ACOMPANHAMENTO DIETOTERÁPICO DURANTE A INTERNAÇÃO EM PACIENTES HOSPITALIZADOS Monitoring nutritional therapy during hospitalization Vânia Aparecida Leandro Merhi1, Adriana Ticianelli Azank2, Bruna Corrêa2, Kelly Pagotto Fogaça3, Maria Rita Marques de Oliveira4 RESUMO O objetivo deste estudo foi analisar o acompanhamento dietoterápico e a aceitação da dieta hospitalar. Estudo prospectivo com 926 pacientes adultos e idosos hospitalizados, sendo analisados os seguintes dados: doença, sexo, idade, tempo de internação, estado nutricional, aceitação, modificação e ingestão da dieta, durante o período de internação. Foi aplicado o teste qui-quadrado para verificar se houve diferença na distribuição percentual das variáveis, na população agrupada conforme o diagnóstico (p<0,05). A distribuição percentual do estado nutricional e da aceitação alimentar nos grupos conforme o diagnóstico foi diferente (p<0,05). 74% apresentaram boa aceitação da dieta hospitalar e em 82% dos pacientes, não foi necessário realizar adequações na prescrição dietética; já quanto à ingestão energética, foi verificado que 71,3% apresentavam consumo inferior às suas necessidades, mostrando que apesar da maioria dos pacientes apresentarem boa aceitação da dieta, houve uma ingestão energética abaixo de suas necessidades energéticas. Os dados permitiram concluir a importância do processo de atenção nutricional durante a hospitalização, com vistas na alimentação em si, e não só na identificação do estado nutricional, o que pode contribuir para um indicador de qualidade para o Serviço de Nutrição e Dietética Hospitalar. PALAVRAS-CHAVE Dieta hospitalar, ingestão alimentar, tempo de internação, estado nutricional, pacientes hospitalizados ABSTRACT The objective of this study was to analyze nutritional therapy monitoring and acceptance of hospital diet. A prospective study with 926 adult and elderly hospitalized patients, analyzing the following data: disease, gender, age, hospitalization duration, nutritional status, acceptance and dietary modification and ingestion during hospitalization. The chi-square test was used to determine if the distribution of the percentages of the variables differed in the population grouped according to diagnosis (p<0.05). 1 Doutora em Ciências Médicas. Professora do Curso de Nutrição, Puc-Campinas-SP. End.: Av. Carlos Grimaldi, 1171, Quadra D, Lote 13 - Bairro: Jardim Madalena - Residencial Vila Verde. Campinas - SP CEP: 13091-906 - E-mail: [email protected] 2 Nutricionista da Unimep-Piracicaba-SP. 3 Doutora em Alimentos e Nutrição. Professora da Universidade Metodista de Piracicaba-SP. 4 Doutora em Ciências dos Alimentos. Professora da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Drª do Instituto de Biociências, Unesp-Botucatu - SP. C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 803 - 814, 2008 – 803 VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI, ADRIANA TICIANELLI AZANK, BRUNA CORRÊA, KELLY PAGOTTO FOGAÇA, MARIA RITA MARQUES DE OLIVEIRA The percentage distribution of the nutritional status and diet acceptance in the groups according to diagnosis differed (P<0.05): 74% presented good acceptance of the hospital diet and 82% of the patients did not require dietary adjustments or modifications in the diet prescribed at admission. Meanwhile, energy intake was below the daily requirement in 71.3% of the patients, showing that even though most of the patients accepted the diet well, they ate less than they should. The data allowed us to realize the importance of the process of nutritional care during hospitalization, focusing not only on the nutritional status but also on food consumption; the latter may contribute as a quality indicator of the Hospital Nutrition and Dietary Service. KEY WORDS Hospital diet, food consumption, hospitalization duration, nutritional status, hospitalized patients 1. INTRODUÇÃO Pacientes hospitalizados podem estar expostos aos processos consumptivos da doença, e serem afetados por complicações relacionadas à alimentação, mesmo quando não apresentam desnutrição (Méier & Stratton, 2008). Apesar desta constatação, freqüentemente, a desnutrição não é diagnosticada e o risco de uma deterioração nutricional futura raramente é reconhecido. Pacientes idosos hospitalizados são freqüentemente submetidos à ingestão de nutrientes inferior ao necessário à sua recuperação e, até mesmo quando seus problemas nutricionais são reconhecidos, a terapia nutricional adequada é raramente providenciada (Stratton et al., 2006; Reyes et al., 2007). A ingestão alimentar inadequada durante a hospitalização, pode piorar a prevalência e o grau de desnutrição e está associada ao aumento da taxa de morbidade, mortalidade e do período de internação. Estudos têm demonstrado que 36 a 78% dos pacientes internados são desnutridos (Méier & Stratton, 2008; Stratton et al., 2006; Nursal et al., 2005; Pirlich et al., 2005; Fuchs et al., 2008; Porbén, 2006; Azevedo et al., 2006). Além disso, muitos pacientes não ingerem boa parte da dieta que lhes é oferecida devido ao preconceito em relação à alimentação hospitalar, vista como de baixa qualidade (Pedrolli & Cereda, 2008). Deste modo, em adição à identificação de pacientes em risco nutricional, deve-se estar atento para que a ingestão alimentar assegure ao paciente a quantidade e os tipos de alimentos adequados às suas expectativas e necessidades. A adaptação do cardápio hospitalar, o ambiente da refeição e as emoções envolvidas na satisfação do paciente podem melhorar a aceitação alimentar e com isso, suprir as necessidades do indivíduo (Dupertuis et al., 2003; Naithani et al., 2007). Portanto, avaliar o consumo alimentar durante a hospitalização poderia possibilitar uma intervenção adequada influenciando o estado clínico do paciente (Donini et al., 2008; Tavares et al., 2007; Vivanti et al., 2008). 804 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 803 - 814, 2008 ACOMPANHAMENTO DIETOTERÁPICO DURANTE A INTERNAÇÃO EM PACIENTES HOSPITALIZADOS O estudo de Sousa et al. (2006) apontou que na política hospitalar francesa, o paciente tem sido o centro das preocupações para os setores ligados à alimentação e nutrição. A implantação de métodos de qualidade, incluindo aspectos nutricionais, higiênicos, sensoriais e simbólicos; a personalização das refeições do paciente, por meio de sistemas informatizados; a utilização de métodos para identificação prévia de pacientes com risco para desnutrição e a criação de equipes multidisciplinares para coordenar os problemas de alimentação hospitalar, são exemplos de ações visando o restabelecimento do convívio e da revalorização da alimentação no ambiente intra-hospitalar (Sousa et al., 2006). Dentro deste contexto da importância da alimentação hospitalar, a identificação de pacientes de risco e de desnutridos é fundamental, bem como o atendimento e o monitoramento que se faz necessário para recuperar e/ou prevenir a perda de peso e as complicações que esta acarreta (Pedrolli & Cereda, 2008). Considerando que o acompanhamento da ingestão alimentar hospitalar, pode contribuir para a melhora do quadro clínico e nutricional em pacientes hospitalizados, o objetivo do presente estudo foi analisar o acompanhamento dietoterápico nesta clientela, durante o período de internação. 2. CASUÍSTICA E MÉTODO Foi realizado um estudo prospectivo durante os meses de fevereiro a julho de 2007 em um hospital privado de característica geral, que atende clientela de convênios e particulares, na grande região de Campinas–SP. Foram estudados 926 pacientes adultos e idosos hospitalizados, sendo 49,5% do sexo feminino e 50,3% do sexo masculino, portadores das seguintes doenças: doenças do trato gastro-intestinal (TGI): 23,5%; doenças cardíacas e vasculares (DCV): 20,7%; neoplasias (NEO): 14,8%; traumas (TR): 9,7%; doenças inflamatórias (DI): 6,5%; pneumopatias (PN): 5%; doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (DENM): 4,8% e outras (OU): 15%. Os critérios de inclusão dos pacientes recrutados para este estudo foram: pacientes de ambos os sexos, com idade entre 20 e 70 anos, aqueles recebendo exclusivamente dieta via oral durante a internação e possibilitados de prestarem informações. Foram excluídos aqueles pacientes que estavam recebendo terapia nutricional enteral ou parenteral, que estavam em jejum e os incapacitados de responder adequadamente as informações solicitadas. Após todos os pacientes concordarem em participar do estudo, foi aplicada uma ficha de atendimento nutricional para a coleta dos dados que contemplava a doença, sexo, idade, tempo de internação (TI), estado nutricional, aceitação, modificação e ingestão da dieta durante o período de hospitalização. O estado nutricional foi classificado pelo Índice de Massa Corpórea (IMC), seguindo critérios da World Health Organization (WHO, 1997), para adultos, que define os seguintes pontos de corte: desnutrido, IMC<18,5; eutrófico, IMC C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 803 - 814, 2008 – 805 VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI, ADRIANA TICIANELLI AZANK, BRUNA CORRÊA, KELLY PAGOTTO FOGAÇA, MARIA RITA MARQUES DE OLIVEIRA de 18,5 a 24,9; pré-obesos, IMC de 25 a 29,9; obeso, IMC> 30. E, para os idosos, o estado nutricional foi classificado pelos valores propostos por Lipschitz (1994). A aceitação da dieta hospitalar foi avaliada por meio da observação da distribuição das refeições e visitas diárias aos pacientes, sendo considerado boa aceitação, quando o paciente ingeriu 75% ou mais da refeição oferecida, regular aceitação, quando ingeriu de 25 a 50% e péssima aceitação, quando a ingestão alimentar foi inferior a 25%. A modificação da dieta foi definida como alterações de consistência, textura, aumento e/ou diminuição do aporte calórico, do fracionamento e volume da refeição e a restrição de algum nutriente específico. Em função da evolução clínica e nutricional do paciente durante o período de hospitalização, era avaliada a necessidade de se realizar adequações na dieta hospitalar, a qual foi categorizada em sim ou não. A ingestão da dieta durante a internação foi avaliada como adequada e inadequada, sendo considerada como inadequada quando o paciente apresentava um consumo energético diário inferior a 80% de sua necessidade energética. E, como adequada, quando seu consumo calórico total diário estava próximo (superior a 80%) de sua necessidade energética. Os critérios adotados para a análise da aceitação, modificação e ingestão da dieta, foram arbitrariamente adotados pelos autores. Os resultados foram processados pelo programa excel, sendo aplicado o teste qui-quadrado para verificar se houve diferença na distribuição percentual das variáveis, na população agrupada conforme o diagnóstico (p<0,05). 3. RESULTADOS A idade média da população estudada foi de 53,5±18,4 anos, e entre os pacientes portadores de PN e aqueles com DCV estão os mais idosos, seguidos por aqueles com DENM e TGI. A Figura 1 mostra a média do TI em relação às doenças na população atendida, onde se observa que aqueles com maior TI foram os pacientes com PN (7,1 dias), classificados na maioria (52,2%) como eutróficos, seguidos por 39,1% de obesos. O segundo grupo com maior TI foi o de portadores de DCV (6,7 dias), os quais se apresentaram eutróficos em sua maioria (44,3%), com pequena prevalência de desnutrição (3%). O grupo de pacientes com TR apresentou o menor TI (4,7 dias), sendo estes eutróficos em sua maioria (56,6%) assim como o grupo de pacientes com doenças do TGI (4,7 dias), também classificados em sua maioria como eutróficos. O tempo médio de internação na população total foi de 5,9±8,1 dias (Figura 1). Chama atenção no presente estudo, o fato de ter sido constatado que a maioria dos pacientes avaliados foram classificados como eutróficos e obesos, independentes da doença 806 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 803 - 814, 2008 ACOMPANHAMENTO DIETOTERÁPICO DURANTE A INTERNAÇÃO EM PACIENTES HOSPITALIZADOS diagnosticada. A distribuição percentual do estado nutricional nos grupos conforme o diagnóstico foi diferente (P<0,05) (Figura 2). Figura 1 Distribuição da média do tempo de internação na população estudada. (DCV-doenças cardíacas e vasculares, DENM- doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, DI-doenças inflamatórias, NEO-neoplasias, PN-pneumopatias, TGI-doenças do trato gastro-intestinal, TR-traumas, OU-outras). Figura 2 Distribuição do estado nutricional em relação às doenças, na população estudada, analisadas pelo teste qui-quadrado, onde: P<0,05 entre DCV e DENM, DI, NEO; P<0,05 entre TGI e DENM, DI; P<0,05 entre NEO e PN, TR. (DCV-doenças cardíacas e vasculares, DENM- doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, DI-doenças inflamatórias, NEO-neoplasias, PN-pneumopatias, TGI-doenças do trato gastro-intestinal, TR-traumas, OU-outras). C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 803 - 814, 2008 – 807 VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI, ADRIANA TICIANELLI AZANK, BRUNA CORRÊA, KELLY PAGOTTO FOGAÇA, MARIA RITA MARQUES DE OLIVEIRA Com relação à aceitação da dieta hospitalar (Figura 3), os resultados demonstraram boa aceitação pela maioria dos pacientes durante a hospitalização, representando uma média de 74% de boa aceitação, o que poderia sugerir um bom índice de monitoramento nutricional, na tentativa de prevenir uma deterioração do estado nutricional futura. Entre aqueles que apresentaram uma aceitação ruim da dieta hospitalar durante o período de hospitalização, estavam os pacientes com NEO (5,1%) e PN (4,3%), os demais apresentaram índices de rejeição muito baixos. A Figura 4 mostra se houveram modificações da dieta hospitalar na população estudada, onde foi possível verificar que em 82% dos pacientes não foi necessário realizar adequações na dieta prescrita durante a internação. Tal fato vai de encontro aos dados ilustrados na Figura 3, onde foi possível constatar que 74% desta população estava aceitando bem a dieta oferecida, ou seja, se aceitavam bem a dieta, não havia necessidade de modificá-la. Não houve necessidade de se adequar a dieta na quase totalidade dos pacientes com PN (96%) e, a maior porcentagem (26%) de pacientes em que houve necessidade de se realizar alguma modificação, foi entre aqueles com NEO. Figura 3 Distribuição da aceitação da dieta em relação às doenças, na população estudada, analisadas pelo teste qui-quadrado, onde: P<0,05 entre DCV e DI, NEO e TGI; P<0,05 entre NEO e PN, TGI; P<0,05 entre PN e TGI, DI. (DCV-doenças cardíacas e vasculares, DENM- doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, DI-doenças inflamatórias, NEO-neoplasias, PN-pneumopatias, TGI-doenças do trato gastro-intestinal, TR-traumas, OU-outras). 808 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 803 - 814, 2008 ACOMPANHAMENTO DIETOTERÁPICO DURANTE A INTERNAÇÃO EM PACIENTES HOSPITALIZADOS Figura 4 Distribuição da modificação da dieta em relação às doenças, na população estudada, analisadas pelo teste qui-quadrado, onde: P<0,05 entre DI e DENM, NEO, PN; P<0,05 entre PN e TGI, TR, OU; P<0,05 entre NEO e OU. (DCV-doenças cardíacas e vasculares, DENM- doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, DI-doenças inflamatórias, NEO-neoplasias, PNpneumopatias, TGI-doenças do trato gastro-intestinal, TR-traumas, OU-outras). Quando analisado se a ingestão da dieta estava adequada ou inadequada, em termos de consumo energético (relação entre o consumo energético diário e a necessidade energética) (Figura 5), observou-se que em apenas 20% da população, a ingestão energética estava adequada, sendo que 71,3% dos pacientes apresentavam uma ingestão energética abaixo de suas necessidades, o que poderia apontar que as dietas padronizadas pelo Serviço de Nutrição e Dietética deste hospital apresentam teores energéticos insuficientes, uma vez que foi verificado na Figura 3, que a maioria dos pacientes apresentaram boa aceitação da dieta, no entanto, permaneceram com um consumo energético inferior às sua necessidades energéticas. Figura 5 Distribuição da ingestão da dieta em relação às doenças, na população estudada, analisadas pelo teste qui-quadrado, onde: P<0,05 entre DI e PN, TGI, OU, DCV, DENM; P<0,05 entre DCV e NEO; P<0,05 entre PN e DENM, NEO, TGI. (DCV-doenças cardíacas e vasculares, DENM- doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, DI-doenças inflamatórias, NEO-neoplasias, PN-pneumopatias, TGI-doenças do trato gastro-intestinal, TR-traumas, OU-outras). C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 803 - 814, 2008 – 809 VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI, ADRIANA TICIANELLI AZANK, BRUNA CORRÊA, KELLY PAGOTTO FOGAÇA, MARIA RITA MARQUES DE OLIVEIRA 4. DISCUSSÃO A desnutrição em pacientes hospitalizados é causada por um conjunto de fatores, entre eles, a doença e a dieta insuficiente e/ou inadequada (Meier & Stratton, 2008). Se a dieta insuficiente é um fator importante, o tratamento não deveria estar focado apenas na doença, mas também, na intervenção nutricional durante o período de internação. Conhecer o estado nutricional de pacientes hospitalizados e domiciliares, e o tipo de tratamento nutricional instituído a esta população, têm sido ferramentas importantes para o conhecimento e o tratamento clínico (Nursal et al., 2005; Pirlich et al., 2005; Liang et al., 2008; Wanden-Berghe et al., 2006). O estado nutricional desta população ao internar-se era de 49,6% de eutróficos, 6,5% de desnutridos, 37,4% de obesos e 4,3% de pré-obesos. Portanto, 91,3% não estavam desnutridos. As mudanças epidemiológicas observadas no estado nutricional da população se refletem no perfil dos pacientes internados (Liang et al., 2008). Em estudo realizado por Waitzberg et al. (2001) (IBRANUTRI), nos hospitais brasileiros, foi encontrado índice de 31,8% de desnutridos, Garcia et al. (2004), encontraram 23,1% e Azevedo et al., (2006), encontraram 24,3%; em nossa população esse índice caiu para 6,5%, mostrando que se por um lado isso é um bom indicador, por outro, a população de obesos e sobrepesos vem aumentando. O excesso de peso acarreta várias complicações como o aumento de doenças crônico-degenerativas, dislipidemias, diabetes mellittus e outras causadas pelo excesso de gordura como as neoplasias e as doenças de vias biliares. Com relação à aceitação da dieta hospitalar, sabe-se que a mesma é influenciada por muitos fatores, entre eles o processo patológico e o ambiente hospitalar (Dupertuis et al., 2003). Nesta população, 74% apresentaram boa aceitação da alimentação oferecida durante o período de internação, isso pode ser reflexo da política da instituição, onde o horário das refeições foi adequado e desvinculado do período de cuidados de rotina da enfermagem. Quando relacionado à doença, vimos que os pacientes com NEO e PN, foram aqueles que apresentaram maiores índices de rejeição das refeições oferecidas, mas ainda valores muito baixos (5,1% e 4,3 %, respectivamente), este fato pode estar relacionado a alguma restrição dietética. Em geral, um bom índice de aceitação da dieta hospitalar tem sido observado durante a internação (Guillén et al., 2004; Yabuta et al., 2006), e quando necessário, têm sido estabelecidos ajustes na dieta com o objetivo de se promover uma melhoria da aceitação alimentar (Moreno et al., 2006; Molero et al., 2008). Os dados analisados no presente trabalho com uma população de 926 pacientes, permitiram conhecer esta clientela no que se refere à alimentação oferecida rotineiramente, como parte da terapêutica instituída, analisando-se a aceitação da dieta pelos pacientes, a necessidade ou não de modificações na dieta 810 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 803 - 814, 2008 ACOMPANHAMENTO DIETOTERÁPICO DURANTE A INTERNAÇÃO EM PACIENTES HOSPITALIZADOS prescrita e a mensuração da ingestão energética. Em estudo realizado no Reino Unido e França, foi avaliada a opinião dos pacientes com relação à dieta hospitalar. De maneira geral, menos de 10% dos pacientes acharam que a comida hospitalar não era aceitável. Quando se questionou os motivos pelos quais os pacientes não comeram tudo, a principal razão foi o sabor e a impossibilidade de escolha dos alimentos (Dupertuis et al., 2003). Donini et al. (2008), avaliaram durante um período de 5 anos o curso da qualidade dos serviços de alimentação hospitalar na Itália por meio de 591 entrevistas, e verificaram que o desperdício de comida diminuiu na medida em que aumentaram a temperatura das refeições servidas e, desta forma, os pareceres positivos em relação à avaliação da dieta variaram de 18% em 2002 para 48,3% em 2006, atribuindo-se a satisfação do paciente à melhora da qualidade do serviço de refeição hospitalar oferecido. O fato de encontrarmos neste trabalho que em 82% da população, não foi necessário realizar alguma modificação na dieta, poderia sugerir também certa satisfação dos pacientes com a qualidade da alimentação servida; já quanto à ingestão da dieta que representa o teor energético consumido, há uma certa preocupação em se promover ações dietéticas efetivas capazes de proporcionar um aumento do consumo energético, talvez com a utilização de suplementos alimentares de alta densidade energética, a fim de prevenir processos futuros de deterioração do estado nutricional durante a internação. No presente estudo o processo de cuidado nutricional foi realizado em 100% da população atendida e não só naqueles pacientes em risco nutricional, onde o estado nutricional é fator de influência para a melhora do prognóstico clinico. Em estudo realizado por Liang et al. (2008), comparando pacientes internados em Pequim e Baltimore, demonstrou-se que 39% e 51% dos pacientes respectivamente foram considerados de risco e desses, 17,9% e 14,7% dos desnutridos, respectivamente, receberam cuidado nutricional. Como vimos, a atual provisão de cuidados nutricionais para os pacientes internados pode explicar o aumento das taxas de desnutrição hospitalar documentadas na literatura (Porbén, 2006). A não realização do atendimento nutricional de rotina pode ser conseqüência de vários fatores, um deles e talvez o mais importante é a falta de profissionais suficientes para atender e acompanhar diariamente todos os pacientes, e a conscientização dos profissionais da saúde (médicos e enfermeiros), sobre a importância do estado nutricional na recuperação do paciente (Fuchs et al., 2008). Dados da literatura sugerem que as principais dificuldades desses profissionais são a falta de embasamento teórico adequado frente à análise de problemas alimentares, falta de critérios para identificá-los, falta de parâmetros para discernir problemas alimentares de problemas econômicos, desconhecimento de técnicas para abordar problemas alimentares, necessidade de trabalhar com dietas C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 803 - 814, 2008 – 811 VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI, ADRIANA TICIANELLI AZANK, BRUNA CORRÊA, KELLY PAGOTTO FOGAÇA, MARIA RITA MARQUES DE OLIVEIRA padronizadas, conflitos entre conhecimentos teóricos e a prática vivencial e desconhecimento do papel do nutricionista (Boog, 1999; Nonino-Borges et al., 2006). Além disso, pode ocorrer também a falta de envolvimento de alguns setores de serviços e/ou profissionais, que geralmente não vêem o serviço de alimentação e nutrição como um setor terapêutico. 5. CONCLUSÃO Os dados encontrados no presente trabalho permitiram concluir que a dieta não cobre a necessidade de energia da maioria dos pacientes hospitalizados. Uma vez que a ingestão insuficiente é muitas vezes atribuída a outras causas que não a doença, deveria haver possibilidade de se utilizar o processo de atenção nutricional como uma importante ferramenta de indicação de qualidade do Serviço de Nutrição e Dietética Hospitalar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, L. C.; MEDINA, F.; SILVA, A. A.; CAMPANELLA, E. L. S. Prevalência de desnutrição em um hospital geral de grande porte de Santa Catarina/Brasil. Arquivos Catarinenses de Medicina. v. 35, n. 4, p. 89 - 96, 2006. BOOG, M. C. F. Dificuldades encontradas por médicos e enfermeiros na abordagem de problemas alimentares. Revista de Nutrição. v. 12, n. 3, p. 261 - 272, 1999. DONINI, L. M.; CASTELLANETA, E.; DE GUGLIELMI, S.; DE FELICE, M. R.; SAVINA, C.; COLETTI, C.; PAOLINI, M.; CANNELLA, C. 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