Cisto Periodontal apical com uso da técnica cirúrgica de Marsupialização. Relato de dois casos clínicos Periapical cyst by means of surgery technics of marsupialization.Two clinicals cases report Adriana Longov* Linneu Cuffari** Adriana Auricchio*** Abrão Rapoport**** *Adriana Longov, Cirurgiã dentista, Mestre em Ciências da Saúde (HOSPHEL), Ministradora em Cirurgia na EAP/APCD. Prof.(a) do Curso de Especialização em CTBMF da APCD/ V. Mariana. **Cirurgião dentista, especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais, Mestre em Cirurgia de Cabeça e Pescoço (HOSPHEL),Prof. Responsável da disciplina de Farmacologia e Terapêutica Medicamentosa na Fac. de Odontologia da UNISANTA, Prof. de Curso de Especialização em CTBMF da APCD/ V. Mariana, ABENO. *** Cirurgiã-dentista e aluna do Curso de Especialização de Odontopediatria da Unicsul. ****Coordenador do Curso de Pós Graduação em Ciências da Saúde do Complexo Hospitalar Heliópolis, Livre – Docente em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela USP. RESUMO Os autores relatam dois casos apresentando Cisto Periodontal Apical (CPA) – avaliados e tratados cirurgicamente na Associação Paulista dos Cirurgiões-dentistas, na distrital de Vila Mariana, através da técnica cirúrgica de Marsupialização. No primeiro caso, a paciente relatou como queixa principal sensação de pressão na região anterior do seio maxilar direito.Exame clínico não detectou anormalidade anatômica na região, assim como nos dentes incisivo lateral e canino direito (12 e 13). Teste de sensibilidade pulpar foi negativo. No exame radiográfico, feita uma panorâmica, foi observada a área unilocular hipertransparente. O exame clínico radiográfico sugeriu como hipótese de diagnóstico CPA; o anatomopatológico confirmou hipótese de diagnóstico inicial. No segundo caso o paciente apresentava assimetria facial devida ao aumento de volume na região maxilar esquerda. Através do exame clínico detectouse crepitação óssea ao apalpar a região de ápice entre o incisivo lateral e canino esquerdo. No exame radiográfico inicial, através de uma panorâmica, o laudo médico descreveu comprometimento das estruturas anatômicas contíguas na lesão. O diagnóstico definitivo foi de CPA, através do exame anatomopatológio, o que contradiz o laudo radiológico da panorâmica inicial. Descritores: Marsupialização; Cisto Periodontal; Seio Maxilar ABSTRACT The authors report two cases presenting Apical Periodontal Cyst (CPA) - evaluated and treated surgically in the São Paulo Association of Dentists in the district of Vila Mariana, through the surgical technique of marsupialization. In the first case, the patient reported as the main complaint sensation of pressure in the anterior maxillary sinus direito.Exame clinical anatomic abnormality not detected in the region, as well as the lateral incisor and canine teeth right (12 and 13). Pulp sensitivity test was negative. On radiographic examination, made an overview, the area was observed hyperlucent unilocular. Clinical examination suggested radiographic diagnostic hypothesis CPA pathology confirmed the hypothesis of initial diagnosis. In the second case the patient presented with facial asymmetry due to swelling in the left maxillary region. By clinical examination it was discovered crackling bone region to palpate the apex of the lateral incisor and left canine. In the initial radiographic examination, through an overview, the medical report described involvement of contiguous anatomical structures in the lesion. The final diagnosis was CPA, by examining anatomopatológio, which contradicts the initial mapping of radiological reports. Descriptors: Marsupialization; Periodontal Cyst; Maxillary Sinus INTRODUÇÃO O Cisto Periodontal Apical (CPA) é um cisto odontogênico, sem tendência a malignidade, originado do granuloma periapical resultante de infecção bacteriana e necrose da polap dentaria. É um cisto verdadeiro em que a lesão consite em uma cavidade patológica, forrada internamente por epitélio e frequentemente preenchida por líquido (SARFER et al, 1979; ARAUJO, ARAUJO, 1984). Nos dois casos aqui relatados escolhemos como técnica cirúrgica a marsupialização e, num segundo tempo cirúrgico, a enucleação da capsula cística.Essa técnica é preconizada sempre que o cisto apresentar mais de três centímetros de diâmetro ou vier a comprometer estruturas nobres adjacentes, quando realizada pela técnica de enucleação diretamente (GREGORIO, 1996). RELATO DOS CASOS Caso 1 A paciente , C.A.S., sexo feminino, 34 anos, negra, natural de São Paulo (SP), ao procurar ajuda de um cirurgião-dentista, relatou, como queixa principal, sensação de pressão na região anterior do seio maxilar direito, e, para tanto, o profissional solicitou exame radiográfico periapical, onde foi observada a presença de um cisto. Ao exame clínico apresentava normalidade anatômica na região maxilar, não se notando , no entanto, abaulamento ósseo ou crepitação por vestibular ou palatina, sendo que nos dentes incisivos lateral e canino direito (elemeno 12 e 13 ) não houve resposta pulpar (GBSON,PANDOLFI e LUZADER, 2002). Ao exame radiográfico panorâmico, observou-se uma área radiolúcida intensa unilocular(ALLARDI et al., 1981; FREITAS, FREITAS, 1998), que abrangia a área medial da maxila até a região do primeiro molar, deformando a parede anterior do seio maxilar e do primeiro molar e com envolvimento dentário das raízes dos dentes incisivo lateral e canino ( elementos 12 e 13). O exame clínico-radiográfico sugeria como hipótese de diagnóstico Cisto Periodontal Apical. DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA O Procedimento cirúrgico foi executado com anestesia local, por bloqueio regional infraorbital, unilateral, completando por terminal infiltrativa no fundo de sulco vestibular e optamos pela incisão de Parch ou semilunar na região vestibular alveolar. Feita a divulsão mucoperiostal, constatamos a cortical óssea íntegra. Em seguida fizemos a ostectomia , havendo exposição da membrana cística. Usando uma seringa de 5ml realizamos uma punção do líquido cístico e notamos uma coloração amarelo-cítrico. Com uma pinça apreendemos a membrana cística e fizemos uma exérese parcial, após incisão circular por vestibular, e notamos uma membrana bastante espessa. Removemos a parte superior do retalho gengival expondo totalmente a cavidade acessória da boca. Com isso ocorreria a descompressão do cisto tornando possível a neoformação óssea da cavidade. Como procedimento final, fizemos a lavagem com soror fisiológico e introduzimos gaze furacinada, a fim de deixa a cápsula cística justaposta com a cavidade óssea. No primeiro pós-operatório, após 72 horas, foi removida a gaze, feita a lavagem da cavidade e inspeção da mesma. A paciente foi orientada a fazer a irrigação com soro fisiológico diariamente para não haver acumulo de alimentos nessa nova cavidade acessória da boca. Acompanhamos periodicamente, a mineralização óssea gradual dessa cavidade. Quando a mesma atingiu o diâmetro de aproximadamente três centímetros foi realizado o segundo tempo cirúrgico através da técnica de enucleação. CASO 2 O paciente E.C.R., sexo masculino, 16 anos, branca, natural de Roraima (RO) relatou como queixa principal aumento de volume na região maxilar esquerda. Ao exame clínico apresentaram assimetria facial, abaulamento com crepitação à apalpação na região de ápice entre os dentes incisivo lateral e canino do lado esquerdo. A gengiva apresentava leve alteração de cor e aparência lisa. No exame radiográfico, a panorâmica inicial apresentou aspecto pré-operatório de lesão localizada entre o incisivo lateral e canino superior do lado esquerdo. Observamos também o afastamento das raízes e aspecto sugestivo de cisto glóbulo-maxilar pela forma de “pêra invertida” da radioluscência. As telerradiografias em norma lateral e frontal confirmam a existência e a localização da lesão sendo possível pela associação destas duas incidências verificar a grande extensão da lesão cística. Utilizando-se tomografia computadorizada (Del BASSO, 1995) com a aquisição de cortes axiais e coronais contíguos da maxila com 5mm de espessura é possível estabelecer a relação da lesão com as estruturas anatômicas vizinhas. A Associação dos cortes axiais e coronais permite uma visão tridimensional da lesão cística, facilitando o planejamento cirúrgico. O exame clínico radiográfico sugerido como hipótese de diagnóstico Cisto Glóbulo Maxilar. O exame anatomopatológico apresentou a lesão como Cisto Periodontal Apical. DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA O procedimento cirúrgico foi o mesmo usado no caso anterior. No entanto uma única diferença foi apontada: é que por ser a membrana cística de uma espessura muito fina e friável não foi realizada a sutura nas bordas gengivais. Colocamos a gaze furacinada na cavidade, a fim de deixar a cápsula cística justaposta ao osso alveolar. O primeiro pós-operatório assim como as orientações ao paciente foram os mesmos do Caso 1. Após o tratamento cirúrgico, foi realizado o tratamento endodôntico no dente comprometido (NAIR, 1998; CALDEWELL,1999), e o segundo tempo cirúrgico foi a enucleação da cápsula cística. DISCUSSÃO Os casos clínicos relatados mostraram a importância da utilização dos exames radiográficos na Odontologia. No primeiro caso clínico foram solicitados como exames radiográficos, radiografias periapicais e panorâmica. A radiografia periapical foi usada inicialmente para analisar a região descrita pela paciente, que relatou pressão na região anterior do seio maxilar direito, e radiograficamente verificouse uma área hipertransparente, sugerindo uma lesão cística. Na radiografia panorâmica verificamos a extensão e localização detalhada da lesão intra-óssea. A radiografia panorâmica é muito utilizada atualmente na Odontologia, pois propicia ser observada uma maior área do complexo das estruturas maxilomandibulares, onde teremos a extensão da área envolvida, acidentes anatômicos e estruturas adjacentes comprometidas pela lesão. Já nas radiografias periapicais observamos uma região da arcada bem restrita, porém rica em detalhes. Na verdade, ambas as técnicas se completam, pois existem várias vantagens e desvantagens em cada uma delas, em nível de micro e macro detalhes. Portanto, juntas fornecem dados mais abrangentes para um adequado planejamento cirúrgico. No segundo caso clínico por ser uma lesão mais complexa apresentando assimetria facial unilateral e abaulamento com crepitação óssea á palpação foram utilizadas como exames radiográficos e teleradiografia e a tomografia computadorizada, além das radiografias anteriormente descrita: as periapicais e panorâmicas. A radiografia panorâmica sugeriu como hipótese de diagnóstico Cisto Glóbulo Maxilar, que mais adiante foi constatado através do exame anatomopatológico CPA. As telerradiografias utilizadas foram com incidências normal e lateral, o que confirmou existência da lesão e a extensão. O exame radiológico mais importante desse caso foi a Tomografia Computadorizada, que ajudou na conclusão do diagnóstico e no planejamento cirúrgico, pois esse exame proporciona detalhes anatômicos com maiores informações que os demais exames radiográficos. Os dois casos foram acompanhados radiograficamente em todo o pós-operatório, sendo usado como protocolo de preservação o controle radiográfico de seis meses no primeiro ano, e depois um controle radiográfico anual. CONCLUSÃO Os Cistos Periodontais podem ser identificados com radiografias periapicais, contudo a área do filme é restrita quanto à área anatômica observada, sendo necessária a complementação com radiografias, panorâmicas, ou até mesmo serem solicitadas Telerradiografias e Tomografias Computadorizadas, permitindo ao Cirurgião-dentista uma riqueza maior em detalhes radiográficos dos casos clínicos. Vale salientar que é importante a cirurgião-dentista manter estreita relação multidisciplinar entre os radiologistas odontólogos e médicos na interpretação das imagens, bastante úteis na detectação de lesões patológicas, objetos estranhos ou até mesmas estruturas anatômicas normais, para um diagnóstico, um plano de tratamento cirúrgico mais adequado e um prognóstico favorável para cada caso clínico.