UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS JAQUELINE DE CARVALHO CRESCÊNCIO INFLAÇÃO NO BRASIL: UM EXAME DE PUBLICAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DA “REVISTA VEJA” EM RELAÇÃO AO PLANO CRUZADO E AO PLANO REAL. VARGINHA/MG 2015 JAQUELINE DE CARVALHO CRESCÊNCIO INFLAÇÃO NO BRASIL: UM EXAME DE PUBLICAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DA “REVISTA VEJA” EM RELAÇÃO AO PLANO CRUZADO E AO PLANO REAL. Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria. Professor Orientador: Dr. Michel Deliberali Marson VARGINHA/MG 2015 JAQUELINE DE CARVALHO CRESCÊNCIO INFLAÇÃO NO BRASIL: UM EXAME DE PUBLICAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DA “REVISTA VEJA” EM RELAÇÃO AO PLANO CRUZADO E AO PLANO REAL. A Banca examinadora abaixo- assinada aprova o Trabalho de conclusão de curso apresentado como parte dos requisitos para conclusão do curso de Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria pela Universidade Federal de Alfenas campus Varginha/ MG. Aprovada em: 08 de julho de 2015 ________________________________ Profº. Dr. Thiago Fontelas Rosado Gambi ________________________________ Profª. Dr. Alinne Alvim Franchini _____________________________ Profº Dr. Michel Deliberali Marson RESUMO O presente estudo busca apresentar uma reconstrução histórica da economia brasileira na tentativa de conter a inflação com os planos econômicos, Cruzado e Real. A metodologia de pesquisa para a base teórica é o método qualitativo, por meio de análise e interpretação de discussões apresentadas em livros e artigos científicos sobre o Plano Cruzado ao Plano Real. A metodologia da pesquisa para a reconstrução histórica dos planos econômicos, Cruzado e Real, foram utilizadas as notícias e reportagens veiculadas na imprensa por meio das publicações da “Revista Veja”. O Plano Cruzado foi apresentado no governo José Sarney em 1986, visando conter a inflação no país, que caracterizou com um dos grandes desafios para a estabilização econômica. O Plano Real foi instaurado no governo Itamar Franco em 1993, marcando uma nova era para a economia brasileira, após várias tentativas de conter a elevação dos preços ao longo da década de 1980. Palavra-chave: Inflação. Economia Brasileira. Planos Econômicos. ABSTRACT This study aims to present a historical reconstruction of the Brazilian economy in an attempt to curb inflation with economic plans, Cruzado and Real. The research methodology for the theoretical basis is the qualitative method, through analysis and interpretation of discussions presented in books and scientific articles on the Cruzado Plan to the Real Plan. The research methodology for the historical reconstruction of economic plans, Cruzado and Real, we used the news and reports published in the press through the publications of "Veja". The Cruzado Plan was presented in the government José Sarney in 1986, aiming to contain inflation in the country, which featured with a major challenge for economic stabilization. The Real Plan was introduced in the Franco government in 1993, marking a new era for the Brazilian economy, after several attempts to contain rising prices throughout the 1980s. Key word: Inflation. Brazilian economy. Economic Plans SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................6 1 . PLANOS ECONÔMICOS. ...............................................................................................7 1.1. Cenário econômico antes da introdução do plano cruzado. ..............................................7 1.2. Plano Cruzado. ..................................................................................................................9 1.3. Os Planos Bresser e Verão. .............................................................................................12 1.4. Plano Collor I e II. ...........................................................................................................14 1.5. Plano Real. .......................................................................................................................16 1.6. A economia brasileira no período de 1995-1998. ...........................................................19 2. METODOLOGIA DAS ANÁLISES DAS PUBLICAÇÕES. ....................................22 2.1. Análise das publicações da Revista Veja sobre o Plano Cruzado....................................23 2.2. Análise das publicações da Revista Veja sobre o Plano Real..........................................29 2.3. Semelhanças e diferenças entre o Plano Cruzado e o Plano Real....................................34 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................35 BIBLIOGRAFIA 6 INTRODUÇÃO Ao fazer a análise da economia brasileira contemporânea, torna-se necessário buscar na história o período das décadas de 1980 e 1990, quando a alta inflação caracterizou-se como um dos desafios do país na busca pela estabilização econômica. Entre os anos de 1986 e 1994, o Brasil contou com os seguintes planos econômicos: Plano Cruzado, Plano Cruzadinho, Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor I e II e o Plano Real. O objetivo era o controle inflacionário e a estabilidade econômica do país e, para isto, foram utilizadas diferentes abordagens teóricas com mecanismos de Política Monetária e Fiscal, Política Salarial, Política Cambial, Controle de Preços e Moeda. Conhecer a economia brasileira sobre diferentes óticas e analisar os conteúdos existentes para formação de um contexto histórico é de suma importância para a contribuição do conhecimento. Desta forma, procuramos reconstruir o período do Plano Cruzado e do Plano Real por meio de reportagens e conteúdos veiculados nas edições da “Revista Veja”. O objetivo da reconstrução histórica nas publicações da “Revista Veja” é verificar a veracidade dos conteúdos veiculados e traçar os teores publicados em relação à economia e aos fatos ocorridos no decorrer dos planos econômicos, visto que a revista tem como o público toda a sociedade. Através dessa reconstrução histórica, buscamos elementos que formam um contexto econômico e caracterizam semelhanças e diferenças entre o Plano Cruzado e o Plano Real. Desta forma, o presente estudo está dividido em dois capítulos. O primeiro capítulo contém seis seções que mostram o cenário político antes da introdução do Plano Cruzado, as características das medidas adotadas no Plano Cruzado e nos pacotes fiscais intitulados como “Cruzadinho” e “Cruzado II”, o Plano Bresser e o Verão, o Plano Collor I e II, o Plano Real com suas características e seus impactos e, por fim, análise da Economia Brasileira no período entre 1995-1998. O segundo capítulo está divido em cinco seções baseadas nas publicações da “Revista Veja” que apresentam: a metodologia utilizada, o Plano Cruzado, o Plano Real e, por fim, as semelhanças e diferenças entre os dois planos econômicos. 7 1. OS PLANOS ECONÔMICOS 1.1. CENÁRIO ECONÔMICO ANTES DA INTRODUÇÃO DO PLANO CRUZADO O Brasil, no ano de 1984, vivia um período de transição entre o regime militar e movimento chamado “Diretas Já”, que tinha como propósito a democracia, para assim eleger o presidente da República, que traria de volta não só a liberdade civil e política, como também o fim da inflação. Em janeiro de 1984 começaram comícios em toda parte do país, onde várias pessoas se concentravam reivindicando o direito pelo voto popular e direto para presidente da República. Houve muitas movimentações nas vésperas da votação da emenda constitucional chamada “Emenda Dante de Oliveira”, como no Rio de janeiro, com quase um milhão de pessoas e o recorde em São Paulo, com um público de um milhão e meio. Mas, mesmo com alta pressão popular, não foi aprovada por falta de quórum. (CASTRO, 2005) Um grupo político intencionou a possibilidade de ocorrer eleições indiretas no Colégio Eleitoral, para que assim houvesse a transição para a democracia. Então, no dia 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito o primeiro presidente da República após o regime militar, simbolizando o fim da ditadura. Porém, não houve a posse de Tancredo Neves devido a complicações de sua saúde, vindo a óbito por infecção generalizada. Logo, o novo presidente do Brasil, seria o vice José Sarney. A economia brasileira, seguida da mudança no campo político em 1984, aparentemente reencontrou o caminho do crescimento acompanhado da melhora das contas externas e de uma redução do desequilíbrio das contas públicas, após o período de recessão em 1981-1983. Em 1984, a economia registrou um crescimento de 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) e, em 1985, houve um crescimento de 7,8%. O problema de maior visibilidade da economia brasileira era a inflação que, mesmo em anos de recessão, não cedia. Em 1980, a inflação chegava a patamares superiores a 100% ao ano, as medidas e esforços aplicados nos primeiros anos da década (1981 a 1982) haviam reduzido apenas marginalmente. Em 1984, a inflação havia se acelerado, atingindo 224%. Com este comportamento da economia, a tese de correção monetária introduzida pelo Plano 8 de Ação Econômica do Governo (Paeg) era enfraquecida diante da dificuldade de combater a inflação (CASTRO, 2005). Em 1984, a principal questão para eliminar a inflação era a desindexação da economia, que apresentava principalmente quatro propostas: (1) “Pacto Social”; (2) “Choque Ortodoxo”; (3) o “Choque Heterodoxo”; e (4) “Reforma Monetária”. A primeira proposta era dos economistas do PMDB e da Unicamp. A segunda era sugerida por alguns economistas da FGV. A terceira era defendida por Francisco Lopes da PUC-Rio. E última proposta era de André Lara Resende e Pérsio Arida da PUC-Rio. (CASTRO, 2005, p.119) Uma das defesas do “Pacto Social” era que a sociedade estava sendo caracterizada com o chamado “conflito distributivo”, em que a disputa era entre camadas da sociedade por uma maior participação na renda nacional que era gerada em decorrência da inflação no país. Segundo Castro (2005) “Nele, cada grupo buscava se apropriar de uma parcela da renda maior para si, que, somadas, eram incompatíveis com a renda agregada da economia”. Quando uma parcela da população através de reivindicação aumentava a sua renda real, a outra parcela também reivindicava o aumento dos seus preços, acabando com o ganho real da primeira parcela da população. Então, o “Pacto Social” era uma proposta dos economistas do PMDB, que assegurava um acordo entre trabalhadores e empresários para que durante um período não houvesse um aumento nos preços para dar fim á inflação, que era apenas possível através de uma democracia em um governo de coalizão. A proposta do “Choque ortodoxo” era de uma política econômica de combate à inflação, que envolvia cortes rigorosos na expansão monetária e nos gastos do governo, seguido da liberalização dos preços e desindexação da economia até o ponto de equilíbrio do mercado. Em suma, a causa da inflação brasileira era o excessivo gasto público numa economia em que o Estado crescera demais. Alegava-se que a ineficácia no combate á inflação no inicio dos anos 80- com a adoção do programa do FMI- não era culpa da terapia, mas sim do modo incompleto e ineficiente com que esta havia sido sempre aplicada no Brasil. (CASTRO, Lavínia Barros de; 2005. p.119). E, por fim, as propostas da “Reforma Monetária” e do “Choque Heterodoxo” defendido pelos economistas da PUC- Rio, que apresentavam propostas para acabar com a inflação inercial, que era considerada um processo inflacionário em decorrência de reajuste de preços de acordo com a inflação do período anterior. A proposta de Arida e Resende visava à introdução de uma nova moeda indexada, que circularia paralelamente com o cruzeiro, 9 através de uma economia desindexada. No “Choque Heterodoxo” de Lopes era proposto o congelamento de preços e salários e a desindexação geral da economia (MODIANO, 1989). 1.2. O PLANO CRUZADO No dia 28 de fevereiro de 1986, durante o segundo ano do governo de José Sarney, o Plano Cruzado foi adotado pelo ministro da Fazenda, Dílson Funaro. O cenário econômico do país apresentava um momento favorável. Devido à recuperação das contas externas entre 1983 e 1984, as reservas internacionais em dezembro de 1985 alcançaram patamares elevados atingindo US$ 11,6 bilhões. Ao final de 1985, foram traçadas medidas fiscais e monetárias através de um “pacote fiscal”, em que um dos resultados seria a eliminação do déficit público no ano seguinte. O resultado foi o fracasso do gradualismo, que não repercutiu nenhum efeito sobre a inflação, atingindo 235% ao final do ano. O presidente Sarney, diante da dificuldade de conter a elevação dos preços, adotou a proposta do “Choque Heterodoxo” de Francisco Lopes, que apresentava medidas como: Reforma Monetária e Congelamento; Desindexação da Economia; Índice de Preços e Cadernetas de Poupança; e Política Salarial. Com a reforma monetária, houve o estabelecimento do cruzado como padrão monetário, em que a taxa de conversão foi fixada em mil cruzeiros por um cruzado. O congelamento dos preços foi instituído a partir de 28 de fevereiro, e a taxa de câmbio foi fixada de acordo com o dia anterior á adoção do plano. A forma de controle dos preços do governo foi por meio da “Tabela da SUNAB (Superintendência Nacional de Abastecimento e Preços)”, que consistia numa lista de preços a ser respeitada, sendo a população designada como “fiscais do presidente” (CASTRO, 2005). A desindexação da economia foi uma das medidas adotadas pelo governo com o novo plano, ocorrendo a substituição da ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional) considerada a “moeda” nacional alternativa devido à aceleração da inflação, pela OTN (Obrigações do Tesouro Nacional), cujos preços nominais ficariam congelados por um prazo de doze meses. A indexação de contratos de curto prazo, considerada inferior a doze meses, ficou banida. Nos contratos para pagamento futuro em cruzeiros com taxas de juros pós-fixados, os percentuais contratados acima de correção monetária tornar-se-iam as taxas nominais em cruzados, após a supressão da correção monetária. Este seria o caso de 10 todos os contratos de curto prazo, uma vez que com o Plano Cruzado a indexação em prazos inferiores a um ano foi proibida. (MODIANO, 1989, p.359) Para contratos com juros pré-fixados, durante 12 meses subsequentes ao plano, o governo estabeleceu uma tabela de conversão chamada de Tablita, em que a desvalorização convertia cruzeiros em cruzados a um taxa diária de 0,45%, que correspondia á média diária da inflação apurada entre dezembro de 1985 e fevereiro de 1986. O índice de preços ao consumidor IPCA foi deslocado para o dia da adoção do plano cruzado, passando a ser considerado IPC (Índice de Preço ao Consumidor), que manteria as mesmas avaliações do IPCA. Segundo Castro (2005) “O objetivo era eliminar a contaminação do índice pela inflação do mês de fevereiro”. Os rendimentos das cadernetas de poupança passaram de mensais para trimestrais, para impedir a queda do rendimento e da poupança, considerada o fenômeno da ilusão monetária. Na política salarial, houve a conversão de cruzeiros para o cruzado, tomando como base o poder de compra médio dos últimos seis meses em valores correntes. Os salários foram oficialmente congelados. Foram instaurados os dissídios coletivos, que passaram a ser anuais, com correção inferior a 100% (de 60%) sobre a variação acumulada do custo de vida. Foram dados aumentos a todos trabalhadores assalariados de 8% e mais um aumento de 16% no salário mínimo. Foi criado o “gatilho salarial”, que assegurava a correção automática dos salários, sempre que a inflação acumulasse 20%, para que evitasse prejuízos aos trabalhadores. A ideia era endogeneizar o período de reajuste (escala móvel) de forma a proteger os salários reais médios de qualquer inflação além do nível que aciona o gatilho. O reajuste, porém, não poderia exceder 20%, ainda que a variação acumulada do IPC superasse esse percentual, sendo o excedente computado nos reajustes subsequentes. (CASTRO, 2005, p.125-126) Devido ao sucesso inicial do Plano Cruzado, os índices de preços ao consumidor nos meses posterior a adoção do plano, baixaram para praticamente zero. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no primeiro quadrimestre houve crescimento de 20% nos postos de trabalho em relação ao mesmo período do ano anterior, gerando uma queda na taxa de desemprego de 4,4% registrado em março para 3,8% em junho. Com o aumento do consumo acarretado pela expansão do emprego, os empresários concederam aumentos de salários, além dos abonos, para evitar possíveis greves entre os trabalhadores. Porém, a situação fiscal do país piorava. Houve redução das receitas de financiamento por meio de senhoriagem, provocadas pelo fim do imposto inflacionário e o congelamento de 11 algumas tarifas públicas. Em contrapartida, o gasto do governo aumentava com as obrigações salariais do setor público. Logo, consideraram que o governo havia provocado um aumento excessivo na oferta monetária, ocasionando a queda da taxa de juros e um processo de valorização dos ativos financeiros (CASTRO, 2005). Devido o aumento da demanda, surgiram sinais de desabastecimento da economia, que logo foram questionados pela equipe econômica do governo. Neste contexto, houve discussões acerca do descongelamento total ou parcial da economia, e em meio a estas desavenças, criou-se no dia 23 de julho de 1986 o “Cruzadinho” (CASTRO, 2005). O “Cruzadinho” foi um pacote fiscal instaurado pelo governo na tentativa desestimular o consumo e aumentar os investimentos, através da criação de empréstimos compulsórios, que consistia na criação de impostos não-restituíveis, como por exemplo, de 25% sobre viagens internacionais; e impostos indiretos, como por exemplo: 30% sobre carros novos e de 28% sobre o combustível, que seriam devolvidos ao consumidor após um período de três anos, sob forma de ações do Fundo de Desenvolvimento Nacional. A receita gerada pelo pacote fiscal financiaria o Plano de Metas, que consistia em um programa de investimentos públicos e privados, visavam a um crescimento anual do PIB de 7%. Segundo Castro (2005, p.127) “Os aumentos de preços provocados pelo pacote, porém, foram expurgados do índice oficial de inflação, a fim de evitar o acionamento do gatilho salarial”. Porém, esta decisão de desconsiderar os aumentos dos preços no índice oficial, abalou a confiança da população em relação ao pacote fiscal. O descontentamento com o pacote foi geral: era insuficiente para desaquecer o consumo e gerou poucos recursos para financiar o programa de investimentos anunciados pelo governo. A insatisfação da população, que já vinha crescendo com os problemas do ágio e do desabastecimento, aumentou ainda mais com o expurgo do índice de preços oficial (CASTRO, 2005, p.127) Os superávits da balança comercial permaneceram e não traduziam o excesso da demanda do mercado interno. Este cenário da economia brasileira alterou-se no segundo semestre, com o declínio das receitas de exportações, passando de US$ 2,1 bilhões para US$ 1,3 bilhões. Segundo Modiano (1989, p.363), “Em outubro, o governo descongelou a taxa de câmbio, promovendo uma modesta desvalorização do cruzado de 1,8 % e anunciando uma política de minidesvalorização eventuais, baseadas num indicador da relação câmbio/ salário”. As eleições para governadores e para a Assembleia Constituinte paralisou a política econômica do país de agosto a 15 de novembro 1986. Mas após a eleição, o partido com 12 maior representatividade, PMDB, anunciou o Cruzado II, que tratava de um “pacote fiscal”, trazendo aumento de alguns preços públicos e dos impostos indiretos, com a finalidade de aumentar a arrecadação do governo em 4% do PIB. Entre outras decisões para o novo pacote, houve substituição do índice oficial, passando do Índice de Preço ao Consumidor (IPC) para as ponderações do Índice Nacional do Preço ao Consumidor Amplo (IPCA). Segundo Modiano (1989, p.362), “na mesma ocasião, foi regulamentada a escala móvel dos salários: os reajustes acionados pelo “gatilho” ficariam limitados a 20%, com resíduos inflacionários [...]”. Houve negociações entre trabalhadores e empresários na tentativa de formular o primeiro pacto social, porém não houve acordo entre as classes, refletindo no mês de janeiro de 1987 uma inflação de 16,8%, que acionou o gatilho salarial, mas que ao final, repôs pouco a mais que a perda de poder de compra do próprio mês. Em fevereiro, o governo cedeu às pressões e liberou os preços. Segundo Modiano (1989), a “reindexação da economia, iniciada em novembro de 1986, foi concluída com o reajustamento do valor nominal da OTN e a reintrodução da correção monetária em bases mensais”. Assim, o Plano Cruzado II teve o seu fim em fevereiro de 1987, em decorrência do descongelamento dos preços e da piora das contas externas. Em abril do mesmo ano, com a inflação chegando a patamares de 20% ao mês, o ministro Dílson Funaro e sua equipe econômica deixaram os cargos. Segundo os próprios criadores do Plano, houve vários erros na visão e na condução do Cruzado: (1) o diagnostico de que a inflação era “puramente inercial” estava equivocado. Antes da introdução do Plano, a economia brasileira já estava aquecida; (2) os abonos salariais contribuíram para reforçar a explosão de consumo que normalmente ocorre após a estabilização; (3) a condução das políticas monetária e fiscal foi excessivamente “frouxa”; (4) o congelamento durou demasiadamente [...]; (5) diferentemente dos salários, os preços foram congelados em seus níveis correntes e não médios, reintroduzindo diversas distorções de preços relativos; (6) o gatilho salarial reintroduziu e agravou a questão da indexação dos preços; (7) a chamada “economia informal” ficou fora do congelamento, o que contribuiu para desalinhar ainda mais os preços relativos; (8) a manutenção do câmbio fixo de fevereiro até novembro, somada ao crescimento da demanda, fez com que as contas externas se deteriorassem; e (9) a existência de uma defasagem nos preços públicos no momento do congelamento piorou a situação fiscal. (CASTRO, 2005, p. 129). 1.3. OS PLANOS BRESSER E VERÃO O ministro da Fazenda Dílson Funaro foi substituído por Luís Carlos Bresser- Pereira que, na ocasião, divulgou um novo plano de estabilização no dia 12 de junho de 1987 e, juntamente, uma meta para a taxa de crescimento do PIB de 3,5%. O novo Plano era 13 considerado híbrido, ou seja, era composto por elementos heterodoxos e ortodoxos. Segundo Castro (2005), “O Plano Bresser, objetivava, basicamente, promover um choque deflacionário na economia, buscando evitar os erros do Plano Cruzado”. Uma das diferenças entre o Plano Cruzado original e o Plano Bresser era que o novo plano não tinha como objetivo a inflação zero e a eliminação da indexação da economia. Considerando o lado ortodoxo, foram instituídas as seguintes medidas: contra a inflação, seriam adotadas políticas fiscais e monetárias mais rígidas. Para diminuir o consumo e evitar a especulação com estoque, o mecanismo usado seria os juros reais positivos. Intencionava-se reduzir os déficits públicos através de aumentos nas tarifas, cortes nos gastos e nos investimentos públicos, porém para se evitar a discrepância, houve diversos aumentos nos preços públicos antes da divulgação do congelamento. Não houve expurgos dos aumentos dos preços no índice oficial. A inflação do mês anterior à adoção do plano fora reposta parcialmente e paga nos seis meses seguintes de setembro, porém a inflação observada nos 12 primeiros dias de junho não fora reposta (CASTRO, 2005). As medidas adotadas pelo lado heterodoxo foram: congelamento de preços e salários, considerados em três fases: (1) congelamento total por três meses; (2) flexibilização do congelamento e (3) descongelamento. A Unidade de Referência de Preços (URP), pré-fixada a cada três meses baseada na inflação média dos três meses anteriores, seria considerada a nova base de indexação para os salários. Para haver a extinção do gatilho salarial, foi introduzido através da URP, um esquema em que se garantia a correção mensal, mas que paralelamente aumentava a defasagem entre a inflação do mês e seu repasse para os salários. Não houve congelamento da taxa de câmbio para que se evitasse a piora das contas externas. Para os contratos de aluguéis fora criada uma nova Tablita. Com este novo plano, não houve a criação de uma nova moeda (CASTRO, 2005). Com o Plano Bresser, houve queda da inflação observada entre junho e julho, passando de 26,1% para 3,1% respectivamente, e no mês de agosto chegou a 6,4%. O Plano obteve êxito na redução da inflação, porém o congelamento previsto não fora obedecido, devido ao descontentamento da população em relação ao Plano Cruzado, então houve mudanças preventivas nos preços relativos que ocasionaram um desequilíbrio na economia. Segundo Castro (2005), “O melhor resultado partiu das contas externas, com a flexibilização do câmbio”. Devido à resistência com a reforma tributária e a insatisfação da população, 14 Bresser-Pereira deixou o cargo, sendo substituído em janeiro de 1988, por Maílson da Nóbrega. Maílson da Nóbrega propôs uma política ortodoxa gradualista que objetivava a estabilização da inflação e a redução de forma gradual do déficit público. Segundo Castro (2005), “As propostas ganharam a alcunha de “Política do Feijão com Arroz”, que se baseava no congelamento dos valores nominais dos empréstimos do setor público e na contenção salarial do funcionalismo público”. Porém, o gradualismo não obteve sucesso no combate à inflação, resultando no anúncio de um novo plano no dia 14 de janeiro de 1989, intitulado de Plano Verão. Este plano consistia em um programa de estabilização híbrido, com elementos ortodoxos e heterodoxos. As principais medidas adotadas foram: (1) Um novo congelamento de preços e salários; (2) eliminação da indexação, exceto para depósitos de poupança; (3) introdução de uma nova moeda, o “cruzado novo”, equivalente a 1000 cruzados; (4) uma tentativa de restringir a expansão monetária e de crédito (aumentando as exigências de reservas para 80%; reduzindo o prazo de empréstimos ao consumidor de 36 para 12 meses; suspendendo as operações de conversão da dívida em capital de giro); e (5) uma desvalorização cambial de 17,73%. (BAER, 2009, p. 202). Algumas medidas previstas no Plano Verão, como ajustes fiscais, não foram praticadas, devido às eleições presidenciais previstas para o fim do ano de 1989. Para Castro (2005), “Do ponto de vista da eficácia do Plano Verão, a inflação baixou no primeiro mês da sua implementação (fevereiro), mas, já em março, entrou em rota ascendente”. O efeito para uma economia desindexada foi uma inflação de 80% ao mês nos primeiros meses de 1990. A era Sarney chega ao fim com as eleições para presidente, sendo eleito pelo povo por voto direto, Fernando Collor de Mello. 1.4. PLANO COLLOR I E II Na posse de Fernando Collor, no dia 15 de março de 1990, foi anunciado o Plano Collor, que foi introduzido novamente como padrão monetário, o cruzeiro (Cr$ 1,00= NCz$ 1,00). Dentre outras medidas para adoção do plano econômico, inicialmente houve o congelamento de preços de bens e serviços. Foi cobrado um novo tributo sobre as operações financeiras, ativos financeiros e retiradas em contas poupança. Os incentivos fiscais não garantidos pela Constituição, como para as importações, exportações e agricultura foram extintos. Introduzir-se a indexação imediata dos impostos. Para dificultar a sonegação fiscal, 15 foram implementadas medidas disciplinares e leis reguladoras. Os preços de serviços públicos sofreram aumentos, por exemplo, 32% em eletricidade e telefone, 57,8% no gás. Implementou-se um regime de câmbio flutuante, com intuito de promover a economia brasileira no exterior. Houve redução de Ministérios e Institutos governamentais, o que ocasionou a demissão de 360 mil funcionários. Foram instituídas as primeiras medidas para o processo de privatizações no país. O processo de maior choque na tentativa de conter a inflação com Plano Collor foi ocasionado no sistema financeiro, com o chamado “Sequestro da Liquidez”. Segundo Castro (2005), “Todas as aplicações financeiras que ultrapassassem o limite de NCr$ 50.000 (cerca de US$1.200, ao câmbio da época) foram bloqueados por um prazo de 18 meses”. Com a promessa de pagamento em 12 prestações (iguais e sucessivas) e uma correção monetária mais juros de 6% ao ano, a partir de setembro de 1991. O Plano Collor I recebeu críticas de todas as partes. O bloqueio dos recursos foi considerado uma inadmissível intervenção estatal, que tirava a confiança dos poupadores em investimentos no sistema financeiro nacional, com graves consequências para o país. Argumentava-se, ainda, que o limite imposto era tão baixo que prejudicava até pequenos poupadores e que a remuneração oferecida era inferior ao rendimento de diversas aplicações (queixa que gerou durante muitos anos ações contra o governo). (CASTRO, 2005, p. 149) Depois das medidas adotadas pelo plano, a inflação baixou dos 80%, registrada antes da adoção, para os níveis próximos de 10% nos meses subsequentes. Porém, houve uma nova aceleração da inflação em julho que repercutiu ao longo do ano. Devido ao agravamento da situação econômica, foi anunciado, no dia 1º de fevereiro de 1991, o Plano Collor II. Segundo Baer (2009), “Dessa vez, a estratégia concentrava-se numa reforma financeira limitada que consistia na eliminação do overnight e num ataque a inflação inercial, através de um congelamento de salários e preços e na extinção de varias formas de indexação”. Em detrimento do fim da indexação, foi extinto do Bônus do Tesouro Nacional (BTN) e criado o Fundo de Aplicações Financeiras (FAF), o rendimento seria Taxa Referencial (TR), a base seria por média das taxas do mercado interbancário. Porém, com o processo de impeachment do presidente Fernando Collor em 1992, dificultou qualquer ação de política econômica devido à falta de credibilidade do governo. Após o impeachment de Collor, o vice-presidente, Itamar Franco, assumiu a presidência em outubro de 1992. Após Itamar Franco assumir o mais novo cargo, o Ministério da Economia foi dividido em Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento. O cargo de Ministro da Fazenda teve alta rotatividade do período de março de 1993 a janeiro de 1995, como: Eliseu Resende, 16 Fernando Henrique Cardoso (futuro presidente da república), Rubens Ricupero e Ciro Gomes (ocupou o cargo até o fim do mandato de Itamar Franco). Com o cenário político e econômico conturbado, o Plano Real foi anunciado, marcando a estabilização da economia brasileira. 1.5. PLANO REAL Durante o mandato de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso foi nomeado Ministro da Fazenda em maio de 1993. Juntamente com sua equipe econômica, o então ministro anunciou um novo tipo de programa de estabilização. Segundo Bacha (1995), o novo Plano era seguido de três etapas: O primeiro estágio era um mecanismo de equilíbrio orçamentário. O segundo introduzia uma unidade de conta estável para alinhar os preços relativos mais importantes da economia. O terceiro estabelecia a conversão dessa unidade de conta na nova moeda do país, a uma taxa de paridade semifixa com o dólar. (BACHA, Edmar. Plano Real: uma avaliação preliminar. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.3-26, jun.1995) Os ajustes ficais foram considerados como a primeira etapa do plano para o fim da alta inflação no país. Para Castro (2005), “O diagnóstico do desajuste das contas públicas como (principal) causa da inflação brasileira torna o Plano Real, já na sua concepção, diferente de alguns dos seus precursores das décadas de 1980 e 1990”. As medidas adotadas para o ajuste fiscal com a criação do Plano de Ação Imediata (PAI) previam um corte nos gastos públicos que, ao fim, totalizou 9% dos gastos federais e 2,5% dos gastos em todos os níveis do governo. O PAI visava, basicamente, redefinir a relação da União com os estados e municípios e do Banco Central com os bancos estaduais e federais, além de promover amplo combate a sonegação. Além disso, o programa estabelecia novos tributos e incluía a assinatura de um acordo da dívida externa com o FMI e os bancos credores. (CASTRO, 2005, p.151-152) Segundo Bacha (1995), “A finalidade dessa primeira etapa era demonstrar a capacidade do governo federal de executar as despesas orçadas sem precisar da receita gerada pela inflação”. As despesas do governo eram orçadas em termos nominais com saldo negativo, enquanto os impostos eram indexados no nível de preços da economia. A inflação equilibrava as contas das despesas e receitas, através de um montante adicional de recursos decorrentes do imposto inflacionário, caracterizando uma forte dependência do governo em relação à inflação. Mediante a aprovação no Congresso pela emenda constitucional, criou-se o 17 Fundo Social de Emergência (FSE), com o então Ministro Rubens Ricupero, que estabelecia um corte fiscal entre os anos de 1994 e 1995 de 20% nos gastos governamentais e para pôr fim à relação de dependência nestas práticas orçamentárias. No segundo momento, houve a introdução do sistema de indexação, em que a base era um indexador chamado de URV (Unidade Real de Valor), que foi atrelado ao dólar americano numa base de um por um. Segundo Franco (1995, p.41), “Assim sendo, a reconstrução da moeda teria de se iniciar pela redefinição da indexação em termos de uma única unidade de conta- a URV- e que, além disso, essa unidade fosse o embrião da nova moeda, o Real”. A criação da URV foi justificada, pois o Plano buscava a eliminação do componente inercial da inflação, e para que isto ocorresse, era preciso “zerar a memória inflacionária”, através de uma quase moeda para evitar a utilização de congelamento de preços. Castro (2005), apresenta algumas funções da URV: A URV foi então racionalizada como um processo de recuperação das funções de uma mesma moeda. Através dela, se recuperaria, primeiramente, a função de unidade de conta para depois de emitida (e denominada “real”) resgatar a função de reserva de valor. Assim, a URV começou a vigorar a partir do dia 1º de março de 1994. Seu curso legal, porém, era estabelecido somente para uso como padrão de valor monetário, permanecendo o cruzeiro real como a função de meio de pagamento. Entre 1º de marços e 30 de junho, o Banco Central fixou diariamente a paridade entre o cruzeiro real e a URV, tendo por base a perda do poder aquisitivo do cruzeiro real. (CASTRO, 2005, p.155) A variação da URV era baseada na inflação passada, e não na inflação corrente. Um dos motivos existentes dessa medida foi assegurar que a URV fosse um mecanismo que estivesse isento de expectativas otimistas ou á manipulação pelos agentes econômicos. Houve a proibição inicial da conversão dos contratos financeiros (CDB’s, duplicatas, títulos do governo etc.), para em um segundo momento fosse convertido de forma gradual para assegurar a demanda por cruzeiros reais e, assim, evitasse a fuga da moeda doméstica. Os preços de bens e serviços para pagamentos imediatos não foram expressos em URV para evitar aceleração inflacionária. Para tarifas e preços públicos, houve a conversão em URV de forma gradual e a redução progressiva do período de reajustes de preços em cruzeiro real, mantendo-se aproximadamente constante os preços reais médios (BACHA, 1995). Outro diferencial do Plano Real foi optar por taxas de juros mais altas e elevar as taxas de juros de depósitos bancários da economia com o intuito de evitar a aceleração da inflação. 18 No caso dos salários, houve a conversão pela média dos valores reais obtidos no último quadrimestre e, no dia 1º de março, os pagamentos salariais ficaram fixos em URV. Com a URV houve o alinhamento de preços e salários sem a necessidade da política de congelamento para contenção da inflação. Houve a eliminação da indexação retroativa e que devido ao fato da URV ser um índice de preços (mesmo não sendo corrente) contribuiu para a transformação da política salarial, passando de um ciclo quadrimestral para um regime diário de indexação. Segundo Bacha (1995), um dos problemas gerados na negociação dos salários pela média entre sindicados e o governo foi o fato de não existir um mecanismo de proteção de conversão dos salários em Reais e a aceleração adiantada da inflação no período da URV. Para solucionar este conflito foram criados dois mecanismos de proteção para conversão dos salários. O primeiro permitia um aumento salarial, caso houvesse observado nos quatro meses de instauração da URV uma perda salarial tendo como base a política salarial usada anteriormente. Este primeiro mecanismo foi desnecessário devido ao fato de ter gerado uma diferença positiva em relação à URV. O segundo mecanismo foi a criação de um índice oficial de preços para acompanhar a inflação em termos Reais para que, se houvesse a necessidade de reajuste salarial, o índice fosse usado com base. Considerada a terceira etapa para a implantação do Plano Real, foi apresentado um conjunto de medidas superpostas, chamada de Medida Provisória (MP) 542. Segundo Castro (2005), algumas das medidas apresentadas foram: (1) O lastreamento da oferta monetária doméstica (no conceito de base monetária) em reservas cambiais, na equivalência de R$ 1 por US$ 1 (Art.3 da MP) ainda que essa paridade pudesse ser alterada pelo Conselho Monetário Nacional (§ 4 alínea c); (2) a fixação de limites máximos para o estoque de base monetária por trimestre (até março de 1995), podendo as metas serem revistas em até 20%; e (3) a introdução de mudanças institucionais no funcionamento do Conselho Monetário Nacional, buscando dar passos em direção a uma maior autonomia do Banco Central. (CASTRO, 2005, p. 157) Houve diversas críticas sobre MP por parte dos economistas. Alegação seria a indefinição de alguns mecanismos do documento. Em primeiro, houve o estabelecimento de lastro sem a garantia de conversibilidade entre o dólar e o real. Em segundo lugar, havia noção que a inflação reduziria através da URV e que acarretaria uma natural remonetização da economia, mas o tamanho do impacto desse fenômeno era desconhecido, podendo ocorrer riscos nas metas monetárias estabelecidas no sentido de serem ultrapassadas. E, por último, a MP foi apontada de cometer uma grave inconsistência econômica, ao divulgar âncoras monetária e cambial simultaneamente em uma economia com mobilidade de capitais. Porém, 19 dias depois, houve o esclarecimento que o real adotaria âncora monetária (metas) e o câmbio atuaria numa banda assimétrica. Contudo, todas estas medidas previstas nesta fase tiveram duração de apenas três meses e após este insucesso, em outubro de 1994, o governo resolveu mudar de âncora, abandonando a monetária a favor da cambial (CASTRO, 2005). Os primeiros resultados observados depois da instauração do Plano Real foram positivos, conseguindo alcançar patamares da inflação de 50,7% em junho de 1994, para taxas de 0,96%, 3,45% e 3,01%, respectivamente nos meses de setembro, outubro e novembro. Segundo Baer (2009, p.227), “Em 1995, a maior taxa mensal foi de 5,15%, em junho, e a mais baixa, 1,50%, em outubro”. Houve redução do aumento cumulativo de preços de 1994 para 1995, de 1.340% para 67%. O índice do crescimento econômico acompanhou a melhora observada nos seis meses antes da introdução do plano. No ano de 1994, a média foi de 4,3% na primeira metade do ano e uma média de 5,1% na segunda metade. Em 1995, foi de 7,3% em março, 7,8% em junho e de 6,5% em setembro. Um dos destaques foi para o setor da indústria, em que a produção no ano de 1995 aumentou de 9,2% em março para 9,7% em junho. A capacidade industrial teve uma melhora no seu aproveitamento, passando de 80% em julho de 1994 para 86% no ano de 1995. O setor agropecuário teve bom desempenho em 1994 (5,5%), contribuindo de forma significativa para a queda da inflação devido ao aumento da oferta, chegando a ser denominada “âncora verde do real”. Houve também a recuperação da taxa de investimento no país, após 10 anos de baixa, chegando a 16,3% do PIB em 1994 para 16,8% ao final de 1995 (BAER, 2009). 1.6. A ECONOMIA BRASILEIRA NO PERÍODO DE 1995-1998 No dia 1º de janeiro de 1995 dá o início ao mandato de Fernando Henrique Cardoso, também conhecido como FHC, permanecendo na Presidência da República por dois mandatos. A primeira fase da presidência do FHC é marcada por uma memória histórica de planos econômicos frustrados anteriores à adoção do Plano Real e, por consequência deste fato, a meta do novo governo era o combate à inflação e a busca pela estabilização econômica do Brasil. O governo FHC iniciou-se sofrendo diversas pressões devido à situação econômica do país. Um dos desafios era o processo de superaquecimento, que remetia ao fracasso do Plano 20 Cruzado, quando um boom de consumo mal administrado tinha como reflexo o colapso da estabilidade. Outro desafio encarado foi a crise do México, que teve como um dos efeitos uma desvalorização do balanço de pagamento (BP) no final de 1994, ocasionando, assim, uma especulação sobre o regime de câmbio rígido, sendo cogitada uma crise semelhante a do México no país. Segundo Baer (2009), em março de 1995 o país adotou um conjunto de medidas em reação à crise econômica do México com intuito de preservar a economia brasileira. A crise do México em 1994 e 1995 ameaçou prejudicar o Plano Real, mas as autoridades brasileiras reagiram em março de 1995, desvalorizando o Real durante os três meses seguintes: ele caiu de uma média de R$ 0,84 em fevereiro para R$ 0,89 em março e R$ 0,91 em junho. Ao mesmo tempo, as taxas de juros foram aumentadas mais uma vez. Entre fevereiro e abril, a TR aumentou de uma taxa mensal de 1,8% para 3,5%. Com a rápida solução da crise mexicana, a pressão especulativa sobre o Real diminuiu e a política de taxas cambiais elevadas foi mantida até o final de 1998. (BAER, 2009, p. 226) Outro aspecto de preocupação do novo governo eram as reservas internacionais do país, pois com o início do Plano Real eram de US$ 43 bilhões, porém sofreram drásticas reduções. No último mês de 1994, as reservas internacionais encerram com US$ 39 bilhões, chegando a US$ 34bilhões em março e US$ 32 bilhões em abril de 1995. Este efeito seria decorrência da combinação do crescimento da demanda agregada e da redução da entrada de capitais aliados ao ambiente externo. (GIAMBIAGI, 2005) Após as medidas adotadas em reação à crise mexicana, em que o país adotou uma desvalorização controlada do real, juntamente com o aumento da taxa de juros nominal, os investidores foram atraídos pela rentabilidade elevada e voltaram ao país, alavancando assim as reservas internacionais, chegando ao final de 1995 com US$ 52 bilhões. Segundo Giambiagi (2005), entre junho 1994 e junho de 1995, houve resistência da queda da inflação, ocorrendo uma variação dos preços de 33%, segundo as medidas do INPC. Porém, como um dos reflexos da instauração do conjunto de medidas em março de 1995, a inflação começou a ceder e caiu por quatro anos consecutivos. O Plano Real, diferentemente dos planos anteriores instaurados no país, obteve êxito no controle da inflação, ocorrendo queda das taxas de variações anual dos preços entre 1995 e 1998. No entanto, o sucesso do plano foi prejudicado por um desequilíbrio externo crescente e uma grave crise fiscal (GIAMBIAGI, 2005). 21 O desequilíbrio externo foi uma combinação entre um aumento considerável das importações e um fraco desempenho das exportações. No período entre 1995 e 1997, houve um crescimento das importações em dólar de 21,8% a.a, enquanto que as exportações foram de apenas 6,8% a.a. Outro fator que contribuiu para o desequilíbrio, foi o financiamento do próprio déficit em conta corrente em 1995. Segundo Giambiagi (2005): Como estes eram financiados com novo endividamento externo e com a entrada de capitais na forma de investimento direto estrangeiro (IDE), a acumulação de estoques de passivos externos- dívida ou estoque de capitais no país- implicava pagamentos crescentes de juros e de lucros e dividendos. (GIAMBIAGI, 2005, p.170). Como uns dos resultados do primeiro governo FHC houve aumento do déficit de serviços e renda, o déficit em conta aumentou, passando de US$ 2 bilhões em 1994 para US$ 30 bilhões em 1997. Na dívida externa líquida também houve flexibilidade, ocasionando um aumento rápido no período de 1996-1997, tendo um agravamento maior em 1998 devido à crise internacional, que ocasionou uma redução das exportações brasileiras neste ano. Segundo Giambiagi (2005), estes fenômenos estavam associados à forte apreciação cambial observados nos meses subsequentes à introdução do Plano Real e ocasionando reflexos negativos anos depois. No que tange à situação fiscal do país, fora observado uma grave crise no primeiro mandato do governo FHC, sendo caracterizado por um déficit primário do setor consolidado; um déficit público (nominal) de nada menos que 7% do PIB, na média de 1995-1998; e uma dívida pública crescente (GIAMBIAGI, 2005). Entre os debates, buscavam uma resposta para o agravamento do resultado fiscal do país, a política fiscal expansionista praticada com elevadas taxas de juros é caracterizada como uma das responsáveis pela situação fiscal observada após o ano 1994 (GIAMBIAGI, 2005). Há que frisar também que a política econômica se defrontou com um problema clássico dos programas de estabilização: a falta de um “alicerce”, representado pela política fiscal. Sem a ajuda desta, o êxito do Real dependeu quase que exclusivamente do rigor da política monetária, e os juros tiveram um papel crucial para preservar o Plano. (GIAMBIAGI, 2005, p.175) Segundo Giambiagi (2005), sobre os juros praticados durante o período, houve duas faces observadas: uma que os juros decorreram da taxa de juros real e o outro lado, que as 22 taxas de juros praticadas no início do Plano Real recaíram sobre uma dívida pública e posteriormente foram aplicadas numa dívida de forma gradativa. 2. METODOLOGIA DAS ANÁLISES DAS PUBLICAÇÕES A partir da base teórica observada e estudada sobre os planos econômicos apresentados em livros e artigos científicos, reconstruímos a história com as notícias e reportagens veiculadas na “Revista Veja” sobre o Plano Cruzado, no período de fevereiro de 1986 a abril de 1987 e sobre o Plano Real, entre maio de 1993 a novembro de 1994. Para a pesquisa, foi utilizado o acervo digital da “Revista Veja”, que se encontra em (http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx). A pesquisa realizada sobre o Plano Cruzado é devido ao contexto político e econômico que em foi instituído, sendo o primeiro plano econômico de combate à inflação após o período de ditadura militar que vigorou por 20 anos no Brasil. A pesquisa realizada sobre o Plano Real explica-se devido ao êxito no combate à inflação após um longo período de instabilidade e fracassos econômicos, marcando, assim, uma nova trajetória do país. Através da análise temporal das publicações veiculadas na “Revista Veja” sobre o Plano Cruzado e o Plano Real, tornou-se possível a reconstrução histórica a partir das notícias publicadas sobre as políticas e medidas dos planos econômicos. As análises serão apresentadas em três etapas de busca. A primeira etapa da análise será com as publicações da “Revista Veja” no acervo digital sobre o Plano Cruzado, com o objetivo de identificar e relatar os conteúdos das notícias publicadas sobre o quadro econômico e os efeitos do plano de estabilidade econômica. A segunda etapa da análise será a revisão das publicações da “Revista Veja” no acervo digital sobre o Plano Real, com o objetivo de identificar e relatar as novas perspectivas e ideias que foram publicadas sobre o plano econômico. 23 A última etapa contará com a análise comparativa através da publicação da “Revista Veja” entre Plano Cruzado e o Plano Real que identificam semelhanças e diferenças entre eles. 2.1. ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES DA REVISTA VEJA SOBRE O PLANO CRUZADO. Na edição de 5 de fevereiro de 1986, intitulada como “Um barco que começa a fazer água” dirigia a atenção para a taxa de inflação apresentada em janeiro de 1986, que atingiu uma patamar de 16,2% ao mês, e a preocupação em relação as políticas adotadas pelo governo Sarney. Segundo a edição 909, “O presidente José Sarney está diante de uma política econômica, da qual é o comandante, que caminha para o precipício” (Veja, 1986, edição 909, p. 72), fazendo referência à troca de Ministro da Fazenda, por Dílson Funaro que trazia como proposta a redução dos preços e das taxas juntamente com um crescimento econômico. O quadro apresentado era de crescimento econômico, porém o PIB brasileiro apresentava melhoras desde 1984, contudo as taxas de juros e os preços da economia continuavam altos. Segundo a edição 909, “A inflação, tornou-se, sem mais qualquer disfarce, um cataclismo econômico que ameaça destruir a moeda nacional, desbaratar a vida produtiva do país e colocar em risco a estabilidade do governo” (Veja, 1986, edição 909, p.74). Calcula-se que a inflação diária ficou em 0,5%, percentual que demonstra a perda diária do dinheiro no bolso do brasileiro. Ainda segundo edição um assessor planaltino revelou a reação de perplexidade do Presidente ao receber a notícia pelo Ministro da Fazenda, Dílson Funaro e o Ministro do Planejamento, João Sayad. Para Sarney, a inflação registrada em dezembro de 1985 de 13,3% continuaria elevada, mas não como o patamar registrado em janeiro de 1986, ou seja, a inflação de janeiro foi acima da expectativa esperada para o mês. A declaração de Eulálio de Bueno Vidigal Filho sobre a condução das politicas econômicas era: “Se ele quiser entrar para a História, terá de tomar uma decisão exemplar: endurecer a política econômica num ano de eleição” (Veja, 1986, edição 909, p. 73). Diante deste contexto político e econômico do país, Sarney e sua equipe econômica lançaram o Plano Cruzado, que trazia como proposta o controle inflacionário. No pronunciamento do novo plano econômico para o país, Sarney salientou que “Iniciamos hoje uma guerra de vida ou morte contra a inflação. A decisão está tomada. Agora, cumpre 24 executá-la e vencer” (Veja, 1986, edição 913, p.22). Dentro das expectativas expostas por Dílson Funaro em reunião com o Conselho Monetário Nacional (CMN) está a busca pela inflação zero. Na matéria intitulada como “Começa a era do Cruzado” da edição 913, a notícia é sobre a instauração do Plano Cruzado, que coloca o fim no padrão monetário do Cruzeiro e instaura o Cruzado. De acordo com a edição “A primeira e a mais vista das mudanças é substituição do Cruzeiro, como moeda corrente no Brasil, pelo Cruzado - obtido com a eliminação de três zeros das notas atuais de cruzeiros, que passarão a ser carimbadas com o seu novo valor, a introdução do símbolo CZ$ é a esperança que seja mais forte que seu antecessor” (Veja, 1986, edição 913, p. 23). Houve a eliminação da correção monetária generalizada, que segundo a edição 913 era “A malvada “indexação” da economia brasileira, sistema de índices que aumentavam de maneira automática e permanente, puxando para cima, sem parar, todos os preços praticados no país” (Veja, 1986, edição 913, p.22). De acordo com a reportagem, a eliminação da indexação da economia, a inflação deixará de se autoalimentar e terá o seu controle através da administração de preços e salários. A ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional) foi substituída pela OTN (Obrigações do Tesouro Nacional), que segundo a matéria “Ganham o valor de 106,40 cruzados (conversão dos 106 400 cruzeiros a que tinham chegado as velhas ORTN) e permanecerão com sua cotação fixa durante um ano” (Veja, 1986, edição. 913, p. 24). O estabelecimento do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) teve como finalidade medir a inflação e aplicar remunerações às cadernetas de poupança, ao Fundo de Garantia, ao PIS-PASEP e às aplicações financeiras com prazos superiores a doze meses. Segundo a reportagem, “Um programa completo de desindexação deveria abolir a correção monetária em todos os ativos financeiros, mas, por motivos estratégicos, as cadernetas de poupança foram poupadas” (Veja, 1986, edição 913, p. 30). A correção foi de acordo com a inflação e receberam juros de 0,5% ao mês. A causa desta medida foi devido à preocupação do governo para ocorrência do “efeito manada” nas retiradas dos valores em poupança e comprometer o Sistema Financeiro de Habitação. O cálculo dos rendimentos da poupança entre os dias 10 e 28 de fevereiro de 1986 foram feitos de acordo com a correção monetária. Porém, o cálculo entre os dias 1 e 10 de março de 1986, com a correção já extinta, foram remunerados apenas com a taxa de 6% ao ano. Com a nova medida de avaliação foram perdidos 14 dias de 25 inflação, devido ao fato da extinção do IPCA ocorrer no dia 14 fevereiro e o novo índice ter estabelecido somente no dia 28 de fevereiro. O motivo da perda destes 14 dias no cálculo do IPC foi em decorrência da preocupação da contaminação do novo índice com o resíduo da inflação passada (Veja, 1986, edição 913, p. 25). Em relação ao câmbio, houve a eliminação dos reajustes automáticos e diários, em que o dólar ficou fixado em 13,84 cruzados para venda e 13,77 cruzados para compra, e a sua modificação permanecendo a critério ou em detrimento da necessidade do governo. (Veja, 1986, edição 913, p. 33). Segundo a edição 946, a primeira modificação da taxa de câmbio exercida no Plano Cruzado ocorreu em outubro de 1986, quando o governo promoveu a desvalorização do cruzado em relação ao dólar. O dólar foi reajustado para 14,09 cruzados, com uma desvalorização de 1,8%. Uma das causas apontadas para o reajuste da taxa de câmbio foi a constatação do Banco Central de um aumento das remessas de dólares ao exterior por parte das empresas estrangeiras instaladas no país, devido à expectativa de maxidesvalorização após as eleições do ano. A medida anunciada trouxe a expectativa de melhoras nas receitas de exportações do país, logo que houve a deterioração das exportações em detrimento das importações. Todavia, a justificativa oficial do governo para a medida foi a correção da defasagem existente entre os preços congelados e os salários reajustados. Segundo a reportagem, “Por esse raciocínio, os custos das empresas teriam aumentado, em média, 12% acima da inflação desde 28 de fevereiro somente por conta dos aumentos salariais dados no período” (Veja, 1986, edição 946, p.117). Então, na tentativa de amenizar os custos e aumentar a competitividade das empresas um câmbio desvalorizado de 1,8% corrigiria a defasagem (Veja, 1986, edição 946, p. 117). Com a política salarial, os salários foram fixados em valor médio real dos últimos seis meses e deixaram de ter reajustes semestrais para anual nos dissídios coletivos, ficando as negociações livres entre empregados e empregadores. Houve o estabelecimento do novo salário mínimo de 800 cruzados. Segundo a reportagem “Amarrando este sistema, os novos salários em cruzados ganharam, desde já, um abono salarial de 8% e, para o futuro, reajustes a cada vez que a inflação chegar a 20%” (Veja, 1986, edição 913, p.25). Dentro das propostas esteve o congelamento dos preços que, com a elaboração do Plano o prazo de vigência foi indefinido. O controle dos preços foi acompanhado pela tabela 26 da SUNAB que continha uma lista com 74 produtos com mais de 200 itens para que a população seguisse os valores das mercadorias tabeladas pelo governo. Segundo a notícia, “O Ministério da Fazenda reuniu-se e determinou um preço médio para cada produto, desde um pé de alface até um automóvel, passando pelo arroz e material de construção, calculado a partir de janeiro de 1984” (Veja, 1986, edição 913, p. 31). O descumprimento da lista implicava em multa e em estágio mais avançado da desobediência, o fechamento do estabelecimento. O maior desafio desta medida era o cumprimento do tabelamento, mas o governo contava com o trabalho conjunto dos Estados e Municípios, além da população, para que fosse efetivada a obediência da lista. Conforme a reportagem, “A ideia é contar com estrutura e pessoal para poder receber as denúncias, comprová-las e determinar as providências” (Veja, 1986, edição 913, p.31). Outro fator preocupante dos congelamentos dos preços foi em relação ao desabastecimento na economia, que poderia ser ocasionado pelo boicote das empresas devido à queda da margem de lucro, retendo os produtos na expectativa de os preços serem liberados. Segundo a reportagem da edição 917, um mês após a medida constatou conflitos entre empresários, que defendiam seus interesses em relação aos custos das matérias-primas. Com o congelamento, houve a quebra do circuito de produção, ou seja, a onda de remarcações existente desde fornecedor da matéria-prima até o comércio passou a ser inviável devido ao tabelamento geral dos preços da economia. Segundo a edição, a consequência dos conflitos dos interesses entre os empresários foi refletida na falta de alguns produtos disponível no comércio, como por exemplo, o leite (Veja, 1986, edição 917, p.20). Segundo a edição 929, a primeira remarcação oficial dos preços da tabela da SUNAB aconteceu quatro meses após a decretação do Plano Cruzado, na tentativa de reverter as distorções existentes nos produtos (Veja, 1986, edição 929, p.110). O aumento de demanda intensificou o desabastecimento da economia, gerando problemas para o pacote econômico vigente. Segundo a reportagem “A caça ao dinheiro” da edição 934, problemas como o ágio tornaram comum no cotidiano dos brasileiros. Outro fator preocupante observado para o Plano Cruzado foi o desequilíbrio das contas públicas. Diante das dificuldades existentes, o governo necessitou de alterações no Plano Cruzado, instituindo em julho de 1986 o empréstimo compulsório que vinha acompanhado da promessa de devolução futura, que visava conter o consumo, aumentar os investimentos e evitar o colapso do pacote econômico. Conforme a edição, o compulsório incidiu sobre duas categorias de 27 produtos: combustíveis, álcool e gasolina, taxados com 28%; e os automóveis usados e novos, na ordem de 30%. As viagens internacionais sofreram aumento de 25% nas passagens aéreas, sem qualquer menção a empréstimos ou devolução futura. Segundo a reportagem, “Um detalhe: nenhum desses ônus será registrado pelo índice de inflação apurado pelo IBGE” (Veja, 1986, edição 943, p.93). A intenção deste pacote fiscal teve como pretensão esfriar a demanda nestes setores, alocar os recursos do consumo para poupança na tentativa de sanar as empresas estatais e aumentar os investimentos para ampliar a produção no país. Para completar o pacote fiscal, foi criado o Fundo de Desenvolvimento Nacional (FDN), o estuário das receitas geradas pelo empréstimo compulsório. Porém, o pacote fiscal gerou desconfiança e incerteza por parte da população, mesmo com a finalidade de projetos futuros de financiar investimentos em infraestrutura no país e a criação de projetos sociais (Veja, 1986, edição 943, p.94). Segundo a reportagem da edição 935 sobre a medida, salienta que “A desconfiança é que o pacote, diante de um Estado imune à reforma econômica de fevereiro, servirá sobretudo para tapar buracos nas contas públicas, apesar das garantias em contrário do presidente José Sarney”(Veja, 1986, edição 935,p.92). Após as eleições realizadas em novembro de 1986, tendo o PMDB como o partido vencedor das eleições, o governo traçou novas medidas para solucionar os desequilíbrios na economia. Para isso, lançou um novo pacote que constituía aumento nos preços e tarifas. Segundo a edição 950, “O objetivo central de tudo o que se porá no pacote é reduzir o consumo, aumentar a poupança, incentivar os investimentos em projetos industriais, manter o nível de renda das famílias de até cinco salários mínimos, cortar as despesas públicas e melhorar as receitas do Tesouro” (Veja, 1986, edição 950, p.40). Na ocasião, também houve a troca do índice oficial que relacionava o padrão de famílias com a renda mensal de até cinco salários mínimos, tendo como intenção deste novo indicador balizar os aumentos dos preços e tarifas para evitar contaminação nas taxas de inflação. Segundo a matéria, “A lista de mercadorias que teriam seus preços pesquisados para formar esse novo índice seria sucinta. Nela haveria, por exemplo, apenas um tipo de camisa, de sapatos ou de televisor. Naturalmente, a maior parte desses itens estaria com os preços tabelados e, assim, a inflação oficial poderia ser sempre baixa” (Veja, 1986, edição. 951, p. 41). 28 Segundo a edição 951 os aumentos dos preços e tarifas ficaram na ordem de: 60% para a gasolina e álcool; 80% para os automóveis; 35%, em média, no serviço dos Correios; 35% nas contas de telefone; um aumento variável de 60% no preço da energia elétrica; 25% para o açúcar; aumentos de 5% a 15% nos remédios e 45% a 120% nos cigarros (Veja, 1986, edição. 951, p. 36). Houve a regulamentação da escala móvel dos salários, que quando a inflação atingisse 20%, os salários passariam por reajuste na mesma proporção. Porém, a particularidade da regulamentação seria aumentos segundo a data-base de cada categoria. Segundo a edição 951, “Não haverá aumento geral quando a inflação atingir os 20%. Cada categoria terá que esperar a sua vez” (Veja, 1986, edição 951, p. 36). E ainda, se a inflação tiver em um patamar acima de 20%, a porcentagem adicional será corrigida apenas no próximo gatilho. A correção dos salários passou a ser pelo IPC restrito que, em cada data-base, os assalariados terão o direito de 50% do IPC. Logo após o regulamento do gatilho salarial, segundo a edição 957, houve tentativa do primeiro pacto social no país entre o Governo e os Sindicatos, no entanto não houve acordo entre as partes (Veja, 1986, edição. 957, p.26). Em fevereiro de 1987, o governo anuncia o início da liberação do controle de preços após as pressões do mercado ocasionadas pelos reajustes ocorridos desde novembro de 1986. Acompanhado do descongelamento dos preços, a expectativa da taxa de inflação estava em torno de 16% para economia, mesmo com o cálculo desconsiderando os reajustes realizados pelo governo. Segundo a edição 962, “A partir daquela data um gordo lote de produtos estava com seus preços reajustados, outros ficavam liberados e apenas uma centena continuaria tabelada pela SUNAB, basicamente gêneros alimentícios e artigos de higiene e limpeza” (Veja, 1987,edição 962, p. 90). Ainda de acordo com a reportagem, o registro da taxa de inflação de janeiro de 1987 causa outro fator preocupante na contenção de surtos inflacionários, o acionamento do gatilho salarial. Em meio ao desequilíbrio da economia e o ambiente de incerteza do Plano Cruzado, a continuação de Dílson Funaro como Ministro da Fazenda era incerto. Segundo a edição 974, “Não só não dava mais para mantê-lo como também já estava em curso a operação para substituí-lo. Do lado do PMDB, Ulysses já tinha uma preferência secreta. No planalto, Sarney também tinha a sua” (Veja, 1987, edição 974, p. 47). Mas antes da demissão, no final do mês 29 de abril de 1987, Dílson Funaro e sua equipe pedem demissão dos cargos, sendo que o Ministério da Fazenda foi assumido por Luís Carlos Bresser-Pereira que, segundo a reportagem, assume o cargo com uma inflação de aproximadamente 20%. 2.2. ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES DA REVISTA VEJA SOBRE O PLANO REAL. O quadro econômico do Brasil apresentava uma inflação acumulada entre 1980 a 1993 um patamar de 300%, em média, ao ano. A edição 1291 traz a reportagem “O Vampiro que sangra o Brasil” que, segundo a notícia, em janeiro de 1993, o Brasil ganhou o terceiro lugar no pódio da inflação mundial, perdendo apenas para o Zaire e para a Rússia. Segundo a reportagem, “O Brasil está aplastado com uma inflação que o torna a cada momento mais pobre e, pior, que o está afastando de um mundo que parece ter desistido da alucinação inflacionária” (Veja, 1993, edição 1291, p. 18). Em resumo, a trajetória da economia brasileira entre o período de 1980 a 1993, relata que o Brasil teve: quatro moedas diferentes; cinco congelamentos de preços e salários; nove planos de estabilização econômica; onze índices para medir a inflação; dezesseis políticas salariais diferentes; vinte e uma propostas de pagamento de dívida externa; e cinquenta e quatro mudanças na política de preços (Veja, 1993, edição 1291, p. 18). O Governo Itamar Franco, no primeiro semestre de 1993, contou com duas demissões do cargo de Ministro da Fazenda, Paulo Haddad e Eliseu Resende. Em referência ao período de Paulo Haddad, a reportagem salienta que “Aprontou um plano selvagem de estabilização econômica que previa um calote nos títulos públicos. Levou cinco meses para essa ideia nada singular. Foi despejado antes de aplica-lo” (Veja, 1993, edição. 1291, p. 18). Em relação ao período de Eliseu Resende, segundo a reportagem, “Montou um projeto mais improdutivo do que o solo lunar. Os brasileiros que não gostam do foguetório de preços perderam apenas 81 dias com Eliseu” (Veja, 1993, edição. 1291, p. 18). Em um cenário de insatisfação e descrença da condução das políticas econômicas adotadas no país, o terceiro ministro do ano de 1993 assume o cargo, Fernando Henrique Cardoso. Segundo a reportagem “Nas duas semanas em que ocupa o cargo, os preços subiram cerca de 15%. Ou seja, a inflação brasileira bate, em cinco dias, a inflação anual de Chile, México e Bolívia e quase toca nas taxas argentinas de 1992” (Veja, 1993, edição. 1291, p. 18). 30 A proposta inicial do novo ministro era de economizar 6 bilhões de dólares do orçamento federal. A intenção era frear os bancos estaduais que emprestaram dinheiro às demais esferas do governo em débito com o governo federal. Segundo a reportagem, “Se o plano é mesmo esse e for aplicado sem demora, Fernando Henrique terá tocado no coração do bicho percentual que esfola o país. Esse coração localiza-se no coração do governo e chamase déficit público” (Veja, 1993, edição. 1291, p. 19). A notícia divulgou que o problema crucial era que o governo gastava mais do que arrecadava e, para cobrir os déficits, emitia dinheiro sem lastro, ocasionando a desvalorização da moeda. A consequência desse processo era que, na medida em que sociedade percebe a depreciação do dinheiro, aumenta os preços para não haver perda, ocasionando a elevação no nível geral dos preços (Veja, 1993, edição. 1291, p. 19). A reportagem intitulada como “Corte na Carne”, da edição 1292, apresenta o novo programa de controle dos gastos de Fernando Henrique Cardoso. Segundo a reportagem, haveria um pronunciamento em cadeia nacional do Ministro da Fazenda sobre o novo programa que contaria com cinco itens de destaque. O primeiro item é o corte dos gastos que, na ocasião, cerca de 95% do orçamento de 240 bilhões de dólares estavam destinados ao pagamento do funcionalismo público e a intenção era reprogramar o orçamento, de maneira a torná-lo mais condizente com a situação econômica do país. O segundo item era a Dívida dos Estados com o objetivo que os mesmos pagassem entre 9,5% e 12% de suas dívidas, segundo a reportagem, “Fernando Henrique quer que aceitem o princípio, bem simples, de que quem deve paga. Paga o que pode, de maneira realista, em vez de imperar a ilusão de que um dia, no final dos tempos, as dívidas serão pagas” (Veja, 1993, edição 1292, p. 24). O terceiro item referia-se aos bancos estaduais, que teriam que regularizar as suas contas que apresentavam situação de calamidade. O quarto item tratava do o aumento da receita, que contaria com a busca do estabelecimento de um imposto sobre movimentação financeira e o emparelhamento da receita para pegar os sonegadores. O último item era das Privatizações que, segundo a reportagem, o Ministério da Fazenda calculava que, no período de 1982 a 1992, as empresas estaduais geraram uma dívida de 21 bilhões de dólares cobertas pelo Governo Federal, e a intenção era que, com as privatizações o governo ficasse com uma parte minoritária e, com isso, as ações das empresas valorizassem e o Estado contasse com uma reserva de capital. (Veja, 1993, edição 1292, p. 24-25). 31 A edição 1299 traz a reportagem “O Brasil cai no Real”, divulgando a nova moeda do país, o Cruzeiro Real. A notícia relata o corte dos 3 zeros da moeda e a confusão criada em relação aos cheques pré-datados. O Banco Central, na ocasião, estipulou uma data para que os comerciantes depositassem os seus cheques em cruzeiros para serem descontados na nova moeda, desconsiderando os prazos combinados entre os comerciantes e os seus fregueses. Este fato gerou uma confusão entre as partes, pois, para se defenderem de possíveis falências, os comerciantes foram obrigados a depositar os cheques pré-datados, gerando problemas para os clientes de falta de fundo. Contudo, devido à confusão estabelecida, o Banco Central teve que estabelecer uma nova data para os descontos dos cheques pré-datados para pôr fim ao conflito. Segundo a reportagem, “O Banco Central reabilitou os cheques preenchidos em cruzeiros. Os pré-datados que foram depositados serão devolvidos pelos bancos aos comerciantes e poderão ser depositados até 29 de novembro” (Veja, 1993, edição 1299, p. 86). Em relação ao corte dos 3 zeros, a notícia constata que “ O cruzeiro real não tem nenhum impacto sobre a inflação, é verdade, mas acaba com um tremendo problema contábil, que estava levando as pessoas ao nervosismo e inviabilizando as operações com quantias muito grandes” (Veja, 1993, edição 1299, p. 87). A reportagem “Apostando em mais um imposto” da edição 1316 traz aos leitores as novas propostas do Ministro da Fazenda, Fernando Henrique. Na reportagem, o assunto é sobre o aumento dos impostos e cortes nos gastos. As principais medidas previstas foram as seguintes: (1) Os impostos e contribuições federais passariam por um aumento de 5%, com a espera de arrecadar 3 bilhões de dólares para o ano 1994; (2) a criação de um Fundo Social, que terá como objetivo destinar 15% da arrecadação para a Reserva Social de Emergência e que, na ocasião, foi divulgado um prazo de vigência de 2 anos; (3) Um novo orçamento com cortes em Programas Sociais, vantagens e gratificações de servidores eliminados e a paralisação de novas obras de infraestrutura; (4) Fim da emissão de títulos federais para pagamento de despesas do governo (Veja, 1993, edição 1316, p. 28-29). Segundo a edição 1316, propostas anunciadas em dezembro de 1993 faziam parte da segunda fase do plano de estabilização do governo. A primeira fase foi a instauração do Plano de Ação Imediata (PAI) em junho de 1993. Segundo a reportagem, “O PAI aumentou a arrecadação, enxugou o orçamento deste ano de 6 bilhões de dólares e iniciou a renegociação da dívida dos Estados” (Veja, 1993, edição 1316, p. 29). 32 Na reportagem “Um belo plano que já nasceu furado” da edição 1318 relata a dificuldade do Ministro da Fazenda em consolidar suas propostas anunciadas devido a barreiras impostas do Congresso Nacional. Na notícia, as novas propostas ganham o elogio como sendo o melhor plano desde 1986 devido ao fato de percorrer o trajeto inverso dos demais planos econômicos. Segundo a notícia “Em vez de começar no congelamento ou no confisco, com vagas promessas de combate ao déficit público, foi o primeiro Ministro da Fazenda a propor de saída o controle dos gastos do governo” (Veja, 1993, edição 1318, p. 114). Em janeiro de 1994, as expectativas eram em relação à taxa de inflação do ano e as negociações entre o Ministro da Fazenda com o Congresso Nacional para a aprovação das medidas propostas. Segundo a reportagem “A inflação é de 5.550% ao ano” da edição 1322, relata um possível aumento de 40% ao mês dos preços, caso não sejam acertadas as negociações em pauta. Segundo a notícia, alguns preços de alimentos sofreram aumentos em dezembro de 1993, como por exemplo, ovos de 56%; frango de 52%; açúcar de 51%; óleo de soja de 48%. Estes aumentos seriam decorrentes de manobras oportunistas por parte dos empresários, aproveitando a ocasião de negociações do pacote econômico (Veja 1994, edição 1322, p. 62). Em fevereiro de 1994, é noticiada a vitória de Fernando Henrique Cardoso junto ao Congresso Nacional na aprovação da criação do Fundo Social de Emergência que teve como objetivo a liberdade do governo em destinar 18% do Orçamento da União (Veja 1994, edição 1327, p.18). Seguida da aprovação do Fundo Social de Emergência, a URV é lançada como novo instrumento no combate à inflação no país. A reportagem da edição 1329 intitulada como “A vida em URV” noticia o novo indexador da economia e traz os preparativos para troca por uma nova moeda no Brasil. Segundo a edição, a Unidade Real de Valor (URV) era um indexador com o qual o governo pretendia abolir os demais índices de inflação de base para fixação dos preços. Segundo a reportagem, Fernando Henrique Cardoso “procurou promover um ajuste fiscal de emergência e agora, a partir da implantação da URV, tentará trocar o cruzeiro real desmoralizado por uma nova moeda lastreada em dólar” (Veja 1994, edição 1329, p.80). Na edição 1329 a notícia traz os pontos principais da URV: (1) A URV é uma unidade que se convertia em cruzeiros reais, reajustado todos os dias pelo governo. A URV não era 33 moeda, mas um índice oficial de inflação que seria calculado diariamente pelo Banco Central e deveria acompanhar as oscilações do dólar. Este índice estipulou os salários, as tarifas públicas e uma série de outros pagamentos. Os preços eram definidos em URVs, mas paga-se o equivalente em cruzeiros reais. (2) Os salários seriam convertidos para URV pela média dos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. O cálculo do indexador seria uma média entre as taxas de inflação da Fundação Getúlio Vargas, da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (FIPE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a reportagem, para se chegar ao valor do novo salário, bastava dividir cada ordenado de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro pela URV correspondente ao dia de cada pagamento. Somando os resultados e dividindo por quatro, obteria o valor do salário em URV. (Veja 1994, edição 1329, p.81-82). Segundo a notícia, “seu objetivo é fazer com que os preços e salários comecem a andar juntos, a caótica economia brasileira. É na terceira etapa do plano, com a mudança da moeda, que a inflação poderá cair” (Veja 1994, edição 1329, p.83). Antes da implantação da nova moeda no país, a edição 1346 traz a reportagem “A hora da estreia” que explica o que fazer e o que evitar para não perder dinheiro nos últimos dias do cruzeiro real. Em relação ao dinheiro em posse da população, aconselhava-se manter a moeda em um fundo devido à desvalorização de 1,9% ao dia do cruzeiro real. O cruzeiro real depositado em conta seria trocado pela nova moeda no dia 1º de julho de 1994 automaticamente pelos bancos, não criando a necessidade do pedido de conversão. Os cheques emitidos em cruzeiros reais poderiam ser descontados até dia 29 de julho no caso de serem da mesma cidade e no caso contrário, até o mês de agosto. Já em relação ao crediário, a recomendação foi evitar devido às altas taxas de juros praticados no comércio em decorrência da falta de informação das novas taxas de juros que seriam exercidos pelo mercado financeiro com a entrada da nova moeda. (Veja 1994, edição 1346, p.36-37). Após a estreia do Real como nova moeda do país, a edição 1350 traz a reportagem “A inflação é zero”, que apresenta os primeiros resultados da moeda na economia brasileira. Segundo a reportagem, com a queda brutal dos preços, as pessoas retomaram os velhos hábitos de consumo, como as compras a prazo. Com o novo Ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, ao final do mês de julho de 1994, a economia brasileira apresentou três pontos positivos: o primeiro ponto positivo foi em relação à inflação, que cedeu e aproximou-se de zero em alguns índices, como a FIPE registrando 0,01% em 21/7/1994. O segundo ponto foi a reação do comércio, que presenciou uma queda de 30% nas vendas antes da instauração da 34 nova moeda e que, ao fim do mês de julho, já apresentava melhoras devido às expectativas positivas em relação ao Real. O terceiro ponto positivo foi as expectativas dos consumidores em relação à nova moeda que, segundo a pesquisa realizada pela Confederação do Comércio de São Paulo ao final do mês de julho de 1994, dizia que a população estava otimista com o Real, diferentemente do resultado apurado no mês anterior, quando a insatisfação era predominante sobre o quadro econômico. (Veja, 1994, edição 1350, p.88). A edição 1366 traz a comparação do quadro econômico do Brasil em outubro de 1992 em relação a outubro de 1994. O PIB teve registro de 434 US$ bilhões, passando para uma projeção de US$ 467 bilhões. A inflação mensal era de 26,07% passando para 2,82%; as reservas de divisas eram de US$ 24 bilhões passando para US$ 43 bilhões; o salário mínimo era de US$ 86,71 para US$ 82,74. Houve melhoras no índice de desemprego segundo o registro do IBGE, passando de 5,77% em outubro de 1992 para 5,05% em setembro de 1994. (Veja, 1994, edição 1366, p.44). 2.3. SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE O PLANO CRUZADO E O PLANO REAL. Com a reportagem “O Oposto do Cruzado” da edição 1363 são expostas as semelhanças e diferenças entre o Plano Real e o Plano Cruzado. A principal semelhança verificada logo após a entrada do Real como moeda no país foi o aquecimento do consumo, fator que remeteu a uns dos problemas encontrados no Plano Cruzado. Segundo a reportagem, “Houve aquecimento do consumo, falta de um ou outro artigo no comércio, ágio no carro popular e certo nervosismo no Ministério da Fazenda, agora sob comando de um homem impulsivo, o ministro Ciro Gomes” (Veja, 1994, edição 1363, p.98). O ágio é outro fator que remete ao Plano Cruzado, que foi identificado em vários setores da economia na era de Sarney devido ao aumento da demanda mas, no Plano Real, foi verificado a priori no mercado automobilístico. A reportagem expõem as diferenças entre os dois planos econômicos, Real e Cruzado. A primeira diferença é em relação ao congelamento que, segundo a reportagem, o Plano Real não contou com este mecanismo de frear a inflação. A segunda diferença é em relação ao abono salarial de 8% oferecido aos trabalhadores no Plano Cruzado, que ajudou a 35 promover o aquecimento da economia ocasionando ágio em diversas mercadorias, fato que não ocorreu no Plano Real. A terceira diferença é a poupança, que na era do Cruzado houve grande volume de saques destinados para consumo, mas que no Plano Real não foi identificado este problema devido às medidas adotadas para a poupança. A quarta diferença é em relação às reservas internacionais que aumentaram de um plano para o outro, o Cruzado registrou uma conta de 7 bilhões de dólares em 1986 e o Real contava um saldo de 42 bilhões de dólares em 1994. A quinta diferença é em relação ao comércio exterior. No Plano Cruzado a economia brasileira era considerada uma das mais fechadas do mundo, mas depois da mudança do condicionamento das relações internacionais, o Plano Real já contava com uma economia mais aberta. Segundo a reportagem “Por esses e vários outros fatores, o Real é bem diferente do Cruzado” (Veja, 1994, edição 1363, p.99). CONSIDERAÇÕES FINAIS. Diante das discussões em relação aos conteúdos publicados em revistas e jornais sobre o contexto brasileiro que chegavam até a população através de reportagens, o presente estudo procurou com base teórica reconstruir os conteúdos divulgados na “Revista Veja” no período dos planos econômicos, Cruzado e Real, e concluímos que as reportagens veiculadas sobre a política e a economia do país estavam de acordo com as discussões acadêmicas. A importância de conhecer os conteúdos divulgados sobre a economia e política da época é necessária para mostrar como as condutas das politicas econômicas exercidas pelo governo que influenciavam o cotidiano da sociedade em geral. Por ser uma revista de grande viabilidade e abrangência no país, as notícias precisavam ser reportadas com veracidade aos diversos públicos, tanto do meio acadêmico, político, empresarial e para as famílias, para mostrar a situação e as consequências das políticas adotadas pelos governos. As notícias continham informações que alcançavam milhares de pessoas e que, assim, influenciavam suas opiniões e condutas sobre o andamento do país. O período de inflação no Brasil assombrou toda uma população, trazendo o medo e o anseio para todas as classes sociais sobre o futuro do país. A inflação caracterizou a grande dificuldade em conter uma economia e assim, um país. Foi necessário desenvolver pesquisas e criar debates no meio acadêmico para buscar soluções para a estabilidade econômica, e para isso, foi necessário instituir mecanismos dentro dos planos econômicos os quais influenciavam diretamente na vida dos brasileiros. O conhecimento de tais medidas por parte 36 da população era fundamental, papel esse desempenhado pela “Revista Veja”, divulgando as notícias com conteúdos de discussões do meio político e acadêmico. O Plano Cruzado foi instituído sob uma nova forma de governo e com debates no meio acadêmico e político para criação dos mecanismos para superar a inflação no país. Já com o Plano Real instituído, as notícias veiculadas na “Revista Veja” divulgavam o contexto que o país estava inserido em relação à nova fase da economia brasileira, trazendo nas reportagens conteúdos sobre as medidas e etapas da concretização do Plano Real para a contenção da inflação. 37 BIBLIOGRAFIA ABREU, Marcelo de Paiva (Orgs.). A ordem do Progresso: Cem anos de Política Econômica Republicana 1889- 1989. Rio de Janeiro: Elsevier, 1990. BACHA, Edmar. “Plano Real: uma avaliação preliminar”. In: Revista do BNDES, 3, jun./1995, PP.3-26. BAER, Werner. A Economia brasileira: Uma Abordagem Profunda da Economia Brasileira até 2008, 3. ed. Tradução de Edite Sciulli. São Paulo, Nobel, 2009. BELLUZZO, Luiz Gonzaga; ALMEIDA, Júlio Gomes de. Depois da Queda: A economia brasileira da crise da dívida aos impasses do Real. 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