3 área de estudo - Professores da UFF

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3 ÁREA DE ESTUDO
3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS
A Região dos Lagos constitui uma unidade geomorfológica delimitada
pela Serra do Mar ao Norte e pelo mar ao Sul. Esta faixa apresenta um
comprimento de mais de 110 km e largura de 8 a 14 km que se amplia à medida
que se avança de oeste para leste. A linha de praia é caracterizada por cordões
arenosos que confinam reentrâncias de mar, formando uma série de lagunas
costeiras paralelas ao mesmo.
A região de estudo apresenta uma área total de 1192 km 2, podendo ser
dividida em duas sub-regiões, uma a leste e outra a oeste que se distinguem
principalmente segundo seu clima. BARBIÉRI (1984) observou um forte gradiente
pluviométrico à medida que avançamos do Rio de Janeiro em direção a Araruama
(direção O-L). Este gradiente imprime características fisiográficas distintas para as
duas sub-regiões. O padrão de drenagem em ambas as sub-regiões é controlado
tectonicamente. Assim, não apenas o percurso dos rios é tectonicamente
controlado, como também o percurso dos aqüíferos. Por exemplo, em alguns
locais com presença de rochas intemperizadas onde existe inbricada rede de
falhas geológicas, água potável pode ser obtida acima de profundidades de 100
m, contudo nas áreas rochosas maciças, apenas água de escoamento é obtida.
As falhas geológicas dirigem o curso dos rios invariavelmente para as lagunas. Em
razão da forte declividade das encostas da região, a competência dos rios pode
ser considerável, o que é de certa forma muito prejudicial às lagunas que tendem
a sofrer processo de colmatação mais intenso. A devastação da mata nas
encostas só faz agravar este quadro.
O histórico paleogeográfico das lagoas costeiras da região norteFluminense está relacionado às flutuações do nível do mar no Quaternário.
Durante o Holoceno o nível do mar elevou-se progressivamente até o nível médio
atual que foi alcançado por volta de 7000 anos AP (MARTIN et al., 1997).
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Subseqüentemente,
três
importantes
episódios
de
transgressão
marinha
ocorreram (7000-5100; 3900-3600; e 2700-2500 anos AP) intercalados por três
períodos de regressão (5100-3900; 3600-2700; e após 2500 anos AP). Estas
informações não possibilitam reconstruir o registro da curva relativa do nível do
mar para o setor entre a baía de Sepetiba e Cabo Frio, mas são assumidas para
comparação com outros setores estudados (TURCQ et al., 1999).
O fenômeno da ressurgência costeira é bem identificado na região de
Cabo Frio (23º01’ S, 42º00’ O) e sua existência está associada ao regime de
ventos locais e a batimetria (VALENTIN, 1984). A ressurgência das águas frias,
com temperaturas abaixo de 18ºC, alcançando 13ºC e altas concentrações de
nutrientes, incluindo aí de nitrato, em torno de 10 μg 1-1,ocorre a sudoeste da ilha
de Cabo Frio, principalmente entre os meses de outubro e abril. Durante os
períodos de ausência de ressurgência, as águas costeiras de superfície
apresentam uma temperatura acima de 21ºC, salinidade entre 35 e 36 0/00 e baixa
concentração de nutrientes (nitratos e fosfatos com valores inferiores a μg 1-1). As
variações na salinidade e fosfato são menos evidentes (VALENTIN, op cit).
3.2 CLIMA
O clima da maior parte da zona costeira do Estado do Rio de Janeiro é
tropical úmido, quente e chuvoso no verão, com estações secas brandas no
inverno, classificado como Aw na escala de Köppen (BARBIERI, op cit.). A região
de Cabo Frio, no entanto, apresenta um clima particularmente seco, classificado
como Bsh na escala de Köppen. Este clima local pode ser caracterizado como um
enclave climático que na verdade é uma variação do clima quente semi-árido
provocado pela ocorrência da ressurgência de águas frias ao longo da costa, o
que faz reduzir a evaporação e as precipitações. A temperatura média anual é de
25ºC, e a precipitação raramente excede 800 mm/ano (BARBIERI, op. cit).
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3.3 GEOLOGIA
O aspecto geológico da região consiste de embasamentos cristalinos
Pré-Cambrianos de composição granito-gnaise, com intrusões alcalinas locais.
Cabo Frio e Arraial do Cabo apresentam três unidades fisiográficas distintas: (1)
planície costeira arenosa (pontas de areia, lagunas costeiras e dunas) e áreas de
baixada (encontro de marés, lagoas, depósitos aluviais); (2) baixas encostas das
penínsulas de Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo e ilhas costeiras; e (3)
encostas interiores acima de 500m.
3.4 VEGETAÇÂO
As associações de plantas na região variam de acordo com as
condições fisiográficas e distância do oceano. A interface continente-mar,
especialmente ao longo da margem dos rios e lagoas, encontra-se coberta por
florestas de mangue florísticamente pobres e pântanos de água salgada.
Avicennia
schaueriana
e
Laguncularia
racemosa
são
espécies
comuns.
Rhizophora mangle, menos tolerante a alta salinidade, é rara.
O ecossistema de restinga, característico da costa brasileira, está
associado com as pontas arenosas de praias. Este ecossistema inclui diferentes
tipos de vegetação, de comunidades de plantas descobertas e esparsas,
formações herbáceas arbustivas (“restinga aberta”) até densas florestas sempre
verdes (“floresta de restinga”). Cada tipo dessas vegetações ocupa uma bem
definida configuração que colabora na zonação do ecossistema. As áreas baixas
entre as margens sulcadas e as dunas menos consolidadas sustentam a
vegetação paludal. As comunidades arbustivas geralmente crescem no interior
sobre a barreira de areia externa, sobre dunas ou nas áreas baixas. As florestas
de restinga remanescentes crescidas sobre as barreiras de areia, atingem 8m de
altura, com árvores emergentes que alcançam até 15-25m, um denso
enraizamento e muitas epífitas (ARAÚJO, 1997).
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As formações xeromórficas sobre as vertentes próximas ao oceano, da
ilha de Cabo Frio até a península de Búzios, são únicas ao longo da costa e
apresentam muitas espécies endêmicas (ARAÚJO, op. cit). Os cactos colunares
sobre as coberturas inclinadas encarpadas dão uma característica parecida com o
cerrado (FEEMA, 1998). Mais afastado do oceano, baixas montanhas sustentam
florestas similares em composição com outras da Mata Atlântica Tropical (RIZZINI,
1979).
4 A LAGOA BREJO DO ESPINHO
A Lagoa Brejo do Espinho encontra-se na parte leste da linha de costa,
a 108 Km do Rio de Janeiro e à sudoeste da Lagoa de Araruama sob as
coordenadas 22º56' S e 42º14' O (Figura 2). Sua superfície total é de cerca de 1
km2 e sua profundidade entre 1 e 1,5m, podendo permanecer sem água durante
as longas estiagens. É alimentada exclusivamente pela precipitação e percolação
de águas provindas da Lagoa de Araruama pela restinga interna (ORTEGA, 1996).
Está separada do mar por uma restinga externa e da Lagoa de Araruama por uma
interna. A vegetação característica é de gramínea, e o seu fundo apresenta nos
primeiros centímetros de sedimento, uma camada algal (“tapete”) de cianofíceas.
Brasil
Rio de Janeiro
Baia de Guanabara
Lagoa de Araruama
Lagoa Brejo do Espinho
Figura 2: Localização geográfica da área de estudo.
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