USO DE ISOLADOS DE BACTÉRIAS ENDOFÍTICAS COMO AGENTES DE BIOCONTROLE DA DOENÇA PÉ-PRETO EM VIDEIRA PACINI, B. A. H.¹; COMACHIO, L.B²; TONELLO, J. C.³; ALMANÇA, M. A. K.4 RESUMO: A doença do Pé-preto ataca videiras jovens pelo seu sistema radicular, e tem como 1 agentes causais fungos do gênero Cylindrocarpon spp. Pesquisas apontam diversas bactérias endofíticas como agentes de biocontrole. O objetivo do trabalho foi realizar o teste de antagonismo in vitro entre um isolado de Cylindrocarpon spp. e bactérias endofíticas. Os diferentes isolados de bactérias foram identificados de 1 a 30. O teste foi realizado utilizandose placas de Petri contendo meio de cultura BDA. Inoculou-se um fragmento de 5mm com micélio do fungo no centro da placa e duas estrias de bactérias a 2 cm das bordas. Como controle foi colocado apenas o fungo. Todos os tratamentos tiveram 5 repetições. As médias do crescimento micelial foram comparadas por teste de Tukey 5%, através do programa estatístico SPSS. Do total de tratamentos, as bactérias 1, 3, 20, 27 e 30 diminuíram o crescimento micelial de Cylindrocarpon spp., diferindo-se estatisticamente da testemunha. Baseado nisso, conclui-se que isolados de bactérias endofiticas apresentam potencial uso como biocontrole do Pé-preto. Palavras-chave: Antagonismo. Crescimento micelial. Controle biológico. 1 INTRODUÇÃO No cenário mundial da viticultura, o declínio e morte de plantas de videiras associadas a fungos traz graves prejuízos, representando um problema a ser enfrentado (HALLEEN et al., 2003). No Estado do Rio Grande do Sul, esses mesmos fatores foram citados como os limitantes à expansão da atividade (ALMANÇA; CAVALCANTI; BUENO, 2013). O declínio e morte de videiras são ocasionados por um complexo de doenças fúngicas que afetam o tecido lenhoso das raízes ou do colo das plantas, provocando infecções severas e podridões que prejudicam ou evitam a sobrevivência devido ao comprometimento dos vasos condutores de seiva. Dentre as doenças de tronco de videira, destaca-se o Pé-preto. O ataque dos fungos é feito em plantas jovens por meio do sistema radicular. Esta doença é citada por Alaniz et al. 1 Bolsista IFRS Campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700.-206, Bento Gonçalves, RS, [email protected] ² Bolsista IFRS Campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700.-206, Bento Gonçalves, RS, [email protected] ³ Bolsista Ballagro, IFRS Campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700.-206, Bento Gonçalves, RS, [email protected] 4 Eng.º Agrônomo, Prof. Doutor, IFRS Campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-206, Bento Gonçalves, RS, [email protected] (2007) como uma das mais importantes doenças de tronco e raiz que afetam viveiros e vinhedos novos de todo o mundo. Os agentes causais dessa doença são fungos pertencentes ao gênero Cylindrocarpon spp. Os agrotóxicos são utilizados de forma intensiva, provocando prejuízos ao meio ambiente e as pessoas. Com isso, há uma demanda de pesquisas que apontem formas de controle de doenças que sejam menos nocivas. Nesse contexto, os agentes de biocontrole têm sido adotados com frequência. Pesquisas apontam diferentes espécies de bactérias endofíticas como biocontroladoras de grande quantidade de microrganismos, sendo aplicáveis em diversas culturas. O objetivo do presente trabalho foi realizar o teste de antagonismo in vitro entre um isolado de Cylindrocarpon spp. e de bactérias endofíticas de videira. 2 METODOLOGIA As bactérias endofíticas utilizadas tiveram sua origem por isolamentos feitos em plantas de videira da Serra Gaúcha, Rio Grande do Sul. Elas foram identificadas por números 1 a 30. O fungo utilizado é o isolado 176 TD da micoteca do Laboratório de Fitopatologia do IFRS/BG, identificado morfologicamente como Cylindrocarpon spp. Os fragmentos do fungo utilizados no experimento advinham de uma placa de Petri com 30 dias de inoculação. Para teste de antagonismo in vitro, utilizou-se metodologia adaptada de Benhamou & Chet (1993). O experimento foi realizado utilizando-se placas de Petri de 90mm contendo meio de cultura BDA (Ágar Batata Dextrose). Inoculou-se um fragmento de 5mm com micélio do fungo no centro da placa e distante a 2cm das bordas inoculou-se a bactéria na forma de estria. Foram feitas duas estrias por placa com tamanho (2cm) e conteúdo (10µL de meio de cultura líquido) padronizados. As bactérias foram cultivadas em meio líquido TSB (Tryptone Soya Broth) e mantidas em incubadora tipo BOD, sem fotoperíodo, por 72 horas à 28ºC. O controle contava apenas com a inoculação do fungo, sem acréscimo de nenhuma bactéria. Todos os tratamentos tiveram cinco repetições. A avaliação foi realizada com medições do diâmetro da colônia feitas com paquímetro digital ao décimo dia após a montagem do experimento. As médias do crescimento micelial de cada tratamento foram comparadas por teste de Tukey 5%, através do programa estatístico SPSS Statistic. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Do total de 30 bactérias testadas, apenas cinco delas tiveram efeito significativo sobre a redução do crescimento micelial de Cylindrocarpon spp., ou seja, cerca de 15% das bactérias selecionadas são eficientes agentes de controle biológico. O índice de isolados antagonista é maior que o encontrado por Cottyn et al. 2009, apenas 4% dos isolados inibiram o crescimento de Pyricularia grisea, 4% inibiram a Rhizoctonia solani AG1 e 8% inibiram ambos os fungos. Procópio (2004) isolou e testou bactérias endofíticas de eucalipto contra Cylindrocladium scoparium e B. cinerea obteve 13,6% de isolados efetivos na inibição desses patógenos, tal dado possui muita semelhança com o encontrado no presente trabalho. Figura 1: Crescimento micelial do diâmetro do fungo Cylindrocarpon spp. submetido a teste de antagonismo com 30 bactérias endofíticas diferentes isoladas de videiras da Serra Gaúcha. Dentre as cinco bactérias que foram eficientes no biocontrole de Cylindrocarpon spp. existem diferentes percentuais de redução de crescimento micelial. A redução de crescimento foi de aproximadamente 50%(Bac 1), 35% (Bac 3), 50% (Bac 20), 32% (Bac 27) e 60% (Bac 30). Santos et al. (2013) fez teste de antagonismo de bactérias endofíticas isoladas das folhas de Trichilia elegans A. Juss. ao fungo Colletotrichum sp. (causador de antracnose em diversas culturas). Os índices de antagonismo foram de, aproximadamente, 38% (isol. 37), 10% (isol. 40), 5% (isol. 48), 13% (isol. 52), 13% (isol. 53) e 5% (isol. 54). Confrontando-os com os índices encontrados no presente trabalho, nota-se que os percentuais de redução de crescimento micelial atingidos pelas bactérias eficientes contra o Cylindrocarpon spp. são maiores chegando a até 60% de redução para o isolado 30. Ferreira, Matthee e Thomas (1991) encontrou uma média de 88% de inibição de bactérias a Eutypa lata, valor superior as médias de inibição do presente trabalho que é de 45%. 4 CONCLUSÕES Baseado nisso, conclui-se que há diferenças dos efeitos de cada isolado de bactéria endofítica proveniente de isolamentos da Serra Gaúcha sobre Cylindrocarpon spp., sendo que cinco isolados apresentam potencial para uso na agricultura como agentes de biocontrole do Pé-preto. 5 REFERÊNCIAS ALANIZ, S.; LEÓN, M.; VICENT, A.; GARCÍA-JIMÉNEZ, J.; ABADCAMPOS, P.; ARMENGOL, J. Characterization of Cylindrocarpon species associated with black foot disease of grapevine in Spain. Plant Disease, Saint Paul, v. 91, n. 9, p. 1187-1193, 2007. BENHAMOU, N. & CHET, I. 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Australasian Plant Pathology, Melbourne, v. 32, n. 1, p. 47-52, 2003. PROCOPIO, R. E.L. Diversidade de bactérias endofíticas de Eucalyptusspp.e avaliação do seu potencial biotecnológico. 2004. 68 f. Tese (Doutorado em Agronomia – Genética e Melhoramento de Plantas) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba. 2004. SANTOS, C. M.; RHODEN, S. A.; GARCIA, A.; POLONIO, J. C.; POLLI, A. D.; PAMPHILE, J. A. Atividade antagonística de bactérias endofíticas isoladas de Trichilia elegans (meliaceae) contra o fitopatógeno Colletotrichum sp.. VIII EPCC – Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar, 2015.