sangue de pacientes submetidos a transplante renal
SANTO ANDRÉ
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOSSISTEMAS
FELIPE DE PAULA NOGUEIRA CRUZ
Variabilidade genética no gene da glicoproteína B (gB)
do Citomegalovírus Humano (HCMV) em amostras de
sangue de pacientes submetidos a transplante renal
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em Biossistemas da Universidade Federal do ABC
como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre
em Biossistemas.
Departamento:
Centro de Ciências Naturais e Humanas
Área de concentração:
Biologia Molecular/Virologia
Orientador:
Profª. Drª. Maria Cristina Carlan da Silva
SANTO ANDRÉ
2012
Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original,
de acordo com as observações levantadas pela banca no dia da
defesa, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de
seu orientador.
Santo André, ____de _______________ de 20___.
Assinatura do autor: _____________________________________
Assinatura do orientador: _________________________________
Dedicatória
Aos meus pais Antonio e Gilda.
Agradecimentos
Várias pessoas contribuíram para que este trabalho chegasse a bom termo.
Nada na vida conquistamos sozinhos. Sempre precisamos de outras pessoas para
alcançar os nossos objetivos. Muitas vezes um simples gesto pode mudar a nossa vida
e contribuir para o nosso sucesso. A todas elas registro minha gratidão.
À minha orientadora, professora Dra. Maria Cristina Carlan da Silva, pela
orientação, pela amizade, pela paciência e por ter confiado em meu trabalho.
Ao professor Dr. Antonio Sergio Kimus Braz pela amizade, pelos
esclarecimentos dados os quais muito contribuíram para a elaboração deste trabalho.
A todos os amigos do Instituto Pasteur, Rafael de Novaes Oliveira (grande
amigo) por tudo que fez por mim, Pedro Carnielli Jr, Helena Batista, William Fahl e
Juliana Castilho pelo apoio, pela amizade e pelos ensinamentos.
Ao professor Dr. Maurício Lacerda Nogueira e professor Leonardo Guizilini
Plazas Ruiz pela colaboração a qual muito contribuíram.
Aos meus pais, Antonio e Gilda pelo amor, pelo incentivo, pela contribuição e
pelo apoio para que hoje fosse possível a realização desse objetivo. Muito Obrigado!!!!
A Deus e aos Irmãos do Plano Espiritual que estão sempre presentes em minha
vida e no meu coração.
Sumário
Resumo ........................................................................................................................................VIII
Abstract ..........................................................................................................................................IX
Índice de Abreviaturas e Símbolos...................................................................................................X
Índice de Figuras ..........................................................................................................................XII
Índice de Tabelas .........................................................................................................................XIII
1. Revisão Bibliográfica..............................................................................................17
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
1.1. O Citomegalovírus Humano .......................................................................................18
1.2. Estrutura e Composição da Partícula Viral..................................................................19
1.3. Organização Genômica do HCMV..............................................................................19
1.4. Replicação e Latência do HCMV ...............................................................................21
1.5. Epidemiologia .............................................................................................................23
1.6. Patogenia......................................................................................................................24
1.7. Mecanismos de Transmissão......................................................................................25
1.7.1. Infecção Congênita........................................................................................26
1.7.2. Infecção Perinatal ..........................................................................................27
1.7.3. Infecção em Pacientes Transplantados...........................................................28
1.8. Glicoproteínas do HCMV............................................................................................28
1.8.1. Glicoproteína B - gpUL55..............................................................................29
1.8.2. Variabilidade genética da gB em pacientes transplantados............................32
Objetivos........................................................................................................................35
2.1. Objetivos Específicos..................................................................................................35
Materiais e Métodos.................................................................................................36
3.1. Amostra viral de referência.........................................................................................36
3.2. População e amostras do estudo .................................................................................36
3.3. Extração e Purificação de DNA...................................................................................36
3.4. Semi-nested-PCR.........................................................................................................37
3.5. Purificação dos produtos de PCR................................................................................39
3.6. Reação de Sequenciamento de DNA...........................................................................39
3.7. Edição das sequências de DNA...................................................................................39
3.8. Determinação dos genótipos da gB e análise genealógica..........................................40
Resultados.....................................................................................................................43
4.1. Semi-Nested-PCR para amplificação do gene codificador da gB ..............................43
4.2. Reação de Sequenciamento de DNA...........................................................................45
4.3. Determinação dos genótipos da gB e análise genealógica..........................................45
Discussão......................................................................................................................52
Conclusões....................................................................................................................55
Referências Bibliográficas....................................................................................56
Anexos............................................................................................................................63
VIII
Resumo
Um dos componentes mais importantes do Human Cytomegalovirus (HCMV) é a
glicoproteína B (gB), uma proteína altamente conservada essencial para a replicação do
vírion. Contudo, em certas regiões do ORF UL55, como a região do sítio de clivagem da
protease, existem pontos de variação genética, o que resulta em diferentes genótipos da
gB. Estudos demonstram que a infecção por diferentes genótipos da glicoproteína B,
pode estar relacionada à virulência e patogênese do vírus, sendo portanto, um importante
fator de ocorrência de doença. O HCMV é um dos principais agentes patogênicos em
indivíduos imunocomprometidos, sendo uma das principais causas de mortalidade,
devido à infecção primária ou reativação viral. Sendo assim, a importância do diagnóstico
precoce da infecção ativa e da identificação dos genótipos da glicoproteína gB em
pacientes transplantados é de extrema importância. Pretendeu-se com esta dissertação de
mestrado a análise de amostras de sangue periférico de pacientes transplantados renais
quanto à presença do HCMV e determinação dos genótipos da glicoproteína B
predominantes, onde o HCMV foi encontrado em 93% dos pacientes, onde o genótipo
gB2 (77%) foi o mais frequente, seguido pelo genótipo gB3 (15%) e genótipo gB1 (8%).
IX
Abstract
One of the most important components of Human Cytomegalovirus (HCMV) is a
glycoprotein B (gB), a highly conserved protein essential for replication of the virion.
However, in certain regions of the UL55 ORF as the region of the protease cleavage site,
there are points of genetic variation, which results in different genotypes of gB. Studies
show that infection with different genotypes of glycoprotein B may be related to
pathogenesis and virulence of the virus, and therefore an important factor in the
occurrence of disease. The HCMV is a major pathogen in immunocompromised
individuals, and is a major cause of mortality due to primary infection or viral
reactivation. Thus, the importance of early diagnosis of active infection and the
identification of genotypes glycoprotein gB in transplant patients is extremely important.
The intention with this dissertation analysis of peripheral blood samples of kidney
transplant patients for the presence of HCMV and determination of the genotypes of
glycoprotein B predominate, where HCMV was found in 93% of patients where the
genotype gB2 (77 %) was the most frequent, followed by genotype gB3 (15%) and
genotype gB1 (8%).
X
Lista de Abreviaturas e Símbolos
M
Micromole
l
Microlitro
nm
Nanômetro
aa
Aminoácido
AIDS
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
DNA
Ácido desoxirribonucléico
RNA
Ácido ribonucléico
dNTP
Desoxirribonucleotídeo trifosfatado
DTT
Dithiothreitol
EGFR
Receptor do fator de crescimento epidérmico
HCMV
Human Cytomegalovirus
HSV
Herpes simplex virus
HHV-5
Human Herpes virus-5
HSPG
Heparan sulfato
GCMV
Gorilla Cytomegalovirus
gB
Glicoproteína B
gH
Glicoproteína H
gN
Glicoproteína N
gL
Glicoproteína L
gO
Glicoproteína O
gM
Glicoproteína M
gCI
Complexo glicoprotéico I
gCII
Complexo glicoprotéico II
gCIII
Complexo glicoprotéico III
GTR
Tempo geral reversível
IE
Immediate early
Kb
Kilobase
XI
Kpb
Kilo pares de base
kDa
Kilodalton
MCP
Proteína maior do capsídeo
mCP
Proteína menor do capsídeo
MCMV
Murine Cytomegalovírus
MHC
Complexo de Histocompatibilidade Principal
MgCl2
Cloreto de Magnésio
Pb
Par de bases
PCR
Reação em cadeia pela polimerase
PDGFRA
Receptor de fator de crescimento derivado de plaquetas
RFLP
Polimorfismo de fragmento de restrição
UI
Unidade Internacional
UL
Unique long
US
Unique short
XII
Índice De Figuras
Figura 1. Estrutura geral do HCMV..............................................................................................18
Figura 2. Esquema simplificado do genoma do HCMV. Este é organizado em duas regiões de
sequências únicas, única longa (UL) e única curta (EUA), ladeado por dois conjuntos de
repetições invertidas (TRL/IRL) e (IRS/TRS)................................................................................18
Figura 3. Mapa do genoma do HCMV. As setas verdes representam os ORFs prováveis para
codificar uma proteína, setas vermelhas designam os ORFs improváveis para codificar um
polipeptídeo, e as setas azuis indicam ORFs não reconhecidos que apresentam um elevado
potencial para codificar proteínas. A caixa de cinza marca a sequência adicional encontrado na
linhagem
Toledo,
localizando-o
em
relação
ao
genoma
da
linhagem
AD169.............................................................................................................................................20
Figura 4. Ciclo de replicação do HCMV. A partícula viral liga-se à célula, promovendo a fusão
do envelope viral com a membrana plasmática ocasionando a liberação do nucleocapsídeo no
citoplasma. O nucleocapsídeo migra para o núcleo, liberando o DNA viral levando a transcrição
dos genes virais. No núcleo, nucleocapsídeos são montados e migram para o citoplasma aonde
adquirem o envelope final e saem da célula por exocitose ............................................................21
Figura 5. Representação da glicoproteína B em analogia a estrutura do HSV por Pötzsch, et al,
2011.................................................................................................................................................29
Figura 6. Mapa dos códons da glicoproteína B mostrando as regiões de variação ao nível de
peptídeo...........................................................................................................................................31
Figura 7. Quadro do alinhamento de sequências de DNA do HCMV para cada genótipo da gB.
As regiões destacadas indicam os sítios de restrição para as enzimas HinfI e RsaI. Adaptado de
Wu et al., 2010................................................................................................................................40
Figura 8. Eletroforese em gel de agarose a 1% dos amplicons obtidos na reação de semi-nestedPCR para detecção da gB em amostras de sangue de pacientes transplantados: Padrão de peso
molecular (1), CMVHB-3032 (2), CMVHB-3069 (3), controle negativo adicionado na fase de
Nested(4), controle positivo da fase de isolamento de DNA (5) e controle negativo da também da
fase de isolamento do DNA(6)........................................................................................................43
Figura 9. Eletroforese em gel de agarose a 1% dos amplicons obtidos na reação de semi-nestedPCR para detecção do gene GAPDH em amostras de sangue de pacientes transplantados: (1)
CMVHB-2980, (2) CMVHB-3004, (3) CMVHB-3026, (4) CMVHB-4314, (5) controle negativo
adicionado na fase de Nested, (6) Padrão de peso molecular ........................................................44
Figura 10. Alinhamento representativo das sequências da gB de pacientes transplantados. As
regiões destacadas indicam os sítios de restrição para as enzimas HinfI e RsaI presentes na região
variável da gB (Wu et al., 2010).....................................................................................................47
Figura 11. Árvore filogenética enraizada construída pelo método de máxima verossimilhança
utilizando as amostras, genótipos e linhagens. Essa árvore mostra a formação de cinco grupos,
onde o grupo gB2 apresenta a maior concentração das amostras dos pacientes seguidos de gB3 e
gB 1. A raiz da árvore foi feita utilizando a sequência do Citomegalovírus de gorila (GCMV
número de acesso FJ538490.2). Os números próximos de cada nó representam o suporte de ramo
alRT.................................................................................................................................................50
XIII
Figura 12. Árvore filogenética enraizada construída pelo método de máxima verossimilhança
utilizando as sequências dos genótipos da gB e linhagens do HCMV. A raiz da árvore foi feita
utilizando a sequência do Gorilla Cytomegalovírus (GCMV número de acesso FJ538490.2). Os
números próximos de cada nó representam o suporte de ramo alRT, mostrando claramente os
grupos formados para cada genótipo da gB....................................................................................52
XIV
Índice de Tabelas
Tabela 1. Primers utilizados para amplificação da região variável da gB por semi-nestedPCR.................................................................................................................................................36
Tabela 2. Sequências de linhagens do HCMV e genótipos da gB com os números de acesso do
GenBank utilizadas para gerar a sequência consenso do gene UL55, e para a análise genealógica
.........................................................................................................................................................39
Tabela 3. Amostras positivas pela técnica de semi-nested-PCR que foram sequenciadas e
resultado do BLASTn para confirmação do resultado.................................................................45
XV
“Não basta ensinar ao homem uma
especialidade, porque se tornará assim uma
máquina utilizável e não uma personalidade. É
necessário que adquira um sentimento, um senso
prático daquilo que vale a pena ser
empreendido, daquilo que é belo, do que é
moralmente correto...”
(Albert Einstein)
XVI
Revisão Bibliográfica
1. Revisão Bibliográfica
1.1.
O Citomegalovírus Humano
O Human Cytomegalovirus (HCMV) também conhecido como Herpesvírus
humano-5 (HHV-5), pertence à família Herpesviridae, subfamília Betaherpesvirinae, o
qual é um agente infeccioso relativamente frequente no mundo. Em países desenvolvidos,
o número de indivíduos infectados pelo HCMV varia de 40 a 60%, enquanto que em
países em desenvolvimento a sua prevalência pode chegar até 90% (Pass, 2001).
A partícula viral de aproximadamente 200nm de diâmetro (Roizman et al., 1981;
Jacobson & Mills, 1988; Mockarsi et al., 2006) possui como material genético um DNA
de dupla fita, revestido por uma capsídeo protéico de simetria icosaédrica, que por sua
vez, é envolto por uma camada de protéica denominada tegumento e por um envelope
glicoprotéico.
Assim como os demais membros da família Herpesviridae, o HCMV fica em
estado de latência por toda a vida dos indivíduos infectados e este estado é caracterizado
pela presença do DNA viral e ausência de replicação viral em células infectadas tais
como monócitos, (Stainer, et al., 1989). A reativação do vírus pode ocorrer em
decorrência de imunossupressão causada por câncer, imunodeficiência e estresse (Jarvis
& Nelson, 2002).
17
Revisão Bibliográfica
1.2.
Estrutura e Composição da Partícula Viral
A partícula viral do HCMV, típica dos outros membros da família Herpesviridae
(Gibson, 1996), é formada por um DNA de dupla fita linear de aproximadamente 230
Kbp, revestido por um capsídeo icosaédrico, composto por 162 capsômeros, que por sua
vez é envolto por uma camada de proteínas e RNA virais, denominada tegumento, e pelo
envelope glicoprotéico (Figura 1). Estima-se que a partícula viral seja composta de
aproximadamente 59 proteínas estruturais virais e várias proteínas celulares (Varnum et
al., 2004), além do DNA e RNA virais (Bresnahan & Shenk, 2000; Greijer et al., 2000).
Proteínas do envelope
Tegumento externo
Tegumento interno
Capsídeo
Vertex de entrada
Figura 1. Estrutura geral do HCMV. Fonte: viralzone.expasy.org
18
Revisão Bibliográfica
1.3.
Organização genômica do HCMV
O genoma do HCMV, composto de um DNA linear de dupla fita de
aproximadamente 230 Kbp, é formado por duas regiões únicas: a região única longa (UL,
do inglês unique long) e uma região única curta (US, do inglês unique short) (Mocarski et
al., 2007). Estas regiões são flanqueadas por sequências terminais repetidas e invertidas
longas e curtas (TRL, do inglês terminal repeat long e TRS, terminal repeat short) e por
sequências internas repetidas e invertidas (IRL, do inglês internal repeat long e IRS,
internal repeat short (Figura 2) (Mocarski et al., 2007).
Figura 2. Esquema simplificado do genoma do HCMV. O genoma é organizado em duas regiões de sequências
únicas, única longa (UL) e única curta (US), que são flanqueadas por dois conjuntos de repetições invertidas e
repetidas (TRL / IRL) e (IRS / TRS). Fonte: www.nist.gov/mml/biochemical/genetics/cmv_structure.cfm.
Existem relatos que demonstraram que o genoma viral possui 192 ORFs (open
reading frames) capazes de codificar proteínas (Figura 3) (Murphy et al., 2003), dentre
estes, somente cerca de 45 codificam proteínas com função no ciclo replicativo viral
(Dunn et al, 2003).
19
Revisão Bibliográfica
Figura 3. Mapa do genoma da linhagem AD169 do HCMV. As setas verdes representam os ORFs prováveis para
codificar proteínas, setas vermelhas designam os ORFs improváveis para codificar proteínas, e as setas azuis indicam
ORFs não reconhecidos que apresentam um elevado potencial para codificar proteínas. A caixa em cinza marca a
sequência adicional encontrado na linhagem Toledo, localizando-a em relação ao genoma da linhagem AD169. Fonte:
www.nist.gov/mml/biochemical/genetics/cmv_structure.cfm
20
Revisão Bibliográfica
1.4.
Replicação e Latência do HCMV
O ciclo de replicação do HCMV é caracterizado por ser lento, durando cerca de 72
horas desde a entrada do vírus na célula até a liberação de novas partículas virais. O passo
inicial de entrada HCMV na célula hospedeira começa com a ligação de baixa afinidade
entre o vírus e proteoglicano de heparan sulfato (HSPG) presente na superfície celular
(Mocarski et al., 2007).
Após a ligação com o HSPG, ocorre outra ligação específica entre o vírus e
receptores específicos tais como o fator de crescimento epidérmico (EGFR) e integrinas
celulares (Mocarski et al., 2007), levando a fusão do envelope viral com a membrana
plasmática e resultando na liberação do capsídeo e tegumento para o citoplasma da
célula. Em seguida, o capsídeo é transportado em direção ao núcleo onde o DNA viral é
introduzido através dos poros da nucleares. Uma vez dentro do núcleo, o DNA viral é
transcrito pela RNA polimerase II do hospedeiro (Mocarski et al., 2007).
A síntese de proteínas virais dividida em três fases; expressão dos genes precoces
imediatos (imediate early - IE), expressão do genes precoces (early) e expressão de
genes tardios (late). A expressão dos genes precoces imediatos ocorre dentro de 1 a 4
horas após a infecção. As proteínas produzidas nesta fase possuem uma série de funções
incluindo transativação da expressão dos genes precoces e tardios. Os genes precoces
codificam proteínas essenciais para a replicação do DNA viral
tais como a DNA
polimerase viral e o fator de processabilidade da polimerase. Além disso, algumas
proteínas estruturais, tais como os componentes do tegumento também são sintetizados
no início do período precoce (Mocarski et al., 2007).
A fase tardia ocorre entre 36 a 48 horas de infecção após a replicação do DNA, e a
maioria das proteínas estruturais são sintetizadas neste período. Após a produção das
proteínas estruturais, o nucleocapsídeo é montado no núcleo sendo subsequentemente
21
Revisão Bibliográfica
transportado para o citoplasma. Durante sua passagem para o citoplasma o
nucleocapsídeo brota na membrana perinuclear interna adquirindo um envelope primário
e transtitório, que é perdido após fusão fusão do mesmo com a membrana perinuclear
externa. No citoplasma, o nucleocapsídeo brota em membrana derivadas da face trans do
complexo de Golgi, adquirindo o envelope final sendo posteriormente liberado da célula
por exocitose (Figura 4) (Seo & Britt, 2007).
Figura 4. Ciclo de replicação do HCMV. A partícula viral liga-se à célula, promovendo a fusão do envelope viral com
a membrana plasmática ocasionando a liberação do nucleocapsídeo no citoplasma. O nucleocapsídeo migra para o
núcleo, liberando o DNA viral levando a transcrição dos genes virais. No núcleo, nucleocapsídeos são montados e
migram para o citoplasma aonde adquirem o envelope final e saem da célula por exocitose (Huang & Johnson, 2000).
22
Revisão Bibliográfica
A persistência do genoma viral em uma forma não produtiva ocorre em sítios
anatômicos específicos por meses ou vários anos. Isto ocorre devido à capacidade do
vírus de escapar do sistema imunológico ao induzir um estado de latência, ao utilizar
alguns tecidos para replicação e ao expressar genes virais que interferem com a resposta
imune. O escape do sistema imunológico, principalmente de células CD8+ é mediado
por importantes mecanismos, que atuam bloqueando a expressão de moléculas do
complexo de histocompatibilidade principal (MHC) de classe I. A escolha de células
epiteliais das glândulas salivares para replicação viral ocorre devido à expressão de um
número insuficiente de moléculas de MHC classe I nestas células, necessárias para
iniciar o reconhecimento pelas células CD8+ (Morcarski, 2002; Mocarski et al., 2007).
1.5.
Epidemiologia
Estudos epidemiológicos demonstraram que a infecção pelo HCMV ocorre
praticamente em todas as regiões do mundo. Em países desenvolvidos, cerca de 1,0%
dos recém-nascidos, e aproximadamente 60% da população adulta são infectados pelo
HCMV. Enquanto em populações de nível sócio-econômico mais baixo, a prevalência é
significantemente maior, variando entre 80 a 100%. A prevalência de anticorpos contra
o HCMV (anti-HCMV) eleva-se com a idade, atingindo níveis máximos após os 25
anos (Pannuti, 1984; Pass, 2009).
No Brasil, os dados epidemiológicos disponíveis são restritos a algumas áreas
urbanas, tais como o estado de São Paulo. Estudos usando soros coletados de pessoas
saudáveis de diferentes grupos de idade em São Paulo e testados para anticorpos antiHCMV mostraram que em crianças de 0-4 anos de idade a soroprevalência era de 60%,
com um lento aumento após os 15 anos de idade e 80% de positividade no grupo de
idade entre 51 a 60 anos (Almeida et al., 2001).
23
Revisão Bibliográfica
Existe uma nítida relação entre a prevalência de anticorpos em uma determinada
população adulta e seu nível sócio-econômico. Assim, em populações de alto nível
sócio-econômico, a prevalência tem variado, nos diversos países estudados, de 40 a
60%, enquanto em populações de nível sócio-econômico mais baixo, a prevalência é
maior, variando de 80 a 100% (Pass, 2009).
A infecção congênita pelo HCMV destaca-se pela alta frequência com que é
observada, sendo o vírus considerado atualmente, a causa mais comum de infecção
congênita em humanos. Estudos realizados na população de São Paulo demonstram
altas taxas de infecção congênita em populações de nível sócio-econômico baixo e
médio. Um estudo realizado em Ribeirão Preto demonstrou que 2,6% dos recémnascidos apresentavam infecção congênita por HCMV (Yamamoto, et al., 1999).
1.6.
Patogenia
Em indivíduos imunocompetentes a infecção é geralmente assintomática, devido
a um equilíbrio estabelecido entre o sistema imune do indivíduo infectado e a replicação
viral. No entanto, em indivíduos nos quais o sistema imune não está completamente
desenvolvido ou naqueles imunocomprometidos, o vírus pode causar diversas
manifestações clínicas como, mononucleose-símile, febre persistente, mialgia, dor de
cabeça, linfadenopatia cervical, pneumonia, hepatites, distúrbios gastrointestinais,
retinites, anemia hemolítica, trombocitopenia, distúrbios do sistema nervoso central e
periférico e lesões cutâneas (Landolfo et al., 2003).
Em pacientes transplantados o HCMV é um dos principais agentes responsáveis
por morte devido à imunossupressão dos mesmos (Pass, 2009). A principal fonte de
infecção por HCMV, em transplantados são os órgãos dos doadores soropositivos (80-
24
Revisão Bibliográfica
90% dos casos), nos remanescentes 10-20%, a infecção resulta da reativação do vírus
presente em estado latente nos pacientes. Sendo o estado sorológico do doador e do
receptor e a natureza da imunossupressão administrada após o transplante os fatores de
risco mais importantes e determinantes no desenvolvimento da doença por HCMV (Sia
& Patel, 2000). No Brasil, a soroprevalência do HCMV na população adulta chega a
90% (Aquino & Figueiredo, 2001). A incidência de infecção por HCMV durante o
período pós-transplante pode variar de 20 a 60% (Aquino & Figueiredo, 2001; Diemant
et al., 2010).
Em indivíduos com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), apesar da
Terapia Antiretroviral Altamente Ativa contra o HIV (HAART), o HCMV continua a ser
um grave problema uma vez que alguns pacientes não respondem ou não têm acesso ao
tratamento (Gilbert & Boivin, 2005).
1.7.
Mecanismos de Transmissão
O HCMV já foi encontrado em saliva, urina, sangue, secreções respiratórias,
secreção do cervix uterino, esperma, colostro e leite materno, medula óssea, rins e outros
órgãos. Desse modo muitas são as possíveis fontes para disseminação do vírus, podendo a
infecção primária ocorrer no período pré-natal (infecção congênita), perinatal ou pósnatal, tanto por vias naturais como iatrogênicas. Uma vez estabelecida uma infecção
primária em indivíduos imunocompetentes, o vírus pode permanecer em estado
persistente, com baixos níveis de replicação, devido à ação do sistema imune, ou entrar
em estado de latência, caracterizado pela presença do DNA em monócitos e ausência de
replicação viral. O DNA latente pode reativar em determinadas circunstâncias,
especialmente quando houver diminuição da imunidade do hospedeiro resultando
25
Revisão Bibliográfica
formação de partículas virais que podem ser transmitidas para novos hospedeiros
(Mocarski et al., 2007).
1.7.1. Infecção congênita
A infecção congênita por HCMV pode resultar tanto da infecção primária materna
(taxa de transmissão vertical de 40% a 50%) como da reativação do vírus latente (taxa de
transmissão vertical de 0,5 a 2%). Estes dados indicam que os anticorpos maternos
desempenham papel protetor para o feto, evitando doenças clinicamente manifestas. A
viremia materna parece ser o fator mais importante para a propagação da infecção para o
feto, porém, ainda não está esclarecido se o vírus atravessa a barreira placentária no
interior de leucócitos ou livre no plasma. Outra maneira de disseminação seria a infecção
dos tecidos placentários e células amnióticas pelo vírus que, após entrar em contato com
as células da mucosa oral ou gástrica do feto, por meio da deglutição do líquido
amniótico, iniciaria a replicação na orofaringe, alcançando a circulação fetal e
propagando-se para outros órgãos, como o rim. As células epiteliais dos túbulos renais
parecem ser sítio importante de replicação do HCMV, nas crianças infectadas. A
excreção viral, na urina, pode persistir durante anos nessas crianças. Também são
desconhecidos os mecanismos pelos quais a mãe transmite a infecção para o feto durante
a infecção recorrente. Supõe-se que possa ocorrer reativação viral em sítios localizados,
como o endométrio, o miométrio e o canal cervical, com conseqüente propagação para o
feto, mesmo na presença de imunidade prévia (Alford et al., 1990).
A idade gestacional parece ter pouca influência na frequência da infecção fetal por
HCMV, mas, observa-se acometimento mais grave quando a infecção ocorre na primeira
metade da gestação (Alford et al., 1990, Mocarski et al., 2007).
26
Revisão Bibliográfica
1.7.2. Infecção perinatal
O HCMV também pode infectar o recém-nascido durante o trabalho de parto ou
nas primeiras semanas de vida. A infecção perinatal pelo HCMV resulta da contaminação
do recém-nascido com secreção cervical ou leite materno contendo o vírus. Ela também
pode resultar da transmissão iatrogênica através de transfusão sangüínea, principalmente
em prematuros politransfundidos (Pannuti, 1985).
A infecção perinatal pode ser resultado de infecção primária materna, mas,
frequentemente, é causada por infecção recorrente, resultante da reativação viral. Cerca
de 25 a 35% das mães infectadas excretam o vírus pelo leite materno e 40 a 60% das
crianças amamentadas por mais de um mês poderão adquirir a infecção (Stagno et al.,
1983). O HCMV é isolado do leite materno, mais freqüentemente, após um mês do parto
(Almeida et al., 2001).
A vasta maioria das infecções perinatais são assintomáticas, podendo, no entanto,
estar associadas a quadros de pneumonia intersticial de gravidade variável e
hepatoesplenomegalia, atipia linfocitária, exantema, anemia e linfoadenopatia (Kumar et
al., 1984). A gravidade da infecção perinatal, que ocorre nos recém-nascidos prematuros
submetidos a transfusões sangüíneas de doadores infectados por HCMV, é proporcional à
quantidade de sangue transfundido. Esta infecção perinatal pós-transfusional, que possui
período de incubação de trinta a cento e cinqüenta dias, pode evoluir com piora rápida do
estado clínico, síndrome séptica, pneumonite ou exacerbação de quadros clínicos citados
anteriormente, particularmente em bebês prematuros com peso menor que 1.500 gramas e
em bebês de mães soronegativas para HCMV, recomendando-se que estes recebam
sangue depletado de leucócitos (Almeida et al., 2001).
27
Revisão Bibliográfica
1.7.3. Infecção em pacientes transplantados
A gravidade da infecção e as manifestações clínicas são bastante variáveis e
dependem do tipo de transplante, condições clínicas do doador, presença ou não de
reações de histocompatibilidade, e regime de imunossupressão utilizada. Nos
acometidos a doença se apresenta com sinais de síndrome de mononucleose, sendo que
o achado principal é febre de duração variável. Em ordem de frequência podem ser
observados: hepatomegalia, esplenomegalia, mialgia e/ou artralgia, elevações dos
marcadores hepáticos e linfocitose. Linfócitos atípicos são menos evidentes nos
pacientes e, devido à imunossupressão a leucopenia ocorre mais frequentemente que
leucocitose, juntamente com anemia e trombocitopenia. Após a síndrome da
mononucleose, a pneumonia por HCMV é a mais frequente manifestação em pacientes
imunodeprimidos, principalmente em transplantados de medula óssea (Zheng et al.,
2001). Além das manifestações próprias da doença viral, o HCMV parece ser um
imunossupressor, e a infecção por este agente é considerada um fator de risco
independente para o desenvolvimento de superinfecções por outros patógenos
oportunistas. (Maya & Azulay, 2000).
1.8.
Glicoproteínas do HCMV
As glicoproteínas do envelope do HCMV exercem importantes funções no ciclo
de replicação do HCMV, incluindo a adesão, penetração, disseminação entre células e
formação de novas partículas virais. Estas glicoproteínas são adquiridas durante
brotamento do nucleocapsídeo e tegumento em membranas celulares derivadas da face
trans do complexo de Golgi (Britt & Mach 1996; Rasmussen et al., 1997).
28
Revisão Bibliográfica
O envelope do HCMV possui nove glicoproteínas, incluindo a glicoproteína B
(gB/UL55), glicoproteína M (gM/UL100), glicoproteína H (gH/UL75), glicoproteína L
(gL/UL115), glicoproteína O (gO/UL74), glicoproteína N (gN/UL73), gP48 (UL4),
gpTRL10 e UL33 (Varnum et al., 2004). A gH, codificada pelo ORF UL75, constituída
de 742 a 743 aminoácidos, tem sido indicada como alvo de anticorpos neutralizantes e,
assim como a gB, é importante no ciclo de replicação viral (Spaete, 1994). A gL, produto
do ORF UL115 de 278 aminoácidos, é considerada um facilitador da expressão de gH,
através do complexo formado pela sua junção mediada por pontes dissulfeto (Spaete,
1994). A gO foi recentemente descrita como codificada pelo gene UL74 (Huber, 1998). É
composta de 188 a 195 aminoácidos e forma, juntamente com a gH e a gL, o complexo
gCIII (Huber, 1999; Li, 1997), Estas estão organizadas em três complexos glicoprotéicos
de alto peso molecular, chamados gCI (formado por gB), gCII (por gM/gN) e gCIII
(formado por gO/gH/gL). Estes complexos podem estar unidos por pontes dissulfeto, ou
podem ser compostos de dímeros ou multímeros de glicoproteínas derivadas da clivagem
de um precursor simples e ainda podem ser formados por diferentes glicoproteínas
(Varnum et al., 2004).
1.8.1. Glicoproteína B – gpUL55
Um dos mais importantes componentes do HCMV é a gB, uma proteína de 905 a
907 aminoácidos, dependendo da linhagem viral, codificada pelo ORF UL55, e presente
no envelope viral (Figura 5).
29
Revisão Bibliográfica
Figura 5. Arquitetura dos domínios da glicoproteína B do HCMV. As regiões coloridas representam os domínios
individuais em analogia à estrutura da gB do Herpes Simplex Virus (HSV). Pötzsch, et al, 2011.
Diversos estudos demonstram que a gB está envolvida com vários processos
como a ligação entre o vírus e a célula, fusão do envelope viral com a membrana
plasmática, e orientação de novas partículas virais para aquisição do envelope final da
partícula (Varnum et al., 2004, Britt & Mach 1996, Lopper e Compton 2004).
Como mencionado, a gB utiliza como receptores as moléculas de HSPG para a
fixação e a penetração de HCMV, e outros receptores específicos do hospedeiro tais
como integrina beta 1 (ITGB1) e receptor do fator de crescimento derivado de plaquetas
(PDGFRA) (Mocarski et al., 2007).
30
Revisão Bibliográfica
A gB é uma proteína altamente imunogênica e considerada o principal alvo de
anticorpos neutralizantes, e da resposta imunológica humoral e celular (Rasmussen et
al., 1997; Britt & Mach, 1996, Shepp et al., 1996). Estudos demonstram que anticorpos
monoclonais anti-gB neutralizam o vírus impedindo a ligação das partículas virais com
os receptores da superfície celular (Fries , 1994, Navarro et al., 1997; Dunn et al., 2003;
Yun et al., 2003).
Durante o transporte pelo complexo de Golgi, a gB é clivada realizada por uma
furina do hospedeiro, gerando duas subunidades gp55 e gp116 que são ligadas por
pontes dissulfeto ( Lopper & Compton, 2002; Chou, 1992; Brown & Abernathy, 1998).
A furina foi a primeira pro-proteína convertase a ser identificada, está localizada
principalmente na face trans do complexo de Golgi e é capaz de clivar precursores de
uma grande variedade de proteínas, incluindo fatores de crescimento, sistema
complemento, receptores, exotoxinas bacterianas e glicoproteínas do envelope (Brown
& Abernathy, 1998).
O gene UL55 possui regiões variáveis localizadas gene na região N-terminal, Cterminal (Meyer-König et al., 1998) e no sítio de clivagem de protease, região
localizada entre os aminoácidos 460 e 461 (Figura 6) (Chou, 1992, Vogelberg et al.,
1996).
Baseado nas variações no sítio de clivagem da protease, foram caracterizados
cinco genótipos da gB (gB1, gB2, gB3, gB4, gB5) (Chou & Dennison, 1991; Chou, 1990;
Chou, 1992; Shepp et al.,1998).
31
Revisão Bibliográfica
Figura 6. Mapa dos códons da glicoproteína B mostrando as regiões de variação ao nível de peptídeo. As variações
que ocorrem geralmente em mais de uma linnhagem estão indicadas pelas linhas maiores. Variações que ocorrem em
uma única linhagem (linhas mais curtas). Os círculos fechados indicam sítios de glicosilação potenciais (Asn-X-Ser
ou Asn-X-Thr). A seta indica o sítio de clivagem (gp55 região do códon 461) (Adaptado de Chou, 1992).
1.8.2. Variabilidade
genética
da
gB
em
pacientes
transplantados
Muitos estudos relatam a correlação dos genótipos da gB com o quadro clínico,
carga viral em pacientes infectados, e
sua prevalência em diferentes grupos de
pacientes imunocomprometidos estudados. Torok-Storb et al.,1997, descrevem em seu
estudo com indivíduos transplantados de medula óssea, a correlação dos tipos gB3 e
gB4 com morte por mielossupressão. Em outro estudo com pacientes transplantados, o
subtipo gB1 foi encontrado mais comumente em pessoas que sobreviveram à infecção
pelo HCMV, com melhor prognóstico (Fries et al., 1994, Patel & Paya, 1997). Estudos
em pacientes que realizaram transplante renal e outros receptores de órgãos sólidos
relatam que o genótipo gB1 é o mais frequente (Manuel et al., 2009). Além disso,
trabalhos demonstram que a coinfecção com múltiplos genótipos gB em pacientes
imunocomprometidos está associada com maior carga viral, maior prevalência de
doença por HCMV, e maior grau de rejeição do órgão, além disso, muitos genótipos são
frequentemente concomitantes à infecção com outras herpesviroses (Coaquette et
al.,2004). Estes resultados evidenciam a hipótese de que a variabilidade genética em gB
32
Revisão Bibliográfica
influencia na virulência do HCMV, devido ao fato de que a patogenicidade está
frequentemente ligada ao tropismo celular (Pang et al., 2008, Manuel et al., 2009).
No Brasil, estudos como o de Aquino & Figueiredo, 2001 abordaram as relações
entre a infecção por HCMV com dados clínicos de pacientes submetidos a transplante
de rim no período pós-transplante através das técnicas de antigenemia e nested-PCR
para o detecção da gB em amostras de sangue periférico e urina. Neste estudo, os
pacientes que apresentaram sintomas da infecção pelo HCMV mostraram maior risco de
morte em relação aos pacientes assintomáticos.
Yamamoto et al., 2007 compararam a distribuição dos genótipos da gB em mães
e crianças infectadas congenitamente com um grupo não infectado para estudar a
variação genética das linhagens do HCMV e transmissão materno-fetal. A infecção por
múltiplos genótipos foi observada no período pós-parto mães infectadas pelo vírus HIV.
Os genótipos da gB não se correlacionaram com a transmissão intra-uterina do HCMV.
A distribuição dos genótipos encontrada refletiu a frequência de linhagens selvagens
circulantes da região.
Correia-Silva et al., 2010 determinaram uma prevalência do genótipo 2 da gB
em pacientes submetidos ao transplante alogênico de células tronco hematopoiéticas e
também a correlação entre genótipos da gB e níveis de citocinas. Este estudo
demonstrou que a diminuição dos níveis de IL-1 e aumento de IL-10 no sangue
parecem estar associados com menor sobrevida dos pacientes e que genótipos do
HCMV podem estar associados com os diferentes níveis de citocinas presentes em
amostras de saliva e sangue.
Finalmente, um estudo de Diemant et al., 2010 em receptores pediátricos de
transplante de rim e medula óssea demonstrou a prevalência dos genótipos gB1 e gB2,
Pacientes em que se detectou o genótipo gB1 apresentaram sintomas como febre, vômito,
33
Revisão Bibliográfica
diarréia, característicos de provável doença por HCMV durante uma infecção ativa.
Pacientes que apresentaram o genótipo gB2 também apresentaram os mesmos sintomas
mai potencializados. Por outro lado, os pacientes que apresentaram mistura de linhagens
(gB1/gB4, gB1/gB2 e gB2/gB3) se mostraram assintomáticos.
34
Materiais e Métodos
2. Objetivos
Pretendeu-se com esta dissertação de mestrado fornecer dados epidemiológicos com
relação à infecção por HCMV e variabilidade genética da gB em pacientes que foram
submetidos a transplante renal.
2.1.
Objetivos específicos
-
Investigar a presença do HCMV em pacientes submetidos a transplante renal;
-
Determinar a prevalência dos diferentes genótipos da gB na população de
pacientes transplantados analisada;
35
Materiais e Métodos
3. Materiais e Métodos
3.1.
Amostra viral de referência
O DNA da linhagem clínica fix do HCMV, clonado como um Cromossomo
Bacteriano Artificial (HCMV FIX-BAC), gentilmente doado por Thomas Shenk
(Universidade de Princeton), foi utilizado como controle positivo na etapa de extração
do DNA total e nas reações de semi-nested PCR.
3.2.
População e amostras do estudo
O presente estudo compreende um grupo de 72 pacientes que realizaram
transplante renal pelo Hospital da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
(FAMERP). As amostras de sangue periférico dos pacientes foram coletadas em tubos
contendo EDTA e gentilmente enviadas para a UFABC pelos Professores Dr. Maurício
Lacerda Nogueira e Leonardo Guizilini Plazas Ruiz.
3.3.
Extração e Purificação de DNA
O DNA total do sangue periférico dos pacientes foi extraído utilizando-se o kit
Wizard® Genomic DNA Purification Kit (Promega™) seguindo as instruções do
fabricante. O protocolo utilizado foi feito da seguinte maneira: 300l do sangue foram
homogeneizados por inversão com 900l de solução de lise de células, incubados à
temperatura ambiente por 10min e centrifugação por 20s a 16000xg*.
36
Materiais e Métodos
Adicionou-se 300l de solução de lise de núcleo e 100l de solução de
precipitação de proteínas e misturou-se vigorosamente por 20s e centrifugação por 3min
a 16000xg*. O sobrenadante foi transferido para um novo tubo contendo 300l de
isopropanol. A solução foi homogeneizada e centrifugada por 1min a 16000xg*. O
sobrenadante foi descartado e adicionou-se 300l de etanol a 70% e a solução foi
centrifugada por 1min a 16000xg*. Novamente o sobrenadante foi descartado e o DNA
ressuspendido em 100l de solução de reidratação.
Para controle positivo da extração, o DNA viral HCMV (FIX-BAC) foi
adicionado a uma amostra de sangue, negativa para o HCMV, antes da extração do
DNA total. Como controle negativo o mesmo protocolo foi realizado somente com
água.
3.4.
Semi-nested-PCR
Em uma primeira etapa uma reação de PCR foi realizada conforme protocolo
descrito por Zheng, et al., 2001. Brevemente, foi preparada uma mistura contendo 5µl
do DNA, tampão 1X (200mM Tris-HCl pH 8.4, 500mM KCl), 2 mM de MgCl2
(50mM), 0,25 µM dos primers gB-1up e gB-low (Tabela 1), 0,2 µM da mistura de
dNTP (250mM de cada dNTP), 1U de Taq DNA polimerase (Invitrogen, USA) e água
para completar 50µl. Os ciclos da reação utilizados foram de 94 ºC/15 minutos, seguido
de cinco ciclos de 94 ºC 30 segundos, 60°C /30 segundos e 72ºC/45 segundos e após
trinta ciclos de 94 ºC/30 segundos, 55,2°C/30 segundos e 72ºC/45 segundos e
finalmente, extensão final de 72ºC/10 minutos.
Na segunda etapa de amplificação (Nested) 5µl do amplicon da reação de PCR
foi adicionado a uma mistura contendo tampão 1X (200mM Tris-HCl pH 8.4, 500mM
37
Materiais e Métodos
KCl), 2 mM de MgCl2 (50mM), 0,25 µM dos primers gB-1up e gB-2low, que
produzem um fragmento de 316pb (Tabela1), 0,2 µM da mistura de dNTP (250mM de
cada dNTP), 1U de Taq DNA polimerase (Invitrogen, USA) e água para completar
50µl. Novamente, a mistura foi submetida aos mesmos 35 ciclos térmicos realizados na
etapa de PCR descrita anteriormente.
A presença de DNA celular nas amostras foi confirmada pela amplificação do
gene GAPDH humano (Gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase) utilizando-se o conjunto
de primers descrito na tabela 1 e o mesmo protocolo descrito para a reação de PCR para
o ORF UL55.
O produto da amplificação submetido à eletroforese em gel de agarose 1%, em
tampão Tris-Acetato EDTA. Para visualização o DNA foi corado com brometo de
etídeo e visualizado em transiluminador UV Carestream 212 Pro.
Tabela 1. Primers utilizados no estudo
Primers
Sequência 5'-3'
Tamanho
Posição no
Amplicon
genoma
Referência
(pb)
gB-1up
TGT TCT GGC AAG GYA TCA AG
gB-low
TCA CAA GAC ATC ACC CAT GAA AC
gB-2 low
GTT GTT GTA RAT GGC YGA GAG
GAPDH foward
ACC CAC TCC TCC ACC TTT GAC
GAPDH reverse
CTG TTG CTG TAG CCA AAT TCG T
352
83024
Zheng, et al., 2001
83353
Zheng, et al., 2001
316
83319
Zheng, et al., 2001
203
1066
Murphy, E. 2008
1269
Murphy, E. 2008
38
Materiais e Métodos
3.5.
Purificação dos produtos de PCR
A purificação dos produtos obtidos da amplificação por PCR foi realizada
utilizando-se o kit Ilustra™ GFX™ PCR DNA and Gel Band Purification kit (GE
Healthcare Bio-sciences), seguindo as instruções do fabricante.
3.6.
Reação de sequenciamento de DNA
A reação de sequenciamento de DNA consistiu em 4 L de BigDye 3.1 (Applied
Byosystems), 3,2 pmoles de cada primer senso e antisenso referente ao gene em
reações independentes, entre 30 a 60 ng do DNA em estudo e água DNase RNAse free
para uma reação final de 10L, levando-se ao termociclador Mastercycler Gradient
(Eppendorf ) para 35 ciclos de 96 ºC/10 segundos, 50 ºC/5 segundos e 60ºC/4
minutos, com rampa de 1ºC/segundo entre cada temperatura.
A purificação da reação de sequenciamento foi realizada por Sephadex™
G(GE healthcare Bio-sciences)em placas especificas para PCR com 96 orifícios.
Após a purificação, as sequências foram obtidas a partir do sequenciador
automático ABI-3130 (Applied Biosystems™).
3.7.
Edição das sequências de DNA
Para cada nucleotídeo mostrado nos eletroferogramas, foram atribuídos scores
através
do
software
Phred
(http://asparagin.cenargen.embrapa.br/phph/),
sendo
39
Materiais e Métodos
utilizadas as posições que apresentaram nucleotídeos com índice Phred maior que 20,
isto é, uma taxa de erro equivalente a menos uma base para 100 sequenciadas.
Os nucleotídeos com índice Phred igual ou menor a 20 foram conferidos
manualmente com o programa Chromas v. 2.23 (© 1998-2002 Technelysiumm Pty
LTD), para a busca por erros de interpretação e discrepâncias entre cada uma das fitas
sequenciadas. A sequência final de cada amostra foi obtida com o aplicativo CAPcontig
com o programa Bioedit v. 5.0.9 (Hall, 1999), sendo a mesma submetida a BLASTn
(http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi) para confirmação do sequenciamento.
3.8.
Determinação dos genótipos da gB e análise genealógica
Para a construção das árvores filogenéticas, as sequências de DNA obtidas foram
alinhadas pelo método do alinhamento múltiplo Muscle (Edgar, 2011) utilizando-se o
programa Seaview 4 (Gouy, Guindon & Gascuel, 2010), conferindo-se manualmente os
alinhamentos para cada conjunto de sequências alinhadas.
Para a reconstrução filogenética das amostras de HCMV, foi utilizado o método
de máxima verossimilhança com o software PhyML (Anisimova & Gascuel, 2006) com
modelo evolutivo GTR (General Time Reversible) através da inteface gráfica Seaview 4
com suporte de ramos aLRT (Guindon & Gascuel, 2003). Foram utilizadas 26
sequências de genomas completos do HCMV de diferentes linhagens presentes no
GenBank (Tabela 2) como grupos externos para o enraizamento das árvores.
Os genótipos da gB foram determinados através da comparação das sequências
obtidas com as sequências publicadas por Wu et al., 2010 (Figura 7).
40
Materiais e Métodos
Tabela 2. Linhagens do HCMV e sequências parciais da gB com seus respectivos
números de acesso do GenBank, utilizadas para gerar a árvore filogenética do ORF
UL55 (gB).
Amostra
strain AD169 complete genome
Número de Acesso
X17403.1
Referência
Chee, et al., 1990
strain AF1 complete genome
GU179291.1
Dargan, et al., 2010
strain JHC complete genome
HQ380895.1
Jung, et al., 2011
Gorilla gorilla cytomegalovirus
FJ538490
Leendertz et al., 2009
strain Toledo complete genome
GU937742.1
Davison, et al., 2003
strain Merlin complete genome
AY446894.2
Davison, et al., 2003
strain JHC complete genome
HQ380895.1
Jung, et al., 2011
strain JP complete genome
GQ221975.1
Cunningham, et al., 2010
strain U8 complete genome
GU179288.1
Dargan, et al., 2010
strain U11 complete genome
GU179290.1
Dargan, et al., 2010
strain HAN13 complete genome
GQ221973.1
Cunningham, et al., 2010
strain HAN20 complete genome
GQ396663.1
Cunningham, et al., 2010
strain HAN38 complete genome
GQ396662.1
Cunningham, et al., 2010
strain VR1814 complete genome
GU179289.1
Dargan, et al., 2010
strain 3157 complete genome
GQ221974.1
Davison, et al., 2003
strain 3301 complete genome
GQ466044.1
Cunningham, et al., 2010
gB1 glycoprotein B
GU365817.1
Murthy, et al., 2011
gB1* glycoprotein B
GU365818.1
Murthy, et al., 2011
gB1** glycoprotein B
GU365819.1
Murthy, et al., 2011
gB2 glycoprotein B
GU365820.1
Murthy, et al., 2011
gB2* glycoprotein B
GU365821.1
Murthy, et al., 2011
gB3 glycoprotein B
GU365822.1
Murthy, et al., 2011
gB3* glycoprotein B
GU365823.1
Murthy, et al., 2011
gB4 glycoprotein B
GU365824.1
Murthy, et al., 2011
gB5 glycoprotein B
GU365825.1
Murthy, et al., 2011
41
Materiais e Métodos
Figura 7: Quadro do alinhamento de sequências de DNA do HCMV para cada genótipo da gB. As regiões destacadas
indicam os sítios de restrição para as enzimas HinfI e RsaI presentes na região variável da gB. Adaptado de Wu et al.,
2010.
42
Resultados
4. Resultados
4.1.
Semi-nested-PCR para amplificação do gene codificador da
glicoproteína B (UL55)
Foram testadas 72 amostras de sangue periférico de pacientes submetidos a
transplante renal para a presença do HCMV, pela técnica de semi-nested-PCR
utilizando-se primers para a região variável da glicoproteína gB e 26 (36,1%) mostraramse positivas.
A figura 8 demonstra resultados da amplificação do fragmento de 316pb
correspondente a região variável da gB em amostras positivas representativas de dois
pacientes, controle positivo (HCMV FIX-BAC) e controle negativo (água).
Em todas as 72 amostras testadas, o gene GAPDH foi amplificado confirmando
a presença de DNA celular nas mesmas. A figura 9 mostra amplificação da região de
203 pb do GAPDH em quatro amostras de pacientes e um controle negativo da fase de
isolamento do DNA, no qual não houve amplificação.
43
Resultados
1
2
3
4
5
6
PM
3032
3069
H2O
FixBac
H2O
316 pb
Figura 8. Eletroforese em gel de agarose a 1% dos amplicons obtidos na reação de semi-nested-PCR para detecção
da gB em amostras de sangue de pacientes transplantados: Padrão de peso molecular (1), CMVHB-3032 (2),
CMVHB-3069 (3), controle negativo adicionado na fase de Nested (4), controle positivo da fase de isolamento de
DNA (5) e controle negativo da também da fase de isolamento do DNA(6).
1
2
3
4
5
6
2982
3004
3026
4314
H2O
PM
203 pb
Figura 9. Eletroforese em gel de agarose a 1% dos amplicons obtidos na reação de Semi-Nested-PCR para detecção
do gene GAPDH em amostras de sangue de pacientes transplantados: (1) CMVHB-2980, (2) CMVHB-3004, (3)
CMVHB-3026, (4) CMVHB-4314, (5) controle negativo adicionado na fase de Nested, (6) Padrão de peso molecular.
44
Resultados
4.2.
Reação de sequenciamento de DNA
Das 26 amostras positivas por semi-nested-PCR para o ORF UL55 sequenciadas,
todas resultaram em sequências com índice Phred maior que 20 e contigs viáveis após a
aferição com o aplicativo CAPcontig e edição manual pelo aplicativo Chromas. Para
cada uma das sequências obtidas, a análise de BLASTn confirmou as identidades
máximas entre as amostras estudadas.
A região analisada do gene corresponde à posição nucleotídeo 488 ao
nucleotídeo 679 do gene UL55 (em relação à linhagem AD169 número de acesso
X17403.1), referentes à região do sítio de clivagem da protease.
4.3.
Determinação dos genótipos da gB e análise genealógica
A determinação dos genótipos da gB foi realizada utilizando-se como base de
referência sequências publicadas por Wu et al., 2010 (Fig.7). Nestas sequências estão
destacados os sítios de restrição para as enzimas HinfI e RsaI e variações dentro dos
mesmos nos diferentes genótipos.
45
Resultados
HinfI – GAATC
RsaI - GTAC
Figura 10. Alinhamento representativo das sequências da gB de pacientes transplantados. As regiões destacadas
indicam os sítios de restrição para as enzimas HinfI e RsaI presentes na região variável da gB (Wu et al., 2010).
Também para determinação dos genótipos da gB foram geradas árvores
filogenéticas com base na região do gene UL55 analisada. Para construção das árvores
foram utilizadas sequências de diferentes linhagens do HCMV, extraídas do GenBank,
utilizando método de máxima verossimilhança com o software PhyML com modelo
evolutivo GTR (General Time Reversible) através do Seaview 4. A tabela 3 mostra todas
as amostras positivas para HCMV e seus respectivos genótipos para a glicoproteína gB.
46
Resultados
Tabela 3. Amostras dos pacientes positivas pela técnica de semi-nested-PCR com os
resultados da análise do BLASTn e os genótipos da gB.
Amostras Positivas para Citomeglovírus Humano
Número
Amostra
Resultado do BLASTn
Genótipo
1
CMVHB-2982
Linhagem Toledo
gB3
2
CMVHB-2984
Linhagem U11
gB2
3
CMVHB-3032
Linhagem JP
gB2
4
CMVHB-3069
Linhagem U11
gB2
5
CMVHB-3072
Linhagem U11
gB2
6
CMVHB-4312
Linhagem AF1
gB1
7
CMVHB-4327
Linhagem U11
gB2
8
CMVHB-4328
Linhagem U11
gB2
9
CMVHB-4329
Linhagem U11
gB2
10
CMVHB-4330
Linhagem U11
gB2
11
CMVHB-4333
Linhagem U11
gB2
12
CMVHB-5146
Linhagem U11
gB2
13
CMVHB-5157
Linhagem U11
gB2
14
CMVHB-5192
Linhagem U11
gB2
15
CMVHB-5212
Linhagem VR1814
gB3
16
CMVHB-5237
Linhagem VR1814
gB3
17
CMVHB-5350
Linhagem U11
gB2
18
CMVHB-5353
Linhagem U11
gB2
19
CMVHB-5365
Linhagem U11
gB2
20
CMVHB-5377
Linhagem U11
gB2
21
CMVHB-5398
Linhagem U11
gB2
22
CMV-HB 6261
Linhagem U11
gB2
23
CMV-HB 6338
Linhagem U11
gB2
24
CMV-HB 6347
Linhagem U11
gB1
25
CMV-HB 6390
Linhagem U11
gB2
26
Amostra5
Linhagem VR1814
gB3
Para construção da árvore, demonstrada na figura 11, foi analisado o segmento
gênico correspondente à região entre o nucleotídeo 1330 a 1513. A raiz desta árvore foi
realizada utilizando-se uma sequência de Citomegalovírus de gorila (GCMV), retirada
do GenBank (número de acesso FJ538490.2). Esta árvore nos mostra cinco
agrupamentos nos quais foi realizada análise da região mencionada pelas linhagens do
HCMV (genoma completo, sequências parciais da glicoproteína B e sequências obtidas
47
Resultados
das amostras dos pacientes. A grande maioria das amostras dos pacientes se concentrou
no grupo do genótipo gB2, seguido pelo grupo gB3 e gB1.
48
Resultados
Figura 11. Árvore filogenética enraizada construída pelo método de máxima verossimilhança utilizando as amostras,
genótipos e linhagens. Essa árvore mostra a formação de cinco grupos, onde o grupo gB2 apresenta a maior
concentração das amostras dos pacientes seguidos de gB3 e gB 1. O outgroup da árvore foi feito utilizando a
sequência do Citomegalovírus de gorila (GCMV número de acesso FJ538490.2). Os números próximos de cada nó
representam o suporte de ramo aLRT.
49
Resultados
Na árvore da figura 12 foi utilizado o segmento completo dos genótipos da gB,
alinhados com as sequências das linhagens do HCMV e como esperado, foram
formados todos os grupos correspondentes a cada genótipo da gB.
50
Resultados
Figura 12. Árvore filogenética enraizada construída pelo método de máxima verossimilhança utilizando as
sequências dos genótipos da gB e linhagens do HCMV. O outgroup da árvore foi feito utilizando a sequência do
Citomegalovírus de gorila (GCMV número de acesso FJ538490.2). Os números próximos de cada nó representam o
suporte de ramo aLRT, mostrando claramente os grupos formados para cada genótipo da gB.
51
Discussão
5. Discussão
O HCMV está entre os maiores problemas da saúde pública mundial, sendo o
causador
de
inúmeras
infecções
em
pacientes
imunodeprimidos.
Com
o
desenvolvimento de imunossupressores mais potentes, passaram a ocorrer relatos de
infecções virais com maior severidade e maior taxa de recorrência (Smak Gregoor et al.,
2003). A alta incidência do vírus na população, aliada à sua característica oportunista e
habilidade de se disseminar para vários órgãos explicam sua frequente ocorrência na
população transplantada (Costa, 1999). Nesse grupo de pacientes, a infecção primária
pode ter origem em fontes diversificadas, incluindo o próprio enxerto, ou secundária,
quando o indivíduo tem infecção latente, sendo que as infecções primárias geralmente
são mais graves (Maya & Azulay, 2000).
Muitos estudos relataram a correlação dos genótipos da gB do envelope viral
com o quadro clínico e carga viral dos pacientes infectados. A gB é um dos
componentes mais importantes do HCMV. Esta proteína altamente conservada essencial
para a replicação do vírion possui, em certas regiões, como por exemplo, a região do
sítio de clivagem da protease pontos de variação genética, o que resulta em diferentes
genótipos da gB, fator este, que pode influenciar diretamente na patogênese e virulência
do HCMV (Coaquette et al., 2004). Acredita-se que algumas linhagens têm preferência
em infectar determinados órgãos ou tipos celulares, ou que são mais virulentas ou mais
imunossupressoras que outras, ou ainda, possuem uma maior probabilidade de
contribuir para a rejeição de órgão (Binder et al., 1999; Diemant et al., 2010).
Em nosso estudo o HCMV foi detectado em 26 das 72 amostras de pacientes
submetidos a transplante renal (36,1%) pela técnica de semi-nested PCR. A discrepância
dos dados da literatura em relação aos resultados de nosso estudo, no qual foi utilizada a
52
Discussão
técnica de semi-nested PCR, e em somente 28 amostras o vírus detectado, pode ser
devido a diferenças na sensibilidade das técnicas ou aos diferentes conjuntos de primers
utilizados. Além disso, a dificuldade da detecção do HCMV em todas as amostras
testadas neste trabalho também pode ser devido a variabilidade no ORF UL55 presente
na região de anelamento dos primers usados em semi-nested PCR, embora os
oligonucleotídeos utilizados sejam específicos para regiões mais conservadas do ORF
UL55.
Novak et al., 2011 relatou que a infecção por múltiplos genótipos pode
influenciar a geração de novas variantes pela recombinação genética, dificultando
assim, a detecção do HCMV por métodos moleculares.
Em um estudo realizado por Zheng et al., 2002, o HCMV foi detectado pela
técnica de semi-nested-PCR em 18% dos pacientes submetidos a transplante de fígado
estudados. Neste estudo foram abordadas as variações genéticas da gB e prevalência dos
genótipos por sequenciamento genético, sendo o genótipo gB1 predominante, seguido
do genótipo gB2.
Diemant et al., 2010, também observaram predominância do genótipo gB1,
sendo que o gB2 também apresentou uma frequência considerável em pacientes
transplantados renais. Neste estudo os pacientes com o genótipo gB1 apresentaram
sintomas como febre, vômito e diarréia característicos de uma doença pelo HCMV. Já
pacientes com genótipo gB2 também demonstraram os mesmos sintomas, porém mais
graves e com recorrência da infecção. Por outro lado, os pacientes que apresentaram
mistura de linhagens (gB1/gB4, gB1/gB2 e gB2/gB3) permaneceram assintomáticos.
No presente estudo foi encontrada uma prevalência do genótipo gB2 em
amostras de pacientes submetidos a transplante renal no hospital da Faculdade de
Medicina de São José do Rio Preto, seguido pelos genótipos gB3 e gB1. Os genótipos
53
Discussão
gB4 e gB5 não foram encontrados neste estudo. Os resultados apresentados corroboram
os estudos de Vogelberg et al., 1996 e Carraro & Granato, 2003 .
Como mencionado alguns estudos anteriores em pacientes submetidos a
transplante renal observaram a prevalência do genótipo gB1 (Diemant et al., 2010; Madi
et al., 2011). As diferenças genotípicas encontradas nos diferentes estudos podem ser
devido à variação na distribuição geográfica dos genótipos ou também pela diversidade
de linhagens virais (Wada et al., 1997). A propriedade da gB em promover a entrada e
disseminação viral nas células hospedeiras, provavelmente pode ser diferente entre os
genótipos em sua habilidade de regular e interagir com moléculas de adesão podendo
caracterizar a prevalência de genótipos específicos em determinados grupos de
pacientes (Meyer-König et al., 1998; Diemant et al., 2010; Madi et al., 2011).
54
Conclusões
6. Conclusões
A partir dos resultados deste estudo pode-se obter as seguintes conclusões:
1. O HCMV foi detectado pela técnica de semi-nested-PCR em 36,1% da
população analisada;
2. Nos pacientes estudados houve uma prevalência do genótipo gB2 (78%) seguido
pelo genótipo gB3 (18%) e genótipo gB1 (4%).
3. Não foram encontrados os genótipos gB4 e gB5.
55
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ZEEVI, A.; SPICHTY, K.; BANAS, R.; MOREL, P.; IACONO, A.; DAUBER. J. Two
types of CMV-specific memory responses in lung transplant recipients. Transplant Proc
31(1-2):173-4, 1999.
ZHENG SS, ZHOU L, QIAN J, CAI T, FAN J, MA WH. Cytomegalovirus glycoprotein
B sequence variation in Chinese liver transplant recipients. Hepatobiliary Pancreat Dis
Int. 2001 Feb;1(1):26-9.
61
Referências Bibliográficas
62
Anexos
Anexos
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto –
CEP/FAMERP
Av. Brigadeiro Faria Lima, 5416 – Vila São Pedro – Fone/fax: 17 –32015813
São José do Rio Preto – SP
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU RESPONSÁVEL LEGAL
Nome:..............................................................................................................................................
Documento de Identidade:............................................... Sexo:.....................................................
Endereço:........................................................................................................................................
Bairro:............................................................ Cidade:.....................................................................
CEP:.......................................... Telefone: DDD(
)..................................................................
Responsável Legal:..........................................................................................................................
Natureza (grau de parentesco, tutor, curador etc.):.......................................................................
Documento de Identidade:............................................... Sexo:.....................................................
Endereço:........................................................................................................................................
Bairro:............................................................ Cidade:.....................................................................
CEP:.......................................... Telefone: DDD(
)..................................................................
DADOS SOBRE A PESQUISA
Título do Protocolo de Pesquisa: Variabilidade genética no gene da glicoproteína B (gB) do
Citomegalovírus Humano (HCMV) em amostras de sangue de pacientes submetidos a
transplante renal
Pesquisador responsável: Profª Dra Maria Cristina Carlan da Silva
Cargo/Função: Professora Adjunta
Inscrição Conselho Regional nº:
Avaliação do risco da Pesquisa:
Risco mínimo .....
Risco baixo .....
Risco médio .....
Risco maior .....
Duração da Pesquisa: 2 anos.
64
Anexos
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto –
CEP/FAMERP
Av. Brigadeiro Faria Lima, 5416 – Vila São Pedro – Fone/fax: 17 –32015813
São José do Rio Preto – SP
DECLARAÇÃO
Declaro para os devidos fins que:



Tenho ciência dos termos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e
que cumprirei os mesmos;
Que tornarei público os resultados do projeto de pesquisa (nome do
projeto________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
________________________________________sejam eles favoráveis ou não;
Que há infra-estrutura necessária para o desenvolvimento do referido projeto.
São José do Rio Preto,
de
de 2012.
________________________
Responsável pelo projeto
________________________
Nome e Setor
________________________
Nome e Setor
__________________________
Orientador
__________________________
Nome e Setor
____________________________
Nome e Setor
65
Anexos
Protocolo de Isolamento de DNA
Lise das células
1. Para 300 l de amostra, pipetar 900 l de solução de lise de células. Misturar por inversão.
2. Incubar por 10 minutos à temperatura ambiente.
3. Centrifugar:
13.000 – 16.000 x g por 20 segundos.
4. Descartar o sobrenadante e dar vortex no pellet.
Lise do núcleo e precipitação de proteínas
5. Pipetar 300 l de solução de lise do núcleo ao pellet e misturar por inversão.
6. Adicionar 100 l de solução de precipitação de proteínas e dar vortex por 20 segundos.
7. Centrifugar:
13.000 – 16.000 x g por 3 minutos.
Precipitação e reidratação do DNA
8. Transferir o sobrenadante para um novo tubo contendo 300 l de isopropanol.
9. Centrifugar:
13.000 – 16.000 x g por 1 minuto.
10. Descartar o sobrenadante e adicionar 300 l de etanol 70%.
11. Centrifugar:
13.000 – 16.000 x g por 3 minutos.
12. Aspirar o etanol e deixar secar por 15 minutos.
13. Adicionar 100 l de solução de reidratação e deixar por 1 hora a 65°C ou overnight a 4°C.
66
Anexos
Protocolos das reações de semi-nested-PCR
Reação de PCR - Glicoproteína B
Data da reação:
Reagente
10x PCR Buffer
dNTPs 1,25 mM
Volume/amostra
Número de amostras
l
11
5
55
8
88
Primer gB-1up
1,25
13,75
Primer gB-low
1,25
13,75
MgCl2
1,5
16,5
DMSO
1
11
Taq DNA-polimerase
0,5
5,5
Água ultra-pura
28,5
313,5
Total de MIX
47
517
DNA
3
Adicionar 3  l de DNA
Programa: HCMVtouch
Tamanho do fragmento esperado: 352 pb
Reação de Nested-PCR - Glicoproteína B
Data da reação:
Reagente
Volume/amostra
Número de amostras
l
12
10x PCR Buffer
5
60
dNTPs 1,25 mM
8
96
Primer gB-1up
1,25
15
Primer gB-2low
1,25
15
MgCl2
1,5
18
DMSO
1
12
Taq DNA-polimerase
0,5
6
Água ultra-pura
30,5
366
Total de MIX
49
588
DNA
1
Adicionar 1  l de DNA
Programa: HCMV
Tamanho do fragmento esperado: 316 pb
67
Anexos
Protocolos dos ciclos de reações de semi-nested-PCR
Ciclos: Programa HCM Vtouch
Temperatura
Tempo
Número de Ciclos
94 °C
5 minutos
94 °C
30 segundos
59 °C
30 segundos
72 °C
45 segundos
94 °C
30 segundos
55,2 °C
30 segundos
72 °C
45 segundos
72 °C
10 minutos
5X
30X
Extensão Final
Ciclos: Programa HCM V
Temperatura
Tempo
Número de Ciclos
94 °C
15 minutos
95 °C
30 segundos
55,2 °C
30 segundos
72 °C
45 segundos
40X
Protocolos das reações de sequenciamento de DNA
M ix pGEM
1 Reação
Reagentes
Reação
BigDye
4 l
BigDye
4 l
Primer 0,8 mM
4 l
Primer 3,2 mM
1 l
pGEM 200 ng/ml
1 l
DNA
5 l
H2O
1 l
H2O
Total
10  l
Total
10  l
68
Anexos
Protocolo do ciclo da reação de sequenciamento de DNA
Ciclos: Programa SEQ
Temperatura
Tempo
96 °C
10 segundos
50°C
5 segundos
60°C
4 minutos
10°C
conservação
N° de Ciclos
35 ciclos
69
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