MULTIPLICAÇÃO DE ESPOROS DE FMAs COLETADOS DE

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REVISTA DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO IFAM
MULTIPLICAÇÃO DE ESPOROS DE FMAs COLETADOS DE ÁREAS DEGRADADAS
DE TERRA FIRME E VÁRZEA NO MUNICÍPIO DE LÁBREA - AM
Francisco Jairo Lima da Silva1; Ricardo Aparecido Bento2; Orivaldo José
Saggin Júnior3
INTRODUÇÃO
Os Fungos Micorrízicos Arbusculares – FMAs são simbiontes obrigatórios e
dependem da simbiose com plantas compatíveis para sua multiplicação. A simbiose é possível graças ao fato de o fungo produzir hifas intra e extra-radiculares capazes de absorver elementos minerais do solo e transferi-los ao ambiente radicular,
onde são absorvidos.
A relação micorrízica é expressão de um evento mutuamente benéfico:
plantas suprem o fungo com compostos com C (fixado via processos fotossintéticos pelo simbionte autotrófico), enquanto fungos provêm às plantas de nutrientes
(MOREIRA; SIQUEIRA, 2002).
Estudos conduzidos em condições controladas indicam que a resposta em
crescimento da planta inoculada depende da compatibilidade genética e funcional
entre a espécie vegetal e a estirpe do fungo utilizada, bem como das condições
ambientais vigentes, como tipo de solo, pH e disponibilidade de nutrientes, em especial o P (fósforo). Além dessas variáveis, em condições naturais, mais do que uma
espécie de fungo pode colonizar simultaneamente raízes da planta hospedeira. Os
benefícios da simbiose micorrízica dependerão da comunidade de fungos presentes e da competição que se estabelece entre eles (BERBARA et. AL. 2006).
No contexto da nutrição mineral de plantas e otimização das funções de
ecossistemas, visando aos aumentos em sua estabilidade e resiliência, considera-se
para este experimento, um atributo biológico central: quantidade e qualidade de
raízes (finas, terminais, não lignificadas e metabolicamente ativas).
Desse modo, considerando a raiz como uma característica vegetativa importante na associação simbiótica, o sucesso da multiplicação dos esporos de FMAs
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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, IFAM - Campus Lábrea. E-mail: francisco.
[email protected]
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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, IFAM - Campus Lábrea. E-mail: [email protected]
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Pesquisador Embrapa Agrobiologia, BR 465, km 07, Seropédica - Rio de Janeiro. E-mail: orivaldo.sagginembrapa.br
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em condições artificiais é facilitado mediante a escolha da espécie vegetal que
apresente um emaranhado de raízes do tipo fasciculadas, como o caso a gramínea
Brachiaria brizantha.
A imensa quantidade de hifas produzidas por FMA influência para um significante impacto sobre a estruturação e estabilidade de agregados em solos (JASTROW et al. 1998), característica essa importante para aumentar a capacidade de
mobilização de nutrientes, o conteúdo de água e a penetração de raízes, bem como
evitar o processo erosivo dos solos.
O propósito deste projeto de pesquisa é multiplicar em condições artificiais
(casa de vegetação) os FMAs indígenas extraídos de áreas degradadas de terra firme das margens da rodovia Transamazônica e várzea do Rio Purus, na região de
Lábrea - AM.
Os esporos de FMAs isolados, identificados e multiplicados em viveiro servirão de inóculos para experimentos futuros, visando verificar a influência dos FMAs
no crescimento e desenvolvimento das espécies vegetais testadas.
MÉTODO OU FORMALISMO
Seleção dos FMAs
Os esporos de FMAs foram extraído das amostras de material de solo da área
estudada localizada no km 11 da Transamazônica, distanciada do centro do município de Lábrea em 11,5km, situada nas coordenadas geográficas (20 M 307.705,76
m E; 9.187.895,05 m S), denominada de fazenda AGRO LABRE Ltda., do proprietário
Sr. Antônio Martins.
Na fazenda encontraram-se três tipos de formação vegetal: pastagem, capoeira e floresta nativa (Figura 1).A pastagem formada de quicuio da Amazônia
(Brachiaria humidicola (Rendle) Schweick) e outras espécies de Brachiaria spp.,
apresentou-se suja, com muitas espécies herbáceas (família Astereceae), arbustivas
(Bellucia spp., Vismia spp.) e palmeiras (Attalea speciosa Mart.). Na área de copoeira,
de aproximadamente 15 anos, predominou espécies pioneiras da região, tais como:
lacres (Vismia spp.), goiaba-de-anta (Bellucia grossularioides(L.) Triana e Bellucia dichotoma Cogn.), foguetinho (Insertia hypoleuca Benth.), Miconiaspp, Cecropia spp.,
capim-navalha (Scleria melaleuca Rchb. exSchltdl. &Cham), cipós (Delliocarpus spp.)
entre outros. Na área de floresta nativa caracterizaram-se por apresentar sub-bosque ralo, com herbáceas (família Marantaceae, Heliconeaceae, do grupo das Piteridófitas, etc), arbustos (família Piperaceae), bastantes espécies de palmeiras (Bactris
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spp., Genoma spp., Attalea spp., Astrocaryum spp.), rica em serrapilheira (camada
espessa de mais de 5 cm), bastante úmido e com presença de cipó.
Figura 1: Localização da área estudada de terra firme às margens da Transamazônica – Lábrea, AM.
Linha em vermelho – percurso realizado para coleta dos dados. Círculo A – amostragem realizada
em área de pastagem; Círculo B – amostragem realizada em área de capoeira de 15 anos aproximadamente; Círculo C – amostragem realizada em área de floresta nativa.
Na área de pastagem foram selecionadas, de forma aleatória, 10 (dez) espécies vegetais (considerando a abundância e rusticidade na área) para realizar a
coleta de material de solo com raízes. Na área de capoeira foram selecionadas 10 espécies vegetais, de forma aleatória, para realizar a amostragem de material de solo
mais raízes e na área de floresta nativa foram selecionadas oito espécies vegetais
para a coleta de material de solo mais as raízes.
No total foram coletadas 28 amostras de material de solo mais raízes. As
amostras foram acondicionadas em sacos plásticos, lacradas, identificadas e armazenados em caixa térmica para transporte. No laboratório, as amostras foram armazenadas em geladeira de 10 a 12º C.
Extração de esporos
Os FMAs foram identificados por meio da taxonomia morfológica de FMAs
pela identificação dos esporos. Esse treinamento foi realizado na Embrapa Agrobiologia – RJ, onde realizou a extração de esporos de acordo com a metodologia de
GERDEMANN; NICOLSON (1963), onde as amostras foram preparadas para avaliação da densidade de esporos de FMAs. Para isso, 50 mL de solo foram peneirados
úmidos em malha de 53 µm, e centrifugado em água e sacarose 45%, por 3000 rpm
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e 3min, e 2000 rpm e 2 min, respectivamente. O sobrenadante foi coletado, lavado
abundantemente, e os esporos foram quantificados em microscópio estereoscópico em aumento de 40x.
Depois de extraídos montaram-se lâminas permanentes de microscopia
dos esporos de FMAs para identificação. Identificados, os esporos foram isolados
e depositados em eppendorf de 15 ml, sob refrigeração de 12 a 15°C, para serem
pipetados (1 ml) um por vez, e inoculados nos vasos para multiplicação. Para cada
vaso inoculado com os esporos de FMAs receberão a codificação referente a cada
esporo selecionado.
Multiplicação dos FMAs
Para cada amostra de solo + raiz coletados na área degradada foram montados quatro vasos de volume de 750 mL e utilizados 500 mL de substrato autoclavado para cada vaso. Duas repetições utilizaram-se 50 mL de amostra de solo da área
degradada e outras duas repetições com amostras de raízes (amostra significativa).
Para estimular a multiplicação dos esporos de FMAs, utilizou-se de 5 a 10 sementes
de B. brizantha, gramínea selecionada por produzir grande emaranhado de raízes
fasciculadas. Considerando essa característica vegetativa e morfológica, a probabilidade dos esporos realizarem a colonização das raízes é maior e, consequentemente, a multiplicação.
Para germinação das sementes de B. brizantha foi realizado um teste de germinação, onde se verificou a porcentagem de sementes germinadas a um determinado peso. Desse modo, verificou-se a quantidade certa de sementes utilizadas
para serem introduzidas em cada vaso.
As sementes de B. brizantha foram lavadas e desinfetadas com hipoclorito
de sódio na diluição de 2% do volume de água. Para este experimento foram montados 102 vasos armadilhas, sendo 4 repetições para cada amostra de solo + raiz,
sendo duas repetições para amostra com raiz e duas repetições para amostra com
solo (50 mL). Para cada vaso foram utilizados 500mL de substrato inerte. Em todos
os vasos foram colocados de 5 a 10 sementes de B. brizantha, gramínea selecionada
por produzir grande emaranhado de raízes fasciculadas.
Preparo do substrato
O material de solo coletado nas áreas degradadas (solo argiloso + solo arenoso + camada orgânica) foi peneirado em malha de 5 mm, sendo peneirado de
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forma separada e retirado 2 baldes de 18 litros de cada um desses solos e feito a
homogeneização desses materiais obtendo o substrato.
Esse substrato foi autoclavado em uma panela de pressão de 7 litros em um
fogão a lenha sobre a temperatura de 120 °C durante 40 a 60 minutos. Esse procedimento foi realizado com a certeza de que a variável de análise (esporos de FMAs)
tenha o efeito isolado, sem a influência de outros microrganismos.
Os esporos de FMAs foram inoculados em vasos plásticos transparente de
750 ml, com o substrato inerte (autoclavado), sob a espécie vegetal B. brizantha.
Esta espécie foi germinada em areia peneirada em malha de 5 mm e lavada para
determinar a quantidade de sementes que seriam introduzidas nos vasos do experimento.
RESULTADOS PARCIAIS
A germinação das sementes de B. brizantha ocorreu em todos os 102 vasos
armadilhas montadas na casa de vegetação do IFAM/Campus Lábrea. No mês de
dezembro o experimento completará três meses de implantação e será realizada a
extração dos esporos de FMAs dos vasos armadilhas para verificação da multiplicação dos esporos.
De acordo com os autores VILAÇO et al. (2013), os resultados da extração de
esporos de FMAs das amostras coletadas nas áreas degradadas do km 12 da Rodovia Transamazônica, mostraram predominância da espécie Glomus macrocarpum,
em todos os ambientes estudados. Espera-se que o mesmo ocorra na multiplicação
dos esporos na casa de vegetação.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A multiplicação dos FMAs indígenas é de grande importância para testá-los,
futuramente, em experimentos de recuperação de áreas degradadas.
Os esporos de FMAs que foram isolados e, posteriormente, multiplicados
em viveiro podem servir de inóculos biológicos para aumentar a eficiência de absorção de nutrientes pelas plantas.
Outro aspecto importante é a possibilidade de criar banco de germoplasma
com os FMAs indígenas extraído das áreas degradadas de terra firme e várzea.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a agência de fomento CNPq pela iniciativa de concessão de bolsa
na modalidade PIBIC/JR nível médio e ao IFAM pela oportunidade de iniciar na pesquisa científica no tema proposto.
REFERÊNCIAS
BERBARA, R. L. L.; SOUZA, F. A.; FONSECA, H. M. A C. Fungos Micorrízicos Arbusculares: muito além da nutrição. SBCS.Viçosa 2006.Nutrição mineral de plantas. 437p.
VILAÇO, F. C. B; BENTO, R. A.; SAGGIN-JÚNIOR, O. J. S. Identificação dos fungos micorrízicosarbusculares em áreas degradadas de várzea e terra firme do município de
Lábrea –AM. Anais. VIII Connepi, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, Salvador – Bahia, 2013.
GERDEMANN, J.W.; NICOLSON, T.H. Spores of Mycorrhizal Endogone Species Extracted from Soil by Wet Sieving and Decanting.Transactions of British Mycological Society, Cambridge, v.46, n.2, p.235-244, June 1963.
JASTROW, J.D.; MILLER, R.M.; LUSSENHOP, J. Contributions of interacting biological
mechanisms to soil aggregate stabilization in restored prairie. Soil Biol. Biochem.,
30:905-916, 1998.
MOREIRA, F.M.S.; SIQUEIRA, J.O. Microbiologia e Bioquímica do Solo. Lavras. Editora
UFLA. 2002.
SCHŰβLER, A., SCHWARZOTT, D.; WALKER, C. A new phylum, the Glomeromycota:
phylogeny and evolution. Mycological Research 105:1413–1421, 2001.
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