Diagnóstico precoce da sífilis previne transmissão aos bebês Forma congênita da doença é a que mais preocupa. Apesar do tratamento fácil e gratuito no SUS, cerca de 70% das mães infectam os filhos durante a gravidez Os dados são preocupantes. Cerca de 1,10% da população brasileira – em torno de 937 mil pessoas – é infectada pela sífilis todos os anos, conforme estimativas do Ministério da Saúde. Ainda segundo o Governo Federal, aproximadamente 60 mil gestantes (1,7% das mulheres grávidas) são portadoras da infecção. O grande perigo nesse caso é a transmissão para o filho durante a gravidez. Embora o tratamento seja simples, cerca de 70% das gestantes infectadas transmitem a doença aos bebês. A sífilis congênita pode causar graves problemas de saúde na criança e até o aborto. Para reverter esse quadro, o Ministério da Saúde tem investido em ações que ampliem o diagnóstico precoce e o tratamento. A sífilis é uma das mais perigosas doenças sexualmente transmissíveis (DST). Atinge principalmente pessoas na faixa etária com maior atividade sexual: dos 15 aos 49 anos de idade. Também conhecida como lues, tem como causa uma bactéria chamada Treponema pallidum. No começo, após a contaminação, surge uma lesão indolor, normalmente nos órgãos genitais, chamada de cancro duro. Se não tratada, a sífilis evolui e pode atingir praticamente todos os órgãos do corpo. A transmissão acontece principalmente pelo contato sexual e pela placenta. A contaminação da mãe para o feto – a sífilis congênita – ocorre em qualquer momento da gestação. “Todas as DST são importantes. Entretanto, a sífilis em gestantes tem sido priorizada pelo grande risco da transmissão vertical, ou seja, da mãe para o bebê”, explica o diretor do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, Pedro Chequer. “Por outro lado, é uma doença que pode ser facilmente detectada por meio da atenção ao pré-natal. O diagnóstico precoce, graças aos testes, e o tratamento da gestante são medidas relativamente simples e eficazes na prevenção da sífilis congênita”, assinala Chequer. Pré-natal – O não tratamento da sífilis em gestantes oferece grandes riscos de saúde para o bebê. A doença pode causar o parto prematuro, o aborto e a natimortalidade. Mesmo nascendo aparentemente saudável, a criança tende a desenvolver problemas de saúde nos primeiros anos de vida. Os agravos causados pela sífilis incluem o baixo peso, o aumento do fígado e do baço, lesões de pele, alterações respiratórias, surdez, deformações ósseas e dificuldade de aprendizado. Devido à importância do pré-natal para prevenção da sífilis congênita, o Ministério da Saúde desenvolve estratégias para o aumento da cobertura desse tipo de atenção, a disponibilidade de testes-diagnóstico e o tratamento da doença. “Outra ação importante são as campanhas de divulgação sobre a prevenção da Aids, da sífilis e das outras DST”, diz Pedro Chequer. “Essas campanhas reforçam a necessidade do uso constante de preservativos nas relações sexuais e informam sobre a disponibilidade dos serviços de distribuição de camisinhas para a população”, assinala Chequer. O tratamento da sífilis é realizado no Sistema Único de Saúde (SUS) em regime ambulatorial, com antibióticos. O SUS oferece gratuitamente à população tanto o exame para diagnóstico quanto o tratamento. As doses do medicamento são estabelecidas de acordo com o consenso terapêutico definido pelo Programa Nacional de DST/Aids. “É importante ressaltar que para quebrar a cadeia da transmissão da infecção é necessário o tratamento do parceiro ou dos parceiros sexuais do portador da doença”, alerta Pedro Chequer. Segundo o diretor do Programa Nacional de DST/Aids, existem alguns obstáculos para o combate à sífilis no País. Um deles ainda é a carência de pessoal capacitado para o diagnóstico e o tratamento. No entanto, o Ministério da Saúde constata que nos últimos anos os municípios vêm investindo em ações de capacitação. Pedro Chequer cita, ainda, o preconceito em relação às DST e à sexualidade como barreira para o tratamento dos parceiros. Outro empecilho é que algumas fases da doença são assintomáticas, o que dificulta a procura do diagnóstico pelo paciente. É importante que a pessoa que tenha apresentado uma prática sexual de risco – ter mantido relação sexual sem o uso de preservativos – procure uma unidade de saúde para se informar sobre o seu estado. Para Pedro Chequer, uma das principais armas contra a sífilis é informar as pessoas sobre a doença, suas formas de contágio e seus riscos para a saúde. A população deve evitar a auto-medicação e os tratamentos sem acompanhamento de um profissional de saúde. Tudo isso pode trazer problemas para a saúde do paciente. “A falta de informação leva a tratamentos ineficazes, que impedem a quebra da cadeia de transmissão. Medidas ineficazes contribuem para o aparecimento da resistência aos medicamentos e isso torna o tratamento mais caro e demorado”, afirma Chequer. Doença se manifesta em fases O período de incubação da bactéria causadora da sífilis varia de duas a quatro semanas. É na fase primária da doença que surge o cancro duro, uma úlcera indolor que desaparece em poucos dias. Esse desaparecimento não significa a cura da infecção. No período secundário – de seis a oito semanas após a infecção –, o paciente costuma apresentar erupções cutâneas chamadas de roséolas sifilíticas. Se não forem tratadas, essas erupções continuam aparecendo em um período de dois a três anos. Também nessa fase, os pacientes podem sofrer de anemia grave e ter placas na boca e na faringe e até pústulas e nódulos. O período terciário manifesta-se entre o terceiro e o quinto ano após a infecção, em casos não tratados. Nessa fase, surgem lesões principalmente na pele, mucosas, ossos, vísceras, sistema cardiovascular e sistema nervoso central. A sífilis cardiovascular em geral é letal, pois compromete esse sistema do corpo humano. Já a neurosífilis pode provocar meningite. A sífilis congênita é conseqüência da disseminação do Treponema pallidum pela corrente sangüínea da gestante. O risco de transmissão é maior em mulheres na fase primária ou secundária da infecção. O tratamento da sífilis é barato, eficaz e está disponível no Sistema Único de Saúde.