o neofundamentalismo na igreja mundial do poder de deus

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Anais do V Congresso da ANPTECRE
“Religião, Direitos Humanos e Laicidade”
ISSN:2175-9685
Licenciado sob uma Licença
Creative Commons
O NEOFUNDAMENTALISMO NA IGREJA MUNDIAL DO PODER DE
DEUS: A "DEMONIZAÇÃO" DO OUTRO
Saulo Inácio da Silva
Mestrando em Ciências da Religião
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas)
[email protected]
CAPES
ST 05 – PROTESTANTISMO E PENTECOSTALISMO
Resumo: Essa comunicação refere-se a uma pesquisa em andamento sobre o neofundamentalismo na Igreja
Mundial do Poder de Deus e suas conseqüências como a negação do "outro". A fim de compreendermos o termo
neofundamentalismo,temos que nos focar na participação política dos protestantes fundamentalistas estadunidenses
na década de 1970. O neofundamentalismo é uma reformulação do fundamentalismo protestante norteamericano
surgido no fim do século XIX e início do século XX; tais atores religiosos neofundamentalistas tinham o intuito de
questionar as mudanças sociais em solo estadunidense como: a liberdade sexual, os direitos sociais aos
homossexuais e as ameaças de implantação de projetos políticos que não proibiam o aborto e entre outras
questões. Desta forma somente a moral cristã rígida seria o antídoto. O neofundamentalismo foi marcado por “igrejas
eletrônicas” sustentadas por pastores televangelistas de direita, que ligados à mídia acreditavam ter em suas mãos a
solução para os problemas sociais. Esse novo movimento influenciou no Brasil o neopentecostalismo no final da
década de 1970 - preferimos aqui utilizar a terminologia "pós-pentecostalismo" do historiador das religiões Dr. Paulo
Donizéti Siepierski por ser acreditar que a nomenclatura, referente a terceira onda do pentecostalismo brasileiro,
explique claramente a incursão de atores pentecostais no cenário político brasileiro. Paulo Siepierski acredita que a
terceira onda pentecostal difere das demais, por crer na construção de uma nova cristandade através das ações dos
atores religiosos pertencentes as igrejas pós-pentecostais. Desta forma as novas denominações pentecostais que
surgiram no fim da década de 1970 e meados dos anos 80 pregavam uma proximidade do mundo e da política. A
principal representante do pós-pentecostalismo foi a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e, depois, algumas
dissidências do tronco principal, como a Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD) criada em 1998 pelo Apóstolo
Valdemiro Santiago. No Brasil, o neofundamentalismo ganhou corpo com a criação da Assembléia Constituinte em
1986, quando se deu a introdução de atores pentecostais na política. Para essa comunicação, inicialmente,
investigou-se a expressão fundamentalismo e, em seguida, neofundamentalismo; desta forma, foi feito o
levantamento histórico do tema por meio de pesquisa bibliográfica. Utilizou-se a sociologia compreensiva weberiana
no intuito de compreender os discursos do líder-fundador da IMPD,que corroboram para as ações de negação do
"outro". Investigou-se o neofundamentalismo na Igreja Mundial do Poder de Deus e suas implicações sobre a
sociedade brasileira, o caso da "demonização" de religiosos católicos, espíritas, pentecostais e pós-pentecostais e,
também outros atores religiosos ou não, como homossexuais e candidatos de outros partidos que não possuem
indicação da igreja. Os discursos neofundamentalistas na IMPD são marcados explicitamente pela negação do
outro, em virtude de ser o outro (o não-cristão) considerado um "demônio", causador de inúmeros problemas sociais.
Palavras-chave: Neofundamentalismo; Pós-pentecostalismo; Demonização; Igreja Mundial do Poder de Deus.
Brasil.
Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0518
Introdução
Teremos a intenção de compreender quem seria o "demônio", esse outro ator
social
que difere dos ideais, valores, comportamentos dos membros da IMPD.
Invertendo o título do livro do teólogo e cientista da religião Ivo Pedro Oro, podemos
afirmar com todas as letras que o "outro" seria tal demônio no encontro com o outro", "O
demônio é o outro", "O outro é o demônio: uma análise sociológica do fundamentalismo
(1996). Nesse livro o autor trata do fundamentalismo e diz que o fundamentalista
sempre refere-se ao o "outro" como sendo ele o fundamentalista. Portanto o diferente
(o outro) trata-se de um sujeito com características demoníacas. O diferente desde os
primórdios do movimento fundamentalista sempre foi visto como inimigo. Portanto
analisamos esse duelo de bem e mal (teologia da Batalha espiritual) que segundo
Ricardo Mariano (1999) as igrejas neopentecostais utilizam na intenção de limpeza
espiritual para os fieis. Portanto dentro da análise acerca do neofundamentalismo,
percebe-se que o outro, é um grande demônio a trazer inúmeros problemas à
sociedade. Deve ser "eliminado", ou seja, deve ser liberto do mal.É importante ponderar
que
não existem discursos que viabilizem atos de violência física por parte dos
membros da instituição religiosa ao "outro". Seria apenas uma limpeza de ordem
espiritual, por meio da força do bem contra o mal. Por assim, acreditam que somente
com uma sociedade "higienizada" de tais males poderão construir o Reino de Deus.
Essas igrejas de 3º onda que chamaremos de pós-pentecostais estariam
utilizando teologicamente a visão escatológica pre-milenarista, mas no comportamento
percebemos uma visão escatólogica pós-milenarista ( ROCHA, 2012). A IMPD é uma
igreja pós-pentecostal, não utilizaremos o termo já corrente
neopentecostalismo
cunhado pelo sociólogo Ricardo Mariano (1999), por acreditarmos que igrejas nascidas
após a década de 1970 teriam migrado para uma visão de fim de mundo pré-milenarista
(afastamento do mundo e da política) para a uma visão pós-milenarista (entrada no
mundo e na política). O Historiador da religião Paulo D. Siepierski acredita que
a
terminologia "neopentecostalismo "cunhada pelo sociólogo Ricardo Mariano (1999)
para explicar a 3º onda pentecostal surgida, não explicaria de forma pragmática esse
novo movimento pentecostal surgido em meados de 1970, pois seria uma ruptura com
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o pentecostalismo clássico ou neoclássico das igrejas pentecostais da 1º onda
(Congregação Cristã no Brasil e Assembléia de Deus ambas fundadas em primórdios
do século XX, como
característica em comum, possuíam a glossolalia) e a
neoclássicas (fundadas na segunda metade do século XX, exemplo: Igreja do
Evangelho Quadrangular e O Brasil para Cristo, principais ponto em comum a cura
física e espiritual).
Se Mariano foi feliz ao classificar a segunda onda de pentecostalismo
neoclássico, o mesmo não acontece em relação à terceira onda, pois ele aceita
de forma não crítica o termo neopentecostal. Mesmo reconhecendo que o termo
tem sido empregado com imprecisão (...) A inadequação do termo fica evidente
quando o próprio Mariano reconhece que, "enquanto as duas primeiras ondas
não apresentam diferenças teológicas significativas entre si, verifica-se
justamente o oposto quando se compara o neopentecostalismo às vertentes
pentecostais que o precederam'. Ora, se o neoclássico é o neo porque não
difere significativamente do clássico, por que neopentecostalismo se ele difere
sobremaneira do pentecostalismo que o precedeu? Ademais, tradicionalmente,
o prefixo neo tem sido relacionado com continuidade e não com ruptura. É por
isso que em outros lugares neopentecostalismo é utilizado para indicar uma
renovação carismática ocorrida no seio das denominações protestantes, pois
ela não diferiu significativamente do pentecostalismo anterior. Essa renovação
carismática também aconteceu na Igreja católica, mas ali, como não havia um
pentecostalismo anterior, foi designado simplesmente renovação carismática.
(SIEPIERSKI, 2003, p.77-78).
Desta forma acreditamos que a Igreja Mundial do Poder de Deus encaixa-se
como pós-pentecostal. Dá qual a primeira igreja a fazer parte teria sido a Igreja
Universal do Reino de Deus, fundada em 1977 (SIEPIERSKI,1997). Igreja da qual
Valdemiro Santiago foi um dos principais bispos e permaneceu por 18 anos, teria saído
depois de sofrer um atentando quando realizava conversões no Continente africano, ele
teria sido socorrido por anjos, em seguida resolveu desligar da IURD e criar sua própria
igreja em 1998 em Sorocaba- SP
(ROMEIRO; ZANINI, 2009). A participação no
cenário político deu-se em 2006 (Bitun, 2007). Desta mesma forma essa entrada no
cenário político seria ideal também para a consolidação de um projeto de
neocristandade pela igreja - projetos de cunho neofundamentalista. Ações com esse
intuito ganharam campo no Brasil com a entrada dos pentecostais na política no final da
década de 1980 (BAPTISTA, 2007).
1. Neofundamentalismo no Brasil
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O neofundamentalismo teria origem nos Estados Unidos na segunda metade do
século XX, atingindo proporção e tamanho no final dos anos 60, segundo Oro (1996),
portanto seria uma reformulação do fundamentalismo protestante (clássico), é uma
tentativa de inserção da religião sobre o cenário político, essa passagem do
fundamentalismo
protestante
para
o
neofundamentalismo
protestante.
Esses
protestantes conservadores questionavam questões como a revolução sexual, direitos
aos homossexuais e minorias e a contracultura. E crises econômicas que segundo eles
estariam ligadas a má administração dos governo norteamericano. O país estaria nas
mãos de inimigos que estariam levando o país a perdição. Somente poderiam sanar
esses problemas com a participação ativa de protestantes no cenário político e
mediante a incorporação de uma moral ultraconservadora. O neofundamentalismo iria
migrar para o Brasil a partir de 1986 com a abertura democrática, pós-ditadura militar é importante frisar que o fundamentalismo teria acoplado ao pentecostalismo por volta
da segunda metade do século XX, depois da criação da Biblia de Scofiel e dos livros
the Fundamentals. Os pentecostias se inseriram na política
diante a Aseembléia
Constituinte de 1986. Porém encontramos caminhos em meados da década de 1950
com Manoel de Mello, líder fundador da igreja pentecostal "O Brasil para Cristo" que
elegeu representantes da igreja na política. Contudo a ditadura militar acabou com seus
sonhos. Podemos perceber pequenos traços do neofundamentalismo.
Por fim o
ingresso na política, que dura até hoje, se dá com as eleições diretas em 1989, quando
deu-se a entrada de atores religiosos na política como os membros-representantes da
Igreja Universal do Reino de Deus e da Assembléia de Deus (BAPTISTA,2007).
É importante compreendermos que os políticos brasileiros neofundamentalistas
de hoje só passaram a fazerem parte de uma frente parlamentar evangélica - FPE, a
partir de 2003. Ela se apresenta como associação civil de natureza não-governamental,
fomentada no Congresso nacional, constituída por deputados federais e senadores. A
FPE promove reuniões, cultos regulares e a conferência anual "Conferência Nacional
de Parlamentares Evangélicos". Assim alguns parlamentares ainda atuam em outras
frentes parlamentares, como a Frente Parlamentar da Família e Apoio à vida. O partido
com o maior contingente de políticos evangélicos na FPE é o Partido Social Cristão
(PSC), ao qual sua principal bandeira é o compromisso com a família cristã. Por fim os
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temas abordados pela FPE estão pautados na moral religiosa e a defesa da instituição
religiosa sem o interesse de questões coletivas (COSTA, 2013).
Para "o político de Cristo", não importa atuar num partido de oposição e, sim, a
participação em um partido que traga chances reais de ser eleito (BAPTISTA, 2007).
Portanto somente o candidato da igreja poderá duelar com "o outro" que causa males
na sociedade. Somente esse sujeito seria capacitado segundo a igreja para estabelecer
a paz e a prosperidade aos fiéis. Ele tem a função de expulsar os demônios da
sociedade. Saulo Baptista (2007) lembra que muitos parlamentares evangélicos hoje
usam hoje de bandeiras em comum, independente de partido para trabalharem dentro
de um viés que facilite a defesa da família, da moral, fundamentados em sua condição
numérica objetivando o poder e a visibilidade de seus líderes religiosos. Os políticos da
constituinte já erguiam bandeiras em comum como o combate do mal e a defesa dos
costumes tradicionais cristãos.
2.O demônio é o outro?
Analisou-se
que
não
há
uma
relação
de
relatividade
entre
os
neofundamentalistas e os grupos de opiniões diferentes. Não é possível criar na
atualidade um caminho a alteridade. Porém esses grupos neofundamentalistas
defendem seus direitos na política de acordo com leis e estatutos, onde baseiam suas
ideologias. Em contrapartida grupo ligados aos direitos das comunidades LGBTs fazem
o mesmo. Existem muitas brigas entre eles, porem apenas verbal. Contudo de acordo
com as analises, em muitos casos, ambos defende a ferro e fogo seus ideais, chegando
ao ponto de apenas enxergarem a si mesmo. Não existe atos de violência física entre
esses parlamentares, apenas discussões que demonstram o quanto há mais brigas em
Brasília do que reuniões coletivas com políticos de diferentes opiniões, que tenham
enfoque em benefícios ao povo carente.
A respeito da briga entre o bem e o mal, Pablo Semán (1997, p.10) acredita que
ao pentecostalismo latinoamericano um elemento importante é a crença popular nas
forças sobrenaturais. Portanto as espiritualidades das devoções populares e a
religiosidade afroamericana teriam forças diabólicas. Assim os pentecostais crêem que
a religiosidade popular possui um certo grau de negatividade. Mas os grupos populares
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acreditam que os pentecostais ao questionarem (combaterem) as crenças populares,
crenças vista como malignas, acabam criando uma ação de negativização ou mesmo
reforço de tais praticas, pois ao mesmo tempo, esse atores usariam sua pregação a fim
de reforçar as categorias de encantamento do mundo.
Conclusão
Nesse trabalho se procurou encontrar respostas ao "neofundamentalismo"
presente na Igreja Mundial do Poder de Deus, ou seja, de que maneira essa ideologia
que é uma articulação entre religião e política contribui numa "demonização" do outro.
Portanto o sujeito que não compartilha dos mesmos valores cristãos não é aceito de
forma agradável pelos membros da instituição religiosa pesquisada. Pode se apresentar
a origem do fundamentalismo, no Estados Unidos da América na segunda metade do
XIX e começo do
século XIX. E em seguida a remodelagem nos dias atuais, a
migração do fundamentalismo protestante para o política, o "neofundamentalismo". Por
fim sua chegada ao Brasil, precisamente na década de 70, mas com marcas no
"deuteropentecostalismo" dos anos 1950, como a "Igreja pentecostal
o Brasil para
Cristo" que chegou a eleger representantes no começo da década de 1960. Movimento
que iria se reproduzir nitidamente sobre as igrejas neopentecostais brasileiras como a
Igreja Universal do Reino de Deus e dissidências como a Igreja Mundial do poder de
Deus (IMPD), após o fim da ditadura militar. Segundo autores como Freston (1994) e
Baptista (2007) esses atores evangélicos inseriram na política a partir do processo de
redemocratização do Brasil mediante a Constituição de 1988. Analisou-se como se
nega o outro dentro desse contexto do neofundamentalismo, no qual qualquer ator
social que esteja fora dos valores cristãos é tido como um dos elementos que
corroboram para as crises sociais e a perda dos valores cristãos na sociedade
brasileira.
Contudo no caso desta pesquisa compreendeu-se que o outro é objeto de
descrença, pois esse ator excêntrico pode ser um elemento hostil a sociedade. Portanto
para os membros da Igreja Mundial do Poder de Deus o importante é seguir os valores
cristãos mediante os discursos do principal representante da igreja, O Apóstolo
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Valdemiro Santiago. Para que essa fórmula tenha resultado é importante a
representação na política por membros da igreja. No cenário político questionam leis
favoráveis aos direitos as minorias, casamento com pessoas do mesmo sexo biológico,
eutanásia, aborto e outras. Por fim o demônio é o outro: o não-cristão, o não- membro
da igreja e o não-indicado pela IMPD.
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