CIRURGIAS HIPOFISÁRIAS A cirurgia hipofisária constitui a base de tratamento da maioria dos tumores hipofisários – acromegalia, cushing e tumores não funcionantes. A condução do caso no pós-operatório deve ter como focos evitar, diagnosticar e tratar as possíveis complicações inerentes ao procedimento, além de averiguar a eficácia da cirurgia. Sendo assim, para o manejo das complicações pós-cirúrgicas, pode-se dividir os adenomas em produtores e não produtores de glicocorticóide. No primeiro grupo a reposição de glicocórticoide no pós-operatório é mandatória, tendo em vista a alta probabilidade de insuficiência adrenocortical subsequente. Já no segundo grupo, a possibilidade de insuficiência adrenal é estimada com base na avaliação clínica, laboratorial e radiológica realizada no pré-operatório. Outra preocupação que se deve atentar no pós-operatório de cirurgia hipofisária refere-se à lesão de haste hipotalâmica – que pode ser transitória ou definitiva – com conseqüente atordoamento da liberação de hormônio anti-diurético (ADH). Neste momento, pode ocorrer um padrão de liberação conhecido como trifásico (embora nem sempre as três fases estejam presentes): inicialmente Diabetes Insipidus (DI), seguido de Síndrome de Secreção Inapropriada de ADH (SIADH), e novamente DI. Por apresentar este padrão e devido ao fato de a mudança de uma fase para outra ser relativamente rápida, é importante a observação atenta da diurese e da natremia e natriurese do paciente. Finalmente, no momento da alta hospitalar do paciente que foi submetido à cirurgia hipofisária, deve-se solicitar os exames hormonais adequados de acordo com o patologia de base - tanto para averiguar a eficácia da cirúrgia, quanto para a correção de possíveis déficits hormonais. Na internação dosar: T4 livre, Prolactina, Cortisol Reposição de glicocorticóides em macroadenomas hipofisários não produtores de ACTH Se for grande a manipulação cirúrgica, (tumores duros, sangrantes ou cortisol précirúrgico < 9 µg/dl: Intra-operatório: Hidrocortisona 100 mg via endovenosa e manter 50 mg a cada 8 hs. Pós-operatório: Acetato de cortisona via oral. 1º PO: 25 mg às 08:00, 16:00 e 22:00 hs. 2º PO: 25 mg às 8:00 e 14:00 hs. 3º e 4º PO: 25 mg às 8:00 hs e 12,5 mg às 14:00 hs. 5º PO: Alta com 25 mg às 8:00 hs e 12,5 mg às 14:00 hs. Se cortisol sérico entre 9 e 13 µg/dl: Intra-operatório: Hidrocortisona 100 mg via endovenosa PO imediato: Hidrocortisona 50 mg via endovenosa a cada 8 hs Microadenomas e cortisol pré-operatório > 13 µg/dl: Intra-operatório e pós-operatório: não administrar glicocorticóide. Hidrocortisona 100 mg via endovenosa se hipotensão arterial sintomática. Reposição de glicocorticóides na doença de Cushing Intra-operatório e pós-operatório imediato: não há necessidade de glicocorticóide Pós-operatório: Acetato de cortisona via oral 1º PO: 25 mg às 08:00, 16:00 e 22:00 hs. 2º PO: 25 mg às 8:00 e 14:00 hs. 3º e 4º PO: 25 mg às 8:00 hs e 12,5 mg às 14:00 hs. 5º PO: colher cortisol pela manhã antes da administração de acetato de cortisona. Alta com 25 mg às 08:00 hs e 12,5 mg às 14:00 hs. Reposição de Acetato de Desmopressina (DDAVP) Pós-operatório: Controlar diurese a cada 2 horas. Se sede intensa ou diurese > 600 ml / 2 horas Colher sódio sérico antes da administração de DDAVP DDAVP 1/8 ampola (1 ml = 4 µg) via subcutânea Nunca administrar DDAVP se hiponatremia mesmo na presença de diurese elevada. Manutenção ambulatorial: Iniciar DDAVP com dose diária de 0,1 mg via oral ou 5 µg via nasal - em dose única à noite ou 2 vezes ao dia. Dose habitual: 0,1 a 0,2 mg via oral 2-3 vezes ao dia ou 2,5 a 20 mg ao dia. Apresentações do DDAVP: DDAVP spray: 1 puff = 10 µg. DDAVP solução nasal: 1 ml = 100 µg. DDAVP comprimido: 1 comprimido = 0,1 mg ou 0,2 mg. DDAVP ampola: 1 ml = 4 µg. Alta hospitalar: No 5º pós-operatório dosar: Cortisol, T4 livre e sódio para todos ACTH na doença de Cushing Prolactina nos prolactinomas GH, IGF-1 e prolactina nos acromegálicos FSH e LH nos gonadotrofinomas SÍNDROME DA SECREÇÃO INAPROPRIADA DE HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO (SIADH) Deve-se suspeitar da SIADH em todo paciente com hiponatremia, osmolalidade urinária inapropriadamente elevada, sódio urinário elevado e sem alteração no equilíbrio ácido-básico. As principais causas de SIADH, tendo-se afastado insuficiência adrenal e hipotireoidismo, são: afecções de sistema nervoso central (hemorragias, acidentes vásculo-cerebrais, infecções, etc), tumores produtores de ADH (como carcinoma pulmonar de pequenas células), drogas (clorpropramida, carbamazepina, ciclofosfamida, etc), cirurgias de grande porte, cirurgias hipofisárias, doença pulmonar, HIV, administração exógena de DDAVP e SIADH hereditário.O tratamento baseia-se na presença ou não de quadro clínico e na velocidade de instalação do mesmo. Diagnóstico: Hiponatremia Osmolalidade plasmática baixa. Osmolalidade urinária inapropriadamente elevada (acima de 100 mOsm/kg) Concentração de sódio urinário acima de 40 mEq/l Ausência de hipotensão, hipovolemia e hipocalemia. Função tireoideana, renal e adrenal normal – condição necessária para o diagnóstico. Tratamento: Casos assintomáticos: Não necessitam de tratamento. Casos sintomáticos moderados: Soro fisiológico Furosemida 20 mg por via endovenosa Objetivo: elevação do sódio sérico de 0,5-2,0 mEq/L/h. Dosar sódio sérico a cada 4 horas e ajustar a velocidade de infusão do soro fisiológico. Suspender tratamento quando houver elevação do sódio sérico de 8-10 mEq/L nas primeiras 24 hs. Casos sintomáticos agudos ou com sintomas neurológicos: NaCl 3% - 1-2 ml/kg/h por via endovenosa Furosemida 0,5 a 2 mg/kg/dia, dividido em 2-3 vezes. Objetivo: elevação do sódio sérico de 2 mEq/L/h. Dosar Na sérico a cada 2 horas e ajustar a velocidade de infusão do NaCl 3%. Calculo da variação esperada do sódio sérico com infusão de 1 litro de qualquer solução. ∆ Na+ estimada = Na+ infusão - Na+ paciente Água corporal total +1 Variação esperada do sódio sérico com 1 L de qualquer solução (sódio e potássio): ∆ Na+ estimada = (Na+ + K+) infusão - Na+ paciente Água corporal total +1 Água corporal total por sexo e idade: Sexo e faixa etária Água corporal total Homem < 65 anos Peso (kg) x 0,6 Homem ≥ 65 anos Peso (kg) x 0,5 Mulher < 65 anos Peso (kg) x 0,5 Mulher ≥ 65 anos Peso (kg) x 0,45 Hiponatremia crônica: Restrição hídrica de 500 a 1000 ml por dia. Se inefetivo ou pouco tolerado: Carbonato de lítio por via oral 600 a 1200 mg ao dia. Demeclociclina por via oral 300 a 600 mg 2 vezes ao dia.